A Avaliação de Programas de Formação Docente como Ferramenta de Melhora da Qualidade Educativa Rhoden MELO OLIVEIRA Máster em Didática, Formação e Avaliação Educativa Universidade de Barcelona Programa de doutorado “Educação e Sociedade” - DOE Universidade de Barcelona - Espanha
Resumo Levando em consideração as constantes mudanças sociais que permeiam a atual sociedade, a formação docente se encontra como caminho para a atualização e aprendizagem dos profissionais que levam a cabo o labor de ensinar e educar. Assim, o objetivo da formação docente se concentra, além dos discursos e bases epistemológicas que sustentam a formação de professores, em fomentar a reflexão sobre a sua prática e dotar os profissionais das competências necessárias para aproximar o perfil de cidadão que formamos às necessidades sociais. Desta forma, resulta também importante avaliar os resultados dos programas e ações formativas direcionadas aos docentes, com o objetivo de conhecer as conseqüências destas ações e, por isso indicar a real efetividade dos programas formativos dirigidos aos professores. Portanto, o presente documento tem por finalidade fazer evidente a importância da avaliação dos programas formativos para a constante busca da qualidade educativa, evidenciando os níveis de avaliação, os momentos adequados para cada modalidade avaliativa, bem como instrumentos para a recolhida de informação e os agentes implicados em tal processo avaliativo. Palavras-chave: Formação Docente, Avaliação da Formação, Objetivos da Avaliação.
Abstract Considering the constant changes that underlie today's society, the teacher training is a way to update and learning of professionals that carry out the work to teach and educate. Thus, the purpose of teacher training focuses, beyond speeches and epistemological foundations that support the training of teachers, to encourage observation on their experience and provide professionals with the skills needed to approach the character of citizens whom we educate to social needs. Thus, it is also important to evaluate the outcomes of training programs and actions towards teachers, in order to know the consequences os those activities and therefore indicate the actual effectiveness of training programs for teachers. Therefore, this document is intended to make clear the importance of evaluation of training programs for the constant pursuit of quality education, showing the levels of assessment, apropriate moment for each evaluation method as well as instruments to collect the information and actors involved in this evaluation process. Keywords: Teacher training, Training evaluation, Assessment goals, Quality of education.
Introdução
A
Sociedade em que vivemos hoje está caracterizada por ser, principalmente, uma sociedade mutável. Em princípio, poderíamos destacar que o transmissionismo do conhecimento escolar, técnico e imutável agora, pouco a pouco, se transforma em um ensino compartido entre o professor e o aluno, onde o contexto educativo ganha cada vez mais importância. Assim, o papel do professor, antes caracterizado por ser detentor do conhecimento, agora, com a implementação e velocidade dos meios de informação, se converte em mediador de tal conhecimento. Portanto, pode-se considerar que “um fator importante na capacitação profissional é a atitude do professor de planejar sua tarefa docente não somente como técnico infalível, mas como facilitador da aprendizagem, um prático reflexivo, capaz de provocar a cooperação e a participação dos alunos (Imbernón, 2010: 40 – 41). Assim, a formação contínua tem como objetivo preparar e formar os professores para o contexto mutável em que desenvolve seu labor, procurando estratégias formativas que contemplem o entorno e a diversidade pertinente ao centro educativo. Marcelo (1999) define a formação de professores como um: campo de conhecimentos, pesquisa e propostas teóricas e práticas, que dentro da Didática e Organização Escolar, estuda os processos mediante os quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram seus conhecimentos, destrezas e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem. (Marcelo, 1999: 183)
Nisso, muitos conhecimentos e recursos (humanos, financeiros, materiais, etc.) são postos ao serviço dos programas de formação contínua dos professores com o objetivo de capacitar os profissionais do ensino para a prática docente diária. No entanto, “o balance resulta especialmente pobre quando se constata que a capacitação somente serviu para incrementar o capítulo de certificações, acreditações e pontuações daqueles que participaram dela e para fazer aprovisionamento de méritos pessoais meramente administrativos” (Antúnez, 2009). Portanto, resulta importante fazer frente a esta realidade com o objetivo de que todos ditos conhecimentos e recursos postos ao serviço da formação contínua de professores cheguem efetivamente às salas de aula. Diante do comentado, a avaliação dos programas de formação se constitui como uma ferramenta que tem como um dos principais objetivos a melhora dos programas de formação docente e, em conseqüência, a melhora da qualidade educativa. Através de estratégias e métodos pertinentes às ações avaliativas, que devem ser desenvolvidas em paralelo ao programa formativo, os gestores e/o responsáveis pelo programa formativo obtêm informações que orientam a decisões para a melhora de tal programa formativo. Portanto, o presente documento propõe fazer evidente, além da importância da avaliação dos programas de formação docente, os objetivos pertinente de cada modalidade avaliativa, os procedimentos pertinentes a estas, os agentes implicados nas ações formativas, os
instrumentos mais adequados para a coleta de informação e os momentos ótimos para levar a cabo tal processo avaliativo.
