COMO EU TE VEJO
Toda criança é mágica, mas nem toda infância é. A poesia poderosa e acolhedora de Rafael Calça faz com que olhemos para nossa própria vida e, como mágica, ela consegue nos animar nos momentos difíceis.
O DIA DOS PAIS DO MENINO DRAGÃO
Um menino que amava os livros e o caratê. De dia, quebrava telhas, de noite, criava histórias. Não é à toa que Raphael Draccon é hoje um dos autores mais influentes do país, e aqui nos presenteia com uma história sobre um D ia dos P ais mais que especial.
O MENINO DO SÁBADO
Cachorros e meninos, livros e heróis. Todo sábado pode ser uma aventura, e quando é Vitor Cafaggi quem nos conta, sabemos que nosso coração ficará quentinho.
á 40 anos, o personagem mais famoso do Ziraldo vem espalhando risos, inspirando conversas e inventando abraços por todo o mundo. Também, pudera. Quem olha para aquele menino com o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés, não tem como não lembrar daquele irmão serelepe ou vizinho tagarela, do colega da escola ou, o mais provável, de si mesmo. O Menino Maluquinho é sucesso há décadas porque ele fala de todos nós, dos meninos e das meninas maluquinhas que somos e que sempre carregamos dentro do coração.
Organização e ilustrações Fábio Yabu
Inspirado na obra de
O MARUPIARINHA
Cristino Wapichana nos oferece um voo pela cultura de seu povo, com o olhar fresco que só um menino maluquinho poderia nos trazer.
A PALAVRA MÁGICA
Inspirado por uma passagem de seu livro favorito do Ziraldo, O Menino Quadradinho, Fábio Yabu escreve sobre como uma palavra mágica pode transformar meninos em heróis.
O MENINO DO CLUBINHO
ZIRALDO ALVES PINTO é jornalista, escritor, cartunista, ilustrador, artista gráfico, humorista e dramaturgo. Nasceu em Caratinga, MG, em 24 de outubro de 1932, e foi para o Rio de Janeiro em 1949, porque queria trabalhar em jornal. Sua brilhante carreira inclui clássicos como O Menino Maluquinho, Flicts, O Menino Quadradinho, e muitos outros que inspiraram milhões de leitores a viver e escrever suas próprias aventuras maluquinhas.
Nesta coletânea de contos inspirada na obra do Ziraldo, Fábio Yabu se reúne com Cristino Wapichana, Guga Mafra, Gustavo Reiz, Load Comics, Rafael Calça, Raphael Draccon e Vitor Cafaggi para falar não de um, mas de vários meninos maluquinhos. Tem um que nasceu numa favela, outro numa floresta, um que passou a infância no sítio e outro num orfanato. São histórias sobre maluquinhos diferentes, mas que têm em comum os macaquinhos no sótão e tantas outras coisas que fazem de um menino maluquinho um cara legal.
Contos de: cristino wapichana load comics
Fábio yabu
guga mafra
rafael calça
raphael draccon
Todo menino tem sua turma, e toda turma já teve seu clubinho. Mas quando uma nova integrante chega, o personagem de Guga Mafra subitamente vê seu império ameaçado.
O ROBÔ MALUQUINHO
Todos conhecem a história do menino com o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés… mas e do robô com luz verde nos olhos, rodinhas nos pés e aplicativos na barriga? Gustavo Reiz conta a história de um amigo muito especial.
UM MENINO COMO VOCÊ
Aventuras na infância podem envolver reinos distantes e castelos encantados, mas também podem envolver ônibus cheios e trabalho nas ruas. Load Comics traz um conto da quebrada, sobre buscas e tesouros inestimáveis.
978-65-5539-297-5
978-65-5539-297-5
gustavo reiz
vitor cafaggi
ISBN
ISBN
Fábio Yabu e outros
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Organização e ilustrações Fábio Yabu
Inspirado na obra de
CONTOS DE: CRISTINO WAPICHANA
FÁBIO YABU
GUGA MAFRA
GUSTAVO REIZ
LOAD COMICS
RAFAEL CALÇA
RAPHAEL DRACCON
VITOR CAFAGGI
Este livro, assim como aquele que o inspirou, não é dedicado apenas aos meninos, mas a todas as crianças, sejam elas da forma, da cor ou do tamanho em que se apresentarem. Mas tem duas delas para quem quero deixar um beijo em especial, meus sobrinhos Calvin e Benicio.
