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NO CAMINHO DAS PEDRAS PRECIOSAS

Dentro de um enorme caldeirão de quartzo, no interior da mina, faiscava um fabuloso tesouro: turmalinas vermelhas

POR BRONIE LOZNEANU

Parece até ficção. Mas é pura verdade – e rendeu livro. Em 1978, Ailton Rodrigues Barbosa descobriu na sua Lavra do Fiote, localizada próxima da cidade de Conselheiro Pena, em Minas Gerais, um bamburro de turmalinas rubilita – turmalinas vermelhas – que, até então, foi a maior produção descoberta no mundo. E elas estavam dentro de um enorme caldeirão de quartzo.

O tamanho e as cores fascinantes das turmalinas vermelhas despertaram o interesse de colecionadores e comerciantes do mundo inteiro. Ailton era um simples minerador e teve a possibilidade de viajar pelo mundo e comprovar a todos sua fantástica descoberta.

Com o resultado financeiro obtido, adquiriu a mina de Governador Valadares, que se situa a 35 quilômetros da cidade. Ronaldo Barbosa, filho de Ailton, seguiu a tradição mineradora do pai e ainda desdobrou o projeto familiar em inúmeras atividades artísticas, projetando seu talento no mundo inteiro. Fascinado pelas formas e cores das pedras preciosas, começou a lapidá-las e utilizá-las em entalhes de objetos, joias e esculturas. Autodidata, se tornou artista e sempre buscou ampliar e valorizar as magníficas pedras preciosas brasileiras. Hoje é reconhecido como lapidador, minerador, escultor e designer de joias preciosas.

Ronaldo Barbosa e o filho de Ailton, em 1978, quando descobriram um bamburro de turmalinas rubitas em suas terras, em Minas Gerais

A escultura curvilínea apresenta, como o nome diz, superfícies e linhas curvas, interligadas ao longo da lapidação. Com isso, as gemas produzidas com essa técnica possuem aspecto orgânico pelo uso de ferramentas de corte arredondado. Os talhos na superfície das gemas reforçam o volume tridimensional a partir do jogo entre luz e sombras, e podem contribuir para criar efeitos de profundidade e maior saturação. Sua reflexão é difusa com interferência dos volumes, como nas esculturas curvilíneas em ametista criadas por Ronaldo Barbosa.

Ele trabalha com muita destreza e atenção todas essas técnicas, pois para cada etapa são necessárias ferramentas diversas e materiais abrasivos que aquecem e desgastam as pedras.

Ronaldo explica que o material em estado bruto precisa ser de excelência, pois a pureza e a forma das pedras interferem no resultado final. As principais gemas que mais utiliza são águas-marinhas, quartzos, turmalinas, ágatas e opalas. Ao dar início a um trabalho, ele faz esboços e, muitas vezes, começa o processo desenhando na própria peça bruta, calculando a resistência de cada uma ao calor. Para isso, usa várias técnicas. Entre elas, a “lapidação diferenciada”, que teve início em 1940 – graças ao lapidário Francis J. Sperinsen e à artista plástica Margaret de Patta, chamada de “lens cut” e “opticuts” – e buscava distorcer a luz no interior da gema, obtendo brilho extraordinário.

A partir dessa tendência, novos estilos foram criados. A escultura angular apresenta principalmente faces planas e linhas retas, obtidas com ferramentas de corte agudo que produzem incisões em forma de “V”, que trazem faces e arestas com ângulos agudos entre elas. As gemas transparentes lapidadas com essa técnica são reconhecidas pela aparência metálica e pelo forte contraste entre luz e sombra. Ronaldo utiliza essa técnica em suas esculturas em quartzo e em peças pequenas para a joalheria.

Já nas formas abstratas e tridimensionais na pedra, o artista foca seu trabalho na inter-relação entre a luz e a pedra, explorando reflexo, refração, brilhância e cor – principalmente em água-marinha, turmalina e quartzo.

Muito inspirado na história da arte, principalmente no abstracionismo geométrico, o artista assina objetos escultóricos que já rodaram o mundo, conquistando inúmeras premiações internacionais. No Brasil, no Gem Show Internacional, obteve a medalha de ouro em 2010, além de ser destaque no evento Gem Sculptor, realizado na cidade de Nairobi, no Quênia. O artista também foi finalista do concurso IU Awards International Gem Cutting and Jewellery Design Competition, em 2012, na cidade de Hong Kong.

Apesar dos holofotes, ele confessa que seu maior sonho é ver o Brasil assumir a posição de liderança local e internacional, enaltecendo esse precioso e rico patrimônio que possui.

“Nossas pedras fascinam muito mais europeus, asiáticos e americanos. Por isso, meu trabalho é mais apreciado e valorizado no exterior”, conta Ronaldo, que também organiza visitas guiadas à sua mina. E garante que tem que atraído turistas de todos os países, principalmente depois que seu trabalho ganhou projeção na publicação Mineralogical Records, a mais importante do setor, e com o lançamento do livro Minerais do Brasil.

“Sinto que o interesse pelas pedras preciosas brasileiras está em alta”, garante.

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