1.
A Avaliação dos Programas de Formação Contínua
Antes de começarmos a tratar dos conceitos, estratégias e instrumentos de avaliação de programas de formação, seria conveniente definir unicamente o termo “avaliação”. Habitualmente defini-se a avaliação como um “processo de recolhida de informação orientado à emissão de um juízo de mérito ou de valor em respeito a um sujeito, objeto ou intervenção com relevância educativa” (Mateo, 2000). Este processo deverá ir necessariamente associado a outro de tomada de decisões encaminhadas à melhora do objeto, sujeito ou intervenção avaliada (Mateo y Martínez, 2008: 150) Beltrán e outros (1999) sinalam que a avaliação “implica em realizar perguntas, conseguir informação, traçar conclusões e realizar um informe contendo recomendações para uma ação futura”. Assim, a avaliação emerge em meio a esse entorno como um processo que gera as devidas respostas às perguntas formuladas, orientando as decisões a serem tomadas com respeito à melhora do objeto avaliado. É possível reconhecer duas faces distintas nos processos de avaliação. Por uma parte, a avaliação é formativa quando esta utiliza suas estratégias e informações coletadas com a finalidade de melhora ou otimização do objeto avaliado. Por outra parte, a avaliação é somativa quando esta tem o objetivo de proporcionar informação e juízo sobre a utilidade do objeto de acordo com os fins para que foi criado. Entretanto, “estes dois tipos de avaliação não se devem entender como contrapostos, mas complementários, já que atendendo a distintos propostos dão conta de uma mesma realidade”. (Cabrera, 2003: 28) Agora, uma vez aclarado a definição do termo “avaliação”, voltemos a tratar do tema que encabeça esta epígrafe. Portanto, é possível definir a avaliação de programas de formação como um processo rigoroso e sistemático que tem por finalidade coletar informação sobre as ações formativas, desde seu conceito até os resultados pertinentes aos objetivos da organização educativa, que apóia um juízo de valor que tem, a sua vez, o propósito de orientar as decisões para a melhora do mesmo programa formativo e sua posterior utilidade para a organização educativa. A avaliação da formação tem três funções claras e específicas: - Função Pedagógica: verifica o logro dos objetivos pedagógicos fixados; - Função Social: certifica e acredita a aquisição das aprendizagens por parte dos professores participantes; - Função econômica: Identifica e analisa os benefícios gerados para a organização educativa em conseqüência da formação. Concebendo a avaliação como um processo pensado antes mesmo de iniciar a ação formativa, a avaliação de programas pode ser entendida como um conjunto de métodos, destrezas e sensibilidades para determinar se os serviços prestados são necessários se serão utilizados, se são suficientemente intensos para suprir as necessidades identificadas, si o
serviço se dá nos termos em que foi planificado e se este serviço ajuda realmente as pessoas que o necessita dentro de um custo racionável e sem provocar efeitos não esperados. (Tiana, 2008) Diante do comentado, a seguir explicitaremos, de acordo com cada modalidade formativa como objeto de avaliação, os momentos adequados, os agentes implicados, bem como os instrumentos para a coleta de informação mais adequada para cada modalidade.
1.1.
