Pedrosa Ferreira
FALAR DE DEUS ÀS CRIANÇAS DE HOJE
SALESIANOS
EDITORA
Ficha Técnica:
Falar de Deus às crianças de hoje
© 2007 Pedrosa Ferreira
Copyright desta edição:
© 2025 Salesianos Editora
Rua Duque de Palmela, 11
4000-373 Porto | Tel: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt
Capa: Paulo Santos
Paginação: João Cerqueira
Imagem de Capa: Dreamstime.com
1ª edição: 2007
2ª edição: Janeiro 2025
ISBN: 978-972-690-550-9
Depósito Legal.: 540899/24
Impressão e acabamento: Totem
Livro escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico. Reservados todos os direitos. Nos termos do Código do Direito de Autor, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio, incluindo a fotocópia e o tratamento informático, sem a autorização expressa dos titulares dos direitos.
INTRODUÇÃO
Este livro não se destina diretamente às crianças, mas aos seus pais e catequistas do século XXI, isto é, dum tempo em que as crianças, vivendo numa sociedade cada vez mais secularizada e de grande ignorância religiosa, fazem perguntas acerca de Deus.
Está redigido em forma de perguntas e de respostas, a fim de facilitar a sua leitura. Mas o que se explica não é exatamente o que se irá dizer à criança. É apenas uma orientação no sentido de ajudar a dar a melhor resposta. As crianças necessitam de respostas simples, breves, adaptadas à sua idade. Os pais e catequistas, a partir destes textos, darão certamente uma resposta que ajudará a criança a perceber quem é Deus.
Este livro não pretende ser nenhum catecismo muito bem elaborado, com respostas religiosamente corretas e muito bem arrumadas. Aliás, quem quer consultar um desses catecismos, terá o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Esta publicação não passa de um subsídio que pode ajudar a falar de Deus com as crianças de hoje, sem de modo algum se substituir à catequese.
Além disso, são apenas algumas perguntas, quando há muitas outras que podem ser feitas pelas crianças. Além disso, todos temos consciência de que não temos respostas para muitas outras perguntas, sobretudo quando se tenta falar de Deus. É mais o que não sabemos do que o que sabemos. Deus é o Totalmente Outro. Não está limitado pelo espaço nem pelo tempo, e não se deixa encerrar nos nossos discursos.
Apesar da simplicidade das respostas a possíveis perguntas, procurámos ser fiéis à fé da Igreja. Como grande fonte de
inspiração está a primeira encíclica do Papa Bento XVI chamada «Deus é Amor». Quando cria, quando envia Jesus, quando é Trindade, quando quis um Povo, quando se mantém silencioso, Deus é sempre Amor e a sua alegria é que tenhamos vida em abundância.
Convidamos os pais e os catequistas a terem a ousadia de falar de Deus com as crianças, escutando as suas perguntas e dando respostas simples mas não simplistas. No diálogo com elas, talvez tenham ocasião de ver a realização daquelas palavras de Jesus: «Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes, e as revelaste aos peque- ninos» (Lc 10, 21).
1
DEUS - CRIADOR
QUEM INVENTOU
DEUS?
Desde sempre que os homens acreditaram na existência de forças muito poderosas que não conseguiam dominar. Por exemplo, perante uma inundação ou um tremor de terra. Como não conseguiam compreender nem dominar essas potências, julgavam que pertenciam a um outro mundo e quiseram saber quem era o seu autor. Apareceu assim o nome de Deus.
Mas os homens não inventaram o verdadeiro Deus como quem inventa um objeto que, a partir desse momento, continua a existir. Ele existe antes de todas as coisas, é o Criador do Universo, vive fora do tempo, é eterno. Ele é passado, presente e futuro. Está para além do espaço e do tempo.
Para adorar e respeitar esse misterioso Deus, os homens inventaram leis que deviam cumprir. E assim nasceram as religiões.
