TC2- Carmen e Daniel Tonetto -

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Asilo e Comunidade: Integrando Gerações pelo Mundo a Fora Carmen Maria ANDRADE Dra em Educação, Vida Adulta e Envelhecimento Humano Pontifícia Universidade Católica do RS-Porto Alegre Faculdade Palotina de Santa Maria/RS Brasil carmena@brturbo.com.br Daniel Figueira TONETTO Mestre em Reabilitação e Inclusão Instituto Porto Alegre -Porto Alegre/RS Faculdade Palotina de Santa Maria/RS Brasil danieltonetto@bol.com.br

Resumo Este Estudo de Caso relata experiências que integram asilo e comunidade. Na Itália vimos interação do asilo com jardim-de-infância que implicou na construção/adaptação de prédio único facilitando o convívio. Verificamos que as crianças tornaram-se interessadas, compreensivas e pacientes enquanto os idosos mais animados com melhor saúde. Na Inglaterra vimos as Pequenas Residências permanentes e temporárias onde um terço das vagas é para estadia temporária onde o velho alterna dois meses em sua casa e duas semanas no asilo. O idoso ficou mais feliz por conviver com família e grupo de iguais. Nos Estados Unidos o Pequeno Alojamento Municipal de curta estada e fácil acesso. Nele os idosos se integram à vida social do município. No Brasil a Adoção às Avessas leva jovem adotar velho do asilo fortalecendo a qualidade de vida bilateral. Essas experiências mostram a importância da atividade do asilo com a comunidade, nelas todos crescem, superam dominação, valorizam o mundo vivido. Esperamos ajudar a olhar diferente o asilo, pois ele nos é cada vez mais necessários, clamando pela competência dos operadores, para garantir a qualidade de vida dos asilados. Não pensamos em copiar programas, receita, nem modelo, mas buscar inspiração para propostas de trabalho com o velho brasileiro. Palavras-chave: asilo; asilo e comunidade; relação intergeracional, atividade em asilo.

Abstract This case study describes experiences that integrate asylum and community. In Italy we have interaction with the asylum garden-care that lead to the construction / modification of building only facilitating coexistence. We found that the children became interested, understanding and patient while the elderly more excited about better health. In England we saw the small homes where permanent and temporary seats are reserved for temporary


stay is where the old switches in his house two months and two weeks in an asylum. The elderly man was more than happy to meet with family and peer groups. In the United States the Small Hall of short stay accommodation and easy access. There, the elderly fit into the social life of the city. In Brazil the adoption takes Averse to adopt old young asylum strengthening bilateral quality of life. These experiences show the importance of the activity of asylum to the community, all of them grow, overcome domination, value the real world. We hope to help the asylum look different because it is increasingly in need, calling for the competence of operators to ensure the quality of life of asylum seekers. Do not think about copying software, prescription, or model, but the inspiration for proposals for work with old Brazilian. Keywords: asylum, asylum and community, intergenerational relationship, activity in asylum.

Introdução

O

contato com as Instituições de Longa Permanência de Idosos (asilos) nos leva a refletir sobre uma sociedade que viaja a um progressivo envelhecimento, e nos interrogamos acerca de que futuro estamos preparando para os jovens de hoje, velhos em potencial? Que futuro estamos preparando para nós? Essas interrogações parecem distantes, mas as respostas devem chegar já, para não corrermos o risco de que cheguem tarde. Pelas estatísticas, nos anos 2000 o número de velhos chegou a um quarto da população mundial. Para enfrentar essa realidade, muitas sociedades, principalmente as desenvolvidas, criaram soluções de vários gêneros, algumas delas afastando o velho da sua realidade. Na vida hodierna nos parece utopia pensarmos que todas as pessoas possam viver e morrer onde nasceram. Que o asilo pudesse ser descartado, pois o quotidiano deixa claro o quanto esta instituição é cada vez mais necessária. Sentimos-nos a vontade para discutir o fazer alternativo de instituições asilares, pois sempre procuramos criar alternativas de trabalho com jovens acadêmicos que afrontassem a realidade destas casas e seus moradores, e que os aproximassem da comunidade. Este artigo nos traz a visão de diferentes países em diferentes continentes, as quais corroboram com a idéia de alternativas para a relação idoso comunidade. Esta produção surgiu do nosso desejo de buscar um embasamento na questão do idoso institucionalizado, com a finalidade de subsidiar estudos futuros, e demonstrar a realidade de diferentes países ao afrontarem o desafio de proporem ações que aproximem o idoso asilado da comunidade. A idéia destes estudos decorreu da verificação de lacunas na literatura brasileira sobre a questão da velhice. De um lado, a escassa inexistência de estudos sobre as atividades em asilos, uma realidade cada vez mais incidente no nosso tecido social. De outro, a pouca


