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OSGEMEOS contam como transformaram o universo particular em grafites que estão em galerias e nas ruas de diversos países
POR ÂNGELA VILLARRUBIA
É fácil imaginar a arte colorida e substanciosa assinada por OSGEMEOS transportada para a linguagem dos desenhos animados. Pois essa possibilidade empolga Otávio e Gustavo Pandolfo, particularmente conhecidos pelos grafites que transbordam de vivacidade em muros e empenas de cidades do Brasil e do mundo. “Sempre entendemos que nosso trabalho é vivo, animado. Ele fala, tem cheiro, voz, movimento e atitude”, observam.
Eles já fizeram experimentos nesse sentido, mas entendem que essa empreitada tem outra escala e que demanda tempo, dedicação e uma equipe especializada. “Pra nós, é muito fácil enxergar a animação. Temos alguns sonhos [como esse], que sabemos que acontecerão, mas somos felizes com o que estamos fazendo – seja nas ruas, nas telas, com instalações. Já vivemos dentro do sonho”, confessam.
E o sonho começou quando ainda eram meninos. Desde a maneira de arrumar a comida no prato – o feijão virava um carrinho no meio do arroz, enquanto o ovo frito se transformava em um vulcão em erupção –, até a invenção de brinquedos com coisas que muitas vezes pegavam na rua, no bairro paulistano do Cambuci, onde residiam. Vale lembrar que por ali também estava fincado o ateliê de Alfredo Volpi, que chegaram a visitar, levados pelos pais, seus grandes incentivadores. Hoje em dia, os irmãos não abrem mão de manter seu estúdio naquela vizinhança.
A pintura mural começou dentro de casa, mais especificamente na parede do próprio dormitório. “Como pré-adolescentes, queríamos transformar pelo menos o nosso quarto. Tínhamos 11 ou 12 anos. Era algo mais lúdico. Era como uma cápsula, uma máquina do tempo. Ali dentro estávamos dentro do nosso universo”, dizem. Eles também pintaram o quintal e fizeram instalações no meio da sala. Seus pais e irmãos entenderam, desde cedo, que eles viviam nesse cosmo particular e davam liberdade para mergulharem nele.
OSGEMEOS estudaram em escola estadual e cresceram brincando na rua, em frente à casa da família. Logo se depararam com o hip-hop, que foi a brecha para descobrirem outros mundos, como o da street art, ainda pouco conhecida nas décadas de 1980 e 1990. Eles fazem parte da segunda geração de artistas, “mas a primeira do hip-hop”, como salientam.
Eles são contemporâneos de artistas como Speto, Tinho e Binho, entre outros, que tiveram de “descobrir como fazer”. “Com a cultura do grafite, pudemos expressar o que estava dentro de nossas cabeças”, além de encher as ruas de arte – um bem inestimável para qualquer urbe. “Também era uma forma de lutar e de nos afirmar na sociedade. Porque era uma época difícil para se manifestar. Havia ditadura e estava tudo turbulento. Era um movimento ascendente, que ocupava a cidade”, recordam.
Os irmãos não desenham ou pintam diariamente, mas a corrente de ideias é inesgotável. “A cabeça produz todos os dias”. Eles versam sobre absolutamente tudo. “É isso o que nos cativa: mostrar para as pessoas o que vemos, o mundo no qual vivemos. É importante dividir. Falamos muito de amor em nossa obra… Quando coloca-
©FOTO STEPHANIE BLEIER
mos um trabalho na rua, é um portal dentro dessa cidade gigantesca onde moramos”.
Suas realizações são notadamente coloridas e estão repletas de pessoas em múltiplas situações. OSGEMEOS confessam terem estudado e experimentado bastante para chegar ao matiz de amarelo que tinge suas figuras humanas e que imprime muita personalidade a cada criação. Ele representaria seu lado lúdico e espiritual, e começou a aparecer em suas obras no início dos anos de 1990. Otávio e Gustavo também dizem improvisar bastante com o uso da paleta, de forma geral, e enfatizam que todas as tonalidades combinam entre si. Ou, pelo menos, isso funciona dentro do seu trabalho. “A vida aí fora é muito em branco e preto. As cores que havia foram tiradas e transformadas em concreto. Tentamos trazê-las de volta. É muito simples: a vida sem cores é triste”.
Outra característica marcante de sua arte é a quantidade e a qualidade dos pormenores. Eles acreditam que isso ajuda a ilustrar melhor as suas ideias. “As pessoas se sentem mais próximas do que fazemos. Entendem melhor a atmosfera, o clima, o cheiro, o lugar”, ressaltam.
E dentro desse sonho também cabem as exposições em galerias e museus. Foi notória a realizada na Pinacoteca de São Paulo, denominada OSGEMEOS: Nossos Segredos, que posteriormente migrou para o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, e esteve no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. A próxima parada é em Belo Horizonte.
“Com a cultura do grafite, pudemos expressar o que estava dentro de nossas cabeças.”