Alegre Manhã - Bons dias em oração

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PEDROSA FERREIRA

ALEGRE MANHÃ

Bons-dias em oração

Ficha técnica

Alegre manhã - Bons-dias em oração

© 2001 Pedrosa Ferreira

Copyright desta edição:

© 2025 Salesianos Editora

Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto | Tel: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt

Capa: Paulo Santos

Paginação: João Cerqueira

1ª edição: 2001

2ª edição: Janeiro 2025

ISBN: 972-690-380-7

Depósito Legal.: 540903/24

Impressão e acabamento: Totem

Livro escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico. Reservados todos os direitos. Nos termos do Código do Direito de Autor, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio, incluindo a fotocópia e o tratamento informático, sem a autorização expressa dos titulares dos direitos.

APRESENTAÇÃO

Há momentos em que os jovens se reúnem no início do dia para uma breve oração. Acontece nas escolas católicas, nos acampamentos e em tantas outras atividades educativas e pastorais. Os animadores procuram subsídios para esses encontros de oração.

Cada oração começa com um conto. Segue-se um breve comentário e preces que concluem com o Pai-nosso. É evidente que se pode concluir com um cântico apropriado.

Os contos, na sua maioria, são anónimos. Alguns deles foram recolhidos por Bruno Ferrero. Agradecemos-lhe todas as facilidades concedidas para a utilização deste material.

O comentário, com referências evangélicas, deve ser adaptado a cada situação. As preces servem apenas como sugestão e serão lidas por participantes previamente preparados.

«Alegre Manhã»: desejamos que cada manhã que nasce seja inundada pela alegria que nos vem da manhã de Páscoa.

1

O PORMENOR

No dia da festa estava toda a freguesia mobilizada. À hora prevista, saiu a procissão. Diante iam a cruz e as lanternas. Depois, as duas filas de crianças vestidas de branco. Seguiam-se as confrarias com as suas insígnias e estandartes. Não faltavam os escuteiros com as suas fardas. Em seguida, os acólitos revestidos com as suas túnicas brancas.

Finalmente, o pálio sob o qual ia o pároco revestido com os paramentos mais ricos que só se utilizavam nas festas. Nas mãos a custódia dourada, revestida de pedras preciosas. Atrás do pálio ia a banda. Uma procissão magnífica!

Quando a banda, à saída da igreja, entoou a primeira música, o sacristão aproximou-se do pároco e disse-lhe baixinho ao ouvido: – Senhor padre, na custódia não leva a hóstia!

O pároco, irritado, respondeu: – Não vês em quantas coisas tenho de pensar? Não posso ocupar-me de todos os pormenores!

0 importante

Esta história tem o sabor a anedota pois certamente nenhum padre chegaria ao ponto de ter um tal esquecimento, considerando a hóstia consagrada como apenas um pormenor da festa. Mas a mensagem que tem é muito séria.

Não será que Jesus Cristo é apenas um pormenor na vida das pessoas? Para o cristão, Jesus é o essencial. Está no centro da sua vida pessoal, profissional, social. Jesus é a referência permanente para o seu modo de viver.

Somos convidados como crentes a não nos deixarmos distrair pelo que é secundário e a centrarmos toda a nossa fé na pessoa de Jesus Cristo vivo. Ele ilumina o nosso viver. Na nossa caminhada para Deus, ele é o nosso companheiro de viagem.

Preces

Oremos a Jesus Cristo, que por nós intercede junto do Pai, e digamos:

R/ Ouvi-nos, Senhor.

1. Para que saibamos viver como Jesus vivia.

2. Para que saibamos amar como Jesus amava.

3. Para que saibamos sentir como Jesus sentia.

4. Para que saibamos rezar como Jesus rezava.

Pai-nosso.

2

UM DOENTE DE CORAÇÃO

Um rico milionário com problemas cardíacos foi aconselhado pelo médico a passar uma temporada num mosteiro. Passados uns dias, foi ter com o Abade e disse-lhe:

– Desculpe a minha pergunta. Como é que vocês não se aborrecem estando aqui encerrados toda a vida?

O Abade, sorridente, respondeu:

– Oh, não. Não estamos encerrados, mas livres de mil paredes invisíveis que encerram o coração humano. Para quem ama a Deus e aos irmãos, não há aborrecimento possível.

Aquele homem continuou com vivo interesse:

– E como podem viver em silêncio sem falar com alguém?

O Abade respondeu:

– Claro que falamos. Mas a forma mais profunda de comunicação não é falar, mas estar em comunhão. A este nível, as palavras deixam de ser úteis. O silêncio também é meio que comunica e une vontades.

E assim se foram passando os dias até que a estadia do milionário chegou ao fim. Ao despedir-se do Abade, disse-lhe:

– Depois do que vi nestes dias... um dos dois deve estar louco, ou o senhor ou eu.

Pensativo, entrou no carro e foi-se embora.

