Esgoto Sanitário - 2ª edição revista, atualizada e ampliada

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CONTEÚDO

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Proêmio — Um pouco de história.......................................................... 17

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As grandezas e suas unidades.................................................................. 29 1.1 Sistema métrico decimal............................................................. 29 1.2 Sistema internacional de unidades (SI)...................................... 30 1.3 Grandezas e unidades de escoamento........................................ 30 1.4 Prefixos (SI)................................................................................ 30

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O esgoto sanitário.................................................................................... 37 2.1 Origem e destino......................................................................... 37 2.2 Contribuições indevidas para as redes de esgotos..................... 38 2.3 Características físicas do esgoto................................................. 43 2.4 Escoamento livre......................................................................... 47

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O sistema de esgoto sanitário................................................................. 59 3.1 Sistema separador absoluto........................................................ 59 3.2 Finalidades do sistema................................................................ 60 3.3 Estudo de concepção do sistema................................................ 61 3.4 Partes do sistema........................................................................ 61

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As unidades do sistema............................................................................ 65 4.1 Rede coletora............................................................................... 65 4.2 Interceptor e emissário............................................................... 79 4.3 Sifão invertido.............................................................................. 87 4.4 Estação elevatória de esgoto....................................................... 94

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A preparação para execução das obras................................................ 107 5.1 AIA — Avaliação de Impacto Ambiental do empreendimento.107 5.2 Providências preliminares para execução da obra................... 112 5.3 Instalação do canteiro de serviços............................................ 118 5.4 Gestão da obra........................................................................... 124 5.5 A contratação de obras e serviços............................................. 153

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A construção das redes de esgoto sanitário......................................... 165 6.1 Locação da vala.......................................................................... 165 6.2 Remoção do pavimento............................................................. 166 6.3 Escavação convencional de vala (a céu aberto)....................... 166 6.4 Escavações especiais................................................................. 168 6.5 Escoramento das paredes laterais da vala................................ 174 6.6 Drenagem e rebaixamento de lençol freático........................... 178 6.7 Tipos de base de assentamento de tubulação.......................... 180 6.8 Regularização do fundo da vala e controle da declividade....... 181 6.9 Tipos de materiais e respectivas juntas para esgoto sanitário.182 6.10 Execução de serviços complementares.................................... 185 6.11 Reaterro e compactação da vala............................................... 186 6.12 Repavimentação........................................................................ 187 6.13 Limpeza final.............................................................................. 187

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O lançamento in natura e seus impactos............................................. 189 7.1 Composição química e biológica do esgoto sanitário............... 189 7.2 Microrganismos e sua importância ambiental.......................... 192 7.3 Oxigênio dissolvido na água e sua importância ambiental....... 197 7.4 Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO................................ 199 7.5 Demanda Química de Oxigênio – DQO..................................... 201 7.6 Resíduos sólidos nas águas e sua importância ambiental........ 202 7.7 O nitrogênio e sua importância ambiental................................ 203 7.8 O fósforo e sua importância ambiental..................................... 207 7.9 O enxofre e sua importância ambiental.................................... 207 7.10 O gás natural e sua importância ambiental............................... 208 7.11 A alcalinidade das águas e sua importância ambiental............ 209 7.12 Óleos e graxas e sua importância ambiental............................. 210 7.13 Cloretos e sua importância ambiental....................................... 210 7.14 Os metais e sua importância ambiental.................................... 210 7.15 Os fenóis e sua importância ambiental..................................... 213 7.16 Leis, regulamentações e normas............................................... 214

