Oqueleva um planeta a escrever uma carta?
E o que motiva uma professora a responder à carta da Terra?
Inspirada nas ideias da Mãe Terra, a professora Carol desenvolveu o projeto Ecocidadãos com seus alunos. Era necessário colocar-se no lugar da Terra e entender exatamente como o planeta gostaria de ser tratado pelos seus habitantes. Seria suficiente cuidar do meio ambiente e ser um consumidor consciente? Ou a Terra precisaria que seus moradores agissem e pensassem de outra maneira?
ISBN 978-65-5539-045-2 isbn 978-65-5539-045-2
ilustrações Cris Eich
Jonas RibeiroJonas Ribeiro ilustrações Cris Eich
Oi, pessoal.
Fazia tempo que eu desejava escrever para vocês. Calhou de ser hoje, até para aproveitar que ando pensativa, olhando para dentro. Claro que também gosto de olhar para os lados, para baixo e para cima; é até uma forma de sentir que faço parte do sistema solar, da Via Láctea, deste Universo gigantesco demais. Para vocês terem uma ideia, existem espalhadas por aí pelo menos 200 bilhões de galáxias. Ou seja, eu sou apenas um dentre os trilhões de planetas que povoam uma dessas galáxias do Universo. Nem por isso deixo de me sentir especial.
Vocês são capazes de perceber o quanto o Universo é espantosamente enorme? Nem dá para explicar o seu tamanho, nem mesmo as distâncias entre as estrelas e as galáxias. São medidas diferentes das que vocês usam, sem falar que o Universo está em constante expansão. E, depois, falar de bilhões de anos-luz de distância é referir-se a um lugar muito, muito, muito, mas muito longe. Vocês não conseguiriam chegar a um lugar assim nem se, quando nascessem, fossem colocados em um avião e ficassem dentro dele até os 80 anos de idade, sem pousar. Nem assim chegariam à galáxia mais próxima. Claro que, para esse avião voar por 80 anos, sem pousar, precisaria de um sistema de abastecimento bastante avançado, ou, quem sabe, ele se abasteceria de vácuo ou de alguma energia que vocês ainda não descobriram.
É tão bom ser a casa de todos vocês. Muito em breve, seremos mais de 8 bilhões de habitantes. Aliás, se me apresentei como casa, significa que posso chamar vocês de moradores. Também posso chamar os meus continentes de cômodos: África, Antártida, América, Ásia, Oceania e Europa. Além de escolherem esses nomes para os meus cômodos, vocês os dividiram em países. E dividiram os países em estados. Os estados em cidades. As cidades em bairros. Os bairros em ruas. E deram nomes para todos esses lugares.
Vocês são realmente inteligentes.
Criaram idiomas, religiões e tradições.
Inventaram bandeiras, hinos e moedas para cada cantinho desta casa. Ah!
Como vibrei quando vocês descobriram o fogo e depois inventaram a roda. A partir de então, eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, os progressos e a tecnologia chegariam.
O mais engraçado foi vocês me chamarem de Terra, mesmo sabendo que em dois terços da minha superfície há água. Terra mesmo há somente em um terço. Se Yuri Gagarin, o primeiro homem a fazer uma viagem espacial, disse lá do alto “A Terra é azul!”, bem que vocês poderiam ter mudado o meu nome para planeta Água. Mas não estou reclamando nem pedindo para trocar, porque gosto do meu nome. E gosto muito mais quando vocês me chamam de Mãe Terra. Fica tão mais carinhoso. E da mesma forma que mãe acolhe, educa, alimenta e ama, também pode e deve dar bronca. De maneira alguma quis escrever esta carta somente para puxar a orelha de todos vocês, pois sei muito bem elogiar quando merecem.