UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
e EDUCAÇÃO UMA DIFÍCIL ALIANÇA
EDEMILSON JORGE RAMOS BRANDÃO
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
Este
trabalho
ínicio
de
pretende
um
rico
ser
o
diálogo
envolvendo pessoas interessadas e,
sobretudo,
compromissadas
com o problema da introdução de novas tecnologias em Educação. 1995
"O prevalecer das mรกquinas me preocupa e me atormenta. ร um movimento que avanรงa como uma tempestade: que se aproxima e atingirรก a todos nรณs" (Goethe, J. W. 1828)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1
1 ............................................................................................................... 5 INFORMÁTICA E SOCIEDADE ................................................................. 5 A caminho da Sociedade Informática ...................................................... 6 A informatização da sociedade: um processo irreversível? ..................... 7 A invasão dos computadores ................................................................ 10
2 .......................................................... 13 INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO ............................................................... 13 Questões epistemológicas .................................................................... 14 Início de uma estreita relação ............................................................... 15 O Ensino computadorizado: primeiros passos ...................................... 16
3 .......................................................... 19 O COMPUTADOR CHEGA À ESCOLA .................................................. 19 E agora, que faço com o computador?.................................................. 20 Micro-computadores em sala de aula.................................................... 22 Um computador de vulto humano ......................................................... 23 Exigência de uma nova programação didática ...................................... 24
4 .......................................................... 27 ENTRE A FANTASIA E A REALIDADE .................................................. 27 Informática e Educação: uma visão dualística....................................... 28
Cuidado com as ilusões ........................................................................ 29 A tendência ao monopólio ..................................................................... 30
5 .......................................................... 33 O DOMÍNIO DA TECNOLOGIA ............................................................... 33 A preparação do docente ...................................................................... 34 Adequar-se aos novos tempos .............................................................. 34 O difícil caminho para uma alfabetização informática............................ 36 A reciclagem como fator de valorização profissional ............................. 37 CONCLUSÕES ........................................................................................ 41 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................... 45 QUESTIONÁRIO ..................................................................................... 51
ii
Introdução A demanda do uso de instrumentos informáticos está se expandindo rapidamente a ponto de representar um dos maiores acontecimentos de nossa época. Hoje, a difusão de instrumentos informáticos a um número sempre maior de usuários, assim como gera novas áreas de aplicação e realimenta o parque tecnológico com produtos cada vez mais variados, potentes e sofisticados, propicia a rápida difusão de computadores em importantes segmentos da sociedade graças a grupos interessados em adaptá-los às suas necessidades, características e interesses. Em meio a um cenário promissor, que vem se configurando a partir dos sucessos obtidos com a introdução de computadores em outras áreas, a escola se apressa em verificar se essa nova presença pode ser útil em suas atividades diárias, seja como instrumento de comunicação didática, como gerador de novos conhecimentos e metodologias, como elemento
auxiliar
nas
atividades
docentes
e
administrativas
ou,
simplesmente, como mais uma esperança na tentativa de solucionar velhas mazelas. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, a recíproca aproximação entre Informática e Educação, que antes parecia um
processo natural dentro de uma sociedade definida "Pós-industrial"1, revelou-se bem mais complexa do que poderiam prever os mais sofisticados projetos de informatização do ensino. A introdução de computadores nas escolas, antes mesmo de apresentar os primeiros resultados desejados, coloca em evidência a necessidade de se refletir sobre uma série de problemas, que vão desde a preparação dos professores até a falta de recursos para a compra de equipamentos. Discutir, portanto, um tema tão em voga e tão fascinante, envolvendo a polêmica relação entre Informática e Educação, constitui um estímulo interessante e ao mesmo tempo um evidente perigo: a presença cada vez maior de computadores nas escolas não deixa de suscitar uma série de questões para as quais é difícil apresentar respostas plausíveis dentro dos limites deste trabalho. Trata-se de agir em ambiente com fronteiras incertas, no interior do qual estabelecer qualquer estratégia voltada à resolução de problemas
1
Entre o material bibliográfico de maior relevância ao aprofundamento do conceito de Sociedade PósIndustrial, além das obras de Bell (1972 e 1973) e Naisbitt (1984), listadas na Bibliografia, consultar as seguintes obras: GALBRAITH, J.K. La società opulenta. Milão, Comunità, 1963. ____. Il nouvo stato industriale. Turim, Einaudi, 1968. ____. L'età dell'incertezza. Milão, Mondadori, 1977. GERSHUNY, J. - ROSENGREN, W.R. After the industrial society. Londres, McMillan, 1978. TOURINE. A. La società post-industriale. Bolonha, Il Mulino, 1970. ____. La produzione della società. Bolonha, Il Mulino, 1975.
2
(ou à apresentação da problemática em seu complexo) vem a ser uma doce ilusão. Neste sentido, não é nossa idéia desenvolver um ensaio sobre a problemática em questão, mas propor uma série de temas com o intuito de suscitar um amplo espaço de reflexão. Em outras palavras, uma defesa incondicional do uso de computadores em ambiente escolar está longe de ser a motivação principal deste trabalho. Nosso propósito ao escrevê-lo foi lançar um grito de alarme e, contemporaneamente, outro de esperança, na expectativa de um desfecho melhor para o que hoje vem sendo considerada uma das mais difíceis alianças no campo educacional: a relação Informática e Educação. Grande parte deste trabalho nasceu de estímulos e intercâmbios de idéias no contato com amigos e profissionais sensíveis à temática aqui apresentada. A todos, o meu muito obrigado.
3
1 Informática e Sociedade O processo de informatização da sociedade, principal elemento propulsor da chamada Revolução Pós-industrial, assume dimensões globais, transformando-se num fenômeno de extraordinária ressonância tecnológica e sobretudo, cultural. Ainda que se encontre em fase embrionária, a Sociedade Informática oferece infinitas perspectivas de expansão, principalmente se tiver a escola como sua aliada.
1.1.