8 Comportamento dos poluentes orgânicos em corpos d’água superficiais e sistema ALOC SERVER.................................................... 225 8.1 Degradação aeróbia em rios e córregos.................................... 225 8.2 O modelo QUAL2E.................................................................... 234 8.3 Modelo de balanço de vazão de diminuição – RM1.................. 235 8.4 Modelo de balanço de cargas – RM2......................................... 237 8.5 AlocServer – Sistema de planejamento e gestão de recursos hídricos e bacias hidrográficas................................... 240 9 As diversas opções de tratamento do esgoto sanitário........................ 255 9.1 Como e quando se deve tratar o esgoto sanitário..................... 255 9.2 O que se pode fazer nos casos mais simples............................. 256 9.3 O sistema de lodos ativados...................................................... 264 9.4 Tratamento e disposição final da fase sólida (lodos primários e secundários)........................................................... 335 9.5 Lagoas aeradas........................................................................... 377 9.6 Lagoas de estabilização............................................................. 381 9.7 Filtros biológicos....................................................................... 398 9.8 Tratamento de esgoto por escoamento superficial no solo — método da rampa..................................................... 400 9.9 Reator anaeróbio de fluxo ascendente (UASB, RAFA, DAFA)............................................................................ 401 9.10 Outras técnicas de tratamento mais recentes.......................... 403 9.11 Tabelas-resumo de áreas de ocupação...................................... 427 10

Desinfecção de efluentes das ETEs........................................................ 431 10.1 Introdução................................................................................. 431 10.2 Necessidade de desinfecção das águas residuárias.................. 432 10.3 Desinfecção com cloro.............................................................. 437 10.4 Desinfecção com ozônio............................................................ 449 10.5 Desinfecção com dióxido de cloro (ClO2)................................. 467 10.6 Permanganato de potássio........................................................ 479 10.7 Cloraminas................................................................................. 484 10.8 Ozônio/peróxido de hidrogênio (peroxona)............................. 492 10.9 Radiação ultravioleta................................................................. 497

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Aspectos da utililização de corpos d’água que recebem esgoto sanitário na irrigação de culturas agrícolas.............................. 507 11.1 Introdução................................................................................. 507 11.2 Agricultura irrigada: métodos e características........................ 512 11.3 A qualidade da água e a agricultura.......................................... 518 11.4 Utilização na agricultura irrigada.............................................. 523

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Controle de odores em sistemas de esgoto sanitário........................... 529 12.1 Introdução................................................................................. 529 12.2 Causa dos odores....................................................................... 530 12.3 Efeito dos odores....................................................................... 530 12.4 Diretrizes para avaliação dos odores........................................ 530 12.5 Classificação dos odores............................................................ 531 12.6 Concentração e caracterização dos odores............................... 532 12.7 Medição dos odores................................................................... 534 12.8 Controle dos odores.................................................................. 535 12.9 Tratamento de gases odoríferos................................................ 537 12.10 Oxidação química de compostos odoríferos............................. 539

Referências bibliográficas..................................................................... 549

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AS GRANDEZAS E SUAS UNIDADES Roberto de Araujo

1.1 Sistema Métrico Decimal Instituído na França desde 1795, o sistema métrico tornou-se obrigatório naquele país, a partir de 1840, e no Brasil desde junho de 1862. Em 1889, na 1.ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, reunindo os países signatários da Convenção do Metro, adotaram-se as unidades do sistema métrico a serem usadas mundialmente na medida de grandezas físicas. O objetivo era estabelecer uma linguagem única, a mais universal, a mais completa e, ao mesmo tempo, a mais simples para a expressão quantitativa das diversas grandezas. Essas unidades pioneiras eram o metro, para comprimento; o grama, para massas (ou peso); e o segundo, para tempo. Os países de língua inglesa, liderados pela Inglaterra, opuseram-se a esse sistema, pois estavam interessados na universalização do sistema imperial britânico, cuja unidade de comprimento é a jarda, subdividida em 3 pés de 12 polegadas (1 jarda = 0,9144 m), e a unidade de peso é a libra (453,6 g) Inicialmente, o metro foi definido como a fração 1/40.000.000 do comprimento de um meridiano terrestre (0,025 × 10–6), e tal padrão foi materializado em uma barra de platina, com certa porcentagem de irídio, na qual dois traços determinavam essa distância. Posteriormente essa barra, da qual havia cópias nos diversos países, passou a definir a unidade, referindo-a à medida entre os traços na temperatura de 0°. O mesmo ocorreu em relação à unidade de massa, o grama, inicialmente definido como a massa de um centímetro cúbico de água à temperatura de 4 °C, cujo padrão materializado foi um múltiplo da unidade escolhida, o quilograma (103 g), representado por um bloco de platina e irídio, que igualmente passou a definir a unidade de massa (um cilindro com cerca de 39 mm de diâmetro e altura).

