Design - Conceitos e métodos

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Tai Hsuan-An

DESIGN

Conceitos e Métodos


Blucher Publisher Edgard Blücher Editor Eduardo Blücher Produção editorial Bonie Santos Camila Ribeiro Maria Isabel Silva

Copyright © Tai Hsuan-An, 2017 Editora Edgard Blücher Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4o andar 04531-012 – São Paulo – SP – Brasil Tel.: 55 (11) 3078-5366 editora@blucher.com.br www.blucher.com.br

Preparação de texto Davi Miranda

Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, março de 2009.

Revisão de texto Diego da Mata

É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização escrita da editora.

Diagramação e montagem Maurelio Barbosa / designioseditoriais.com.br

Todos os direitos para o português reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda.

FICHA CATALOGRÁFICA Tai, Hsuan-An Design: conceitos e métodos / Tai Hsuan-An. — São Paulo : Blucher, 2017. 320 p. : il. color. Bibliografia ISBN 978-85-212-1010-8 1. Desenho (Projetos) 2. Desenho industrial I. Título.

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CDD 745.2 Índice para catálogo sistemático: 1. Desenho (Projetos)


Conteúdo

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Prefácio

15 Apresentação 17 1. Para fazer design é preciso gostar de design 25 2. O que é design? 35 3. Uma noção sobre a história do design 43 4. Os conceitos do design 51 5. As interações entre os sistemas 57 6. O objeto como produto de design 71 7. Configuração do ambiente humanizado 87 8. Os quatro pilares do design: a estética, a estrutura,

a ergonomia e a tecnologia

107 9. As máquinas simples 115 10. Estética, comunicação e percepção 127 11. O gosto se discute, sim 139 12. A estética do kitsch e o design 147 13. O fator emocional no produto 153 14. Teoria da cor – introdução


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169 15. Formas tridimensionais no design 175 16. Design do brinquedo 181 17. Reflexões sobre o design baseadas no processo de

uso do produto

197 18. Metodologia do projeto 209 19. Processo de projeto 217 20. Exercícios de análise do objeto e do ambiente 223 21. Brief, briefing ou programa de necessidades 227 22. Exercícios de projeto 233 23. Grau de complexidade e profundidade do conteúdo 239 24. Processo projetual criativo e métodos específicos 253 25. Ergonomia e design de produtos 267 26. Ergonomia e design do ambiente no espaço construído 275 27. Ergonomia e design para as pessoas deficientes 279 28. Ergonomia e design gráfico 283 29. Tipografia e identidade visual


Conteúdo

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289 30. As bases dos caracteres tipográficos 297 31. Livros experimentais: livros-objeto, livros conceituais,

livros especiais

301 32. O trabalho de conclusão de curso 313 33. Conclusão 317 Referências bibliográficas

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1 Para fazer design é preciso gostar de design

Uma breve conversa com novos alunos de design Na última década, o design, como área de estudo, teve avanço considerável no Brasil. Um grande número de escolas de design surgiu nas grandes cidades, e a procura está cada vez maior. O fato indica que surgiu grande demanda por designers no país enquanto o Brasil passou a ter o status de país em desenvolvimento e, recentemente, tornou-se um dos cinco países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – BRICS) no contexto econômico mundial. Muitos adolescentes e jovens pretendem fazer curso de design, mas alguns não sabem direito o que é design, tampouco as questões envolvidas e, principalmente, quais são as condições básicas exigidas para que os alunos se tornem bons profissionais.

A paixão pelo design Um designer muito competente, ex-aluno meu, pediu-me para selecionar um estagiário para ele, com o propósito de treiná-lo para se transformar em um bom profissional, que pudesse trabalhar junto com ele. A primeira condição que ele estabeleceu para o estagiário era “ter paixão pelo design”, o que me surpreendeu, pois essa é a que sempre enfatizei nas aulas do primeiro período. Porém, a paixão só poderá ser cultivada se o aluno realmente souber do que o design se trata e, especialmente, quando o praticar. A paixão não surge sem, primeiramente, ter conhecimento do que se trata o design, sem ter afinidade e interesse por ele.

