DAVID DE SOLA
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CHAINS A hist贸ria n茫o revelada
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CHAINS
DAVID DE SOLA
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CHAINS A hist贸ria n茫o revelada
Título original: Alice in Chains: the untold story Copyright © 2015, David de Sola Copyright desta edição © 2016, Edições Ideal Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação ou transmitida, em qualquer forma ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros), sem a permissão por escrito da editora.
Editor: Marcelo Viegas Conselho Editorial: Maria Maier e Frederico Indiani Capa, Projeto Gráfico e Diagramação: Guilherme Theodoro Tradução: Paulo Alves Revisão: Ricardo Pereira Comercial: Renato Malizia Marketing: Aline Gïercis Foto da capa: © Getty Images Brazil / Los Angeles Times - RM Editorial Images Supervisão Geral: Felipe Gasnier
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) S684a Sola, David de. Alice in Chains: a história não revelada / David de Sola ; tradução Paulo Alves. – São Bernardo do Campo (SP): Ideal, 2016. 384 p. : 15,8 x 22,8 cm Inclui bibliografia. Título original: Alice in Chains: the untold story ISBN 978-85-62885-62-4 1. Alice in Chains (Conjunto musical). 2. Músicos de rock – Estados Unidos - Biografia. I. Alves, Paulo. II. Título.
CDD-927.8166
27.04.2016
Edições IdeaL Caixa Postal 78237 São Bernardo do Campo/SP CEP: 09720-970 Tel: 11 2374-0374 Site: www.edicoesideal.com
ID-37
Para Ñañi e Titía
Nossa música é uma maneira de expressar coisas sobre as quais não falaríamos – coisas que são muito pesadas e muito obscuras. São sentimentos que todo mundo experimenta. É por isso que as pessoas se identificam. — Jerry Cantrell
× A tarefa do historiador não é perturbar simplesmente por perturbar, e sim contar uma história quase sempre incômoda e explicar por que esse incômodo é parte da verdade da qual precisamos para viver bem e viver como se deve. Uma sociedade bem organizada é aquela em que conhecemos coletivamente a verdade sobre nós mesmos, não uma em que contamos mentiras agradáveis sobre nós mesmos. — Tony Judt
SUMÁRIO ×
Introdução
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Parte I: 1967–1984
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Parte II: 1984–1989
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Parte III: 1989–1996
116
Parte IV: 1996–2001
264
Parte V: 2001–2002
290
Parte VI: 2002–2014
306
Agradecimentos
342
Entrevistas e Fontes
348
Notas
350
Bibliografia
378
Outras Fontes
382
Introdução ×
Introdução O que importa é a história, não quem a conta. – Stephen King
Os últimos quatro anos têm visto uma renovação de interesse pela cena grunge de Seattle que dominou a música do início dos anos 1990. Aniversários de álbuns importantes, mortes e induções ao Rock and Roll Hall of Fame, concretizadas ou pendentes, tudo isso inspirou um interesse pelo lugar e pelas pessoas que fizeram a música daquela era. Dos “Big Four” de Seattle, o Nirvana domina a maior parcela das atenções, em grande parte devido à vida e ao talento de Kurt Cobain, bem como ao sucesso pós-Nirvana de Dave Grohl e às polêmicas envolvendo Courtney Love e o espólio de Cobain. O Pearl Jam também atrai um bom tanto de atenção e conta com a distinção de ser a única das quatro bandas a se manter continuamente na estrada há quase vinte e cinco anos, até a publicação deste livro. O Soundgarden se separou e Chris Cornell prosseguiu como artista solo e como integrante do Audioslave, até a banda se reunir em 2010. Mas a história do Alice in Chains é a mais interessante, por diversas razões: como Layne Staley emergiu como um dos vocalistas mais influentes de sua geração, inspirando legiões de imitadores; seu catálogo prolífico, apesar de um tempo relativamente curto em atividade – três álbuns de estúdio, dois EPs e um álbum ao vivo durante o período entre 1989 e 1996; como esta foi a primeira banda de Seattle a conseguir atenção nacional, alta rotação na MTV e um disco de ouro; e também