Avaliação Inicial
Essa modalidade avaliativa consiste numa avaliação das bases conceituais em que o programa formativo se baseia da pertinência dos objetivos fixados, da planificação das ações formativas, as modalidades selecionadas para a transmissão dos conteúdos selecionados, as estratégias metodológicas que serão empregadas, da avaliação da aprendizagem dos professores participantes, enfim, de todos os aspectos que possam ser pertinentes antes de se iniciar o programa formativo. Cabrera (1999) sinala que este tipo de avaliação tem como objetivo de estudo a validez intrínseca da formulação e planificação de um programa formativo a partir de analisar a consistência interna entre os distintos elementos que configuram o programa e sua relevância e pertinência a respeito dos problemas e necessidades de que se atendem. Destacamos a seguir os pontos de interesse dessa modalidade avaliativa: a. As bases que apóiam os objetivos fixados: Analisa as necessidades que o programa quer satisfazer, ou seja, avalia a pertinência e a relevância das metas do programa com as necessidades encontradas; b. A relação que se estabelece entre as ações formativas propostas, a planificação que foi feita e os resultados que se espera alcançar; c. O processo escolhido para a planificação das ações formativas que justifica a modalidade formativa em que se transmitirão os conteúdos como a melhor para conseguir os objetivos estabelecidos. Para tanto, deveremos implicar neste processo as seguintes fontes de informação: o corpo docente que participará das ações formativas, os formadores, os diretores e/ou coordenadores de área do centro educativo e os responsáveis pelo programa formativo. Os instrumentos utilizados nesse momento costumam ser, respectivamente: questionário e/ou grupo de discussão com informantes-chave, entrevista semi-estruturada, entrevista em profundidade e grupo de discussão. Assim, podemos perceber que esta modalidade avaliativa tem como finalidade principal assegurar uma boa fundamentação, a factibilidade do programa, estabelecendo sua qualidade técnica, sua viabilidade prática, a garantia de sua posterior avaliabilidade, bem como suas possibilidades de êxito.
1.
2. Avaliação do Processo
Uma vez que o programa formativo avaliado tenha obtido uma avaliação inicial positiva, isso não garante que o seu desenvolvimento se dará de maneira correta ou prevista, pois acontecimentos e/ou atitudes não previstas ou incorretas pode condenar o programa formativo a efeitos negativos e não desejados. Diante disso, “não parece difícil de manter a necessidade de avaliar o processo de implantação, implementação e desenvolvimento do programa, bem para tomar de imediato as decisões corretivas pertinentes, endereçando o rumo a tempo, bem como para acumular informações valiosas que permita evitar os aspectos negativos e, ao mesmo tempo, reforçar os positivos em novas edições do programa” (Pérez Juste, 2006: 230). Assim, além de avaliar se o programa está se desenvolvendo como foi planificado e seu funcionamento, será possível identificar também como está reagindo os professores participantes e o progresso das ações formativas. O centro de interesse desse processo está na: a. Análise dos desvios em relação ao plano previsto; b. A análise do funcionamento e qualidade dos processos que ocorrem na prática das ações previstas: A organização e supervisão do programa por parte dos gestores; Comunicação entre os gestores, formadores, professores participantes e pessoal técnico; O funcionamento administrativo em relação a disponibilidade de recursos, cumprimento das funções, organização administrativa; As atividades que estão sendo desenvolvidas pelos formadores nas sessões formativas. Os instrumentos e fontes de informação utilizados costumam ser questionários dirigidos aos professores participantes, informe redigido pelos formadores no final de cada sessão, grupo de discussão entre os gestores do programa de formação. Depois da triangulação dos dados obtidos, as conclusões seguramente orientarão para decisões adequada e pertinente ao contexto do centro educativo.
1.2.