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O ESGOTO SANITÁRIO Roberto de Araujo

2.1 Origem e Destino 2.1.1 Origem O esgoto sanitário, segundo definição da norma brasileira NBR 9648 (ABNT, 1986), é o “despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária”. Essa mesma norma define ainda: • esgoto doméstico é o “despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas”; • esgoto industrial é o “despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitados os padrões de lançamento estabelecidos”; • água de infiltração é “toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações”; • contribuição pluvial parasitária é “a parcela do deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário”. Por elas mesmas, essas definições já estabelecem a origem do esgoto sanitário que, dadas tais parcelas, pode ser designado simplesmente como esgotos. Apesar das definições acima serem inequívocas, algumas considerações podem ser feitas. O esgoto doméstico é gerado a partir da água de abastecimento e, portanto, sua medida resulta da quantidade de água consumida. Esta é geralmente expressa pela “taxa de consumo per capita”, variável segundo hábitos e costumes de cada localidade. É usual a taxa de 200 L/hab · dia, mas em grandes cidades de outros países essa taxa de consumo chega a ser três a quatro vezes maior, resultando num esgoto mais diluído, já que é praticamente constante a quantidade de resíduo produzido por pessoa. É óbvio que as vazões escoadas

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O SISTEMA DE ESGOTO SANITÁRIO Roberto de Araujo

3.1 Sistema Separador Absoluto Sistema de esgoto sanitário separador, segundo a norma brasileira NBR 9648 (ABNT, 1986), é o “conjunto de condutos, instalações e equipamentos destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar, somente esgoto sanitário, a uma disposição final conveniente, de modo contínuo e higienicamente seguro”. Nessa definição, destacam-se dois aspectos importantes: o primeiro, que o sistema deve ser separador absoluto, adotado no Brasil desde o início do século XX (em 1912) e entendido como o que não admite coletar outras águas senão o esgoto sanitário. O segundo aspecto relevante está na expressão final “…de modo contínuo e higienicamente seguro”. De fato, a continuidade e a segurança higiênica são atributos imprescindíveis a um serviço que pretende a preservação da saúde pública, pois descarta soluções indesejáveis, como, por exemplo, a coleta domiciliar, similar à coleta de lixo, que certamente não apresentaria tais atributos (limpa-fossas). O conceito de separação absoluta, no entanto, é relativo, pois a própria definição de esgoto sanitário, da mesma norma, já inclui outras águas – esgoto sanitário é o “despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, a água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária”. Também não estão definitivamente excluídas certas águas pluviais caídas em áreas internas aos domicílios ou águas subterrâneas surgentes nos terrenos que, por falta de fiscalização, são acrescidas ao esgoto por mera comodidade dos moradores. Tais contribuições irregulares não são quantificadas e nem significativas nas grandes cidades, pois não ocorrem de forma homogênea em toda a rede. Sua participação, no cômputo das vazões, fica por conta da parcela de contribuição pluvial parasitária.

