Como falar de jesus

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APRESENTAÇÃO

O desafio de escrever um material intitulado “Como falar de Jesus” é muito grande, principalmente pelo fato de que, talvez, gere a expectativa de um manual com dicas e macetes para a evangelização. Mas, esse não é o propósito desse material. Mas, também, não deixa de ser. O material está dividido em duas grandes seções, na primeira tentamos montar uma base teológica para assegurar a transmissão de uma mensagem segura e equilibrada, fortemente alicerçada nas Sagradas Escrituras. Na segunda seção, tentamos trazer a prática evangelística, especialmente no último capítulo do material. A tentativa é de produzir um material que ofereça caminhos para a prática evangelística, mas, também, uma reflexão teológica, realmente equilibrada e capacitadora. Acreditamos que cada cristão é comissionado para propagar o Reino de Deus, mas sabemos que cada um tem um chamado específico e uma forma própria de cumprir as ordens do Senhor. Esse material, portanto, tem o intuito de fazer você compreender as bases desse comissionamento e de lhe ajudar/desafiar a descobrir o seu próprio jeito de evangelizar.

COMO UTILIZAR O MATERIAL Recomendamos a leitura completa de todos os capítulos na sequência apresentada, fazendo, também, em casa, o exercício proposto. Apenas os cinco primeiros capítulos apresentam exercícios para casa, os capítulos 6 e 7, pela sua própria natureza, não requerem exercícios escritos, pois apresentam um viés mais prático. O Capítulo 7 é uma exceção, ele pode ser estudado a qualquer momento. Mesmo assim, aconselhamos que não seja exposto antes dos três primeiros capítulos, pois eles dão uma base teológica mais forte, facilitando a aplicação do Plano de Salvação (tema do Capítulo 7). Seria interessante que a turma, em consenso com o professor, marcasse, nas primeiras aulas, o dia de estudo do Capítulo 7 e, também, uma data para sair e colocar em prática as técnicas apresentadas no material.

NOSSA ORAÇÃO Nossa oração é que você seja extremamente abençoado na prática do exercício missionário, compreendendo a teologia, mas, sobretudo, enchendo-se de amor pelas almas perdidas e tornando-se um pescador de homens. Que Deus lhe use imensamente e que você tenha cada dia mais alegria de ser usado por Deus no processo de resgate da humanidade. Que o Senhor te abençoe e te guarde que Ele te use e faça experimentar a alegria do cumprimento de sua obra.

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SUMÁRIO

LIÇÃO 1: QUEM PRECISA DE JESUS?..............................................................................3 LIÇÃO 2: SALVOS DE QUE? ..................................................................................................................9

LIÇÃO 3: A DOUTRINA DA SALVAÇÃO ........................................................................15

LIÇÃO 4: SEGUINDO O EXEMPLO DO MESTRE .......................................................................21

LIÇÃO 5: RECEBENDO E ENTENDENDO A MISSÃO ..........................................................28

LIÇÃO 6: O SEU JEITO DE EVANGELIZAR ..................................................................33

LIÇÃO 7: O PLANO DE SALVAÇÃO E A COMUNICAÇÃO DO EVANGELHO..........41

LIÇÃO 8: APÊNDICE .........................................................................................................49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................

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LIÇÃO 1: QUEM PRECISA DE JESUS?

“Estão chegando os dias, declara o Senhor, o Soberano, em que enviarei fome a toda esta terra; não fome de comida nem sede de água, mas fome e sede de ouvir as palavras do Senhor”. (Am 8:11)

Quando pretendemos nos preparar com amor e boa consciência para a evangelização, devemos, antes de tudo, estar aptos para responder questões de ordem prática e teológica que podem surgir no processo. E, nesse momento, estamos iniciando uma reflexão sobre uma pergunta muito importante, uma pergunta que deve estar nos nossos corações. O problema é que a resposta à questão “quem precisa de Jesus?” parece óbvia demais, para todos nós, que estamos interessados na evangelização das pessoas. Portanto, não pretendo fazer muitos rodeios, quero ser objetivo com aquilo que já sabemos. Afinal, a resposta é simples e clara: todos precisam de Jesus. Isso é um fato! Mas, se a pergunta tem resposta tão óbvia, porque, então fazê-la? Primeiramente, por que ela só parece óbvia, mas, na realidade, é muito profunda. Em segundo lugar, por que nos parece claro que a grande maioria das pessoas não é capaz de entender a objetividade dessa resposta. Cada vez mais, as pessoas parecem entender o evangelho como algo a mais, como uma moda, como um consolo, como uma saída, mas não o estão entendendo como uma necessidade. Por isso fazem questão de ignorar a pessoa de Cristo e os seus valores. Às vezes chego a pensar que nem os cristãos têm compreendido muito bem essa questão. Isso acontece, na maioria dos casos, por que as veiculações do evangelho através das pregações de massa – seja nas igrejas, na televisão, seja em alguns livros, ou onde for – têm corrompido a mensagem do evangelho gerando falsas expectativas, isto é, fazendo promessas que o cristianismo nunca fez. Creio, então, que para iniciar esse curso, precisamos de uma resposta satisfatória sobre essa questão e, também, que se faz necessário compreender a pregação contemporânea e as falsas expectativas às quais as pessoas estão constantemente expostas. Porque isso? Por que devemos ter o compromisso com a verdadeira pregação do evangelho, com a pregação autêntica da Palavra de Deus, devemos ser responsáveis com a mensagem da Cruz. O fato é que, durante muitos anos, fomos treinados para combater o catolicismo e suas posturas dogmáticas; mas, há muito, o Brasil não é um país católico. Um dos nossos principais desafios é levar a mensagem bíblica àquelas pessoas que estão decepcionadas e frustradas com aquilo que ouviram das igrejas neopentecostais através da mídia.

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As mensagens que vão desde a “unção do emagrecimento”1 até a ação de “revolta”2, nada têm a ver com o evangelho, e geram toda sorte de problemas. Pessoas que ficam frustradas por que não enriqueceram pessoas que ridicularizam o evangelho por causa das “mungangas” que são feitas usando o nome de Cristo e muitos outros que prefiro não listar aqui. Esse tipo de mensagem faz com que as pessoas não compreendam a necessidade que elas têm de Cristo. “Ora, posso emagrecer sozinho, não preciso de nenhum tipo de intervenção divina para isso” – pensam alguns. E o pior é que estão certos, Cristo, embora possa todas as coisas, normalmente não interfere nesse tipo de petição narcisista. Some-se a isso o legalismo desmedido, mulheres que não podem usar calça, não podem cortar o cabelo, nem se depilar ou usar maquiagem de tipo algum; homens que precisam usar paletós, não podem jogar futebol, não podem ir à praia ou aproveitar as belezas da natureza que o Senhor criou. Ainda há os que se recusam a falar sobre o pecado, que se negam a entender o homem como um ser que corrompeu a imagem e semelhança que recebeu do Senhor. Falam de um evangelho “soft”, só de graça, sem transformação de vida, sem culpa, sem arrependimento. Ou pior ainda de um evangelho “light” que é aquele que se nega a enxergar as consequências das ações humanas. Esses pregadores sonegam informações importantes, omitem a realidade do evangelho e confundem o significado do amor de Deus. Desta forma, conquistam as plateias, enchem as igrejas, preenchem muitas fichas de conversão (ou adesão, não sei), mas, lá no fundo eles têm consciência de que esses números são irreais. O problema é que vivemos numa geração viciada em números, ansiosa por quantidade. Desta maneira qualquer coisa vale para alcançar as pessoas. Bem! Concordo que temos que alcançar o maior número de pessoas, mas se a mensagem não for correta, então, não estaremos alcançando ninguém. Para não cairmos em enganos semelhantes, iniciamos esse curso, analisando a pregação contemporânea. 1. A PROBLEMÁTICA DA PREGAÇÃO CONTEMPORÂNEA É preciso começar esclarecendo o que quero dizer com “a problemática da pregação contemporânea”. Esse tema tem o intuito de ressaltar a grande fragmentação da pregação na nossa era. Veja bem, o conteúdo de uma pregação estará invariavelmente ligado aos objetivos dela, quando alguém prepara um sermão, esse alguém deve ter em mente o objetivo de comunicar algo ao seu público. A problemática da pregação contemporânea está justamente aí, nos objetivos. Na última metade do século passado, foram fundadas milhares de denominações evangélicas e o movimento neopentecostal cresceu vertiginosamente. A ideia de que o pastor deve pregar aquilo que as pessoas querem ouvir também se fortaleceu muito. Além de tudo isso, surgiu, nos Estados Unidos, o chamado “Movimento de Crescimento de Igreja”, esse movimento desvinculou as igrejas locais de suas convenções e, assim, cada um passou a ter os seus próprios objetivos, daí as pregações estarem se distanciando tanto do propósito maior: ganhar almas para Cristo. Quando o foco 1 Parece brincadeira, mas, realmente, algumas igrejas realizaram, aqui mesmo em João Pessoa, cultos para os gordinhos perderem peso, com a suposta “unção do emagrecimento”. Um guru do evangelho se propunha a orar e as pessoas iriam emagrecer. 2 Movimento iniciado pela Igreja Universal do Reino de Deus. As pessoas se declaram revoltadas com o que Deus lhes tem dado e manifestam seu descontentamento dizendo: “Senhor, não viemos aqui para te adorar, viemos aqui para nos revoltar. Não aceitamos o pouco que temos recebido, queremos mais”.

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da pregação sai da bíblia e passa a ser o crescimento do rebanho, o pregador assume, muitas vezes, o compromisso de falar aquilo que o seu público alvo quer ouvir, assim, a mensagem do evangelho verdadeiro passa a ser substituída. Estamos vivenciando uma espécie de mosaico cristão, onde cada pastor, cada denominação, cada corrente, prega um evangelho segundo a sua própria imagem e semelhança. A problemática da pregação contemporânea é, portanto, a falta de comprometimento com as Escrituras e a falta de uma hermenêutica que nos permita buscar e vivenciar a vontade de Deus. Diante dessas circunstâncias, penso que, antes de responder a pergunta sobre quem precisa de Jesus, precisaremos investigar outra questão: “porque precisamos de Jesus?”. Vendo o que se prega, vendo a correria das multidões em busca de certos pregadores e de certos tipos de pregação, fico me perguntando: Será que as pessoas têm consciência daquilo que realmente Cristo se propõe a fazer por nós? Quando vejo as pregações que oferecem milagres, consolo, prosperidade, vida sem sofrimento, etc., fico a perguntar: e a salvação? Será que a salvação perdeu espaço na nova hermenêutica? É fato que precisamos suprir as nossas necessidades nos seus mais diversos âmbitos. Precisamos de saúde, segurança, afeto, reconhecimento e de auto realização, veremos isso ao falar sobre a missão integral da igreja. Porém, mais que tudo isso, precisamos de salvação. A resposta que diz que “todos precisam de Jesus” só faz sentido quando se sabe por que precisamos d’Ele. E, para isso, necessitamos de uma interpretação franca, clara e respeitosa das promessas que efetivamente o Senhor nos faz. Pois, parece-nos que a pregação contemporânea, principalmente as televisivas, salvo as suas raríssimas exceções, têm gerado expectativas que Jesus jamais se propôs a suprir. Se as pessoas não entenderem o verdadeiro sentido da mensagem da Cruz, elas jamais vão entender que Cristo tem algo que só Ele pode dar. Usando o exemplo do tópico anterior: Quem pode lhe ajudar a emagrecer? Resposta: qualquer academia! Porque eu preciso de alguém com uma unção do emagrecimento? Resposta: Eu não preciso disso, posso emagrecer sozinho! Daí a “ridicularização” que o evangelho sofre nos dias de hoje. Como alguém pode entender que precisa de Jesus ouvindo esse tipo de pregação? “Ah! Mas as pessoas ensinam essas coisas cheias de boas intenções” – dizem alguns adeptos da pregação a todo custo. Precisamos, então, entender duas coisas importantes acerca da pregação do evangelho: 1) O que vale na pregação do evangelho é o conteúdo e não a intenção Quando Paulo fala sobre a intenção que está no coração daqueles seus perseguidores que desejavam apenas feri-lo, ele fala: “Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro” (Fl 1:18). Nesse texto, Paulo não fala sobre o conteúdo da pregação, é possível que aquelas pessoas a quem ele se refere, no versículo dezessete, quisessem apenas competir com ele, mas parece que estavam pregando um evangelho coerente; de outra maneira Paulo não diria “por isso me alegro”. Mas, sobre a doutrina, Paulo é implacável, e diz: “... ainda que nós ou um 5


anjo vindo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gl 1:8 e 9). Paulo tinha tanta segurança da revelação do evangelho que recebera do Senhor que disse que nem um anjo vindo dos céus, nem ele mesmo, poderia pregar algo diferente daquilo já havia sido apresentado aos gálatas. Ele sabia que nenhum anjo vindo dos céus jamais faria isso. Mas, o importante é o tom de condenação que ele impõe a qualquer um que fugir da doutrina estabelecida pelo Senhor Jesus. Essas duas passagens nos mostram que a intenção do coração do pregador não é mais importante do que a mensagem pregada. Portanto, é a Palavra que deve ser respeitada e valorizada, não importando as motivações humanas. O que quero dizer é que não existe intenção que justifique a corrupção da mensagem do evangelho. 2) A Palavra é dirigida às pessoas Além do compromisso com o conteúdo da pregação, precisamos entender que a evangelização exige compromisso com as pessoas e com o futuro espiritual delas. O Senhor Jesus ensina: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo que lhes ordenei” (Mt 28:19-20). Aprendemos, nesse texto, que a evangelização, no seu sentido mais amplo, não se limita a apresentar os conteúdos bíblicos, mas estende-se ao aprofundamento dos relacionamentos e ao compromisso do acompanhamento e ensino (veremos isso com detalhes nos próximos capítulos). Mas, algumas pessoas justificam certo descaso com os compromissos da evangelização, afirmando: “A palavra de Deus não volta vazia”. É verdade, essa frase é bíblica e, portanto, correta, porém, está sendo interpretada e aplicada de maneira equivocada e descontextualizada. O Senhor, nessa passagem, estava falando sobre os seus próprios decretos e não sobre a pregação do evangelho. (Você pode fazer um exercício de interpretação: leia o capítulo 55 do livro de Isaías e tente compreender o assunto ao qual o Senhor se refere quando afirma que sua palavra não voltará vazia. Tente entender o que significa, como se aplica, a expressão “palavra” nesse contexto e veja o que significa dizer que ela “não voltará vazia”). Precisamos atentar para o fato de que se esse texto for interpretado com a perspectiva da evangelização, teremos uma séria contradição com a Parábola do Semeador, contada pelo próprio Cristo em Mt 13:1-23, Mc 4:1-20 e Lc 8:1-15. Ora, precisamos entender que a semente precisa de cuidados para que possa germinar, então, não é suficiente jogar a palavra, é preciso investir na vida da pessoa que a recebe. Assim, a mensagem, aqui chamada de semente, precisa ser boa e precisa ser colocada em terreno fértil. A pergunta seria: podemos fertilizar o solo para semear a Palavra? A resposta é sim. Podemos preparar o terreno com testemunho, amor, paciência, compaixão e outras formas que vamos estudar aqui. O problema é que muitos pregadores do evangelho estão assumindo uma postura equivocada em relação à soberania de Deus e distorcendo a mensagem, ou seja, defraudando a semente, e assim, ela é lançada em terreno fértil, mas não germina, pois 6


não é a semente original. ANOTAÇÕES: _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

2. A MENSAGEM CORROMPIDA O fato é que a mensagem da salvação está sendo substituída pela mensagem da ilusão. Veja alguns exemplos: Mensagem da Ilusão

Mensagem Bíblica “Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham bom

“Pare de sofrer”

ânimo! Eu venci o mundo”. (Jo 16:33b)

“Não continue a beber somente água; tome também um pouco “Crente não adoece”

de vinho, por causa do seu estômago e das suas frequentes enfermidades”. (I Tm 5:23) “Então Jesus respondeu: ‘As raposas têm suas tocas e as aves

“Crente tem que ser rico”

do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. (Mt 8:20) “Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não

“Deus não castiga a ninguém”

despreze a disciplina do Todo-poderoso” (Jó 5:17)

A grande questão é que essas promessas não são condizentes com aquilo que a bíblia diz. A mensagem do prazer e da pura ilusão impede as pessoas de perceber que existe uma necessidade real a ser alcançada: a salvação da alma. Paulo recomenda a Timóteo que ore por todos os homens, pelas autoridades e pelos reis “para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica com toda a piedade e dignidade” (I Tm 2:2). Sim, isso é importante, mas Paulo continua informando que “Isso [aquelas orações] é bom e agradável 7


perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2:3-4). A vontade do Senhor para a vida de todos é a salvação, essa é a mensagem do evangelho a mensagem pura e verdadeira. CONCLUINDO A resposta à pergunta “Quem precisa de Jesus?” é simples, todos precisam de Jesus. Mas, a nossa pregação tem que ensinar isso às pessoas, elas têm saber que realmente precisam de Jesus, precisam entender que têm necessidade de salvação e que só Jesus Cristo pode dar isso a elas. As pregações contemporâneas, aquelas da mídia, estão confundindo as pessoas, elas não entendem as suas reais necessidades. Essas pregações retiram os olhos dos seus ouvintes daquilo que é eterno e direcionam para toda efemeridade e ilusão do presente tempo. Somos convocados a mudar esse quadro, somos convocados a trazer de volta a verdadeira mensagem do evangelho de Jesus Cristo, somos convocados a apresentá-lo como Salvador.

