Malditos Contos - Edvaldo Carvalho

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Malditos Contos Edvaldo Carvalho Copyright © 2022 by Edvaldo Carvalho MALDITOSCONTOS Contos-História curtas-Ficção-Suspense-Mistério-Sobrenatural Capa por: ENC Design Free template by: Used to Tech (https://usedtotech.com) 2ª edição, 2022 ASIN B09SPH8ZZN ISBN 9798419474420 Índice Prefácio ............................................................. IV No porta-malas ................................................ 1 O adivinho de mortes ...................................15 O livro dos desejos .........................................29 HELENA .............................................................41 O ovo ...................................................................51 Há 60 anos........................................................66 Posfácio .............................................................84 SOBRE O AUTOR ............................................87


Prefácio u sempre fui um grande fã de contos. Considero-os uma E excelente porta de entrada para o mundo literário, tanto para quem um dia pretende ser um escritor e mais ainda para alguém que deseja adquirir o gosto pela leitura, pois, ler uma coletânea de histórias curtas num livro de 400 páginas sempre pareceu-me menos cansativo e mais atraente do que ler um imenso romance com a mesma quantidade de páginas. Mas não é só isso, eu acho que o conto tem algo de especial que é aquela sensação de nos fazer pensar sobre o seu antes e depois, já que os fatos contados não costumam ser tão detalhados quanto numa longa narrativa. Por fim, sempre senti-me tentado a escrever algo logo após ler um conto de Edgar Alan Poe, Guy de Maupassant, H. P. Lovecraft ou Daniel Defoe. Esses autores, sem citar os geniais contistas russos, são escritores de breves histórias tão originais, imersivas e interessantes que, de certa forma, sinto que ler suas produções é também um convite para que façamos as nossas. Sim, aquelas histórias que vêm de repente à nossa mente, roubam nosso sono, desviam nossa atenção no dia-adia, imploram-nos para que as passemos para um papel e as compartilhemos com os outros. Foi deste modo que estas histórias aqui surgiram: ao escovar os dentes, ao presenciar um acontecimento corriqueiro do cotidiano, ao terminar de ver um filme, ao caminhar, ao dirigir, ao deitar-me cansado ao fim de um dia estressante no trabalho. Alguns destes contos aqui apresentados foram escritos há mais de 15 anos (perdoem então pelo amadorismo e pelo pensamento tão tolo projetado em um personagem adolescente no conto O Livro dos Desejos), outros vieram-me à mente há poucos dias, mas todos foram se formando em meu pensamento sem interesses, despretensiosamente, surgindo em micro-capítulos aqui e ali, numa noite mal dormida ou numa manhã de chuva, durante o café da manhã.


Quanto á temática, alguns acham grotescas as referências ocultistas ou narrativas violentas, outros amam uma boa história com teor sobrenatural ou sobre vingança, e há ainda aqueles indiferentes ao tema, contanto que seja uma história bem escrita e bem contada, que o prenda à leitura. Confesso que estes temas aqui apresentados já não me despertam mais tanto interesse quanto despertavam-me há alguns anos, no entanto, eu decidi reunir aqui todos estes contos que eu já havia criado com temas um tanto macabros, por respeito às preferências literárias que um dia eu tive e que me fizeram conhecer diversos livros, escritores e universos, envolvendo-me cada vez mais com o mundo literário. Espero que estas linhas que vêm a seguir agradem, causem reflexão ou, no mínimo, distraiam àqueles que me darão a honra de ler este pequeno livro. Esclareço, por fim, que de modo algum estou me comparando ou equiparando aos autores aqui citados e sim que bebi de suas fontes para transpor de minha mente para o papel os contos neste livro narrados. Movido pelo desejo de compartilhar histórias, apresento estas a você. P.S.: Por algum motivo, que eu não sei bem como explicar, eu decidi colocar em que época cada conto se passa. Achei que poderia ser interessante para o leitor. Boa leitura! 1 No porta-malas Esta história aconteceu no final de 2005. lbert era só alegria. O sorriso que passou o dia inteiro estampado em A seu semblante não conseguia disfarçar o tamanho de sua 1 felicidade. Depois de doze anos trabalhando como auxiliar de contabilista (cargo que oficialmente não existe, mas Albert nunca conseguiu convencer seu patrão a honrar as leis trabalhistas e enquadrá-lo como contabilista) na empresa do Sr. Cezar Silas, um homem amargo, de linguajar violento e que tratava


