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MF: Aos poucos. No começo, foi complicada a aceitação externa. Sempre fiz meus lançamentos na MADE [feira anual de arte e design que ocorre desde 2013] e notei essa evolução. No início, as pessoas pediam informações sobre as peças e, quando falava que era artesanato, eu as via recuar. Mas segui batendo nessa tecla e senti que, em 2019, com a coleção Alma Raiz, o conceito floresceu. Hoje, esses artigos fazem parte da decoração do [hotel de luxo paulistano] Rosewood.

&D: Então já houve uma mudança de mindset?

MF: Sim. Mas percebo que ainda falta reconhecer o artesão por trás do produto. A Semana Criativa de Tiradentes vem contribuindo para isso, e recentemente participei de um projeto no México com a mesma intenção. É por isso que cada artigo da Yankatu acompanha a “alma”, um caderno que conta sua história – como foi a imersão com a comunidade, a inspiração – e contém páginas em branco para registrar a continuidade dessa narrativa.

&D: Como você mapeia os artesãos com quem trabalha?

MF: Nunca determino para onde vou. Sou convidada por eventos ou instituições, como a Semana Criativa de Tiradentes, o museu A CASA, o Instituto Artesol, e aceito. Procuro não estudar nada antes, gosto de aprender com a comunidade, e o encontro flui. Primeiro, tem muita conversa. Só na segunda ida é que construímos algo juntos. Não interfiro no processo, apenas sugiro, em uma espécie de direção criativa, com muito tato e respeito. O conhecimento brota dos próprios artesãos e os itens nascem.

&D: Qual deve ser o desenho da parceira para que ela seja justa?

MF: Compro a produção da comunidade à vista, e é preciso ter sensibilidade para falar de preços. Pois os artesãos se acostumaram às pechinchas dos compradores, e não pode ser assim. Depois, no ateliê, incorporo a safra nas séries limitadas. E a participação de todos é reconhecida na “alma” de cada móvel ou objeto.

&D: Que questões permeiam a sua produção atual?

MF: Pelo nome da marca, muita gente entende que só trabalho com povos originários, mas a premissa por trás de tudo é a de união. Gostaria de envolver outras comunidades, como quilombolas, catadores, e seguir construindo um olhar cada vez mais plural, preservando a identidade de cada grupo. O mundo precisa de equilíbrio e harmonia, e é isso que me move.

As coleções de móveis e objetos da Yankatu são inspiradas pelos trabalhos de artesãos indígenas ou de populações ribeirinhas

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