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O gosto pelo design Saber o que é design e gostar de design são as primeiras condições para que você tenha certeza de a sua escolha pelo curso de design estar correta ou não. Ao contrário, corre o risco de perder valioso tempo até descobrir que a sua opção está errada. Saber o que é design de maneira prática, sem fazer rodeios na sua conceituação, é uma tarefa fácil. Basta ler as informações trazidas em revistas ou internet; porém, gostar de design vai depender da sua compreensão sobre algumas caracterizações básicas de design, além de vários requisitos de sua qualificação como aluno. A condição de gostar do design é fundamental, pois é ela que lhe permitirá ter bom desempenho na aprendizagem, no estudo e na pesquisa, o que garantirá formação profissional mais eficaz.

Ideias em resultados O verdadeiro designer é o profissional competente que procura criar soluções eficazes para os problemas. Ele deve ser bom para ter ideias e transformá-las em resultados concretos. Como gerar ideias e como chegar aos resultados concretos de maneira eficiente, então, é todo o trabalho do designer. Podemos dizer que o design envolve o conceito e o projeto. E a eficácia de ambos depende da pesquisa (em busca dos dados, informações e fundamentos) e baseia-se na criatividade (ideias) e nas habilidades técnicas (em desenho e confecção de modelos) do desig­ner, durante o processo do design.

Design conceitual e projetual

Figura 1.1. Estudo de um sistema de amortecimento inspirado em elementos flexíveis de plantas em design conceitual. O produto ainda está longe de ser configurado com utilidade, finalidade e forma definidas.

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Design deve ser entendido primeiramente em dois contextos: o conceitual e o projetual. O conceitual refere-se à finalidade de expor ou manifestar ideias teóricas ou conceituais, e o projetual, ao processo técnico-prático. O conceitual lhe oferece um amplo espaço de ideias (das mais fantasiosas às mais prováveis soluções) para a manifestação da sua intenção e do seu potencial, que podem variar do nível idealista ao pragmático. É lógico que, antes de você começar um trabalho, já tem em mente uma intenção, uma vontade, um desejo ou uma necessidade. Porém, quando a sua vontade individual sobressai à necessidade objetiva, principalmente em relação à criação em torno de uma ideia subjetiva, o seu projeto poderá ser conduzido em direção a uma proposta

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2 O que é design?

Design, no nosso bom senso comum O que é design? Primeiramente, vamos ver o que o senso comum (a sabedoria popular) entende por design, pois esta já é uma palavra cada vez mais usada entre a população. Posteriormente, chegaremos aos conceitos de design que precisamos conhecer para estudar as diversas questões a ele relacionadas. Quando um cidadão diz que um determinado aparelho de som tem “design arrojado”, uma expressão corriqueira, ele quer dizer que o tal produto é “extremamente atraente e moderno”. Se ele for explicar o porquê, ele irá dizer que o carro tem uma forma muito bem pensada, desenhada e criada pela fábrica de automóveis. Assim, o senso comum faz com que a palavra passe a ser usada referindo-se à criação de aparências “bonitas” e “bem-feitas” de muitos produtos. No entanto, quem estuda e faz design deve buscar conceitos no nível acadêmico, técnico-científico e profissional.

Objetos como frutos do design Na nossa vida cotidiana, estamos rodeados por uma enorme variedade de objetos. E quase todos são produtos artificiais, feitos à mão ou à máquina, de diferentes funções, formas, tipos e tamanhos. De um simples cartão de visita até um livro; de uma caneta até um computador; de uma cadeira até um armário; de um parafuso até um avião; todos são criados e produzidos por pessoas competentes ou profissionais especializados. Porém, podemos perceber que há objetos que não são bons ou apresentam alguns defeitos. Bons ou ruins, na verdade, dependem muito de

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Figura 2.1. Estes bonecos são produtos de design ou obras de arte? Eles foram criados aliando a expressão artística e o raciocínio do design para atender a um determinado público.

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Figura 2.2. Você vê design nessa exposição? Que informações os produtos e o próprio ambiente da exposição passam para você? As respostas encontradas vão lhe dizer até onde o design é responsável por eles.

como esses objetos são criados e produzidos. Pelo senso comum, um objeto bom e muito bem resolvido é aquele que nasce de uma ideia muito boa e de técnica aprimorada. No entanto, uma ideia não vem gratuitamente, e uma técnica também não. Design é simplesmente a atividade profissional que envolve todo o processo de criação e desenvolvimento de produtos com o fim de atender às necessidades da população em favor de uma vida melhor e mais prazerosa. Esses produtos são extremamente variados, em tamanho, função, utilidade, estilo, material, complexidade, quantidade e amplitude. De objetos pequenos, como caneta, estilete, telefone, até objetos grandes, como veículos e aviões, todos são produtos de design. O campo profissional que cria esses objetos com todo o cuidado e carinho é chamado de design de produto, design industrial ou desenho industrial. Mas design abrange ainda outras duas grandes áreas, ainda não tão espe­cíficas1, que são design de comunicação e design de interiores.