Avaliação dos Resultados
De todas as fases de um programa formativo, a mais praticada é a avaliação dos resultados, pois conhecer os resultados do mesmo se apresenta como uma intenção óbvia diante do investimento pessoal, financeiro e de tempo dedicada a um programa formativo. Assim, pois, aqui reside o centro de interesse desta avaliação. No entanto, além dos resultados esperados – estes fixados e convertidos em objetivos que serão alcançados nas ações e atividades formativas – é possível identificas, ainda que não sejam tão fáceis de detectar, os denominados “efeitos indiretos” que são importantes analisar-los, pois segundo Cabrera (2003), deve-se determinar se os efeitos indiretos têm conseqüências positivas ou negativas. Tais conseqüências não devem ser consideradas contrapostas, mas sim complementárias, pois possibilita uma visão mais compreensiva da realidade e, por isso, dota a avaliação com uma perspectiva mais ampla e pertinente.
Atualmente, existem vários modelos que se dedicam a avaliar os resultados da formação, desenvolvidos ao decorrer dos anos, que contribuem para a comprovação dos resultados das ações formativas. Nisso, o modelo mais aceito é o de Donald Kirkpatrick que divide a avaliação dos resultados em quatro níveis distintos e de complexidade crescente: avaliação da reação dos participantes (satisfação) como primeiro nível que avalia a aceitação dos participantes ao programa formativo em geral; avaliação das aprendizagens como segundo nível que avalia o logro dos objetivos pedagógicos – conhecimentos, habilidades e/ou atitudes – transmitidas ou compartilhadas nas ações formativas; avaliação do comportamento (transferência) como terceiro nível que avalia a transferência das aprendizagens ao posto de trabalho e; avaliação dos efeitos (impacto) como quarto e último nível que avalia os benefícios gerados na organização em conseqüência do programa formativo. Portanto, abordaremos na continuação os fundamentos, momentos, agentes e instrumentos ótimos para a execução dos quatro níveis de avaliação dos resultados.
1.2.1. Avaliação da Satisfação Neste primeiro nível de avaliação, o processo avaliativo leva em consideração a satisfação dos participantes quanto à ação formativa. Além disso, tem em si uma grande importância, pois um resultado positivo quanto a reação dos participantes para com a formação é um importante pré-requisito para que eles aprendam os conhecimentos, habilidades e/ou atitudes trabalhadas no programa formativo e depois apliquem estas aprendizagens no posto de trabalho. No nosso caso, a prática docente diária. Assim, é importante além de receber a reação do corpo docente participante, receber a uma reação positiva, pois se os professores não de maneira favorável, possivelmente não estarão motivados a aprender. “Uma reação positiva pode não assegurar a aprendizagem, mas uma reação negativa, quase com toda certeza reduz a possibilidade de que ocorra” (Kirkpatrick, 2000: 20). Dos quatro níveis apresentados no modelo de Kirkpatrick, o primeiro, avaliação da satisfação dos participantes, se encontra mais fácil e rápida sua aplicação e avaliação, além da baixa quantidade de recurso necessária para levar-la a cabo e, por tanto, é o mais utilizado (Pineda, 2000 – 2007; Antúnez, 2009). Além do comentado, a avaliação da satisfação contempla, também, outros aspectos importantes como a participação dos professores assistentes em seu próprio processo formativo, convertendo-os em sujeitos em formação. Com isso, os instrumentos de coleta de dados portam em si valiosas informações que podem melhorar futuras ações formativas. As decisões baseadas nestas informações, portanto, podem fazer com que os assistentes se impliquem mais no processo formativo. Normalmente, devem-se reunir as informações através de entrevistas com informanteschave e/ou questionários no final da ação formativa1 dirigidos aos professores que contemplem temas como o horário escolhido para as sessões formativas, tema proposto na 1
Também é comum conhecer a opinião dos participantes durante o processo formativo, ao final de cada sessão.
formação, sua possível transferência à prática docente, a metodologia e habilidades docentes empregadas pelo formador, a pertinência dos materiais didáticos utilizados e/ou a distribuição do tempo para o trato dos conteúdos selecionados. No entanto, resulta importante salientar a necessidade de continuar com os outros níveis de avaliação, pois a avaliação da satisfação, por si só, não deve ser considerada como uma avaliação dos resultados, posto que “a percepção dos participantes sobre o que aprenderam e o que utilizarão em seu posto de trabalho é uma mera aproximação – e muito limitada – dos efeitos reais de uma atividade formativa” (Cabrera, 2003 – 119). Ainda que este primeiro nível das fases avaliativas dos resultados da formação tenha uma suma importância, pois resulta importante conhecer a opinião dos professores participantes, a influência que o programa causou neles e a possível repercussão na prática docente diária, é imprescindível que o processo avaliativo não descanse nele.
