O lúdico como estratégia de intervenção em Educação Sexual: Avaliação do Jogo “Tá-se bem” Cristiana Pereira de CARVALHO Doutoranda em Ciências da Educação Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra Doutoramento em Ciências da Educação, especialidade Psicologia da Educação Universidade de Coimbra - Portugal cristianapc@hotmail.com
Resumo Esta investigação avalia a qualidade do material técnico e pedagógico “Tá-se bem” e sua eficácia na intervenção com jovens. Este material tem por objectivo central, a prevenção de comportamentos de risco em saúde sexual e reprodutiva. A procura da concretização deste objectivo direccionou-se para a transmissão de conhecimentos na esfera da sexualidade; para o desenvolvimento de atitudes e competências comportamentais saudáveis no âmbito das vivências da sexualidade; para a promoção da adesão ao uso do preservativo e a prevenção do VIH/SIDA e, para a promoção de estratégias cognitivas e comportamentais protectoras da saúde. Esta ferramenta de intervenção assume um carácter lúdico e pedagógico, tendo sido bem aceite junto de jovens dos 13 aos 19 anos. A avaliação realizada revela dados positivos nas subescalas estabelecidas para analisar a sua qualidade e aponta para uma maior eficácia da educação sexual, quando esta acontece em contextos informais de aprendizagem e entre pares. Palavras-chave: Adolescentes, Escola; Material Pedagógico, Educação Sexual.
Abstract This research evaluates the quality of technical and pedagogical equipment of the Program "Tá-se bem” and its effectiveness towards young people. This goal achievement implied to raise awareness of human sexuality, to develop attitudes and behaviours in the context of healthy experiences in sexuality through the use of condom advertisement as HIV/AIDS prevention measure, as well as to promote cognitive and health protective behavioural strategies. This tool of intervention has in fact an entertaining and educational character, and was considerably well accepted among young people whose age ranged between from 13 and 19 years old. The assessment revealed improvement on the established subscales to analyze the material’s quality, suggesting a greater effectiveness of sex education, when conducted as informal learning and in pairs. Keywords: Teens, School, Teaching Material, Sex Education.
Introdução
A
infecção VIH/SIDA, enquanto problemática com elevados impactos sociais e económicos na vida dos indivíduos, das famílias e da sociedade, é afirmada quer no panorama internacional (UNAIDS, 2008; United Nations, 2009), quer no nacional (Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA, 2007; Ministério da Saúde, 2004) como uma área de actuação prioritária na prevenção e controlo da SIDA. Face à dimensão que esta epidemia assume a nível mundial, as Nações Unidas adoptaram a “Declaração de Compromisso sobre VIH/SIDA” que define metas específicas para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, e estabelecem como meta, para 2015, inverter e começar a parar a propagação do VIH/SIDA (United Nations, 2009). Esta realidade contribuiu para que em Portugal fosse criado o “Programa Nacional de prevenção e controlo do VIH/SIDA (2007-2010)”, com o intuito de dar resposta às propostas estabelecidas pelo “Plano Nacional de Saúde (2004-2010)”. As orientações estratégicas deste Plano, definidas para a Infecção por VIH/SIDA, indicam a necessidade de elaborar e implementar propostas técnicas na área da prevenção e tratamento desta infecção junto de populações específicas, que poderão estar expostas a mais riscos, nomeadamente, os jovens (Ministério da Saúde, 2004). Estas propostas deverão incidir, necessariamente, sobre diversos contextos de vida do indivíduo e incluir a participação de vários intervenientes (Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA, s.d.), para aumentar a eficácia das acções de prevenção.