Há povos que acreditavam em muitos deuses, como as religiões grega e romana. Eram politeístas. As religiões que acreditam num único Deus são monoteístas. É o caso do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. A palavra «deus» vem do sânscrito (antiga língua indiana), e significa «céu luminoso», o lugar onde habita a divindade. De fato, Deus é como uma Luz que, mesmo que os homens fechem os olhos, continua a brilhar.
QUEM É O DEUS
DOS CRISTÃOS?
Para os cristãos, Deus foi quem criou o mundo e tudo o que nele existe. Criou também o homem à sua imagem e semelhança. Mais tarde, Deus quis ir revelando progressivamente o seu rosto ao povo de Israel.
Com ele concluiu uma aliança de amor: «Vós sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus». Foi manifestando gradualmente o seu amor fiel, apesar do povo ser muitas vezes infiel ao seu amor.
Deus, contudo, foi mais além. Quis fazer-Se homem e, para isso, enviou o seu Filho Jesus, nascido da Virgem Maria. Jesus é o rosto humano de Deus, é Deus connosco. Quem vê a Jesus, vê a Deus.
Este Deus dos cristãos tem um rosto de Pai Criador do mundo, de um Filho que é Jesus, e de um Espírito, o Espírito Santo. Deus é Trindade.
Poderíamos dizer coisas sobre Deus, balbuciando palavras humanas para descrever um Deus que não Se deixa encerrar no espaço e no tempo. Dizemos que Deus é infinito, todo-poderoso, bom, misericordioso, eterno. Mas a melhor definição foi dada por S. João: «Deus é Amor».
Ama-nos com um amor fiel e convida-nos a uma resposta de amor. E isto para que termos vida em abundância e sermos felizes para sempre.
COMO COMEÇOU
O MUNDO?
O livro do Génesis, que é o primeiro livro da Bíblia, começa assim: «No princípio, Deus criou o céu e a terra». Neste livro há duas descrições da criação do mundo, escritas em épocas diferentes. Uma delas conta que Deus criou o mundo em sete dias. Depois de ter separado as águas da terra e de ter criado as plantas e os animais, criou o homem e a mulher. Depois descansou.
Ao ler este texto, vemos facilmente que se trata de um poema muito belo, onde se afirma que Deus sentiu alegria ao criar o mundo e o homem. Repete como que em refrão: «E Deus viu que era bom!»
Esta narração bíblica não explica como começou o mundo. Pertence aos cientistas descobri-lo. Diz-se atualmente que o mundo começou com um «big-bang», isto é, uma gigantesca explosão. O que a Bíblia quer afirmar é que, seja como for, o mundo é obra de Deus. Ele criou o universo e todo o ser vivo. Deus criou o mundo e entregou-o ao homem para que continuasse a sua obra criadora. Ele disse ao homem: «Crescei e multiplicai-vos e dominai a terra». Deus não Se ausentou; continua presente de uma forma invisível neste mundo, obra sua, desejando que nos convençamos a fazer dele um jardim muito belo, onde todas as pessoas vivam felizes.
POR QUE CRIOU DEUS
O MUNDO?
Por que é que Deus criou o mundo e o entregou aos homens? Por que é que criou os mares, que cobrem a maior parte do nosso planeta? Por que é que criou as montanhas e os rios? Por que é que criou os cinco continentes? Por que é que criou toda a espécie de vegetação e tantas variedades de animais domésticos e selvagens? Será que Deus precisava de criar o mundo ou tê-lo-á feito por um ato de amor?
Deus criou o mundo com tudo o que ele contém por um ato de amor. A Bíblia não pretende explicar como é que surgiu o mundo e o primeiro homem. Isso pertence aos cientistas. Ela pretende transmitir uma mensagem que nos vem de Deus: Ele criou o mundo para no-lo oferecer como um dom de amor, gratuitamente, e para nele habitarmos e fazermos dele a nossa casa.
O mundo é um dom de Deus ao homem e, simultaneamente, um empenho. Deus deixou aos homens um mandamento: este mundo está incompleto e devem ser eles a completá-lo. Não o fazem quando destroem as florestas, ou poluem as águas dos rios e dos mares.
