10 minute read

Reforço dos investimentos nas comunicações vai acelerar digitalização

NAÇÃO state of the nation

DIGITALIZAÇÃO digitization

Advertisement

DIGITALIZAÇÃO digitization

Um aUmento do acesso à

Internet a 75% da população africana poderia criar 44 milhões de novos empregos. O aumento de 10% na penetração de Internet móvel poderia significar, em termos de números, o volume de 180 mil milhões de dólares norte-americanos até 2025 e 700 mil milhões USD até 2050. Em Angola, onde os níveis de desemprego rondam os 32%, afectando maioriamente jovens, a aceleração digital é apontada como caminho para promover novos negócios e impulsionar uma economia que, nos últimos anos, tem sofrido bastante devido à forte dependência do petróleo. O fomento da economia digital pode gerar não apenas novos empregos, mas também a consolidação do e-commerce, dos serviços digitais, melhoria dos serviços, aumento da transparência, bem como contribuir para o crescimento económico, como defendeu o gestor do programa AceleraNet da Angola Cables, Crisóstomo Mbundu. O especialista em Telecomunicações falava na IV Conferência E&M sobre Transformação Digital e lembrou que, “o mundo hoje é cada vez mais digital e hiperconectado, sendo que a Covid-19 acelerou a economia digital e não haverá mais recuo”. Assim, entende que se impõe a necessidade de mais investimentos em infra-estruturas de telecomunicações, de modo a abrir espaço para que o digital contribua mais para a economia real. Os participantes do painel de debate na Conferência E&M sobre Transformação Digital concordaram também que os custos de investimentos nestes sectores são caros e, por isso, os preços praticados pelos operadores em Angola são altos. Apesar deste dilema, alertaram que “o caminho é o investimento, seja público ou privado”, tendo recomendado, igualmente, a revisão dos preços da Internet e, por via disso, beneficiar alguns negócios, principalmente nas demais províncias, pois quase 90% dos serviços estão centralizados em Luanda.

Internet mais rápida, mas ainda pouco acessível Angola tem hoje uma Internet seis vezes mais rápida, fruto do lançamento, em 2018, do SACS, com capacidade de 40 Tbps. Entretanto, os poucos operadores (68 operadores de Internet) colocam o país nos lugares mais baixos a nível do continente no que à oferta de serviços de Internet diz respeito. A fraca penetração da Internet, 26,5%, mostra que, apesar dos três sistemas submarinos, entre os quais o SAT-3/WASC, com capacidade de 40 Gbps,

REFORÇO DOS INVESTIMENTOS NAS COMUNICAÇÕES VAI ACELERAR DIGITALIZAÇÃO INCREASED INVESTMENT IN COMMUNICATIONS WILL ACCELERATE DIGITALIZATION

TEXTO TEXT LADISLAU FRANCISCO E JOSÉ ZANGUI FOTOGRAFIA PHOTO ISTOCKPHOTO

Um maior acesso às comunicações, em particular à Internet, em África, na ordem de 10%, pode gerar crescimento de mais de 2% no PIB do continente, ao ano. Angola, com 68 operadores de Internet e taxa de penetração de cerca de 26%, está na cauda, mas não adormecida. An increase, of about 10%, in access to communications in Africa, particularly to the Internet, can generate an annual growth of more than 2% in the continent’s GDP. With 68 internet operators and a penetration rate of about 26%, Angola is trailing but is not asleep.

an increase in internet

access for 75% of the African population could create 44 million new jobs. A 10% increase in mobile internet penetration could mean revenue of USD 180 billion by 2025, and USD 700 billion by 2050. In Angola, where unemployment levels are around 32% and affect mostly young people, digital acceleration is seen as a way to promote new businesses and boost an economy that, in recent years, has suffered a lot due to the strong dependence on oil. Promoting digital economy can generate not only new jobs, but also the consolidation of e-commerce, digital services, improved services, increased transparency, as well as contribute to economic growth, according to Angola Cables’ AceleraNet program manager, Crisóstomo Mbundu. The telecommunications expert was speaking at the 4th E&M Conference on Digital Transformation and reminded the audience that “the world is increasingly digital and hyperconnected; covid-19 has accelerated the digital economy and there is no going back”. Thus, he believes that there is a need for more investment in telecommunications infrastructure in order to make room for digital solutions to contribute more and to the real economy. Participants in the panel discussion at the E&M Digital Transformation Conference also agreed that investment costs in these sectors are high and, as a result, prices charged by operators in Angola are also high. However, despite this dilemma, they insisted that “investment, whether public or private, is the way forward”, and also recommended the review of internet prices, thereby benefitting some businesses, mainly those located in the other provinces,