mal seus funcionários, desvalorizando-os o máximo possível, simplesmente por saber o quanto os mesmos precisavam daquele dispendioso emprego (eis aí o motivo pelo qual Albert nunca conseguiu sua promoção para contabilista), ele finalmente poderia colher os frutos de seus inúmeros dias de esforços e tolerância diária de um empregador hostil. Albert acordava todos os dias ás 5:30, pegava o ônibus por volta de 6:50 e chegava ao escritório pontualmente ás 7:30, com raríssimas exceções e apenas quando havia um contratempo, ele atrasava-se. Tais contratempos tinham que ser coisas realmente sérias, como por exemplo o dia da morte de sua mãe, no qual ainda que com o coração abatido pelo luto, Albert foi trabalhar. Para manter-se no emprego ele dava o sangue, literalmente, pois um dia teve que doá-lo para o chefe, quando este sofreu um acidente em seu jet-ski (nosso personagem achava que seria com esta oportunidade que conseguiria sua promoção. Não foi. Nunca o seria). Por uma imensa e infeliz coincidência ele era o único funcionário da empresa que tinha o sangue compatível. Como Albert odiava saber que seu sangue corria nas veias do velho sovina. Apesar de tudo, Albert honrou e manteve seu emprego com muitas dificuldades, engolindo humilhações e vilipendios por anos e anos, mas apenas agora ele via o quanto tanto trabalho havia valido a pena. Com a morte de Cezar Silas e logo em sequência, com a decisão dos seus herdeiros de que a empresa deveria ser fechada (ninguém queria continuar o negócio do velho), Albert e todos os seus colegas foram justamente indenizados. O que deveria ser motivo de tristeza, porém, tornou-se o motivo da imensa alegria de Albert. É certo que o fato de enfim estar livre das garras do velho Silas lhe trazia um imenso prazer macabro à sua alma, mas o que realmente deixou este nobre cidadão feliz foi o fato de ter em suas mãos, como nunca antes em sua vida, uma considerável quantia de dinheiro dos direitos trabalhistas.


Crê-se que o leitor conheça o velho dditado que diz que “na casa de ferreiro o espeto é de pau”. De fato, tal sabedoria popular muitas vezes é verdadeira, pois mesmo trabalhando mais de uma década com as exatas contábeis, nosso querido Albert era um homem atrapalhado com as suas despesas domésticas e particulares. Mas, agora, com tanta grana em mãos ele prometeu a si mesmo e á esposa que saberia investir muito bem o dinheiro e gastá-lo de forma consciente e lucrativa. Iria depositar ou fazer algum tipo de investimento com a maior parte do montante. A esposa de Albert ficou feliz com a ideia. Sensata e consciente (altruísta ás vezes) Dona Sheila abriu mão de todos os seus desejos de consumo e aconselhou o marido á executar seu plano á ponto de, no futuro o mesmo montar a sua própria empresa de contabilidade, afinal, este era o sonho que este pai de família almejava desde o primeiro ano em que começou a trabalhar na Silas Contabilidade ltda. Aconteceu que o efeito do dinheiro na mão e a insensatez do marido de Dona Sheila falaram mais alto. “É verdade’’, pensou ele, a indenização investida por um tempo era mesmo o suficiente para que Albert abrisse seu próprio negócio, podendo até contratar um estagiário remunerado para ajudá-lo na empresa, mas não foi nada disso que ele fez. Na mesma semana em que o contabilista teve posse do dinheiro, foi a uma concessionária de veículos e comprou um carro do ano, zero Km, com uma bom prazo de garantia e com um design bem moderno, carroceria robusta, computador de bordo. .Albert insistiu tanto com o vendedor que este providenciou-lhe a pronta entrega em poucos dias, claro, não sem uma gratificação às escondidas que o comprador ofereceu ao mesmo, e este por sua vez, cedeu parte ao gerente corrupto. Ah, O homem era a encarnação da felicidade! Olhava para o veículo e não conseguia acreditar que era seu. Bem, não totalmente, pois ele pagou uma boa parte à vista e teria ainda um ano de parcelas para pagar. Mas isso não diminuía a sua alegria.


