1997_LINHA DE COSTURA

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LINHA DE COSTURA:

Um livro produzido tradicionalmente por uma editora com um texto que está entre poesia e prosa. Editado em 1997, foi meu primeiro livro exclusivamente textual, onde apreendo o papel de artista escrevente. Segundo a orelha do livro, escrito pelo filósofo Rubens Rodrigues Torres Filho:”O texto, aqui, a palavra texto, conserva claramente sua condição primitiva, de particípio do verbo tecer (latim: texo, eu teço, entrelaço, entranço): sua virtude têxtil. A linha, bidimensional no desenho, tridimensional na costura, adquire na escrita uma quarta dimensão, que é o tempo”. A escrita deste livro nasce do meu caderno de anotações que ficava ao lado, enquanto me propunha a costurar infinitamente rolos de plástico branco com cordonet. E neste ato contínuo de uma costura sem função a não ser brotar a experiência em si do ato de costurar, a vivência do instante e da duração emergiram como balanço pendular entre a presença no presente e algo que se projeta adiante. Mergulhei nestes ritornelos entre costurar e escrever.

Hoje vejo este livro como livro de artista, mesmo tendo sido produzido dentro de uma editora e pensado dentro do formato tradicional para se alojar nas prateleiras classificatórias de uma biblioteca, de uma livraria ou dentro de uma casa leitora. Sim, porém um livro sem paginação, com espaçamentos inusuais e com um texto entretecido de camadas temporais que Rubens Rodrigues Torres Filhos classificou como “uma prosa (latim prorsum: em linha reta) que se quer porosa (grego: poros, passagem). Dotada, como boa parte dos fragmentos de Novalis, do caráter da performatividade: ou seja, o de fazer, no próprio ato, aquilo que diz.”

Do texto saído pela manufatura febril e fabril da própria escrita, quando o texto deixou de ser manual para se tornar sinais gráficos teclados numa tela isenta de subjetividade, percebi as conexões entre as instalações onde estendo kilometros sem fim de linha, para lá e para cá, como se meu corpo fosse a ponta de um lápis, e o texto pousado na superfície, num primeiro momento, de forma volátil na tela luminosa e, num segundo momento, no papel em branco.

Vem a marcenaria do texto, a necessidade das pausas e respiros, do aparecimento e desaparecimento da mancha gráfica na superfície da folha branca, aparecer e desaparecer, como se o texto surgisse do branco tal qual a linha de costura surge através e de dentro da superfície, no caso, o plástico leitoso. Li muitas vezes este texto em voz alta, cumprindo a vocação natural de oralidade que a palavra carrega no bojo de sua memória.

LINHA DE COSTURA formato fechado_20 x 12 cm _ formato aberto_ 20 x 24 cm impressão_offset tiragem_1000 exemplares (primeira edição) Editora Iluminuras, 1997 tiragem 1000 exemplares (segunda edição) Editora C/Arte_ BH_2010

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