Factores que potenciam a eficácia dos programas de prevenção da infecção VIH/SIDA A investigação realizada aponta para a existência de uma maior eficácia da prevenção primária da infecção VIH/SIDA, quando integrada no quadro da promoção da saúde sexual e reprodutiva (Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA, s.d.) e sugerem a integração de abordagens preventivas nos programas de educação sexual (Despacho n.º 60/2009; GTES, 2007). Nesta linha de pensamento, a prevenção primária do VIH/SIDA foi definida como uma das áreas prioritárias de intervenção em educação e promoção da saúde em contexto escolar (Despacho n.º 15 987/2006), integrada na abordagem da sexualidade e da prevenção dos comportamentos sexuais de risco (Despacho n.º 60/2009; GTES, 2007). Sendo a sexualidade um factor que pode influenciar directamente a saúde dos indivíduos (Dias, Matos & Gonçalves, 2005), torna-se necessário investir em intervenções que optimizem as competências dos jovens, para a realização de escolhas informadas e seguras nesta matéria (Ministério da Educação, 2000). Neste sentido, as abordagens direccionadas para prevenir o risco de infecção do VIH devem incluir “componentes que optimizem a utilização do preservativo de um modo consistente e desenvolvam as capacidades de comunicação com os parceiros sexuais acerca da prevenção de VIH” (O’Leary & Raffaelli, 1996, citadas por Dias, Matos & Gonçalves, 2005, p. 136). As
acções preventivas são mais eficazes quando intervêm nas normas de influência social, contribuindo assim, para que o grupo de pares se influencie mutuamente em comportamentos de saúde. A avaliação de estudos sobre o VIH/SIDA demonstra que os programas educativos devem basear-se na “teoria da aprendizagem social, no enriquecimento individual pelo treino e educação em métodos de aprendizagem pessoal (auto-eficácia para a utilização do preservativo, como responder à pressão social, oferecer oportunidades para praticar as competências em comunicação e negociação)”, aumentando, desta forma, a eficácia dos programas e das intervenções (WHO, 1999, citado por Dias, Matos & Gonçalves, 2005, p. 137). A promoção das competências sociais, do auto-conceito positivo, da participação e do treino de resolução de problemas, assim como, da tomada de decisão são consideradas ferramentas fundamentais no fortalecimento dos recursos pessoais, quer no domínio social, afectivo, como no cognitivo, que optimizarão o funcionamento saudável e adaptado do indivíduo. Embora seja reconhecida a fraca associação entre conhecimento, atitudes e comportamento (Grunseit, et al, 1997, citado por Dias, Matos & Gonçalves, 2005) e a pouca eficácia dos programas que se centram apenas nos conhecimentos e atitudes acerca da sexualidade e VIH, é fundamental dar resposta ao primeiro nível de actuação em educação sexual – a informação. Desde os primeiros estudos sobre esta temática, que se defende que a redução do risco depende da “informação que as pessoas possuem sobre a transmissão e prevenção do VIH, da sua motivação para reduzir o risco e, posteriormente, das competências comportamentais para realizar actos específicos envolvidos na redução do risco” (Fisher & Fisher, 1992, citados por Patrão, et al., 2008, p. 783). Por outro lado, a investigação realizada indica que é necessário elaborar programas que procurem aumentar o nível de percepção da vulnerabilidade ao vírus, desenvolver expectativas positivas associadas à utilização do preservativo (diminuição do embaraço sentido na compra de preservativos), promover a percepção das normas sociais, capacitar para o planeamento de acontecimentos futuros e aumentar os níveis de auto-eficácia e confiança nas capacidades necessárias para a utilização do preservativo numa base consistente (Zimet, Bunch, Anglin et al, 1992; Hingson, Strunin, Berlin et al, 1990; Rosenthal, Moore & Flunn, 1991; DiClemente, Hansen & Ponton, 1996, citados por Dias, Matos & Gonçalves, 2005). Quando se pretende promover eficazmente a gestão de comportamentos e escolhas dos jovens em saúde (GTES, 2007; Pinheiro, et al, 2006), de modo a que possam ocorrer mudanças efectivas, sustentáveis e duradouras, é necessário, segundo a investigação, intervir nos diferentes contextos de vida do indivíduo e promover a cooperação entre jovens, pais e professores (Matos, 2005; Pereira, 2009).