por ser uma história que serve como um aviso sobre como uma banda talentosa quase perdeu tudo, e nem todos viveram para contá-la. No fim das contas, tudo se resume à música, que ainda vive nos corações e nas casas das pessoas, no rádio, nos filmes e programas de TV e na internet. Mozart e Beethoven morreram há séculos, mas ainda se ouve As Bodas de Fígaro e a Nona Sinfonia. O Alice in Chains passou no teste do tempo e envelheceu bem, apesar das circunstâncias difíceis com as quais a banda teve de lidar. O fato de que eles continuam a gravar material novo e tocar ao vivo atesta o poder duradouro e a qualidade de seu trabalho. No verão de 2011, eu estava entre meu primeiro e segundo anos de pós-graduação na Universidade de Georgetown e trabalhando no 60 Minutes. Entre o
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trabalho e os estudos, eu tinha muito para fazer, e isso incluía muitas leituras de madrugada. Durante uma dessas leituras, sem nenhum motivo em particular, coloquei Dirt para tocar, algo que eu não fazia havia muito tempo. Eu sempre tive esse álbum em algum formato ou mídia desde 1992 ou 1993 – primeiro em cassete, depois em CD e, agora, em MP3. Ouvi até o final e me lembrei do quão bom ele é. Naquele momento, fiz uma pequena pesquisa na internet. Tinha ouvido falar que a banda tinha se reunido com um novo cantor e lançado um novo álbum. Procurei online por alguma biografia ou livro sobre eles, achando que alguém deveria ter escrito algo durante os anos que se passaram desde a morte de Layne Staley, e não encontrei nada na linha do que eu estava procurando. Foi nesse momento que tive pela primeira vez a ideia de escrever este livro. Suponho que minha razão para escrevê-lo seja similar à resposta que George Mallory deu quando o perguntaram por que ele queria escalar o Monte Everest: porque está lá. Comecei a trabalhar no livro em agosto de 2011, assim que terminei minhas obrigações com o trabalho e com a pós-graduação. Fiz a primeira de várias viagens a Seattle para pesquisa de campo. Três anos, dezenas de entrevistas gravadas e centenas de páginas de documentos depois, terminei o que é a primeira biografia do Alice in Chains. Oficialmente, a história da banda começou no que hoje é um buraco gigante no chão de Ballard – o local onde um dia havia o Music Bank, onde certo dia, no final de 1987, os quatro membros fundadores se encontraram e tocaram juntos pela primeira vez. Eu quis voltar ainda mais no tempo, para descobrir como e por que os quatro chegaram àquele lugar, naquele momento, e o que eles fizeram individualmente e em grupo nos anos seguintes. Devo deixar claro o que este livro é e o que ele não é. Este livro foi feito sem a cooperação da banda, de seus empresários ou de sua gravadora. Foi desafiador, mas não impossível, contornar sua política de nada declarar. Não gosto dos termos biografia autorizada e não autorizada, por motivos diferentes. Para mim, biografias autorizadas carregam uma conotação de uma jogada de relações públicas oficiais, além da bênção e da cooperação dos protagonistas. Isso é o que este livro não é. Por outro lado, biografias não autorizadas soam como se seu conteúdo fosse lixo sujo e fofoqueiro de tabloide. Isso também é o que este livro não é. Embora as drogas façam parte da história,
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eu não queria que este livro fosse como o Réquiem Para um Sonho ambientado em Seattle. Tampouco queria que fosse uma biografia típica de uma banda de rock. A abordagem e a escrita foram mais influenciadas pelos trabalhos de Walter Isaacson e Bob Woodward do que Stephen Davis ou Mick Wall – sem desrespeito ao Sr. Davis ou ao Sr. Wall. Este livro é a história improvável, divertida, trágica e, por fim, triunfante de como o Alice in Chains surgiu e emergiu como uma das bandas mais influentes da cena grunge de Seattle. É, também, a culminação de mais de uma década de experiência jornalística e acadêmica, e tentei me ater aos padrões mais altos que encontrei em ambas estas vivências.
