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Faces do Modernismo Brasileiro

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Sobre os Autores

Sobre os Autores

Danilo Santos de Miranda

Diretor do Sesc São Paulo criado na década de 1940, pode-se dizer que o Sesc é tributário dos projetos de país vislumbrados pelos modernistas de diferentes extrações e gerações. Não devem, contudo, ser desconsideradas as divergências entre eles no que tange às concepções de nacionalidade, herança e realidade brasileiras. Desse legado, cuja base pode ser identificada na exigência de autodeterminação das populações que aqui vivem, a instituição nutriu-se e segue nutrindo-se das perspectivas plurais engendradas na rica, embora fraturada, vida nacional. É dessa premissa que provém a amplitude dos programas desenvolvidos pela instituição no intuito de se haver com as complexidades da existência social.

Essa variedade de projetos modernistas e modernizadores exige que eles sejam verificados e reconhecidos em suas distintas vertentes – premissa essencial para o Sesc, cuja ação é comprometida com a pluralidade de pontos de vista e repertórios. Daí qualquer fantasia de tábula rasa ou versão uniformizante do que se passou se revelem inoportunas, solicitando que o nosso modernismo seja compreendido como volume multifacetado, cuja espessura pressupõe um passado secular moldado pelo processo colonial, com base na produção agrária e no sistema escravista. Logo não se poderia conciliar a ebulição da sensibilidade brasileira, simbolizada pela Semana de 22, com o imperativo modernista europeu de “zerar a tradição”, uma vez que o processo colonial-escravista constitui a matriz da nação.

Lidar com esse volume implica sondar a diversidade de programas e manifestações que excediam as margens do restrito concerto modernista de primeira onda – rastreáveis na variedade de agentes, poéticas, publicações, ensaios. Passado o rumor da Semana, é a partir de 1924 que tal multiplicidade se deixa perceber com maior nitidez, inclusive pela entrada em cena de uma nova geração comprometida com a renovação e a revisão da história brasileira. A esses “outros lados” seria possível justapor, ainda, o quadro das produções que, nas duas primeiras décadas do século xx, não foram reconhecidas como “modernistas”, por não se orientarem pelos preceitos da vanguarda.

Esse fenômeno cultural - que se estende, ao menos, até os anos 1940 - coloca em jogo o desejo de repensar o país para além de um destino determinado por forças retrógradas, acentuadamente exploratórias e racistas. Com sua energia de ruptura, em chave ambivalente, 1922 foi tanto um evento acachapante, ofuscando o que não se enquadrava em seu receituário, quanto um marco a partir do qual foi possível revisitar o passado e revalorizar a história e suas tradições, sendo esses os lastros de narrativas alternativas acerca da trajetória do Brasil. Ao Sesc cabe repercutir releituras do modernismo brasileiro como as reunidas neste volume, ao passo que compreende a importância de se complexificar as visadas em torno dele.

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