Sinais do invisível

A vida do convento impressionou o milionário. Não percebe como é que retirados do mundo, no silêncio, sem mulheres, levando uma vida simples e pobre, estes homens normais podem ser felizes. Segundo os critérios do mundo, são considerados malucos.

A vida religiosa consiste em seguir Jesus de uma maneira radical, sendo como Ele castos, pobres e obedientes. Vivem em comunidades fraternas e felizes.

Nós também somos chamados a seguir verdadeiramente a Jesus. Somos chamados a ser santos, cada qual segundo a vocação a que é chamado.

Preces

Oremos a Deus e digamos cheios de esperança:

R/ Ouvi-nos, Senhor.

1. Pelos descrentes, para que descubram como Jesus Cristo pode ser a resposta para a questão do sentido da vida, oremos.

2. Pelos religiosos e religiosos de vida contemplativa, para que sejam para o mundo um apelo ao silêncio e à busca sincera de Deus, oremos.

3. Por todos nós para que, no nosso seguimento de Cristo, não temamos ser considerados como estranhos ao viver contra a corrente, oremos.

Pai-nosso.

3

BRINCAR ÀS ESCONDIDAS

Um dia, o Homem e a Felicidade decidiram brincar às escondidas. Faziam tão bom par e eram tão inseparáveis que se encontravam facilmente.

Foi por isso que, quando pertenceu à Felicidade esconder-se, a Mentira, que passava por ali disfarçada de Verdade, aconselhou-a a que se escondesse dentro do Homem. E assim fez. Aproveitando uma distração deste, meteu-se dentro do seu coração. Quando o Homem se pôs à sua procura, não havia maneira de a encontrar. O tempo passava e o medo de ficar sem ela aumentava. Não podia viver sem a Felicidade.

A Felicidade gritava de dentro do seu coração para lhe dizer onde estava, mas o Homem, tão preocupado em buscá-la fora, não prestava atenção ao seu interior.

Então a Mentira, disfarçada de Verdade, aproximou-se do Homem para lhe dizer que tinha visto a Felicidade no caminho que leva ao Reino da Escuridão. O Homem correu para lá. Mas dentro dele algo lhe dizia que ia por um mau caminho. Deteve-se

uns instantes e começou a escutar os gritos da Felicidade que o chamava do profundo do seu coração.

A partir de então, decidiram não se separar jamais, a fim de que a Mentira não os voltasse a enganar. E deste modo a Felicidade ficou para sempre dentro do coração humano.

A busca difícil

A Felicidade, brincando às escondidas, foi esconder-se dentro do coração do homem.

A Felicidade deve ser procurada dentro da pessoa. É dentro da pessoa que nascem as opções fundamentais por viver segundo a vontade de Deus, isto é, por viver no amor e serviço ao próximo. A Felicidade está neste estilo de viver, tendo como referência a pessoa de Jesus Cristo.

A Mentira, para nos enganar, diz-nos que ela se encontra escondida no ter muitos bens, muito sucesso nesta vida, muito poder, e em tantas outras coisas efémeras. Busquemo-la na noite tendo como lanterna o Evangelho, onde está o retrato de Jesus, nosso modelo de vida.

Preces

Oremos a Cristo, nossa alegria e digamos cheios de fé:

R/ Jesus Cristo, ouvi-nos.

1. Pelos que buscam a felicidade pelos caminhos errados do egoísmo, para que encontrem quem lhes aponte novos caminhos, oremos.

2. Pelos que buscam a felicidade gastando a sua vida pelos outros em ideais de solidariedade, liberdade, respeito pelos direitos humanos, oremos.

3. Pelos que buscam a felicidade seguindo o caminho das bem-aventuranças proposto por Jesus, para que não desanimem nas dificuldades, oremos.

Pai-nosso.

4

CHEIRAR A DEUS

Perguntaram a um homem de Espírito em que consistia isso de experimentar e viver a fé. Ele, sem pensar duas vezes, respondeu:

– Consiste em cheirar a Deus.

Vendo a estranheza que causou a sua resposta, aclarou-a melhor contando esta história:

«Um dia, Deus chamou três pessoas e ofereceu a cada uma um pequeno frasco que tinha o perfume da Vida Eterna.

A primeira delas, espantada por tal oferta do próprio Deus, foi arranjar um fio de ouro para dependurar o pequeno frasco ao pescoço. Esse recordar-lhe-ia Deus e faria tê-lo sempre presente.

A segunda correu depressa para sua casa, derramou o perfume num recipiente e começou a analisar a sua composição química até obter a fórmula.

A terceira personagem abriu um pequeno frasco, derramou todo o perfume sobre a cabeça e partiu a perfumar o mundo».

Terminada a história, perguntou:

– Qual dos três deixou de cheirar como homem para cheirar a Deus?

Os que o escutavam responderam evidentemente que o terceiro. E ele acrescentou:

– Pois é nisso que consiste experimentar e viver a fé: cheirar a Deus.

0 perfume cristão

Esta história do frasco de perfume, na qual a terceira personagem o põe ao pescoço e vai perfumar o mundo inteiro, faz-nos recordar o que escreveu S. Paulo: os cristãos devem irradiar o bom odor ou perfume de Cristo.