A caminho da Sociedade Informática
As transformações que se desenvolvem diante dos nossos olhos, que para muitos representam um dos mais formidáveis acontecimentos de nossa história - um processo destinado a imprimir uma nova fisionomia em vários países, inclusive o Brasil -, constitui um raro momento para se refletir sobre a configuração da atual ordem social. A intensidade e abrangência com que as novas tecnologias informáticas se "cristalizam", nos diversos segmentos sociais, induzem numerosos pesquisadores a considerar a proliferação de computadores (e de toda uma postura baseada na cultura informática) como pressuposto para a identificação de um novo modelo de sociedade, definida como Informática ou Pós-industrial. Em 1984, Naisbitt destaca a passagem da Sociedade Industrial para a Sociedade Pós-industrial como a primeira de uma série de dez mega-tendências descritas em "Megatrends: Le dieci nuove tendenze che trasformeranno la nostra vita"2. Mas é Bell, em 1973, o primeiro realmente
2
As demais mega-tendências descritas por Naisbitt em seu livro são: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9)
a tecnologia de "alta sensitividade", isto é, "como resposta humana de reequilíbrio"; protagonismo da economia mundial em prejuízo da nacional; a planificação da sociedade a longo prazo; a descentralização; self-help em contraposição à ajuda institucionalizada; a democracia participativa em lugar da representativa; network em substituição à estrutura hierárquica; deslocamento de interesses Norte-Sul, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos; as opiniões múltiplas, em prejuízo das dicotômicas.
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a definir Sociedade Pós-industrial, com bases em análises comparativas entre Sociedade Pré-industrial, Industrial e Pós-industrial. (ver tabela 1) No esquema desenvolvido por Bell, a Sociedade Pós-industrial define seus contornos pela primazia de atividades ligadas ao setor terciário e pela valorização da informatização como elemento propulsor de mudanças na sociedade, assim como a força bruta e a energia tornaramse fundamentais na definição dos modelos de sociedade anteriores. A Sociedade Pós-industrial assume, portanto, conotações não apenas de um ambiente transformado pela tecnologia mas também pelo Processing de informações, pelo papel estratégico do conhecimento teórico na definição de novas formas de saber, pela ênfase atribuída às atividades ligadas à Educação, à formação profissional e à pesquisa em geral.
1.2. A
informatização
da
sociedade:
um
processo irreversível? A forma como vem se processando a inserção de instrumentos informáticos em nossas atividades cotidianas induz-nos a pensar que a frase "O futuro está na Informática" não representa apenas um simples slogan publicitário, mas a constatação objetiva de uma realidade em contínua evolução.
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TABELA 1: Sociedade Pré-industrial, Industrial e Pós-industrial PERÍODO
PRÉ-INDUSTRIAL
INDUSTRIAL
PÓS-INDUSTRIAL
Modo de produção
Estratificação
Fabricação
Elaboração e serviços
Setores econômicos
Primário: agricultura, pesca, extrativismo vegetal, extrativismo mineral
Secundário: produção de Terciário: transportes, bens duráveis e não utilidade pública, duráveis, construção finanças, comércio, agência de seguros, gestão imobiliária, tempo livre, educação, atividades governamentais
Elemento de transformação
Energia natural (vento, água, energia natural)
Energia produzida (eletricidade, petróleo, energia nuclear)
Informação (computador e sistemas de transmissão de dados)
Recurso estratégico
Matéria-prima
Capital financeiro
Conhecimento
Tecnologia
Trabalho humano
Uso de máquinas
Tecnologia intelectual
Tipos de profissionais
Agricultor, artesão, trabalhadores manuais
Engenheiro, técnico especializado
Cientistas, profissionais liberais, técnicos
Metodologia
Senso comum, "tentativas e erros"
Empirismo, experimentação
Teoria abstrata, modelos, simulação, teoria das decisões, análise de sistemas
Perspectiva temporal
Orientação ao passado
Adaptação ad hoc, experimentação
Orientação ao futuro, previsão, programação
Design
Luta contra a natureza
Luta contra a natureza já Desafio entre pessoas transformada
Princípio organizacional
Tradicionalismo
Desenvolvimento econômico
Codificação do conhecimento teórico
(Fonte: BELL, D. The coming of post-industrial society. a venture in social forecasting. New York, Basic Book, 1993.)
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Anos atrás, poucos poderiam imaginar que este novo modo de gerar, coletar, transmitir, elaborar e divulgar informações pudesse assumir importância e dimensão cada vez mais crescente em vários setores da sociedade moderna: da Economia à Política, da Saúde à Educação, etc. Não é necessário muito para se constatar que a Informática, em qualquer ambiente, apresenta-se como um dos mais potentes "agentes fertilizantes" de mudanças e de modernização interna. Os motivos pelos quais esse fenômeno torna-se nitidamente observável, mesmo em países como o Brasil, parecem residir não somente na elevada ênfase que atualmente se dá à aquisição de elementos materiais e de conteúdos de base informática ou na facilidade e rapidez com que a Informática se estende a outras áreas de aplicação, mas, sobretudo, nas inter-relações que daí emergem, como resultado de um acelerado processo de transformação. Nunca antes se verificou na história da humanidade um fenômeno com tanta ressonância e consistência tal qual a difusão de computadores na sociedade civil. Em cada ambiente, a sua ausência é expressão de atraso. Uma pessoa que não possui um conhecimento básico sobre Informática é vista como sendo subdesenvolvida, um indivíduo marginalizado quer social quer profissionalmente. Quem o possui, por outro lado, parece predisposto a enfrentar com tranqüilidade qualquer situação. Isto porque nenhuma revolução apresentou um poder de impacto social similar aquele que o desenvolvimento e a difusão maciça de
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computadores promovem. Não existe praticamente um dia sem que setores de governo, entidades científico-culturais, órgãos de imprensa, etc. não organizem ou promovam encontros destinados à discussão de temas ligados à informatização da sociedade, o que cada vez mais solicita a atenção de todos para a urgência de se assegurar uma participação ativa em tal processo. No entanto, encantados com o futuro promissor que a Informática anuncia, poucos percebem que a nova sociedade que se configura reduz sensivelmente os espaços destinados à discussão entre o sim e o não de sua conveniência, na medida em que fomenta, predominantemente, interesses voltados às diferentes formas por meio das quais é possível participar de tal processo de informatização.
1.3.