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ATIVIDADES PARA CASA 1) Liste algumas falsas expectativas que são geradas por pregações equivocadas do evangelho. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

2) Como essas expectativas que você listou acima podem afetar o relacionamento de uma pessoa com Cristo? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 3) O que você entende quando afirmamos que, na pregação do evangelho, o conteúdo é mais importante do que a intensão? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 4) Baseado em Mt 28:19-20, que tipo de compromisso precisamos assumir ao evangelizar uma pessoa? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

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LIÇÃO 2: SALVOS DE QUE? “Pois eles mesmos relatam de que maneira vocês nos receberam, e como se voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que há de vir”. (I Ts 1:9, 10) No capítulo anterior discutimos sobre o fato de que todos precisam de Jesus. Essa é uma questão sobre a qual nós já tínhamos pleno conhecimento, mas precisávamos ampliar e aprofundar as nossas reflexões. Então, ao nos debruçar com mais dedicação sobre essa questão, fizemos um exercício mental que nos permitiu enxergar mais claramente as razões pelas quais necessitamos do nosso Senhor Deus e Jesus Cristo. Entretanto, no final das contas, voltamos para a óbvia conclusão de que a verdadeira necessidade de todas as pessoas é a SALVAÇÃO DA ALMA. Vimos, então, que, embora a mensagem seja evidente, a pregação dos dias de hoje, em muitos casos, está atrapalhando essa compreensão, pois seus ministrantes não têm passado uma mensagem de salvação da alma, mas sim, de satisfação do ego. A dúvida que queremos levantar agora é: será que isso é intencional, ou as pessoas, inclusive os pregadores, não estão entendendo o que verdadeiramente significa ser salvo? É fato que existem interesses particulares por trás de muitas pregações. Mas, acho interessante saber que algumas pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostraram que a grande maioria da população evangélica daquele país não consegue definir satisfatoriamente o que seja salvação. Aqui no Brasil ainda não existem pesquisas formais sobre esse assunto, mas a grande confusão que se faz em torno do significado da obra salvadora de Cristo é muito clara. Infelizmente, é cada vez mais comum que certos pregadores façam analogias entre a ressurreição de Cristo e a “ressurreição” do dinheiro, da saúde, da família, do namoro, etc. Claro que cremos que Jesus pode resolver todas essas coisas, porém esse não era o objetivo do Senhor naquela cruz, esse não era o objetivo de Deus ao enviar o seu filho amado para submeter-se a tanta humilhação. Ele queria simplesmente nos salvar, essa era a vontade do Pai. Mas, salvar de quê? Vamos tentar entender. 1. O QUE SIGNIFICA SALVAÇÃO? A bíblia utiliza o termo salvação muitas vezes, mas nem sempre com o mesmo sentido. Muitas vezes esse termo se apresenta como um verbo, nas mais diversas conjugações e, em outras tantas, apresenta-se como um substantivo. No evangelho segundo Mateus (14:30), por exemplo, Pedro, tomado pela sua falta de fé, afogando-se depois de andar sobre as águas, diz: “Senhor, salva-me!”. Tenho por certo que ele não falava em salvação da sua alma, uma vez que o que ele realmente temia naquele momento era afogar-se. Nesse sentido o verbo salvar é utilizado para pedir livramento de um mal iminente. Assim, como no evangelho 10


segundo Marcos (5:34), quando Jesus diz àquela mulher que Ele havia acabado de curar da hemorragia que lhe afligira por doze anos: “Vai, a tua fé te salvou!”, o verbo salvar também é empregado no sentido de oferecer livramento de um mal físico. A questão é: foi pra isso que Jesus morreu? Para nos livrar das doenças e dos acidentes? A resposta não é tão simples, mas também não é tão complexa. E mais, a resposta que se segue pode ser desapontadora para alguns. A verdade é Jesus não morreu para nos curar, embora Ele possa fazer isso. Para entender melhor essa questão, é preciso dar uma olhada para o Antigo Testamento, mas sempre entendendo que Jesus Cristo veio cumprir a Lei (Mt 5:17). Então, na Lei do Antigo Testamento, que é perfeita, embora estivesse sob a responsabilidade de pessoas imperfeitas, a cura nunca esteve associada ao sacrifício, mas a remissão dos pecados sim. Os sacrifícios, na antiga aliança, existiam para purificar as pessoas dos seus pecados, eram expiatórios, ou seja, o sangue dos animais era derramado em favor da alma daquele que oferecia o sacrifício. Jesus Cristo foi o sacrifício perfeito que serviu como “propiciação [expiação] pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (I Jo 2:2), dispensando, assim, novos holocaustos. O importante é perceber que esse sacrifício tinha uma finalidade bem específica, perfeitamente compreendida na seguinte expressão de Jesus Cristo: “para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Outra confusão pode ser feita a partir da utilização do verbo salvar em I Tm 2:15. Naquele versículo, Paulo afirma que “a mulher será salva dando à luz filhos”. Mais uma vez somos desafiados a compreender o significado desse termo, pois algum desavisado pode entender, a partir desse verso, que a salvação pode ser conquistada sem a necessária presença de Cristo, mas apenas pela maternidade. Pior ainda, poderia propor que a maternidade fora do casamento já seria suficiente para salvar a mulher. Ora, analisando o contexto, podemos observar que Paulo reportava-se ao fato de Eva ter provocado o pecado de Adão, trazendo não apenas condenação para toda a humanidade, mas também, colocando a mulher em situação diferenciada. O Apóstolo fala, nesse trecho, justamente sobre essa nova situação, na qual a mulher perde alguns privilégios, mas é restaurada através da maternidade, “se ela permanecer na fé, no amor e na santidade, com bom senso”. Novamente, o assunto em pauta não é a salvação da alma, mas, neste caso específico, a maternidade como instrumento de dignificação do gênero feminino que estaria perdido se não fosse coroado com a maternidade.3 Mas, afinal de que salvação nós estamos falando? Falamos daquela salvação que Deus nos deu quando “nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Cl 1:13,14). Salvação, portanto, significa ser retirado das “trevas para a maravilhosa luz” (I Pe 2:9). Para entender melhor, atentemos para o fato de que a palavra luz na bíblia está sempre ligada com os seguintes significados:

1. Santidade, ser santificado (At 20:32; 26:18,23); 3

Necessário entender-se que o Apóstolo fala sobre a função da mulher como um todo e não especificamente para cada mulher. Ou seja, a maternidade restaura o gênero e não o indivíduo, se não fosse assim, as mulheres solteiras e as estéreis não seriam também beneficiadas com essa salvação. Estariam, portanto, em uma outra classe de mulheres: as que aguardam a salvação. Isso seria absurdo.

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2. Revelação divina, verdade e discernimento desta revelação, conhecimento (Sl 36:9; II Co 4:4, 6); 3. Amor (I Jo 2:9, 10) 4. Glória (Is 60:1-3) 5. Paz, prosperidade, liberdade, alegria (Sl 97:11; Is 9:1-7). Note-se que há, no discurso neotestamentário, uma antagonia entre as palavras luz e trevas para explicar a ideia de salvação. Nas palavras de William Handriksen, podemos chegar a uma conclusão clara da ligação entre luz e salvação: Já que o próprio Deus é em seu próprio ser santidade, onisciência, amor, glória, etc., e já que para o seu povo ele é a Fonte de todas as graças e bênçãos acima mencionadas (1)-(5), ele próprio é luz. “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (I Jo 1:5). Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12). Como tal Deus é, em Cristo, a salvação do seu povo. Luz e salvação são, portanto, sinônimos (Sl 127:1; Is 49:6). Assim também são luz e graça ou favor divino (Sl 44:3).4 Ao entender que a salvação é uma ação puramente divina que nos resgata das trevas para a luz, e que a luz é o próprio Deus. É mistér que conheçamos o significado daquilo que a Bíblia chama de trevas. Analisando as mesmas passagens acima citadas, aquelas numeradas de (1) a (5), podemos perceber que a palavra trevas, sendo o oposto completo de luz, simboliza o pecado em suas diversas formas de escravizar as pessoas: desobediência, rebeldia, cegueira, falsidade, ódio, ira, discórdia, mentira, ignorância, obscuridade e muito mais. Assim, podemos, finalmente, compreender que a salvação é a libertação de uma natureza inteiramente voltada ao pecado (Cl 3:5) chamada “trevas”; trazendo-nos para a participação plena na natureza divina (II Pe 1:4) chamada “luz”, que, por sua vez, nos garante forças para ficar distantes da primeira (I Jo 3:9). Como vemos, a palavra “salvação” é uma daquelas expressões que possui vários significados ao longo da Bíblia, principalmente no Novo Testamento, requerendo uma compreensão contextual adequada para que seja entendida e aplicada corretamente. Mas, para efeitos do nosso estudo, apenas um sentido dessa palavra nos interessa, aquele que nos remete à mudança de vida, considerando a nossa saída das trevas para a luz. Essa referência à salvação – como saída das trevas para a luz – remete a uma profunda mudança interior operada pelo Espírito Santo na alma de cada pessoa salva. A expressão luz remete-nos, por sua vez, à ideia de verdade. Dessa maneira, ser salvo implica em conhecer a verdade, ou seja, em ser iluminado para ver o mundo sob a ótica de Deus e manter-se na perspectiva da vida eterna. Como veremos mais adiante, podemos baseados nos ensinos bíblicos, afirmar que estamos salvos pela fé (Ef 2:8-9). Isso não é presunção, nem tem qualquer base no merecimento. Somos salvos pela graça de Deus. Mas, esse assunto será adequadamente tratado no Capítulo 3 deste material. O que nos importa agora é: nós somos salvos de quê? Já comentamos que ser salvo é estar na luz, o oposto disso é estar nas trevas. Mas, o que, no contexto do estudo da salvação e da evangelização, significa estar em trevas? É essa a questão que antecede àquela que fizemos logo acima. 4

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Colossenses e Filemon. 1a ed. CEP. São Paulo: 1993.

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2. O QUE QUER DIZER A EXPRESSÃO “ESTAR EM TREVAS”? A salvação, como já vimos, é o ato divino que nos resgata das trevas para a maravilhosa luz, que é próprio Deus. Entendemos também que “trevas” é um termo bíblico utilizado para representar o pecado, ou seja, tudo aquilo que nos afasta de Deus. Mas, é só isso? Não. A palavra “trevas” representa a própria condenação, pois é apresentada como um estado de completo afastamento de Deus. “Este é o julgamento [condenação]: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3:19). A luz a que João se refere neste texto é o próprio Jesus (veja Mt 4:16 e Jo 1:5) e o amor as trevas é o amor àquilo que o homens praticavam [praticam] no seu cotidiano, ou seja, ao pecado. As trevas são apresentadas como sendo o próprio poder de Satanás (At 26:18) que milita contra o poder de Deus, que é a perfeita luz (I Jo 1:5). Estar em trevas significa estar envolvido com o poder de Satanás, estar cego para o amor do Senhor Jesus e completamente afastado da presença de Deus, portanto, entregue aos sentimentos perversos que tomam conta da alma daqueles que negligenciam os caminhos divinos. Mas, pior do que tudo isso, estar em trevas é, sobretudo, estar no alvo da ira de Deus (Rm 1:18). E é justamente dessa situação tenebrosa que envolve o domínio poderoso de Satanás cegando o entendimento das pessoas e a ira divina sendo revelada contra toda impiedade que o homem precisa ser salvo.

3. COMPREENDENDO O SENTIDO DA SALVAÇÃO Agora que já relembramos o significado dos termos bíblicos “salvação” e “trevas”, faz-se necessário retomar o tema principal do corrente capítulo, isto é, precisamos nos voltar agora para a questão formulada no título desta seção do nosso estudo: ser salvo é ser resgatado de que afinal? A resposta a essa questão está dividida em três pontos. Ser salvo é ser resgatado: 1) Da miserável condição de amante do pecado Ao ser salvos, nós, infelizmente, não deixamos de ser pecadores, mas deixamos de ser amantes do pecado. Por isso Jesus afirma: “Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna” (Jo 12:25). Da mesma forma, João nos recomenda: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (I Jo 2:15). Mas, o importante é perceber que o desapego à vida mundana e o amor à vida eterna são consequências da ação divina sobre nossas almas e não uma atitude nossa. Jamais seríamos capazes de atender a essas recomendações se não fôssemos tocados pelo próprio Cristo. Quando o Senhor resgata alguém das trevas, realiza uma obra completa imputando a fé no coração, pois Ele é o autor e consumador da nossa fé (Hb 12:2); dando ao homem a capacidade de amar (I Jo 4:19) e capacitando-o, através do seu Espírito, a distanciar-se da prática, e, consequentemente, do amor ao pecado (I Jo 3:9). 13


2) Do julgamento e da condenação eterna A salvação encontra seu sentido perfeito nas seguintes palavras de Jesus: “Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5:24). E, também, na reconfortante mensagem de Paulo, que na verdade é uma ratificação dessas palavras de Jesus, “portanto, agora já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Quem crê não passará pelo julgamento, não sofrerá condenação, pois já tem o seu lugar assegurado na glória divina. Mas, aos que não foram salvos um quadro terrível e assolador aguarda para uma eternidade de sofrimentos, na qual haverá choro e ranger de dentes (Mt 13:42, 50; 22:13; 24:51; 25:30; Lc 13:28), um terrível lago de fogo no qual os adoradores da besta serão jogados vivos (Ap 19:20), onde experimentarão a segunda, e horrenda, morte (Ap 20:14).

3) Da ira de Deus

Os salvos estão livres da ira de Deus. Da ira de Deus? É exatamente isso! A bíblia nos ensina que a ira de Deus se lançará contra toda “impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça” (Rm 1:18). Esse será o terrível dia do Senhor, descrito da seguinte maneira: O grande dia do Senhor está próximo; está próximo e logo vem. Ouçam! O dia do Senhor será amargo; até os guerreiros gritarão. Aquele dia será um dia de ira, dia de aflição e angústia, dia de sofrimento e ruína, dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e negridão, dia de toques de trombeta e gritos de guerra contra as cidades fortificadas e contra as torres elevadas. Trarei aflição aos homens; andarão como se fossem cegos, porque pecaram contra o Senhor. O sangue deles será derramado como poeira, e suas entranhas como lixo. Nem a sua prata nem o seu ouro poderão livrá-los no dia da ira do Senhor. No fogo do seu zelo o mundo inteiro será consumido, pois ele dará fim repentino a todos os que vivem na terra. (Sf 1:14-18)

O quadro é aterrorizante, mas extremamente real. É isso que efetivamente sucederá a todos aqueles que não se converterem ao poder do Senhor Jesus. Por isso há uma necessidade tão grande de salvação. O Senhor diz: “Teria eu algum prazer na morte do ímpio? Palavra do Soberano, o Senhor. Ao contrário, acaso não me agrada vê-lo desviar-se dos seus caminhos e viver?” (Ez 18:23). O Senhor, definitivamente, não se alegra em ver alguém perecendo e sendo condenado, mas esse é um fato do qual os ímpios jamais poderão se esquivar, a não ser por meio da conversão. Pois o dia do Senhor será essa terrível catástrofe para os que não crerem, mas será o maravilhoso dia do Senhor para todos os salvos. CONCLUINDO 14


Para falar de Jesus, levando a verdadeira mensagem do evangelho, precisamos ter a consciência do terror do qual Ele, em sua magnífica obra redentora, nos livrou. Assim, teremos uma noção do significado do seu grande amor por nós. E, entendendo que não temos mérito na nossa salvação, mas que somos agraciados com a infinita misericórdia do Pai poderemos, enfim, levar uma mensagem da salvação. Lembrando que nós não convertemos ninguém, mas somos usados por Deus para a perfeita propagação do seu grande amor. É para isso que precisamos compreender de que fomos salvos, e entender o que significa, na prática, a salvação da nossa alma, para conhecer a obra do amor de Cristo em nossas vidas e da alegria que o Senhor tem ao nos ver restaurados pela sua mensagem. Precisamos lembrar, também, que a salvação da alma é o maior milagre que Cristo realiza em nós. A salvação da alma é o milagre por excelência. Não devemos confundir o significado da morte sacrificial do Senhor Jesus, Ele não morreu para termos opulência, nem para termos prosperidade, nem para termos saúde, nem para termos felicidade nessa terra, nem para nos dar conquistas materiais. Ele morreu para que tenhamos a vida eterna. Simples assim!