Estratégias activas na promoção e educação para a saúde Uma das ferramentas utilizadas na educação para a saúde e pela pedagogia lúdica é o jogo. Segundo Francia e Martínez (2000), os jogos contribuem para uma maior saúde física e mental porque facilitam uma vivência social aberta, integrada e festiva, assim como, evitam muitas doenças. Um dos contributos que os jogos e as dinâmicas de grupo fomentam nas pessoas é a diversão, a competição saudável, a canalização das energias e da violência pessoal e social, aspecto importante para o bem-estar psicológico e social (Francia & Martínez, 2000). A promoção da saúde na escola pode ser auxiliada pelo jogo e actividades lúdicas, o que permite promover a autoconfiança, o desejo de participação e o sentimento de pertença ao grupo, o desenvolvimento de comportamentos assertivos e atitudes livres e saudáveis (Silva, et al, 1997). De acordo com Ribeiro e Leal (2004, p.143), “os processos participativos são vitais para o sucesso quando se pretendem atingir objectivos de saúde/bem-estar ou educativos, isto é, quando se pretende criar condições para que as pessoas se tornem cidadãos responsáveis, interessados na conquista progressiva do bem-estar”. A utilização do jogo pode ser bastante benéfica, principalmente quando são jogos que apelam à cooperação porque facilitam a aprendizagem de valores como a comunicação, a cooperação, o respeito, a não-violência (Jares, 2007). Segundo Jares (2007, p. 13), os jogos cooperativos favorecem a prevenção de conflitos e geram “um tipo de relações que facilitam a abordagem dos conflitos quando estes se apresentam”. Desta forma, as estratégias lúdicas não competitivas facilitam as relações pedagógicas e humanas solidárias e divertidas, uma vez que, “os jogos cooperativos proporcionam estratégias e recursos que facilitam a comunicação, o entendimento, o relaxamento, a cooperação e o prazer” (Jares, 2007, p. 14), aspectos importantes na resolução de problemas e no bem-estar pessoal e social.
4. Apresentação do Material Técnico e Pedagógico “Tá-se bem” O material técnico e pedagógico “Tá-se bem” integra-se no Projecto de Prevenção da Infecção VIH/SIDA “Tá-se bem”, elaborado no âmbito da participação do Gabinete de Apoio ao Aluno “Espaço de Atendimento a Jovens na Escola” do Externato Cooperativo da Benedita (Portugal), no Concurso Nacional “A minha Escola pela Prevenção da Infecção VIH/SIDA”, no ano lectivo 2008/2009. O Projecto “Tá-se bem”, constituído por sessões/oficinas de formação, procura promover a adopção de comportamentos preventivos face à saúde sexual e reprodutiva e à escolha de um estilo de vida mais saudável. Este Projecto tem por base o conceito de “intervenções positivas” na área da
promoção da saúde e incidi sobre conhecimentos, atitudes e competências face ao VIH/SIDA, ao uso do preservativo e à sexualidade, e também, sobre 9 factores protectores de saúde (ou estilos de vida saudáveis). 4.1. Metodologia O material “Tá-se bem” constitui a estratégia pedagógica de apoio à realização deste projecto. A sua metodologia activa assenta na participação e mobilização dos indivíduos, enquanto elementos activos no processo de ensino-aprendizagem. Este material é constituído por cartões com perguntas que requerem o debate, a reflexão e/ou a dramatização em torno de situações que envolvem conhecimentos, crenças, atitudes, valores e comportamentos. Esta estratégia lúdica e pedagógica pretende também desenvolver comportamentos assertivos e promover competências pessoais e sociais. 4.2. Destinatários Este material de intervenção tem como grupos-alvo: - Alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico - Alunos do Ensino Secundário - Professores (especialmente os que frequentam formação contínua de professores) - Pais/Encarregados de Educação 4.3 Componentes do Jogo “TÁ-SE BEM” 4.3.1 Temáticas Características da infecção VIH/SIDA: “Conhecer…p’ra não ignorar” - Vias de transmissão do VIH/SIDA: “Distinguir…p’ra não baralhar” - Formas de prevenção do VIH/SIDA e comportamentos de protecção: “Proteger…p’ra não correr riscos” - Direitos e deveres das pessoas seropositivas: “Respeitar…p’ra não distinguir” - Estilos de vida saudáveis: “Prevenir…p’ra não remediar” 4.3.2 Objectivos O jogo está organizado por objectivos, que se distinguem dos conhecimentos, das atitudes e das competências pessoais e sociais. Assim, do ponto de vista dos conhecimentos, o material procura contribuir para que cada aluno(a), professor(a), pais (pai e mãe) adquira saberes relacionados com: - As características da infecção do VIH/SIDA e as vias de transmissão do VIH/SIDA. - As formas de prevenção e os comportamentos de protecção. - Os direitos e deveres das pessoas seropositivas. - Os estilos de vida saudáveis. Ao nível das atitudes, procura contribuir para que cada aluno(a) fique predisposto(a) a:
