As Meninas Maluquinhas

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A MENINA DA MATINTA

Uma maluquinha nascida na floresta, guardiã dos nossos animais e das nossas árvores. Márcia Kambeba nos apresenta essa incrível personagem, que mistura omelhor do nosso folclore com sua linda poesia.

A MENINA E O COLIBRI

No conto mais lúdico do livro, de Míriam “Mikannn” Castro, uma menina sonha com um colibri. Com ele, aprende que a fantasia muitas vezes pode ganhar vida no mundo real.

A MENINA SONHADOR A

Viver com a cabeça nas nuvens não deveria ser problema para ninguém. Pelo contrário, é um elogio. Nesta história de Paula Pimenta a gente entende o porquê.

ZIRALDO ALVES PINTO é jornalista, escritor, cartunista, ilustrador, artista gráfico, humorista e dramaturgo. Nasceu em Caratinga, MG, em 24 de outubro de 1932, e foi para o Rio de Janeiro em 1949, porque queria trabalhar em jornal. Sua brilhante carreira inclui clássicos como O Menino Maluquinho, Flicts, O Menino Quadradinho, e muitos outros que inspiraram milhões de leitores a viver e escrever suas próprias aventuras maluquinhas.

a obra do Ziraldo, já vimos suas meninas encarando lobos e bruxas, fazendo gol de bicicleta, voando como o Capitão Marvel. E, assim como aconteceu com os meninos, sua obra inspirou meninas de várias gerações a serem tudo oque bem entenderem: princesas, fadas, bruxas, sonhadoras, maluquinhas, caubóis, campeãs de ioiô. Este livro traz um pouquinho de tudo isso pelas mãos das talentosas Andreza Delgado, Anna Claudia Ramos, Carolina Munhóz, Eliana Martins, Elizandra Souza, Márcia Kambeba, Míriam “Mikannn” Castro e Paula Pimenta. ISBN 978-65-5539-300-2

Organização e ilustrações Fábio Yabu

A MENINA QUE TINHA MEDO DO ESPELH O

Andreza Delgado nos apresenta a jovem e adorável Ana, uma menina tão comum quanto seu nome, que adora macarrão e histórias em quadrinhos. Cercada de amigos, ela sonha com algo de que nenhuma criança deveria ser privada.

ABRINDO A PORTA

Real ou imaginário, quem nunca teve um armário cheio de fantasias? Anna Claudia Ramos explora a riqueza da imaginação infantil com sua maluquinha que quer ser bruxa e caubói, e ainda ama futebol de botão.

A MENINA FADINHA

Sonhos foram feitos para serem realizados. Eles confortam nossas noites e nos impulsionam em direção ao que desejamos. Carolina Munhóz nos apresenta a menina fadinha, cujo sonho a levou a viajar ao redor do mundo.

MIRA BOLANTE

Uma menina pode ser tudo o que quiser. Mas o que acontece se ela quiser ser tudo de uma vez só? Eliana Martins nos apresenta uma personagem encantadora, que tem os dedos no mundo digital e também num bom e velho ioiô.

A MENINA MALUNGUINHA

Com a pele café com mel, cabelos crespos e o banzo no olhar, a Menina Malunguinha reflete a paixão e a alegria de tantas maluquinhas que vemos por aí. É impossível não se apaixonar por essa personagem de Elizandra Souza.

Fábio Yabu e outras
ISBN
978-65-5539-300-2

Organização

ilustrações Fábio Yabu

e

Inspirado na obra de

CONTOS DE:

Andreza Delgado

Anna Claudia Ramos

Carolina Munhóz

Eliana Martins

Elizandra Souza

Márcia Kambeba

Mikannn

Paula Pimenta

INTRODUÇÃO ..................................................... 9 A MENINA QUE TINHA MEDO DO ESPELHO ANDREZA DELGADO ..................................................... 13 ABRINDO A PORTA ANNA CLAUDIA RAMOS ............................................... 21 A MENINA FADINHA CAROLINA MUNHÓZ ..................................................... 31 MIRA BOLANTE Eliana MARTINS ....................................................... 41 A MENINA MALUNGUINHA ELIZANDRA SOUZA ......................................................51 A MENINA DA MATINTA MÁRCIA KAMBEBA ......................................................61 A MENINA E O COLIBRI MIKANNN ................................................................. 69 A MENINA SONHADORA PAULA PIMENTA .........................................................81 AS MALUQUINHAS .......................................... 87 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

ulieta, Nina, Supermãe, Professora Malu quinha. Meninas e mulheres inesquecíveis criadas por Ziraldo, o “poeta dos meninos e meninas”. Mas, por mais que escreva sobre meninas – e para elas – e o faça com a mesma maes tria e sensibilidade de sempre, Ziraldo não abarca dentro de si o mundo que elas habitam. Assim como eu. A mim, coube apenas a honra de me emocionar, ilustrar estes contos belíssimos e lê-los para minha filha Luna. Ela, que durante uma fase da vida só queria saber da Julieta, amou conhecer as novas amigas, e espero que você goste delas também.