ocorrência de pesquisas relacionando o trabalho realizado nos asilos envolvendo crianças e jovens. A literatura existente aborda o tema da velhice, preferentemente em dois enfoques: saúde e educação. O da saúde trata das doenças: prognóstico, diagnóstico, terapia, prevenção e incidência. O da educação enfatiza: atividade física, grupo de convivência, projetos de escola, faculdade e universidade aberta à terceira idade, Estatuto do Idoso (Lei 8842 de 04 de janeiro de 1994) [...]. O tema da Instituição de Longa Permanência Para Idosos – ILPI, do asilo, oscila entre eles. Os métodos e teorias que norteiam o realizado variam entre os autores e os momentos da trajetória histórica de constituição da questão “velhice”, como problemática universitária no Brasil. Essa bibliografia nos permitiu ver o nítido predomínio do enfoque de saúde ou de educação, sem muita insistência na intercessão entre eles, quer se trate de estudos sobre Asilo, ou atividade física, legislação, aposentadoria e outros. Reconhecemos o valor dos estudos, eles vêm estabelecendo a conexão entre as organizações, a cultura local, a atuações dos profissionais, a percepções que têm do seu trabalho, e a fala dos velhos. Atualizando-nos em movimentos conjunturais que incidiram sobre as formas assumidas pelo Estado e pelo sistema institucional-legal, parece-nos correto vê-los, como produto da luta isolada dos “pioneiros” brasileiros que, nos anos 80, começaram a romper barreiras, levando à academia e à mídia a realidade do nosso envelhecimento. Percebemos nas Monografias, Dissertações e Teses encontradas um esforço em contribuir para o questionamento de mitos que, durante anos, prevaleceram na explicação do trabalho com velho. Um deles é o da formação e atualização de profissionais para Asilos, bem como de profissionais para trabalharem com o velho, outra é o descuido com a instalação de uma Casa, apesar da existência de leis1 que amparam a questão. Os textos legais incentivam ações, hoje muitas universidades e faculdades têm grupo de estudo do Envelhecimento Humano, e programa destinado ao adulto médio e idosos 2; prefeituras têm Setor para essa faixa, e Delegacias da Saúde e da Polícia vêm inserindo profissionais interessados na questão. De outro lado, até bem pouco tempo, não tínhamos a necessidade do asilo nas comunidades, pois o velho permanecia com a família até morrer. Atualmente a família tem mostrado o caminho dessa casa, pois o ideal da permanência no lar tem sido substituído pela condição familiar, em particular com a saída das mulheres para a vida profissional, até então tidas como cuidadoras naturais dos idosos. 1

Lei 8842 de 04 de janeiro de 1994 - Política Nacional do Idoso e Conselho Nacional do Idoso; Portaria 810 de 22 de setembro de 1989, Ministério da Saúde, traz normas para funcionamento da Casa de Repouso, Clínica Geriátrica e Instituições destinadas ao idoso; Plano Estadual Para a Terceira Idade, do Conselho Estadual do Idoso do RS, norteia programa e projeto da instituição pública e privada; Plano de Ação Integrado Para o Desenvolvimento da Política Nacional do Idoso, publicado em março de 1996, entre outros documentos legais. 2 Consideramos a classificação de MOSQUERA [1986] segunda a qual o Adulto Médio é quem está entre os 45 e os 60 anos. Para velho ou idoso usaremos o indicado na Lei 8842/94 que aponta de 60 anos em diante.