ATIVIDADES PARA CASA 15


1) A partir da leitura desse capítulo, pudemos entender que a expressão “salvação” pode ser utilizada de várias maneiras diferentes. Temos, agora, duas tarefas para você: a) Indique quais são os possíveis usos da expressão “salvação” apresentada nessa apostila [se quiser pode pesquisar em outras fontes]; b) Destaque o principal uso dessa expressão e explique por que esse é o principal uso. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 2) Explique a relação que o Novo Testamento faz entre “luz” e “salvação”. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 3) Afinal, somos salvos de quê? Essa foi a pergunta que tentamos responder nesse capítulo. Você consegue responder com suas próprias palavras? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 4) Explique qual é a importância de responder essa pergunta na preparação do evangelista. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

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LIÇÃO 3: A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

No primeiro capítulo nós tentamos visualizar o problema da pregação contemporânea e entendemos que um dos nossos grandes desafios ao pregar o evangelho é desconstruir, sem nos colocar como donos da verdade, as “Não há salvação em nenhum outro,

imagens equivocadas que alguns montaram acerca da

pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos”.

salvação e do próprio Jesus. Depois disso estudamos um

(At 4:12)

compreender as diversas variantes que ela apresenta. O

pouco sobre o significado prático e verdadeiro da salvação. Agora, vamos estudar a doutrina da salvação e tentar

propósito é compreender os fundamentos teológicos da pregação do evangelho. 1. A SALVAÇÃO É UM PROJETO INICIADO NO CORAÇÃO DE DEUS Deus preparou o Paraíso de maneira muito especial para que o homem ali vivesse. Mas, uma catástrofe espiritual aconteceu: o homem pecou e teve que sair do lugar que Deus lhe havia amorosamente concedido. Esse fato, entretanto, não agradou ao coração do Senhor que imediatamente começou a elaborar um projeto de salvação (Gn 3:15), um projeto tão cheio de amor e cuidado que incluía a morte do seu próprio Filho como propiciação pelos pecados do mundo inteiro (I Jo 2:2). Deus se dispôs a pagar um alto preço pelos nossos pecados (I Co 6:20) para que assim pudéssemos retornar para a sua presença. Por isso, Ele afirma que não se agrada na morte do ímpio (Ez 33:11), pois sabe que estes jamais estarão perto d’Ele, afinal Deus abomina o pecado (Rm 1:18), mas nunca deixou de amar o pecador. O fato simples e verdadeiro é que Deus nos quer de volta ao Paraíso e por isso tomou a iniciativa de nos salvar. Sabendo o Senhor que nós não seríamos capazes de encontrar o caminho do Paraíso, Ele decidiu iniciar esse maravilhoso projeto de salvação. De maneira surpreendentemente amorosa, o Caminho veio até nós em forma de homem e apresentou-se como única forma de chegar à casa do Pai (Jo 14:6). A nossa incapacidade de fazer algo por nós mesmos era clara aos olhos do Senhor, por isso Ele tomou a decisão de nos libertar dos nossos pecados, elegendo-nos de maneira soberana, para que em nós o Seu poderoso nome fosse glorificado. 2. O PROBLEMA CALVINISTA

Dois grandes grupos discutem a doutrina da salvação, são os Calvinistas e os Arminianos. Os primeiros creem que a salvação é obra exclusiva de Deus que escolhe aqueles a quem vai salvar desde a 17


fundação do universo. Já os Arminianos defendem que a salvação depende do livre-arbítrio, ou seja, da capacidade que o homem tem de escolher o seu Salvador. Não pretendemos, aqui, resolver esse problema teológico, nem pretendemos que esse seja o foco da nossa discussão. Apenas queremos dizer que as duas doutrinas carecem da ação da Igreja na evangelização dos povos. Isso é o que realmente nos importa. A doutrina Arminiana se auto explica no que concerne à evangelização, pois defende uma participação humana muito forte na salvação das pessoas. O problema é mostrar que o Calvinismo também deve ter foco no evangelismo e que apesar de sua doutrina da predestinação, o evangelismo é indispensável. “Poucas doutrinas suscitam tanta polêmica ou provocam tanta consternação como a doutrina da predestinação. Trata-se de uma doutrina difícil, que precisa ser discutida com grande cuidado e preocupação. Apesar disso, trata-se de uma doutrina bíblica, com a qual temos de lidar. Não devemos ousar ignorá-la”5. Então, sem fazer julgamentos, nem tentar resolver um problema que se discuto há séculos, vamos tentar entender um pouco da doutrina da predestinação e verificar como a evangelização aparece nessa doutrina. Um breve conceito A eleição incondicional, ou predestinação, é o ato divino de escolher, segundo os critérios da perfeita e soberana justiça, os pecadores que Ele vai salvar em todos os tempos. Veja que Paulo ensina que: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou”. Fica claro nesse texto que não era apenas uma questão de saber quem ia ser salvo, pois o Apóstolo fala de uma ação ativa da parte de Deus: “predestinar”. O processo da predestinação Somos constantemente tentados a considerar injusta a atitude de Deus e a dizer que se Ele predestinou as pessoas, então não precisamos evangelizar. Isso não é verdade. A Igreja tem uma participação fundamental no processo de efetivação da salvação dos eleitos, vejamos: “vocês são salvos pela graça” (Ef 2:8a) O texto é claro ao dizer que é pela graça e não pela nossa escolha que somos salvos. A graça é uma ação divina totalmente desvinculada de qualquer mérito humano. Assim, a nossa salvação vem da iniciativa plena e individual de Deus. “por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Ef 2:8b). 5

SPROUL, R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. Doutrinas básicas em linguagem simples e prática. 20 caderno. Ed. Cultura Cristã. São Paulo: 2006. p. 55.

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A fé é o meio que o Senhor escolheu para nos salvar. Se alguém acha que teve alguma participação em sua própria salvação por que teve fé, Paulo deixa bem claro: “isto não vem de vocês, é dom de Deus” e o autor da carta aos Hebreus ensina-nos que Jesus Cristo é o “autor e consumador” da nossa fé (Hb 12:2). “a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo” (Rm 10:17) Eis aí a participação da Igreja na efetivação da salvação. A fé é um dom de Deus, mas é entregue ao indivíduo por meio da pregação do evangelho (mensagem). “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? Como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão se não houver quem pregue?” (Rm 10:14). Então podemos entender o seguinte: a predestinação nos dá a segurança de que ninguém vai deixar de ir para o céu por causa da nossa incompetência como evangelistas. Ou seja, não é a nossa pregação que vai salvar ou deixar de salvar, mas é o Espírito Santo que, conhecendo os eleitos, fará toda a obra. Paulo nos ensina: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem faz crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega é alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento” (I Co 3:6, 7). Assim, não existem méritos em quem se converteu, nem, tampouco, em quem pregou o evangelho, mas apenas em Deus que operou a salvação. Estamos diante da maravilhosa obra de Deus. Ele se responsabiliza pelos salvos e também pelos perdidos. Ele diz: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão” (Rm 9:15 e Êx 33:19). Isso, aos olhos humanos, pode parecer injusto, mas o Rei Salomão, inspirado pelo próprio Deus, ensina: “O Senhor faz tudo com um propósito; até os ímpios para o dia do castigo” (Pv 16:4) e Paulo ratifica, questionando: “Quem é você ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: Por que me fizeste assim? O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?” (Rm 9:20,21). Assim, considerando a doutrina Calvinista, a nossa responsabilidade com a pregação é apresentar a boa nova do Senhor e deixar que o Espírito Santo faça a obra que lhe cabe. Temos, então, uma grandiosa responsabilidade, mas, também, a perfeita segurança de que a soberania do Senhor é quem determina tudo o que vai acontecer em relação à salvação das pessoas. Portanto, o fato de se crer na predestinação não significa que não se deva pregar o evangelho a toda criatura. Muito pelo contrário, deve-se entender que a Igreja tem uma participação fundamental na salvação da humanidade eleita por Deus.

3. A DOUTRINA DO ESTADO INTERMEDIÁRIO 19


O que acontece imediatamente depois da morte? Essa é uma pergunta bem frequente. Algumas vezes a bíblia refere-se à morte dos santos como adormecimento. Por exemplo, quando Jesus chega até o leito da filha de Jairo e todos já estão chorando a morte da menina, então Ele diz: “Ela não está morta, mas dorme” (Lc 8:52). E assim, por causa dessa figura de linguagem, algumas pessoas têm concluído que o Novo Testamento ensina a doutrina do sono da alma. “O sono da alma é geralmente descrito como um tipo de animação suspensa temporária da alma, entre o momento da morte pessoal e o tempo quando nosso corpo será ressuscitado”.6 Mas, essa doutrina não é aceita pelo cristianismo ortodoxo. Que sustenta que ao morrer a alma do crente é imediatamente glorificada e aperfeiçoada em santidade, entrando, assim, na Glória de Deus. Os corpos, no entanto, aguardam o dia da ressurreição. Veja que Jesus prometeu ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23: 43). Algumas pessoas insistem em tentar desmanchar esse argumento, falando que Jesus não subiu ao céu naquele dia, pois permaneceu morto por três dias, e não podendo, assim, estar naquele mesmo dia no céu acompanhado do ladrão. Esse contra-argumento faria de Jesus um mentiroso, pois a Bíblia é clara, Ele afirmou “hoje”. Não cabendo também a explicação de que um dia para Deus é como mil anos (II Pe 3: 8), pois esse argumento mostraria Jesus como alguém impreciso e com uma comunicabilidade equivocada, fazendo dele um deus de confusão, pois estaria cometendo o erro que Ele mesmo reprova: o de não ser claro naquilo que se comunica a Igreja (I Co 14:33). Entende-se, por tanto, que apenas o corpo de Jesus ficou morto durante aqueles dias, mas o seu Espírito havia subido à casa do Pai como Ele mesmo havia predito (Jo 14:1-3). Entenda-se, então, o seguinte: Depois da morte a alma do cristão vai imediatamente para a presença de Deus A morte deve ser vista apenas como uma separação temporária entre a alma, que vai imediatamente para a presença de Deus, e o corpo, que espera a ressurreição na volta de Cristo (I Co 15: 35-50). Paulo afirma que prefere estar “ausente do corpo e habitar com o Senhor” (II Co 5: 8). Ele também afirma: “Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu permaneça no corpo” (Fl 1: 23,24). Veja-se que a expressão “partir e estar com Cristo” faz oposição a “estar no corpo”. Assim, podemos compreender que ao partir dessa vida, ou seja, ao morrer, estaremos imediatamente com Cristo, porém, sem o corpo que nos será restituído na glorificação. A bíblia não ensina a doutrina do purgatório O estado intermediário não pode, de maneira alguma, ser confundido com a doutrina do purgatório. “Na doutrina católica romana, o purgatório é o lugar onde a alma do cristão é purificada do pecado até que esteja pronta para ser aceita no céu”.7 Ora, esse tipo de doutrina nega a validade e a eficácia do sacrifício 6 7

SPROUL, 91. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1a ed. São Paulo: Edições Vida Nova. 2000. p. 686.

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expiatório de Cristo que morreu pelos nossos pecados (Is 53: 4; I Jo 2: 2). Acreditar no purgatório seria dizer que o sacrifício de Cristo não foi suficiente para perdoar todos os nossos pecados e que seria necessário sofrer um pouco mais para merecer o céu. A Igreja Católica toma como base para essa doutrina os livros apócrifos, principalmente II Macabeus 12: 42-45. O problema é que isso gera uma contradição como cânon aceito da Bíblia. A bíblia não ensina a doutrina do “sono da alma” Entendendo que ao morrer o cristão vai diretamente para junto de Deus, podemos deduzir que a doutrina do sono da alma é um equívoco teológico. “Quando as Escrituras falam da morte como “dormir” trata-se apenas de uma metáfora usada para indicar que a morte é apenas temporária para os cristãos, como é temporário o sono”.8 Os versículos utilizados no tópico “a” mostram claramente que nesse estado intermediário haverá um convívio maravilhoso com o Senhor, portanto não se estará dormindo. Veja em Hb 12: 22-24 que descreve a grande alegria da chegada à Jerusalém celestial onde encontraremos a alegria dos anjos e a igreja dos primogênitos. Certamente essa alegria exige consciência plena. A alma dos descrentes vai imediatamente para o castigo eterno A bíblia não faz nenhuma menção à possibilidade de uma segunda chance. Pelo contrário, ao conhecer as sagradas escrituras aprendemos que todo arrependimento deve acontecer nessa vida, em caso contrário não terá mais validade. Veja-se o exemplo da parábola sobre Lázaro e o rico: “Então, chamou-o: Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo”. Depois de falar rapidamente sobre a vida que cada um teve, Abraão respondeu: “E, além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem”. Confirmando isso, o juízo final é sempre apresentado como uma análise do período que vivemos aqui e jamais leva em consideração qualquer fato pós-morte (Mt 25: 31-46; Rm 2: 5-10; cf. II Co 5: 10). Importante saber que “o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hb 9: 27). CONCLUINDO Nesta lição, aprendemos que a crença na doutrina da predestinação jamais pode funcionar como subterfúgio para não se evangelizar, que, ao contrário disso, a Igreja, ou seja, nós temos uma participação decisiva no plano de Deus para a nossa salvação. Aprendemos, também, que existe um estado intermediário entre a nossa morte e a ressurreição do corpo, que esse estado é muito melhor do que o que vivemos hoje, mas ainda não é tão maravilhoso quanto o estado no qual nos encontraremos quando formos glorificados. Ficou entendido que após a morte segue-se o juízo e que os cristãos irão diretamente para junto de Deus e 8

Ibidem. p. 688.

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terão uma vida, sem corpo, mas inteiramente consciente na alegria celestial, enquanto os descrentes esperarão pelo juízo final em um estado de forte sofrimento, mas que ainda não se compara ao que acontecerá na segunda morte (Ap 21: 8). Sobre o purgatório, vimos que essa doutrina elimina o significado e o valor do sacrifício de Cristo e que, por essa razão, não pode ser aceita. Além disso, trata-se de uma doutrina baseada em um livro apócrifo, ou seja, em um livro de autoria duvidosa.