O que é design de produtos? Diversos produtos que variam de forma, tamanho, material, estrutura, função, estética e complexidade.

Figura 2.3. Porta-canetas, design de Tai.

As atividades do designer de produtos abrangem criação, aper­ fei­çoamento, desenvolvimento e pesquisa de uma grande variedade de produtos, desde pequenos objetos utilitários até produtos de grande porte, como veículos. Quase todos os tipos de objetos uti­li­ tários que temos ao nosso redor são produtos do design. No desenvolvimento de produtos tecnologicamente complexos, como o caso de algumas máquinas, a participação do designer está mais limitada à solução do aspecto visual e do aspecto funcional e ergo­nô­mico do produto. No entanto, a solução dos aspectos mais intimamente ligados às partes técnicas da mecânica, eletrônica e informática é responsabilidade dos engenheiros. Sabemos então que muitos produtos são desenvolvidos por equipes de diferentes pro­fissionais. Desse modo, o designer precisa adquirir conhecimentos suficientes que lhe permitam, no mínimo, dialogar com esses profissionais durante o processo de desenvolvimento do produto.

1 Figura 2.4. Utensílios de cozinha, de silicone.

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Hoje existem áreas específicas muito diversificadas em design que se veem em cursos de design, como design gráfico, de embalagem, jogos, joias, moda, móveis, automóveis, multimídia, web design, interface digital etc. No entanto, podemos verificar que todas essas podem estar inseridas nas três grandes áreas: design de produtos, design de comunicação e design de interiores (ou ambiente).

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3 Uma noção sobre a história do design

Antes de discutirmos sobre os conceitos de design em contextos atuais, é imprescindível termos uma noção sobre a história do design. Aqui prefiro fazer alguns comentários rápidos para fazer uma brevíssima introdução à história do design. Recomendo a leitura ou a consulta de vários livros não só da história do design como também da arte e da arquitetura, porque existem correlações con­textuais entre essas três áreas na história.

Abrangência da história do design A história do design tem uma grande abrangência, envolvendo diversas áreas e especialidades de atividades – design de artefatos, design de objetos, design gráfico, design industrial, entre outros ainda mais específicos. A história da arte, da arquitetura e da moda também são intimamente ligadas à do design. Essas áreas afins ou relacionadas tiveram e têm geralmente ocorrências comuns ou influências recíprocas em pensamentos e práticas ao longo dos tempos. Um dos fatores importantes dessas ligações cruzadas entre diversas áreas criativas é a prática do pensar e do fazer desenvolvida pelos profissionais e estudiosos que transitam nessas áreas.

O início do “design”, com artefatos Embora a história do design industrial seja de apenas um pouco mais de cem anos, ela modificou radicalmente o aspecto do design do artefato tradicional. Com uma breve revisão da história do design, desde o fabrico das primeiras

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ferramentas da humanidade, podemos entender melhor as experiências humanas na produção de bens materiais e obras de comunicação (objetos ornamentais e artísticos), que nos ajudam a compreender diversas questões do design e seus contextos.

Design começa na era da pedra Se considerarmos o design como um processo de concepção e desenvolvimento de produtos, ainda no nível intuitivo, empírico e simples, mesmo sem a intervenção da máquina e a existência de um mercado, a história do design deve começar partindo da origem de artefatos, da mais remota experiência humana na produção de utensílios em pedra, desde a era da pedra. Portanto, a nossa história do design, na verdade, começou assim que a humanidade produziu seus primeiros instrumentos pela sobrevivência.

Do design intuitivo ao intelectual

Figura 3.1. Pote de cerâmica, do período neolítico chinês, usado para abastecimento de água. Ao ser colocado na água do rio, ele é deitado para ser enchido com água. O recipiente é prático e de alta qualidade estética. Peça exposta no Museu de Shanxi, China.

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Produtos mais antigos datam de aproximadamente dois milhões de anos atrás, isto é, dos períodos paleolíticos, quando nossos an­cestrais primitivos começaram a produzir seus rudimentares uten­sílios e armas, seja um recipiente com casca de fruto, seja um instrumento cortante feito de pedra, seja uma vara com a ponta perfurante. Na criação desses objetos, a funcionalidade, a praticidade e a forma visual ainda se encontravam como funções percebidas em trabalhos intuitivos e empíricos que, pouco a pouco, foi evoluindo para o nível de concepção intelectual – com raciocínio e pensamento criativo. Assim, produtos foram aperfeiçoados gradualmente com experiências e ideias em um processo de criação estético-formal e aperfeiçoamento material e técnico. Ao descobrir que pedras podiam ser polidas, superfícies de objetos podiam ser alisadas, figuras podiam ser aplicadas por meio de gra­ vação em cerâmicas, pigmentos podiam colorir objetos, o homem descobriu a beleza. Nas grandes civilizações antigas, inúmeros objetos mostram uma riqueza estética e técnica, além das suas qualidades funcionais. Por isso, é recomendável visitar grandes museus para ver de perto como é o poder criativo, a capacidade e a habilidade técnica de seus criadores, esses eram magníficos artistas, artesãos, “designers”.

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13 O fator emocional no produto

Com a intensa concorrência comercial entre produtos, é difícil distinguirmos quais deles conseguem estimular reações afetivas nos consumidores, baseando-se somente em fatores ligados à tecnologia ou à qualidade. No mercado atual, ocorre o fenômeno em que os mesmos tipos de produtos com diferentes marcas são muito similares, em função, qualidade ou preço. Por isso, hoje em dia, a publicidade enfatiza muito o benefício emocional do produto, para exercer o poder de persuasão e influenciar na decisão dos consumidores na hora da compra. Mesmo refutando o apelo comercial e publicitário com efeitos persuasivos, não temos dúvida de que o fator emocional seja fundamental, pois é assim que atribuímos, ao produto, algo de humano. Assim, o fator emocional do produto pode também ser considerado, em certo grau, um dos ingredientes da humanização do produto, além dos fatores ergonômicos. Certos produtos, concebidos por meio de analogia, com expressões ou formas humanas ou animais, conseguem despertar reações intuitivas dos consumidores, emoção, prazer e empatia.

O benefício emocional do produto Obviamente, a primeira impressão sobre o produto é um fator determinante na escolha do consumidor. Assim, muitas vezes, o benefício emocional passa a prevalecer sobre os outros fatores e merece uma atenção especial do designer. O domínio de métodos e técnicas criativos e eficientes para configurar o produto, usando recursos e elementos estimuladores da emoção, desde o início do processo de design, torna-se fundamental.

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Figura 13.1. Relógios com expressão tecnológica são apresentados em diferentes modelos e cores para corresponder a diferentes preferências ou gostos pessoais.

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O fator emocional no produto

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suavidade e delicadeza tem forma simples e orgânica, texturas finas e cores suaves, ao contrário do produto que passa a sensação de solidez e peso, por ter uma forma volumétrica e geométrica, com texturas evidenciadas. Formas e cores variadas e estimulantes normalmente caracterizam objetos infantis ou de caráter lúdico. Os produtos que aparentam irreverência frequentemente têm formas irregulares, muitas vezes, de configurações biomórficas e com ornamentação aleatória.

As linguagens visuais e mensagens As linguagens visuais usadas em produtos, com seus signos semânticos e simbólicos carregados de elementos de estímulo sensorial, transmitem mensagens, significados e ideias para o indivíduo receptor. Este decodifica as mensagens de imediato, pela experiência e pelo conhecimento, e as interpreta à sua maneira. Nesse processo, o receptor, estimulado psicologicamente pela mensagem, reage com sentimento ou emoção. O design, quando busca estabelecer vínculo afetivo de maneira eficiente, tenta usar uma linguagem expressiva e comunicativa no produto, manejando a sua forma e aplicando nele elementos que possam estimular a reação emocional positiva do usuário. Muitos produtos de uso individual e doméstico ganham formas (biomórficas ou não) e cores que lembram feições graciosas e “bonitinhas” de pequenos animais ou mesmo de bebês. O biólogo austríaco e ganhador do prêmio Nobel, Konrad Lorenz, chamava o conjunto de características de feições de animais graciosos de “esquema de bebê” e este é o fator “fofura” de certos produtos29. A graciosidade da aparência desses produtos não só é capaz de criar a paixão dos consumidores mirins, mas também atraem atenção especial dos adolescentes e jovens e, muitas vezes, de adultos mais idosos. Isso se deve à necessidade das pessoas na busca de algo afetivo, em uma interação mais humanizada e emocional com objetos artificiais. A cultura cute (gracioso, bonitinho) surgiu

Figura 13.2. Caixa de som concebida para atender a usuários propensos a ter afeto por formas “fofas”. Figuras que imitam pequenos animais e coloridas atraem crianças e adolescentes.

Figura 13.3. Modelo QQ, da Chery, mostra uma “feição” de “fofinho” e que atrai um público que normalmente é afetuoso com animais.

Figura 13.4. Ferro de passar roupa com aparência graciosa e alegre. Nele, o me­tal quase não aparece, o que tem um poder atrativo.

29 Por que nós os amamos. Artigo sobre gatos. Revista Veja, 16 dez. 2009, p. 93.

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26 Ergonomia e design do ambiente no espaço construído

A ergonomia para humanização do ambiente O design do ambiente em espaço construído visa a transformar o es­ paço ainda desprovido de elementos afetivos em um ambiente humanizado com a finalidade de satisfazer às necessidades do seu usuário, não só no aspecto prático-funcional, como também no aspecto emocional. A adequação ou a otimização de um espaço ambientado é normalmente o objetivo geral de um projeto que, na verdade, pode ser resumido em duas palavras: animação e humanização. Coloquialmente a palavra ambiente refere-se também à “atmosfera” ou caráter de um espaço ou local. O que explica por que o ambiente é, no design e na arquitetura, entendido como o espaço humanizado e cujos requisitos mais básicos são a praticidade, a funcionalidade, a agradabilidade, a afetividade, o conforto e a segurança. Portanto, a ergonomia desempenha um papel fundamental na humanização do espaço, seja qual for a sua função.

Os elementos físicos e visuais definem o espaço O designer do ambiente deve ter em mente a noção do espaço em primeiro lugar, pois é nele que nasce o ambiente. Espaço, no de­ sign do ambiente, é entendido como um campo tridimensional que possa abrigar objetos e eventos e tem posição e direção relativas. É um campo delimitado ou definido pelos vários tipos de elementos visuais ou físicos. Porém, são os elementos físicos, como divisórias, móveis, floreiras e, principalmente os arquitetônicos,

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Figura 26.1. Espaços podem ser definidos por elementos físicos e visuais. A sensação do espaço muda de acordo com as dimensões desses elementos.

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como pilares, vigas, paredes, piso e teto, que realmente criam limites a um espaço, tornando-o mensurável. Já os elementos visuais podem fazer as pessoas perceberem psicologicamente a existência de um espaço delimitado. Por exemplo, uma área demarcada por uma linha pintada no chão é vista como um espaço virtualmente delimitado. Por isso, as cores e a iluminação podem perfeitamente gerar um campo espacial mensurável, embora com menos precisão.

Espaços de corpos físicos Ao nosso redor temos espaços – estamos dentro de um espaço, e entre uma pessoa e outra existe um espaço, como também cada objeto tem o seu próprio espaço. Podemos dizer que cada ser – corpo físico – ocupa um espaço e ele é envolvido por um espaço maior. No senso comum, o espaço é um vazio, mas no entendimento do designer ele pode ser delimitado, tomando forma e ter suas dimensões. O espaço pode conter pessoas, objetos e outros seres. O espaço é um dos elementos básicos na criação do ambiente; assim, ele deve ser pensado e trabalhado com critérios que o tornem funcional e humanizado. O arquiteto cria, organiza e constrói espaços, delimitados por paredes e outros elementos, para que, posteriormente, se transformem em ambientes propícios às diferentes funções.

Diferentes níveis de piso, diferentes sensações a)

b)

c)

d)

Figura 26.2. a) o espaço delimitado; b) o mesmo espaço em nível mais elevado; c) o nível rebaixado; d) o espaço delimitado por um plano superior. Cada um passa uma sensação diferente para seus ocupantes.

Diferentes níveis de piso criam diferentes sensações – um fenômeno psicológico que pode ser explicado pela percepção sensorial da visão e por experiências pessoais em diferentes situações. As sensações de ficar elevado, rebaixado, livre e enclausurado conforme vários níveis de altura significam diversos graus de conforto, desconforto, prazer ou mesmo de fobia. A ilustração ao lado mostra quatro situações diferentes em relação a uma mesma área. Uma área delimitada apenas por elementos visuais – uma cor ou uma linha, por exemplo – oferece um espaço totalmente aberto, que oferece ao indivíduo dentro dele uma sensação positiva, de liberdade de ação. O mesmo espaço com o piso elevado, a sensação muda, normalmente positiva, mas de certa maneira intimidadora (para si ou para outros) por colocar o seu ocupante acima de outros indivíduos, em termos de destaque, como um palco de apresentação. Já o nível rebaixado pode facilmente provocar uma sensação negativa. A mesma área com uma cobertura, de altura adequada, pode criar uma sensação de proteção e segurança, porém a definição


27 Ergonomia e design para as pessoas deficientes

Design responsável pela acessibilidade O design responsável preocupa-se com o meio ambiente e a sociedade humana, e, portanto, com a humanização do design. O design ergonômico e o ecodesign são assim duas vertentes universais do design que se baseiam na inovação. A ergonomia destina-se a todos os indivíduos, incluindo aqueles que apresentam algum tipo de deficiência – física, visual e auditiva, principalmente – por ser a acessibilidade o direito de todos. Hoje, as leis garantem a acessibilidade, mas o designer precisa ter consciência dessa questão e capacidade de dar soluções criativas ou inovadoras para a acessibilidade às pessoas deficientes. O chamado design universal ou design inclusivo visa a criar soluções para que essas pessoas possam usufruir de facilidades que diminuam ao máximo suas dificuldades na locomoção, nos movimentos, no manejo de utensílios, no uso de equipamentos e no acesso aos lugares a que elas têm direito.

Produtos para deficientes físicos Para os deficientes físicos, o design abrange uma variedade de produtos, como: aparelhos e equipamentos de apoio ao corpo; mobiliários e outros produtos adaptados às condições físicas; elementos arquitetônicos (rampa e escada), mobiliários urbanos (telefone público, bebedouro, corrimão, lixeira); veículos de locomoção individual e veículos de locomoção coletiva com equipamentos adaptados.

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Os sentidos que se complementam e compensam

Figura 27.1. Painel informativo em relevo e braille, que permite que os deficientes visuais leiam as informações em textos e imagens. O painel está em uma estação de metrô de Paris, para mostrar a evolução urbanística da cidade ao longo da história.

O ser humano possui cinco sentidos básicos – a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar – e por meio deles ele sente e percebe as coisas, interagindo com elas na sua vida cotidiana. No entanto, infelizmente, uma porcentagem da população é constituída de pessoas com certa deficiência. Os indivíduos com deficiência visual têm, normalmente, a audição e o tato mais aguçados e com esses sentidos são capazes de se orientar e ter noções de espaço. Para eles, hoje já é comum a aplicação de faixas sinalizadoras com texturas táteis nas calçadas e nas áreas de muitos espaços públicos, que ajudam as pessoas cegas a se orientarem com mais facilidade. O uso de braille e de sinais sonoros também é cada vez mais usual em equipamentos e espaços públicos. Os que têm deficiência auditiva possuem maior capacidade no uso de linguagem gestual e facial, inclusive na leitura labial. A deficiência de um sentido, de certa maneira, é compensada por outros sentidos.

O sentido sinestésico Além dos cinco sentidos básicos, há um outro chamado de sentido sinestésico, que é fundamental e que permite que as pessoas realizem atividades com habilidade e rapidez, sem se apoiar no uso da visão. O sentido sinestésico é um processo de cognição que permite que atos do corpo humano se realizem sem se recorrer à visão, mas ele depende de exercício contínuo e exclusivo para cada atividade. Quando um músico toca o violão, movimentando todos os dedos nas cordas, com precisão e habilidade, sem sequer olhar para os seus dedos, ele está usando o sentido sinestésico especificamente para o violão. Quem dirige o carro, não precisa ficar olhando para volante ou, ao trocar marchas, observar a posição da alavanca, porque o sentido sinestésico está desempenhando a sua função. Assim, o deficiente visual também pode recorrer a esse sentido para desenvolver suas atividades com precisão e agilidade.

Estímulos para percepção e cognição O objeto e o ambiente geram vários tipos de estímulos no usuário por meio de elementos visuais, elementos comunicativos, elementos sonoros, mensagens, espaço, iluminação etc. O ser humano não apenas sente e percebe estímulos, mas

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Design: Conceitos e Métodos Tai Hsuan An IISBN: 9788521210108 Páginas: 320 Formato: 21 x 26 cm Ano de Publicação: 2016 Peso: 1.375 kg


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