NAÇÃO state of the nation

DIGITALIZAÇÃO digitization

lançado em Abril de 2002; o WACS, com capacidade de 14 Tbps, lançado em Maio de 2012, ainda é reduzido o número de pessoas que a usam, bem como o alcance da Internet. A falar na Conferência sobre Transformação Digital, sob o tema, «Os Desafios da Aceleração Digital em Angola», organizada pela E&M, o gestor do programa AceleraNet, Crisóstomo Mbundu, chamou a atenção para a problemática do conteúdo, citando dados do Google, segundo os quais África é o continente que menos conteúdo gera, sendo que isso acaba resultando em custos elevados para os utilizadores de Internet, uma vez que há sempre necessidade de se ir buscar conteúdos nos pontos, principalmente na Europa e América, o que “obriga a várias paragens e mais gasto de Internet”. Crisóstomo Mbundu referiu ainda que a questão do acesso ao conteúdo na net, por meio do clique, é como fogo. “Quanto mais próximo do fogo, mais fácil sentir o calor”.

Investimento deve ser contínuo A questão do conteúdo não é exclusiva dos criadores de conteúdo, sendo que está intimamente ligada aos clouds, um segmento em que a IpWorld, nas palavras do seu CEO, José Silva, fez um investimento contracorrente, numa altura em que chegaram a ser chamados “sonhadores”. “O investimento em infra-estrutura tem de ser contínuo. A ideia de investimentos mínimos não existe nesse campo”, disse José Silva, que defendeu que a qualidade das comunicações tem diminuído porque se está, actualmente, a fazer o investimento necessário, num campo que exige investimento contínuo. E justificou com o facto de esse investimento ser demasiado pesado para os operadores, ainda mais numa realidade em que não há partilha de infra-estruturas e de custos. Numa altura em que as questões das infra-estruturas ga-

CUSTO DA INTERNET EM ALGUNS PAÍSES DA SADC Internet cost in some SADC countries

Valores em dólares americanos Values in USD

1,19 7,95 14,02

3,59 11,02

5,93

2,25

ÁFRICA DO SUL SOUTH AFRICA ANGOLA ANGOLA BOTSWANA BOTSWANA MALAWI MALAWI NAMIBIA NAMIBIA RDC RDC ZÂMBIA ZAMBIA

FONTE SOURCE How Much- 2019

nharam destaque, por conta da sua influência nas despesas dos operadores e no custo que é regularmente passado ao consumidor final, levando a que o preço dos serviços de Internet em Angola estejam acima da média da SADC, fala-se com mais frequência sobre a possibilidade de partilha de infra-estruturas. Esta é, certamente, uma alternativa válida para a diminuição do custo por via da partilha do mesmo pelos operadores. Em contrapartida, o custo de ficar parado é ser excluído do mundo digital, como concordaram os participantes na mesa-redonda da IV Conferência E&M sobre Digitalização. Além dos desafios que se impõem na adequação da lei a esse novo cenário, os próprios operadores têm de se transformar e se adaptar aos desafios que a partilha de infra-estruturas exige. Neste sentido, a UNITEL, uma das maiores operadoras do país e talvez a maior no que à infra-estrutura diz respeito, avansince almost 90% of services are based in Luanda.

Faster Internet, but still not very accessible Currently, Angola has an internet connection that is six times faster, as a result of the introduction of SACS in 2018. SACS capacity is 40 Tbps. However, the few operators (68 internet operators) place the country in the last positions on the continent when it comes to the supply of internet services. The low internet penetration (26.5%), shows that despite three submarine systems, including SAT-3/WASC (40 Gbps capacity) introduced in April 2002; WACS (14 Tbps capacity) introduced in May 2012, the number of people using it, as well as the coverage, is still low. Speaking at the Digital Transformation Conference, held under the theme, “The Challenges of Digital Acceleration in Angola”, organized by E&M, the AceleraNet program manager, Crisóstomo Mbundu, drew attention to the problem of content, citing data from Google, according to which Africa is the continent that generates the least content, and this ends up resulting in high costs for internet users, since there is always the need to search for content at points, mainly in Europe and America, that “require several stops and more spending”. Crisóstomo Mbundu also stated that the issue of access to content on the net is like fire. “The closer you are to the fire, the easier it is to feel the heat.”