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ATIVIDADES DE CASA 1) A que nos referimos quando dizemos que a salvação é uma iniciativa exclusiva de Deus? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

2) Como a evangelização deve ser entendida, considerando o ponto de vista da doutrina Calvinista? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

3) O que significa a doutrina do estado intermediário? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 4) Por que não podemos aceitar a doutrina do “sono da alma”? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

5) E a ideia de purgatório, por que não podemos aceitá-la do ponto de vista bíblico? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

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LIÇÃO 4: SEGUINDO O EXEMPLO DO MESTRE “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. Vão! Eu os estou enviando como cordeiros entre lobos”. (Lc 10: 2 e 3) Até o presente momento, estávamos nos preparando nos limites da intelectualidade, buscando entendimento contextualizado sobre os modernos problemas que envolvem a pregação do evangelho. Nos capítulos anteriores, procuramos obter maior compreensão teológica sobre as questões mais relevantes da doutrina da salvação, nos apegamos àquilo que Jesus disse. Agora, precisamos assumir um novo desafio, buscar, nas letras das Sagradas Escrituras, o pleno entendimento das práxis do evangelho, ou seja, vamos nos apegar àquilo que Jesus fez. Vamos buscar, na observação da Palavra de Deus, as questões eminentemente práticas da comunicação do evangelho. Para isso, não há nenhum exemplo mais perfeito que o do próprio Cristo, que nos ensina na doçura das suas atitudes a transmitir a mensagem da salvação. Vamos procurar, então, fazer uma reflexão que nos leve a aprender mais com o modo de viver do nosso Senhor. Vamos analisar especificamente o trecho das Escrituras que está em Jo 4: 1-42. Ali, naquela narrativa, encontramos Jesus em plena ação evangelística e ensinando através das suas atitudes, vejamos o que Ele nos ensina nesse episódio: 1. JESUS NOS ENSINA A COMPREENDER A URGÊNCIA DA PREGAÇÃO E A APROVEITAR AS OPORTUNIDADES (VS. 6 E 7)

Sejamos sinceros agora, vamos assumir algumas falhas. Muitas vezes deixamos de comunicar o evangelho a algumas pessoas por pura negligência. Parecemos, em alguns momentos, não ter a noção real da urgência da pregação e, por esse motivo, deixamos passar oportunidades maravilhosas. No texto em estudo, podemos observar que Jesus não perdia tempo, não ficava procurando razões para não falar do Reino de Deus, Ele tinha plena consciência de que aquela mulher precisava ouvir a boa nova da salvação e precisava urgentemente. Podemos, inclusive, inferir que Jesus tinha esse senso de urgência por que Ele tinha, e tem pleno conhecimento do que significa uma pessoa morrer sem salvação. Quando falamos no senso de urgência, estamos nos referindo, também, ao fato de que o ser humano é efêmero e pode morrer a qualquer momento. Como veremos adiante, Jesus não quis correr o risco de deixar ninguém sem conhecer a mensagem do evangelho, pois Ele sabe o que significa não ser salvo (como estudado no Capítulo 2). Jesus, naquele momento, estava cansado (v.6), sozinho e com fome (v.8), além disso, Ele tinha um plano de viagem a ser cumprido (v.3). Porém, a despeito de tudo isso, Ele não se furtou de iniciar uma conversa do tipo “quebra gelo” com aquela mulher e, também, não se poupou de permanecer mais dois dias 24


naquela comunidade (v.40), atrasando a sua viagem. Ele sabia que havia algo mais importante do que seu cansaço, fome ou plano de viagem. Ele tinha plena consciência de que a salvação daquela mulher era a prioridade número um daquele dia. Os seus sensos de urgência e de oportunidade ficam bastante claros quando os seus discípulos o convidam insistentemente a comer e Ele responde: “a minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra” (v. 34). Essa ação de Jesus Cristo nos faz perceber de maneira prática três coisas que nós já estudamos na teoria: 1) se temos conhecimento bíblico acerca do terror que espera por todos os que não são salvos, devemos, então, assumir a responsabilidade de ser instrumentos de Deus para o resgate necessário; 2) sabemos, pela própria realidade da vida, que a morte não manda avisos de visita, portanto é urgente que se pregue o evangelho, antes que seja tarde demais; 3) se sabemos da importância da pregação e da efemeridade da vida, temos que entender que a pregação da mensagem é a nossa prioridade número um. 2. JESUS NOS ENSINA A RESPEITO DA MAIOR NECESSIDADE (VS. 13 E 14) “Quem beber dessa água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede” (vs. 13 e 14a). Essas palavras proferidas por Jesus na beira de um poço onde as pessoas pegavam água para beber, cozer seus alimentos, tomar banho e manter sua higiene ganham um significado profundo e até certo ponto constrangedor. Jesus, sem desprezar a importância das necessidades materiais que a água viria a suprir na vida daquela mulher, apresenta uma perspectiva totalmente nova da verdadeira necessidade humana: a salvação eterna. Muitas vezes, quando estamos evangelizando, esquecemo-nos de dar um sentido real à necessidade de salvação da alma e precisamos ter cuidado para não anunciar às pessoas um evangelho confuso e materialista. O conceito de eternidade deve estar presente na pregação do evangelho, pois é na eternidade, e somente na eternidade, que o homem será pleno. Assim, Jesus, como dito acima, sem desprezar os benefícios da água material, vem oferecer uma água muito mais excelente. Eis o fundamento da pregação do evangelho segundo Jesus Cristo: a excelência daquilo que está preparado por Deus para todos os salvos. Muitas pessoas dizem que não querem ser crentes agora, pois têm coisas importantes a fazer, ou, simplesmente, por que querem aproveitar mais a vida. A mensagem pregada segundo o exemplo de Cristo mostra que o evangelho supre uma necessidade muito mais profunda do que qualquer bem material. É para a eternidade em Cristo que o crente é chamado (Jo 14: 3 e 23). Então, precisamos entender que essa é a nossa principal necessidade, a salvação em Cristo por meio da fé, que nos garantirá a liberdade plena, fora de qualquer possibilidade de condenação (Rm 8:1). 3. JESUS NOS ENSINA QUE VALE A PENA CORRER RISCOS

Outro fato marcante desse texto é que Jesus estava falando com uma mulher samaritana. Mas, o que há de surpreendente nisso? Vários aspectos da cultura e da política daquela época tornavam aquela conversa 25


um verdadeiro escândalo: 1) Judeus e samaritanos não se davam (v. 9b), havia um grande problema políticoreligioso entre esses dois grupos e era inadmissível que houvesse qualquer tipo de amizade entre eles; 2) Não era comum que um homem conversasse com uma mulher em um lugar público (v.27), naquela época as conversas entre homens e mulheres eram restritas e deveriam acontecer em lugares apropriados como, por exemplo, na casa dos pais dela; 3) Aquela mulher tinha um testemunho de vida bastante fora dos padrões religiosos (v. 18), ela poderia ser facilmente considerada uma mulher adúltera pelo fato de já ter tido cinco maridos e estar no sexto. Jesus sabendo de tudo isso, assumiu o risco de conversar sozinho com aquela mulher em lugar público (v. 6-8). Esse fato hoje seria semelhante a um pastor conhecido de uma cidade qualquer evangelizando, sozinho, uma prostituta em praça pública. Seria um verdadeiro escândalo. E aí? A Bíblia não condena aqueles por meio de quem o escândalo se dá? É verdade, Jesus disse aos seus discípulos: “É inevitável que aconteçam coisas que levem o povo a tropeçar, mas ai da pessoa por meio de quem elas acontecem” (Lc 17:1). Mas o escândalo a que Jesus se refere é aquele que faz os novos na fé (que Paulo chama de fracos na fé em Rm 15:1, 2) tropeçarem (Lc 17:2), Ele não aceita a postura legalista da “igreja” que, de certa maneira, impõe um padrão de pessoas que devem ser alcançadas pelo evangelho. Jesus correu o risco de ser mal compreendido, de ser rejeitado, de ser criticado, mas Ele fez aquilo que deveria fazer, pregou o evangelho a alguém que realmente precisava. Em outra ocasião ele foi duramente criticado pelos fariseus por sentar-se junto aos publicanos e pecadores, mas, com sua infinita sabedoria, Ele respondeu: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9: 12). Não vamos confundir os ensinamentos, Jesus não estava “assentado na roda dos zombadores” (Sl 1: 1b), Ele não estava em concordância com o pecado, Ele estava influenciando a vida dos pecadores, Ele estava sendo um “agente de transformação” na vida daquelas pessoas. É importante perceber que além dos riscos de sofrer calúnias e diversos tipos de injustiça, outros riscos estão presentes na evangelização, o apóstolo Paulo afirmou: “Estive continuamente viajando de uma parte para outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos” (II Co 11: 26). Não podemos nos desestimular diante das situações de riscos, aqueles que amam a Cristo precisam estar dispostos a tudo para glorificar o nome do Senhor, pois sabemos que um triunfo incomparável nos aguarda, pois “considero que nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8: 18). Paulo era um imitador de Cristo e nos convida para fazer o mesmo (I Co 11: 1), o exemplo magnífico do Senhor e a certeza das coisas que estão por vir são o motivo maior para que continuemos firmes no propósito de resgatar um mundo que clama em desespero (Rm 8: 22) pela salvação que encontramos na doce esperança do nome de Cristo. “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil” (I Co 15: 58).

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ANOTAÇÕES _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________

4. JESUS NOS ENSINA A SER AGENTES DE MULTIPLICAÇÃO DO SEU EVANGELHO A água que Cristo dá faz algo muito mais importante do que matar a sede, ela capacita àquele que dela bebe a ser uma fonte de água viva. Assim, todos os que conhecem ao Senhor Jesus e bebem de sua Palavra devem tornar-se agentes multiplicadores da mensagem mais poderosa de toda a Terra. Aprendemos nessa passagem que nós não fomos chamados apenas para aproveitar o prazer de beber da água de Cristo, mas fomos convidados para servir dessa água para outras pessoas. Esclarecendo: Cristo nos ensina que quando nos convertemos, recebemos, dentre outras coisas, a capacidade de falar da maravilha que Ele operou em nossas vidas para todo o mundo. Depois de ressurreto, Ele mesmo disse aos seus discípulos: “receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1: 8). Ele, também, nos mostra que não precisamos temer quanto ao que haveremos de dizer quando formos confrontados em seu Nome, pois Ele porá as palavras certas em nossos lábios (Mt 10: 19; Mc 13: 11 e Lc 12:11). Veja-se que aquela mulher que estava à beira do poço, buscando água, embora fosse uma pessoa provavelmente mal vista pela sociedade em virtude da forma como vivia, ao crer na palavra de Cristo tratou logo de convidar as pessoas a ouvirem a Palavra. De um jeito simples, aquela mulher atraiu outras pessoas para a salvação, a Palavra diz que “muitos samaritanos daquela cidade creram nele por causa do seguinte testemunho dado pela mulher: Ele disse tudo o que tenho feito” (v. 39). Ora, o gozo da experiência com Cristo, tornou-se para aquela mulher um instrumento para a pregação das maravilhas de Deus. O que ela fez foi simples, assumiu que a partir daquele momento ela tornara-se “uma fonte de água viva a jorrar para a vida eterna” (v. 14b). É maravilhoso perceber que isso também se aplica a cada um de nós, que todos nós recebemos de Deus o “poder” de sermos testemunhas vivas de Cristo, por isso Paulo afirma tão contundentemente: “Não ofereçam os membros do corpo de vocês ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes se ofereçam a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros do corpo de vocês a ele, como instrumentos de justiça” (Rm 6: 13). O apóstolo nos ensina a serem evangelistas até com o nosso próprio corpo, ou seja, ele nos instiga a ser exemplo vivo das maravilhas que o Senhor tem feito em nós. Podemos perceber, quando o Senhor diz que seremos fonte de água viva para a eternidade, que recebemos uma missão de multiplicar a doçura do milagre que em nós foi realizado.

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5. JESUS NOS ENSINA A CONFIAR EM MILAGRES (V. 39-42) Quantas vezes ouvimos falar de que “fulano é um caso sem jeito”? Existem pessoas que, realmente, parecem que jamais vão se permitir tocar pelo Espírito Santo de Deus, mas o importante é saber que a Graça de Deus é irresistível. Jesus afirmou: “todo aquele que meu Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei” (Jo 6:37), precisamos levar em consideração a soberania de Deus, precisamos entender que o Espírito Santo é quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16: 8). Jesus tinha uma percepção muito clara do milagre da salvação, Ele sabia o que estava para acontecer na vida daquela mulher e sabia que esse milagre se daria pelo poder da pregação do evangelho (Rm 1: 16). É essa confiança no milagre que vem dos céus, através da grandeza da Palavra de Deus, que precisamos carregar em nossos corações todas as vezes que formos falar de Jesus Cristo para alguém. Não existem pessoas sem jeito, pois para Deus não existem coisas impossíveis (Lc 18:27) e precisamos acreditar que Ele está sempre disposto a fazer o impossível por nós. Somos filhos de uma geração que desacreditou no sobrenatural, somos filhos de um mundo que se tornou mais racional do que pode suportar, agora estamos vendo nascer uma segunda geração, uma geração que se agarra nas saias do misticismo. Que enorme desafio, enfrentar os ateus racionalistas de um lado e os místicos naturalistas do outro! Como poderemos fazer isso? Como poderemos enfrentar esse desafio? A resposta é simples: confiando em milagres. O evangelismo sem a confiança de que milagres vão acontecer está fadado ao fracasso. O primeiro milagre de Jesus foi, justamente, a transformação da água em vinho (Jo 2: 1-11), por trás desse milagre existe um significado muito forte. A transformação é o principal ato que Cristo realiza no milagre da salvação, transformar a água em vinho foi uma simbologia daquilo que Ele viria a fazer na vida das pessoas. 1) Cristo modifica a natureza das pessoas, a transformação da água em vinho exige uma reformulação química, uma renovação da estrutura, uma modificação da natureza antiga para uma nova natureza capaz de oferecer algo a mais. Assim, Cristo pega como matéria prima a nossa natureza caída (Cl 3: 5) e nos faz participantes da sua natureza divina (II Pe 1: 4), tornando a nossa natureza nova e pura; 2) Cristo dá um novo significado a vida, o bom vinho, naquela época, era sinônimo de vida boa e de felicidade, trazia um sentido de excelência e era sempre utilizado para fazer analogia às coisas boas da vida. Assim, Jesus transforma a vida sem gosto em uma vida saborosa e atraente, cheia de significado e de plenitude. A transformação, portanto, é uma ação divina sobre a vida daquele que ainda não conhece o “dom de Deus” (Jo 4: 10), ela é o milagre operado pela divina soberania. É esse senso de milagre que Jesus apresenta diante daquela mulher samaritana e diante de toda a comunidade que mais tarde vem ouvir a sua palavra, é desse senso de milagre que Ele deseja que esteja impregnado o nosso coração como exemplo firme da confiança que devemos ter no Pai amado, aquele que nos enviou para essa obra. Jesus nos ensina que não apenas devemos fazer a boa obra de Deus, mas devemos também concluí-la (v. 34), pois milagres continuam acontecendo. CONCLUINDO 28


Cristo é o modelo perfeito para a nossa ação cotidiana, incluindo a nossa missão evangelística. No Seu encontro com a mulher samaritana, vemos que Jesus tinha como alvo a salvação das almas. Essa é a grande lição do texto: estabelecer nossas prioridades com base naquilo que realmente importa: a vida eterna. Jesus nos pergunta: “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8: 36). Essa pergunta é muito profunda e nos faz refletir sobre o modo como vivemos e estabelecemos nossas prioridades de vida. As palavras de Cristo, nesse trecho das escrituras, somos convidados a pensar sobre a tendência que temos de colocar as coisas espirituais em segundo plano. Isso nos faz pensar sobre a nossa responsabilidade de propagar o Reino de Deus. O evangelismo é a nossa responsabilidade maior, é através da ação evangelística que nos tornamos instrumentos nas mãos de Deus, é através da ação evangelística que nos tornamos luz para o mundo e assim trazemos um pouco de esperança para um povo perdido. Podemos correr riscos, podemos sofrer decepções, podemos enfrentar dificuldades, mas tudo será recompensado por aquele que nos enviou.