A invasão dos computadores
A forte penetração de elementos provenientes da pesquisa informática em importantes segmentos da sociedade revoluciona formas tradicionais de equilíbrio, não tanto por serem tecnologias produtivas mas por serem tecnologias organizacionais, que uma vez implementadas mudam as modalidades de comunicação entre pessoas, os modos de aprendizagem, as relações no interior de organizações, a interação com o ambiente externo, etc. A mudança de significado da Informática de um para outro aspecto, isto é, de inovação tecnológica para inovação social não se
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explica unicamente pela pura e simples presença física de descobertas e equipamentos sofisticados em vários segmentos da sociedade. O novo paradigma interpretativo, que deslocou grupos de interesse unicamente voltados à reflexão sobre a tecnologia para a reflexão sobre a sociedade, tomou forma porque aos poucos se percebeu que a atenção quase absoluta dispensada à dimensão tecnológica se manifestava inadequada à compreensão do fenômeno Informática. Enfocar apenas fatores intimamente ligados à tecnologia significa apresentar uma visão reducionista de tudo aquilo que representa a Informática hoje, uma vez que os reflexos mais importantes destes poucos anos de sua história não parecem residir somente nos enormes avanços tecnológicos, mas também nos efeitos que este take-off provocou e continuará provocando em setores inicialmente considerados "estranhos" à expansão da Sociedade Informática.
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2 Informática e Educação A Informática se apresenta como um dos mais interessantes parceiros em alianças que envolvem desde atividades ligadas ao setor industrial até iniciativas de formação e ensino em geral. A relação cada vez mais íntima entre Informática e Educação significa, por um lado, que a difusão, em larga escala, de computadores em setores estratégicos da sociedade impõe uma radical mudança na formação de novas competências. Por outro lado, significa que a Informática e, particularmente, o computador, seu maior intérprete, possuem um indubitável valor na construção de uma nova sociedade.
2.1.
Questões epistemológicas
Falar de Informática, hoje, significa, quase exclusivamente abordar temas ligados a computadores, redes telemáticas, sistemas de automação, etc. Mas o significado deste termo, cuja origem provém do francês (information automatique), é bem mais abrangente do que lhe é normalmente atribuído. Informática é um fenômeno que atinge vários níveis de interpretação e portanto não se resume a um simples ato de automação. Atualmente, o conceito de Informática se aplica a uma complexa realidade feita de modelos físicos, tecnológicos e sociais voltados à reformulação da sociedade, tanto a nível de suas estruturas lógicas quanto a nível da reestruturação do conhecimento acumulado em suas diferentes áreas de aplicação. Isto significa que coletar, elaborar e difundir informações, por meio de instrumentos automáticos, são procedimentos que devem ser compreendidos em maior profundidade, uma vez que denotam processos mais amplos, que transformam a comunicação entre os homens, modificam as estruturas e os processos produtivos, os métodos de trabalho, as organizações sociais e as próprias modalidades de aquisição do saber. Enquanto parceiro de uma estreita aliança com a Educação, a Informática pode também ser interpretada como:
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a)
Um fenômeno social, cuja presença transforma (em alguns casos, radicalmente) a vida de indivíduos, grupos e comunidades inteiras;
b)
Um amplificador intelectual, baseado em métodos de análise e
linguagens
simbólicas
que
promovem
uma
nova
representação do conhecimento e, portanto, uma nova interpretação
de
problemas
que
envolvem
atividades
cognitivas; c)
Uma fonte de recursos instrumentais, em condições de enfrentar e equacionar questões de natureza diversas, desde que utilizados de modo adequado e coerente com os objetivos que se desejam alcançar.
2.2.
Início de uma estreita relação
A descoberta de uma possível relação entre Informática e Educação, que historicamente tem seu início na segunda metade dos anos 70, com o lançamento no mercado dos primeiros micro-computadores, passa a ser rapidamente compartilhada por várias escolas em diferentes países. Uma vez superados obstáculos anteriores relativos, entre outros, aos altos custos do hardware e às dificuldades de comunicação homemmáquina (graças aos crescentes avanços na Micro-Eletrônica e ao frenético desenvolvimento do software), e uma vez ainda, atenuadas barreiras psicológicas e culturais (na medida em que começam a ser
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evidenciados os primeiros resultados positivos da introdução dessa tecnologia na investigação científica e em setores ligados à produção), a Informática consegue ultrapassar os limites dos sofisticados laboratórios de pesquisa e dos grandes pólos industriais, conquistando novas e diversificadas áreas de aplicação, entre elas a do ensino. Hoje, não só através dos meios de comunicação de massa, é possível observar uma presença cada vez mais significativa de computadores em vários contextos educacionais, até mesmo em escolas com currículos não especializados em áreas tecnológicas, instituições de ensino de primeiro e segundo graus (públicas e particulares) e unidades escolares localizadas em zonas periféricas. Uma tendência que surge, progressivamente, para satisfazer tanto exigências de caráter didático-pedagógico quanto condições técnicofinanceiras de diversas realidades educacionais. Um processo baseado, sobretudo, na reestruturação de velhos valores e no reexame de inúmeras práticas que transformam a ação educativa em atividade fortemente interativa, e não em mera apresentação de conteúdos. Um fenômeno cujos efeitos assumem proporções e relevo difíceis de serem imaginados.
2.3. O
Ensino
computadorizado:
primeiros
passos A introdução de computadores na Educação é um processo que se encontra em fase ainda incipiente e instável, razão pela qual realizar previsões ou delinear, em longo prazo, um possível quadro exploratório constitui tarefa bastante delicada.
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Talvez, porém, fosse oportuno recordar que no passado algumas inovações tecnológicas foram apresentadas como verdadeira panacéia para os problemas da Educação. Quem não se recorda da grande ênfase atribuída ao cinema, no início do século, ou à TV educativa nos anos 70? - a previsão de que em poucos anos grande parte do currículo escolar seria controlada por intermédio destes instrumentos não se concretizou plenamente. na realidade, hoje se observa que esses meios assumem um papel um tanto marginal nas escolas, muito embora o filme e os programas educativos criados para televisão sejam fundamentais em específicas situações de ensino. Provavelmente com o computador e toda "filosofia" que o acompanha o futuro será diferente, seja pelo fato de que as tecnologias informáticas promovem transformações substanciais, que vão além daquelas propostas no âmbito das atividades didático-pedagógicas, seja porque estamos nos movendo inevitavelmente em direção a uma sociedade caracterizada por um elevado grau de informatização de todos os seus segmentos. Em Educação, o computador, especialmente na versão personal, se apresenta, hoje, como um objeto tecnológico e cultural inteiramente novo e em contínua evolução. Entretanto, os efeitos e as potencialidades futuras dessa interação parecem cada vez mais condicionados não somente ao rumo que tomará o processo tecnológico mas sobretudo ao "domínio" que a escola terá desta tecnologia.