Fábio Yabu
GENIAL. SENSÍVEL. MALUQUINHO............... 9 O MARUPIARINHA Cristino Wapichana ................................................ 13 A PALAVRA MÁGICA Fábio Yabu .............................................................. 25 O MENINO DO CLUBINHO Guga Mafra ............................................................ 33 O ROBÔ MALUQUINHO Gustavo Reiz .......................................................... 47 UM MENINO COMO VOCÊ Load Comics ........................................................... 57 COMO EU TE VEJO Rafael Calça ......................................................... 65 O DIA DOS PAIS DO MENINO DRAGÃO Raphael Draccon ................................................... 73 O MENINO DO SÁBADO Vitor CafaGgi ......................................................... 83 OS MALUQUINHOS .......................................... 87 SUMÁRIO
GENIAL. SENSÍVEL.
MALUQUINHO...
assim (e com razão) que as pessoas se referem ao Ziraldo, alguém que se orgulha de seu nome único, uma mistura do nome da mãe, Zizinha, e do pai, Geraldo. Na falta de um adjetivo melhor – acredite, todos já foram usados –, tentei chegar a uma definição única como seu nome, algo que fizesse jus à sua carreira. E aterrizei na conclusão de que Ziraldo não é só um escritor, mas também um baita desescritor. De mão cheia. Alguém que desconstrói as histórias, nos mostra que a beleza de uma obra está em sua forma, em seu conteúdo, no que é escrito e, principalmente, no que não é.
Em Flicts, seu olhar serve como um prisma que descreve e desescreve as cores, até chegar na cor que todo mundo conhecia sem saber. Em O Menino Quadradinho (meu favorito), ele literalmente desescreve uma história em quadrinhos, levando o personagem do mundo colorido e inocente dos super-heróis para uma prosa lírica e transformadora em que até mesmo os espaços em branco têm algo a
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dizer a adultos e crianças. Nem o livro mais famoso dele, O Menino Maluquinho, escapou da desescrita: lá na penúltima página da história, a gente descobre que o tal menino nem maluquinho era – se não lembra, pode ir lá conferir, eu espero.
E assim, de salto em salto, de planeta em planeta, de menino a menino, o desescritor foi encantando gerações, incluindo a mim e a todos os amigos que convidei para essa coletânea. Tem de tudo aqui: gente iniciante, gente premiada, da TV, dos livros e até dos podcasts. São pessoas que refletem um pouco da pluralidade que a gente tanto precisa hoje em dia, mas que aqui é apenas pincelada, porque senão passaríamos das mil páginas. Queria trazer um pouco da vivência de cada um: como seria um menino maluquinho nascido numa favela, ou se ele fosse um lutador de caratê ou até mesmo um robô? A cada história que lia, eu percebia a força da obra do Ziraldo, que fez com que todos revisitassem a própria infância, se lembrando e se desescrevendo, até que cada homem virou menino e cada menino virou o que o filho da Dona Zizinha lá atrás já contava: um menino feliz.
É assim que eu me sinto, e espero que você e o Ziraldo, também.
11 Genial. Sensível. Maluquinho...
Fábio Yabu
O MARUPIARINHA
Por Cristino Wapichana
ue que é isso?! – perguntou o menino de súbito, com o tremor sob seus pés.
– Só uma turbulência – respondeu seu pai.
– Ainda bem que passou! – disse o menino, aliviado. Mal se agasalhou e apertou um pouco mais o cinto de segurança do assento do avião, quando outra turbulência sacudiu o boeing 737 que sobrevoava a Floresta Amazônica, na região norte do Brasil.
Agarrando-se nos apoios do assento, o menino se espremia sobre o assento que parecia crescer cada vez que suas mãos o apertavam. Com o pouco de coragem que ainda lhe restava, olhava os pequenos movimentos de bater das pontas das asas que faziam o avião tremular, totalmente descompassado.