1.2.2. Avaliação das Aprendizagens Pode-se definir aprendizagem como o grau em que os participantes mudam suas atitudes, ampliam seus conhecimentos e/ou melhoram suas habilidades, como conseqüência de assistir a uma ação formativa (Kirkpatrick, 2000). Uma ação formativa pode buscar um destes três elementos, posto que a avaliação destas aprendizagens vá depender diretamente dos objetivos específicos da formação. Cano (2004) sinala que para avaliar este âmbito é necessário fixar um sistema de avaliação (critérios e evidências, requisitos e datas) de modo que seja possível determinar as aprendizagens alcançadas (fixadas nos objetivos da formação). No entanto, deve-se levar em consideração do risco da existência de objetivos não operativos nem avaliáveis e que há aprendizagens não previstas (e, em conseqüência, não indicadas nos objetivos). A avaliação das aprendizagens costuma ser desenvolvidas em três momentos distintos: -
No início da formação, com o objetivo de diagnosticar o nível dos professores antes da formação; Durante a formação, com o objetivo de identificar se os conteúdos estão sendo absorvidos pelos professores participantes; No final da formação, com o objetivo de identificar quanto dos conteúdos os professores aprenderam.
Os instrumentos, nesta fase da avaliação, costumam ser provas ou testes. No entanto, é comum o formador avaliar as ditas aprendizagens através da elaboração de projetos, de acordo com o tema da formação, aplicados diretamente à pratica docente diária. De todas as maneiras, avaliar as aprendizagens é uma etapa muito importante, pois pode identificar possíveis razões para a mudança o não no comportamento dos professores, pois sem a aprendizagem será impossível identificar mudanças na instituição educativa
1.2.3. Avaliação da Transferência Definindo primeiramente o termo transferência, podemos descrever como o processo de aplicação e manutenção das aprendizagens alcançadas nos decorrer da ação formativa.
Assim, o participante da ação formativa tem que desenvolver as aprendizagens alcançadas no contexto da prática docente. Moreno (2009: 46) indica a existência dos processos distintos: -
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Generalização: é o processo pelo qual as competências aprendidas no decorrer da formação são postas em práticas no local de trabalho e em situações diferentes das foram aprendidas nas ações formativas, Manutenção: faz referencia a amplitude de tempo em que as aprendizagens são aplicadas de maneira eficaz ao trabalho.
É importante destacar que as aprendizagens que alcançam os participantes nas ações formativas, efetivamente, não tem valor para a instituição educativa se os participantes não transferem ou aplicam estas aprendizagens na prática docente diária. Assim, esta etapa da avaliação dos resultados consiste em identificar o grau de mudança na conduta dos professores participantes e a manutenção destas condutas no decorrer do tempo como conseqüência de assistir a uma ação formativa. Neste nível os indicadores favoráveis à mudança, além de fatores internos, também, vão depender de fatores externos ao próprio professor participante, ou seja, o grau de mudança de conduta depende não somente dos professores participantes, mas também dos aspectos que estão fora do seu domínio. Para conseguir que ocorra a mudança, são necessárias quatro condições (Kirkpatrick, 2000: 21): -
A pessoa deve ter o desejo de mudar. O que se pode conseguir através de uma atitude positiva diante da mudança desejada; A pessoa deve saber o que tem que fazer e como fazê-lo. Isso se garante através de processos de ensino-aprendizagem no decorrer do processo formativo; A pessoa deve trabalhar em um clima adequado. O que pode-se conseguir com a colaboração da equipe diretiva e dos companheiros de trabalho. A pessoa deve ser recompensada pela mudança. Aqui, os incentivos estão divididos em intrínsecos (satisfação pessoal, orgulho, desejo de mudança...) e extrínsecos (elogios, reconhecimento...).