Este estudo vai girar em torno da idéia da existência inevitável e indispensável dessa Instituição na nossa sociedade, sem analisar as razões que levam o velho a viver nelas, nem a questão da interação família-asilo. Trabalhamos conscientes da existência destas instituições de longa permanência de idosos, destacando o que realizam, pois compactuamos com a afirmação que “é possível envelhecer com saúde” e fazer do asilo uma família, “senão a única”. Apresentamos quatro casos, o primeiro num asilo da região da Lombardia na Itália; o segundo num asilo das cercanias de Londres; o terceiro num do sul dos Estados Unidos; e o quarto num do sul do Brasil. Chegamos nestas instituições a convite dos seus gestores que nos encontraram em um evento internacional onde se discutia a temática dos programas oferecidos pelos asilos. Conversamos e eles perceberam nossa seriedade acadêmica e nos oportunizaram contato com suas realidades. Além do convite, reconhecemos nas suas ações o incentivo ao respeito à dignidade do idoso por si mesmo, pelo outro e pela comunidade em geral. Outra razão da opção por estes programas foi a existência de população mista participando das atividades, o que concorre para o estabelecimento de um clima ideal de família, além de serem instituições bem diferentes nas condições materiais, umas têm muito de tudo e a outras têm pouco, mas todas nutrem um amor incondicional pelos seus velhos. As comunidades e os laços sociais que as caracterizam facilitaram nosso trabalho, não somente pelo nosso interesse, mas porque elas estavam motivadas em nos mostrar o que fazem, e com a possibilidade de termos Casas e programas cada vez mais adequados a realidade de nosso envelhecimento populacional. Fomos acolhidos com carinho e atenção nas instituições. Acreditamos que isto decorreu do fato de compreendermos a terminologia da área, tanto no diálogo como na leitura sugerida; por ficarmos hospedados nas Casas e por acompanhá-los com regularidade, quaisquer que fossem as condições climáticas e atividades propostas. Nunca omitimos ou ocultamos nossa posição de profissionais de Ensino Superior que trabalham com idosos. Nos tratavam como “os professores que vieram saber como nós atuamos”, o que facilitou nossa aceitação e popularidade, na equipe de operadores, com a direção, com os idosos e seus familiares, com a comunidade religiosa quando existia, com os vizinhos, voluntários, e estagiários, com os participantes dos projetos e pessoas que por ali passavam. Isso foi explicitado quando, num certo dia de forte calor, chegamos pontualmente para uma atividade marcada com um operador, que nos recebeu com a exclamação: “Eeeco! vieram! Estão tendo um trabalhão, trabalham tanto! Nós os observamos pela janela e vemos que estão sempre estudando”. A partir daí, em que um membro da equipe identifica nossa


atividade como descreve a sua –trabalho– fomos definitivamente aceitos e adquirimos confiança e esperança nos resultados. Estes estudos pretendem auxiliar a compreensão do trabalho em asilo e formar um saber que, sistematizado, ajude a construir ações adequadas à realidade, necessidade, aspiração, interesse, forma de pensar, sentir e agir dos envolvidos com os que necessitam desta casa. Nesta linha GOFFMAN (1961, p.8) disse que continua a acreditar, que qualquer grupo ... desenvolve uma vida própria que se torna significativa, razoável e normal, desde que você se aproxime, e que uma forma de conhecer esses mundos é submeter-se à companhia deles, conforme as conjunturas a que estão sujeitos. Podemos dizer que a grande inquietação dos nossos estudos é a busca de identificar os princípios que podem inspirar ações destinadas ao trabalho diferenciado com asilados. Estamos cientes de que muito está sendo feito no Brasil, mas aquilo que se faz ainda não é suficiente para resolver a questão da população de velhos em vertiginoso aumento. Mergulhando nos asilos, conhecemos suas duas faces: a de morredor, sem perspectiva de troca e afetividade; e a de despertador do valor da vida, do saber, da paciência, do desprender-se das angústias, ajudando no relacionamento intergeracional. Para atingir nosso objetivo optamos pelo estudo de caso, com abordagem qualitativa. As informações foram coletadas com entrevistas, diário de campo, ficha de observação etnográfica, e registro fotográfico. Neste artigo nos limitaremos a apresentar os programas sem uma análise detalhada das falas dos envolvidos.

