:: รกgua Doce :::
cultura e vida das alagoas
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos - Maceiรณ - Ano I - Nยบ 3 - Fev. 2009
ISSN 1984-3453
Reportagem Rio São Francisco: esperança e a memória molhada em suas águas Milena Andrade
Memória Piranha é um peixe enxuto; não tem nada Manoel Deodoro Gomes
João Farias dos Santos
A maior felicidade é essa... Zuleide dos Santos
/12
Trilha sonora /14 Lamento de um pescador Naldinho
Alagou as
Pássaro da noite Adelmo Luz
Vales alagoanos
/10
/24
Silvana Quintella Cavalcanti Calheiros Sinval Autran Mendes Guimarães Junior
Ensaio Características hidroambientais do Estado de Alagoas Fabiana Carnaúba Medeiros
Artigo As águas de Vidas Secas
Wado
Maria Heloisa Melo de Moraes
Poesia /18 Rio e meninos Coiságua Lição da água
Fernando Fiuza
Sidney Wanderley
Jerzuí Tomaz
/46
/48
O simbolismo universal da água
Água Sanitária Água benta Água-de-cheiro
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Documenta
/8
A beleza da lagoa: as garças pegando mororó!
/4
Conto
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Bestiário aquático: a poesia mítica de Solange Chalita Enaura Quixabeira Rosa e Silva
Entre águas insulares Moliterno se fez ilha Edilma Acioli Bomfim
/52
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CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos Marcos Kümmer Diretor-presidente CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Governo do Estado de Alagoas
Teotonio Vilela Filho Governador de Alagoas Júlio Sérgio de Maya Pedrosa Moreira Secretário de Estado do Planejamento e do Orçamento
Os textos assinados são de exclusiva responsabilidade do autor. Os textos deste número estão de acordo com a nova ortografia. Fotos de capa e contracapa: Fernando Rizzotto
Luiz Sávio de Almeida (Org.) Direção cultural
Fernando Rizzotto (Org.) Direção de arte / Projeto gráfico
Milena Andrade Coord. editorial da Imprensa Oficial
Produção cultural: Viviani Duarte, Raffaela Gomes e Daniella Pontes
Colaboradores: Maria Heloísa, Jerzuí Tomaz, Enaura Quixabeira, Edilma Acioli, Fernando Fiuza, Sidney Wanderley, Celso Brandão, Adelmo Luz, Fabiana Carnaúba, Naldinho, Wado, Manoel Gomes, João Farias, Zuleide dos Santos, Silvana Quintella, Sinval Guimarães, Milena Andrade e Kelmenn Freitas Revisão e atualização ortográfica: Maria Heloísa Melo de Moraes
ISSN 1984-3453
linhas dos demais textos. Deste modo falam João Farias dos Santos (Deca), Manoel Gomes e Zuleide dos Santos. Nesta linha dos depoimentos foi essencial o trabalho das estagiárias Daniella Pontes e Raffaela Gomes e da assistente de produção Viviani Duarte, além das fotografias de Fernando Rizzotto que, basicamente, documentou as viagens de campo realizadas por nossa equipe. Desejamos destacar as colaborações dadas por Heloísa Moraes que coordenou a área literária, Fabiana Carnaúba que lidou mais de perto com a questão dos recursos hídricos, Milena Andrade que foi em busca do povo do rio São Francisco e Silvana Quintela, que coordenou a elaboração de um estudo sobre alguns vales alagoanos e que constitui a nossa sessão intitulada Documenta.
A CEPAL acredita que com esta edição, Graciliano encontrou o seu caminho de abrangência sobre temas ligados a Alagoas. É claro que as transformações não param, mas, pelo menos, conseguimos encontrar um rumo. As duas experimentações que lidavam com circunstâncias específicas deram lugar ao encontro de uma forma mais geral e abrangente, condizente com o objetivo do nosso projeto editorial.
::: apresentação :: :
Este é o terceiro número de nossa revista. O primeiro experimentou o tratamento específico de um autor; o segundo, de um tema da atividade cultural. O atual deixou a experimentação para encontrar a forma típica da revista, tanto em conteúdo quanto em elaboração estética. Os próximos números tenderão a se aproximarem do atual, que tomou um tema, água, aprofundando o seu tratamento a partir de visões diferentes, desde o físico do recurso, passando pela arte, indo à forma de construção do espaço dos vales. Continuamos a contar com a colaboração de pessoas que estão presentes na vida acadêmica, cultural e jornalística de Alagoas, como Enaura Quixabeira, Jerzuí Tomaz, Edilma Bonfim, Heloísa Moraes, Fernando Fiúza, Sidney Wanderley, Adelmo Luz, Celso Brandão, Naldinho, Wado, Milena Andrade e Kelmenn Freitas, Silvana Quintela, Sinval Guimarães Júnior e Fabiana Carnaúba. Introduzimos a fala do povo, desta feita ouvindo os viventes do Porto do Sururu, da Marituba do Peixe, da Lagoa Redonda e da beira do rio em Piaçabuçu, procurando confirmar o cotidiano de nossa gente que se encontra presente nas entre-
: ::: REPORTAGEM ::
Milena Andrade / Repórter
Rio São Francisco. Lugar onde dormem as estórias de negros d’água, de sedutoras sereias de longos cabelos, das terríveis e protetoras carrancas, das pequenas e ferozes piranhas. É também o rio das águas profundas e compridas que fazem a “integração nacional” e faz parte de um futuro onde pesará a vida, também, de sertanejos. Sua imensidão comove e assusta; suas lendas inspiram até mesmo os que nunca molharam os pés nas suas águas. E para os que habitam suas margens o que esse rio representa? Qual o sentido do São Francisco para as lavadeiras, barqueiros, pescadores e as crianças que passam mais tempo dentro de suas águas do que em terra firme? Alimento. Sobrevivência. Imaginário. A verdade é que os homens e mulheres deste lugar são uma espécie de continuação das águas. O rio e os que habitam suas margens parecem indissociáveis. Para os que estão às suas margens, o rio é sua vida. Mesmo após suas águas terem se transformado em mercadoria e ficado escassas e mesmo diante da nostalgia da abundância de peixes de outros tempos que marca todo ribeirinho, o São Francisco ainda é a fonte que alimenta a existência dessas pessoas. Na pequena comunidade de Potengy, localizada nas redondezas de Piaçabuçu, é fácil sentir essa onipresença. Da roda de lavadeiras que enxáguam as roupas da família, a primeira coisa que se ouve ao perguntar como é a vida de quem vive às margens do São Francisco é que não há nada melhor neste mundo. E a razão é muito simples: “Aqui só morre de fome quem tem preguiça!”, justifica Janete dos Santos, uma lavadeira que não gosta de cantar. “Somos pobres, mas não vivemos na miséria. O rio nos dá tudo o que a gente precisa: caranguejo, peixe, siri, pilombeta... É pegar a rede e vir pescar que a comida e um dinheirinho estão garantidos”, diz. Sobre a ausência de cantorias enquanto ensaboa a roupa, Janete não é a única a explicar que não “gosta de fazer nada cantan-
A verdade é que os homens e mulheres deste lugar são uma espécie de continuação das águas. O rio e os que habitam suas margens parecem indissociáveis do”. Todo o grupo de mulheres que a acompanham na atividade é unânime em contrariar a tradição. “A gente prefere botar a conversa em dia e falar da novela”, conta outra lavadeira, Maria Luzânia da Silva, que jura que nasceu e se criou na beira do rio e que nunca viu ninguém cantar enquanto lava roupa. “Nem minha mãe, nem minha avó”, garante. É em comunidades pobres como o Potengy que se vê, mais claramente, a importância do rio para a população. É com o pouco dinheiro que essas famílias comem, educam e criam seus filhos, que têm nas águas não apenas o banho, mas também a brincadeira. A pesca é um grande adjutório. Dona Zulmira, que vive há noventa e dois anos na pequena casa de pau-a-pique que não demorará a despencar, define bem essa relação do povo ribeirinho e o São Francisco. “O rio é como se fosse nosso pai e quem quer
sair de perto de um pai? É a nossa riqueza e nossa liberdade”, diz, ressaltando que não troca seu pedaço de chão batido por nenhum lugar do mundo. “Quero morrer e me enterrar aqui, perto do rio, porque a gente não sabe pra onde a alma vai depois que desencarna. Eu quero que ela fique aqui”, revela a explantadora de arroz que tem como quintal o rio São Francisco. Dos tempos da rizicultura ela fala com saudade. “Antes, todo ano vinha aquela água amarela que enchia os pés de manga. As beiradas ficavam cheias de peixe, era uma coisa linda. Ficava aquele brejo cheio de pé de arroz... Depois a água amarela fugiu e os peixes também. Agora a gente vive só de piau e pilombeta”, lamenta dona Zulmira. Essa nostalgia dos tempos em que o rio São Francisco “não estava secando”, como dizem os ribeirinhos, parece ser hoje o sentimento mais forte dos que vivem às suas margens. O pescador João Francisco dos Santos ainda lembra da maior cheia que viu no Baixo São Francisco. Foi em 1926, quando tinha vivido apenas onze dos seus 93 anos. “O negócio foi bonito! Todo mundo teve que se mudar pra um lugar mais alto para fugir da cheia, mas, depois, a aparição de peixe foi a maior que eu vi na minha vida”, conta seu João, que diz que se cansou de encher a canoa de peixe em poucas horas de pescaria.
Rio
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
:: Graciliano :: 5 Kelmenn Freitas
Janete dos Santos: “Aqui só morre de fome quem tem preguiça”
São Francisco: esperança e a memória molhada em suas águas
: ::: REPORTAGEM ::
Fotos: Kelmenn Freitas
Pescadora Márcia Feitosa em sua casa à beira do rio, numa das ilhas da região
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
“Nasci pescando aqui nesse rio. Era tanto peixe que, de longe, a gente ouvia a zoada dos bichos estourando em cima da água! Já peguei muito camurupim de noventa quilos. E de anzol!”, lembra o pescador. Seu João, como todos os pescadores do Baixo São Francisco, só demonstra alegria quando fala do passado, do tempo em que a vazão do rio era regulada pela natureza. “Quando o São Francisco era manobrado por aquele lá de cima tinha cheia e vazão, peixe e arroz.”, diz o pescador. Essa escassez de peixes no rio é hoje uma fonte permanente de preocupação na vida do ribeirinho. O medo de que o seu único provedor de tudo deixe de lhe trazer o alimento passou a povoar o imaginário deste povo. Numa roda de pescadores, o assunto é sempre o mesmo – a dificuldade em continuar sobrevivendo da pesca. “Hoje, tem mais ilha do que água e mais pescador do que peixe”, reclama seu Antonio, que viu sua pescaria cair um terço e várias espécies desaparecerem ao longo de trinta anos de labuta no rio. “O camarão sumiu, o pitu tem muito pouco, surubim e camurim quase não se vê mais. Sobrou a dourada, a tubarana...”, conta. Apesar de tudo isso, o povo ribeirinho ainda se declara abençoado. “A gente pode ficar ainda mais pobre, pode não ter quem nos ajude, pode sofrer com o abandono dos que têm poder, mas a riqueza de nossa vida a gente nunca vai perder. O rio São Francisco sempre foi o nosso pai, nosso trabalho, nosso alimento e isso ninguém tira da gente”, declara o pescador. Ilhas cercadas de significações e histórias Os barqueiros que fazem o caminho até a foz do rio São Francisco são mestres em contar, em destacar o imaginário e suas construções sobre as águas e suas relações. Entre o cais de barcos em Piaçabuçu e o lugar onde o Velho Chico encontra o mar existem várias ilhas de nomes bem curiosos. Ilha da Nêga, da Criminosa, da Fitinha e do Monte são algumas delas. Para cada ilha há uma história que justifica o seu batismo. Talvez a história mais interessante seja a da “Criminosa”. Nas proximida-
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Essa escassez de peixes no rio é hoje fonte de preocupação. O medo de que o seu único provedor deixe de lhe trazer o alimento passou a povoar o imaginário deste povo des não há um único pescador ou barqueiro que não tenha medo até de se aproximar do lugar, que, aparentemente, não tem nada de macabro ou aterrorizante, mas, aos olhos dos ribeirinhos, tem algo de tenebroso até no ar que se respira. Diz o povo que a Ilha da Criminosa, que fica já bem perto da foz, é o lugar onde vão parar os corpos dos que se afogam no rio. Uma correnteza misteriosa atrai os mortos até as margens da ilha, conta a pescadora Márcia Feitosa. “As poucas vezes que tentei pescar lá por perto acabei voltando. É tudo muito esquisito lá. Parece que tem alguma coisa te vigiando”, conta a pescadora. O que teria amaldiçoado a ilha foi a história de um casal que morou lá há muitos anos. Segundo os ribeiros, a mulher não se conformava com a bebedeira do marido, que era pescador. De tanto reclamar e não ser ouvida ela se cansou e um dia o assassinou a facadas. O espírito do pescador assombraria o lugar até os dias de hoje. Uma outra história cerca a Ilha da Fitinha. Quem conta é o jovem barqueiro José Alex, que ganha a vida levando gente para conhecer a foz do São Francisco. Há muito tempo, morava lá uma bela jovem de cabelos negros que se apaixonou por um pescador. O seu pai, também pescador, não aceitava o romance, pois queria que a filha tivesse um futuro melhor, ao lado de um homem rico, da cidade. Sem querer romper o namoro, a moça passou a se encontrar às escondidas com o seu amado e sinalizava que o pai não estava na ilha amarrando uma fita colorida num coqueiro. A história de amor acaba com a fuga do casal para longe do pai tirano.