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3 O computador chega à Escola À Informática, enquanto instrumento promotor de mudanças, é delegada particular relevância na medida em que coloca à disposição da sociedade recursos aplicáveis a diversas áreas. Disponíveis
ao
processo
ensino-aprendizagem,
existem
atualmente muitos instrumentos que podem tornar o trabalho do professor mais fácil, mais eficiente e mais produtivo em relação aos objetivos que se espera alcançar. O computador, sobretudo na versão portátil, é seguramente um desses.
3.1.
E agora, que faço com o computador?
O computador, enquanto "máquina universal", se apresenta como um instrumento com finalidades variadas. Uma máquina predisposta a resolver qualquer tipo de problema, desde que susceptível de solução algorítmica e traduzível sob forma de software. E graças ao promissor desenvolvimento da pesquisa de software, os serviços e as vantagens que a Informática pode oferecer à Educação não apenas estão fora de discussão como também vão muito além do que uma visão mais otimista possa imaginar. Com efeito, a particular flexibilidade ou universalidade do computador é uma característica que amplia quase ilimitadamente as suas possibilidades aplicativas, em se tratando de elaboração de dados e informações. Atualmente, as funções principais atribuídas aos computadores não se limitam à simples execução de cálculos aritméticos, mas abrangem funções
bastante
informações
não
heterogêneas: numéricas,
memorização
extração
e
e
catalogação
ordenação
de
de
grandes
quantidades de dados, transmissão de informações, completa automação de processos, etc. Diante de tantas possibilidades de respostas que o computador oferece, o drama que aflige grande parte dos novos usuários desse instrumento é saber que tipo de questões lhe endereçar e através de quais procedimentos é possível equacionar tais questões.
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E é exatamente esta a fonte principal das desilusões de alguns professores que, na ocasião de seu primeiro contato com o computador após seguirem atentamente as instruções presentes do manual de instalação - tomam consciência imediata de que é necessário algo mais do que tudo funcione "às mil maravilhas", conforme os anúncios publicitários. Eis então que surge, inevitavelmente, uma grande interrogação: E agora, que faço com o computador? Percebe-se, então, que talvez teria sido mais oportuno, antes da aquisição do computador, obter maiores informações sobre as suas possibilidades aplicativas e, sobretudo, no que concerne às necessidades reais de seu uso. Muito difundida entre professores é a crença de que a introdução da Informática na Escola começa a partir da aquisição do hardware. Porém, a realidade nos ensina que mesmo equipamentos potentes como o computador, se colocados em uma situação de ensinoaprendizagem
sem
a
devida
preparação dos
recursos
humanos
envolvidos, sem que sejam estabelecidos objetivos educacionais bem definidos e sem que sejam elaborados materiais didáticos adequados a uma integração natural ao currículo escolar, correm o risco de se transformarem em sofisticadas peças de decoração, entre tantas que a escola atualmente possui. Em muitos casos, a introdução desses equipamentos, sem uma prévia reflexão sobre por que, como e para que utilizá-los provoca o abandono do computador (o micro, que a publicidade evidenciava exatamente por suas aplicações ilimitadas), a sua utilização como simples máquina de escrever ou, o que é mais grave, como video-games, uma vez
21
que word-processor e jogos são categorias de programas de fácil acesso e intuitiva manipulação através do teclado (e, no caso específico dos jogos, através de joystick e mouse). A presença de computadores nas escolas, mesmo constituindose em uma iniciativa importante, não representa a principal estratégia que condiciona a participação da Informática na Educação. Portanto, a preocupação maior de profissionais envolvidos em programas de informatização do ensino é a sua gestão interna: como projetar a sua introdução, programar o seu desenvolvimento e, principalmente, controlar os seus resultados de modo congruente com as características e os objetivos fundamentais da Educação.
3.2.
Micro-computadores em sala de aula
Quando se discute a introdução de computadores na Educação emergem, freqüentemente, perguntas sobre qual seria a utilidade de tais instrumentos nas atividades escolares. Cada resposta unívoca a este propósito parece livre de fundamento, uma vez que as aplicações deste tipo de instrumento no campo educativo são várias: dependem, entre outras coisas, do contexto no qual se opera, da capacidade criativa do professor, do software disponível e, sobretudo, dos objetivos que se desejam alcançar. Em outras palavras, decidir em quais atividades utilizar instrumentos informáticos é uma tarefa que se situa entre projetar o computador na escola e repensar as finalidades, objetivos e os conteúdos
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propostos pela escola através de uma nova ótica, definida a partir da presença maciça de computadores em sala de aula e seus reflexos em relação à programação didático-pedagógica.
3.3.
Um computador de vulto humano
O debate sobre o emprego de instrumentos informáticos nas diversas áreas disciplinares vem, inevitavelmente, ao encontro de problemáticas mais amplas, ligadas a questões epistemológicas que norteiam a Informática Aplicada, seu papel social e sua articulação didática. Como
recurso
instrumental,
as
experiências
didáticas
demonstram que o computador pode ser introduzido em praticamente todas as áreas do currículo escolar e em qualquer momento do processo ensino-aprendizagem desde que adequadamente programado. É interessante salientar, porém, que alguns assuntos se prestam muito bem ao ensino informatizado. Outros, ao contrário, não. Matérias que envolvem muitos detalhes ou fatos de rotinas, temas com procedimentos lógicos padronizados, etc, são naturais objetos de interesse daqueles que produzem software para a escola. Seria muito difícil, por exemplo, ensinar Filosofia por meio do computador, embora neste caso tal instrumento possa ser de grande ajuda ao professor. Contudo, o maior potencial das inovações metodológicas e de conteúdo oferecido pela Informática provavelmente possa ser melhor observada no futuro, no âmbito das disciplinas humanísticas, uma vez que
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nesse ambiente ainda não existe uma grande tradição Informática. Naturalmente,
muita
criatividade,
projetos
ambiciosos
e
análises
experimentais constantes serão necessárias para desenvolvê-la. Embora o emprego de instrumentos informáticos, na prática, seja observado predominantemente em atividades voltadas à área científicotecnológica, isto não significa que a Informática deva ser objeto exclusivo de disciplinas para especialistas, mesmo porque, neste caso se correria o risco de condená-la à esterilidade.