A Experiência Italiana Na Itália, mais particularmente na Região da Lombardia, conhecemos uma experiência de interação entre a residência para idosos denominada de ‘Casa de Repouso’ e o jardim-deinfância. Neste caso as professoras levam as crianças uma vez por semana ao asilo para atividades conjuntas com os velhos. Estas atividades se constituem de: trabalho em madeira, recorte e colagem, leitura do jornal, tear, pintura, canto, jogo de xadrez onde as pessoas são as peças, merenda, entre outras. A animadora sócio-educacional do asilo em conjunto com a coordenadora pedagógica da escola e as professoras planejam atividades para o que denominam de grandes festas do ano, ou seja: carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Avós, Dia dos Pais, Dia de São Caetano [o padroeiro da casa] e Natal. Para estas festas são convidados os familiares das crianças e dos velhos e a comunidade em geral. Constatamos que a vinda das crianças para o asilo teve implicação na construção ou adaptação de prédios únicos para os dois serviços, facilitando o convívio entre velhos e crianças. Observamos que esta atividade intergeracional sensibilizou as famílias e a comunidade local, verificamos que as crianças tornaram-se mais interessadas pelos demais, mostraram maior capacidade de compreensão e paciência uns com os outros, enquanto os idosos tornaram-se mais animados, interessados em se arrumarem melhor para esperar as crianças e sua saúde melhorou.


A Experiência Inglesa Na Inglaterra vimos as Pequenas Residências permanentes e/ou temporárias tendo um terço das vagas é destinada para estadia temporária onde o velho alterna dois meses em sua casa e duas semanas no asilo. Segundo os gestores do asilo manter um programa de curta permanência é um meio de qualificar os serviços da instituição, oferecendo uma alternativa a mais à internação de longa permanência que também pode ser usufruída pela comunidade. Esta experiência compartilhada que nos chamou a atenção se constitui de internações que variam de alguns dias até duas semanas no asilo intercaladas com uma permanência em casa de no mínimo dois meses. A proposta deste asilo surgiu de uma solicitação da comunidade que se ressentia de um espaço de qualidade para o idoso enquanto os cuidadores dos idosos e familiares se recuperassem com um descanso temporário da rotina do cuidado do idoso em casa. Esta experiência deu tanto resultado que muitas outras casas começaram a realizar programas similares e hoje mantêm propostas idênticas a essa. Percebemos que com esta proposta, o termo Asilo, que está permeado de preconceitos sociais e dos próprios idosos, vai fugindo da idéia desdenhosa de lugar do abandono e da tendência de transformar o idoso em vítima e a família em vilã, e aos poucos vai procurando compreender a dinâmica da situação de cada família e cada idoso, avaliando as forças e as debilidades de ambos, a duração dos problemas, as condições de afrontá-los, e de que maneira as atuais necessidades dos envelhecidos estão afetando o relacionamento entre os membros da família. Constatamos nesta experiência que o idoso ficou mais feliz por alternar a convivência com família e com grupo de iguais, pois sem perder o convívio com os seus, suas coisas, seu mundo vivido, ele ganha novos amigos velhos que compartilham do mesmo momento, com os mesmos ganhos e perdas, com as mesmas dificuldades e propensões.