A esta altura do campeonato, você já deve saber que uma menina pode ser tudo o que quiser. Engenheira, presidenta, astronauta. Mas e se, de repente, ela quiser ser tudo ao mesmo tempo? Caubói, bruxa, craque de futebol de botão? A Anna Claudia Ramos nos encanta com a resposta.

A Eliana Martins esbanja experiência e conhecimento. Quando você fala com ela, quase vê as letrinhas se formando no ar. Eliana nos trouxe uma personagem mirabolante, que traz nos dedinhos o mundo digital e também, veja só, um gosto pelo ioiô!

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Mania, aliás, que ninguém sabe bem como surgiu, mas que nos faz lembrar de algo que vai e vem, feito as alegrias e as tristezas da vida.

Existe mágica no mundo. Há coisas que não precisam nem devem ser explicadas. Assim como palavras se transformam em mundos; sorrisos, em famílias; paixões, em histórias. A Carolina Munhóz, quando lia a história da menina fadinha para sua filha Avalon, tenho certeza de que passava um pouquinho dessa magia a ela também.

Cheia de cor é a história da Menina Malunguinha, de Elizandra Souza. Que escritora radiante e iluminada! Separados pela pandemia, só tivemos contato pelo WhatsApp. Mas meu celular brilhava um pouquinho mais a cada mensagem recebida, bem ao estilo da sua personagem: alegre, maluquinha, malunguinha.

Crianças órfãs são comuns nos contos de fadas e, infelizmente, na vida real também. A Andreza Delgado juntou esses dois mundos na história de uma menina que achava que havia algo de errado com sua imagem. Alerta de spoiler: não tinha. Porque nunca teve. Mas, às vezes, a gente demora para entender isso. “A vida só é para crianças no começo”, diria Ziraldo. Um começo que pode ser difícil, mas, ao mesmo tempo, também bonito e verdadeiro.

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Assim como Andreza, Mikannn é estreante na literatura, mas já deu seus voos por aí, trabalhando com editoras e autores incríveis. Apaixonada por histórias, ela pegou carona nas asas de um colibri e resgatou uma trama que estava guardadinha no coração. E que começo emocionante!

A escrita da Márcia Kambeba é poderosa como seu sorriso. Em nossas conversas, ela falava da nossa maluquinha indígena, Kuracy, a filha da Matinta, como se a menina estivesse ali, ao lado, rodopiando e aprontando das suas, protegendo a natureza e ensinando belas lições. E eu acho que estava mesmo.

Entre tantas maluquinhas diferentes, não podia faltar uma princesa: a de Paula Pimenta. Suas histórias sobre personagens apaixonadas por filmes e séries já rodaram o mundo e embalaram o sonho da sua filha, a pequena Bebel. Quando li a história sobre a menina que vivia com a cabeça nas nuvens, eu soube que seria, pela terceira vez, “vizinho” da Paula em uma editora. Minha felicidade, então, foi em dobro. A honra, cada vez maior.

P.S.: Me insiro aqui sorrateiramente para falar de mais duas maluquinhas que não estão neste livro, mas moram no meu coração: minhas sobrinhas Sofia e Laís. Amo vocês!

11 Introdução
Fábio Yabu

A MENINA QUE

TINHA MEDO DO ESPELHO

Por Andreza Delgado

em gente que olha para o céu em busca de planetas, alienígenas ou naves espaciais.