Para a execução deste processo avaliativo se faz necessário levar em consideração alguns pré-requisitos antes de iniciá-la. Cano (2004) destaca alguns: -
Plasmar nos objetivos operativos as necessidades de formação da instituição; Partir de uma avaliação diagnóstica para conhecer o ponto de partida; Fazê-la depois de um determinado período de tempo, depois da formação, para dar tempo que a transferência se materialize; Levar em consideração que a transferência pode não se produzir por barreiras organizacionais, pessoais, etc.
É importante considerar o momento em que se executa tal avaliação, pois, dependendo do tema da formação, é possível que o participante tenha ou não a oportunidade de colocar em prática as aprendizagens adquiridas. Assim, é recomendável quem, além de levar em consideração os fatores que influem na transferência, os gestores da formação e
responsáveis pela avaliação a executem com um espaço de tempo suficiente para a aplicação e/ou transferências das aprendizagens. Os instrumentos utilizados reunir as informações estão entre a apreciação dos documentos de trabalho, a observação (participativa e/ou não participativa), entrevistas semiestructuradas, questionários e grupos de discussão.
1.2.4. Avaliação de Impacto Cano (2004) define essa etapa do proceso avaliativo como o momento em que se trata de analisar os efeitos que uma ação formativa tem para a instituição, além do enriquecimento pessoal que pode haver suposto para os usuários da formação. Barbier (1993) sinala que esta fase está fixada nos objetivos mais gerais de mudança que a organização persegue através da mudança da conduta dos professores participantes. Pineda (2000), por sua vez, entende o impacto da formação como as repecurções que a realização de uma ação formativa leva para a organização, em termos de resposta às necessidades de formação, de resolução de problemas e de contribuição ao alcance dos objetivos estratégicos que a organização tem fixados. Com isso, Cabrera (1999) completa destacando que a avaliação de impacto tem como objetivo principal determinar o valor e mérito de um determinado programa, medindo os efeitos gerados na população que não foi diretamente atendida pela formação. Depois de transcorrer um determinado período de tempo, é quando se opera a avaliação de impacto, uma vez que esta tem como propósito verificar a permanência e consistência das mudanças produzidas nos sujeitos. Como a transferência das aprendizagens ocorre depois de um certo tempo, devido a razão de que os sujeitos ter – além da oportunidade de aplicar a nova aprendizagem – a oportunidade de seguir com a nova oportunidade. Portanto, a avaliação de impacto poderá permitir conhecer a eficiência e validez do programa de formação de acordo com as necessidades formativas encontradas. A identificação de indicadores válidos para processar a avaliação de impacto pode ser uma forte dificuldade encontrada pelos gestores da formação. Pineda (2000: 128 – 129) destaca uma série de critérios que podem facilitar suas indicações, colaborando para uma avaliação de êxito: -
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É necessário seguir uma série de critérios na seleção das evidencias de impacto. Os mais destacados são: pertinência, custo moderado, confiabilidade e aceitabilidade; Os indicadores de impacto devem identificar-se durante a planificação da formação, e se vincularão diretamente com os objetivos da mesma e com os objetivos da instituição; Todos os afetados pela avaliação de impacto devem estar implicados no processo e devem participar ativamente nele; É normalmente útil classificar os indicadores de impacto em função dos diferentes tipos de formação que vão avaliar-se; isso facilita todo o processo e o faz mais rentável. É necessário especificar as modalidades de aplicação de cada indicador, ou seja, o momento, o agente, a fonte, e o instrumento que se irá utilizar para a sua medição;
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Realizar-se-á um seguimento da evolução do indicador, para o que é conveniente elaborar um quadro de seguimento que facilite a coleta de dado
A identificação de indicadores costuma ser o momento mais difícil da avaliação de impacto. No entanto, ao fixar os indicadores no momento da planificação da formação, a tarefa de avaliar este nível se torna menos árdua, convertendo a avaliação de impacto em um processo factível e portador de importantes informações para a melhora do processo formativo. Como comentado anteriormente, o impacto da formação é o que podemos relacionar em mudanças positivas na instituição educativa. Assim, Antúnez (2009) destaca algumas evidências: -
Vestígios de Trabalho: os diferentes formatos das produções dos alunos, organização da informação, redações, monografias, entre outras; Objetivos: os objetivos do centro educativo devem ficar mais claros, mais preciso e mais pertinente à realidade em que está submergido; Estrutura: melhoras na constituição das equipes de trabalho, em respeito à relação entre colegas, os papéis de cada um nos projetos estabelecidos, entre outros; Sistemas e Métodos de Trabalho: a. Rotinas Laborais: Prática profissional docente se converte mais eficaz e satisfatória: é possível destacar o aumento na periodicidade das reuniões e as participações nas mesmas; b. Capacidade das equipes de docentes para pedir mais formação contínua e mais pertinente: uma demanda mais coerente com uma análise de necessidades mais adequada e eficaz, mais contextualizada, mais centrada na implementação de projetos de mudança através de processos colaborativos entre colegas; c. Formação Contínua Autônoma: os docentes adquirem a capacidade de seguir capacitando-se e formando-se autonomamente, na busca de melhora de sua qualidade como docente.