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PARTE I 1967–1984
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Nunca tracei um plano para a minha vida. As merdas simplesmente acontecem. — Layne Staley
Capítulo 1 Você não canta porra nenhuma! — Ken Elmer
Layne Rutherford Staley nasceu no dia 22 de agosto de 1967, uma terça-feira, no Overlake Hospital em Bellevue, Washington. Seus pais, Phillip Blair Staley e Nancy Elizabeth Layne, viviam na cidade de Kirkland, situada à margem leste do Lago Washington1. O nascimento de Layne foi anunciado na coluna “Nascidos Ontem” da edição do dia seguinte do The Seattle Times. Sob o subtítulo “Do Sr. e Sra.—”, a coluna traz uma listagem alfabética de cada criança nascida no dia anterior em cada hospital da região da Grande Seattle. O último nascimento da lista do Overlake Hospital dizia: “Phillip B. Staley, 10146 N.E. 64th St., Kirkland, menino”2. Phil e Nancy, à época com vinte e nove e dezenove anos, respectivamente, tinham sido declarados marido e mulher por um pastor há quase seis meses, numa cerimônia testemunhada por Paul R. Staley, irmão do noivo, e Margaret Ann Layne, irmã da noiva. No verão anterior, Nancy competira no Concurso Miss Washington como Miss Bellevue. Quando o noivado de Phil e Nancy foi anunciado, em janeiro de 1967, Nancy estudava na Cornish School of Allied Arts3. Era a mais velha das três filhas de Robert L. Layne e Ann J. Becker. Seus pais eram ambos graduados na Universidade de Washington, onde eram envolvidos na cena de fraternidades e sororidades. Phil era o mais velho dos quatro filhos de Earl R. e Audrey Staley. Estudou na Universidade de Denver, onde foi membro da fraternidade Sigma Chi. Vendedor de carros por profissão, Phil tinha o ramo automobilístico correndo nas veias há duas gerações4. Seu pai, Earl R. Staley, era envolvido na fabricação de trailers e em indústrias relacionadas desde 1935, quando tinha apenas vinte e um anos. O avô de Phil, Earl B. Staley, nasceu em 1884 no Kansas, de onde a família se mudou para Denver, segundo o Censo dos EUA de 1900. Earl, que trabalhou na indústria de automóveis e caminhões, começou sua carreira em 1903, atuando em funções diversas no ramo até se mudar para Seattle, em 1907, depois de aceitar um emprego como gerente de serviços na Pacific Coast Automobile Sales Company5.
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Em setembro de 1970, quando Layne tinha três anos, sua mãe deu à luz sua irmã, Elizabeth Audreyann Staley. Sua afinidade pela música apareceu bem cedo. Layne contou à Rolling Stone que sua primeira lembrança era a de ver um carrossel musical pendurado sobre seu berço6. Segundo sua irmã Jamie Elmer, Layne era tido como uma criança muito focada. “Ele ficava completamente concentrado em qualquer desenho ou trabalho de artes que estivesse fazendo. Lembro-me de [Nancy] dizendo que [quando] ele estava realmente concentrado em [...] desenhar algo ou brincar com Legos ou Tinkertoys7 [e] ela colocava um sanduíche na frente dele [...], ele nem percebia. Estava totalmente compenetrado em qualquer desenho ou trabalho manual que estivesse fazendo no momento”. Ela ainda descreveu Layne como muito próximo de Liz. “Nem me lembro de ouvir relatos deles não sendo próximos. E por serem irmãos de mãe e pai, definitivamente havia uma proximidade entre eles que era muito aparente, especial e diferente da que havia entre os demais”. Depois de sete anos de casamento, Phil entrou com um pedido de divórcio em 30 de outubro de 1974. O pedido não informa uma causa específica e afirma apenas que o casamento estava “irreversivelmente desfeito”. Por meio de seu advogado, Phil propôs um acordo e um plano de pensão. Como Nancy nunca foi ao tribunal e nem apresentou recurso para contestar os documentos apresentados pelo marido, o advogado conseguiu convencer a corte a emitir uma ordem aceitando a proposta de Phil8. James Kenneth Elmer era um avaliador a serviço de um banco onde Nancy estava trabalhando como parte de uma campanha de relações públicas. Jim foi a uma festa de Natal em dezembro de 1974, na qual Nancy também estava presente, e os dois foram apresentados por um amigo em comum. Jim não tem certeza se chamaria sua reação inicial de amor à primeira vista, mas disse que “certamente foi interessante. Certamente chamou minha atenção”. Foi uma paquera bem rápida – questão de poucos meses. Jim conheceu Layne e Liz na casa da mãe de Nancy. “Certa noite, íamos sair. As crianças estavam lá. Naquela idade, elas são realmente divertidas. Não aconteceu nada extraordinário, mas foi quando as conheci”. Jim não acha que as crianças entendiam, naquela época, a ideia de que ele estava saindo com a mãe delas. Suas impressões de Layne: “Uma criança sensível e inteligente. Certamente amava a irmã