ANOTAÇÕES _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

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ATIVIDADE PARA CASA 1) Relendo o capítulo 4 do evangelho segundo João, retire do texto expressões que nos permitam perceber as prioridades de Jesus em relação à mulher samaritana e ao povo do qual ela fazia parte. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

2) Como podemos aplicar esse exemplo de Cristo à nossa vida cotidiana? Para responder essa pergunta, pense sobre os seguintes fatos: Jesus interrompeu seus afazeres; Jesus se expôs ao risco de ser criticado e recriminado; Jesus agiu com amor em relação a uma pessoa que normalmente seria indigesta por causa das relações sociais; tudo isso para pregar o evangelho da salvação. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

3) Como a certeza de que milagres podem acontecer pode nos ajudar na missão de evangelizar as pessoas? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

4) Reflita sobre a forma como você tem aplicado o exemplo de Jesus na vida cotidiana. Se quiser, compartilhe isso com algum irmão, para que possa trocar experiências. _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________

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LIÇÃO 5: RECEBENDO E ENTENDENDO A MISSÃO Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens”. (Mt 5: 13) “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”. (Mt 28: 19,20)

Ser cristão é tomar parte no corpo de Cristo, considerando, nessa afirmativa, todas as suas possíveis implicações (I Co 12:26-27). Por isso, não se pode pensar na existência de um cristão que se comporte passivamente diante da principal obra que o Senhor deixou para sua Igreja, ou seja, diante da evangelização. Isso seria tecnicamente chamado de oxymoron, um termo grego que faz referência a elementos que, por definição, não combinam entre si. Logo, falar em crente passivo é como falar em água seca ou em gelo quente. Por isso, diz-se que “o ministerium verbi divini é ‘destinado e ordenado a todo cristão que não deseja deixar de ser cristão”.9 Jesus é bem claro quanto a isso quando afirma que nós somos o sal da terra e enfatiza dizendo que o sal sem sabor não servirá para nada. Não se trata de utilitarismo, mas de finalidade da vida cristã, nós fomos “chamados das trevas para a maravilhosa luz” com o propósito de “anunciar as grandezas” de Deus (c.f. I Pe 2: 9). Somos como já visto, enviados do Senhor para a concretização do projeto de Deus para a salvação.

1. NÃO DÁ PARA FUGIR O Dr. John Haggai afirma em um de seus livros: “Ouse pedir uma decisão”. Essa frase é bastante pertinente, pois muitos cristãos têm utilizado a própria Palavra de Deus como desculpa para falar de Deus como quem fala de um amigo, ou de outro assunto qualquer. Ou seja, o que o Dr. Haggai nos orienta é que em toda e qualquer ocasião, quando falarmos de Deus com as pessoas, devemos pedir que elas tomem uma decisão por Cristo. Mas, o problema mais recorrente é como dito acima, o mau uso da Palavra de Deus para servir como subterfúgio para não pedir a decisão. Os erros mais comuns são os seguintes: A palavra de Deus não volta vazia Já mencionamos esse problema no Capítulo 1 deste material, mas, agora, esclarecemos melhor a

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Käsemann: 1960, p. 117. in Schwarz. Christian A. Mudança de Paradigma na Igreja. Como o desenvolvimento natural da Igreja pode transformar o pensamento teológico. 1a ed. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2000. p. 173.

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questão. Muitos cristãos acham que podem falar de Jesus sem a devida clareza e deixar que Deus opere a conversão no coração do ouvinte. Isso não é verdade. Precisamos ser claros na mensagem da salvação e precisamos, também, pedir uma decisão. O texto bíblico em questão afirma o seguinte: “assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei” (Is 55: 11). Quando lemos atentamente o capítulo inteiro, podemos perceber que Deus não estava falando sobre a palavra que Ele envia através dos seus servos na ação da proclamação do evangelho. Ele estava se referindo ao cumprimento de suas próprias ordens sobre a vida do povo e sobre o próprio mundo, como, por exemplo, quando Ele disse “Haja luz” (Gn 1: 3) e a luz se fez. No caso do capítulo 55 do livro do profeta Isaías Deus fazia menção à aliança que estava fazendo com o seu povo. Logo, não podemos de maneira alguma confundir o significado dessas palavras e achar que estão ligados ao contexto da evangelização como se pudéssemos dizer: “Ah! Já falei. Agora Deus faz o resto”. Não é esse o sentido da palavra. A minha preocupação é que essa expressão possa causar confusões maiores. Embora não duvidemos da soberania de Deus, precisamos compreender que a conversão das pessoas não é algo que ocorra simplesmente lançando a Palavra. Ao contrário, é necessário o cumprimento completo do comissionamento de Cristo, como veremos adiante. Não atirem as suas pérolas aos porcos Esse é outro texto que, quando mal interpretado, causa confusão. É como se houvesse algumas pessoas a quem não devêssemos pregar o evangelho. Mas, não é assim. Então, o que Jesus queria dizer com: “Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos”? Bem, pérolas eram objetos caríssimos (Mt 13: 46) e, nesse caso, simbolizavam a magnitude do valor da mensagem do evangelho que Jesus estava ensinando aos seus discípulos. Já porcos e cães eram animais desprezíveis (Pv 26: 11; II Pe 2: 22) que, no discurso de Jesus, representam aquelas pessoas que desprezam o evangelho constantemente. Veja que isso não é um incentivo a desistir de pregar para quem não aceita, mas para não perder tempo com os escarnecedores enquanto muitos estão ávidos por receber a palavra de Deus (Am 8: 11). Como julgar, então? Isso depende da própria experiência que temos com Deus na atividade de evangelismo. O que não podemos é desistir de falar sobre Jesus para as pessoas sem tentar, sem criar oportunidades para a propagação da Palavra. Lembre-se que não cabe a nós, mas a Deus, decidir quem são os “porcos” e “cães” para quem não devemos atirar nossas pérolas.

2. APLICANDO A PALAVRA DA SALVAÇÃO Não há como, nem por que, fugir. Precisamos nos apegar, e nos alegrar, nas palavras de Cristo que nos ordenam a fazer discípulos de todas as nações. Ou seja, devemos entender a evangelização como a formação de um relacionamento no qual o cristão é o elemento influenciador da vida que se deseja alcançar. 32


Veja-se que a grande comissão não se limita a ordenar o anúncio do evangelho, mas ordena algo muito mais profundo. Vejamos mais cuidadosamente esse trecho das Escrituras no intuito de entender com clareza aquilo que o Senhor espera de nós: 1) Façam discípulos de todas as nações – nesse trecho da ordem que o Senhor Jesus nos deixou precisamos entender duas coisas fundamentais: a) fazer discípulos é fazer seguidores, imitadores, enfim, é educar as pessoas para que sigam o mesmo caminho; b) a ordem não se restringe a um povo, a palavra grega traduzida por nação é ethine, na realidade essa palavra tem um significado amplo, ela quer dizer gente, povo. Isso quer dizer que a ordem de Jesus é que façamos seguidores do evangelho que Ele nos deixou entre todas as gentes, não apenas países, mas todos os povos que estão inseridos nos países. 2) Batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo – batizar é o mesmo que tornar parte do povo de Deus. Jesus não estava referindo-se apenas ao batismo nas águas. Ele falava que o processo de evangelização é inclusivo, é um processo que deve trazer as pessoas para a comunhão com o corpo e que isso deve ser feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo como as pessoas que constituem a Trindade. Assim, a pessoa evangelizada estará adentrando o corpo de Cristo na terra, a Igreja, e nos céus, a vivência com a Trindade. 3) Ensinando-as a obedecer tudo aquilo que lhes ensinei – Jesus não quer as pessoas de qualquer jeito, Ele quer pessoas obedientes e respeitadoras da doutrina que Ele ensinava. Para Deus não existem crentes nominais, ou seja, aqueles que apenas fazem parte das estatísticas, mas Ele deseja crentes ativos que façam aquilo que Ele ensinou. Por isso é necessário que os discipulados aprendam a OBEDECER TUDO QUE O SENHOR ENSINOU. É nossa responsabilidade ensinar as pessoas a obedecer às ordens de Deus. No original grego, o versículo 19 não se apresenta no imperativo, ou seja, ir não é uma ordem, a ordem é fazer discípulos. Claro que ao considerar o contexto hermenêutico e linguístico, entendemos que há uma ordem para ir. Mas, atrevo-me a sugerir uma análise da seguinte tradução: “tendo ido [indo], façam discípulos...”. Colocando dessa forma, diminuímos a importância do “ir” e aumentamos a do “façam”, antes de qualquer crítica quero me antecipar, dizendo só estou sugerindo uma visão diferenciada que nos possibilite a ideia de que devemos fazer discípulos no decurso de nossa vida. Ir e vir são ações cotidianas e entendo que Jesus quer que nos diversos movimentos da vida, estejamos agindo em favor da evangelização das pessoas. A hermenêutica que nos leva a apresentar o termo grego poreuthentes no imperativo é a hermenêutica do dever10 e sem críticas a essa tradução (até mesmo pela minha falta de capacidade para isso) quero apenas sugerir, como dito acima, uma hermenêutica do viver. Isto é, aqueles que não foram enviados como missionários; aqueles que não tomaram a atitude de “ir”, estão igualmente convocados a apregoar o evangelho e a fazer discípulos nos movimentos cotidianos da vida. Não quero, com isso, contestar as traduções da bíblia, mas apenas fazer compreender que o evangelho deve ser uma prática de quem está 10

Para compreender por que esse termo grego que se encontra no particípio aoristo é comumente traduzido como se estivesse escrito no imperativo leia: ROGERS, Cleon. The Great Comission. Bib Sac. p. 130.

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“indo”, ou seja, de quem está vivendo, de quem está se relacionando com pessoas.

3. DISCIPULANDO Fazer discípulos é a ordem, então, é necessário se ter a compreensão de que o evangelismo é um conjunto que só se torna completo com o discipulado. Para compreender melhor essa afirmação, vamos entender dois conceitos necessários: 1) Evangelismo ou evangelização: é a tradução do verbo grego kerigma que significa anunciar, comunicar a mensagem. Mas, para que o kerigma que nos é ordenado tenha os efeitos desejados, precisamos observar que o processo de comunicação só é perfeito se houver uma emissão correta da mensagem por parte do evangelista, se a mensagem for inteiramente passada e, finalmente, se houver compreensão plena de quem ouve. Então, o evangelismo não termina no ato de falar, mas prolonga-se pela ação de ensinar. 2) Conversão: está ligada ao termo grego metanoia que literalmente significa mudança de mente. Entende-se que a conversão é um acontecimento promovido pelo Espírito Santo na mente da pessoa evangelizada, não é baseado nas emoções, mas na razão como ensina o apóstolo Paulo em Romanos 12: 2. Tem eficácia para o resto da vida. A conversão difere da simples decisão, embora toda conversão requeira uma decisão, elas não se confundem. Alguém pode tomar uma decisão baseada apenas uma emoção momentânea e depois de algum tempo mudar essa decisão. Nesses casos, podemos afirmar que não houve conversão, mas, tão somente, uma adesão religiosa. Bem, tratados esses dois conceitos basilares, podemos avançar o nosso estudo dizendo que a ação de evangelizar deve necessariamente ser seguida da ação de discipular, ou melhor, podemos dizer que o discipulado é uma etapa da evangelização. Vamos compreender melhor: ao anunciar o evangelho, nós apresentamos o plano de salvação, explicamos sobre o pecado, sobre a necessidade de confessá-los e principalmente sobre a necessidade de crer em Cristo como Senhor e Salvador. O serviço está completo? Não. Essa pessoa precisa aprender mais, pois o objetivo é fazer imitadores (I Co 11: 1) e, agora, usando a retórica paulina, pergunto: como serão imitadores daqueles a quem não conhecem? E como conhecerão se não houver quem ensine? É necessário que os novos convertidos aprendam, no mínimo, sobre o caráter de Cristo, sobre a vida em comunidade e sobre o cotidiano da vida cristã. Assim, podemos dizer que durante o processo de anunciar o evangelho nasce o compromisso de discipular aquela pessoa que está sendo evangelizada. Mas, o que significa discipular? E como se dá o discipulado? Bem, discipular é como diz o texto bíblico, ensinar a obedecer todas as coisas que Cristo tem ensinado e o programa ideal de discipulado parece ser o ensino individualizado. O grande problema é que faltam pessoas dispostas a discipular, ou seja, a dedicar o seu tempo a aprender e a transmitir o que aprende na letra do evangelho.

É necessário compreender a Palavra da Salvação.

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ATIVIDADE PARA CASA 1) Além daqueles motivos elencados nesse material, quais são as razões que os cristãos alegam para não pregar o evangelho? Qu e respostas bíblicas podem ser dadas a essas alegações? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 2) Como compreender o momento em que devemos parar de “jogar nossas pérolas aos porcos”? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 3) Quais seriam as implicações práticas de entender que Jesus afirmou em Mt 28: 19-20 “indo, façam discípulos” e não “vão e façam discípulos”? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

4) Como podemos entender o discipulado no contexto da evangelização? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________

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LIÇÃO 6: O SEU JEITO DE EVANGELIZAR “Todos os dias continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos”. (At 2: 46, 47) Depois de tudo que estudamos até aqui, talvez você esteja se perguntando: “como devo evangelizar”? É uma pergunta natural e, algumas vezes, perturbadora, pois queremos logo nos envolver com a prática evangelística e, em certos momentos, nos angustiamos quando pensamos em como devemos abordar as pessoas. Perguntas como, “Como vou iniciar a conversa?”, “Qual o melhor jeito de evangelizar?”, são comuns nesse processo de descoberta da evangelização. Precisamos lembrar um fato básico, Deus nos deu uma mensagem para transmitir, mas ele não fez nenhuma determinação sobre a forma como ela deveria ser anunciada. Logo, podemos perceber que precisamos nos preocupar apenas com a melhor forma de comunicar aquilo que o Senhor deseja que as pessoas saibam. Para isso, precisamos utilizar não apenas os dons que o Senhor nos deu, mas também o nosso estilo próprio de conversar, de conviver e de interagir com as pessoas.

1. O SEU ESTILO FAZ A DIFERENÇA Vejamos bem, Deus nos criou diferentes uns dos outros, mas nos deu “estilos” que podem se identificar, ou não, com outras pessoas. Assim, podemos utilizar o nosso estilo pessoal para otimizar a pregação evangelho, fazendo aquilo que sabemos fazer melhor. O nosso estilo inclui não apenas aquilo que somos, mas também aquilo que fazemos, assim, podemos dizer que o nosso estilo compõe-se de: 1) características pessoais como a nossa desenvoltura nas conversas, a nossa forma de tratar as pessoas ou nossa forma de lidar com as diversas situações da vida, amabilidade, afetuosidade além de outras características próprias da nossa personalidade; 2) habilidades como capacidade de falar em público, de organizar eventos, de fazer trabalhos manuais, aptidões profissionais, música, ensino, aconselhamento e muitas outras; 3) hábitos de vida tais como prática de esportes, trabalhos seculares, grupos de afinidade, reuniões com amigos, enfim, tudo que lhe faz relacionar-se com outras pessoas; 4) visual, é isso mesmo a forma como nós nos vestimos comunica muito acerca dos nossos amigos e das pessoas que nós vamos atrair. Então, todas essas características, e muitas outras, que formam o nosso estilo pessoal devem ser utilizadas para melhor a nossa comunicação do evangelho. Você quer ver alguns exemplos bíblicos? Pois, muito bem, apresentaremos agora seis personagens bíblicos que tinham estilos completamente diferentes, mas que foram muito eficientes no cumprimento da evangelização. Vamos, então, aprender sobre eles e, também, vamos aprender com eles. O nosso propósito nesse capítulo é descobrir o nosso próprio jeito de evangelizar.

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1) O Estilo confrontador de Pedro

A bíblia deixa claro qual era o caráter de Pedro: homem explosivo, ousado, incisivo e que gostava de ir direto ao ponto. Sem rodeios, Pedro respondia os questionamentos e revidava as afrontas. Em Mt 16: 15, quando os discípulos foram indagados por Cristo sobre quem Ele era, o primeiro a responder foi Pedro. Quando o soldado romano se aproximou para prender Jesus, Pedro avançou para decepar-lhe a orelha. Pedro não hesitou em andar sobre as águas para ficar junto de Jesus. Pedro confrontava as pessoas e situações. Em Atos 2, ele não se utiliza de meias palavras e responde com franqueza aos que o acusavam de estar bêbado, deixando claro que os que o acusavam tinham crucificado o Messias e que precisavam se arrepender. O resultado foi a conversão de três mil pessoas. Se você é um confrontador, assuma o seu estilo.

Características básicas: Confiante, audacioso, direto, evita conversa fiada e tem opiniões e convicções firmes.

Cuidados necessários: Mas, os confrontadores têm algumas tendências que precisam de cuidados especiais, são elas: 

Assumem o controle das situações, às vezes esquecendo-se de que é o Espírito Santo quem convence do pecado, da justiça e do juízo;

Agem de forma precipitada;

Não aprofundam as questões;

Têm pouca habilidade no trato de questões pessoais;

Têm dificuldade para ouvir a opinião dos outros.