Nem telefonaria para a esposa, iria lhe fazer uma surpresa. E como iria! Decidiu também que não ligaria para seu amigo Alex, ao qual havia pedido, dias antes, para ir dirigindo o carro até a sua casa, já que Albert ainda não havia tirado sua carteira de habilitação. Alex, aliás, foi quem lhe deu as primeiras lições de direção e Albert até que foi um bom aprendiz. Assim, optou por ir ele mesmo para casa guiando sua bela máquina, confiando no que o seu amigo Alex o havia ensinado sobre direção e nas duas aulas práticas que havia feito na autoescola, afinal era impossível resistir ao impulso de dirigir seu belo carro. Albert tratava-o como a um ser vivo, um amigo, uma entidade. Passava-lhe a mão carinhosamente, chamava-o por apelidos meigos como “minha coisa linda” e “dono do meu coração”. Assim sendo, ele saiu do pátio da concessionária e dirigiu com toda a prudência possível. Não por medo de ser abordado em uma blitz, nem nada assim, muito menos por ser um motorista consciente e obediente ás leis de trânsito, mais porque temia em sequer arranhar sua bela aquisição. Sentiu-se o dono do mundo. Dirigia com o nariz pra cima, olhava para os pedestres e ciclistas com desdém. Recusava-se a sequer olhar para os veículos de transporte público, pois não fazia mais parte daquela gente, a plebe usuária de ônibus, vans e metrôs. Duvidava que existisse no planeta alguém mais feliz que ele naquele momento. Albert tremeu com um frio na espinha ao passar pela principal avenida da cidade, sentindo ao mesmo tempo uma certa emoção e adrenalina por estar realizando tal feito em via tão movimentada. Antes, ele apenas havia dirigido o carro do centro de formação de condutores e o de seu amigo Alex em vias pouco movimentadas e por curtos percursos. Desse modo, com gotas de suor frio escorrendo-lhe pela face, ele chegou em casa com o coração a velozes palpitadas. Já era por volta das sete da noite e sua esposa ainda não havia chegado do trabalho. Saiu do carro, travou-o com o alarme para se exibir para os vizinhos que a essa altura nem sequer disfarçavam ao olharem das portas de


suas casas e entrou em sua residência. Contou a novidade para a filha de 13 anos, Tamara, que ficou em semelhante êxtase ao de seu pai, já pensando em como seria chegar à escola pela primeira vez de carro. Melhor, no carro de seu pai, um sedã novinho. A alegria dos dois no entanto teve um grave abalo com a chegada da esposa de Albert. Ele, sorriso enorme no rosto, que chegava a distorcer seu semblante, nem deixou Sheila entrar em casa e provavelmente questionar de quem seria o carrão estacionado bem na entrada da casa, recepcionando-a antes dela passar pelo portãozinho e ali mesmo contando-lhe sobre “a vitória alcançada”. Ela, que primeiro achou que fosse uma brincadeira de mau gosto, logo lhe repreendeu perguntando-lhe se o mesmo havia perdido o juízo, se havia simplesmente esquecido todos os planos destinados ao dinheiro e se o mesmo iria comer, vestir e pagar as contas com o carro. Brigaram, com impublicáveis xingamentos e palavrõe, chegando ao ponto dela mandar-lhe enfiar o carro e o dinheiro em um certo orifício de seu corpo, depois que Albert disse que era o dono do dinheiro e que poderia fazer com ele o que bem quisesse. Por fim, falaram diversas baixarias e tocaram até em assuntos delicados como divórcio e relembraram queixumes de muitos anos atrás: estavam juntos há quinze anos e muitos erros de um e outro ao longo deste tempo foram desenterrados para atiçar a briga. Albert, visivelmente abalado por conta da discussão, decidiu sacar as chaves do carro e saiu cantando pneu pela rua esburacada do bairro humilde onde ficava sua casa. A alegria de outrora havia se convertido em ira, raiva, ódio, de tudo e de todos. Para piorar, ao sair do estacionamento da loja de conveniência de um posto de gasolina onde havia parado para comprar umas cervejas, o infeliz homem, ao engatar a ré, acabou batendo na traseira de outro carro que estava ali estacionado, ativando o alarme deste. De sonho a pesadelo, a sina maldita de Albert apenas havia começado. Ele fugiu


do local em alta velocidade para não ter que pagar os reparos do outro carro, descendo a 120 por hora a Avenida 1º de janeiro e fazendo uma curva perigosíssima na esquina da Dalton com a Coronel Vincent. Ao se distanciar o bastante do local do ocorrido e tendo quase certeza que ninguém o viu, mesmo que o alarme do carro batido tenha disparado, ele Quer saber como termina esta história e ler outros contos com muito suspense? Adquira este e-book em https://www.amazon.com.br/dp/B09SS4J9GG Por apenas R$ 1,99 Ou leia-o gratuitamente pelo Kindle Unlimited.


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