- Aceitar positiva a sexualidade. - Aceitar positiva o preservativo, como forma de prevenção de comportamentos sexuais de risco. - Desenvolver uma atitude favorável na aquisição de preservativos. - Desenvolver uma atitude preventiva face à infecção, através da negociação da utilização do preservativo com o(a) parceiro(a) sexual. - Desenvolver uma atitude não discriminatória face a pessoas seropositivas. - Desenvolver uma atitude não sexista e defensoras da igualdade de direitos. - Desenvolver uma atitude de aceitação e não discriminação face às orientações sexuais. Ao nível das atitudes, procura contribuir para que cada professor(a) fique predisposto(a) a: - Desenvolver uma atitude preventiva face à infecção/doença e promotora do bem-estar e da saúde (a incluir nos Projectos de Educação Sexual) Ao nível das atitudes, procura contribuir para que os pais e encarregados de educação fiquem predisposto(a) a: - Desenvolver uma atitude positiva face ao diálogo sobre sexualidade entre pais e filhos Por último, ao nível das competências pessoais e sociais (expressas em comportamentos), pretende contribuir para que cada aluno(a) seja capaz de: - Comunicar de forma assertiva (desenvolva habilidades no âmbito da gestão emocional e da comunicação) - Resolver problemas e conflitos (desenvolva habilidades no âmbito da tomada de decisão e resistência à pressão de pares - “saber dizer não”) 4.4 Material - Um Tabuleiro em forma de roda - 200 cartões (50 cartões para cada grupo) - Uma mala do Jogo - Quatro bolsas para os cartões 5. Avaliação do Material técnico e pedagógico “Tá-se bem” 5.1 Metodologia Através de um estudo descritivo procurou-se avaliar a qualidade do material técnico e pedagógico “Tá-se bem”, para o qual foi necessário recorrer à construção de um instrumento apropriado, uma vez que, em Portugal não se encontraram disponíveis instrumentos de avaliação para este tipo de materiais. 5.1.1 Amostra A amostra seleccionada para este estudo correspondeu a jovens1 que frequentaram o 3º ciclo do ensino básico e do secundário do Externato Cooperativo da Benedita. Esta amostra é homogénea e representativa dos jovens do 8ºano, dos jovens do 11ºano e dos jovens do 12ºano da referida escola. Na selecção da amostra do estudo foi utilizada a técnica de 1
Apenas serão apresentados os dados relativos aos jovens do 3ºciclo e do ensino secundário.
amostragem aleatória simples, tendo obtido 112 alunos do 8ºano, 23 alunos do 11ºano e 26 alunos do 12ºano. Os 9 professores que participaram neste estudo correspondem a uma amostra de conveniência. 5.1.2 Instrumentos e Procedimentos Para a avaliação final da intervenção foi construído um questionário, com base no I nível do Modelo de Avaliação de Donald Kirkpatrick (nível de satisfação), constituído por duas partes: o “Questionário de opinião sobre a oficina de formação” e o “Questionário de opinião sobre o jogo “Tá-se bem” 2. O “Questionário de opinião sobre o jogo “Tá-se bem” foi elaborado com o objectivo de recolher a opinião dos jovens acerca do material técnico e pedagógico. Este instrumento apresenta uma escala de resposta que remete para a satisfação dos participantes, correspondendo a uma classificação que varia entre 1 e 5 pontos, sendo: 1 Ponto - “Muito insuficiente”; 2 Pontos – “Insuficiente”; 3 Pontos – “Suficiente”; 4 Pontos – “Bom” e 5 Pontos – “Muito Bom”. Todas as subescalas são constituídas por itens positivos. Dimensões - 4 Subescalas constituídas por 11 itens 1. Pertinência das temáticas presentes no jogo 2. Pertinência das questões colocadas no jogo 3. Contributo para a resolução de situações reais 4. Grafismo e criatividade
Itens 1; 2 3; 4; 7; 8; 9 5; 6 10; 11
Os participantes puderam responder também a três questões abertas, que pretendiam identificar os aspectos mais positivos e negativos em relação ao jogo e recolher sugestões e comentários. 5.1.3 Procedimentos Após terem sido sorteadas aleatoriamente as turmas do 8ºano, (8ºA; 8ºC; 8ºD; 8ºF e 8ºI), do 11ºano3 (11ºB e 11ºI) e do 12ºano (12ºAe 12ºE), procedeu-se à realização da oficina de formação, durante 80 minutos. Após esta intervenção, foram distribuídos pelos alunos os questionários, tendo sido preenchidos individualmente. O tempo médio de preenchimento foi de 5 minutos. Foi garantido a confidencialidade dos participantes. 5.1.4 Tratamento dos Dados Os dados obtidos foram analisados através de um tratamento estatístico, recorrendo ao programa de análise de dados SPSS (Statisical Package for Social Sciences), versão 15.0 para Windows.