2) O Estilo intelectual de Paulo

A maior característica de Paulo, embora também fosse um grande confrontador, era a exposição racional e sistemática do evangelho. Lendo qualquer uma das epístolas paulinas (experimente ler Efésios) pode-se perceber o quanto ele utilizava-se de colocações filosóficas, exemplos contemporâneos, observações da natureza e do comportamento humano para construir argumentações inabaláveis acerca das novidades da mensagem cristã. Uma das maiores comparações está na Carta aos Efésios, quando ele fala da Armadura de Deus (Ef 6: 10-20). Se a formulação de raciocínios lógicos e sistemáticos é característica sua, então a use-a como arma para evangelizar. Paulo fez isso e, por muitas vezes, as pessoas se converteram diante dele.

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.Características básicas: Analítico, lógico, questionador, gosta de debater ideias, mais atento ao que as pessoas pensam do que ao que elas sentem. Cuidados necessários: 

Perde-se no estabelecimento de relações entre os vários pontos de vista;

Tem dificuldade para perceber os sentimentos envolvidos na questão;

Tem dificuldade de falar sobre coisas práticas;

o

Não tem facilidade de se relacionar com pessoas.

3) O Estilo testemunhante do homem cego

No evangelho segundo João, é contado o caso do homem cego que Jesus curou. Este homem, depois de algum tempo, é posto diante de um auditório de judeus hostis, e é inquirido a respeito de Cristo. Ele se nega a participar de uma discussão teológica e apenas responde: “eu era cego e agora vejo” (Jo 9: 25). Diante do testemunho daquele homem, muitos judeus creram no milagre realizado por Jesus, pelo simples fato do ex-cego não ter se calado diante das maravilhas recebidas do Senhor. Contado a sua história, simplesmente relatando o que Deus fez em sua vida, você também poderá ganhar vidas para Cristo. Não é necessário que você tenha um passado de vício, bandidagem ou de desgraças para legitimar o seu testemunho, basta falar de como o amor de Deus se manifestou, ou se manifesta, na sua vida.

Características básicas: Se expressa com facilidade, transparente quanto aos altos e baixos de sua vida pessoal, empolgado pela maneira como Deus o resgatou. Cuidados necessários:  Fala muito, tendo dificuldade para ouvir os outros;  Pode ter uma postura voltada para si mesmo, para os fatos da sua vida;  Fixado em experiências, pode tornar-se instável em momentos de dificuldade;  Quer, em geral, aplicar a sua experiência pessoal a todos com quem conversa.

4) O Estilo interpessoal de Mateus

Mateus, o evangelista, também conhecido como Levi, depois de se tornar conhecedor da boa nova de Cristo, decide proclamá-la. Resolve, então, dar uma festa (Lc 5: 29), e convida todos os seus amigos, crentes e ímpios. Lá esteve presente o próprio Jesus, e embora vários dos crentes tenham contestado a participação dos ímpios, o próprio Jesus sai em defesa do método utilizado Mateus, pois foi a forma que ele encontrou 38


para falar do evangelho àquelas pessoas. Festas, como a de Mateus, e outros eventos podem ser meios eficazes de proclamar a mensagem do evangelho. É claro que devemos nos preocupar com os detalhes e com o testemunho, pois a nossa festa não deve apenas atrair pessoas, mas, sobretudo, influenciá-las. Talvez seja esse o seu jeito de evangelizar, organizando eventos, festas, reuniões, etc.

Características básicas: Dado a um bom bate-papo, compreensivo, sensível, orientado para amizades, focalizado em pessoas e suas necessidades. Cuidados necessários: 

Costuma estabelecer relacionamentos superficiais;

Tem dificuldade em ajudar os outros a reconhecerem seus erros;

Às vezes, as ações não correspondem ao que o coração realmente deseja.

5) O Estilo convidativo da mulher samaritana

Ao conhecer Jesus Cristo e ouvir a Palavra da Salvação (Lc 5: 29), aquela mulher samaritana saiu imediatamente a convidar pessoas para que também pudessem ouvir as mesmas maravilhas que ela tinha ouvido. Talvez nem soubesse repetir o que Jesus lhe dissera, mas sabia o valor daquelas poucas palavras e, assim, decidiu que outras pessoas precisavam ouvir sobre a água da vida. Repare que Jesus ainda não havia conversado muito com aquela mulher, mas ela deixou-se impregnar pelo amor verdadeiro e foi em busca de transmiti-lo. Nesse caso, a mulher samaritana utilizou a sua rede social para levar as pessoas para ouvirem as coisas lindas do evangelho e muitos se converteram graças à sua dedicação em convidá-las para ouvir a Palavra de Deus. Talvez você não tenha muito jeito com as palavras e não seja, ainda, muito bom com a pregação do evangelho, mas você pode convidar as pessoas para participarem dos cultos e outros programas evangelísticos que a sua igreja venha a promover. Muitas vezes, Deus nos dá a capacidade e o ambiente para falar, outras vezes, Ele nos dá apenas as ferramentas necessárias para conduzir as pessoas para ouvirem a Palavra da Salvação. Atualmente, nós temos redes sociais gigantescas na Internet e nos smartphones. Esse pode ser um eficiente caminho para levar as pessoas ao contato com o evangelho.

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Características básicas: Hospitaleiro, persuasivo, gosta de conhecer novas pessoas, vê os eventos da igreja como oportunidades singulares. Cuidados necessários: 

Em geral não gosta de aceitar “não” como resposta;

Às vezes sufoca as pessoas com grandes e persistentes convites;

Muitas vezes se torna inconveniente, forçando relacionamentos que deseja que aconteçam;

Pode assumir um radicalismo irracional.

6) O Estilo convidativo de Dorcas O nosso sexto, e último exemplo, está no livro dos Atos dos Apóstolos. Ali, vemos que Dorcas “se dedicava a praticar boas obras e dar esmolas” (At 9: 36). Sabemos que a salvação não vem pelas obras, mas muitas vezes os cristãos deixam de realizar obras assistenciais embasados nessa passagem, sem se lembrar que pequenas atitudes, pequenos gestos de carinho e solidariedade podem fazer grande diferença na vida das pessoas. Às vezes, um gesto fala mais do que mil palavras. Portanto, disponibilizar um pouco de tempo, pagar um almoço, quitar uma pequena conta de energia elétrica de alguém; são gestos que podem levar a pessoa em direção à salvação, pois elas vão se sentir seguras, amparadas e amadas. É bom saber que alguém se preocupa conosco, com as nossas necessidades, com o nosso sofrimento. Se você se identifica com Dorcas, por que você não usa o seu estilo para evangelizar?

Características básicas: Paciente, centrado nos outros, valoriza atividades simples. Cuidados necessários: 

Excessivamente tolerante;

Desleixado consigo e com a família;

Tem dificuldade de verbalizar o que pensa e sente;

Subestima-se evitando fazer tarefas de maior vulto.

Você não está obrigado a ter um desses estilos, você pode ter vários deles, ou uma mistura deles, ou nenhum deles. Esses não são os únicos estilos, nem são os estilos certos, são apenas exemplos. O importante é você perceber como cada uma dessas pessoas utilizou o seu jeito de ser para tornar-se mais efetivo na comunicação do evangelho. É interessante perceber que utilizando a criatividade você pode ir longe e levar muitas pessoas ao pleno conhecimento de Cristo Jesus. Lembre-se o Deus que lhe chamou é o mesmo que lhe capacitou. 40


2. RELACIONAMENTOS FAZE M A DIFERENÇA

Evangelizar é relacionar-se. Para evangelizar com eficácia é fundamental construir relacionamentos íntegros que testemunhem o amor de Deus. Afinal, a forma como nos aproximamos das pessoas pode ser reveladora das nossas mais íntimas intenções. Podemos, por exemplo, passar àquelas pessoas que estamos tentando evangelizar uma imagem de descaso completo, ou de falta de amor, quando ignoramos as suas necessidades, quando não lembramos o seu nome, quando esquecemos dela num segundo encontro, etc. Mas, por outro lado, com pequenas atitudes, podemos, também, transmitir muito carinho, respeito, amor e a imagem de um cristão autêntico. Precisamos, portanto, estabelecer relacionamentos envolventes, relacionamentos que provoquem nas pessoas o desejo de estar inseridos no nosso meio, isto é, na comunidade cristã; que sejam capazes de fazer com que as pessoas se sintam cuidadas; e que provoque nelas o desejo de seguir o nosso exemplo. As pessoas do mundo de hoje precisam cada vez mais de relacionamentos que ofereçam segurança, que proporcionem afetividade e cuidados especiais. O mundo é carente de amigos sinceros e honestos. Vivemos em um mundo de desconfiança e de individualismo, baseado em emoções que não têm nenhum compromisso com a verdade. Para se pregar o evangelho de maneira efetiva para pessoas que vivem nessa situação, é necessário desenvolver relacionamentos que sejam impactantes. O fato é que todos nós experimentamos uma sensação desagradável quando alguém de fora de nosso círculo de amigos tenta influenciar-nos em assuntos pessoais, significativos. Todos nós gravitamos de maneira natural ao redor de pessoas que já conhecemos e em quem confiamos. Amigos ouvem a amigos. Amigos confiam nos amigos, permitem que eles os influenciem. Portanto, se pretendemos criar impacto no mundo com a mensagem de Cristo, o primeiro passo será construir relacionamentos íntegros com os que interagimos em nosso cotidiano. Precisamos nos relacionar para que consigam enxergar, através de nossa integridade, que Jesus se interessa por cada um como pessoa e que se preocupa com seu bem-estar. O tempo se encarregará de, através dessa consciência, gerar confiabilidade e respeito.11 A oportunidade para se desenvolver relacionamentos íntegros normalmente estão ligadas ao cultivo de amizades com pessoas com quem convivemos em nossa rotina diária: o caixa do supermercado em que faço compras, o vizinho do condomínio, o colega que senta do meu lado no trabalho, o professor da universidade, o mecânico da oficina em que conserto o carro, o pediatra dos meninos, a professora do colégio, o companheiro de ônibus no horário da manhã, o corretor de seguros. Enfim, todos com os quais nos relacionamos podem ser alvo da tentativa de se desenvolver relacionamentos íntegros.

Entretanto, existem algumas barreiras que precisam ser transpostas para que possamos desenvolver relacionamentos íntegros:

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HYBELS, Bill. MITTELBERG, Mark. BISPO, Armando. Cristão Contagiante. Descubra o seu próprio jeito de evangelizar. 1a ed. São Paulo: Vida, 1999. p. 105.

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Contatos superficiais, que não destacam a nossa integridade; Super atividade, que não deixa tempo para os relacionamentos; Modelos evangelísticos defeituosos, que geram falta de compromisso; Barreiras culturais, que estabelecem dificuldades de comunicação; Falta de integridade, resultado um desequilíbrio entre testemunho e verbalização da fé; Inércia, que paralisa as nossas iniciativas.

Todos esses são comportamentos que nos impedem de formar relacionamentos íntegros e influenciadores. Mas, tome bastante cuidado antes de imaginar que você não faz essas coisas, pois esses são comportamentos típicos do nosso tempo. Como cristãos, devemos andar em sentido contrário, otimizando e valorizando o nosso tempo com as pessoas que nos cercam.

3. CAUSANDO IMPACTO

Os relacionamentos íntegros causam impactos positivos nas vidas das pessoas. Como exposto acima, o mundo vive relacionamentos de interesse e de superficialidade, por isso, quando falamos em construir relacionamentos íntegros, estamos, na realidade, falando em impactar a vida das pessoas com o amor que só pode ser transmitido pelas pessoas que têm a Jesus em seu coração. Jesus impactou as vidas das pessoas com quem conviveu, vejamos alguns exemplos:

Mesmo nas acusações levianas as pessoas percebiam o impacto da presença de Cristo: “Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizem: Ai está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11: 19)

Jesus convivia com todos indistintamente e as pessoas se admiravam disso. Os publicanos eram cobradores de impostos, geralmente corruptos e invariavelmente mal vistos pelos judeus. Mesmo assim, Jesus mantinha boas relações com eles e vários desses homens se converteram e se tornaram importantes na propagação do evangelho. Além de conviver com os publicanos que eram desprezados pelos judeus em geral, Jesus convivia com os pecadores que eram desprezados pelas autoridades religiosas da sua época. Jesus não tomava uma postura acusadora diante daquelas pessoas a quem Deus havia amado. Seus relacionamentos eram repletos de compaixão e longanimidade. Isso impactava as pessoas ao seu redor.

O pequeno Zaqueu foi exemplo vivo do impacto amigo de Cristo (Lc 19: 1-10) “Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: Zaqueu desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje. Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria. Todo o povo viu isso e começou a 42


se queixar: Ele se hospedou na casa de um pecador”. (Lc 19: 5-7) A sensibilidade de Jesus e a forma como Ele, apesar de todas as críticas que recebeu, tratou Zaqueu naquele dia, causaram um grande impacto na vida daquele homem que se converteu e, mais que isso, tomou a decisão de passar a ter uma vida íntegra diante de todos. Um pouco de atenção e carinho pode surpreender as pessoas e transformar definitivamente a sua forma de viver. Relacionamentos baseados na sensibilidade podem impactar as vidas das pessoas. Esses são apenas alguns exemplos de como o amor de Cristo, através de relacionamentos íntegros, pode impactar positivamente a vida das pessoas. Nós também podemos agir dessa forma, imitando a Cristo não apenas em ações, mas também no envolvimento com as pessoas.

CONCLUINDO

Nesse capítulo nós aprendemos sobre a importância de descobrir o nosso próprio jeito de evangelizar, sobre aprender a observar as nossas próprias características e, principalmente, a utilizá-las na obra do Senhor. Vimos também à importância de desenvolver relacionamentos que possam impactar verdadeiramente as vidas das pessoas.

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LIÇÃO 7: O PLANO DE SALVAÇÃO E A COMUNICAÇÃO DO EVANGELHO

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Como são belos os pés dos que anunciam boas novas”. (Rm 10: 14, 15)

Nesse capítulo, o nosso maior propósito é estudar o Plano de Salvação que Deus amorosamente elaborou e colocou em prática para que a humanidade, ou, pelo menos parte dela, volte ao Paraíso criado por Ele para que nós habitemos. Esse é, sem dúvidas, o capítulo mais prático do nosso material.

Vamos estudar os versículos e textos bíblicos específicos que podemos utilizar para anunciar as boas novas do Senhor Jesus. Mas, além disso, vamos apresentar formas de iniciar e conduzir conversas evangelísticas.

1. O CAMINHO DA SALVAÇÃ O

Primeiramente, vamos entender os caminhos que Deus utilizou para que o seu plano de resgate da humanidade fosse efetivamente cumprido.

1) O Plano do amor de Deus para o homem desde a Criação:

Deus criou todas as coisas (Gn 1: 1-25); Deus criou o homem a Sua imagem e semelhança (1: 26-28; 2:7); Deus deu ao homem autoridade sobre toda a Criação (Gn 1: 28-30 e 2:18-25).

2) A falha do homem o desviou do Plano de Deus:

A ordem anterior era: usufruir de tudo que estava no Jardim, menos de uma árvore (Gn 2: 15-17); A tentação, a desobediência, a queda e a separação de Deus (Gn 3: 1-33, 23 e 24); As consequências: toda a descendência de Adão está na mesma condição (Sl 51: 5; Rm 3: 23; 5: 18).

3) O homem cria suas tentativas de salvar-se, através de:

Boas obras (Ef 2: 8,9 e Tt 3: 5,6) 44


Observação da Lei (Rm 3: 19-22; Gl 2: 16; Tg 2: 10); Religião (Tg 1: 25-27); Outros deuses (Jo 14: 6; At 4: 12); Méritos pessoais (Ec 7: 20; Rm 3: 10); Purgatório (Lc 16: 19-31).

4) Jesus Cristo é o ÚNICO caminho para a salvação

Para Deus não há impossíveis (Lc 18: 26, 27); Em amor (Jo 3: 16), graça (Ef 2: 8) e poder (Rm 1: 16); Cristo pagou o preço dos nossos pecados (I Pe 2: 24; 3: 18); O único “remédio” para o pecado (Is 1: 18; I Jo 1: 7-9); Jesus veio para libertar o homem da escravidão do pecado (Jo 8: 32, 36); Jesus salva perfeitamente da condenação eterna (Jo 5: 24).

5) Só há um jeito de o homem obter salvação

Crendo em Jesus como o seu único e suficiente salvador (At 4: 12; Jo 14: 6); Arrependendo-se dos seus pecados (At 2: 38; I Jo 1: 7,9; Pv 28: 13); Entregando a vida a Jesus Cristo (Sl 37: 5).