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– Que voo maluco! – disse o menino, assim que desceram do avião.
– E que medroso você é! – respondeu o pai, sorrindo, enquanto lhe passava a mão na cabeça.
Era final de tarde e o carro os aguardava no pequeno aeroporto de Boa Vista. Baydukuri era o motorista e guia, junto com seu filho Sukury, que tinha a idade do menino.
– Olá, Kuraidiaunaa madurunaziu sud – disse Sukury.
O menino da cidade não entendeu nada, e apenas sorriu, enquanto estendia a mão para o cumprimento.
– Temos que nos apressar para a viagem até ywa`uz kyba taù, ou Rio das Pedras – disse Baydukuri aos visitantes.
Entraram no carro e Baydukuri deu a partida. Ao sair da cidade, a escuridão engoliu o mundo. Incontáveis estrelas se exibiam no teto do céu, sem Lua. O farol do veículo iluminava longe. O frescor e o cheiro da mata permitiam abrir os vidros do automóvel, que seguia firme em frente e sem medo, sentindo o ar limpo e puro da floresta. Algo impensável na cidade grande.
Não demorou e logo o menino da selva de pedras viu bichos correndo pela estrada ou atravessando-a, fugindo do barulho do motor do carro e da luz arti-
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Wapichana
Cristino
ficial dos faróis. Foi a primeira vez que ele viu uma onça preta, que atravessava a estrada calmamente.
Mas a viagem em si era bem pior que turbulência de avião. Durou cerca de seis horas naquela estrada de terra que sacudia o carro e seus passageiros a cada buraco e pedra no caminho.
Em compensação, na chegada à aldeia Buriti, as redes já estavam armadas, apenas aguardando os convidados. O jantar foi saboreado sob a pouca luz do fogo da cozinha.
Para o menino visitante, exausto, difícil mesmo foi ir à beira do mato fazer xixi, sozinho!
O menino da cidade acordou com o capelão, ou bugio, cantando. A casa sem paredes cheia de redes penduradas, permitia ver estrelas que não se podia ver na cidade. Eram tantas que dava até para desenhar e fazer letras gigantes no céu.
O canto das nhambús devolveu-lhe o sono e ele dormiu novamente, acordando com os cacarejos das galinhas que se alimentavam no terreiro.
O Sol já estava quente. Todos já estavam preparados para fazer suas atividades diárias.
– Você dorme muito, menino da cidade! – disse Sukury. – Só falta você pra comer.
– Cadê meu pai? – perguntou o menino.
– Ele já foi pescar com os homens.
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– Ele nem me esperou?!
– A pesca é para homens! – respondeu Sukury, com um sorriso.
O desjejum quase quebrou os dentes do menino da cidade, que não sabia comer farinha com carne de porco-do-mato assada. Depois, os novos amigos seguiram para o primeiro banho do dia, que não tinha hora para terminar.
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Os novos amigos se juntaram a tantos outros meninos se divertindo muito naquele encontro de culturas tão diferentes. Depois do almoço, os meninos seguiram para a roça. Os curumins iam mostrando cada planta da roça, recolhiam e dividiam os frutos para saborear o que a Mãe Natureza fornecia gratuitamente, os nutrientes necessários para cada planta. Os curumins receberam a missão de trazer lenha para o fogo da cozinha coletiva.
Sukury levou seu arco e flechas. Rapidamente, ele e o menino da cidade juntaram a lenha necessária na própria roça. Como ainda tinha tempo para se divertir, Sukury, empolgado com o novo amigo, o convidou para explorar a floresta além do Rio das Pedras. Entretidos com tantos seres habitando ali, o menino da cidade e Sukury esqueceram que o Sol seguia seu compromisso de não chegar atrasado no seu encontro com a noite.
Quando quiseram voltar para a aldeia, já não podiam. A noite estava próxima.
– Temos que juntar lenha. A noite vai nos prender aqui e em breve vai soltar todos os seus bichos. Precisamos fazer uma fogueira, que manterá as criaturas afastadas. Depois, temos que encontrar uma árvore grande para nos abrigar – disse Sukury, um tanto preocupado, sentindo-se responsável pela vida do novo amigo.
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