2
Só iremos fazer referência à segunda parte do questionário. Só foram seleccionadas duas turmas para o 11ºano e para o 12ºano, uma vez que, não houve muita disponibilidade face à carga horária e à integração desta actividade na disciplina de Área de Projecto. 3
5.2 Apresentação, Análise e Discussão de Resultados 5.2.1 Caracterização da amostra A amostra dos alunos do 3º ciclo, corresponde aos jovens que frequentaram o 8ºano, no ano lectivo 2008/2009, sendo constituída por 112 alunos, dos quais 61 (54,5%) são alunos do sexo feminino e 51 (45,5%) são alunos do sexo masculino (Tabela 1), com idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos (Tabela 2). Tabela1 – Distribuição do Género no 8ºano Género Masculino Feminino Total
N 51 61 112
% 45,5 54,5 100,0
Tabela 2 - Distribuição da Idade no 8ºano Idade 13 anos 14 anos 15 anos Total
N 87 22 3 112
% 77,7 19,6 2,7 100,0
Quanto à amostra de alunos do secundário, esta é constituída por 49 alunos do 11º e 12º ano, dos quais 25 alunos (51%) são do sexo feminino e 24 (49%) são alunos do sexo masculino (Tabela 3), com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos (Tabela 4). Tabela 3 – Distribuição do Género no 11º e 12ºano Género Masculino Feminino Total
N 24 25 49
Tabela 4 - Distribuição da Idade no 11º e 12ºano
% 49 51 100,0
Idade 16 anos 17 anos 18 anos 19 anos Total
N 6 23 18 2
% 12,2 46,9 36,7 4,1
49
100,0
5.2.2 Resultados dos alunos do 3º ciclo do ensino básico (8ºano) quanto ao jogo Quanto ao jogo “Tá-se bem” todos os itens foram classificados pela maioria dos alunos como “Muito bom”, podendo-se destacar os 67,9% (n=76 em 111) de alunos que classificou como “Muito bom” o item “as situações criadas pelo jogo podem acontecer na realidade”, os 64,3% (n=72 em 111) que também classificou como “Muito bom” o item “as temáticas do jogo são adequadas aos jovens” e os 65,2% (n=73 em 112) que atribuiu a mesma classificação ao item “O jogo permite aprender de forma divertida”. De forma geral, pode-se considerar muito positiva a avaliação de todos os itens, já que atingiram a máxima pontuação (Muito bom), classificada por mais de metade dos alunos do 8ºano (Tabela 5). Tabela 5 – Frequências Absolutas e Relativas do Jogo (alunos(as) do 8ºano)
JOGO “TÁ-SE BEM”
Muito Insuficient Suficiente Insuficiente e 1. As temáticas do jogo são 1 1 adequadas aos jovens (0,9%) (0,9%) 2. As temáticas do jogo são 5 importantes para os jovens (4,5%) 3. As questões do jogo são 5 adequadas aos jovens (4,5%) 4. As questões do jogo são 8 importantes para os jovens (7,1%) 5. As situações criadas no jogo 3 podem acontecer na realidade (2,7%) 6. A representação das 3 situações ajuda a pensar como (2,7%) poderão ser resolvidas 7. O jogo ajuda a esclarecer 3 algumas dúvidas (2,7%) 8. A linguagem utilizada no 1 2 jogo é fácil de compreender (0,9%) (1,8%) 9. O Jogo permite aprender de 2 2 forma divertida (1,8%) (1,8%) 10. As imagens do jogo são 3 14 adequadas (2,7%) (12,5%) 11. O jogo é original 2 4 (1,8%) (3,6%)
Bom 37 (33%) 42 (37,5%) 36 (32,1%) 33 (29,5%) 32 (28,6%) 39 (34,8%)
Muito Bom 72 (64,3%) 65 (58%) 69 (61,6%) 70 (62,5%) 76 (67,9%) 70 (62,5%)
40 (35,7%) 40 (35,7%) 35 (31,3%) 44 (39,3%) 38 (33,9%)
69 (61,6%) 69 (61,6%) 73 (65,2%) 51 (45,5%) 68 (60,7%)
N
%
111 99,1 112 100 110 98,2 111 99,1 111 99,1 112 100
112 100 112 100 112 100 112 100 112 100
5.2.2 Resultados dos alunos do ensino secundário quanto ao jogo Os itens relativos ao jogo variam entre “Bom” e “Muito bom”, sendo que, 67,3% (n=33 em 49) considera as imagens do jogo adequadas e que este permite aprender de forma divertida, classificando com “Bom”. As temáticas do jogo são consideradas importantes pelos jovens, sendo avaliado por 61,2% (n=30 em 49) como “Muito bom” (Tabela 6).