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e a mãe”. Quando o relacionamento ficou sério, eles conversaram com Layne e Liz sobre isso. Em 13 de junho de 1975, dois meses depois da conclusão do divórcio de Nancy e Phil, ela se casou com Jim Elmer. Nancy por fim tomaria o sobrenome do novo marido. Na época, Layne estava a dois meses de seu oitavo aniversário. Além de Layne e Liz, o filho de Jim de seu primeiro casamento, Ken, foi acrescido à família. Sobre o divórcio de seus pais e o segundo casamento da mãe, Layne diria anos depois: “Não há nenhum segredo obscuro e profundo aqui. Lembro-me de às vezes me perguntar onde meu pai estava, mas na maior parte do tempo eu estava ocupado correndo por aí e brincando”9. Os pais de Ken tinham se divorciado quando ele tinha três anos. Alguns anos depois, ambos se casaram novamente, num intervalo de uma ou duas semanas. De acordo com os termos de visita firmados por seus pais, Ken veria o pai todos os finais de semana, bem como em visitas estendidas durante as férias de verão e feriados. “Layne e eu nos demos bem muito rapidamente. Liz era um ano mais nova do que eu, então ela devia ter uns quatro anos, e ele provavelmente tinha sete, quase oito, e eu tinha cinco, quase seis. Então era uma idade boa. Lembro-me que pegávamos bastante no pé de Liz, mas é isso o que os irmãos mais velhos fazem”, disse Ken. As lembranças de Jim são semelhantes. “Acho que eles se tornaram consideravelmente próximos. São três crianças, sempre vai haver algum tipo de dinâmica e coisa e tal. Mas, de modo geral, nós sempre fazíamos as coisas com os três juntos e mantínhamos todo mundo envolvido”. “Layne sempre foi uma criança gentil e bondosa – inteligente à sua maneira. Não no sentido escolástico, mas certamente de uma inteligência incrível, como perceberíamos mais adiante”, acrescentou Ken. Layne jogou T-ball10 no ensino fundamental, segundo Jim, mas não mostrou muito interesse em esportes ao ficar mais velho. Ken se lembra de assistir jogos de futebol americano dos Seattle Seahawks na TV com o pai, durante os quais Layne ficava entediado e saía da sala. Academicamente, Jim descreveu Layne como “um aluno consideravelmente bom. Não acho que ele só tirava 10, mas ele parecia gostar da escola. Tinha sua turma”. Jim também apontou não perceber “problema nenhum quanto à escola até ele ficar mais velho”. Embora o interesse sério de Layne pela música só viesse a se desenvolver alguns anos depois, algo digno de nota aconteceu em outubro de 1975, quando Elton John estava em turnê e com dois shows marcados no Seattle Center Coliseum. Jim
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queria ir; não se lembra muito bem de como isso aconteceu, mas ele levou Layne ao que seria seu primeiro show11. Quando as luzes se apagaram antes do show começar, as pessoas no local começaram a fumar maconha. Layne olhou em volta, olhou para Jim e perguntou: “Pai, você está sentindo esse cheiro?”. Quanto às impressões de Layne sobre o show, Jim disse: “Ele certamente não se entediou, certamente curtiu a música. O show estava esgotado. Havia muita gente, se comportando bem, e havia uma animação no ar. Ele simplesmente absorveu isso tudo naquela idade”. Nos primeiros dois anos de casamento de Nancy e Jim Elmer, Phil os visitava ocasionalmente para ver Layne e Liz. Por fim, Phil começou a passar cada vez menos tempo com eles, o que levou a uma decisão importante na família. “No caso de Liz, ela chegou ao ponto em que queria um pai que ficasse em casa. Embora ela se desse bem com Phil, quando ele começou a meio que sumir, ela quis um pouco mais de estabilidade e saber que poderia contar com alguém. Conversamos com ela sobre adotá-la e ela gostou da ideia”. Os Elmers procederam de modo que Jim pudesse adotar Liz legalmente como sua filha, decisão com a qual Phil – que se recusou a ser entrevistado para este livro – consentiu. Como resultado, seu sobrenome foi legalmente mudado para Elmer. Layne não respondeu da mesma forma à situação. Segundo Jim, “ele esperava que seu pai voltasse e não queria ser adotado”. Layne usaria o sobrenome Elmer durante o ensino médio, mas nunca mudou seu nome legalmente assim como fez Liz. Layne e Ken desenvolveram interesse por música durante o final dos anos 1970 e o começo dos anos 1980, segundo Ken. “Ambos pendemos fortemente para aquele rock and roll de hair bands: Twisted Sister, Ozzy, Scorpions – quero dizer, isso era tudo o que ouvíamos”. Os gostos de Layne não eram limitados ao metal e ao hard rock da época. Em dado momento, Ken se lembra de Layne ser um grande fã do álbum Glass Houses, de Billy Joel. “Lembro-me que, por mais ou menos um ano, ele gostava tanto daquele disco que chegava a ser uma coisa maluca. E isso foi quando ele era bem novo”. Jim se lembra que Layne gostava de Rumours, do Fleetwood Mac. Quando Layne tinha entre dez e doze anos, Jim o levou, junto com alguns garotos da vizinhança, para um show do Van Halen. “Foi quando eles realmente começaram a gostar de música, creio eu. Estávamos na pista comum, que não tinha assentos, então era aquela área que o pessoal fazia mosh. Então, quando o