O mau odor que empesta o ar são os egoísmos de todo o género que tornam as pessoas tristes e causam injustiças, guerras, sofrimentos.

Nós devemos irradiar o bom odor ou perfume de Cristo. Devemos «cheirar a Deus». E as pessoas sentir-se-ão bem junto de nós. Emitiremos ondas de amizade, alegria, bondade, esperança, paz, amabilidade. E seremos no mundo sinais vivos da presença de Deus.

Preces

Oremos a Deus Pai e digamos confiadamente:

R/ Ouvi, Senhor, a nossa oração.

1. Para que irradiemos o perfume do amor a Deus Pai, orando-lhe com confiança filial e fazendo a sua vontade, oremos.

2. Para que irradiemos o perfume do amor a Jesus Cristo, tendo-o a Ele como referência permanente no nosso sentir, pensar e agir, oremos.

3. Para que irradiemos o perfume do amor ao Espírito Santo, produzindo os seus frutos de alegria, solidariedade, perdão e paz, oremos.

Pai-nosso.

5

OLHOS PARA VER

Um homem foi ter com o oculista muito preocupado porque não via nada de um dos olhos. O especialista perguntou:

– Quando nota que não pode ver?

O homem respondeu:

– Quando quero ver a Deus.

– Já percebi.

Depois de algumas análises, o prognóstico era claro. Tinha cegado o olho do coração. Depois de um breve silêncio, o homem perguntou:

– Senhor doutor, este mal tem cura ou ficarei cego para sempre?

O médico, com voz tranquilizadora, respondeu:

– Eu estou otimista. Há bons sintomas.

O homem, intrigado, voltou a perguntar:

– E que sintomas são esses?

– Pois o facto de que o senhor quer ver a Deus demonstra que o seu coração não está cego de todo. É um sintoma que dá esperança.

– Mas haverá cura?

– Claro que há cura. Mas tudo dependerá de si, se for fiel ao tratamento.

– E qual é esse tratamento?

– Terá que seguir uma rigorosa dieta. O seu coração deverá desapegar-se de toda a superficialidade consumista que oculta o rosto de Deus no seu interior, e ocupar-se unicamente daquilo que é essencial na vida.

Coração transparente

O diagnóstico foi claro: tinha o coração cego, isto é, cheio de coisas que lhe ocultavam o rosto de Deus. Felizmente, havia nele ainda o desejo de ver Deus, o que é bom sintoma para a cura.

Quando as pessoas enchem o seu coração com ouro e prata, ao olhar para ele não veem o rosto de Deus. Veem apenas espelhado o seu rosto que busca na vida apenas os bens. Jesus diz que não podemos servir a Deus e ao dinheiro. Deus é o essencial na vida.

Que para nós tudo seja acidental e passageiro e só Deus seja capaz de responder à nossa ânsia de infinito e de vida feliz em plenitude.

Preces

Num só coração e numa só alma, oremos com toda a confiança dizendo:

R/ Cristo, ouvi-nos. Cristo, atendei-nos.

1. Pelos que vivem como que cegos, porque não se veem a si próprios como buscadores de Deus, oremos.

2. Pelos que vivem como que cegos, porque não veem nos outros pessoas a amar e a servir, oremos.

3. Pelos que vivem como que cegos, porque não veem o mundo como uma casa comum a tornar melhor, oremos.

4. Pelos que vivem como que cegos, porque não veem a criação como obra de Deus Criador a respeitar, oremos.

Pai-nosso.

6

A CASA DE DEUS

Um homem quis encontrar a casa onde vivia Deus. Procurou-a por toda a parte. Perguntava a todos os que cruzavam o seu caminho.

Quando perguntava aos pássaros, estes respondiam com os seus melhores cantos. Se o fazia às flores, respondiam com o perfume. Se aos animais, estes pulavam de alegria. Chegou inclusivamente a perguntar ao mar, que respondia com uma brisa suave.

Finalmente, perguntou a um homem que lhe disse:

– Se queres encontrar a sua casa, vem comigo.

Aquele homem levou-o para uma aldeia longínqua onde a fome ameaçava os seus habitantes. O homem disse-lhe que se desprendesse de tudo o que tivesse de comer e de beber e o repartisse com aquela gente. O jovem, contrariado, disse-lhe:

– E isso que tem a ver com encontrar Deus?

O homem respondeu:

– Quando o teu coração está desapegado de tudo, descobrirás onde vive Deus.

O jovem começou a compartilhar tudo o que tinha com aqueles necessitados e, enquanto servia, começou a sentir-se feliz, cada vez mais feliz. Entendeu, finalmente, que a casa de Deus estava dentro do seu coração.

Onde está Deus?

Deus pode encontrar-se em tudo o que de belo se pode contemplar na natureza, e também se pode encontrar em todos os gestos gratuitos de bondade. Por isso, cantamos com o salmista que os céus nar-

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