Tabela 6 – Frequências Absolutas e Relativas ao Jogo (alunos(as) do secundário)
JOGO “TÁ-SE BEM”
Muito Insuficiente Suficiente Insuficiente 1. As temáticas do jogo são 1 adequadas aos jovens (2%) 2. As temáticas do jogo são 1 importantes para os jovens (2%) 3. As questões do jogo são 2 adequadas aos jovens (4,1%) 4. As questões do jogo são 1 importantes para os jovens (2%) 5. As situações criadas no jogo podem acontecer na realidade 6. A representação das 3 situações ajuda a pensar como (6,1%) poderão ser resolvidas 7. O jogo ajuda a esclarecer 5 algumas dúvidas (10,2%) 8. A linguagem utilizada no 2 jogo é fácil de compreender (4,1%) 9. O Jogo permite aprender de 1 forma divertida (2%) 10. As imagens do jogo são 3 3 adequadas (6,1%) (6,1%) 11. O jogo é original 5 (10,2%)
Bom 27 (55,1%) 18 (36,7%) 20 (40,8%) 24 (49%) 24 (49%) 27 (55,1%)
Muito Bom 21 (42,9%) 30 (61,2%) 27 (55,1%) 24 (49%) 25 (51%) 19 (38,8%)
28 (57,1%) 29 (59,2%) 33 (67,3%) 33 (67,3%) 31 (63,3%)
16 (32,7%) 18 (36,7%) 15 (30,6%) 10 (20,4%) 13 (26,5%)
N
%
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
49
100
6. Discussão dos Resultados Um dos objectivos definidos para este trabalho foi determinar a qualidade do material “Táse bem”, através da opinião dos jovens do 3º ciclo e do ensino secundário que participaram nas oficinas de formação. Começando pela pertinência das temáticas do jogo, os jovens do 8ºano atribuem a pontuação máxima de “muito bom”, uma vez que, consideram “(…) um tema muito interessante, que nos faz esclarecer dúvidas de forma divertida”, sendo para a maioria adequadas e importantes para os jovens “o tema é importante para os dias de hoje” e também é “apropriado para nós jovens”. Além disso, houve quem considerasse que “podiam arranjar mais temas e doenças”. Os jovens do 11º e 12ºano avaliam as temáticas entre “bom” e “muito bom”, tendo sido importante a forma como o tema foi abordado “gostei do facto de o tema ser abordado através de um jogo”. Outro aspecto que contribuiu para a sua avaliação positiva está relacionado com a “forma clara e transparente” com que o tema foi abordado. No entanto, poderia haver “maior diversidade de temas por sessão”.