A Experiência Norte-americana Nos Estados Unidos há o Pequeno Alojamento Municipal de curta estada e fácil acesso. Nele os idosos se integram com a vida social do município. Estes alojamentos são similares à experiência inglesa, mas o mantenedor é público, o tempo de permanência é de dois turnos e a maioria dos atendentes é voluntária. Para usar o Pequeno Alojamento o idoso deve ser necessariamente da comunidade, pois o vínculo afetivo provindo do conhecimento com a equipe é fundamental para a manutenção do programa.


Esta experiência surgiu de uma demanda da municipalidade que não encontrava cuidadores diurnos para curtos períodos, quando o familiar cuidador precisava fazer compras, serviços bancários, consultas médicas, atividades físicas, estudar, participar de reuniões, e atender aos chamados da escola e/ou da igreja. Assim, o conselho da comunidade propôs que fosse feito o Pequeno Alojamento Municipal para uma experiência inicial de acolher aos velhos por algum as horas, por um turno ou no máximo dois turnos possibilitando a família, na medida do possível, viver dentro de uma rotina o mais regular possível, atendendo seus compromissos pessoais sem o impedimento das exigências que a presença do idoso trás.

A Experiência Brasileira No sul do Brasil foi criada uma experiência que se denominou ‘Adoção às Avessas’. Este termo surgiu como uma analogia ao termo adoção usualmente aplicado para identificar a ação em que uma criança se integra à família adotante, criando novos laços com um grupo no qual o vínculo sanguíneo inexiste. O programa ‘Adoção às Avessas’ mobiliza as crianças e os jovens da comunidade levando-os a adotarem os velhos do asilo. Esta adoção se constitui no compromisso de visitar pelo menos uma vez por semana seu adotado para fazer-lhe companhia e resolver pequenas situações que fogem da rotina do asilo. Esta experiência se mostrou positiva particularmente porque levou os jovens a descobrirem conhecimentos e habilidades nos idosos que eles jamais imaginaram existir. Muitos destes internos ainda têm bem presente os saberes de suas profissões, como o caso dos que foram professores e agora recordam do que ensinavam e auxiliam as crianças e os jovens nas tarefas escolares. Em alguns casos este auxílio não está no conteúdo propriamente dito, mas na forma de se organizar, de estudar, de preparar o material, de interagir com os colegas e professores, de negociar com os pais, de manusear equipamentos, etc. O que nos chamou a atenção foi que na maioria dos casos os familiares das crianças e dos jovens passam a se envolverem com a adoção e estes idosos de fato ganham uma nova família que, na medida em que sua saúde permite os levam-nos a passear nos finais de semana, os hospedam em suas casas durante as férias escolares e os feriados prolongados, e passam com eles as festas de Natal, Páscoa e alguma outra comemoração de livre escolha de ambos. Esta experiência vem se consolidado e fortalecendo a qualidade de vida bilateral, pois a convivência dos opostos facilita para apagar os estereótipos que acompanham velhos e adolescentes, mostrando o quão educativa pode ser a convivência intergeracional.