3.4. Exigência de uma nova programação didática A descoberta das potencialidades do computador no campo escolar deve sempre ser considerada em relação à sua aplicação a um campo específico de atividade. À primeira vista, as vantagens e limitações originárias da utilização do computador em Educação estão vinculadas apenas à forma como o mesmo é utilizado. Verificar onde é possível utilizar o computador e como usá-lo, elaborar programas buscando soluções, criar jogos didáticos, divertir-se em atividades criativas, explorar a composição da máquina ou utilizar o computador para fins diversos certamente não são indicadores de falta de criatividade. A experiência didática nos ensina que o computador pode revelar-se instrumento precioso, se não insubstituível, somente onde for aplicado como solução de problemas concretos: somente o conhecimento
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dos problemas reais poderá consentir aplicações mais adequadas do computador no âmbito das atividades escolares. Somente a aplicação do computador ao exato problema consentirá a sua plena explicitação e o funcionamento das suas específicas potencialidades. E se o uso da máquina pode ser proposto de tantos modos, é somente do conhecimento do tipo de problema a ser enfrentado que depende a decisão de como utilizá-la corretamente. É fora de discussão o grande interesse que os instrumentos informáticos podem ter no aprofundamento de diversas disciplinas, quando se utiliza o computador na pesquisa envolvendo volumosos bancos de dados, em atividades de tipo word-processing, em elaborações de planilhas e gráficos ou na resolução de específicos problemas diretamente relacionados ao processo de ensino. Mesmo com muitos limites, aprender ou simplesmente trabalhar com computador pode ser uma experiência muito agradável, tanto para professores quanto para alunos, em virtude dos particulares serviços que tais instrumentos oferecem: tornar viável a execução de uma certa rotina humanamente impossível de ser realizada ou simplesmente tornar interessante um argumento e permitir o seu desenvolvimento em um intervalo de tempo bastante reduzido (algo dificilmente realizável através de meios tradicionais). O problema que se apresenta para a maioria dos professores, que durante o curso de formação não teve nenhuma experiência com computador e tampouco o utiliza nas atividades que desenvolve, é, portanto, entender como o computador pode ser útil na sua vida e saber orientar-se na escolha responsável de seu uso.
25
4 Entre a fantasia e a realidade Em torno da Informática criou-se uma interseção polêmica entre mito e realidade, ciência e especulação, desejos e temores que reflete não apenas o difícil equilíbrio entre o real e o imaginário ou formas de opiniões antagônicas, mas o dualismo sempre existente quando se analisa a introdução de novas tecnologias em Educação: de um lado, a renúncia, a desconfiança, o pessimismo, ou a atitude de servir-se do meio unicamente como instrumento acessório e subutilizado; de outro lado, a paixão, o entusiasmo, a esperança, a tendência de reinterpretar repentinamente os problemas estruturais da escola com base em correlações, onde a tecnologia assume o papel de variável independente.
4.1. Informática e Educação: uma visão dualística A relação Informática e Educação vem provocando uma série de discussões e debates que contrapõem grupos simpatizantes do ingresso de computadores em atividades educativas, de um lado, e grupos de opositores do outro. Um conflito de idéias que, se analisado em detalhes, evidenciaria provavelmente comportamentos, formas de representação e opiniões dispostos em um intervalo que vai de uma visão tragicamente negativa (ou apocalíptica) a uma visão radicalmente positiva (ou interativa) do meio informático. Mas, se a presença de grupos que tendem a negar ou a subutilizar instrumentos informáticos pode comportar alguns desperdícios de recursos, tendências contrárias de louvor e paixão não são menos perigos: não tomar nenhuma decisão sem antes ter consultado o computador pode ser tão nocivo quanto prosseguir com obstinação ao longo da tradição que sustenta o primado absoluto e incontestável do homem em qualquer tipo de atividade. As percepções e a postura de quem se confronta com o computador traduzem, muitas vezes, as esperanças e o medo íntimo dos professores ante um novo cenário tecnológico, assim como colocam em evidência a presença de fortes mitos que de certa forma podem comprometer
qualquer
tentativa
de
interpretação
séria
verdadeiras contribuições da Informática no processo educativo.
28
sobre
as
O conhecimento das posturas e das percepções reinantes no confronto com o computador é, portanto, um conhecimento estratégico na medida em que somente a partir de um estudo desta natureza, é possível, por exemplo, estabelecer programas educativos capazes de preencher lacunas cognitivas, resolver equívocos, desmistificar o meio, corrigir e endereçar a própria tecnologia.
4.2.
Cuidado com as ilusões
A existência de inúmeros pontos interrogativos quanto à presença de computadores nas escolas vem dando margem a especulações e a conclusões precipitadas que produzem apenas imaginário tecnológico, ao invés de conhecimento científico sobre a verdadeira contribuição da Informática à Educação. Enfrentar o problema com menos emotividade e mais realismo significa, acima de tudo, reconhecer que o verdadeiro papel da Informática não está nas respostas que instrumentos como o computador nos pode oferecer, mas na forma como configuramos uma situação de problem solving. Significa também aceitar o fato de que o computador, embora sendo um instrumento extremamente versátil e potente, mesmo que seja inserido maciçamente em todos os níveis de ensino, sua presença por si só não garante que os problemas cruciais do sistema escolar, automaticamente, desaparecerão. Os efeitos de uma ação didática, por exemplo, dependem de uma série de fatores e do equilíbrio de um sofisticado sistema, onde qualquer
29
novo elemento inserido, mesmo o computador, é considerado apenas como um elo. Sozinho, o computador não pode resolver todos os problemas antigos e complexos que norteiam o processo ensino-aprendizagem, mas pode ser um elemento importante na reestruturação da Educação escolar, para a qual é oportuno que sejam canalizados os resultados da pesquisa didática, as experiências de professores e os recursos oferecidos pelo computador.
4.3.
A tendência ao monopólio
O abandono de formas e instrumentos tradicionais ainda válidos para a ação didática é uma prática muito observável quando se analisa a introdução de novas tecnologias em Educação. No caso específico do computador, este fato assume dimensões mais alarmantes, se considerarmos que o notável fascínio e a potencialidade desse instrumento pode esconder os limites que o mesmo apresenta em relação ao processo educativo. A nova missão que é solicitada aos professores não é saber utilizar única e exclusivamente meios informáticos em suas atividades, mas reconhecer que a presença de computadores em Educação só é válida enquanto elemento instrumental à consecução dos verdadeiros objetivos educacionais que (neste caso) dependem da participação de estratégias integradas.