O progresso deve servir para continuar a obra de Deus. Virá um dia em que este mundo passará para dar lugar a uns «novos céus e uma nova terra».
QUEM FOI
O PRIMEIRO HOMEM?
Os sábios ainda não conseguiram responder a esta pergunta. Não há ninguém que tenha ainda tido a ousadia de colocar num fóssil de há quatro milhões de anos um cartão de visitas com a frase: «Eu sou o primeiro homem». Há quem diga que o berço da humanidade foi a África.
O primeiro homem podia ser parecido com o macaco, mas interrogava-se acerca do sentido da vida. Era ser humano.
A Bíblia narra no Génesis a criação do primeiro homem. Deus, à semelhança de um oleiro, faz do barro um homem e depois anima-o com um espírito de vida, um princípio vital. Para que o homem não estivesse só, dá-lhe uma companheira. Deus depois reconhece que não é bom que o homem esteja só, e duma costela de Adão forma a mulher. Ficam dois seres iguais em dignidade, mas de sexos diferentes.
Esta narração colorida, ao gosto oriental, não pretende contar como surgiu o primeiro homem, mas porque é que Deus criou o homem e a mulher. Criou-os à sua imagem e semelhança para se amarem e viverem felizes. Aliás, os nomes de Adão e de Eva não são nomes próprios. Adão significa tirado da terra e Eva quer dizer vivente. Aos humanos viventes deu o poder de transmitirem a vida.
POR QUE É
QUE EXISTIMOS?
O padre António Vieira, num dos seus famosos sermões, fala de um escultor que pega num bloco de pedra e de um cinzel e martelo. Põe mãos à obra. É um trabalho delicado: corta aqui, corta ali. Por vezes, a pedra é dura e é preciso mais esforço.
Mas, dia a dia, o que era um bloco sem forma definida, começa a tomar forma. E deste esforço feito pacientemente, no final, tanto pode sair um demónio assustador como um santo que se pode pôr no altar.
Deus criou-nos à sua imagem e um pouco à semelhança de um bloco de pedra. Nascemos com muitas potencialidades e será com o nosso esforço e com a ajuda de Deus que, ao longo dos dias da nossa vida, nos iremos aperfeiçoando, para sermos cada vez mais belos.
Desenvolvemos a nossa inteligência, exercitamo-nos na arte de conviver com os outros, aprendemos sempre coisas novas, vamos buscando o segredo da felicidade.
De facto, fomos criados para viver felizes, conviver com os outros e construir um mundo sempre mais belo. Fomos criados para, à semelhança do escultor, sermos cada vez mais uma imagem viva de Jesus, o ser humano perfeito.
ONDE ESTÁVAMOS
ANTES DE EXISTIR?
Antes de existir, não estávamos em nenhum lado, simplesmente porque não existíamos. Estamos tão habituados a viver, que por vezes nos pomos a pensar no tempo em que não vivíamos. De faco, antes de nós viveram muitas gerações. E nós pertencemos simplesmente a uma geração que surgiu a um certo momento da história da humanidade e depois dará lugar a outra.
Antes de existirmos, existiram os nossos avós, depois os nossos pais. O homem e a mulher têm o poder de transmitir a vida. E foram os nossos pais que, num gesto íntimo de amor aberto à vida, tornaram possível o nascimento da criança que somos nós. Não nos escolheram tal como somos, pois a transmissão da vida tem sempre algum mistério.
Mas, antes de existirmos, já havia alguém que nos amava. Misteriosamente, Deus já nos tinha escolhido desde sempre para sermos seus filhos muito amados e para sermos santos. E o nosso nascimento foi certamente para Deus uma grande alegria. Felizes os pais que, cumprindo o desejo de Deus, enriquecem o mundo com novas crianças. Antes de existir, já estávamos no coração de Deus.
Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos e para sermos santos.