Reconquista: a trajetória do tricampeonato da América (1º e 2º capítulos)

Page 1



Te x t o L É O G E R C H M A N N

Fotos LUCAS UEBEL

a trajetória do tricampeonato da américa


© 2018 Léo Gerchmann e Lucas Uebel Uma mensagem assustadora dos nossos advogados para você: Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida, sem a permissão do editor. Se você fez alguma dessas coisas terríveis e pensou “tudo bem, não vai acontecer nada”, nossos advogados entrarão em contato para informá-lo sobre o próximo passo. Temos certeza de que você não vai querer saber qual é. Este livro é o resultado de um trabalho feito com muito amor, diversão e gente finice pelas seguintes pessoas: Gustavo Guertler (edição), Fernanda Fedrizzi (coordenação editorial), Germano Weirich (revisão) e Celso Orlandin Jr. (capa e projeto gráfico) Obrigado, amigos. 2018 Todos os direitos desta edição reservados à Editora Belas Letras Ltda. Rua Coronel Camisão, 167 CEP 95020-420 – Caxias do Sul – RS www.belasletras.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte (CIP) Biblioteca Pública Municipal Dr. Demetrio Niederauer Caxias do Sul, RS

G365r

Gerchmann, Léo Reconquista: a trajetória do tricampeonato da América / Léo Gerchmann; fotos de Lucas Uebel. – Caxias do Sul: Belas Letras, 2018. 192 p.

ISBN: 978-85-8174-420-9

1. Futebol – Rio Grande do Sul. 2. Grêmio Foot-ball Porto Alegrense. I. Uebel, Lucas. II.Título.

18/01

CDU 796.332(816.51)

Catalogação elaborada por Maria Nair Sodré Monteiro da Cruz CRB-10/904


Prefácio

Duda Garbi

Foram 15 longos anos esperando um grande título. Um título do qual pudéssemos ter orgulho e que acabaria com uma seca que parecia infinita. Nós, gremistas, que vimos André Catimba terminar com uma sequência histórica de Gauchões do rival, sentimos pela primeira vez o gostinho de sermos os melhores do Brasil, em 1981, com um golaço abençoado por Deus, viramos donos da América e do mundo com a turma do De León e do Renato em 1983, fomos contra tudo e contra todos sob a batuta do Felipão, jogamos o mais lindo 3-5-2 do país com Tite, Zinho e Marcelinho Paraíba. Nós, isso mesmo, nós, mesmo após tudo isso, chegamos a pensar que nunca mais ganharíamos um grande título. Caímos, subimos, fomos vice do Brasileiro, vice da Libertadores, batemos na trave várias vezes e nada. Nada de o caneco aparecer. Em meio ao jejum, construímos uma imponente Arena, onde depositamos todas as nossas fichas para reconquistar as glórias. Mudamos da Azenha pro Humaitá. Tchau, Velho Casarão de tantas histórias. Era preciso se modernizar e assim se fez. Logo no primeiro ano contratamos inúmeros jogadores achando que os que vêm de fora podiam resolver nossos problemas. Que nada! A história do Grêmio mostra que goleiro e camisa 7 a gente fabrica dentro de casa. Saiba que neste momento estou escrevendo a bordo de um dos maiores aviões do mundo, rumando a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde vamos jogar o Mundial de Clubes da FIFA, novamente em busca de um mundial. Parece sonho, mas não é. Saiba que neste momento somos Tricampeões da América. Saiba que cada segundo desses 15 anos valeu a pena depois que a história colocou Marcelo Grohe, menino criado no Grêmio, a defender o pênalti do goleiro Weverton, do Atlético Paranaense, que nos deu a classificação para a semifinal da Copa do Brasil de 2016 e abriu o caminho para o Penta, que, por sua vez, abriu caminho para o Tri da América. Neste livro, que posso chamar de um precioso documento, meu amigo Léo Gerchmann registra de forma emocionante a trajetória do Grêmio para o Tri da Libertadores da América de 2017. O fotógrafo Lucas Uebel traz belíssimas imagens inéditas, que se misturam a dados, depoimentos e fichas técnicas. Portanto, amigo gremista, arrume um lugar de destaque na sua coleção, pois a Era de novas conquistas e livros pode estar só começando.


Começou no Penta da Copa

87 Capítulo 3 Oitavas de final 88 Godoy Cruz 0 x 1 Grêmio (04/07/2017) 98 Grêmio 2 x 1 Godoy Cruz (09/08/2017)

21 Capítulo 2 Fase de grupos 22 Zamora 0 x 2 Grêmio (09/03/2017) 34 Grêmio 3 x 2 Iquique (11/04/2017) 44 Guaraní 1 x 1 Grêmio (20/04/2017) 54 Grêmio 4 x 1 Guaraní (27/04/2017) 66 Iquique 2 x 1 Grêmio (03/05/2017) 76 Grêmio 4 x 0 Zamora (25/05/2017)

11 Capítulo 1

8 Introdução

sumário


Semifinais

Finais

146 Grêmio 1 x 0 Lanús (Argentina) (22/11/2017) 158 Lanús 1 x 2 Grêmio (29/11/2017)

145 Capítulo 6

126 Barcelona 0 x 3 Grêmio (25/10/2017) 136 Grêmio 0 x 1 Barcelona (01/11/2017)

125 Capítulo 5

107 Capítulo 4 Quartas de final 108 Botafogo 0 x 0 Grêmio (13/09/2017) 116 Grêmio 1 x 0 Botafogo (20/09/2017)


8

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO O Grêmio não é um clube encostado no extremo sul de um país com dimensões continentais. Você até pode ter essa visão periférica. Mas é exatamente o contrário: o Grêmio está no centro da América do Sul, na divisa entre os lados português e espanhol dessa charmosa região. E isso é uma vocação, é um especialíssimo determinismo cultural e geográfico, um misto de alma castelhana e ginga brasileira, de tango e samba, de carne e espírito. Sobre a sua grandeza, não são apenas os títulos que a sustentam. Os títulos são importantes? Claro! Mas eles são uma decorrência natural. Decorrem da alma brava e generosa, da força intensa e inaudita, da popularidade imensa e plural e da perseverança ímpar e reconhecida, que fazem desse clube um meritório acumulador de conquistas fantásticas. Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, América, Mundo e até, por que não citar, o Brasileiro do infortúnio, em outra ocasião não tão lisonjeira, quando venceu honrosa e espetacularmente o jogo mais dramático da história do futebol mundial. A grandeza é perene e independe de contextos pontuais. Tudo só é possível porque esse clube tem uma mística por trás. O surgimento do “Clube de Todos” se deu em 1903, no bairro Moinhos de Vento, passando os casarões da Avenida Independência, quando ali se estabelecia o limite de Porto Alegre ao norte, com seus animais, matagais e banhados limítrofes à estrada que seguia até Gravataí, o “Caminho dos Anjos”. Era uma estrada de chão, naquela que conhecemos hoje como a Avenida 24 de Outubro, seguida da Plínio Brasil Milano, no atual bairro Auxiliadora. Ali desfilava o casal Mostardeiro e Dona Laura. Havia a colônia africana e os comerciantes de origem europeia. Cândido Dias da Silva e seus amigos jogavam bola naqueles descampados e fundariam o Grêmio com a determinação


9

expandiriam a cidade e a fariam um dia ganhar a América e o mundo. É mágica a história desse clube, que passou do Moinhos à Azenha e ao Humaitá, novamente na entrada da capital gaúcha. Um clube que, por diversas circunstâncias que vincam nossa face de inevitáveis e lindas rugas da vida vivida, fez jejum de títulos expressivos durante 15 amargos anos neste início de século 21. Um clube que manteve ainda assim posições de liderança em rankings nacionais de conquistas relevantes e o topo absoluto em todas as pesquisas que medem o número de torcedores, de todos os estratos sociais. O Grêmio do Moinhos de Vento, que remete à ideia do sonhador quixotesco, da Azenha e suas batalhas épicas e do Humaitá e seu futuro glorioso, amado por negros, brancos e pardos, cristãos, judeus e muçulmanos, todas as classes sociais, os gêneros, as preferências. “Clube de Todos”, enfim, com seus 8 milhões de aficionados fidelíssimos e sempre apaixonados. Os anos de 1983, 1995 e 2017 marcam as três conquistas da Libertadores. O Tri é o máximo de conquistas da América atingido por algum clube brasileiro até este momento. Em 1983, Valdir Espinosa e seus comandados entraram no nosso panteão mais célebre. Em 1995, Luiz Felipe Scolari e seus soldados se somaram a eles. Em 2017, Renato Portaluppi, o maior de todos os comandados, o “Pelé gremista”, tornouse um improvável e talentoso comandante, ingressando ineditamente no tal panteão superior como craque e habilidoso treinador. Tantas glórias, tamanha História e tantos títulos podem ser sintetizados no Tri da América. Não é para qualquer um. Não é de qualquer um. Não é por qualquer um. Gregário até no nome e tendo no escudo o desenho da bola, a sua razão de ser, o Grêmio é puro sentimento.

RECONQUISTA

única de praticar esse jogo apaixonante. Mal sabiam que, dessa forma,



capítulo 1 Começou no Penta da Copa Está certamente entre os maiores clichês boleiros dizer que um time de futebol começa pelo goleiro. Ora, além de frase feita, isso é uma tremenda obviedade. Mas, como perguntaria Renato Russo, “quais são as palavras que nunca são ditas”?


12

Começou no Penta da Copa

Começou no Penta da Copa Este livro, então, começa seguindo essa lógica.

da conquista. Vídeos da defesa viajaram o

Só que tal opção vai além do clichê. Marcelo

mundo. Houve quem a definisse como a mais

Grohe, o guardião da meta tricolor, saiu dessa

impressionante deste século de 17 anos. Grohe

conquista com a imagem do homem das defesas

foi comparado ao britânico Gordon Banks, o

virtualmente impossíveis. Não, isso não se

protagonista daquela defesa que não deixou uma

deve apenas àquele pulo felino que o levou a

cabeceada perfeita de Pelé virar gol.

interceptar a bola chutada pelo atacante do Barcelona de Guayaquil, nas semifinais da Libertadores. Você se lembra, né? Claro que se

Só que, bem, não é apenas por causa dessa defesa que Grohe puxa o fio desta narrativa. Voltemos a 21 de setembro de 2016, noite de

lembra, porque é inesquecível! O grandalhão

clima ameno em Porto Alegre, 14 meses e oito dias

Ariel, do Barcelona, ajeitou o corpo a centímetros

antes do Tri na Libertadores. Arena lotada. O ídolo

da linha do gol, frontal, livre, com MilaGrohe fora

Renato Portaluppi voltando a treinar seu clube do

do lance, e bateu seco e forte, com a certeza de

coração depois de outro ídolo, Roger Machado, ter

ser feliz, já esboçando o sorriso de quem se via

deixado o cargo.

mudando toda a história de um jogo. Só que não!

Algo raro ocorreu naquele jogo. Marcelo Grohe

O sorriso prévio e o grito de gol já sendo enviado

falhou. Uma bola foi chutada em suas mãos e, em

pelo cérebro para retumbar nas cordas vocais

vez de agarrá-la, ele a soltou nos pés de André

tiveram de se retrair.

Lima, ex-centroavante tricolor, que fez o gol e não comemorou em sinal de respeito ao antigo

Para surpresa de todos, MilaGrohe, ágil e

clube pelo qual alardeia tanto amor. Como no jogo

atento, deu um salto e interceptou o caminho

anterior o Grêmio vencera por 1 a 0 em Curitiba,

certeiro da bola, que ainda ficou quicando e

a decisão foi para as dramáticas cobranças de

se ofereceu a ele docemente, recebendo seu

pênaltis. E Grohe ali se consagrou!

abraço. O mundo viu aquilo e ficou incrédulo com

Foram necessários 16 chutes diretos para a

tamanha destreza. Nós, gremistas, vibramos como

definição do vencedor. No finalzinho, bastava

se tivéssemos feito um gol. Na verdade, foi a

ao Atlético fazer o seu para ficar com a vaga

mesmíssima coisa.

nas semifinais. O goleiro Weverton, colega de

Ali, naquele momento, muita gente disse: se o Grêmio for campeão, essa será a imagem

Grohe na seleção brasileira, pediu para cobrar. A sensação era de que os dois se conheciam dos


13

espera na suplência do Olímpico e se consagrar no

Weverton correu, chutou forte no canto esquerdo

campo ótimo da Arena.

de Marcelo, e o herói gremista pulou feito um gato, interceptando a bola. Depois disso, o cobrador gremista acertou e o atleticano voltou a errar e... tudo começou. Eram instantes mágicos de um drama. Houve

Como diria o gênio negro Lupicínio Rodrigues em seu lindo hino tricolor, “até a pé nós iremos”. Um homem de fé, um perseverante, um predestinado que moldou seu destino com méritos que misturam o talento à consciência e

superação ali. Apareceu claramente a mítica do

à tenacidade. Naqueles segundos dramáticos do

Imortal Tricolor, em uma epopeia condizente com a

pênalti primevo, Grohe viu quase 30 anos de vida

história do clube.

serem repassados rumo à imortalidade.

A história era escrita em tons épicos e

Não por acaso, o capitão Maicon abriu mão de

dramáticos, fazendo jus à mais que centenária

ser o primeiro a levantar a taça do Penta. Ofereceu

trajetória tricolor. E não foi pouco o fato de dois

a primazia a Grohe e depois explicou o gesto de

gremistaços de raiz, Grohe e “Deusnato”, estarem

desprendimento e amizade:

entre os protagonistas do que ainda viria nos meses seguintes. A partir daquele jogo e da façanha de Grohe, o

– Eu sempre brinco com o Marcelo: acho que ele nasceu no Olímpico, a mãe dele teve ele aqui. O menino gremistinha Marcelo veio à mente do

Grêmio superou os mineiros Cruzeiro e Atlético,

adulto goleiro Grohe. Todo seu fanatismo tricolor

jogando e sobrando, e o Penta da Copa do Brasil

aflorou. A sobrancelha esquerda de MilaGrohe

veio como um estrondo de alegria. Mais que isso,

ficou arqueada, uma lágrima furtiva escorreu dos

porém: o Penta garantiu o Grêmio na Libertadores

olhos marejados e ele pensou: queria ir muito além

de 2017.

do Penta.

Você dirá: resiliência de Marcelo. Não! Perseverança. Toda resiliência, o ato de cair e

Como veremos nos próximos capítulos, ele foi! A entrega da taça para ser erguida diante dos

voltar, é perseverança; mas nem toda perseverança

holofotes da posteridade foi, sobretudo, um prêmio do

é resiliência. Grohe é um homem de fé, é um típico

generoso capitão Maicon ao lindo sentimento que é

imortal moldado no Vale do Sinos, que deixou sua

o de ser gremista desde sempre. Um reconhecimento

Campo Bom ainda menino para amargar anos de

do Maicon, que descobriu já adulto essa paixão.

RECONQUISTA

treinos e que tudo estava terminado para nós. Pois




erra passes. Também por ali circula Ramiro, o “Ramirinho”, motorzinho que se mexe por todo o campo, marcando, armando e concluindo, guri que

Começou no Penta da Copa

16

Marcelo Grohe é apenas o primeiro integrante,

cresceu em Gramado ouvindo desde a infância os

o número 1, na ordem de escalação, posição por

jogos do seu (nosso...) Tricolor amado. Depois,

posição, da família que Renato forjou. Um time em

Luan. Ah, Luan, o cracaço Luan... Na decisão da

que todos eram titulares.

Libertadores, ele entrou na área adversária aos

Nas laterais, temos pela direita a qualidade

dribles, como quem passeia numa tarde morna

técnica, a energia e o chute potente de Edilson;

de domingo, dando uma cavadinha para encobrir

pela esquerda, um rodado e revitalizado Cortez,

o goleiro e sorrir rumo à glória eterna. Craque de

que encontrou na Arena o ambiente propício para

bola! Guri ousado!

recuperar o futebol que o tornara uma promessa

No ataque, o habilidoso equatoriano Miller

carioca insistente em não vingar. No banco, a

Bolaños se bandeou para o México em meio à

experiência e o extremo talento do destro Léo

competição, mas deixou suas marcas na trajetória

Moura, tarimbado líder com alma de iniciante aos

rumo ao Tri. Pedro Rocha, o “PR32”, saiu da

quase 40 anos. Pela esquerda, Marcelo Oliveira

Arena para jogar na Rússia também em meio

perdeu a posição para Cortez ao sair lesionado. Sua

à competição. Foi uma transação que o clube

compreensão de que Renato escolheu Cortez pelo

se viu na obrigação de fazer. O craque “PR32”,

mérito deste é um dos exemplos que podem ser

reconhecido pelo talento de atacante rápido,

enumerados para definir o grupo afinado do paizão

veloz e habilidoso, deixou uma lacuna na linha

Portaluppi.

ofensiva tricolor, na alma do grupo e no amor da

Na zaga, a sofisticação e a liderança de

torcida que cativara. Mas havia três atacantes que

Pedro Geromel, o “Geromito”, com seu senso de

brilharam até o fim do torneio: o veloz Everton,

colocação, técnica apurada e arroubos de atacante.

típico ponteiro que atua pela esquerda, mas,

Ao seu lado, Walter Kannemann, o “Kannemonstro”

altamente habilidoso, surpreende em qualquer

ou “Xerife Kannemann”, argentino de fibra, cuja

lugar, em especial quando entra no segundo

ferocidade faz com que muitos o chamem, também,

tempo para tontear os adversários. O centroavante

de “Cãonemann”. Geromito e Xerife Kannemann:

clássico Barrios, o “Papi”, argentino naturalizado

a dupla que faz a torcida suspirar de felicidade,

paraguaio, autor de gols decisivos. E Fernandinho,

lembrando outros “monstros” que fizeram história

o desacreditado Fernandinho, que Renato soube

no Tricolor, tais como Airton, Ancheta, Oberdan,

reinventar para alegria do jogador, do técnico e da

De León, Baidek, Adilson, Rivarola, Mauro Galvão

torcida. Nas finais, o primeiro gol foi dele, numa

e outros. Na reserva, os disciplinados Bressan e

arrancada que deixou os argentinos comendo

Thyere, essenciais quando acionados.

poeira e a conclusão de canhota, com o chute

No meio, a força de Michel, Maicon, Jailson, todos eles jogadores que marcam forte e apoiam com qualidade. Já no fim do campeonato, foi

violentíssimo que deixou o goleiro Andrada sem entender nem o raio nem o trovão. E houve outros: Jael, o “Cruel”, foi decisivo

chamado o versátil Cícero. Mais à frente, Arthur,

no primeiro jogo das finais. Christian chegou do

o “Rei Arthur”, jovem craque formado na base

Corinthians em meio à competição e ajudou a

do clube, que surpreende pela forma com que

arejar o ambiente. E, claro, Douglas, o “Maestro

protege a bola, clareia atalhos e raramente

Pifador”. Essencial na campanha pelo Penta da


Copa do Brasil, que levou à Libertadores, ele se

que liderou tecnicamente o primeiro time gremista

machucou gravemente, mas acompanhou os

campeão da América (e do Mundo) voltou 34 anos

colegas durante todo o ano. Sua presença no

depois para repetir o feito como treinador. Em 1983,

vestiário, inclusive em Lanús, foi outra que ajudou

ele fez a jogada fantástica que resultou no gol de

a cimentar a família vitoriosa.

César contra o Peñarol e os dois golaços do título

E Renato, hein? O que dizer desse sujeito?

foi de líder tático e moral. Em meu livro Viagem à alma tricolor em 7

Mito? Rei? Messias? Deus? Craque inesquecível?

epopeias, o número 7, cabalístico, remete à

Galã que arrancava suspiros das mulheres? Sei

camiseta que Renato usava quando nos deu os

lá como qualificá-lo, é algo superior, é tudo isso

títulos americano e mundial. A mesma camiseta

ao mesmo tempo. Sei que o amo como a um

que Luan honrou neste 2017. O “7” gremista

irmão mais velho! Nós todos o amamos! Homem

se equivale ao “10” que vem à mente quando

afeito ao olho no olho, à conversa sincera, é visto

pensamos em Pelé, Zico, Rivellino e Maradona.

pelos comandados como amigo, chefe e líder

Aliás, o título Viagem à alma tricolor em 7 epopeias

justo. Sempre foi assim. Criado no Grêmio, seus

(que faz parte da minha “Trilogia Tricolor”) deriva

primeiros ganhos como jogador, no início dos anos

da junção de duas obras do mestre Júlio Verne,

1980, foram repassados à família necessitada.

Viagem ao centro da terra e Volta ao mundo

Aos amigos, a mão sempre esteve generosamente

em 80 dias, com suas aventuras inacreditáveis,

estendida. São tocantes os depoimentos a respeito.

personagens de grande fibra moral e projeção para

Aos jovens, essa personalidade cativa e maravilha.

o futuro glorioso. Em Viagem à alma tricolor, aliás,

Aos veteranos também. É o exemplo positivo. Tudo

deixei em aberto que outras epopeias viriam depois

isso em meio ao bom humor e à camaradagem

do ponto final pingado ali. E este livro aqui é a

brejeira. Tal combinação faz com que os jogadores

maior prova disso.

redobrem esforços por um cara tão legal. Já o

Bem, cabe ainda menção especialíssima a uma

Renato da mídia é o falastrão e desafiador, que

direção, capitaneada pelo presidente Romildo

análises afoitas veem como arrogante, quando

Bolzan Jr, que deu todo o suporte a “Renato e seus

é exatamente o oposto. Gremista assumido em

blue boys”. Romildo e demais dirigentes, do futebol

todas as conversas nas quais isso é perguntado ou

ao jurídico, passando pelo marketing criativo e

não, costuma contar que sua mãe, Maria, fez-lhe

pelo Departamento de Torcidas (DTG), agiram

um pedido pouco antes de morrer, em 2010: que

firmemente nos bastidores sempre que necessário.

sempre ajudasse o Grêmio. Ora, o pedido da mãe coincide com a vontade do filho, e o resultado é impressionante. O jogador

E como foi necessário... Vistos os personagens, vamos agora a um passeio pelos 14 jogos que os consagraram.

17

imortalidade do Tricolor, Tricoamado, Tricampeão!

mundial contra o Hamburgo. Em 2017, sua atuação

RECONQUISTA

Esse grupo citado acima entrou para a





capítulo 2 Fase de grupos O Grêmio começou sua gloriosa campanha na Libertadores de 2017 sob a expectativa de que o trio BLB (Bolaños, Luan e Barrios) resolvesse a parada.


GrĂŞmio

Zamora (Venezuela)

0x2

(09/03/2017)



24

Fase de grupos

Fase de grupos O “Diabo Loiro” Paulo Nunes, ídolo

Grohe já havia feito algumas das suas defesas. E

extremamente identificado com o clube e

veio então uma marca registrada desse time TRI: a

protagonista no bi da América em 1995,

tabela envolvente aos 45 minutos do primeiro tempo

ostentando também ele a mítica camiseta

contou com a participação dos hábeis Luan e Pedro

número 7, comentou sobre os três.

Rocha, que encontrou Léo no meio da área. Com agilidade de menino, o tarimbado Léo, que parece

– Eles têm características diferentes. Luan

ter nascido no Grêmio, girou o corpo e fez o gol.

e Bolaños conseguem recompor o meio e vir

Veio o intervalo e o recomeço do jogo. Eram quatro

com a bola de trás. Barrios é jogador de área. É

minutos do segundo tempo quando PR32 disparou

importante ter alguém como ele na Libertadores.

em alta velocidade pela esquerda e cruzou para

Tem experiência e poder de finalização.

Ramiro, que foi derrubado. Dois minutos depois,

Não dá para tirar a razão do eterno ídolo Paulo Nunes. Quanto a Luan, você verá que chega a ser ocioso qualquer comentário sobre o craque

Luan batia o pênalti e determinava a primeira vitória daquela que seria uma campanha histórica. Desde aquele momento, havia uma certeza: o

supremo da camiseta 7. Barrios mostraria o

Grêmio buscaria todos os títulos. Acabou entre os

acerto do Diabo Loiro nas quartas de final, quando

primeiros colocados no Brasileiro mesmo atuando

seria decisivo contra o Botafogo. Mas todos se

com jogadores reservas dos reservas em boa parte

esqueceram de Léo Moura, o veterano com tesão de

das partidas. Na Copa do Brasil, parou apenas

guri, homem de confiança do Renato.

na decisão por pênaltis contra o Cruzeiro, já nas

Foi pelos pés hábeis e até pelo oportunismo de Léo que a campanha da Libertadores se iniciou. O jogo era nervoso, mas o Grêmio conseguiu se

semifinais. Queria o hexa, claro. Mas, acima de tudo, queria o tri da América. O time que foi alardeado como o de futebol

impor pela qualidade técnica, com passes rápidos

mais bonito do Brasil em 2017 dava seus primeiros

e precisos, nos primeiros minutos. Estreia fora de

movimentos no voo que superaria desertos e

casa, grande expectativa.

cordilheiras rumo à consagração continental.


Ficha técnica Zamora Salazar; Faría (Ronald Hernández), Hernández, Fillipetto e Luis Ovalle; Vargas (José Pinto), Melo, Gallardo e Peña; Ricardo Clarke (Sosa) e Uribe. Técnico: Francesco Stifano Grêmio Marcelo Grohe; Léo Moura, Thyere, Kannemann e Marcelo Oliveira; Michel, Jailson, Ramiro e Miller Bolaños; Pedro Rocha e Luan. Técnico: Renato Portaluppi Gols: Léo Moura (G), aos 45 minutos do primeiro tempo e Luan (G), aos seis minutos do segundo tempo Árbitro: Darío Herrera (Argentina) Local: Estádio Augustín Tovar, em Barinas (Venezuela)










Iquique (Chile)

Grêmio

3x2

(11/04/2017)



36

Fase de grupos

Grêmio 3 x 2 Iquique (Chile) (11/04/2017) O segundo jogo servia para sacramentar a

O Grêmio parecia acomodado. O Iquique

liderança. Era na Arena. O Iquique chegava com

avançava pela esquerda, jogava em velocidade.

a aura de ser o melhor time do Chile. Renato

Aos 15 minutos, o volante Caroca cabeceou após

usou a preleção para falar sobre a necessidade

cobrança de escanteio. 3 a 1 e um desconforto que

de manter o foco, a concentração permanente.

percorria as cadeiras azuis da linda Arena. Apenas

Tornou-se um lema esse apelo do mito Renato aos

sete minutos depois, veio o gol que impôs o pavor.

seus comandados. Calejado nos gramados e nos

Dávila fez o gol, com um chute rasteiro.

vestiários, Renato sabe o que diz.

Estavam demonstradas a alardeada qualidade do time chileno, que não aparecera no primeiro

O Grêmio começou o jogo parecendo passear.

tempo, e as razões da preleção feita por Renato.

Os jogadores trocavam passes. A bola deslizava

O tempo foi passando, e a preocupação com o

pelo gramado impecável da Arena, de pé em pé.

eventual gol chileno que estabeleceria o empate

As chances surgiam ao natural. Algumas eram

heroico.

desperdiçadas, para apreensão da torcida. A partir

Mas o juiz apitou. E tudo terminou!

dos 15 minutos, quando Luan dominou a bola na

Nas entrevistas pós-jogo, Renato cunhou uma

entrada da área e encobriu o goleiro, o time passou

expressão que viraria marca registrada: “Nana

a empilhar gols. Oito minutos depois, Léo Moura

neném!”. Assim falou o ídolo tricolor ao se encerrar

lançou Luan, que fez o segundo gol com uma

o jogo:

cavadinha. O Iquique ficou desnorteado, atônito.

– Deu aquele soninho no segundo tempo (...)

Aos 25 minutos, Miller Bolaños fez lançamento

Quase deixamos escapar um resultado importante

em profundidade para o agudo Pedro Rocha. PR32

dentro de casa. O puxão de orelha já foi dado. Tem

invadiu a área e foi derrubado. A regra é clara:

que servir de lição para os próximos jogos (...) Mas

pênalti! O mesmo Miller Bolaños que fizera o

quero lembrar que o Grêmio venceu o jogo.

lançamento se encarregou de deslocar o goleiro com categoria e pôr o Grêmio com 3 a 0 em um impecável primeiro tempo. Tudo parecia tão tranquilo e ameno quanto a temperatura naquele começo de outono. O discurso de Renato manteria o efeito diante de tamanha vantagem? E veio o segundo tempo.

E completou com a frase que ficou marcada na mente de cada jogador: – O problema foi o nana neném. Eles dormiram. Depois acordaram e viram o que estava acontecendo. Ufa. Acordaram mesmo! E assim permaneceram. Tão importante quanto a própria vitória foi a lição aprendida.


37

RECONQUISTA

Ficha técnica Grêmio Marcelo Grohe; Edilson, Thyere, Kannemann e Marcelo Oliveira; Ramiro, Maicon (Fernandinho), Léo Moura (Michel) e Bolaños (Barrios); Pedro Rocha e Luan. Técnico: Renato Portaluppi Iquique Brayan Cortés; Enzo Guerrero, Hernán López, Mauricio Zenteno e Tomás Charles; Rafael Caroca, Misael Dávila e Felipe Reynero (Mathias Riquero); Luis Bustamante, Diego Torres (Diego Bielkewicz) e Álvaro Ramos. Técnico: Jaime Vera Gols: Luan (G), aos 15 minutos do primeiro tempo, Luan (G), aos 23 minutos do primeiro tempo, Miller Bolaños (G), aos 28 minutos do primeiro tempo, Caroca (I), aos 15 minutos do segundo tempo e Dávila (I), aos 22 minutos do segundo tempo Árbitro: Esteban Ostojich (Uruguai) Local: Arena do Grêmio








1x1

Grêmio

Guaraní (Paraguai)

(20/04/2017)



46

Fase de grupos

Guaraní (Paraguai) 1 x 1 Grêmio (20/04/2017) O terceiro jogo do Grêmio foi antecedido por um

Hora no dia seguinte era “Banguzinho traz ponto

dilema. O calendário do futebol brasileiro, todos

na Libertadores”. Ufa! Sete pontos em nove e

sabem, é cruel. Por vezes, não tem lógica. Isso fez

tranquilidade nas outras competições.

com que a comissão técnica tricolor avaliasse a possibilidade de ir a Assunção enfrentar o Guaraní com jogadores reservas para poupar titulares.

Via-se ali que o Grêmio tinha planejamento e estratégia. Mas vamos contar como foi o jogo: o Guaraní

Claro, havia o Campeonato Brasileiro, a Copa do

chegou motivado por uma vitória no fim de semana

Brasil e até o Gauchão, que acaba tendo o peso

anterior pelo campeonato paraguaio. O capitão

da rivalidade local. Mas pôr reservas em time na

do time, o uruguaio Palau, alardeava que tinha

Libertadores?!!

estudado o Grêmio em minúcias. Comentava com todos, demonstrando um misto de respeito e

Este autor confessa que queria força máxima.

confiança, que “o Grêmio não é imbatível”. A partida

Dilema, dilema, cruel dilema... Buenas, os

era de alto risco.

dirigentes e o treinador estão lá para resolver tudo

O jogo começou com o Guaraní tentando se impor

isso com serenidade. Pesaram o fato de o time

em casa. Martelava, martelava, mas não chegava ao

estar com 100% de aproveitamento, classificação

gol. Ao mesmo tempo, seus jogadores percebiam

bem-encaminhada e, claro, outros contextos. Era

que Fernandinho e Barrios estavam em noite

importante dar uma largada firme no Brasileiro,

inspirada, que o “Rei Arthur” marcava forte e sempre

por exemplo, para mais adiante ter a tranquilidade

achava os atalhos para armar jogadas, com seus

essencial nas fases decisivas. E assim foi. Ainda

giros de corpo desconcertantes. Jogo equilibrado,

bem que dirigentes são dirigentes, treinadores

difícil, aparentemente se encaminhando para um

são treinadores, jornalistas são jornalistas e

bom 0 a 0. Mas veio uma chuvarada forte dos céus

escritores são escritores. Eles, dirigentes e

de Assunção, e Michel, depois de acertar Novick

treinador, tinham razão.

involuntariamente com o cotovelo, foi expulso. E

O Grêmio foi de misto, para meu desespero.

veio aquilo que mais temíamos. O capitão uruguaio

Mas juro que, nas redes sociais com os amigos,

Palau, aquele mesmo que falara sobre o Grêmio não

comentei: “O Renato deve saber o que está

ser invencível, cruzou para López, que recém havia

fazendo”. O título de Zero Hora em 20 de abril

entrado em campo. E o López meteu a bola no nosso

era “Poupar ou não poupar?”. O título de Zero

gol, aos 27 minutos do segundo tempo.


e chuva, tudo isso na casa do adversário. Mas

e a vaga no time é conquistada por mérito. Esse tipo de mentalidade forja irmãos. É capaz

Pedro Rocha pulou do banco a pedido de Renato

de fazer com que o capitão Maicon, voltando de

e começou a aquecer. Entrou no lugar do garoto

lesão, diga que prefere deixar a titularidade com

Lincoln e deu poder ofensivo ao Tricolor. E esse

Michel, que o substituiu.

poder, aos 33 minutos do segundo tempo, resultou em gol. Arthur lançou PR32 com a precisão dos craques que sabem armar um time. De sem-pulo, Pedro acertou um chute indefensável, no contrapé do goleiro Aguilar. O Grêmio crescia. Aos 36 minutos,

Grupo coeso e unido, com liderança, parceria e solidariedade. A química perfeita! Ah, sobre Palau, ficou a dica: claro que o Grêmio não é invencível. Mas é o Imortal Tricolor! Perceba, lendo a escalação, que, com a

apenas três depois do gol, o mesmo endiabrado

posterior transferência de Pedro Rocha para o

PR32 cortou o zagueiro e chutou de chapa. Seria gol

futebol russo e de Miller Bolaños para o futebol

de placa. Por milímetros! A bola encontrou a trave.

mexicano, esse time misto acabou sendo

Resultado importante esse ponto fora de casa.

mais titular em relação ao ideal que terminou

Ao mesmo tempo, o time tratava de fazer o dever

a Libertadores como tricampeão. Michel e

nos campeonatos nacional e doméstico. Renato

Cortez também, por merecimento, acabaram

tirou da cartola uma declaração que retumbou num

conquistando a titularidade. Pode ser considerado

vestiário que já virava uma família vitoriosa:

um “misto quente”, como se convencionou dizer

– No Grêmio, todos podem entrar. Todos devem estar preparados para entrar.

47

jogador a menos, poucos minutos para a reação

Em outras palavras: ninguém tem cadeira cativa,

sobre times reservas com boa quantidade de titulares.

Ficha técnica Guaraní Alfredo Aguilar; Carlos Rolón, Nery Bareiro, Luis Cabral e Marcelo Baez; Luis de la Cruz (Bogarin), Juan Aguilar, Marcelo Palau e Hernán Novick (López); Epifanio García e Néstor Camacho. Técnico: Daniel Garnero Grêmio Marcelo Grohe; Edilson, Thyere, Bressan e Cortez; Michel, Jailson, Arthur e Lincoln (Pedro Rocha); Fernandinho (Kaio) e Lucas Barrios (Everton). Técnico: Renato Portaluppi Gols: López (Gua), aos 27 minutos do segundo tempo, e Pedro Rocha (G), aos 33 minutos do segundo tempo Árbitro: Wilmar Roldán (Colômbia) Local: Estádio Defensores del Chaco (Assunção)

RECONQUISTA

Parecia o fim de tudo. Resultado adverso, um










Guaraní (Paraguai)

Grêmio

4x1

(27/04/2017)



58

Fase de grupos

Grêmio 4 x 1 Guaraní (27/04/2017) Como um espelho, a Libertadores tem os jogos de

excelentes 83,3% nas partidas disputadas. O futuro

volta da fase de grupos começando pelo último.

nos sorria.

Nos planos do Grêmio, que utilizara reservas em

A construção da vitória ocorreu assim: aos

Assunção, estava a obtenção virtual da vaga no

sete minutos de jogo, Luan fez um cruzamento

jogo contra o Guaraní na Arena. Havia uma aposta

preciso para Barrios, que, entre os zagueiros

firme em Lucas Barrios, ídolo gremista e titular

adversários, desviou do goleiro Aguilar. Era o típico

da seleção paraguaia. A fase do “Papito” era

gol de centroavante, aquele jogador cuja principal

ascendente. Tratava-se do “fazedor de gols” que

qualidade deve ser o senso de colocação na área,

o vice-presidente Adalberto Preis alardeara como

uma intuição, um dom, que Barrios traz na alma.

essencial depois da campanha do ano anterior, que

Aos 13 minutos, Miller Bolaños sentiu uma lesão

resultara no Penta da Copa. Seria um avanço para

e foi substituído pelo então reserva Arthur. Vinte

aquele Tricolor que passara a ser chamado “Rei de

minutos depois do primeiro gol, Barrios aproveitou

Copas” em razão das glórias acumuladas.

uma ótima jogada de Marcelo Oliveira e ampliou. O Grêmio amassava o Guaraní, que chegara a

E a expectativa se cumpriu. Barrios fez três

Porto Alegre com o objetivo de explorar as jogadas

dos quatro gols na goleada tricolor. Argentino

aéreas e surpreender o setor defensivo tricolor que,

naturalizado paraguaio e perfeitamente adaptado

segundo eles, teria ali a sua vulnerabilidade.