Quanto à pertinência das questões do jogo, mais de metade dos alunos do 8ºano consideram as questões do jogo importantes e adequadas aos jovens, uma vez que “tem questões que levam a grandes discussões de opinião”. Além disso, ajudam a esclarecer algumas dúvidas, e a linguagem utilizada facilita a compreensão das questões, contribuindo para aprender de forma divertida “ajuda a esclarecer algumas dúvidas e também é divertido”. No entanto, “como é um jogo que demora bastante tempo não podemos aproveitar ao máximo e não temos tempo para todos os cartões”, sendo esta uma das principais reclamações dos jovens. Contudo, o tempo de resposta e a reflexão realizada pelos grupos às questões são fundamentais e necessárias para que se possa jogar o jogo. Para diminuir a frustração associada ao facto de não se acabar o jogo, deve-se seleccionar alguns cartões e aumentar o tempo das sessões “podiam fazer sessões com as turmas de mais tempo”. Os jovens mais velhos (11º e 12ºano) consideram “bom” e “muito bom” as questões do jogo, quanto ao seu nível de importância e adequação, pois “gostei das perguntas” e, referem também o seu contributo para o “esclarecimento de algumas dúvidas”. A linguagem é de fácil compreensão e permite aprender de forma divertida. Também neste grupo o tempo é referido como um aspecto menos positivo “menos tempo para cada pergunta”. No que respeita ao contributo para a resolução de situações reais, o jogo é avaliado pela maioria dos alunos do 8ºano como “muito bom”, pois “(…) aprendemos mais e fala de situações que podem acontecer no dia-a-dia”. A representação das situações pode assumir um papel facilitador na resolução de problemas “gostei da parte em que representamos porque assim se nos acontecer uma situação parecida já pensamos sobre o assunto e temos mais opções”. Para os jovens do secundário, a representação das situações que podem acontecer na realidade, também são relevantes para a sua aprendizagem. Por sua vez, o grafismo e a criatividade (e/ou originalidade) do jogo também são referidos e avaliados positivamente pelos jovens, pois “está original…é divertido”. A forma como o jogo foi construído também agradou aos alunos do 8ºano, que referem gostar da “rodinha com uma seta” e “o jogo está bem e penso que aprende-se muita coisa”, assim como, está “bem estruturado para a nossa idade”. Esta estrutura facilita a aprendizagem de forma divertida “pois é bom para estarmos bem informados...acho que podiam vir cá fazer mais jogos”. Na opinião dos alunos do secundário, as imagens do jogo são boas, embora a “originalidade” da “estrutura do jogo” sejam aspectos mais importantes. 7. Conclusão A realização deste trabalho de investigação permitiu confirmar e reforçar o que a prática já indicava como necessidades de intervenção, no que respeita ao uso de outras estratégias e metodologias facilitadoras, não só da transmissão de informação, mas também propicias à construção de valores individuais, tendo por base o modelo biográfico. De acordo com o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar, em Portugal compete aos professores tornarem efectiva a sua implementação. Neste sentido, a prática e a investigação indicam que a eficácia das intervenções em saúde escolar dependem
grandemente das estratégias utilizadas pelos profissionais que, necessariamente, deverão ter em conta a participação activa dos jovens na construção do conhecimento. É neste contexto, e atendendo às necessidades formativas destes profissionais, que se reveste da maior importância o investimento nestes materiais pedagógicos. Aliado à sua elaboração deverá constar a sua avaliação, junto do grupo a que se destina. Assim, considera-se significativo este estudo, no sentido de avaliar a qualidade deste material, que incidiu sobre as opiniões (nível de satisfação) de jovens e adultos, embora aqui só tenhamos dado enfoque aos jovens. Contudo, é fundamental reforçar a avaliação do impacto das intervenções formativas, através de instrumentos que permitam avaliar as mudanças alcançadas, quer nos conhecimentos, como nas atitudes, crenças e comportamentos. Para tornar concretizável a avaliação do impacto das intervenções é necessário um trabalho continuado com os indivíduos, de modo a diminuir as intervenções pontuais, difíceis de provocar mudanças ao nível dos comportamentos. Torna-se também necessário envolver os diversos agentes educativos nos projectos de intervenção e programas de formação. Do ponto de vista da capacitação dos jovens, a educação pelos pares é considerada uma estratégia eficaz, precisamente pelos ganhos pessoais que estes jovens têm no seu “empowerment”, que reforça e aumenta a sua capacidade de pensar criticamente sobre os assuntos, a ter mais confiança em si, a comunicar de forma mais eficaz, a fazer a gestão do seu auto-controlo e a resolver mais eficazmente os seus problemas. Desta forma, a participação dos jovens neste projecto de prevenção do VIH/SIDA e a validação deste material, poderá contribuir para planeamento de intervenções mais eficazes na promoção da saúde sexual e reprodutiva.
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