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show começou, fui para a beirada. Layne e os dois garotos vizinhos tinham mais ou menos a mesma idade, e eles ficaram lá”. Ele acrescentou: “Fiquei lá com eles por um tempinho e, mesmo naquela época, eu era a pessoa mais velha ali. Uma garota veio até mim com o namorado e me disse: ‘É muito legal da sua parte ficar por aqui’. Levei como um elogio, porque estava uma zona. Foi um ótimo show. Acho que os garotos ficaram o tempo todo na pista”. Anos depois, Layne contaria ao jornalista Jon Wiederhorn que percebeu que queria viver de música na quarta série. “Eu não sabia o que ia tocar. Comecei a tocar trompete, depois corneta, depois bateria. Eu ouvia minhas bandas de rock favoritas nos fones de ouvido e tentava imitá-las. Porém, quando eu tinha quinze anos, percebi que estava ficando bem melhor do que quando comecei, então decidi que queria cantar. Na época, eu tinha uma banda cover com amigos do colégio”12. Os pais de Jim tinham uma casa de veraneio em Long Beach, Washington, e todo verão Jim levava a família para passar uma semana lá. Ken tem muitas boas lembranças de Layne durante essas viagens. Recorda-se de passar o tempo nas dunas ou no Marsh’s Free Museum. No último ano em que foram, Layne e Ken acabaram saindo em dupla a semana inteira com uma garota que trabalhava no museu e uma amiga dela. Um acontecimento muito importante foi o nascimento da filha de Jim e Nancy, Jamie Brooke Elmer, em 20 de janeiro de 1978. Na época, Layne tinha dez anos, Ken tinha nove e Liz, sete13. Em termos de cuidados com os filhos, Jim dá credito a Nancy por entrar num grupo de apoio com outras mães donas-de-casa, com foco em como auxiliar ou melhorar o processo de cuidar dos filhos. “Aquilo foi extremamente importante”, disse Jim. “Acho que aquilo fomentou muitas coisas boas no estado e certamente em nossa família, enquanto as meninas cresciam”. Nancy começou a frequentar o grupo cerca de um ano depois do nascimento de Jamie. Segundo a Rolling Stone, Layne começou a tocar bateria aos doze anos. “Um amigo nosso tinha uma bateria e a ofereceu emprestada para Layne”, recordaria Nancy14. Segundo Ken, “ele começou a tocar bateria e era um bateristazinho muito bom. Mas ele só não tinha muitos contatos ou um grupo muito grande de amigos com quem formar bandas. Existem uns grupos de caras que são assim, e Layne simplesmente não era desse jeito”.
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A decisão de passar da bateria para os vocais foi uma das mais importantes da vida de Layne. Anos depois, ele explicou como isso aconteceu. “Eu tocava bateria e queria cantar uma música, e o vocalista disse: ‘Não, você é baterista. Bateristas não cantam’. Então começamos a brigar, eu guardei minha bateria, entrei na van e dirigi direto para o centro da cidade, onde troquei a bateria por um delay, um microfone e um cabo, e fui para casa e comecei a praticar. Eu era horrível no início, mas tinha encontrado meu instrumento”15. Ken Elmer estava no carro com Layne quando ele mencionou quase sem cerimônia: “Ah, então, eu vendi tudo e comprei um microfone”. Layne e Ken dividiam um quarto grande no andar térreo da casa, cada um com sua cama d’água. Até aquele dia, as camas dividiam o espaço com a bateria de Layne, que foi então substituída por microfones e um PA. “A bateria foi uma parte da família por anos, e Layne sempre foi baterista. E aí um dia eu cheguei para uma visita, e a bateria tinha ido embora. E lá estavam aquelas caixas de som grandes, um amplificador e uns dois microfones. Eu falei: ‘Cara, o que você fez?’”. “Ah, eu vendi tudo. Vou ser cantor”. Ken ficou estupefato. “Eu fiquei tipo: ‘Você não sabe cantar coisa nenhuma!’”, relembrou ele anos depois, rindo muito. “Tipo: ‘Você é uma merda!’”. “Não, é isso o que vamos fazer agora”. Ken não fazia a mínima de onde tinha saído a ideia de Layne cantar. Durante as visitas seguintes, Layne e Ken passaram a transcrever letras do Twisted Sister, dos Scorpions e do Van Halen, para depois cantar junto com as músicas. Isso durou, no máximo, um ano. “A parte engraçada é que eu realmente não achava que ele tinha uma boa voz”. Embora frequentassem escolas em distritos diferentes, Ken se lembra que Layne, naquela idade, tinha pouco interesse nos estudos. “Ele era um cara muito inteligente. Só não tinha tempo para certas estruturas das quais a sociedade dizia a ele para fazer parte. Ele dizia: ‘Que se dane. Por quê?’. E, mais adiante na vida, eu meio que o respeitei por isso”. A respeito de seus anos no ensino fundamental, Layne disse: “Eu detestava a escola. Eu não era muito popular e não me ligava muito em esportes. Gostava de marcenaria e de andar de skate”16.