30
Falsas esperanças na inserção de equipamentos cada vez mais potentes e sofisticados em Educação faz-nos sentir quase no dever de exigir do computador resultados precisos, visíveis e imediatos. Mas, uma vez analisada a maior parte das experiências estrangeiras, não devemos criar grandes ilusões: em geral, os resultados, que a pedagogia "tradicional" não consegue obter, parecem não ser melhores através de tecnologias sofisticadas. A Informática, de modo geral, e o computador, em particular, só serão instrumentos válidos de inovação se quem os utiliza consegue inseri-los em um processo educativo no qual sejam claros os objetivos, a metodologia e as modalidades de avaliação utilizada. É necessário, portanto, melhorar a capacidade de agir dos professores e adequando-a à evolução dos métodos e processos que elaboram dados e informações, utilizando como recurso as possibilidades e os instrumentos oferecidos pela tecnologia informática. Somente através de uma reflexão sistemática sobre o real papel do computador na dinâmica do processo educativo e sobre as medidas a adotar para assegurar uma participação ativa neste processo é possível minimizar as enormes confusões criadas por incertezas que não fazem senão aumentar os riscos de insucessos e de frustrações, uma vez que a velocidade das mudanças em curso impõe uma notável clareza de idéias.
31
5 O domínio da tecnologia Nos últimos anos, os professores sentem cada vez mais forte a necessidade de se aproximarem da Informática, não apenas com o objetivo específico de assegurar uma refinada atualização profissional mas também na tentativa de "dominar" o computador enquanto instrumento propulsor de métodos e ações didáticas, fonte de novos e sofisticados conhecimentos, símbolo de maior status na Sociedade Pós-industrial.
5.1.
A preparação do docente
A preparação do docente é uma questão crucial, à qual deve ser dedicada atenção particular e sobre a qual é necessário investir muito, antes mesmo de investir na compra de equipamentos. Todavia, dizer que a formação informática dos professores é privilegiada não basta: é importante que se resguardem também aspectos ligados à dimensão pedagógica e não apenas os tecnológica daquilo que se poderia culminar com a redefinição de um novo perfil do professor. Formar antes de fornecer tecnologia e não formar somente sobre a tecnologia, mas sobre a gestão do processo ensino-aprendizagem, sobre as diversas modalidades de comunicação didática, sobre a organização das atividades do docente, sobre o papel do meio ainda é uma boa estratégia para uma plena inserção no mundo dos computadores.
5.2.
Adequar-se aos novos tempos
Como fenômeno de caráter revolucionário, a Informática incide sobre formas "tradicionais" de expressão e de organização do trabalho, porque representa um conjunto de inovações suficientes para mudar as modalidades de comunicação entre as pessoas, o modo de aprendizagem, as relações no interior de organizações e a interação com o ambiente externo.
34
Com base nessa premissa, o professor que, através de cursos de introdução à Informática, entra em contato pela primeira vez com o computador será tentado a introduzi-lo em suas atividades diárias, seja como instrumento de apoio didático, como fonte de novos conhecimentos, seja como "ferramenta" para realização de trabalhos de rotina (redação de material didático, correção de provas, elaboração estatística de dados, etc). Por outro lado, o professor que decide (ou é levado) a utilizar o computador dentro ou fora da sala de aula, certamente sentirá a necessidade de uma maior formação ou reciclagem na área de Informática, quer seja através de cursos promovidos pela instituição a qual pertence, quer seja por iniciativa própria. Trata-se de uma relação estreita entre reciclagem e inovação didática, onde a ausência do primeiro elemento provoca um aumento simplesmente quantitativo na produção docente, do mesmo modo que a ausência do segundo elemento termina por transformar cursos de aperfeiçoamento em instrumentos de legitimação e perpetuação de uma política de reciclagem profissional meramente burocrática, em função da qual são destinados grandes recursos no planejamento e na realização de cursos "relâmpagos", que na maioria das vezes não trazem resultados relevantes, mesmo porque não são previstas (ou não se desejava obter) mudanças na práxis didática e no modo de pensar a Educação.
35
5.3. O difícil caminho para uma alfabetização infortica A maior parte dos cursos de Introdução à Informática foi estruturados inicialmente no sentido de oferecer alguns conhecimentos básicos sobre a estrutura de um computador, sobre comandos e linguagem de programação, bem como uma breve exercitação em um determinado programa aplicativo nas categorias de maior difusão comercial (word-processor, data-base, planilha eletrônica, etc). Isto tudo, geralmente, desvinculado de uma realidade didaticamente significativa. Hoje, com a disponibilidade de instrumentos mais potentes e com os crescentes investimentos na produção de software, o interesse se orienta sobretudo em direção a outros aspectos do tratamento de dados. Evidentemente,
conhecimentos
básicos
da
máquina
e
o
adestramento em específicos comandos e linguagens de programação, dentro de um esquema de formação integrada, são necessários (e em alguns casos, são fundamentais para o êxito de qualquer programa de informatização do ensino), mas não suficientes para fazer com que o professor possa realmente usufruir todas as potencialidades deste instrumento em suas atividades. A preocupação exagerada com aspectos ligados, por exemplo, ao ensino de linguagens de programação rígidas começa a ser questionado na medida em que os novos usuários descobrem que a grande vantagem da Micro-informática é exatamente a disponibilidade de poder contar com programas didáticos e aplicativos já prontos.
36
Mas o aspecto crucial, que parece não vem sendo levado em consideração na elaboração de cursos de Introdução à Informática atualmente oferecidos aos professores é que utilizar tecnologias informáticas em Educação não significa unicamente adquirir novos conhecimentos ou habilidades, mas sobretudo modificar esquemas mentais e métodos de trabalho que em um adulto são fortemente consolidados. Assim sendo, talvez o recurso à reciclagem pudesse assumir um maior significado em termos de melhoria das atividades didáticopedagógicas se os cursos de Iniciação Informática fossem articulados de modo a elevar a postura dos professores diante do computador, adequando-se
às
expectativas
de
desenvolvimento
profissional,
promovendo inúmeras oportunidades para uma maior valorização e satisfação no trabalho. Em outras palavras, não basta introduzir o professor nos conceitos básicos de Informática, já que a verdadeira assimilação da tecnologia depende da continuidade de sua aplicação e requer reciclagem permanente.
