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EM BUSCA DE CONSTRUÇÕES MAIS SAUDÁVEIS
Como a neuroarquitetura tem ajudado a criar ambientes mais equilibrados
Foi depois dos anos 1990 que surgiu a neuroarquitetura, área interdisciplinar que busca compreender como o ambiente físico nos afeta. Segundo a arquiteta Andrea de Paiva, esse entendimento seria o primeiro propósito. O outro, tão importante quanto o anterior, é possibilitar a criação de espaços melhores e mais saudáveis. Assim a neuroarquitetura observa qualquer escala de ambientes, desde as cidades e os bairros até o design de interiores. Antes da neuroarquitetura, a psicologia ambiental estudava essa questão.
“Até então, tudo era focado em técnica, estética e no espaço propriamente dito, e não na relação das pessoas com o espaço que estamos projetando. O foco, agora, é o ser humano e o ambiente, as decisões mais embasadas ao realizar um projeto com design centrado em evidências, amparando-se em estudos científicos para fazer as escolhas”, diz.
Vale destacar o design biofílico – área da neuroarquitetura –, que olha os diferentes aspectos do ambiente para entender como ele pode nos afetar: iluminação (natural ou artificial), formas, layout, proporções, sons, cheiros e cores. Pisos e material de acabamentos também são pensados para criar uma atmosfera que conecte as pessoas com a natureza.
Andrea cita como exemplo o design hospitalar que vem sofrendo mudanças nos últimos anos, devido a questões científicas. “Estudos realizados na década de 1980 mostraram que a recuperação de pacientes, assim como sua percepção da dor, melhoravam quando ficavam em quartos com vista para paisagens naturais, como jardins. O mesmo não acontecia com os que tinham janelas com vista para muros ou a cidade,” fala. Assim, no Reino Unido, alguns hospitais dedicados ao tratamento de câncer são construídos afastados dos centros urbanos. No Brasil, a arquiteta cita a rede de hospitais Sarah Kubitschek: suas unidades são conectadas a jardins.
Curiosidades
1. O médico americano Jonas Salk, inventor da vacina da poliomielite, observou que, toda vez que visitava a Basílica de São Francisco de Assis, construída no século 13, em Assis, se sentia mais criativo. Ele morou na Itália nos anos 1950. Quando voltou para os EUA, no final dos anos 1960, criou o Instituto Salk e convidou o arquiteto Louis Kahn para fazer um projeto que misturasse arte e ciência, funcionalidade e estética. O objetivo era que os cientistas que trabalhassem ali se inspirassem no edifício e passassem a fazer pesquisa científica como arte.
2. O termo neuroarquitetura só surgiu em 2003, após a criação da Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA), na Califórnia, como um setor do American Institute of Architects (AIA), localizado em Washington, DC.
3. A partir do livro Architecture and the Brain: a new knowledge base from neuroscience, escrito pelo arquiteto John Eberhard, membro da AIA, e publicado em 2007, a neuroarquitetura passou a ser difundida nas universidades de arquitetura e hoje tem sido bastante aplicada em projetos de vários cantos do mundo, incluindo o Brasil.
4. Intensificação de áreas verdes, espaços bem iluminados, conforto térmico e acústico, e diferentes texturas são algumas das características da neuroarquitetura. Também é importante a escolha adequada da paleta de cores, de acordo com o propósito do ambiente, e o emprego de materiais, como madeira, bambu, pedras e outros, que ajudam a estabelecer a conexão com elementos naturais.