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Segundo Jim, Layne começou a experimentar drogas e álcool em algum momento da adolescência. “Ele estava andando com uma turma errada e chegando mais tarde em casa da escola. Estava aprontando alguma coisa. Sabíamos disso; sentíamos o cheiro”. Ele não se lembra de sentir cheiro de maconha nas roupas de Layne, mas de álcool, sim. Nunca encontrou resquícios ou apetrechos de drogas no período em que Layne viveu com ele. Durante uma das visitas de Ken, ele e Layne – que tinha entre doze e quatorze anos na época – foram à casa de um vizinho certa noite para assistir Sexta-Feira 13 na HBO. Alguém levou maconha e todos ali fumaram, exceto Ken. Certa vez, Layne experimentou Dexatrim, um medicamento para perda de peso que, na época, era vendido sem a necessidade de receita médica. Segundo Ken, “ele acelera o metabolismo de forma potente. Acho que o que rolava quando éramos garotos era que diziam que, se você tomasse um punhado de comprimidos daquele negócio, bateria como se fosse speed. Quer dizer, você ficaria muito louco. Só me lembro dele experimentar uma vez, que eu saiba”. Ken não sabe a extensão do uso de drogas de Layne naquele período, mas não acha que a vez do Sexta-Feira 13 significasse que ele estava fumando maconha regularmente. Nancy disse ao The Seattle Times: “Ele arrumava encrenca fazendo o que moleques fazem. Experimentou drogas por volta dos treze ou quatorze anos. Então, no ensino médio, ficou longe das drogas, e foi o período em que ele foi mais feliz”17. Ken não se recorda de Layne usando drogas pesadas a essa altura, mas disse que ele bebia. Layne começou seu primeiro ano do ensino médio na Meadowlake High School, em Lynnwood, no dia 8 de setembro de 1981, segundo registros fornecidos por uma fonte da escola. Nessa época, era um dos garotos mais baixos da classe. “No terceiro ano, ele já tinha basicamente perdido o interesse na escola – zombava dele por ser baixo, então ele realmente estava farto”, disse Nancy. Ela deu a Layne a opção de largar a escola. Por volta da mesma época, ele teve um surto de crescimento e passou de um dos mais baixos para 1,82 m – a altura que sempre quis. Disse à mãe: “As garotas têm de começar a me notar”, e decidiu permanecer na escola18. Segundo Jim, “zombaram, sim, dele quando mais novo por causa de sua altura. Ele decerto começou a ficar disperso. Levou um tempo até ele crescer, mas quando cresceu, cresceu bastante. Aí as coisas começaram a mudar”.
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“Consigo me lembrar dele em situações em que era zombado na escola. Umas duas vezes, acabou de maneira mais dramática do que apenas a zombaria. Ele chegou a entrar em brigas e por aí vai. Ele começou a mudar e ficou mais interessado na cultura de drogas e em música, e assim por diante. Definitivamente teve algumas opções”. Segundo Ken, “não vou dizer que ele sempre detestou ter pessoas ao redor, mas não era dos mais sociáveis. Então não acho que era apenas o fato de ele ser baixo, havia um pouco de sua natureza, sua personalidade, também”. Também nota, com um riso discreto, que “Layne não era um grande garanhão com as mulheres. Passava muito tempo sozinho. Não teve muitas namoradas na adolescência”. Quando Layne tinha cerca de quinze anos, ele e Nancy entraram numa discussão. O carro estava carregado para uma viagem de final de semana em família e Layne não queria ir. Jim se recorda: “Eles estavam batendo boca e as coisas começaram a esquentar. Nancy tinha me dito: ‘Por que você não faz alguma coisa?’. Eu estava preparado para apenas ir embora e deixar as coisas esfriarem. Ela diz: ‘Você não está me protegendo’. Ele estava xingando a mãe, esse tipo de coisa – e eu fui pego bem no meio disso, dela sendo verbalmente abusada e tal”. “Saí do carro e fui ver Layne, que estava nos degraus na frente da casa. Levei-o até o quintal e lhe dei uma surra”. Foi a primeira e única vez que Jim fez isso. “Ele não cedia. Isso mostra a determinação daquele garoto. Eu cheguei a empurrá-lo contra a parede da casa, e mesmo assim ele não demonstrou derrota, nem nada disso. É claro que me senti mal, e acho que ele se sentiu mal”. Jim e Layne conversaram sobre o incidente alguns anos depois e se desculparam um com o outro. A família partiu para o final de semana, deixando Layne sozinho na casa. Quando voltaram, havia um cheiro de desinfetante. “Não foi como deixamos a casa. Estava limpa, mas não impecável. Quando chegamos, estava impecável”, recordou-se Jim. “Nancy e eu nos entreolhamos e dissemos: ‘Vamos ficar calmos, ver o que aconteceu e o que ele vai nos dizer’”. Layne os abordou visivelmente abalado e chorando. Ele e seus amigos que moravam ali perto tinham ido a um 7-Eleven para comprar comida. Alguém comentou que os pais de Layne estavam viajando, e se espalhou a notícia de que a casa estava liberada, então uma festa foi organizada. Um dos vizinhos chamou
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a polícia. Jim depois descobriu que, quando a polícia chegou, havia pelo menos cem pessoas na casa. “Layne veio até nós e confessou. Ele estava muito arrependido de as coisas terem saído tanto do controle. Foi sério, porque ele e os dois garotos vizinhos foram de cômodo em cômodo, constantemente tirando gente de guarda-roupas, procurando por drogas e coisa e tal. Quando a polícia chegou e assustou todo mundo, os garotos passaram os dois dias seguintes limpando a casa. Foi um momento revelador na vida dele, que o assustou quanto às coisas estarem fora de controle. Ele mencionou isso porque havia muita, muita gente, e ele não podia fazer nada a respeito”. “Não o castigamos nem nada disso. Ele aprendeu a lição sozinho. Mas foi revelador para todos nós”. Por volta da mesma idade, Layne fugiu de casa pela primeira vez. Estava há alguns dias hospedado com um amigo a duas casas de distância quando a mãe do amigo ligou para os pais de Layne e pediu: “Vocês poderiam vir buscar seu filho?”. Recusaram-se a buscá-lo e pediram a ela que mandasse Layne para casa. O segundo incidente aconteceu cerca de seis meses depois. Layne sumiu por um dia. Naquela noite, estava escuro e chovia, e seus pais receberam uma ligação da Delegacia de Lynnwood, informando-lhes que Layne estava lá e pedindo que fossem buscá-lo. Segundo Jim, ele não foi preso ou detido por nada. “Nancy e eu meio que nos entreolhamos. Temos de traçar um limite, por responsabilidade”. Jim estava inclinado a ir buscá-lo. Depois de conversarem, ele e Nancy decidiram ensinar uma lição a Layne. “Bem, ele andou até aí. Ele pode andar até em casa”, disseram ao policial. “Ele pode não querer fazer isso”. “Bem, você pode trazê-lo ou dizer isso a ele. Já deixamos bem claro, ele sabe onde mora. Apenas diga a ele que o jantar está pronto e a cama está feita”. Layne caminhou até em casa, jantou e foi para a cama. Nunca mais fugiu. “Lá estávamos nós discutindo de novo, agora sobre um filho fujão. Acho que eu e Nancy concordamos que era a melhor coisa a se fazer”, Jim disse a ele. “O ponto da discussão foi que você não pode simplesmente fazer o que quiser na família, fugir, e ter tudo de volta no sentido de irmos buscá-lo e cuidar de você. Depende de você, Layne. É questão de traçar alguns limites – você tem de ter responsabilidades”.