Pequena Discussão Não se pode chegar à velhice no asilo se aposentar da vida, de ser feliz e de fazer os outros felizes. Este Estudo de Caso Qualitativo com orientação Fenomenológica relata quatro experiências, a primeira da Itália, a segunda da Inglaterra, a terceira dos Estados Unidos, e a quarta do Brasil, que integram o velho do asilo com a comunidade. Na Itália vimos a interação de um asilo com o jardim-de-infância da comunidade, ou seja, com crianças dos três aos cinco anos. Esta atividade implicou na construção/adaptação de um prédio único para facilitar o convívio das gerações. Verificamos que as crianças que participaram do projeto tornaram-se mais interessadas, compreensivas e pacientes enquanto os idosos apresentaram-se mais animados e com melhorias na saúde. Na Inglaterra conhecemos as Pequenas Residências permanentes e temporárias onde um terço das vagas é para estadia temporária onde o velho alterna dois meses em sua casa e duas semanas no asilo. O idoso ficou mais feliz por conviver com família e grupo de iguais. Nos Estados Unidos observamos o funcionamento do Pequeno Alojamento Municipal, uma casa de curta estada e fácil acesso. Nele os idosos se integram com a vida social do município e, independente do poder aquisitivo, tem o programa pago pela comuna. No Brasil convivemos com o Projeto Adoção às Avessas, um programa que se propõe a levar os jovens das escolas da cidade a adotarem um velho do asilo, fortalecendo a qualidade de vida bilateral. Essas experiências remetem a importância do asilo ter atividades com a comunidade, nelas todos crescem com a convivência, superam a dominação do ter, da tendência a considerar a produtividade, a eficiência e eficácia, do poder que marginaliza aquele que está fora do mercado, como é o caso do velho asilado ou impossibilitado de produzir, desconsiderando sua história e desvalorizando seu mundo vivido. A sociedade precisa tomar consciência da necessidade de superar a fragmentação dos fenômenos sociais emergentes, pois enquanto existir a dominação da lógica do ter sobre o ser e o critério da eficiência, o mundo continuará inexoravelmente a marginalizar os velhos, tentado a se livrar da sua presença e do seu pseudo peso crescente. Neste dia todas as declarações, proclamas, leis, iniciativas em sentido contrário arriscam-se a não suportar a ilusão, os paliativos, as boas intenções de acomodarem os velhos cada vez mais longe dos olhos sociais. Esperamos que os resultados desta pesquisa ajudem aos leitores a lançarem um olhar diferenciado sobre os asilos, pois eles estão sendo ambientes cada vez mais necessários ao nosso contexto, clamando, entre outros, pela competência técnica e pessoal de seus operadores, a fim de garantir a qualidade de vida de seus moradores.


Considerações Finais Nessa altura do caminho percorrido, onde tantas participações foram imprescindíveis para a sua viabilização, perguntamo-nos: o que considerar e como considerar o que deve ser considerado? Se fosse para fazê-lo tecnicamente, diríamos apenas que diante da realidade sócio-política e econômica brasileira que se volta para a estabilização econômica, repercutindo na vida das pessoas e das organizações, vislumbramos que: a possibilidade de um trabalho de qualidade com o velho, aumenta, principalmente no sul do Brasil, que apresenta as características dos países desenvolvidos: longevidade populacional, baixo índice de mortalidade e queda no índice de natalidade. a necessidade de preparar pessoas, oferecendo-lhes tanto competência técnica, como formação pessoal para a atividade, bem como difundir informações sobre o processo de envelhecimento pessoal e social. a possibilidade de contar com experiências realizadas, pois elas auxiliam a não reprisar erros, demonstrando o que deu certo e o que poderá inspirar novas ações. a afirmação de que é possível transformar o clima usual do asilo num clima de família, onde os velhos possam viver dignamente seus anos finais. a alegria de mostrar que tem quem faça um trabalho elogiável com os velhos asilados, que não é uma idéia utópica e que nossa realidade tem consideráveis iniciativas envolvendo essa questão. a certeza de afirmar que o elemento propulsor da ação da equipe no trabalho com os velhos, não é só o econômico, pois assistimos a muitos projetos, com grandes cifras, ruírem por muitas razões. No entanto não poderemos escrever a conclusão na forma de um texto técnico, pois concluir nos levaria a opinião fechada, sobre um processo dinâmico e mutável que é o das relações intra e interpessoais no asilo. Permitimo-nos tecer considerações sobre a ação e seus resultados, no que se refere às essências encontradas. Para isso apontamos aspectos evidentes na caminhada de descoberta deste fenômeno de sentido inesgotável. A fundamentação teórica propiciou uma compreensão sobre os diferentes fenômenos que estão imbricados na questão da velhice e do envelhecimento no asilo. A compreensão das relações intra e interpessoais emergiram da teia destas relações mescladas por conflitos intrínsecos ao próprio viver, onde o passado permeia o presente em termos do já vivido e, nem sempre, elaborado, deixando marcas indeléveis que necessitam ser resgatadas, reavaliadas e reaprendidas. Conscientes de que não é possível modificar o vivido, emergiu a postura de que ele pode ser re-decodificado, reinterpretado e ressignificado ao mundo das relações, entretecidas neste contínuo vir-a-ser, que forma o espaço de vida de cada um. Para realizar esses Estudos de Caso, o método fenomenológico foi a melhor via de acesso à compreensão da dinâmica vivencial e relacional dos envolvidos no estudo, pois, com a


