2 minute read

DESIGN COM HISTÓRIAS

Com trabalhos expostos nas principais feiras e mostras internacionais, o designer de móveis Danilo Vale cria peças que narram o universo pessoal

Designer de mobílias, Danilo Vale confessa que na casa dele, onde mora com a família, nada é perfeito. “Tem coisa fora do lugar, meu sofá está manchado de suco que as crianças derrubaram”, diz. Para ele, esses desarranjos fazem parte da história de um lar. “Uma casa perfeita é irreal. Me incomoda, porque não diz nada sobre quem mora nela”.

Da mesma forma que ele gosta de ver a história das pessoas impressa nos lugares em que habitam, Danilo procura imprimir a história pessoal em suas peças. Com isso, seu trabalho carrega muitas referências de Brasília, sua cidade. “Essas influências acontecem naturalmente, na maioria das vezes, eu nem percebo”, afirma o designer, que ganhou projeção internacional participando das mais relevantes feiras e exposições em Milão, Paris, Nova York e outras.

A cadeira Athos, sua primeira peça, é uma releitura dos painéis do artista plástico Athos Bulcão, que estão em várias edificações. A mesa Superquadra faz alusão às fachadas dos edifícios de Brasília e à forma como a cidade foi planejada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. E a mesa Planalto é inspirada no modernismo, também presente na origem da Capital Federal do Brasil. “Acho que apenas o banco Tião, feito com vergalhão de construção e ligado ao movimento brutalista, não tem relação com o Distrito Federal”, diz. Ao mesmo tempo, o fio condutor entre os produtos criados pelo designer tem a limpeza e a leveza do minimalismo.

Na última edição da Semana de Design de Milão, Danilo apresentou sua mais recente produção, a linha Tereza – também exposta na MADE, em São Paulo –, que representa a guinada do designer por se distanciar de Brasília e evidenciar o trabalho manual em seus móveis.

Nessa nova linha, ele trabalha com a ideia da transformação do material ao longo do tempo, o que, trocando em miúdos, significa deixar que o material conte a própria história. “Acho que, quanto mais velho, mais bonito fica o couro, porque vai mudando de cor, racha, ganha formas”, afirma. O designer explica que as peças da Tereza refletem seu desejo de resgatar a técnica manual de tramar tiras de couro – muito forte no artesanato brasileiro – e que, por suas mãos, ganham ares contemporâneos graças às estruturas de aço.

“Meu trabalho tem algo de brasilidade, mas nem sempre é fácil detectá-la, porque ela se mescla com diferentes culturas, já que minha produção bebe muito no estilo contemporâneo e no modernista”, explica.

Como próximo passo, Danilo adianta que, além dos móveis, vai desenvolver objetos de decoração. Como ainda está em fase embrionária, ele prefere não revelar muitos detalhes, mas garante que vai continuar a buscar um design autoral para as novas peças, caminho que persegue desde o início da sua carreira. Também assegura que buscará contar histórias com esses objetos. “O consumidor não está apenas interessado no objeto em si. Ele quer saber da história que existe por trás dele. E esse é o desafio que me proponho desde sempre”, afirma.

Danilo e a cadeira da linha Tereza, que resgata técnicas manuais de trançar o couro

This article is from: