texto
HELOISA PRIETO
ilustração
FLORENCE BRETON
texto ilustração
Copyright © 2017
Heloisa Prieto (texto)
Florence Breton (ilustração)
Direção editorial
Aloma Carvalho
Diagramação
Daniela Fujiwara
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Prieto, Heloisa.
Os castelos de Celeste / Heloisa Prieto; ilustração: Florence Breton. 1ª ed. São Paulo: Bamboozinho, 2017.
32 p.: il., 23 × 28 cm
ISBN 978-85-93655-06-7
C DD 028.5
1. Literatura infantojuvenil brasileira. 2. Ficção infantojuvenil brasileira. 3. História em quadrinhos. 4. Educação infantil. 5. Ensino fundamental. I. Pietro, Heloisa. II. Breton, Florence. III. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantojuvenil: ficção – 028.5
2. Literatura infantojuvenil: história em quadrinhos – 028.5
2017 – Todos os direitos reservados. Bamboozinho é um nome fantasia da Bom Bini Editora Ltda.
Rua Dom Armando Lombardi, 777 • cj. 51 • São Paulo/SP • 05616-011 www.bamboozinho.com.br
FILHA, NÃO VAI ESQUECER A VIDA NO MEIO DAS ÁGUAS! CELESTE NÃO É NOME DE SEREIA.
Todas as madrugadas, ela acompanhava seu pai na pesca. Ele, atento à maré, aos ventos e aos peixes; ela, com saudade daquele mar de cores móveis, arcos que tocavam suas íris abertas, ampliando sua capacidade de olhar.
Celeste se encantava com a magia do fundo do mar...
Suas amigas não paravam de brincar: esconde-esconde entre coqueiros, passa anel na hora da sombra, bater bola recitando parlendas malucas.
Mas para Celeste, a brincadeira era outra.
Corais eram castelos de cardumes encantados; cavalos-marinhos, os enviados do rei dos mares; estrelas-do-mar eram mais bonitas que as estrelas do céu.
Assim pensava Celeste, a melhor mergulhadora de todas as crianças da praia.
É claro que o silêncio do fundo do mar poderia se transformar, com a força das correntezas, em algo muito impressionante: cidades estranhas com seus habitantes voadores, outros mundos com movimentos mais lentos, flores feitas de conchas.
jamais partia sozinha para essas aventuras.
Sempre perto dela, flutuava Marina, a boneca de cabelos roxos que nunca era tão bela na terra quanto ficava sob as ondas do mar.
De noite, Dona Florência, mãe de Celeste, sentava ao lado da menina na cama; a janela aberta exibindo as constelações do céu.
Então, Celeste contava à mãe as aventuras de Marina, a boneca dos mares. As histórias de Celeste eram inacreditáveis e sua mãe sentia muito orgulho da filha, mas também ficava um pouco inquieta, invadida por esse oceano de imaginação que a levava todos os dias, tão longe, sob as águas.
EU DEI A VOCÊ O NOME DE CELESTE PARA QUE
VOCÊ GOSTASSE DO FIRMAMENTO, MINHA FILHA.
M AS EU GOSTO, MINHA MÃE...
NÃO TANTO QUANTO DO MAR.
FOGUETE ASSIM NÃO EXISTE...
REPARE NA URSA M AIOR NA VIA LÁCTEA CELESTE. QUANDO EU ERA DO SEU TAMANHO, MINHA FILHA, QUERIA ENTRAR NUM FOGUETE E CHEGAR PERTO DE TUDO QUANTO É ESTRELA E PLANETA.
MAS O MAR EXISTE, NÃO É MESMO? E NO MAR VOCÊ CONSEGUE CHEGAR... É POR ISSO QUE VOCÊ PREFERE, FILHINHA?
Quando a conversa chegava nesse ponto, Celeste já tinha adormecido.
Então, sua mãe pegava um caderninho azul e escrevia as histórias da filha com ternura, como se fossem fotos em um álbum, para jamais esquecer.
MARINA GOSTAVA DA COMPANHIA DAS CONCHAS. QUANDO SUAS CASAS FICAVAM ENTREABERTAS ELA APROXIMAVA SEU OUVIDO PARA ENTENDER SEUS MURMÚRIOS. AS CONCHAS CONTAVAM SEM PARAR AS HISTÓRIAS DO MAR. A HISTÓRIA DO TUBARÃO APAIXONADO E DO GOLFINHO LOUCO, COMO AS ALGAS ESCONDIAM OS TESOUROS NÃO SÓ...
Para resgatar a filha das águas e prendê-la à terra, dona Florência imaginou um plano. Ela sabia que a filha precisava de companhia, alguém que habitasse outro elemento com tanta alegria quanto sua filha ao morar no fundo do mar.
Na manhã seguinte, Florência foi até a casa de sua comadre em busca de um novo amigo para Celeste. Ao entrar no quintal, ela o avistou.
Feliz, saltitante, prontinho para a aventura.
A madrugada do dia que se seguiu foi como sempre. A saída de pai e filha antes do amanhecer. O barco deslizando mar adentro, a menina ainda entorpecida pelo sono e seu pai com o olhar astuto.
Celeste não desconfiou de nada.
Mergulhou, como sempre fazia, no lugar que adorava reencontrar: os castelos de corais.
No dia anterior, Celeste havia deixado Marina, sua boneca, sentada, acomodada confortavelmente numa brecha de seu castelo. Então, respirou bem fundo e desceu para resgatá-la. Ela sabia que sua Marina lhe contaria os segredos das noites marinhas.
Mas onde estava Marina?
A boneca tinha desaparecido! Teria sido um peixe? Um furacão secreto ou até mesmo um temível tubarão? Celeste sentiu-se culpada. Ela traíra a amizade de Marina. Abandonara a melhor amiga sozinha, solitária, no fundo daquele mar que, pela primeira vez, a assustou. O sal das lágrimas e o sal do mar deslizavam por sua face formando uma cortina de culpa, remorso e sofrimento.
Pela primeira vez, Celeste esqueceu-se de controlar a respiração. O peito doeu, o coração disparou, os olhos arderam. Ela perdera a confiança no mar. E pela primeira vez, a luz do sol lhe fez falta.
Bateu os pés para regressar à superfície, e a volta lhe parecia longe, o pulmão vazio, o medo batendo nas pernas, apertando a barriga e a cabeça.
– CELESTE NÃO É NOME DE SEREIA!
A garota só conseguia se lembrar da frase de sua mãe querida, desejando estar num foguete, pertinho do céu, ou melhor, no fundo de sua cama macia, pronta para sonhos tranquilos. As pernas bateram mais lentamente. A força parecia lhe escapar agora.