Ela amava olhar para o céu e ficava ho ras imaginando o que havia lá em cima. Mas, em vez de procurar formas nas nuvens ou formas de vida, essas coisas bacanas que os cientistas buscam, tudo o que Ana buscava naquele clarão azul era uma casa. Ana não sabia bem por que estava naquele lugar nem de onde tinha vindo – era como uma super-heroína sem origem. Por mais que gostasse de gibis e de heróis, ela também não estava muito interessada na própria história, até porque tinha chegado ali muito

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novinha para se lembrar de alguma coisa. Quando foi ver, já estava lá, num quarto cheio de camas, com o teto cinza e as paredes pintadas de rosa até a metade (ela odiava rosa), mas rodeada de amigos, como as gêmeas Lara e Yara, Isa, Matheus e tantos outros. Ela tinha algumas roupas que não escolheu, alguns cadernos… e muitos, muitos brinquedos. Isso é algo que pouca gente para pra pensar. Crianças que vivem em abrigos, geralmente, têm muitos brinquedos, pois sempre chegam doações. Sobre esses lugares, as pessoas costumam pensar em duas coisas: brinquedos primeiro, macarrão em segundo. O que não é nada mal, criança ama brinquedo e macarrão. Só que seria joia se mais pessoas pensassem em coisas como um lugar em um porta-retratos ou então uma casa, como a que Ana sonhava.

Além de brinquedo e macarrão, Ana gostava de ler gibis e brincar de heroína. As amigas e os amigos logo embarcavam na brincadeira. Os gibis eram o combustível para sua imaginação levá-la a todo tipo de aventura. Enquanto os demais escolhiam poderes do tipo ficar invisível ou controlar o tempo, Ana se imaginava voando — com os braços esticados em frente ao corpo como ensinava o Capitão Marvel —, procurando sua casa. Não que os outros não quisessem a mesma coisa. O fato é que Ana tinha

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uma coceira, uma aflição, uma urgência… porque tinha medo.

Toda menina tem algum medo: de lobo, de bruxa, de meninos traquinas feito os irmãos Max e Moritz daquela história alemã. Mas um medo que nenhuma menina deveria ter é de se olhar no espelho. E Ana tinha.

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A Menina que tinha Medo do Espelho

Ela não sabia bem quando aquilo havia começado. Provavelmente foi quando viu, pela primeira vez, um casal que aparecera ali, querendo conhecer as crianças. Não, os dois não eram nem um pouco malvados nem a razão para a Ana ter medo. Não queriam transformar as crianças em cereais, como na tal história alemã. Na verdade, eles eram tão amáveis que acabaram levando as gêmeas Lara e Yara e colocando a foto delas em um lindo porta-retratos. Outra que ganhou uma casa foi a Isa. Parece que ficava em outra cidade, e ela prometeu escrever. Como o Matheus, que foi para outro país, e pasmem! Um dia ele apareceu no abrigo com o dobro do tamanho e falando metade em estrangeiro! Foi estranho, mas muito legal revê-lo, ainda que por poucas horas. E daí veio a dúvida, e dúvida que a gente não cuida bem é como machucado. Tem que tratar, senão cresce e vira outra coisa. Ana pensou que talvez o problema fosse a menina do espelho.

Afinal, vez por outra apareciam ali casais gentis, prontos para aumentar a família. Pais e mães, pais e pais, mães e mães, às vezes, só pai ou só mãe. No entanto, o tempo passava e Ana ficava cada vez mais só Ana mesmo.

Ela ia para a escola todos os dias, sempre admirando o céu. Tinha aprendido a ler, escrever e fazer

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contas. Mas o que ela curtia mesmo era escrever poemas. Foi como se tivesse descoberto um novo superpoder: o de fazer rimas.

Viajar no tempo não tem serventia, O presente ninguém pode mudar. Quando se tem amizade e companhia, Não se chama abrigo, se chama lar.

Ana nunca deixou de olhar para o céu, porém, com o passar dos meses e dos anos, ela foi se acostumando com seu lar. Afinal, tinha amigos, brinquedos e macarrão de sobra. Escrevia rimas e histórias. Até cartas para o Matheus ela escreveu, e em italiano!

O que Ana não sabia era que não são apenas as palavras que rimam, mas também as cores e as memórias. Tudo o que vivera ali acabou rimando com a história de Jô, que quando criança, também amava gibis e macarrão. Quando Ana a viu pela primeira vez no abrigo, sentiu a alegria que é um coração rimando. Foi como olhar para o espelho pela primeira vez sem medo: Jô, que se chamava Joana, tinha os cabelos crespos e pretinhos, com trancinhas até o ombro, e a pele escura como a noite e brilhante como o sol. Igualzinho a Ana!

Ana não seria mais só Ana. Seria Jô e Ana, duas que são mais que uma rima. São mãe e filha.

17 A Menina que
Medo do Espelho
tinha

Ana não tem mais medo do espelho.

Quando olha para a imagem refletida, vê a beleza do infinito.

O infinito em si mesma.

Quando olha para cima, vê o azul de um quarto novo, novinho.

Só dela.

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