dedicação e o rigor científico dos passos do método, pudemos voltar-às-coisas-mesmas, compreender, interpretar e retirar a essência dos fenômenos. As dimensões fenomenológicas que levaram a interpretar as estruturas dos fenômenos e retirar a síntese das essências fenomenológicas fizeram aportar na inspiração de um trabalho com velhos no Brasil e sugerir três ações concretas, ou seja: a discussão da questão do envelhecimento e do asilo em todos os níveis de escolaridade; a formação de profissionais para trabalharem no asilo; a implantação de projetos que integrem as crianças e os jovens da comunidade com os adultos e os velhos que residem ou trabalham nos asilos. Consideramos vasto o horizonte vislumbrado, é nosso propósito aplicar essa metodologia a diferentes grupos com mais de cinqüenta anos e, processar informações no contexto social mais amplo, com pessoas que já se encontram na fase da velhice, bem como com aquelas que estão na década que a antecede. Esses estudos representaram um desafio, diante da complexidade estudada. Um desafio que assumimos, tentando desvelar as incógnitas entrelaçadas e cruzadas no dia-a-dia da vida asilar: uma vida que é grande e pequena ao mesmo tempo. Grande porque é única, pequena porque é curta. Esses estudos levaram-nos à interpretação, à representatividade e à significação da questão do envelhecimento humano, diante de si mesmo e diante de nós, enquanto participantes desse momento como pesquisadores. Trabalhamos e construímos com equipes de anônimos, vivemos entre o essencial e o acessório, entre a harmonia e o conflito à busca da síntese de nós mesmos e do contexto social onde vivemos nossa vida. Não temos a intenção de copiar programas nem de escrever “receita” ou “fórmula mágica” para trabalhar com velhos, muito menos a pretensão de transplantar modelos, estivemos conscientes de que obteríamos uma parcela ínfima deste mundo, que certamente vai nos inspirar a criar propostas de trabalho com o velho brasileiro institucionalizado.

Referências ANDRADE, C.M. (1996) Uma pedagogia para a velhice: O desafio da construção de um trabalho com idosos no Brasil. Porto Alegre, PUC, RS.Tese de Doutorado. ______ e outros (2010) Meu asilo é assim. Santa Maria: Biblos. BEAUVOIR, S. de (1990) A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. GOFFMAN, E. (1961) Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva. Lei 8842 de 04 de janeiro de 1994 - Política Nacional do Idoso e Conselho Nacional do Idoso Estatuto do idoso. Brasília, Congresso Nacional, 2004. MOSQUERA, J.J.M. (1986) Vida adulta. Porto Alegre: Vozes.


NETTO, M.P. (2005) Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu. Plano de Ação Integrado Para o Desenvolvimento da Política Nacional do Idoso, publicado em março de 1996. Brasília, Congresso Nacional,1996. Plano Estadual Para a Terceira Idade, do Conselho Estadual do Idoso do RS, norteia programa e projeto da instituição pública e privada. Porto Alegre, Assembléia Legislativa, 1998. Portaria 810 de setembro de 1989, Ministério da Saúde. Brasília, Congresso Nacional, 1989.


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