5.4.
A reciclagem como fator de valorização
O acesso a centros de formação e reciclagem na área de Informática pode representar um fator importante na valorização profissional somente quando a reciclagem é entendida como um momento no qual o professor procura obter todos os elementos necessários para lhe
37
assegurar uma participação ativa no processo de informatização de suas atividades. Mas, se a reciclagem é realizada apenas para dar uma resposta às pressões externas que praticamente obrigam o professor a freqüentar cursos de Introdução à Informática (sob pena de ser considerado um profissional de segunda categoria), não levando em consideração os objetivos e conteúdos que tais cursos deveriam promover, pode se revelar um grande fracasso, dado que uma participação ativa no mundo informático significa adquirir competências e habilidades complementares, mas significa, acima de tudo, vencer barreiras psicológicas de resistências e preconceito em relação à inovação, representada, neste caso, pela inserção do computador no dia-a-dia de sala de aula. Além dos conhecimentos necessários a uma utilização operativa das diversas estratégias de emprego do computador em atividades didático-pedagógicas, os cursos de iniciação à Informática no âmbito escolar poderiam representar um válido momento para a utilização crítica do instrumento se promovessem mecanismos para que os professores desenvolvessem capacidades ligadas: a)
à análise dos próprios métodos de ensino a partir, também, das potencialidades oferecidas pela Informática e pelo uso do computador;
b)
à avaliação das vantagens e limites existentes quando se trata um argumento no computador;
c)
ao exame dos efeitos da nova postura e das novas tecnologias no ensino e na motivação dos estudantes;
38
d)
à utilização crítica de programas de manipulação de informação (data-base, word-processor, etc.) para facilitar suas atividades diárias e desenvolver, nos estudantes, habilidade específicas de pesquisa, de classificação e de comunicação de dados.
39
Conclusões Das reflexões apresentadas nos capítulos anteriores, podemos extrair algumas considerações conclusivas, que acreditamos seja oportuno destacar nesta fase do nosso trabalho. a) A presença maciça de instrumentos informáticos na sociedade civil representa uma realidade facilmente observável também no Brasil, onde a demanda do uso de computadores, em muitos casos, parece se justificar nas enormes promessas de mudanças que tais instrumentos propõem à sociedade brasileira. Todavia, não devemos esquecer que a Informática não é senão um recurso instrumental à nossa disposição e, como tal, para podermos usufruir plenamente de suas capacidades inovadoras devemos conhecer suas potencialidades, assim como seus limites, além de sermos conscientes das conseqüências de seus usos e eventuais abusos. b) Como base da introdução de computadores na escola existe, provavelmente, a ilusão de restituir uma eficiência a um sistema de ensino já bastante abalado nestes últimos anos. O acesso a instrumentos informáticos, que a cada dia se torna mais necessário (e menos oneroso), não é suficiente para resolver todos
os problemas da Educação, que para serem equacionados necessitam de diversas "contribuições", inclusive informáticas. c) O binômio Informática e Educação implica uma rara ocasião para se refletir, não somente sobre as metodologias didático-pedagógicas, mas também sobre o novo papel do professor diante das atuais exigências de programação impostas pela presença maciça de computadores em salas de aula. É necessário dar prioridade absoluta à formação docente, não tanto no sentido de fornecer aos professores um conhecimento mínimo sobre Informática, e mais precisamente sobre Computação. É necessário, também, e sobretudo, fornecer bases para o seu uso crítico, de modo a garantir que a inserção de instrumentos informáticos no processo educativo ocorra com plena consciência da sua viabilidade, validade e oportunidade no processo ensino-aprendizagem. d) É talvez supérfluo salientar que para obter um maior aproveitamento de instrumentos informáticos no âmbito educativo não é suficiente apenas prever a utilização dos recursos hardware e software e se manter atualizado com as últimas novidades do mercado. Na melhor das hipóteses, tal procedimento pode apenas garantir a aquisição de algumas habilidades técnicas e modelos conceituais novos. O verdadeiro enriquecimento das atividades didáticas se obtém através da utilização de recursos informáticos em uma lógica aceitável e em uma precisa direção correspondente à escala de valores, de fins e de objetivos os quais devem ser perseguidos pela Educação.
42
e) A Informática, na figura de seu maior expoente, o computador, não é absolutamente um elemento neutro em relação às formas de organização didática, uma vez que postula uma escolha precisa de conteúdos e métodos. A escolha crítica do momento e do modo como deve ser utilizado um instrumento potente como o computador pode propiciar grandes benefícios ao ensino, da mesma forma que o seu uso abusivo pode gerar verdadeiras distorções. É oportuno, portanto, não se sentir na obrigação de usar de qualquer maneira o computador, mas tomar consciência de que o verdadeiro domínio da tecnologia está no fato de reconhecer que uma boa quantidade de atividades pode também ser realizada sem que seja necessário, obrigatoriamente, recorrer a tal instrumento. f) Aquilo que parece mais urgente hoje, sem falar do futuro não muito distante, é formar uma cultura informática entre o corpo docente, e não somente convencê-lo a usar o computador em suas atividades, mesmo porque a formação ou reciclagem que os capacitará a utilizar uma máquina
de
modo
inteligente
significa
vencer
barreiras
não
obrigatoriamente de tipo intelectual. Urge, antes de tudo, desmistificar a Informática e principalmente o computador que não pode ser concebido como panacéia para todos os males da Educação. Ele é um instrumento e, como tal, ajuda a encontrar um modo de ensinar, não o modo de ensinar.
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QUESTIONÁRIO Modelo de questionário a ser aplicado para se coletar informações que possam subsidiar projetos de informatização do ensino.
I PARTE: Experiência na área de Informática 1. Você já participou de algum curso de Introdução à Informática?
Sim, para...
Não, por....
utilizar o computador a nível pessoal utilizar o computador em atividades didáticas utilizar o computador em atividades de pesquisa adquirir mais infirmações sobre computador/Informática outros motivos (especifique)....................................... falta de informação sobre que curso freqüentar escassa disponibilidade de tempo desinteresse sobre computador/Informática motivos econômicos outras razões (especifique)........................................
2. Com que freqüência utiliza computadores em suas atividades didáticas?
Sempre, na... Às vezes, na... Raramente, na...