6) Bênçãos decorrentes da salvação

Não será mais condenado (Rm 8: 1); Foi livre da maldição e do poder do pecado (Rm 5: 18 e 19); Tem seus pecados perdoados (I Jo 1: 7); Torna-se filho de Deus (Jo 1: 12, 13); Herda o céu como o prêmio da sua fé em Cristo (Ap 21).

7) Consequências da conversão

Renunciar o mundo (Tt 2: 12-14); Tomar a cruz (Mt 10: 34-39); Amar a Deus sobre todas as coisas e praticar sua Palavra (Jo 14: 15 e 21); Fazer boas obras (Tt 2: 14; Ef 2: 10); Um preço a pagar (Mt 7: 13, 14).

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2. COMUNICANDO O PLANO DE SALVAÇÃO

Você não precisa saber todas as referências acima decoradas para passar o Plano de Salvação, mas o ideal é que você sempre estude e tenha em mente a lógica do plano de Deus para a humanidade. Para pregar o evangelho de maneira efetiva, precisamos ter uma metodologia para passar a mensagem de maneira clara e rápida (Não quero dizer com isso que toda evangelização tem que ser rápida, pelo contrário, a velocidade da conversa vai ser determinada pelo Espírito Santo e pela percepção do momento, mas precisamos estar preparados para pregar rápido também). Por isso vamos passar algumas ideias para você:

1) O Livro sem Palavras

Esse é um recurso muito utilizado na evangelização de crianças, mas também tem se mostrado altamente eficiente na comunicação do evangelho para adultos. O Livro sem Palavras pode ser apresentado de várias formas: individualmente, através de peças e até mesmo por meio de outros objetos que não sejam livros, tais como pulseiras, colares e tudo que a criatividade lhe permitir. Esse método baseia-se em relacionar as cores com as etapas da comunicação do Plano de Salvação, da seguinte forma: Dourado – representa o céu; Preto – representa o pecado; Vermelho – representa o sacrifício; Branco – representa o coração limpo por Jesus; Verde – representa da nova vida que recebemos em Jesus.

Você pode contar a seguinte história, ou fazer as suas adaptações:

Introdução

Este livro tem páginas coloridas, e elas nos contam uma história maravilhosa. Geralmente, quando lemos um livro, começamos na frente, não é? Mas com este vamos começar com a última página, para saber logo o fim da história. Minha história termina maravilhosamente. Termina no Céu!

Página Dourada

Esta página dourada nos fala do Céu. Não posso lhe dizer como é lindo o Céu, mas há um versículo da Palavra de Deus que nos dá uma ideia. É o Apocalipse 21: 21 “E as doze portas eram doze pérolas... A 46


praça da cidade é de ouro puro”. Mais do que isso, o céu é um lugar de alegria. Ninguém fica doente no Céu. Não há dores, nem sofrimentos, nem tristezas. Melhor ainda, ninguém morre. “E Deus enxugará dos olhos as lágrimas e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor” (Ap 21: 4) Somente Deus poderia criar um lugar tão maravilhoso. Você já sabia que Deus o ama tanto que quer que você esteja no Céu com Ele para sempre? Quando o Senhor Jesus voltou para o céu depois de morrer na cruz e ressuscitar dos mortos, Ele disse que ia preparar um lugar para nós. E Deus quer você lá com Ele para ser feliz eternamente.

Página Preta

Mas, vamos pensar em outra coisa: se a calçada na frente da sua casa fosse de ouro, quanto tempo ela ficaria ali? Uma noite? “Oh”, você diz, “alguém a roubaria”. Mas não é pecado roubar? Claro que é. E lá no Céu... “Nela nunca, jamais penetrará coisa alguma contaminada... e mentira” (Ap 21: 27). Quer dizer que o pecado não poderá entrar no Céu para estragá-lo. Pense, então: Deus quer que cada um de nós vá para o Céu, mas se há pecado em nossos corações, este nos impede de entrar no Céu. A página preta representa o pecado em nossos corações, o pecado que nunca poderá entrar no Céu. A Palavra de Deus nos diz que “Todos pecaram” (Rm 3: 23). Você também precisa dizer, “eu pequei”. Mas, Deus tem Boas Novas para você! Ele tem um remédio que faz possível nos livrar dos pecados! Nós não podemos fazer nada para limpar os nossos corações. Mas Deus pode e o fará... se crermos no Evangelho: “que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15: 3-4).

Página Vermelha Esta página vermelha representa o precioso sangue do Senhor Jesus Cristo. A Bíblia nos ensina que “o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1: 7). Não é maravilhoso saber que Deus não somente nos ama tanto que nos quer no Céu, mas nos ama tanto que deu Seu único Filho para ser o nosso Salvador e para levar o castigo de nossos pecados? Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, Deus pôs sobre Ele os nossos pecados. Assim que diz II Co 5: 21 “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que n'Ele fôssemos feitos justiça de Deus”. Depois de morrer em nosso lugar, Jesus foi sepultado, e ao terceiro dia ressuscitou! Viveu novamente! Jesus está vivo! E porque Ele vive, Ele pode vir morar em nossos corações. Ele diz agora: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Ap 3: 20). Quando convidamos o Senhor Jesus a entrar em nossos corações e ficar para nos salvar do pecado, Ele entra e fica.

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Página Branca

A página branca representa o coração limpo, que Jesus já purificou. Sabe quão branco ele faz o coração que O recebe? Tão branquinho como a neve? Não! Mais branco do que a neve! A Bíblia diz: “Lavame, e ficarei mais alvo que a neve” (Sl 51: 7b). Você não gostaria de ter o seu coração tão limpinho assim? Deus quer perdoar os seus pecados e purificar o seu coração, e assim Ele fará no momento que você receber Jesus como seu Salvador. Jesus já morreu em seu lugar; ele quer ser o seu Salvador; quer lhe dar a vida eterna... vida eterna no Céu. Jesus está batendo à porta do seu coração. Você precisa abrir a porta e deixá-lo entrar. Não quer fazer isso agora mesmo? Então, abaixe agora a sua cabeça e peça ao Senhor Jesus que entre em seu coração. Peça para Ele ser o seu Salvador.

A salvação é um presente. Como fazemos ao receber um presente? Agradecemos, não é? Então, diga “muito obrigado” agora mesmo a Deus, o Pai. Agradeça a Deus por ter enviado o Senhor Jesus para morrer em seu lugar. Agradeça que Ele agora o salvou e perdoou seus pecados. Agradeça que Ele lhe deu agora a vida eterna.

Página Verde

A página verde nos fala da nova vida que recebemos quando aceitamos o Senhor Jesus com Salvador. Quais são as coisas verdes que existem na natureza? Sim, as ervas, as árvores, o gramado e as plantas em geral. E todas são coisas que têm vida. Vamos ler mais um versículo da Bíblia. É João 3: 36 “Quem crê no filho tem a vida eterna”. Você agora crê no Senhor Jesus como Salvador e Senhor da sua vida (dono)? Então, este versículo fala de você. Diz que você tem o quê? Exatamente, você tem a vida eterna - o tipo de vida que precisamos ter para poder entrar no Céu. Você não está contente de ter recebido Jesus como seu Salvador? E, agora, esta nova vida precisa ser alimentada pela leitura da Palavra de Deus (2 Pe 3: 18), e pela oração. Assim você irá crescendo espiritualmente na vida cristã, agradando ao Senhor Jesus na sua vida diária e ganhando outros para Ele.

2) A Ilustração da Ponte

Essa ilustração é bastante conhecida, mas é extremamente útil e você pode apresentá-la em qualquer lugar, utilizando apenas uma caneta e um papel. Dá para apresentá-la em um restaurante, em um supermercado, na escola, no trabalho, em qualquer lugar que tenha um papel e uma caneta. Ela é mais simples e mais rápida que o Livro Sem Palavras, pois se baseia em um desenho e em poucos versículos. Tente compreender a lógica, baseado no Caminho da Salvação que estudamos no início desse capítulo. 48


A história agora é assim:

Nós vivíamos plenamente com Deus, dividindo o mesmo espaço no Paraíso (o desenho do quadrado é importante para mostrar a nossa proximidade e com Deus no início de tudo).

Então, nós nos rebelamos contra o Senhor e criamos, através dos nossos pecados ativos e passivos, uma grande separação entre Ele e nós (O versículo chave para essa separação é Rm 3: 23. Veja que estamos apenas evoluindo no desenho, mostrando que agora existe uma separação entre nós e Deus, mas que continuamos dentro do mesmo espaço).

O homem, mesmo inconscientemente, tenta alcançar a Deus, chamando isso de buscar a felicidade (Você pode incluir alguns versículos do ponto 3 do Plano de Salvação). Mas, seus esforços são inúteis, pois entre o homem e Deus estabeleceu-se um grande abismo chamado morte (Rm 6: 23) que é a separação espiritual de Deus.

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Embora a situação pareça, até aqui, bastante desanimadora (é importante que se diga isso à pessoa que está sendo evangelizada), Deus providenciou uma forma de retomar o caminho. Você pode citar I Pe 3: 18, ou mesmo Jo 3: 16. Ressaltando a cruz como o caminho de volta para o Paraíso, ou para a verdadeira felicidade.

Através do Seu Filho Amado, Deus providenciou uma ponte que nos faz ultrapassar o abismo e chegar definitivamente perto d’Ele. Para sobrepor esse abismo precisamos apenas confessar com fé ao Senhor (Rm 10: 9) e assim seremos adotados e chamados filhos de Deus (Jo 1: 12; I Jo 3: 1).

Depois de tudo, pergunta-se à pessoa se a ilustração faz sentido para ela ou se existe alguma coisa que ela gostaria de discutir. Finalmente, pergunta-se a ela onde ela estaria no desenho e, caso haja boa recepção, a pergunta seguinte é: “Você não gostaria de passar pela ponte tornando Cristo seu Senhor e Salvador?”.

3) A Estrada Romana

Essa é uma ilustração bastante eficaz, principalmente para aqueles que já ouviram a mensagem, mas precisam esclarecê-la na bíblia. Você só precisa saber três versículos: Rm 3: 23; 6: 23 e 10: 13. O primeiro versículo para mostrar ao seu amigo é Romanos 3: 23: “Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Eu explico: “De acordo com esse versículo, todos nós pecamos contra Deus. Isso inclui não apenas os grandes pecados, como estupro e homicídio, mas também coisas como erros morais, mentiras, crueldade, insensibilidade para com os outros, perda de controle, fraudes e egoísmo. 50


Admito que cometo alguns deles. E você?”. A maioria das pessoas não tem dificuldade em assumir que também comete esses erros. Então passo para o segundo versículo, Romanos 6: 23: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Eu digo: “De acordo com o versículo, essas pequenas transgressões que eu e você admitimos cometer merecem uma justa punição. O castigo é a morte”. Mas, então, chamo atenção para a segunda parte do versículo: “Aqui fala de uma dádiva. Deus nos ofereceu o presente da vida eterna. Podemos aceitar de graça o perdão de Deus e seu indulto da pena de morte que merecemos. A penalidade foi paga com a morte de Jesus na cruz. Como qualquer outro presente, não podemos trabalhar por ele, pode apenas aceitá-lo. Para descobrir como vamos ver mais um versículo”. E então deixo que a pessoa leia Romanos 10: 13, que diz: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. “Você vê como é simples aceitar o presente de Deus? Tudo o que temos de fazer é reconhecer o fato de que pecamos e merecemos a morte, e então invocar a Deus humildemente para que nos dê o Seu perdão e a vida nova que nos oferece. Foi o que eu fiz há alguns anos, e gostaria de incentivá-lo a fazer o mesmo”.12

CONCLUINDO

Para evangelizar com efetividade é importante que você use e abuse da criatividade que Deus lhe deu. Mas, preste bem atenção para ministrar um conteúdo sólido e embasado na Verdade bíblica. Tome as seguintes precauções:

1) Evite discursos longos: as pessoas querem conversar, querem ser ouvidas e não apenas ficar ouvindo o que você tem a dizer. Lembre-se: seja sensível às necessidades das pessoas. Uma forma excelente de fugir do discurso é iniciar a conversa com perguntas e prestar muita atenção naquilo que as pessoas respondem. 2) Ensine o evangelho aos poucos: tenha cuidado para não querer colocar informações demais para as pessoas. No primeiro momento, elas precisam apenas do essencial, evite os detalhes, não tome tempo demais das pessoas, saiba o momento de parar. 3) Seja ousado: Ore, peça a Deus oportunidades para colocar em prática tudo que aprendeu e não tema, pois o Senhor porá nos seus lábios as palavras de sabedoria. Confie no Senhor e creia nos milagres que Ele realiza.

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HYBELS, Bill. MITTELBERG, Mark. BISPO, Armando. Cristão Contagiante. Descubra o seu próprio jeito de evangelizar. São Paulo:1a ed. São Paulo: Vida, 1999. p. 176.

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LIÇÃO 8: APÊNDICE Reflexões sobre o nosso tempo Nas últimas décadas as comunidades cristãs13 latino-americanas têm desenvolvido poderosas reflexões acerca do envolvimento da Igreja do Senhor Jesus com as alas mais carentes da sociedade. Essas reflexões nos convidam a estarem mais atentos aos sofrimentos e às esperanças das pessoas pobres do nosso continente e, no nosso caso, do Brasil e, especificamente, da nossa castigada Paraíba. Tais ponderações bíblicosociológicas são, na realidade, um desafio a uma aproximação mais efetiva da Igreja com as camadas mais necessitadas da sociedade no inestimável intuito de SERVIR e RESGATAR estes homens e estas mulheres que são a maior e mais tangível referência viva aos sofrimentos do próprio Cristo. Por isso, seguindo essa linha de raciocínio, entende-se que a comunidade cristã, de maneira geral, deve apresentar-se, mais firmemente, como um agente prático e poderoso do Reino de Deus na história de um povo sofrido e de poucas esperanças. Dando testemunho de Cristo e agindo em favor de mudanças significativas no contexto sociocultural da presente época. Tais reflexões, graças a Deus, têm conduzido as instituições religiosas dos nossos dias, através de um profundo mergulho nas Sagradas Escrituras, ao retorno à ideologia social firmada no amor ao próximo, imitando a conduta da Igreja Primitiva. Também é muito bom saber que essas reflexões pastorais, e espirituais, da igreja contemporânea têm surtido efeito positivo sobre os movimentos políticos e, até mesmo, sobre as instituições sociais seculares. Essas entidades têm, paulatinamente, tomado consciência da importância do voluntariado no combate a pobreza14 desumana a que muitos de nossos irmãos estão subjugados. É preciso lembrar que a Igreja inventou o trabalho voluntário e que cremos ser esse o exercício verdadeiramente prático do sacerdócio universal do Povo de Deus: refletir, agir e multiplicar os caminhos do evangelho, entendendo que a boa nova do Senhor Jesus é a vida em abundância.15 Todas as reflexões e ações pastorais das comunidades cristãs latino-americanas trazem como pano de fundo o reconhecimento de que o evangelho deve ser levado para “toda criatura”16 investido de espiritualidade e de dignidade. E não devem ser jamais, confundidas com a doutrina da Teologia da Libertação que desconsidera os aspectos espirituais da vida humana. Pelo contrário, a compreensão de que é o pecado o grande causador das distorções sociais que acompanham a história da humanidade é absolutamente necessária para um entendimento real do problema e para a formulação de propostas para aliviar esse sofrimento. Por isso é importante atentar para as palavras do professor Louis Berkhof denunciando que “o pecado obscureceu o entendimento do homem e ainda exerce influência perniciosa sobre

13

Incluem-se aqui as comunidades cristãs evangélicas e católicas . A pobreza a que nos referimos nesse instante é muito mais do que a falta de elementos para a subsistência, é a pobreza da alma, a pobreza do distanciamento de Deus e a cegueira espiritual. 15 C.f. Jo 10: 10 – Considerando, aqui, todos os cuidados interpretativos, pois abundância não se confunde com opulência. 16 C.f. Mc 16: 15. 14