Dona Zulmira: 92 anos na mesma casa de pau-a-pique
Fotos: Fernando Rizzotto
: ::: mem贸ria ::
Seu Manoel, antigo pescador. No detalhe, mordida de piranha
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
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Piranha é um peixe enxuto; não tem nada Manoel Deodoro Gomes, 79 Vale da Marituba / Penedo - Eu nasci e me criei aqui. E todo dia ia pescar. Um dia eu tava pescando... De cuvu, né? Era de lance. Aí eu caí n’água, quando eu caí n’água risquei ela no cuvu. Mas eu num senti dor não, quando eu levantei a perna. Eu tinha quinze anos. Eu havia cortado essa perna, no meio. O peixe saltava. A gente batia na canoa, o peixe entrava, a gente cercava, botava o peixe pra dentro da rede. Eu e todo mundo ficava pescando e ela foi logo me escolher.
Não pensei em nada e nem senti nada. Na hora não senti a topada. Aí quando eu levantei a perna, tava a dor, menino. Aí botei o fato da chira em cima pra parar o sangue. Ficaram comigo dentro da canoa, pescando, até de tarde, e eu lá, preso, desenganado. Quando eu vim, me deixaram no porto, ali naqueles matos, e vieram se embora; quem me trouxe foram dois camaradas, dois amigos. Um com o peixe, que era tanto que não se podia, trazia a pulso, e o outro comigo nas costas. Tratava a ferida com remédio do mato, daquela época. As plantas têm vida; essa aninga, a fruta dela mata bicho de mosca. Eu de mordida num tenho só essa não. Essa ia me matando. Essa daqui eu caí dentro d’água e ela me mordeu logo. Eu ouvi ela batendo dentro do cuvu, quando eu enfiei a mão ela já me mordeu. Ói, tudo isso aqui é mordida de piranha. Ói aqui, rapaz, ói aqui outra, ói.
Tinha gente que sabia rezar pra piranha não morder, tinha gente que sabia. Mas também naquele dia que ele rezava, também peixe ele não pegava. Ele não rezava todo dia. Se rezasse todo dia, não pegava mais peixe. Era uma técnica que ele tinha, ó. Dizia eu vou pra o brejo, mas num vou pegar nada, eu vou me preparar. A piranha hoje nem morde eu, nem morde ninguém, lá na pesca. E naquele dia ele num pegava nada, os outros pegava, mas ele num pegava nada. Eram poucos os que rezavam. Quem sabia, aprendeu com os pais e as mães, né. A piranha chega de 4 quilo. Tem gente que adora a piranha. Piranha é um peixe enxuto, num tem nada. É muito bonita. Quando eu era novo, com idade de 15 a 18, 20, o peixe aqui era demais. Todo dia, a gente num pegava não, mas tinha vez que pegava todo mundo, agora eu num sei nem dizer a quantidade. Era, era... Era demais. Aí depois que fizeram as barragens, acabou. Eu vendia sim, e os negociantes iam vender em Arapiraca, Penedo. Eu parei; não pesco mais. O rio mudou muito. Mudou sim. Mudou sim, porque antigamente vinha cheia todo ano, agora não vem mais. Depois das barragens. o peixe acabou-se. O peixe entrava aqui porque vinha das enchentes, né?
: ::: memória ::
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CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
A beleza da lagoa: as garças pegando mororó! João Farias dos Santos, 66 Porto do Sururu / Santa Luzia do Norte - Isso aqui tudo era uma lagoa só; hoje tá desse jeito! Essa parte do mato por aqui, tudo era lagoa. A gente encostava a canoa aqui! Ali na porta da igreja, tinha uma levada: encostava lá! Então, isso aí, com o tempo... Aí surgiu essa taboa, aí com o tempo vai a baquiara e o canutão na taboa e aí vai tapando tudo. Tem essa levada aqui, porque a colônia mandou abrir. Agora, o porto é dali pra lá. Só tem aqui essa levada pra gente passar. Daqueles coqueiros pra lá, tudo é aberto, né? A lagoa é aberta. A lagoa era muito grande aqui e hoje se torna desse jeito... A natureza aterrou esse pedaço. Oia o mato aí, oia! Essa taboa ai... Aqui no mangue se eu contava era uma, duas, três, quatro, cinco camboas, dali até aqueles coqueiros. Hoje num tem mais nenhuma, que esse mato tomou conta das beiradas, aí ela aterrou dentro do mangue. É, secou muito a lagoa. E também a lama podre... Vem aquela lama podre dentro do rio. Aí dentro da lagoa tá com uns quatro palmos só de lama... Aquela lama podre. Aí não tem como os peixe se criar, mas de quando e quando tem. Um homem só enche uma canoa dessa de sururu. Quando tem assim, tá bom de sururu, um homem somente enche uma canoa dessa de sururu num dia. Eu deixei de tirar e fui viver de pescaria de rede. A gente saía de manhã e só chegava de tarde. Ali, quando tem sururu, é três horas de relógio e tira quarenta, cinquenta latas. Um barco desse dá trezentas latas de sururu. Tem barco mas não tem sururu. Aí tão tudo cortando cana, até em Sergipe. Quer dizer, que quando não tem sururu, vai cortar cana ou vai tirar areia.
Se não for cana, areia ou pescar, também não tem outra coisa. Quem vive desse jeito, dá pra viver. Sempre tem. Porque hoje o pescador não tem leitura pra viver em emprego bom. Se é de ganhar um salário é melhor tá na lagoa, porque já paga seu INSS, não chega nem a 5 reais por mês, o INSS do pescador é barato. A Colônia tá abandonada que quem toma conta aí tá desarrumado. Eu tô pescando o mororó, é um peixinho que nem agulha, é mesmo que agulhinha, ele é maioriznho. Aí eu pesco o mororó e em casa a mulher trata, bota no sol pra secar. As mesinhas são para secar. Mororó mesmo. Aqui não dá piaba. Alguma perdida... Aqui já deu piaba de pegar de carga. O rapaz aí trabalhava com um compadre meu, ele tinha uma redinha de arrasto e muitas e muitas vezes ele pegava de carga, aqui e dentro do rio, de piaba. No rio, era demais a piaba. Ô peixe bom de vender no mercado! A pitiguirra dá por aqui, agora que ela dá pouca, mas por dentro das camboas, né? Agora lugar das pisirica mermo é Pilar e Marechal Deodoro. Peixe bom é a traíra e se souber tratar, qualquer menino come. O problema da traíra é num saber retalhar ela. Se retalhar bem miudinho ela, qualquer pessoa come. É muita espinha... Agora o peixe melhor que eu acho de brejo é o sabararu. Num tem espinha e é um peixe... Acari tem! Aqui tinha muito, aqui. Acari é no rio. De vez em quando eu pego na lagoa. Já ontem peguei dois na lagoa. O peixe que dá mais aqui é bagre, mandim.
Agora bagre tem demais na lagoa. O cara pegou mais de 170 quilos na semana passada, lá em Bebedouro. A água tá muito salobra, né? Tá, a água já tá salgada já. Já tem cebola! Sabe o que é cebola, né? Tem é muita! Todo mês que entra em diante é queimar que só! Oxe! Quando bate no olho... Quando bate no beiço fica dessa grossura! Agora o langanho, o langanho não, quando pega bota pra empenar! O niquim num tem aqui não, só tem no canal. Aqui num tem não. Agora da boca do canal pra lá, o cara só trabalha de calção. E aquilo se come! Agora tem uma coisa, tem que saber tratar pra não estourar o fel. Que todo o veneno dele tá no fel. Não vem pra cá o sururu, porque a lagoa tá seca. Não tem como. O sururu produz na lama, aí tá tudo secando, tá uma poluição danada. Eu deixei de tirar o sururu, tá com uma faixa de uns 30 anos. A minha vida é pescar. Deixei porque a pescaria tava melhor e a pescaria dentro da canoa, fica melhor. Muita gente aqui vai pro sururu: marisqueira, tudo... Agora não, que tá faltando, mas daqui lá pra janeiro, janeiro tem. Talvez antes de janeiro chegue. O lugar mais fundo na lagoa é no buraco, lá onde tira sururu, no sururu de capote, de frente ao sururu de capote. Aquilo ali é, o cara chama o banco, né? A parte da lagoa que
Luiz Sávio de Almeida
José Farias, o Deca. Lembranças de uma lagoa com fartura
tira o sururu. Lá é fundo. Fundo que faz os dois canal, o que sai da lagoa e o outro que vai lá pra pista. Chama de o buraco da draga. Deca: O canto mais fundo que tem é lá. Pra pegar sururu. O cara sai três horas, quatro horas, duas horas. Leva lanche. Às vezes toma café em casa, né? Que eles agora tão mais vendendo na pista, né? Lá eles faz lanche. A pista é lá no Vergel. O porto mesmo do sururu que era aqui, acabou-se, acabou-se. Aqui, há uns trinta anos atrás, saía uns três carros, três caminhão topado de sururu, com 70, 80 saco, cada um, por dia. E hoje se acabou-se. Essas cascas... Esse daqui ninguém num sabe quantos anos tem, isso aqui é tirado da areia, isso aqui veio na areia. Isso aqui é tirado na lagoa. Isso aqui era mar... Era, mas tá com muitos anos, né? O povo tira areia na lagoa, depois daqueles coqueiros ali. Antigamente tirava de pá. Naquele tempo, tirava de pá, de joelho. Agora é de mergulho... Porque é fundo, tem que fazer o buraco que a lama tá muito alta. Aí faz o buraco, dois metros, pra poder chegar na areia. A lagoa tá se acabando... Aqui,
daqui mais dez anos e ninguém num anda mais aqui. Porque do jeito que tá... O cara dá mais de duzentos merguilhos para encher a canoa. É mais ou menos isso. Num instante ele mergulha, porque é por dois metros, três metros. O máximo é dois metros. Eu tirei muita na Mundaú, tirei muita aqui também, mas depois que eu adoeci de papagaio, deixei de tirar. Aqui é bambu para fazer paredão do açúde. Ói, tá vendo aí? Se tirar esse mato, ói aí o ra que fica! A água vem todinha praqui de novo. A maré aumenta, ela aumenta; a maré abaixa, ela abaixa. Ele vai fazer um paredão. Essa cerca aqui é promode o animal não passar. Vai fazer um paredão, porque aí a lama sai escorrendo pra dentro; eu tiro a lama e a lama volta. Aí eu boto o pau como um paredão, né? Faz a parede e a lama não passa. Agora o bom é se voce botar palha de coqueiro encostado.
Essa lagoa? Isso é uma mãe de família! Se os homem que conhece a lei, olhasse pra lagoa, isso era, isso... Num tem indústria pra render mais dinheiro do que a lagoa. Porque essa lagoa, aqui, Lagoa Manguaba e Lagoa Mundaú, tem pra mais de vinte mil pessoas - ora, vinte mil pessoas! - que veve da lagoa. É! Num tem indústria que renda mais emprego do que a lagoa, porque se o senhor for naquela beirada, ali o senhor morre de sorrir só de ver a beleza da lagoa, as garças pegando mororó.
: ::: memória ::
A maior felicid
A pesca na Lagoa Redonda: estratégia de sobrevivência
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Zuleide dos Santos, 42 Lagoa Redonda / Piaçabuçu - A gente somente pesca assim, no verão mesmo; quando tá tudo cheio, a gente pesca de anzol, de vara. A gente mora ali, no sítio; aí vai trabalhar tomando conta de sítio; aí, a gente dia de domingo vai pescar. Pra ajudar, né? A gente ganha muito pouco, mas é melhor do que nada. Meu marido é... roda palha de coqueiro, faz cerca, munduru [?] Munduru é... Os pés do coqueiro... Juntar a terra nos pés de coqueiro. A gente cava ao redor, né? E faz alta e fica naquele alto.
Fernando Rizzotto
ade é essa...
A gente é parente e amigo. Ele é meu filho, ela é minha nora, ele é meu marido, ali é amigo e esse é amigo. A gente sente na mão que tem peixe no cuvu. Aqui não tem mais de um metro de fundura. Dá um metro por mode a lama. É não areia; é lama. É um peso pra pessoa puxar a rede... Pesa muito. Aqui a gente... Se tiver muito peixe, a gente dá dois, três lances, pega o peixe e nós vai simbora já. Se num tiver... Hoje tá mais fraco. E num falta gente não, pra ir pescando. Meu nome é Zuleide dos Santos e tenho 42 anos. Sou natural daqui de Piaçabuçu e desde menina que ando na pescaria. Lembro quando andava. Num fui criada não, com meu pai; minha mãe foi separada do meu pai, eu tinha três anos. Meu pai tem cinco meses que faleceu. Eu merma fui criada nos sítios do povo, morando assim, que a gente não tinha casa... A gente morava assim, no sítio dos outros. Depois que eu casei, tive meus filhos e fiquei na casa de minha mãe. Minha mãe comprou uma casinha, a gente ficou lá e depois eu comecei a morar de novo. A gente não tem casa mesmo pra se fixar, pra viver. Aí, hoje ele tem quatro filhos, vive na casa da minha mãe mais a esposa e os quatro filhos. A coisa de mais graça e muita felicidade na pescaria, é muito peixe, quando a gente dá um lance que vem muito peixe... Eu fico muito feliz, porque sei que os meus filhos vai comer. Mas eu ria muito, é quando a gente pegava o muçum. É, escapulia; aí os meninos jogavam tudo e saiam correndo. A coisa mais triste que eu vi foi um dia eu procurar o que dar pros meus filhos e não encontrar. Eu acho que até hoje eu não esqueço. Num tem como. Chorei e muito. Eu pensei que um dia Jesus ia me dar tudo em dobro, né? Porque a gente passa por tudo na vida... Só que o pai deles, a gente se separou, a minha menina tinha... A mais nova hoje tem 23 anos, tá casada, tem dois filhos e quando a gente se separou ela tinha oito meses e ele tinha um ano e nove meses e...