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AS UNIDADES DO SISTEMA Roberto de Araujo

4.1 Rede coletora 4.1.1 Definições e órgãos acessórios A rede coletora é o conjunto de tubulações constituído por ligações prediais, coletores de esgoto, coletores-tronco e seus órgãos acessórios. Sua função é receber as contribuições dos domicílios, prédios e economias, promovendo o afastamento do esgoto sanitário coletado em direção aos grandes condutos de transporte (interceptores e emissários) para o local de tratamento e descarga final (corpo receptor). A ligação predial, início da rede coletora, é o trecho final do coletor predial de propriedade particular, que o interliga ao coletor público e situa-se entre este e o alinhamento do terreno. Uma caixa de inspeção aí construída delimita a responsabilidade de manutenção e reparação do coletor predial e da rede coletora. A SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – dá instruções técnicas quanto ao coletor predial, cuja execução é uma atribuição do proprietário do imóvel, como se vê a seguir: • usar manilha (tubo cerâmico), com declividade longitudinal mínima de 2% para diâmetro mínimo DN 100, na execução até o alinhamento predial. Caso seja interesse do proprietário do imóvel, pode-se deixar mais 10 a 20 cm para fora do alinhamento; • para facilidade de localização, pode-se deixar a tubulação descoberta na soleira, no alinhamento predial, devidamente protegida. A profundidade recomendável do coletor predial, no alinhamento, é de 0,90 m; • é terminantemente proibida a interligação dos ralos de águas pluviais no ramal interno de esgotos;

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A PREPARAÇÃO PARA EXECUÇÃO DAS OBRAS Alexandre Martinelli Ariovaldo Nuvolari Nelson Junzo Miyashita

5.1 AIA – Avaliação de Impacto Ambiental 5.1.1 Histórico Desde a Revolução Industrial, com o progressivo crescimento populacional e econômico, o homem vem dilapidando a natureza, seja para dela extrair os recursos necessários a esse crescimento, seja lançando nela os detritos e as sobras resultantes das suas atividades. Assim é que o solo, o ar e a água foram sendo progressivamente conspurcados pela poluição, e os recursos minerais sendo extraídos sem nenhum cuidado com a conservação do meio. O processo de AIA – Avaliação de Impacto Ambiental, obrigatório para certos tipos de empreendimentos, surgiu com a finalidade de corrigir essas distorções. O processo que deu origem à AIA teve início na década de 1950, nos Estados Unidos, a partir de pressões populares de grupos que se consideravam prejudicados por determinados empreendimentos. Os primeiros estudos dessa época basicamente preocupavam-se apenas com os impactos sociais e relação custo-benefício. No ano de 1968, um outro fato notável, a ser ressaltado, foi a criação do chamado Clube de Roma, surgido a partir da reunião de trinta notáveis cientistas do mundo inteiro, na qual se discutiu o futuro do planeta Terra. Analisando o crescimento econômico e populacional desenfreado, ou seja, em ritmo acelerado e com pouca ou nenhuma preocupação com a natureza, chegaram a uma conclusão bastante preocupante. Segundo eles, seguindo naquele ritmo, em apenas trinta anos estaria estabelecido o caos no planeta Terra. Eles passaram uma visão terrível do que seria a vida neste planeta e fizeram uma caricatura bastante pessimista do que seria o homem do futuro.

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A CONSTRUÇÃO DAS REDES DE ESGOTO SANITÁRIO Ariovaldo Nuvolari