Nunca, por...
produção e utilização de programas didáticos confecção e/ou correção de provas e testes criação de bancos de dados elaboração e análise de dados estatísticos simulação de fatos e fenômenos resolução de problemas realização de trabalhos administrativos (especifique outras atividades se necessário) ................. falta de experiência no uso de computadores dificuldade de acesso a instrumentos informáticos falta de tempo e dinheiro inadequação à natureza das atividades que desenvolve (especifique outros motivos se necessário)......................
3. Com que freqüência utiliza computadores fora de seu ambiente didático?
Sempre, na... Às vezes, na... Raramente, na... Nunca
gestão de atividades ligadas ao contexto familiar realização de atividades ligadas a cursos de aperfeiçoamento realização de outras atividades profissionais que exerce participação em jogos e passatempos realização de outras atividades (especifique)....................
4. Considera útil o uso de computadores em suas atividades didáticas?
Sim, porque...
Não, porque...
reduz tempo de trabalho cria maior motivação exige maior desempenho profissional aumenta o tempo disponível para o planejamento didático cria maior interação entre docentes reduz sensivelmente os custos operativos (especifique outros motivos se necessário)...................... exige maior tempo na preparação das unidades didáticas cria maior dispersão acarreta altos investimentos com manutenção não altera os resultados finais reduz o papel do professor gera individualismos trata-se de mais um novo "modismo" (especifique outros motivos se necessário).......................
5. Entre seus colegas, o tema Informática e Educação é alvo de discussão?
Sempre, sobre... Às vezes, sobre... Raramente,sobre...
a modernização do ensino a escassez de recursos a necessidade de reciclagem dos professores a reforma dos currículos o computador em substituição ao professor a nova forma de motivação através do computador outros temas (especifique)........................... 52
6. Você acredita que a Informática vai entrar "sistematicamente" no seu trabalho?
Sim, em todas as disciplinas Sim, só nas disciplinas técnico-científicas Sim, sobretudo por iniciativa pessoal de alguns professores Não, porque a escola não dispõe de tantos recursos Não, porque é contrária à "filosofia " da escola Sem opinião formada 7. Se a sua escola iniciasse um processo de informatização das atividades didáticas, qual seria a probabilidade de obstáculos:
nos
aspectos econômicos (falta de recursos para compra de equipamentos)
Muita... nos aspectos organizacionais (falta de laboratório, professores Pouca... especializados) Nenhuma... nos aspectos didático (falta de programas adequados) Sem opinião... nos aspectos metodológicos (como usá-la nas várias atividades da escola)
nos aspectos psicológicos (resistência às mudanças) nos aspectos institucionais (pouca experiência da escola) outros (especifique)....................................... 8. Tem interesse em participar de cursos de introdução à Informática?
Sim, mas só a nível de conhecimento geral Sim, sobretudo a nível de aplicações didático-pedagógicas Não 9. Tem interesse em utilizar computadores nas atividades que desenvolve diariamente?
Sim, mas com o apoio de especialistas na área Sim, com a participação de outros colegas professores Sim, mesmo trabalhando sozinho Não 53
10. Dispondo de um computador como instrumento auxiliar no processo de ensino, com que freqüência você o utilizaria em suas atividades didáticas?
Freqüentemente, como Algumas vezes, como Poucas vezes, como Nunca
fonte de informações/exemplos durante as aulas instrumento de avaliação dos resultados elemento de apoio e de reforço individual ou de grupo instrumento para elaboração de provas e testes banco de dados sobre a classe sistemas de apresentação (especifique outras formas se necessário)................
11. Em um software para uso didático, que característica você considera mais importante?
facilidade de uso integração de texto, gráfica, som e cor flexibilidade apresentação unidades didáticas autônomas adaptação às características psicológica e cognitiva do usuário possibilitar maior interatividade avaliação constante dos resultados outras (especifique).................................... II PARTE: Experiência específica no uso de computadores: 1. Com que freqüência você utiliza os seguintes programas:
Freqüentemente Poucas vezes
Processadores de textos Banco de dados Planilhas eletrônicas "Pacotes" estatísticos Programas de gráfica Programas didáticos Linguagens de programação Jogos outros (especifique)............................. 54
2. Os trabalhos nos quais você utiliza computador como instrumento de apoio são realizados:
em grupo de professores da área em grupo de profissionais de várias áreas sozinho, sem a presença de outros docentes 3. O tipo de preparação que obteve para utilizar o computador, nas atividades que desenvolve, é fruto de:
participação em curso específico de Computação/Informática experiências adquiridas durante o curso de pós-graduação iniciativa pessoal através de leituras de livros e revistas contatos com especialistas da área participação em grupos interdisciplinares outros (especifique)............................................... 4. Os programas didáticos que você utiliza com mais freqüência são:
preparados inteiramente por especialistas adaptações pessoais a partir de programas preparados por especialistas programas construídos em colaboração com outros colegas docentes programas inteiramente de sua autoria 5. Como avalia sua experiência com o uso do computador nas atividades didáticas que desenvolve ou desenvolveu?
forte média fraca 6. Evidencie os principais aspectos que considera positivos em sua experiência: ........................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................
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7. Evidencie os principais aspectos que considera negativos em sua experiência: ........................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................
III PARTE: Dados pessoais sobre o respondente (os itens abaixo são necessários para uma leitura articulada dos dados presentes no questionário) 1. Sexo e idade
Masculino Feminino
abaixo dos 29 anos 30 - 34 anos 35 - 39 anos 40 - 44 anos 45 - 49 anos 50 - 54 anos 55 - 60 anos acima dos 60 anos
2. Curso Superior: ...................................................................................................... 3. Formação a nível de pós-graduação:
Especialização (área de estudos).............................................................................. Mestrado (área de estudos) ..................................................................................... Doutorado (área de estudos) .................................................................................... 4. Local onde realizou curso de pós-graduação: ........................................................... 5. Que atividade absorve maior parte do seu tempo na escola?
ensino pesquisa administração outras (especifique) ................................................................................................... 6. Tempo de trabalho como docente: ...........................................................................
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7. Ă rea em que atua:...................................................................................... 8. Disciplinas que leciona: .............................................................................................
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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO FACULDADE DE EDUCAÇÃO Campus Universitário I - Bairro São José Caixa Postal 611/631 CEP 99001-970 - Passo Fundo (RS) BRASIL Fone (0xx54) 316-8290 Fax (0xx54) 316-8125 E-mail faed@upf.tche.