:: Graciliano :: 13
Fui levando a vida assim: trabalhando pelas cozinhas, deixava meus filhos à toa... Hoje, graças a Deus, meu filho já tem 26 anos, já tem a casa dele também. E sempre eu digo a ele: trabalhe, lute pra que um dia os filho dele não passar o que ele passou. E a tristeza que eu tenho mais é de ver meus quatro netos sem ter uma casa pra ele botar os filhos. Tem o chão, mas até agora não tem condições de alevantar a casinha dele. Aí eu me sinto como se aquilo fosse tá repetindo tudo o que aconteceu comigo. É a coisa que me deixa mais triste. Essas duas coisas: que meus filhos pequenos passarem fome e hoje eu ver os meus quatro netos, pode-se dizer, que sem ter onde ficar. Porque a casa dos outros não é que nem se ele fosse pra casa dele. Ele tem o chão! Já levantou uma parede, mas não tem condições de levantar o resto porque ele desempregado, não tem trabalho... Trabalha com diária e as diárias recebe por quinzena! Trabalha na diária e a diária ainda recebe por quinzena, aí não tem como ele levantar a casa dele, aí é isso que me deixa mais triste. Mas no dia que eu ver ele com as paredes levantadas, a casinha dele cobertinha, pra mim a maior felicidade do mundo é essa.
: ::: trilha sonora ::
14 :: Graciliano ::
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Lamento de um pescador Quando a luz da lua Deita sobre o rio Veleiro vai pescar Saudade há de deixar Pescador cantou na madrugada Viu sujeira passar chorou De volta à casa Se trouxe peixe bom não sei
Naldinho Cantor e compositor
Alagou as Os rios são as veias da Terra A Terra é um rei de sangue azul Alagou as Terras do meu coração Molhou Encheu de lágrimas Arte periférica, velho samba, Salvador Lira, Vergel, Prado, Ouricuri Que arte chegue ao centro que se mostre no grande circo Levanto esta bandeira, a bandeira dos bairros distantes, eu levo este estandarte
Wado Cantor e compositor
:: Graciliano :: 15
::: trilha sonora :: :
CEPAL / Imprensa Oficial Graciliano Ramos
: ::: conto ::
I
II
III
Nos idos dos anos sessenta, havia no bairro da Cambona um flâneur conhecido por Bituca. Um negro que apesar da robustez, um par de braços rijos e as mãos calejadas no embate diário com as faxinas, a natureza dotou de um temperamento brando e maneiras delicadas. De estatura mediana, meio atarracada, sua fisionomia a princípio não lhe anunciava a alma, mas quando falava, a voz era mansa e os gestos defensivos, anunciando-lhe a índole passiva e o espírito desarmado. Oriundo da cidade de Marechal Deodoro, nasceu às margens da lagoa, num casebre de barro coberto de palhas, viveiro modesto que ficava infestado de moscas, atraídas pelo cheiro do pescado. Com a perda precoce do pai - único provedor da casa - a mãe cuidou de doar parte da prole, antes que a fome chegasse. Desfezse dos picuás e partiu para o norte com o que sobrou da família, onde diziam haver terras à espera do cultivo e ocupação remunerada na floresta. Nunca se soube o desfecho dessa história. Fato é que de lá jamais mandou notícias. Restou a Bituca ir morar na capital, na casa de uma família abastada. Mas devido aos maus tratos de que fora vítima, deliberou fugir levando consigo somente a roupa do couro. Dormiu sob pontes, passou fome até que um dia, na feira do rato, onde costumava fazer biscates, caiu nas graças do Seu Binha, antigo barbeiro da Cambona, que não tinha filhos e resolveu lhe dar guarida. Com a morte do velho, que tinha a saúde comprometida, desativou o negócio por nunca ter aprendido a profissão.
Bituca adquiriu o hábito de fazer longas caminhadas. Raríssimas as noites que não saía. Sempre agasalhado e de braço com o inseparável guarda-chuva, ouvindo modinhas no radinho de pilhas, passava na maciota enquanto as pessoas haviam ido reparar no silêncio dos aposentos a fadiga do dia. Andava lonjuras, desvendando territórios obscuros à cata de aventuras notívagas. À noite os bairros aquietavam-se, as ruas ficavam ermas e numa calmaria de cemitério. Contemplava a cidade e seus vícios mundanos, deixando-se seduzir pelas tentações de arriscados encontros libertinos. Garantida uma conquista, refugiava-se nos caminhos próximos das águas. Sentia-se irresistivelmente atraído por elas. Sua afeição pelo cenário aquático datava da infância. Incontáveis as vezes que se banhou na madrugada, após o namoro, na água salobra da lagoa, no Trapiche da Barra, no Vergel do Lago ou nas cacimbas que beiravam a linha férrea, a caminho de Bebedouro. Em uma de suas costumeiras andanças, deparou-se com um desocupado. Rapaz de olhar fugidio e os cabelos da cor de fogo, que logo lhe caiu no agrado. Aproximou-se oferecendo cigarros, granjeando simpatia, formulando o convite para tomarem umas pingas. Estimulados pela aguardente, saíram em busca da intimidade de um terreno baldio. Atravessaram o mercado da Levada, que àquela hora era frequentado por toda espécie de gente. Proprietários de frege-moscas que gastavam o apurado do dia com prostitutas. Miseráveis anônimos, ociosos e descalços, comendo migalhas da feira, enquanto os incorrigíveis trapaceiros tinham como ofício furar pacotes. A fedentina nunca abandonou o lugar, e o lixo amontoado era disputado pelos cães famintos.
Sob o olhar do céu que estava pontilhado de estrelas, margearam a linha férrea e abrigaram-se no mangue, de onde se ouvia o incessante marulho das águas. Bituca caiu num desfalecimento frouxo, recostado na raiz de uma árvore, mergulhando numa atmosfera sonolenta. Sentia-se estafado após uma noite de buscas e bebedeiras. O rapaz, imbuído de inconfessáveis intenções, valeu-se daquele descuidado instante do consorte para golpeá-lo à traição, repetidas vezes, com uma arma branca. O corpo ficou abandonado e insepulto, subtraído dos seus pertences, até ser denunciado pelos urubus. Nunca se apontou a autoria do delito. Quiçá, um suspeito, o “Galego da Levada”, delinquente contumaz nesse tipo de crime, a quem se atribuía a reputação de ser implacável com as vítimas. Ninguém reclamou o cadáver. Sequer houve missa. Bituca só não serviu de cobaia nas aulas de anatomia, porque já era carniça.
Pássa Adelmo Luz ESCRITOR
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ro da noite
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18 :: Graciliano ::
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: ::: poesia ::
Água Sanitária A amiga da criada e inimiga da patroa - que a compra só para pano de chão, e a criada quebra a lei botando-a em tudo que for branco. Mas sendo água, salpica, e seu salpico quando bate em cor constela a cor de branco. Ela poupa as mãos, é pariceira da preguiça, uma filha do progresso, barata e popular. Alveja o encardido e mancha o colorido. É uma fada construtivista: o que toca vira branco. Branqueia, cega e mata, se bebida: torna tudo branco-osso. Criança baixa em hospital ou necrotério depois de bebê-la; homem sem charme é chamado de balde de água-sanitária por mulheres salpiquentes.
Celso Brandão fotógrafo
Tira as marcas de amor e sangue dos lençóis: sem ela, não há crime perfeito. O sêmen tem um sema em comum com a água sanitária: o cheiro - prosaico rendez-vous da vida com a morte. A água sanitária é inimiga da cor, inimiga da vida - é um clássico.
Fernando Fiuza poeta
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::: poesia :: :
Água benta Ela dorme fria na entrada das igrejas e é acordada pelos dedos dos fiéis, que ali colhem proteção e depositam germes. Mas Deus é maior – malgré Augusto de Los Ângeles – e esses bichos mínimos não contaminam como deveriam. Mesmo sendo água em poça, ela não é mais nociva que dinheiro, maçaneta, cigarro caído ou copo sobejado. Convém, no entanto, não passá-la nos lábios, basta na testa, nos peitos e no órgão avariado. Deixe a boca à palavra muda prece. Quando o padre a chove do altar, ela ganha frescor na viagem do hissope à cabeça dos fiéis. Água-de-bica sagrada em terreiro de Oxum. Água beata, mas quando o Aurélio a serve com hífen: água-benta, ela destila, estrila, vira cana: endiabra.
Fernando Fiuza poeta
Celso Brandão fotógrafo
20 :: Graciliano ::
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: ::: poesia ::
Água-decheiro A macia amolece amolega amoleca amaluca, é de brejo, não se guarda em louça, não é loção. Água-de-colônia é cítrica, tem um travo que a de-cheiro não tem. Água-de-cheiro é água mole, daquela que fura a couraça do vaqueiro e as paredes do nefelibata. (O vaqueiro nefelibata perdeu quase todas as rezes, salvou apenas os bezerros do gavião). Água-de-cheiro das índias negras cafuzas mulatas mamelucas curibocas matutas todas terceiro-mundo e amadas pelos inteiros do mundo inteiro. Brancas usam perfume - é preciso -, orientais, nem isso, e as nossas, água-de-cheiro-de- xibiu em chibata.
Celso Brandão
Água-de-cheiro é aguatoa, não é tônica, é aguaboa, se usada com traquejo atenuado.
fotógrafo
É hora de lavar as mãos - ela sai com água, não gruda, não entrega, não entranha, eleva-se, mesmo de ralo abaixo.
Fernando Fiuza poeta
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:: Graciliano :: 21
::: poesia :: :
Rio e meninos Três meninos mergulham no rio o rio mergulha na tarde a tarde mergulha no tempo que envelhece os meninos que engole o sonho e os que sonham que altera o curso do rio para que três outros meninos em outra tarde, outro rio, renasçam em outros mergulhos.
Sidney Wanderley poeta
Celso Brandão fotógrafo
22 :: Graciliano ::
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: ::: poesia ::
Coiságua Quartinha moringa bilha cantil pote jarra cântaro: quanta coisa a te conter, ó água, ousando o que o mar não ousa.
Sidney Wanderley poeta
Celso Brandão fotógrafo
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:: Graciliano :: 23
::: poesia :: :
Lição da água Evaporar-se, condensar-se, precipitar-se: não só a água, o amor também, só que em ordem um tanto diversa: precipitar-se, condensar-se, evaporar-se.
Sidney Wanderley poeta
Celso Brandão fotógrafo
Fernando Rizzotto
: ::: documenta :: Entardecer na lagoa do Roteiro, próximo à praia do Gunga
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Vales Alagoanos A construção do espaço é uma tarefa diuturna e, basicamente, um vale é a sua própria construção, no que se implica a noção de sua história e, nela, a forma como foi construida a sociedade, a política e a economia que lidam com suas águas. O estudo realizado pelos professores Silvana Quintella Cavalcanti Calheiros e Sinval Autran Mendes Guimarães Júnior traça o perfil de alguns de nossos principais vales, montando uma informação sistemática que nos permite ter uma idéia de como se encontra organizada a resultante histórica dessas águas. É uma contribuição que poderá subsidiar o ensino e, ao mesmo tempo, divulgar elementos-chave sobre nosso Estado. Alagoas é de tal forma marcado pelas águas, que seu próprio nome ressalta a importância das lagoas para nossa identidade. As águas levaram Gilberto Freyre à criação de uma imagem, propondo o alagoano como anfíbio, o que foi, posteriormente, glosado por Dirceu Lindoso. Os vales restantes serão objeto de um outro número de Graciliano, que pretende, desta forma, tentar esgotar as virtudes das águas na construção das Alagoas.
:: Graciliano :: 25
: ::: documenta ::
VALES ALAGOANOS
.
Profa. Dra. Silvana Quintella Cavalcanti Calheiros Prof. Esp. Sinval Autran Mendes Guimarães Junior
Os vales alagoanos são formados por cursos d’água que se organizam espacialmente numa rede de drenagem que nasce na sua maior parte no Planalto da Borborema, em terras pernambucanas, e seguem para o oceano Atlântico e o rio São Francisco. Evidentemente, não poderemos nos deter em todos os vales, mas ressaltar os que consideramos mais importantes do ponto de vista da área e da organização da produção. Tendo em vista os dois tipos de desaguadouros os rios que compõem a rede hidrográfica são classificados como: rios da Vertente Sanfranciscana ou Ocidental, são temporários ou torrenciais, isto é, escoam apenas por um curto período do ano, logo após as fortes chuvas de inverno e deságuam no São Francisco (LIMA, 1965; UFAL, 1994). Os rios da Vertente Atlântica ou Oriental são perenes em virtude das constantes correntes de umidade oriunda do Atlântico, que se acumulam na frente da escarpa do Patamar Cristalino, que compõe parte das Encostas Orientais do Planalto da Borborema (LIMA, 1965; UFAL, 1994). A figura seguinte corresponde à localização dos Vales adiante descritos. Em virtude da escassez de dados e informações sobre os vales alagoanos, o trabalho foi fundamentado em estudos desenvolvidos
por Ivan Fernandes Lima, publicados nos anos de 1965 (Geografia de Alagoas) e 1992 (Ocupação Espacial do Estado de Alagoas). Foram utilizados ainda, estudos realizados por Alagoas (1979, 1992 e 1994), Andrade (1997) e a Enciclopédia Municípios de Alagoas (2007). Somados a isso, foram realizadas consultas a mapas elaborados por Brasil (1972 e 1983), Alagoas (1979, 1986, 1993, 2006), Brasil; Alagoas (1984) e Atlas Escolar Alagoas: espaço geo-histórico e cultural (2007). As expressões bacia hidrográfica e vale, usadas no trabalho possuem o mesmo significado. Esta consideração é reforçada conforme a definição proposta por Guerra, quando explica que: “É comum o emprego da expressão ‘bacia hidrográfica’ como sinônimo de vale, como exemplo podemos citar: bacia do São Francisco ou vale São Francisco; bacia do Amazonas ou vale do Amazonas, etc.” (1993, p. 28). No intuito de esclarecer as expressões bacia hidrográfica e vale, segue as definições do mesmo autor:
BACIA HIDROGRÁFICA – conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. Nas depressões longitudinais se verifica a concentração das águas das chuvas, isto é, do lençol de escoamento superficial, dando o lençol concentrado – os rios. A noção de bacia hidrográfica obriga naturalmente a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores d’ água, cursos d´ água principais, afluentes, subafluentes, etc. (p. 48). VALE – corredor ou depressão de forma longitudinal (em relação ao relevo contíguo) que pode ter, por vezes, vários quilômetros de extensão. Os vales são formas topográficas constituídas por talvegues e duas vertentes como dois sistemas se declives convergentes. O vale é expresso pela relação entre as vertentes e os leitos (leito menor, leito maior e terraços). (p. 427)
:: Graciliano :: 27 Fernando Rizzotto
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Vale do Marituba: vegetação característica
: ::: DOCUMENTA : mapa dos vales de alagoas ::
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1
3
2 5 6
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7
23 22
21 19 20
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17
14 Maceió
Mapa dos Vales Alagoanos
13
11 12
9 8
10
Vales da vertente sanfranciscana
Vales da vertente atlântica
1
Moxotó
10
Conduípe
2
Talhada
11
Coruripe
3
Capiá
12
Poxim
4
Grande
13
Jequiá
5
Ipanema
14
São Miguel
6
Traipu
15
Paraíba do Meio
7
Boacica
16
Mundaú
8
Perucaba
17
Pratagi
9
Piauí-Marituba
18
Santo Antônio
19
Camaragibe
20
Tatuamunha
21
Manguaba
22
Salgado
23
Jacuípe-Una
Compilado e adaptado por Esdras de Lima Andrade e Sinval Autran Mendes Guimarães Júnior em nov. 2008, a partir do Mapa 20 - Bacias Hidrográficas - ATLAS ESCOLAR ALAGOAS: espaço geo-histórico e cultura. Adequado ao projeto gráfico da Graciliano por Fernando Rizzotto.
: ::: documenta ::
Fernando Rizzotto
A farinhada é assim
1.0 Vales da Vertente Sanfranciscana Entre os rios que compõem os Vales da Vertente Sanfranciscana, aqui caracterizados, encontram-se: o Capiá, o Ipanema e o Traipu.
Estes rios foram importantes na formação e ocupação do sertão alagoano e da parte central do sertão pernambucano, já que a
fixação dos primeiros núcleos de povoamento, em parte, se deu ao longo destes vales (LIMA, 1992).
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1.1 Vale do Capiá Este vale abrange a porção Oeste do sertão alagoano. A bacia hidrográfica que contém este vale no estado de Alagoas drena aproximadamente 2220 km², o que corresponde a 8% do seu território. O vale principal do Capiá não apresenta nenhuma cidade, por outro lado, vários povoados estão presentes, sendo os mais importantes: Capiá da Igrejinha, Piau, e o histórico povoado de Entremontes, a mais antiga localidade às margens do São Francisco, depois de Penedo. Estes dois povoados estão posicionados na margem direita do rio Capiá, ambos localizados no município de Piranhas. Nos vales secundários ou subvales estão localizadas as cidades de Canapí, na margem direita do rio homônimo, maior afluente do Capiá; Inhapi, Ouro Branco e Mata Grande, posicionada na cabeceira do riacho Cumbe. Estas cidades, segundo a contagem da população pelo IBGE em 2007 somavam 23.292 habitantes, com a cidade de Ouro Branco abrigando a maior população deste vale com 6.634 habitantes.
Área drenada: Aprx. 2.220Km² O que corresponde em seu território a: 8% Cidades: Canapí, Inhapi, Ouro Branco e Mata Grande Povoados em destaque: Entremontes, Capiá da Igrejinha, Piau Nº de habitantes: 23.292 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Pecuária bovina, extração de madeiras, plantio de feijão, milho e mandioca
O Capiá nasce em terras pernambucanas, nas proximidades da cidade de Itaíba, percorrendo pouco mais de 100 km, sendo 88 quilômetros em terras alagoanas. Da porção sul (baixo curso), nas imediações do São Francisco até a confluência com o riacho Canapí (médio curso), o rio Capiá drena a parte mais seca do Estado. A sua confluência com o São Francisco se dá junto ao povoado de Entremontes (município de Piranhas), posicionada na sua margem direita, divisa com o município de Pão de Açúcar. O alto curso do rio Capiá drena uma pequena parte de terras do estado de Pernambuco, sendo que o restante do médio e a totalidade do baixo drenam terras alagoanas. O Vale do Capiá apresentava alguns trechos de caatinga exuberantes, atualmente descaracterizados. Os muitos trechos úmidos proporcionados pelas aluviões facilitaram a implantação de lavouras e o desenvolvimento de vegetais de grande porte, como: Baraúna, Angico e Aroeira, fato este que propiciou, ao longo de décadas, a intensa extração de madeiras. Apesar da sua proximidade com o rio São Francisco, o Vale do Capiá não possui áreas irrigadas e permanece marcado por um conjunto de culturas tradicionais como o feijão, o milho e a mandioca. A pecuária bovina é a representação mais marcante, contando ainda com a crescente participação de ovinos e caprinos. Uma nova perspectiva socioeconômica voltada para a agricultura está aberta no Vale do Capiá e dos demais vales do sertão e agreste alagoano, com a implantação e operação do Canal do Sertão prevista para 2010.