6.1 Locação da vala O primeiro cuidado que se deve ter, quando da preparação para construção de redes de esgoto sanitário, é com relação às possíveis interferências com outras obras enterradas (redes de água, luz, telefone, gás, galerias de águas pluviais etc.). Tratando-se de uma tubulação que funciona por gravidade, qualquer interferência que se interponha no caminho previsto pode inviabilizar tudo aquilo que foi projetado. Após um estudo mais cuidadoso de cada trecho, que deve acontecer ainda na fase que antecede a execução da obra, por meio de consulta a plantas de cadastro próprias e de outras concessionárias, deve-se executar sondagens para confirmar a localização de eventuais interferências. Outro cuidado é com relação à topografia. O eixo da rede deve ser alvo de um nivelamento topográfico, para confirmação das cotas do terreno indicadas no projeto. Qualquer discrepância deve ser resolvida antes do início das escavações. Após terem sido observadas essas recomendações, pode-se então demarcar a posição da vala a ser escavada. Onde houver pavimento ou passeio a ser cortado ou removido, deve-se marcar a largura B prevista para a vala + 30 cm, ou seja, com folga de 15 cm de cada lado da vala (Figs. 6.1 e 6.2). Essa folga visa evitar acidentes com os trabalhadores que farão os serviços dentro da vala. Se o pavimento é cortado sem folga, os materiais soltos do pavimento cortado podem vir a cair para dentro da vala, atingindo eventualmente os trabalhadores que lá estiverem. As larguras de vala recomendadas são apresentadas na Tab. 6.1. Na demarcação dos PVs, deve-se prever um quadrado com 2,20 m de lado e nos TILs com 1,60 m, mantendo-se o adicional de 0,15 m de cada lado, para o corte do pavimento (Fig. 6.2). Para os TLs (terminais de limpeza) e CPs (caixas de passagem), marca-se o seu posicionamento, mas não há necessidade de alargamento adicional da vala. Deve-se salientar que a SABESP tem evitado construir caixas de passagem.

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O LANÇAMENTO IN NATURA E SEUS IMPACTOS Ariovaldo Nuvolari

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Composição química e biológica do esgoto sanitário

A Tabela 7.1 apresenta os principais constituintes dos esgotos domésticos. Porém, o chamado esgoto sanitário, além desses constituintes, pode ainda conter outras substâncias. Este último é constituído de águas servidas, coletadas nas áreas residenciais, comerciais e institucionais, de uma determinada cidade, que podem, ou não, receber efluentes industriais. Em média, a composição do esgoto sanitário é de 99,9% de água e apenas 0,1% de sólidos, sendo que cerca de 75% desses sólidos são constituídos de matéria orgânica em processo de decomposição. Nesses sólidos, proliferam microrganismos, podendo ocorrer organismos patogênicos, dependendo da saúde da população contribuinte. Esses microrganismos são oriundos das fezes humanas. Podem ainda ocorrer poluentes tóxicos, em especial fenóis e os chamados “metais pesados”, da mistura com efluentes industriais. Quando o esgoto sanitário, coletado nas redes, é lançado in natura nos corpos d’água, isto é, sem receber um prévio tratamento, dependendo da relação entre as vazões do esgoto lançado e do corpo receptor, pode-se esperar, na maioria das vezes, sérios prejuízos à qualidade dessa água. Além do aspecto visual desagradável, pode haver um declínio dos níveis de oxigênio dissolvido, afetando a sobrevivência dos seres de vida aquática; exalação de gases malcheirosos e possibilidade de contaminação de animais e seres humanos pelo do consumo ou do contato com essa água. A Tabela 7.2 apresenta os principais inconvenientes do lançamento de esgoto sanitário nos corpos d’água. O crescimento populacional das cidades tende a agravar o problema, uma vez que há uma relação direta entre aumento populacional e aumento no volume de esgoto coletado. Salvo casos especiais, tratar esse esgoto é sempre uma medida necessária. O objetivo é manter a qualidade da água dos corpos receptores, permitindo os diversos usos dessa água, em especial como manancial para abastecimento público, sem riscos

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COMPORTAMENTO DOS POLUENTES ORGÂNICOS EM CORPOS D’ÁGUA SUPERFICIAIS E SISTEMA ALOCSERVER Roberta Baptista Rodrigues

