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ARTE DO LIXO

Wesley Sacardi é um designer brasileiro, nascido em São Paulo, onde viveu até 2020, quando se mudou para o Algarve, região sul de Portugal. Na cidade de Loulé, desenvolve seu trabalho em uma residência artística e participou da Algarve Design Meeting.

A série Descartes é sua principal obra. São peças produzidas a partir de matéria-prima de madeiras de descarte, que provocam inquietude e questionamento ambiental, fazendo com que seu trabalho se destaque internacionalmente. A seguir, alguns trechos da entrevista realizada com Sacardi.

&DESIGN - Como foi sua trajetória profissional até chegar a Portugal?

Wesley Sacardi - Eu comecei a trabalhar com madeira em 2016, quando deixei o mercado publicitário e fiz essa transição profissional. Foi então que passei a criar peças de mobiliário. Eu sempre fui muito aspiracional, sempre gostei muito de criar coisas e a minha infância foi movida pela criatividade. Sempre batalhei bastante para ter essa liberdade criativa. Em 2018, eu já tinha iniciado esse trabalho no Brasil e tive a oportunidade de vir para Portugal a passeio.

Acabei me apaixonando pela região do Algarve. Eu conheci algumas células de criatividade na cidade, em Loulé, onde moro atualmente, e faço parte, como residente artístico, no Loulé Design Lab. Tudo isso fez eu me sentir atraído a vir pra cá e dar continuidade ao meu trabalho.

&D - De onde vem sua inspiração com a Série Descartes? Fale também sobre o banco Bigorna, uma peça icônica da sua coleção.

WS - Sempre me incomodou muito a questão de olhar para as coisas que estavam no lixo e imaginar porque aquilo não tinha outra função. Depois que eu comecei, literalmente, a trabalhar profissionalmente com a madeira – e não mais como hobby –, uma das formas que eu encontrei para treinar foi resgatar as madeiras que estavam nas ruas para fazer bancos e banquetas. E isso foi crescendo. Mas a série Descartes vai além da matéria-prima: é um trabalho para questionar o descarte que nós fazemos e buscar nova utilização para ele. Quando eu criei o banco Bigorna, pensei em elevar o mobiliário, ir além de criar uma identidade com a casa, com o local em que ele está, mas de propor outra função. E o Bigorna possibilita isso, porque forma padrões quando unido a mais peças. Criei uma série de fotos, com oito ou dez peças, onde o banco vai sendo empilhado e surgindo formas infinitas. Eu gosto de peças que possam se transformar: uma peça tem uma função, duas já tem outra. É uma proposta de interatividade com as peças.

&D - Hoje vemos o uso de materiais de descarte dentro do mercado de luxo. Você considera isso uma tendência para o futuro do design?

WS - É um caminho que temos de seguir. E é um questionamento que eu sempre fazia: "por que eu uso algo e depois jogo fora?". Essa matéria-prima já foi produzida e, então, por que não garantir uma nova utilidade para ela? É importante pensar em formas de desenvolver uma produção onde haja essa preocupação com o uso da peça no futuro, como reciclar ou reutilizar sem causar muito impacto. Hoje, as pessoas estão com mais consciência do uso e do consumo de forma geral, existe a questão de responsabilidade como consumidor. Esse mercado da reutilização dos materiais vem crescendo e pode ter peças de arte valiosas. Esse é o desafio dos criativos: pensar como podemos desenvolver algo que vai ter vida nova e longa junto aos consumidores – e que fique bonito! Não é somente o ato de utilizar a matéria-prima e produzir algo sem uma linguagem ou sem um conceito, pois senão acabará gerando mais lixo depois.

Wesley sempre se incomodou com coisas que estavam no lixo e não tinham mais função. Por isso, seu trabalho busca dar vida a madeiras de descarte.

Ao lado, bancos da série Descarte. Acima peças da série Anéis

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