Investment must be continuous The issue of content is not exclusive to content creators, and is closely linked to clouds, a segment in which IpWorld, according to its CEO, José Silva, made a countercurrent investment, resulting in them being labelled “dreamers. “Investment in infrastructure has to be continuous. The idea of minimum investment doesn’t exist in this sector,” said José Silva, who argued that the quality of communications has been declining because the needful investment is currently being made in a sector that requires continuous investment. And he justified this investment with the fact that it is too heavy for the operators, even more so in a reality where there is no sharing of infrastructure and costs. At a time when the infrastructure issue has gained prominence, due to its impact on operators’ expenses and on the cost that is regularly passed on to the final consumer, leading to the price of internet services in Angola being above the SADC average, there is more frequent talk about the possibility of infrastructure sharing. This is certainly a valid alternative for lowering costs, meaning they would be shared by the operators. Meanwhile, the cost of not doing anything is to be excluded from the digital world, said the participants in the panel discussion at the 4th E&M Conference on Digitalization. In addition to the challenges of adapting the law to this new

DIGITALIZAÇÃO digitization

çou, durante a apresentação do serviço “UNITEL MONEY”, que já se vai preparando para a necessidade de partilha de infra-estruturas, e que olha para essa questão como quase todo o mundo olha, “como um negócio”. Já António Pinto, director de Marketing da NCR, disse que o custo da infra-estrutura é grande, e a manutenção da mesma está, por exemplo, muito dependente de factores como a regularidade da electricidade. “Numa economia cada vez mais digital, as infra-estruturas de telecomunicações são tão essenciais quanto uma rede de portos e aeroportos, de estradas, porque, no fim das contas, é isso que vai permitir a aproximação das pessoas aos negócios, de Angola ao mundo e vice-versa”, rematou. Em resumo, Crisóstomo Mbundu afirmou que “Angola tem bases tecnológicas devidamente desenvolvidas a nível das infra-estruturas”, sendo que se “verifica o surgimento de soluções consistentes alicerçadas no comércio electrónico. Por si, isso significa maior e melhor acesso à literacia tecnológica, todavia, esses recursos precisam de incentivos diferenciados em função do território angolano: mais conectividade, mais comércio electrónico e melhores condições para regulamentar. A distribuição de recursos tecnológicos deve ser feita num formato integrador, a estilo corrida de estafeta, em que cada operador da equipa Angola seja capaz de cumprir a sua parte com rigor, qualidade e um excelente racional custo-benefício para o utilizador final (que somos todos nós)”. n scenario, operators have to transform themselves and adapt to the challenges that infrastructure sharing poses. Therefore, UNITEL, one of the largest operators in the country, and perhaps the largest when it comes to infrastructure, stated during the introduction of the “UNITEL MONEY” service, that it is already getting ready for the need for infrastructure sharing, and that it looks at this issue as almost everyone else does, “as a business”. According to António Pinto, NCR’s Marketing Director, the cost of infrastructure is high, and its maintenance is very dependent on factors such as the regularity of electricity supply. “In an increasingly digital economy, telecommunications infrastructure is as essential as a network of ports and airports, or roads, because in the end this is what will allow people to come closer to business, from Angola to the world and vice versa,” he concluded. In summary, Crisóstomo Mbundu stated that “Angola has properly developed technological bases at the infrastructure level,” and that “consistent solutions based on e-commerce are emerging. This means more and better access to technological literacy, however, these resources need differentiated incentives based on our territory: more connectivity, more e-commerce, and better conditions for regulation. The distribution of technological resources must be done in an integrative way, in a relay race style, where each operator of the Angola team is able to do its part with rigor, quality and an excellent cost-benefit ratio for the final user (i.e., is all of us). n

This article is from: