Miguel Ángel Gil
INICIAR-SE COMO CATEQUISTA
TEMAS BÁSICOS DE FORMAÇÃO
O texto reunido neste volume foi aparecendo na revista
CATEQUISTAS, desde Outubro de 1996 até Maio de 1997 e de Outubro de 1997 a Maio de 1998. O autor utilizou os temas deste livro de modo sistemático em Escolas de Catequistas e de modo ocasional em Cursos e Convívios para Catequistas. Depois de algum tempo de experiência, reviu todo o material e enriqueceu-o com novos contributos.
Ficha Técnica:
Iniciar-se como catequista - Temas básicos de formação
Titulo original: Iniciarse como catequista
Esta edição foi publicada por acordo com a Editora:
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© 2000 Miguel Ángel Gil
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Capa: Paulo Santos
Paginação: João Cerqueira
Imagem de Capa: Dreamstime.com
1ª edição: 2001
3ª edição: Janeiro 2025
ISBN: 972-690-388-2
Depósito Legal.: 540898/24
Impressão e acabamento: Totem
Livro escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico. Reservados todos os direitos. Nos termos do Código do Direito de Autor, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio, incluindo a fotocópia e o tratamento informático, sem a autorização expressa dos titulares dos direitos.
SIGLAS
AG CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Decreto sobre a Acão missionária da Igreja Ad Gentes (7 de Dezembro de 1965).
CA COMISSÃO EPISCOPAL ESPANHOLA DE ENSINO E CATEQUESE, La Catequesis de Adultos, Edice, Madrid 1991.
CC COMISSÃO EPISCOPAL ESPANHOLA DE ENSINO E CATEQUESE, La Catequesis de la Comunidad, Edice, Madrid 1983.
CEE CONFERÊNCIA EPISCOPAL ESPANHOLA
CF COMISSÃO EPISCOPAL ESPANHOLA DE ENSINO E CATEQUESE, El catequista y su formación, Edice, Madrid 1985.
CIC Catecismo da Igreja Católica, Gráfica de Coimbra.
CT JOÃO PAULO II, Exortação apostólica Catechesi Tradendae (16 de Outubro de 1979).
DCG SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Directorium Catechisticum Generale (11 de Abril de 1971).
DGC SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Directorio General para la Catequesis (15 de Agosto de 1997).
DV CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática sobre a revelação divina Dei Verbum (18 de Novembro de 1965).
EN PAULO VI, Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi (8 de Dezembro de 1975).
ENF CONFERÊNCIA EPISCOPAL ESPANHOLA, Esta es nuestra fe. Esta es la fe de la Iglesia, Tercer Catecismo de la Comunidad Cristiana, Edice, Madrid 1987.
GE CONCÍLIO VATICANO II, Declaração sobre a Edu- cação Cristã Gravissimum Educationis (6 de Outubro de 1965).
GS CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática sobre a Igreja no mundo atual Gaundium et Spes (7 de Dezembro de 1965).
LG CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964).
LIC CONFERÊNCIA EPISCOPAL ESPANHOLA, La Iniciación Cristiana, Reflexiones y Orientaciones, Edice, Madrid 1999.
RH JOÃO PAULO II, Carta encíclica Redemptor Hominis (4 de Março de 1979).
SC CONCÍLIO VATICANO II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium (4 de Dezembro de 1963).
TMA JOÃO PAULO II, Carta apostólica Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994).
INTRODUÇÃO
Uma nova sociedade
Estamos cada vez mais conscientes de que vivemos num momento social e cultural novo que afeta muitíssimo a vivência da fé e a sua comunicação aos homens e mulheres de hoje. E nós, catequistas, perguntamo-nos com muita preocupação: Como se deve catequizar nesta sociedade complexa e plural em que vivemos? A nossa mensagem terá valor para a criança e para o jovem atuais? Será possível «viver a fé» no mundo atual?
Com frequência, as mudanças havidas no mundo nas últimas décadas desconcertam e paralisam a nossa catequese, por não sabermos enfrentar os desafios da nova realidade social, cultural e moral em que estão mergulhados aqueles a quem temos de transmitir a fé dos nossos antepassados.
Na maioria das situações, em que temos de realizar a catequese, não temos pontos de referência positivamente experimentados na educação da fé e, sobretudo, não ousamos assumir com sinceridade e coragem a problemática religiosa do momento presente: um mundo de ambiente cristão que desaparece com as gerações mais velhas e um mundo por evangelizar que surge neste confuso e conflituoso século XXI.
É importante que reconheçamos que esta situação de mudança e de crise não afeta só a Igreja e as suas instituições, mas também influencia poderosamente nas tradições mais genuínas dos povos, na política, na escola e – o que ainda é mais grave – na família. Podemos afirmar que as mudanças são tão profundas que atingem todos os setores da atividade humana e têm uma dimensão mundial e até planetária.
A tomada de consciência de uma nova forma de ser, de pensar e de viver não deve conduzir-nos, no campo da catequese, à resignação, à desilusão, ao medo ou à fuga, por verificarmos a diferença cada vez mais conflituosa entre o ambiente religioso, cultural e social, e os valores mais fundamentais do Evangelho. E também não devemos adotar posições de autodefesa, de recusa, de afastamento e de intransigência face às novas gerações de cristãos, porque não entendemos as chamadas que Deus nos faz na história humana com os sinais dos tempos.
Antes de tudo, a realidade presente deve ser para nós um chamamento ao anúncio de Jesus Cristo, à esperança, à coragem da fé, ao testemunho corajoso e decidido do amor de Deus, à corresponsabilidade de todos os membros do Povo de Deus na Evangelização: sacerdotes, consagrados e leigos. À solidariedade com todos os que trabalham pelo bem, pela justiça e pela paz no mundo. Ao reconhecimento do valor e da dignidade de todas e de cada uma das pessoas humanas, à iniciativa e criatividade na proposta clara da fé.
Um novo modo de ser catequista
A novidade do nosso tempo reclama uma notável mudança de comportamento catequético que torne possível a transmissão do Evangelho na situação cultural e social que vivemos. A comunicação entre os povos, raças, culturas e religiões faz do mundo atual um lugar de intercâmbio valioso e de diálogo complexo que temos de discernir, guiados pela força e pela luz do Espírito.
É necessário passar de uma comunicação da fé, que se apoiava, antes de mais, no ambiente social cristão, para uma catequese caraterizada pelo anúncio missionário de Jesus Cristo. Um anúncio que tenha em conta a opção pessoal e con-
duza à conversão, ao seguimento e à profissão da fé no meio de um mundo ferido pela incoerência.
A fidelidade ao Espírito e o serviço aos homens de hoje tem de infundir um novo impulso na catequese: «Perante as correntes culturais do secularismo no Ocidente, a Igreja teve de rever toda a sua atuação em ordem a uma evangelização e uma pastoral que correspondam à nova situação. Esta evangelização encontra uma dificuldade particular naqueles que foram evangelizados, mas não vivem segundo a fé que abandonaram. Por isso, a atividade pastoral da Igreja deverá ter um caráter marcadamente evangelizador» (CEE, Plano pastoral 1997-2000, 44).
Por isso, a grande responsabilidade em que todos os catequistas estão envolvidos é esta: a Igreja deve ser uma Igreja interiormente vigorosa, evangelicamente influente, consciente de si própria e em expansão missionária e, por conseguinte, com capacidade de renovar por dentro, com a força do Evangelho, a humanidade do nosso tempo.
O catequista de que a Igreja precisa será, portanto, uma pessoa impregnada de ardor missionário, isto é, enraizada no seu ambiente, sensível aos problemas dos homens e das mulheres do nosso tempo e à procura das fontes da fé para obter um melhor conhecimento de Jesus Cristo e do mistério da Igreja ao serviço do Reino de Deus no mundo: «Torna-se imprescindível nos evangelizadores um crescimento dinâmico da fé e da esperança que os faça viver aquilo em que acreditam e anunciar o que vivem para comunicar e contagiar o Evangelho» (CEE, Plano Pastoral 1997-2000, 61).
Um caminho de formação
No momento presente, é motivo de satisfação, de alegria e de responsabilidade para todos os que gastam a vida ao serviço de Deus no campo da catequese ajudar os catequistas a descobrir e a cultivar a sua vocação, a crescer no conhecimento de Cristo e a tornarem-se cada vez mais capazes de realizar melhor a missão que a Igreja lhes confia.
A experiência, durante muitos anos corroborada por numerosos sinais, diz-me que, dentro da Igreja, os catequistas são um dos terrenos que melhor acolhem – com amor e agradecidamente – a sementeira da Palavra de vida e que dão fruto abundante, apesar de todas as dificuldades. São estes os catequistas com que o Senhor presenteia a sua Igreja, Mãe e Mestra da fé, numa nova época para a Evangelização.
São inumeráveis os catequistas – homens e mulheres, jovens e adultos – que servem o Senhor na mesma missão confiada por Jesus Cristo aos seus Apóstolos: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura» (Mc 16, 15).
Os catequistas realizam essa tarefa com a pobreza e a humildade que caraterizam os enviados de Jesus: «Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão nem alforge nem dinheiro no cinto» (Mc 6, 8).
As reflexões desta temática foram preparadas a pensar em todos os catequistas, no cultivo da sua vocação e no desenvolvimento da sua formação. Esta formação realiza-se através das mais diversas formas: Escolas de Catequistas, Cursos de Formação Sistemática, Cursos Breves, Retiros, Exercícios Espirituais, Convívios, etc.
Todos os capítulos deste livro incluem elementos que se referem a todas as dimensões de formação dos catequistas: o «ser», o «saber» e o «saber fazer» (Cf. DGC 238).
Além da exposição do tema, cada capítulo tem os seguintes conjuntos:
O DIRECTÓRIO GERAL
PARA A CATEQUESE DIZ...
Uma oportunidade para que vás conhecendo-o e interessando-te por este instrumento pastoral de primeira ordem.
QUESTÕES PARA O DIÁLOGO
Pistas para trabalhar em grupo.
REFLECTE E PERGUNTA A TI PRÓPRIO/A
Sugestões para a «lectio divina» e para a oração pessoal.
PARA RECORDAR E VIVER
Sete palavras para que continues a investigar o que é fundamental para a tua formação e vida de catequista.
TEM EM CONTA QUE...
Cinco afirmações que resumem o conteúdo do tema para que, desta maneira, melhor o possas receber, reter, viver e proclamar.
ORAÇÃO
Momento imprescindível para que fales com Deus como catequista que és.
Uma última recomendação: Recorre constantemente à Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização. Confia n’Ela e imita-A em todos os teus trabalhos. Pede-Lhe – a Ela que é a Cheia de Graça– que interceda junto de seu Filho por todos os catequistas, para que nos torne sensíveis às necessidades dos homens e das mulheres do nosso tempo, como Ela fez nas Bodas de Caná. Imitemos a sua decisão de apresentar Cristo a todos os que nos rodeiam. Digamos com Ela: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). Acompanhemos aqueles que a Igreja nos confiou, para levá-los Àquele que é o único Caminho, a única
Verdade e a única Vida, o único em Quem podemos salvar-nos:
«O fim da catequese é: Pôr, não apenas em contato, mas em comunhão com Jesus Cristo: somente Ele pode conduzir-nos ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade» (CIC 426).
Miguel Ángel Gil López
ENVIADOS EM NOME DO SENHOR
O catequista é chamado por Deus, na Igreja, para cooperar no anúncio do Reino de Deus no meio do mundo. Toda a vida do catequista há-de referir-se a Jesus Cristo: «Aquele que é chamado a «ensinar Cristo» deve, portanto, antes de mais nada, procurar “esse lucro sobreeminente que é o conhecimento de Jesus Cristo”» (CIC 428). Representa-O na obra da catequese. As palavras e os gestos do enviado devem reproduzir, o mais fielmente possível, Aquele que o enviou. A identidade do catequista é, pois, ser um: «Chamado por Deus, participante da missão de Jesus, Mestre, movido pelo Espírito, na Igreja, ao serviço dos homens» (Cf. CF 17-81).
Enviou-os com poder (Cf. Mc 3, 14-15)
O catequista tem de tomar consciência da autoridade que o Senhor lhe conferiu para realizar nos outros a obra do ensino da fé. Não deve ter medo de proclamar com valentia ao mundo inteiro o que lhe foi entregue como mensagem de salvação. Jesus Cristo, o Enviado do Pai, falava como quem tem autoridade e com essa mesma autoridade envia os seus discípulos: «Como o Pai Me enviou, assim também Eu vos envio» (Jo 20, 21).
O catequista não se pode erigir em mestre absoluto do que ensina. Ao participar na mesma missão que Jesus Cristo, há-de ser fiel dispensador do que recebeu, fazendo e dizendo tudo
por Cristo, com Ele e n’Ele, tal como proclamamos no grande louvor com que se conclui a Oração Eucarística. A função de ensinar exige que o catequista ouça com docilidade a mensagem revelada e seja corajoso para anunciá-la sem receio daqueles que tem de catequizar.
A celebração diocesana ou paroquial do «Envio de Catequistas», feita pelo bispo ou pelo pároco, em cada ano pastoral, é um sinal na Igreja local da autoridade com que o catequista fica investido para cumprir a sua tarefa evangelizadora.
A sua missão é a própria missão da Igreja, sua Mãe e Mestra: dar a conhecer, a todo o mundo, Jesus Cristo e seu Pai sob a orientação do Espírito Santo.
O Espírito Santo é quem dá a luz e a força necessária para que, como enviados de Deus, falem aos que se estão a formar na fé, com a segurança e humildade de quem se sabe enviado e assistido, em todo o momento, pelo dom que vem do alto. O próprio Espírito que inundou Aquele que é o único Mestre e Senhor, Jesus Cristo: «Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os Seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os escribas» (Mt 7, 28-29).
Um irmão entre irmãos
A autoridade de ensinar com que a Igreja reveste o catequista não o dispensa de apresentar-se diante do seu grupo com simplicidade e humildade, como um irmão entre irmãos. À imitação do Mestre que sempre cumpre a vontade do Pai, o catequista há-de amar aqueles que catequiza. Tornados filhos de Deus, no seu Filho Jesus Cristo, e chamados a fazer parte da família dos filhos de Deus, deve reconhecê-los como seus verdadeiros irmãos em Cristo.
O catequista deve ser um irmão experimentado que, de certa maneira e por graça de Deus, já percorreu algumas etapas do caminho da fé e continua a lutar por alcançar a meta a que foi chamado. Assim, pela missão recebida do alto e pela experiência própria da fé, pode acompanhar outros no caminho da iniciação cristã.
O catequista é um irmão movido pelo amor de Deus que sente a vocação de instruir os outros irmãos e se aperfeiçoa cada vez mais na arte de ensinar com a própria pedagogia divina. Nessa missão específica magisterial, o catequista encontra uma resposta à chamada pessoal de Deus.
A experiência da fé do caminho percorrido, entre luzes e sombras, levá-lo-á a tratar os mais lentos com paciência e a contemplar com alegria e satisfação os que progridem mais rapidamente na vida cristã. Deste modo, cumpre uma regra importante na pedagogia da evangelização: «Respeito pela situação religiosa e espiritual da pessoa que se evangeliza; respeito pelo seu ritmo que não se pode forçar demasiado; respeito pela sua consciência e pelas suas convicções que não se podem atropelar» (EN 79).
A atitude de respeito do catequista para com os irmãos é um prolongamento da atitude de respeito com que Deus o tratou sempre: «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36).
Como irmão entre irmãos, procurará continuar a avançar na sua própria vida de fé. Na medida em que acompanha os outros, deve também ele próprio deixar-se transformar pela Palavra de Vida que anuncia. Cada catequese é para o próprio catequista uma ocasião de progresso no conhecimento do mistério de Cristo, de avanço no seguimento do Senhor, de oração e de celebração da fé com os irmãos. E, finalmente, um momento
de descoberta de novos chamamentos na entrega a Deus e ao serviço dos mais necessitados.
Um discípulo de cristo
Todo o interesse do catequista deve centrar-se em tornar Cristo presente no meio dos que O procuram de coração sincero e daqueles que não O procuram de modo consciente ou inconsciente, mas que, do mais profundo das suas vidas, clamam ansiosamente por Ele.
Não é função do catequista repetir mecanicamente os gestos de Cristo diante de quem catequiza, mas torná-Lo presente pela Palavra que proclama e pelo testemunho da sua própria vida. Testemunho que dá na sua família e no seu ambiente. O amor que o catequista manifesta na sua vida ordinária deve levar quem o vê a descobrir o amor profundo de Cristo a cada pessoa concreta.
O catequista aspira poder dizer como Jesus: «[Pai,] a vida eterna consiste nisto: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a Quem enviaste» (Jo 17, 3). Ora o catequista acede a esse mistério de amor e comunhão trinitária mediante a celebração assídua da Eucaristia, da oração pessoal e do estudo paciente da Boa Nova que há-de transmitir: «Deste conhecimento amoroso de Cristo brota o desejo de O anunciar, de «evangelizar» e levar os outros ao «sim» da fé em Jesus Cristo» (CIC 429). Como é bela a missão e que grande é a responsabilidade do cristão catequista!
Consequentemente, a meta da função do catequista não é dar-se a conhecer nem orientar e reter o amor dos discípulos para si, mas a de ansiar por que, através do seu ministério catequético, aqueles que vai catequizando, com todo o seu ser, conheçam Jesus Cristo, O amem, sigam e proclamem Senhor:
«Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado; tudo o mais o é em referência a Ele. E só em Cristo ensina. Todo e qualquer outro o faz apenas na medida em que é o seu porta-voz, consentindo em que Cristo ensine pela sua boca [...]» (CIC 427).
A figura de João Baptista é um grande modelo que todo o catequista deve imitar, tanto no modo de anunciar com humildade a mensagem, como no modo de apresentar Jesus. O catequista tem de estar profundamente convencido do protagonismo e da centralidade de Jesus Cristo no plano salvífico de Deus, até fazer suas as palavras de João: «Ele deve crescer e eu diminuir» (Jo 3, 30).
Além disso, o catequista tem de imitar João Baptista na austeridade, no desprendimento e na pobreza de vida no meio de uma sociedade que – hoje, como acontecia no seu tempo –põe a sua confiança nos poderes deste mundo. Desta maneira, o catequista orienta e estimula com o seu testemunho de austeridade a colocar o coração nos bens imperecíveis que nos chegaram no Reino de Deus presente em Jesus.
Todo o catequista deve anunciar corajosamente, mesmo à custa da sua própria vida, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo: «Aquele que é chamado a “ensinar Cristo” deve, portanto, antes de mais nada, procurar “esse lucro sobreeminente que é o conhecimento de Jesus Cristo”. Tem de “aceitar perder tudo [...] para ganhar Cristo e encontrar-se n‘Ele” e «conhecê-Lo, a Ele, com a força da sua Ressurreição e a comunhão nos seus sofrimentos, conformar-se com Ele na morte para, se possível, chegar a ressuscitar dos mortos”» (Fl 3, 8-11). (CIC 428). Assim, como um dia disseram os discípulos de João, os que estão a receber a catequese, pelo anúncio do catequista, hão-de encontrar a felicidade, a que todos estamos chamados em Cristo Jesus, Senhor Nosso.
No momento presente
O tempo real para um cristão é composto de passado, presente e futuro. A sua pessoa e a sua missão situam-se no tempo de Deus e não nas perspectivas curtas do tempo dos homens. A história humana é, por pura graça de Deus, História de Salvação: «Começou no passado, desenvolveu-se e alcançou o seu cume em Cristo; desenvolve o seu poder no presente e espera a sua consumação no futuro» (DGC 107).
E o catequista deve viver em harmonia com os dons recebidos de Deus Pai, no passado, por seu Filho Jesus Cristo, no Espírito Santo, sabendo que, ao mesmo tempo, são atuais e eficazes no presente no meio da sua Igreja e que se manifestarão um dia com todo o esplendor na vida do mundo futuro.
É um notável trabalho catequético ensinar o catequizando a ler a história humana como História de Salvação. A humanidade não está perdida no presente sem saber de onde vem, nem está confusa perante o futuro por não saber para onde vai nem o que a espera.
O «hoje de Deus», cuja fidelidade dura para sempre, é para nós uma realidade fecundíssima de amor e de salvação.
Caminhamos decididamente no presente que Deus nos concede, como dom e como tarefa, em direção à terra definitiva na casa do Pai.
Um catequista deve apresentar-se em todo o momento como alguém que é devedor e continuador de uma eficaz História de Salvação que vem de longe. Como alguém que reconhece no momento atual a presença viva do Espírito Santo e sabe que Deus pôs nas suas mãos a sua obra de salvação, para tornar presente o seu Reino, revelado no seu Filho, Jesus Cristo. Este Reino já é dom de Deus presente e, simultaneamente, reclama a
entrega e a cooperação do homem, até se manifestar consumado para glória de Deus Pai.
Uma pessoa pobre e humilde
A Santíssima Virgem é o modelo singular da vida de todo o catequista. A obra de Deus n’Ela realizada faz com que Maria reconheça a grandeza de Deus e aceite com humildade ser serva do Senhor. A sua missão é dar ao mundo, totalmente, o que Deus lhe entregou plenamente como o dom mais precioso, o seu próprio Filho, para a salvação de todos os homens. E a Virgem Maria cumpre a sua missão com total docilidade e fidelidade.
O catequista não dá aos outros algo que exclusivamente lhe pertence ou que tem o seu fundamento em si próprio; não se prega a si mesmo, mas dá e prega o que recebeu de Deus gratuitamente.
A humildade e a pobreza são duas virtudes que, como catequistas, temos de pedir, cultivar e viver na nossa espiritualidade. À imagem de Maria, a humildade e a pobreza tornam possível a resposta decidida da fé com o coração posto exclusivamente em Deus e do compromisso generoso com aquelas pessoas a quem somos enviados: «Na sua vida, a Virgem Maria deu exemplo daquele afecto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens» (LG 65).
O catequista é pobre porque reconhece que recebe de Deus tudo o que é, o que tem e o que anuncia. Nada é exclusivamente seu. É humilde porque reconhece, em todas as obras que realiza no campo da catequese, a salvação que Deus opera – e só Ele – naqueles que catequiza: «A pobreza mantém-nos na humildade, na doçura, na mansidão e na oração, diante de Deus e dos homens» (Bem-aventurado António Chevrier).
O DIRECTÓRIO GERAL
PARA A CATEQUESE DIZ...
Contempla Jesus Cristo durante uns minutos. Reconhece n‘Ele o caminho que deves seguir para exercer dignamente a vocação de catequista. Pede-Lhe com humildade e cheio de confiança que possas transmitir a fé a quem tens de catequizar no seguimento das suas pegadas: Jesus cuidou atentamente da formação dos discípulos que enviou em missão. Apresentou-Se diante deles como o único Mestre e, ao mesmo tempo, como amigo paciente e fiel; a sua vida inteira foi um ensino constante; estimulando-os com perguntas a propósito, explicou-lhes de maneira profunda tudo o que anunciava ao povo; ensinou-lhes a oração; enviou-os dois a dois para se prepara- rem para a missão; prometeu-lhes e, depois, enviou-lhes o Espírito do Pai para que os guiasse à verdade plena e os apoiasse nos inevitáveis momentos de dificuldade. Jesus Cristo é “o Mestre que revela Deus aos homens e o homem a si próprio; o Mestre que salva, santifica e guia, que está vivo, que fala e exige, que comove e corrige, que julga, perdoa e caminha diariamente connosco na história; o Mestre que vem e que virá na glória’’. Em Jesus Cristo, Senhor e Mestre, a Igreja encontra a graça transcendente, a inspiração permanente, o modelo convincente para toda a comunicação da fé» (DGC 137).
QUESTÕES PARA O DIÁLOGO
1. Estás consciente da autoridade que a missão de seres catequista te confere? És corajoso/a e humilde?
2. Esforças-te por acompanhar outros no seu processo de conversão? Em que se nota que a tua vida também vai mudando enquanto fazes catequese?
3. Vives o presente como um dom recebido do amor de Deus aos homens? Entregas-te feliz à tarefa presente, com a esperança de que, um dia, chegará a plenitude no mundo futuro? Com que sinais manifestas na tua vida diária o agradecimento do passado como dom e a esperança do futuro como promessa?
REFLECTE E PERGUNTA A TI PRÓPRIO/A
Jesus chamou aqueles que quis: Mc 3, 13-19; cf. Jo 3, 27-36.
1. Agradeces ao Senhor o mistério de graça que é para ti o facto de teres sido escolhido por Deus para a missão de catequista?
2. Compreendes que teres sido chamado por Deus supõe a vocação própria do discípulo de Cristo de «estar com Ele» para depois «ser enviado»?
3. És consequente com a missão de teres sido enviado a fazer o mesmo que Jesus fez: proclamar a Boa Nova da salvação com obras e palavras?
PARA RECORDAR E VIVER
• Virgem Maria
• Enviado
• Envio de catequistas
• Jesus é o Caminho
• História de Salvação
• Pobre
• Humilde
TEM EM CONTA QUE...
1. O Senhor dar-te-á a força necessária para que cumpras fielmente a obra confiada na catequese.
2. Deves ter com cada um dos que a Igreja te confiou na catequese a mesma paciência que Deus tem contigo.
3. O teu principal interesse deve ser cumprir em todo o momento a vontade do Pai, como Jesus fez.
4. Os teus olhos e ouvidos devem estar sempre abertos para ver e captar os sinais dos tempos e acolher os gemidos do Espírito Santo presentes na vida diária de cada pessoa.
5. Quanto mais te apoiares em Deus e confiares n‘Ele, como fez durante toda a sua vida a Virgem Maria, sua Mãe e nossa Mãe, tanto mais te sentirás humilde, pobre e corajoso para anunciar o Evangelho no mundo atual.
ORAÇÃO
Deus todo bondade, suplico-Te me concedas a graça de amar-Te com todo o coração. Dá-me também a graça de amar todos os homens e de não julgar nem nunca desprezar ninguém. Faz com que eu não procure agradar a ninguém fora de Ti e que não tenha medo de desgostar ninguém mais do que a Ti.
Concede-me que, em tudo e acima de tudo, só queira a tua graça e a tua vontade adorável.
Amantíssimo Senhor, peço-Te também que eu não continue a envaidecer-me, mas sim a apoiar-me totalmente em Ti e nos teus méritos santíssimos; a pôr neles a minha esperança e a minha confiança, mas sem deixar de fazer em todo o momento tudo o que estiver nas minhas mãos.
Amen.
João RuysbRoek, o AdmiRável, 1381