8.1 Degradação aeróbia em rios e córregos No Brasil, os compostos orgânicos presentes em rios e córregos podem ter origem industrial, quando dessa atividade resulta o descarte de efluentes líquidos contendo substâncias orgânicas, mas sabe-se que a grande contribuição se dá na sua maioria pelo lançamento de esgoto sanitário. Em países desenvolvidos este problema já foi superado devido à adequada coleta e tratamento de esgotos de suas cidades. Quando um composto orgânico é lançado num rio, parte do mesmo sofre o processo natural de degradação denominado autodepuração. O processo de autodepuração engloba mecanismos como dispersão, diluição, sedimentação, dentre outros. O processo de autodepuração leva ao restabelecimento das águas do rio às suas condições iniciais, pelo menos no que diz respeito à concentração de matéria orgânica (DBO), oxigênio dissolvido (OD) e coliformes. Mesmo após o restabelecimento das condições iniciais de DBO, OD e coliformes, o processo de autodepuração, sob uma visão mais crítica, pode ser visto de forma parcial. Esta parcialidade é devido à formação de produtos e subprodutos resultantes da decomposição das substâncias orgânicas, como por exemplo, o aumento excessivo da concentração dos nutrientes nitrogênio e fósforo, principalmente se o lançamento for de origem doméstica. Isso contribui para a formação de um ecossistema diferenciado, resultante do aumento da concentração de algas, primeiro elo da cadeia alimentar e que provoca alterações nos elos subsequentes.

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AS DIVERSAS OPÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO Ariovaldo Nuvolari

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9.1 Como e quando se deve tratar o esgoto sanitário Como se viu nos capítulos precedentes, o lançamento de esgoto sanitário sem prévio tratamento, num determinado corpo d’água, pode causar a deterioração da qualidade dessa água, que passaria então a ser uma ameaça à sáude da população. No entanto, como também se frisou, nem sempre isso é uma verdade. Dependendo da relação entre a carga poluente lançada e a vazão desse corpo d’água, a variação de qualidade pode não ser significativa. Se imaginarmos o Rio Negro, em cujas margens situa-se a cidade de Manaus, no Estado do Amazonas, certamente que as vazões máximas de esgoto sanitário daquela cidade são infinitamente menores do que as vazões mínimas do Rio Negro. Neste caso, não seria aconselhável um dispendioso sistema de tratamento de esgoto, uma vez que o seu lançamento certamente não iria afetar a qualidade da água do rio. O mesmo se poderia dizer das cidades à beira mar. No entanto, tanto num quanto noutro caso, é prática aconselhável que o lançamento seja feito de maneira criteriosa, após um pré-tratamento (remoção de sólidos grosseiros e areia), e conduzidos por emissários que levem esse esgoto até um ponto onde seu lançamento não prejudique estética e sanitariamente um eventual uso dessa água para lazer de contato primário. Com isso, quer-se dizer que o nível de tratamento sempre vai depender da análise das condições locais. Partindo-se para o outro extremo, um tratamento, em nível secundário, conforme apresentado na Fig. 7.2 do Capítulo 7, pode não ser suficiente em determinados casos, como se viu na análise feita para a Região Metropolitana de São Paulo, na seção 7.4.4 deste livro.

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DESINFECÇÃO DE EFLUENTES DAS ETEs José Tarcísio Ribeiro

10.1 Introdução 10.1.1 Objetivo deste capítulo O cloro é, sem dúvida, o desinfetante mais comumente utilizado no tratamento da água potável (Sawyer et al., 1994). Hoje, o cloro é empregado como desinfetante primário na maioria das plantas de tratamento de água de abastecimento público, principalmente aquelas cujos mananciais são superficiais, sendo usado como pré-desinfetante em mais de 63% e como pós-desinfetante em mais de 67% dos casos (USEPA, 1997). Este capítulo aborda informações técnicas sobre desinfetantes, não usados tão extensamente como o cloro. Também, onde aplicável, descreve o uso destes desinfetantes como oxidantes e quaisquer implicações a eles associadas. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) encoraja as empresas de saneamento a reexaminar todos os aspectos de suas práticas de desinfecção atuais, para identificar oportunidades de melhoria da qualidade da água final, sem reduzir a proteção antimicrobiana. O objetivo deste capítulo é descrever técnicas de desinfecção e desinfetantes alternativos. Deve-se ressaltar que não se está aqui recomendando às empresas empregarem os desinfetantes e oxidantes examinados neste capítulo, nem defendendo a substituição de um desinfetante ou oxidante por qualquer outro.