à Arena, o centroavante buscado no Palmeiras a

Tudo ia de forma tranquila, mas chegou a

peso de ouro deslanchou naquele jogo. Os zagueiros

ocorrer um susto, um acidente: a bola bateu em

Barreiro e Cabral ficaram tontos com a movimentação

Léo Moura e entrou, num gol contra que poderia ter

e o senso de colocação do artilheiro da sua seleção.

desestabilizado o time e mudado a história do jogo.

– Ele encheu as medidas, fez três gols,

Só que não! Arthur, Ramiro e Luan tocavam a bola

cumprindo o papel em razão do qual foi contratado

com a qualidade que carimbou o time de Renato.

– comentou o vice-presidente de futebol, Odorico

Aos 40 minutos, parecia que tudo se desanuviaria.

Roman, que dividiu o comando do setor com o

Arthur foi derrubado dentro da área por Bartomeus.

diretor Saul Berdichevski.

Era a chance para compensar o gol contra. Mas

Começava ali a participação essencial de “Papito” no Tri Tricolor. Naquele momento, com 10 gols em quatro jogos, o aproveitamento da equipe de Renato atingia

o goleiro defendeu a cobrança rasteira de Luan, e tudo indicava que o intervalo seria tenso na Arena. Começaram, porém, a surgir boas notícias: Camacho foi expulso aos 45 minutos, deixando


o Guaraní com um jogador a menos. E, já aos

criava oportunidades de ampliar o marcador.

48, Geromito aproveitou cobrança para fazer, de

O garoto Lincoln, que seria emprestado para o

cabeça, o 3 a 1 que fazia time e torcida gremistas

futebol turco em meio à temporada, teve também

respirarem bem mais aliviados.

sua participação na campanha do Tri. Entrou no lugar de Luan aos 26 minutos do segundo

neném” da vitória sobre o Iquique estava

tempo e, sete minutos depois, deu o passe para

registrado no perfil do time de Renato. No retorno

Barrios fazer seu terceiro gol e quarto do time, que

do intervalo, os jogadores estavam concentrados,

consolidava a vitória de 4 a 1.

decididos a não deixar a vantagem do primeiro

Arena. RECONQUISTA

tempo se esvair. O Tricolor controlava o jogo e

Eram excelentes os sinais que emanavam da

59

No segundo tempo, ficou claro que o “nana

Ficha técnica Grêmio Marcelo Grohe; Léo Moura, Geromel, Kannemann e Marcelo Oliveira; Jailson, Ramiro, Luan (Lincoln) e Miller Bolaños (Arthur); Pedro Rocha e Lucas Barrios (Everton). Técnico: Renato Portaluppi Guraraní Alfredo Aguilar; Carlos Rolón, Nery Bareiro, Luis Cabral e Tomas Bartomeus; Marcelo Palau, Wilson Pittoni (Martínez), Juan Aguilar e Antonio Marín (Contrera); Epifanio García e Néstor Camacho. Técnico: Daniel Garnero Gols: Barrios (G) aos 7 minutos do primeiro tempo, Barrios (G) aos 27 minutos do primeiro tempo, Léo Moura contra (Gua) aos 32 minutos do primeiro tempo, Geromel (G) aos 48 minutos do primeiro tempo e Barrios (G) aos 33 minutos do segundo tempo Árbitro: Patricio Loustau (Argentina) Local: Arena do Grêmio








(03/05/2017)

Grêmio

Iquique

2x1



68

Fase de grupos

Iquique 2 x 1 Grêmio (03/05/2017) Foi no deserto chileno de Calama que o Grêmio

imaginando um DVD com as defesas dele nessa

experimentou seu momento mais árido na

Libertadores...), mas a bola sobrou para Dávila, que

gloriosa campanha do Tri. A vitória seria a

dividiu com Ramiro. Ramirinho foi limpo na bola

classificação antecipada. O empate seria

e apenas nela encostou. Mas o juiz não viu assim

aceitável. A derrota... bem, esta opção jamais

e assinalou pênalti, para desespero tricolor. Eram

é aceita pelo Tricolor, apesar da eventual

23 minutos, apenas quatro depois do gol gremista,

inevitabilidade.

quando Bielkiewicz deslocou Grohe e empatou. No segundo tempo, os chilenos se aproveitaram de

Era o momento certo para tropeçar. E foi ali.

um breve “nana neném”. Pedro Rocha fez uma falta

O time não se encontrou. As tradicionais

desnecessária e Torres cobrou. Dessa vez, nossa

trocas de passes e aproximações não ocorreram.

muralha de Campo Bom dormitou e pulou tarde. Era

A solução foi a insistência nas jogadas aéreas.

2 a 1 pra eles, e assim ficou.

E foi em um escanteio do lado direito que a

Nem as entradas de Arthur, Everton e

vitória pareceu sorrir, um sorriso fugaz. Eram 19

Fernandinho, com maior presença ofensiva e boas

minutos do primeiro tempo. Luan fez a cobrança,

chances de gol, mudaram a jornada árida, que seria

Kannemann pulou alto e desviou a bola, Barrios

pontual, mas de grande valia.

estava onde centroavantes devem estar e fez o gol, o seu alvissareiro quinto gol em três jogos. Mas a alegria durou pouco. Instantes depois, MilaGrohe fez uma de suas fantásticas defesas (fico

Moral da história: não dá para ter vacilo nem por um instante. Você verá na continuação deste livro: a lição foi definitivamente assimilada!


Ficha técnica Iquique Cortés; Moreno, Guerrero, Zenteno e Dávila; Caroca, Riquero (Álvaro Ramos), Farías e Reynero (Bustamante); Bielkiewicz e Torres. Técnico: Jaime Vera Grêmio Marcelo Grohe; Léo Moura, Geromel, Kannemann e Marcelo Oliveira; Jailson (Fernandinho), Michel (Everton), Ramiro e Luan; Pedro Rocha (Arthur) e Lucas Barrios. Técnico: Renato Portaluppi Gols: Barrios (G) aos 19 minutos do primeiro tempo, Bielkiewicz (I) aos 23 minutos do primeiro tempo e Torres (I) aos três minutos do segundo tempo Árbitro: Germán Delfino (Argentina) Local: Estádio Municipal Zorros del Desierto, Calama (Chile)








(25/05/2017)

zamora

GrĂŞmio

4x0



78

Fase de grupos

Grêmio 4 x 0 Zamora (25/05/2017) Uma cara nova se mostrou no jogo contra o

Lanús conseguira três pontos e o placar de 3 a 0

venezuelano Zamora, em que o Grêmio asseguraria

em um dos seus seis jogos porque, mesmo tendo

a passagem de fase: o meia-atacante argentino

perdido por 2 a 1 para a Chapecoense, a equipe

Gastón “Gata” Fernández teve sua oportunidade de

brasileira teria inscrito mal um jogador, fato

ouro com a expulsão de Ramirinho no jogo anterior.

negado com veemência por dirigentes do clube de

Por ora, o armador vinha jogando apenas no

Santa Catarina.

campeonato gaúcho, com atuações satisfatórias.

O primeiro colocado na classificação geral

Acabou sendo uma figura de passagem meteórica

da fase de grupos foi o Atlético-MG. O segundo

no Grêmio. Sem chances de ocupar a titularidade,

colocado dependeria da rodada. Se o Grêmio

diante de tantos colegas que estavam a sua frente,

fizesse cinco gols de diferença, superaria o Lanús

acabou retornando para a Argentina, emprestado

apesar dos pontos e do saldo que os argentinos

para o Estudiantes de La Plata. Mas, nesse jogo, o

conseguiram contra a Chape. Se fizesse totalmente

último da fase de grupos, deixou sua marca. Uma

improváveis sete gols de diferença, superaria o

curiosidade: Gata nasceu em outubro do mítico ano

Atlético.

gremista de 1983. E onde? Em Lanús! Se você não

Na Libertadores, a classificação na fase de

percebeu o simbolismo que isso traz, entenderá ao

grupos define mandos de campo para todas as

terminar de ler este livro.

fases seguintes, de mata-mata, sempre em dois jogos, lá e cá (ou cá e lá), com teor eliminatório.

– Estou adaptado 110%. A única situação neste

Claro: não faltou quem criticasse os dirigentes

momento é que a equipe está jogando em nível

gremistas por terem escalado time misto no jogo

altíssimo, em todas as linhas, principalmente na

contra o Guaraní em Assunção. Uma vitória naquele

frente. Então, é difícil entrar – disse o jogador

jogo teria deixado o Tricolor à frente de todos.

argentino antes da partida, dando a senha de que

Volte umas páginas e veja: a partida contra os

estava feliz, mas não totalmente.

paraguaios terminara em 1 a 1.

A noite foi iluminada na Arena. A vitória daria

Buenas, quem fica parado é poste, e o

ao Grêmio a classificação em primeiro lugar no

retrovisor é mau conselheiro. O Grêmio entrou em

seu grupo, o que seria importante nas próximas

campo determinado a golear. E efetivamente foi

fases, por assegurar o mando nos jogos de volta.

acumulando gols contra o Zamora.

Se fizesse uma contundente goleada de 5 a 0, ficaria à frente do Lanús pelo saldo de gols. O

Era o Grêmio atacando e o Zamora se defendendo. Até os 17 minutos, o goleiro Salazar se


minutos Luan cobrou falta bem colocadinha... só

Filipetto, e Luan bateu o pênalti com categoria. Era

que a bola esbarrou na trave. Aos 22, Pedro Rocha,

o terceiro. As chances se sucediam. No segundo

nosso agora saudoso PR32, disparou pela esquerda

tempo, aos 18 minutos, Gata passou de calcanhar

e deu o chamado “drible elástico” bem junto à

para PR32, que fez o quarto. Já eram 36 minutos

linha de fundo, deixando o adversário zonzo ao ser

da etapa final quando Fernandinho, que entrara

ludibriado com o negaceio do craque que gruda a

no lugar de Arthur, sofreu pênalti. Era a chance de

bola no pé e a puxa, mudando seu sentido. Já na

passar à frente do Lanús para a eventualidade de

área, sozinho, PR32 levantou a cabeça e enxergou

enfrentá-lo em alguma decisão. Só que Luan bateu

Luan livre: 1 a 0. Três minutos depois, a troca de

e... Salazar defendeu.

passes envolvente do Grêmio de Renato deixou

São ironias da vida.

PR32 em condições de acionar Gata Fernández.

O próprio Luan mostraria mais adiante que

Da direita, o argentino cruzou para Barrios ampliar. Aos 28 minutos, ainda no primeiro tempo, Cortez

aquele pênalti desperdiçado não faria falta. E assim se encerrava a longa fase de grupos.

Ficha técnica Grêmio Marcelo Grohe; Léo Moura (Léo Gomes), Geromel, Kannemann e Bruno Cortez; Michel, Arthur (Fernandinho), Luan e Gastón Fernández (Everton); Pedro Rocha e Lucas Barrios. Técnico: Renato Portaluppi Zamora Salazar; Faría (Gallardo), Filipetto, Flores e Ovalle; Hernández, Pinto, Ynmer González e García; Pérez (Maiker González) e Martínez (Moreno). Técnico: Francesco Stifano Gols: Luan (G) aos 22 minutos do primeiro tempo, Barrios (G) aos 25 minutos do primeiro tempo, Luan (G) aos 28 minutos do primeiro tempo e Pedro Rocha (G) aos 18 minutos do segundo tempo Árbitro: Juan Albarracín (Equador) Local: Arena do Grêmio

79

foi derrubado dentro da área pelo venezuelano

RECONQUISTA

comportava como um escudo antimísseis. Aos 21








Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.