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a vida mental consciente. Consequentemente, esforços especiais são necessários para que possamos nos proteger contra o erro”.17 Não estamos falando que os pobres pecaram mais ou menos que os abastados. Muito longe desse tipo de julgamento, estamos introduzindo os tais “esforços especiais” para uma compreensão mais ampla e profunda da realidade do sofrimento humano a partir das revelações do evangelho. O pecado é apresentado aqui como causador das distorções sociais e não apenas da pobreza. Assim, ricos e pobres são chamados ao arrependimento e ao reconhecimento das suas implicações espirituais, morais e materiais. Baseados nessa inevitável observação da relação do homem com o pecado, nós, enquanto Igreja do Senhor precisamos entender que não são apenas as cadeias da pobreza que prendem a humanidade ao sofrimento, mas que existem outros grilhões que cerceiam a liberdade e cegam o entendimento das pessoas. Como, por exemplo, as drogas, a prostituição e o abandono familiar, que estão presentes nas realidades de todas as camadas da sociedade e não apenas nas classes mais pobres. O fato é que essas atitudes são tipos de pecados que geram apartamento no convívio social, ou seja, rejeição, violência e intolerância, formando, dentro de cada extrato social, determinados grupos de excluídos, execrados, ou, simplesmente, marginalizados. Estas pessoas precisam de Cristo, elas precisam ouvir a proclamação do evangelho e experimentar a vivência prática de uma mensagem de restauração e esperança para a vida e para a eternidade. Elas precisam de uma cura afetivo-emocional, da recuperação de sua dignidade frente à sociedade, de uma condição econômico-financeira que viabilize o seu sustento e principalmente, mas não somente, da salvação de sua alma. É esse o rumo dos pensamentos das comunidades que verdadeiramente se importam em cumprir a missão integral da Igreja do Senhor. Felizmente, essa preocupação com a pregação integral do evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo não está restrita às fronteiras da América Latina. Pelo contrário, apresentou-se ao mundo através de um dos mais significativos congressos evangélicos já realizados na história recente da humanidade, o Congresso Mundial de Evangelização de Lausanne, na Suíça. É necessário falar um pouco sobre esse momento rico da história do evangelho, pois aquele evento realizado em 1974, numa cidadezinha da Europa, reuniu 2.700 líderes evangélicos de mais de 150 países diferentes e mudou a trajetória ministerial de milhares de igrejas no mundo inteiro. Aqueles líderes, reunidos sob o tema “Que o mundo ouça a Sua voz”, enfrentaram os obstáculos impostos pelas suas diferenças culturais, linguísticas e conjunturais, esforçaram-se para deixar de lado as divergências teológicas e produziram um documento de intenções missionárias que ficou conhecido como Pacto de Lausanne. As reflexões ali contidas tornaram-se um marco na contextualização do evangelho e levaram muitos homens e mulheres de Deus, espalhados pelo mundo, a alterar a forma como até então encaravam seu compromisso com o Evangelho, com o Senhor e com a Sua obra. Apesar de ficar longe de conquistar unanimidade, o Pacto conquistou legitimidade, pois, apesar de receber críticas pelas suas inovações, este documento é uma referência mundial para iniciativas cristãs que contribuem para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.18 O Pacto de Lausanne convoca a igreja evangélica a uma 17

BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 10. Não se trata de igualitarismo político ou de comunismo, mas de oportunidades de vida igualmente acessíveis aos diversos setores sociais de uma comunidade ou região. 18

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participação singular nos seus próprios contextos sociais através do efetivo atendimento ao chamado do Pai, na esperança de que o Reino de Deus seja brevemente instaurado. Por isso clama-se: “Que o mundo ouça a Sua voz”. A influência de Lausanne, talvez por causa da sua preocupação com a ação social, foi muito maior nos países pobres, como os da América Latina. Aqui no Brasil o Pacto teve reflexos muito fortes, principalmente entre os membros da ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil). Como resultado disso, três grandes congressos missionários foram realizados entre os estudantes universitários brasileiros. O primeiro deles foi realizado em Curitiba, em 1976, e através de um documento chamado Pacto de Curitiba, estimulou os participantes ao compromisso de uma atividade de evangelização pessoal, porém envolvida com a igreja local, utilizando suas profissões como instrumento ideal para proliferar a mensagem do evangelho em todos os setores da sociedade. Logo depois, em 1983, um novo congresso foi realizado em Belo Horizonte, produzindo, como nos outros encontros, um documento chamado “Compromisso de Belo Horizonte” que é uma reafirmação das linhas teológico-missionárias de Lausanne e Curitiba. E, 23 anos mais tarde, em 2006, realizou-se, em Viçosa-MG, o terceiro encontro missionário promovido pela ABUB nessa linha de ação. Esse encontro, a exemplo dos outros, também gerou uma carta missionária declarando os propósitos bíblicos que devem nortear a igreja moderna, considerando a sua atual conjuntura, nos caminhos da evangelização do Brasil. Os dois grandes elos entre esses documentos produzidos em épocas e lugares distintos são: 1) a humildade em admitir que se faz muito pouco pela evangelização do mundo e; 2) o reconhecimento da necessidade de um envolvimento integral do cristão com a missão da Igreja do Senhor Jesus. Então, mesmo afirmando que todos os perdidos precisam da salvação oriunda do Senhor Jesus, entendemos que a prática da pregação do evangelho deve ser um exercício preferencialmente direcionado ao resgate e à dignificação dos excluídos, ou marginalizados, de maneira geral. E entendemos, também, que toda ação relevante para um povo necessitado tem o seu início ligado a um contexto intelectual que vislumbra uma realidade social impressa no tempo e no espaço. Assim, a Cidade Viva nasceu sob a égide intelectual da mensagem do evangelho debulhada sob o atento olhar da teologia latino-americana e aplicada à dura realidade do nordeste brasileiro. Isso significa que a Cidade Viva foi concebida como um projeto de igreja voltado inteiramente para as reais necessidades do povo que a rodeia.

O DESAFIO DE FALAR D E JESUS PARA UM MUND O PÓS-MODERNO (Texto de Cláudio Régis) Sem os punhos de ferro da modernidade, a pós-modernidade precisa de nervos de aço. Zygmunt Bauman “Não há longo prazo.” 54


Lema do capitalismo contemporâneo – Eu – disse ele ainda – possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe! É útil para os meus vulcões, é útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas... O empresário abriu a boca, mas não encontrou nenhuma resposta, e o principezinho se foi... “As pessoas grandes são mesmo extraordinárias”, repetia para si durante a viagem. (SAINT-EXUPÉRY, 2000: 49).

Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Jesus Cristo (Mateus 16: 26)

O filósofo marxista Frederic Jameson considera os anos 60 como o início da pós-modernidade, entendida por ele como lógica cultural do capitalismo tardio. Mas apenas a partir da década de 70 o debate em torno do tema torna-se mais inflamado. As raízes da discussão encontram-se na crise cultural que se faz sentir, principalmente, a partir do pós-guerra. O desencanto que se instala na cultura é acompanhado da crise de conceitos fundamentais ao pensamento moderno, tais como “Verdade”, “Razão”, “Legitimidade”, “Universalidade”, “Sujeito”, “Progresso”, etc. O efeito da desilusão dos sonhos alimentados na modernidade se faz presente nas três esferas axiológicas por ela mesma diferenciadas: a estética, a ética e a ciência. Tal efeito apresenta-se nos mais diversos campos de produção cultural, tais como a literatura, a arte, a filosofia, a arquitetura, a economia, a moral, etc. Dentro desde panorama, certo pregador propõe a seguinte pergunta: ”Que Evangelho-Boa-Nova cabe para salvar a geração mais incrédula e perversa, complexa, complicada, insegura, agitada, desalmada, tarada, bem-sucedida e insatisfeita, injusta e materialista que já habitou o chão do planeta Terra”?

Ora, estamos numa época em que as igrejas, no sentido das instituições, vivem uma crise de identidade, tentando tresloucadamente se agarrar a modelos pré-fabricados a fim de que possa através destas “muletas” obterem o almejado “sucesso ministerial”.

Paremos para pensar. Se o Evangelho é simples, por que tantos modelos? G12, M12, D2, C3PO, com propósito, sem propósito, de propósito, episcopal, “apostólico”, etc... Tanto faz. O ponto é que esta geração, a geração nascida após a década de 1960, chamada pós-moderna, em que estamos inseridos existencialmente, precisa de respostas e não destes modelos enlatados importados. Mas afinal, quem é este homem pós-moderno?

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Conforme um artigo de Paulo Brabo19, ele define o homem pós-moderno como “ao mesmo tempo cético, espiritual e tolerante. Ele duvida da eficácia da razão, do pensamento linear, da lógica convencional, da explicação racional. Ele está, portanto aberto a todas as formas de misticismo e religiosidade, mas não apostará na validade definitiva de nenhuma, porque crê que todas contêm sua parcela de “verdade” e nenhuma pode ter a pretensão de se posicionar como verdade – possibilidade que arruinaria a validade e a beleza das outras alternativas.” Somos a geração “vídeo-clipe” onde toda linearidade e lógica convencional são desconstruídas. Basta ver a propaganda, o cinema, o vídeo-game, a música, o “facebook”, o “second life”... Nesta sociedade imediatista e flexível, as relações interpessoais são apenas fragmentos de uma “história pessoal”20. “Como transmitir-se a verdade a quem não acredita numa verdade definitiva?” - Pergunta Brabo no mesmo artigo. A alma pós-moderna diz: “Eu posso estar redondamente enganado / eu posso estar correndo pro lado errado / mas a dúvida é o preço da pureza / e é inútil ter certeza.” (Infinita Highway – Engenheiros do Havaí).

Como na música transcrita acima, o homem pós-moderno, ou o filho desiludido do modernismo, não consegue acreditar numa verdade definitiva, absoluta e racional. Verdades vindas das “teologias sistemáticas” não conseguem atingir esta geração. Não adianta ficar falando de “plano de salvação”, “quatro leis espirituais”, “predestinação”, “livre-arbítrio”, ou qualquer plano vindo dos livros e seminários21.

Devemos voltar a Bíblia, compreender e reconhecer que a VERDADE (agora em maiúsculo) que precisamos transmitir é uma PESSOA e não uma série “sensata” de proposições racionais. Devemos transmitir “a insensatez do Evangelho” e o “escândalo da Cruz”. Como escrito acima, esta geração duvidará de toda verdade definitiva, mas sendo esta racional. Portanto devemos apresentar uma verdade relacional, ou ainda, um relacionamento com a VERDADE.

Como assim? Devemos apresentar uma VERDADE-PESSOA chamada JESUS (“a palavra se fez pessoa” ou “a palavra se fez gente” – João 1: 1).

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www.baciadasalmas.com Sennett, R. A corrosão do caráter – consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro. Record. 1999 21 Vejam que eu não estou dizendo que a teologia ou qualquer estudo sistemático não tem valor, mas que a VERDADE é muito mais do que lógica e raciocínio. 20

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Significa que a PALAVRA-VERDADE-PESSOA-JESUS deve ser a tônica de nossa pregação para esta geração.

De que forma precisamos apresentar esta VERDADE?

Para isso, obviamente, não existe respostas prontas. Cabe a cada um de nós em nosso trabalho, família, academia, escola, clube, esquina, casa, grupo pequeno, bares, ônibus, comunidade, roda de amigos, grupo de teatro, sala de aula, vestiário, chat, blog... Enfim, onde estivermos, devemos apresentar JESUS como a VERDADE-PESSOA através de um relacionamento e não com uma abordagem “convencional-racionalista”, pois esta, talvez, não conseguirá despertar interesse de quem estiver ouvindo.

Veja, talvez seja mais importante você contar uma história (Jesus sempre tinha uma parábola ou história – “... a que posso comparar o Reino...” Ele dizia.) ou ir ao cinema com alguém do que chamá-lo para ir a “igreja”, visto que a Igreja somos nós. Abrace seus amigos e deixe que eles vejam Cristo em suas vidas. Aqueça corações através de sua vida.

Tenha em mente que a VERDADE-PESSOA-JESUS não pode ser comprovada ou refutada pelo método científico. Ora, se a VERDADE é uma PESSOA, significa que ela precisa ser abraçada e experimentada, nunca explicada racionalmente.

Estamos diante de um grande desafio. Um desafio que requer uma verdadeira espiritualidade (no melhor e mais amplo sentido), visto que se nós mesmos não abraçarmos e experimentarmos a PESSOAVERDADE-JESUS não estaremos qualificados a apresentá-lo. Outro desafio é rompermos com as barreiras dos métodos, da liturgia engessada, das institucionalizações, das quatro paredes da “igreja” e de todos os achismos e “penduricalhos evangélicos” existentes no mercado.

Precisamos dizer ao mundo que o Evangelho-Boa-Nova-Verdade-Pessoa-JESUS é o poder de Deus para salvação: 

Da depressão (o mal do século segundo a OMS);

Da síndrome do pânico mundial que estamos vivendo;

Do desespero contido na alma civilizada e cheia de fios neuro-elétricos desencapados;

Da insatisfação crônica que consome, consome, consome e nunca sacia!

Da insegurança espiritual que faz que todos se sintam pisando em campo minado!

Das alucinações geradas pelo excesso de informação e marketing;

Do entorpecimento anestesiante, da embriaguez dos sentidos, da promiscuidade suicida;

Das “guerras que militam dentro de nós” segundo Tiago; 57


Da frieza relacional, que impõe o lema: Eu antes, Eu primeiro, eu acima! – como base social dos casamentos, das comunidades, das amizades, das igrejas, das empresas, das corporações e entre as nações! (CF)

Em um artigo escrito em quatro partes pelo Pr. Sérgio Queiroz – As marcas de uma liderança servidora (quem não leu é só entrar no site: www.cidadevida.org.br), observamos alguns pontos interessantes sobre como sobressair neste mundo pós-moderno. Este artigo nos mostra como Jesus é o exemplo do perfil que devemos ter para que “tenhamos uma influência transformadora na vida dos outros” e mostra que “servir” é a chave das relações interpessoais. Um Rabino uma vez disse: Deus não está nas pessoas está entre as pessoas. Significa que se nós que dizemos ter a VERDADE em nossas vidas e não formos relevantes para o próximo, de forma que este enxergue Deus em nós, sinto muito, mas nós estamos transformando a verdade em mentira pelas nossas omissões.

No Reino, as hierarquias são horizontais, não verticais. No Reino, o maior é aquele que serve.

É uma lógica invertida, uma vez que, o homem desta geração é avesso às lógicas. Portanto é um ponto a favor daqueles que querem mudar e transformar o mundo em sua volta.

Pregue a Boa-Nova de Jesus, o Evangelho da Ressurreição, da Graça e da Reconciliação através da sua vida, através dos relacionamentos e se necessário use as palavras.

Lembrem-se, mais uma vez, que as hierarquias são horizontais e que todos devem servir a todos através de seus dons e talentos.

Jesus deu o exemplo, que mesmo sendo Senhor e Mestre, lavou os pés de seus discípulos.

No Reino, os maiores são: João Batista que serviu a Deus até ser “servido” numa bandeja; O samaritano que tratou de um estranho, gastando seu tempo e dinheiro, sem se importar quem era; A prostituta que lavou os pés de Jesus com lágrimas e os enxugou com seus cabelos; Aqueles que vestiram Jesus e o visitaram na cadeia, cuidaram dos pobres, dos órfãos e das viúvas e não os que em nome dele operaram milagres e expulsaram demônios sem, contudo nada amar senão a si próprios e seus ventres.

Por fim, somente a VERDADE-PESSOA-JESUS pode libertar os cativos dos novos cativeiros pósmodernos. Servir não é só “fazer o serviço” da igreja, mas é tentar ter o mesmo “sentimento que houve em 58


Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferra, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achando-se na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”. (Filipenses 2: 5-8)

Pensem nisso.

Nele, que foi, é e sempre será a resposta para todas as gerações.

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REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1a ed. São Paulo: Edições Vida Nova. 2000. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Colossenses e Filemon. 1a ed. São Paulo: CEP, 1993.

HYBELS, Bill. MITTELBERG, Mark. BISPO, Armando. Cristão Contagiante. Descubra o seu próprio jeito de evangelizar. São Paulo:1a ed. São Paulo: Vida, 1999.

SCHWARZ. Christian A. Mudança de Paradigma na Igreja. Como o desenvolvimento natural da Igreja pode transformar o pensamento teológico. 1a ed. Curitiba: Evangélica Esperança, 2000. SENNETT, R. A corrosão do caráter – consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

SPROUL, R. C. Salvos de quê? Compreendendo o significado da salvação. São Paulo: Vida, 2002.

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