10.1.2 Considerações gerais A cloração vinha sendo o método preferido de desinfecção para a água de abastecimento público e também para as águas residuárias, até que, na década de 1970 descobriu-se que algumas substâncias orgânicas (fenóis, ácidos húmicos e fúlvicos) podem atuar como precursores na formação de trihalometanos (THMs) e outros subprodutos de desinfecção (DBP), suspeitos de serem

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ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DE CORPOS D’ÁGUA QUE RECEBEM ESGOTO SANITÁRIO NA IRRIGAÇÃO DE CULTURAS AGRÍCOLAS Dirceu D’Alkmin Telles

11.1 Introdução Em inúmeras regiões do nosso planeta, as disponibilidades hídricas de qualidade estão sendo superadas pelas demandas. Milhões de pessoas e de animais morrem anualmente por falta de água, indústrias não podem desenvolver normalmente suas atividades. A explosão no crescimento das populações e as expansões, descontroladas e equivocadas, das ações agrícolas e industriais trouxeram consigo a degradação dos recursos hídricos. Há hoje um consenso dos especialistas da necessidade de racionalizar o uso da água, procurar formas de reúso e de recuperação da qualidade dos recursos hídricos. Em todas as partes do mundo, o uso agrícola da água ocupa um lugar de destaque. A Tab. 11.1 apresenta a evolução, em âmbito mundial, do uso da água nos últimos 100 anos, notando-se que atualmente 66% da água é destinada ao aproveitamento agrícola. Além do que, o uso agrícola é um uso consuntivo, ou seja, a água não poderá ser utilizada a jusante, já que é evapotranspirada pelas culturas, indo se incorporar ao vapor-d’água da atmosfera. À medida que os recursos hídricos vão se tornando escassos mais se buscam maneiras para a reutilização da água disponível. Um dos primeiros procedimentos que se considera é o reaproveitamento para fins agrícolas, por ser este o maior consumidor de água em muitos lugares. O uso da água para fins agrícolas, em determinadas situações, é pouco exigente com referência à sua qualidade. A prática agrícola se satisfaz, em muitos casos, com padrões baixos de qualidade da água. Em determinadas condições, chega mesmo a recuperá-la. Dessa forma. a utilização na agricultura de corpos d’água que recebem lançamentos de esgoto sanitário vem, a cada dia, se expandindo.

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CONTROLE DE ODORES EM SISTEMAS DE ESGOTO SANITÁRIO José Tarcísio Ribeiro

12.1 Introdução Apesar de nosso olfato não ser muito desenvolvido quando comparado à maioria das espécies animais, não se pode desprezar a importância que a percepção olfativa tem para o ser humano. Nosso sentido olfativo é muito especializado – as células olfativas são capazes de perceber substâncias especiais, mesmo que só haja um milionésimo de miligramas destas substâncias em um metro cúbico de ar. Quando está ligado às emoções, é o mais eficaz de todos os sentidos, isto porque está intimamente conectado ao sistema nervoso central, diretamente associado aos estados emocionais. O aroma é também muito importante para o ser humano, pois possuímos a chamada “memória olfativa”, que nos capacita a associar aromas a situações vividas anteriormente. Quando se sente um aroma novamente, é possível reviver certas experiências e emoções (FHGG, 2001). De acordo com Cudmore e Tipler (1994), Menz (1995) e Watts (1993), odor é uma sensação associada a uma variedade de combinações que, quando presente em concentrações suficientemente altas no ar, provoca respostas nos indivíduos expostos. Tal como no caso do barulho, uma sensação pode causar ou não um efeito adverso desagradável, dependendo geralmente de vários fatores que interagem entre si, tais como intensidade e características típicas dos impactos odorantes, como também outros fatores sociais e ambientais. Sabe-se que os indivíduos em geral exibem uma grande variação estatística na sensibilidade fisiológica perante os odores, sendo que algumas pessoas são pelo menos 100 (não raro 1.000 vezes) mais sensíveis que outras.

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