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A lembrança mais antiga que Jamie tem de Layne, datada provavelmente desse período, quando ela tinha cerca de cinco anos, é dele fazendo batata frita na cozinha. Ela também se lembra dele praticando trompete e bateria. Em algum ponto desse mesmo período, ele trabalhou como faxineiro e lavador de pratos num restaurante italiano perto de casa. Segundo Jim, Layne faria qualquer trabalho que dessem a ele, mas não acha que ele tinha habilidade ou foco, na época, para ser garçom ou cozinheiro. Quando Ken vinha visitá-los, aos finais de semana, ele e Layne iam para o quarto e cantavam acompanhando músicas o dia todo. Para Ken, era só diversão. Para Layne, disse Ken, “era como se fosse: ‘Estou treinando para o que quero fazer’. E acho que foi por causa disso que ele endireitou um pouco a cabeça”. “Porque ele tinha um foco. Um objetivo. Tinha algo que lhe dava certo ímpeto. A escola não dava isso a ele. Ele nunca foi demasiadamente interessado em garotas de certa maneira quando mais novo, e isso meio que lhe deu um incentivo. Acho que foi tão importante quanto ele ter 1,82 m de altura”. Ao trocar a bateria pelos vocais, Layne pode ter encontrado algo pelo qual ele tinha paixão e que podia desenvolver, mas foi um encontro e uma sugestão ao acaso de Ken que enfim mudariam o rumo da vida dele.
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Capítulo 2 Porra, sim! Esse é o visual que um vocalista deve ter! — Johnny Bacolas
Certo dia, em 1984, James Bergstrom estava indo de uma sala para outra na Shorewood High School quando encontrou Ken Elmer, um amigo da banda marcial. Ken sabia que a banda de Bergstrom, Sleze, estava à procura de um vocalista, e ele tinha alguém em mente para o posto. “Ei, meu meio-irmão Layne toca bateria, mas ele quer ser cantor. Você devia ligar para ele”, Elmer disse a Bergstrom. Depois da propaganda inicial, Elmer disse, mais contido: “Acho que ele é meio ruim, então não é culpa minha – se não der, tudo bem”. Pouco tempo depois, Ken foi até a casa de Jim e Nancy e disse a Layne sobre o cargo. A mãe de Layne relembrou a conversa para o jornalista Greg Prato: “Layne, tem uns caras na Shorewood High School à procura de um vocalista”, Ken disse a ele. “Bom, eu não sou cantor”, retrucou Layne. “Por que você não tenta, mesmo assim?”1. Um teste foi marcado, enfim. Bergstrom contou ao guitarrista do Sleze, Johnny Bacolas, sobre o novo cantor que iam testar. Bacolas gostou do que ele estava usando – e dele ser magro e descolorir o cabelo. A primeira pessoa que vinha à mente era o vocalista do Mötley Crüe, Vince Neil, banda da qual Bacolas e os outros membros do Sleze eram grandes fãs. O teste aconteceu na casa dos pais de Bergstrom, em Richmond Beach, onde o Sleze fazia do porão sua sala de ensaios. Eram jovens – ainda estavam no início do ensino médio e ainda estavam aprendendo a tocar seus instrumentos e a tocar covers. Tim Branom – um músico que posteriormente produziria uma das demos do Sleze – descreveu a banda: “Eles tinham uma influência de Mötley Crüe, mas punk, algo que hoje só poderia ser descrito como uma vibe raivosa de Seattle, mas numa banda glam, com batom e esmalte pretos. Isso era bastante radical para eles, especialmente porque seus pais eram pessoas muito certinhas e frequentavam a igreja”.
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alice IN chains
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Atenção
Esta é apenas uma prévia. A versão final deste livro possui 384 páginas.
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“David de Sola explica em detalhes fascinantes como o Alice in Chains se tornou uma das bandas mais importantes a emergir da cena roqueira de Seattle e lança nova luz sobre os impulsos obscuros que os levou tanto à grandeza quanto à tragédia. Para ler compulsivamente.” – John Jobling, autor de U2: The Definitive Biography
“Uma abordagem estelar de fontes documentais intercalada com uma profundidade incrível por entrevistas totalmente novas é o que faz desta a primeira biografia abrangente do Alice in Chains. A maioria das bandas de rock só pode almejar este nível de respeito e dedicação ao ter sua história contada.” – Nick Soulsby, autor de I Found My Friends: The Oral History of Nirvana
“Uma história bem documentada de uma das bandas mais importantes e influentes a emergir da cena de Seattle. O livro vai agradar tanto aos fãs do grunge quanto aos de metal.” – Mark Yarm, autor de Everybody Loves Our Town: An Oral History of Grunge
“David de Sola traz uma sensibilidade refinada à história do Alice in Chains... O autor situa habilmente a sonoridade, a atitude e o estilo de vida da banda no contexto de uma época e um lugar particulares... Um livro de fontes pesquisadas à exaustão.” – Kirkus Reviews
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