Portanto, a avaliação de impacto pode servir como uma ferramenta para a detecção de necessidades para futuras ações formativas. Isso nos faz entender todo o processo formativo como um ciclo, onde o processo avaliativo começa com a detecção de necessidades formativas2 e acabam em si mesma, encontrando novas necessidades para programas formativos futuros. No entanto, a avaliação de impacto é a menos realizada no entorno educativo, como indicam as pesquisas relacionadas anteriormente, levando em consideração sua complexidade e, algumas vezes, a disponibilidade de recursos.
3. A Modo de Conclusão Os programas formativos são importantes para a adequação das instituições educativas a uma realidade que muda constantemente. Assim, a avaliação destes programas formativos
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Cabe destacar que o processo de detecção de necessidades não está inserido dentro das ações de avaliação dos programas formativos, posto que tal análise de necessidades deve ser executada antes mesmo da planificação da do programas de formação.
deve ser um processo vinculado diretamente à planificação deste programa, mantendo-o pertinente à realidade que enfrenta. Como vimos, os benefícios de levar a avaliação intimamente conectada ao programa formativo vai além das informações valiosas e pertinentes. Percebemos que a implicação dos professores participantes é solicitada em todos os momentos avaliativos e, isso, proporciona uma maior pertinência e proximidade entre o programa formativo proporcionado e a realidade da prática docente. Percebemos também que o processo avaliativo é dividido em distintas fases, dependendo do principal que se persegue. No entanto, isso não quer dizer que as informações coletadas em cada fase da avaliação não tenham que ser consideradas na avaliação de transferência ou impacto. Ao contrário, as decisões geradas desde a planificação do programa formativo tem implicação direta na transferência das aprendizagens e, em conseqüência, nos efeitos causados na instituição educativa depois das ações formativas. Cabe destacar nesse momento que nem sempre é possível executar todas as fases propostas aqui, pois cada realidade em que este submergida a avaliação dos programas formativos constitui uma situação distinta de outra. Assim, dependendo do objetivo que a avaliação responda, os responsáveis devem condicionar a metodologia utilizada, o tempo dedicado e, mais precisamente, o custo destinado à avaliação. A equipe avaliadora, uma vez tendo claro o objetivo da avaliação, deve selecionar as melhores e mais viáveis estratégias de coleta de dados e análise destas com o objetivo de tornar toda a plataforma avaliativa o mais pertinente possível. No entanto, a avaliação jamais deve responder a objetivos de controle e fiscalização, pois ditos objetivos, além de alterar a confiabilidades das informações coletadas, o principal objetivo da avaliação é a melhora do objeto avaliado. Portanto, a avaliação dos programas de formação contínua de professores pode ser concebida como um importante suporte aos objetivos organizacionais, uma vez que as instituições têm como finalidade manter-se no seu entorno, constantemente mutável, através de programas e ações formativas que, por sua vez, tem como finalidade gerar processos de mudança e transformação.
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