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1.2 Vale do Ipanema Este vale abrange as porções Centro-Norte e Leste do sertão alagoano. A bacia hidrográfica que contém este vale no estado de Alagoas drena aproximadamente 1830 km², o que corresponde aproximadamente a 6,6% do seu território. No vale principal do Ipanema estão localizadas duas cidades importantes do estado de Alagoas: Santana do Ipanema, no seu trecho norte, e Batalha, mais ao sul. Nos vales secundários, estão localizadas as cidades de Poço das Trincheiras, Maravilha, Olivença e Dois Riachos. Estas cidades, segundo a contagem da população pelo IBGE em 2007, somavam 50.762 habitantes, com as cidades de Santana do Ipanema (25.465 hab.) e Batalha (11.347) compreendendo os maiores contingentes. O rio Ipanema tem suas cabeceiras posicionadas na serra do Ororobá, ao norte da cidade pernambucana de Pesqueira e sua extensão aproximada é de 220 km, sendo 94 km em terras alagoanas. Este rio alcança o estado de Alagoas, na confluência do riacho Tapera, onde ocupa um pequeno trecho de fronteira até Guandu, povoado de Poço das Trincheiras. Ao banhar a cidade de Santana do Ipanema, o rio homônimo forma um boqueirão, orientando-se por fraturas e falha-
Área drenada: Aprx. 1.830Km² O que corresponde em seu território a: 6,6% Cidades: Santana do Ipanema, Batalha, Poço das Trincheiras, Maravilha, Olivença e Dois Riachos Nº de habitantes: 50.762 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Pecuária bovina para corte e produção de leite, plantação de palma forrageira, feijão, milho e mandioca
mentos ao longo do seu leito. O rio Ipanema conflui no rio São Francisco, a 1,5 km sudeste do povoado Barra do Ipanema, município de Belo Monte. A abrangência do rio Ipanema em terras alagoanas se dá a partir do alto para o médio curso. Neste setor, as condições de aridez são minimizadas pela presença do Maciço de Santana do Ipanema e pela calha do rio São Francisco, que lhe propicia maior umidade, o que condicionou a existência de solos mais argilosos e profundos, bastantes utilizados para o plantio da palma forrageira. No médio vale predomina a pecuária extensiva, em especial o rebanho bovino para corte e as imensas plantações de palma forrageira, feijão e milho. A indústria se caracteriza por casas de farinhas e pequenas fábricas de queijo, e ainda artesanato de couro. O Baixo Vale do Ipanema é marcado por uma seqüência de rochas recentes representadas pelas aluviões, bem visível na confluência com o São Francisco. Esta parte final do vale abrange a região da Bacia Leiteira do Estado, assim denominada pela concentração de fazendas de criação de gado voltadas para produção e industrialização do leite, sobretudo nos municípios sob influência direta da cidade de Batalha, centrados na especialização da pecuária de leite, responsáveis pelo abastecimento de leite produzido em Alagoas. É importante salientar que também compõem a denominada Bacia Leiteira parte dos municípios sob influência direta das cidades de Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios. A agricultura tradicional sertaneja está representada pelos cultivos do feijão, milho e mandioca; é outra atividade bastante praticada nesta parte do vale.
::: documenta :: :
Robert Owen-Wahl
Pecuaria é uma das vocações econômicas do Vale
: ::: documenta ::
Fernando Rizzotto
O pescador: grande protagonista das hist贸rias do rio
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1.3 Vale do Traipu Este vale abrange o Extremo-Leste do sertão alagoano e Oeste do agreste alagoano. A bacia hidrográfica que contém este vale no estado de Alagoas drena aproximadamente 2660 km², o que corresponde a 9,5% do seu território, representando assim a maior bacia hidrográfica contida no estado de Alagoas. O rio Traipu nasce no extremo ocidental da serra do Gigante, a noroeste da cidade pernambucana de Bom Conselho. Sua extensão é de aproximadamente 112 km. O rio Traipu deságua junto à cidade homônima, recebendo a invasão do rio São Francisco, formando alagados, hoje bastantes descaracterizados face à diminuição da vazão deste rio, com a construção das centrais elétricas ao longo do seu curso.
Área drenada: Aprx. 2.660Km² O que corresponde em seu território a: 9,5% Cidades: Traipu, Minador do Negrão, Cacimbinhas, Estrela de Alagoas, Major Isidoro, Craíbas, Jaramataia e Girau do Ponciano Nº de habitantes: 49.162 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Pecuária bovina para produção de leite e plantação de palma forrageira
Em território alagoano, o rio Traipu é cortado pela BR-316, junto à fazenda São Francisco, próximo ao acesso a cidade de Minador do Negrão, a oeste da Serra do Gravatá, prolongando-se pela da Serra da Brecha. No seu trecho inicial, este rio marca o limite do agreste e sertão alagoanos. Vários quilômetros abaixo deste trecho, o rio Traipu penetra em plena caatinga, nas proximidades do povoado de Lagoa Grande (município de Traipu). Fato este que não nega em parte a autenticidade deste rio como eminentemente sertanejo. Por se encontrar em parte do agreste alagoano, o Vale do Traipu apresenta certa quantidade de umidade, o que favorece a existência de acúmulo de águas nas suas aluviões, o que explica, desta forma, a consolidação das suas margens pela pecuária e o cultivo da palma forrageira, que podem ser observadas nas várias fazendas distribuídas ao longo do seu vale. A única cidade localizada no vale principal, mais precisamente na confluência com o rio São Francisco, é a cidade que leva o seu nome. As demais cidades: Minador do Negrão, Cacimbinhas, Estrela de Alagoas Major Isidoro, Craíbas, Jaramataia e Girau do Ponciano estão localizadas nos vales secundários. O conjunto destas cidades, segundo a contagem da população pelo IBGE em 2007, somava 49.162 habitantes, sendo os maiores contingentes: Girau do Ponciano (10.511), Major Isidoro (9.349), Traipu (7.863) e Craíbas (7.075). O Vale do Traipu possui semelhança econômica com o Médio e Baixo Vale do Ipanema (cf 1.2 Vale do Ipanema), já que este abrange grande parte da Bacia Leiteira do Estado de Alagoas.
: ::: documenta ::
Fernando Rizzotto
Vale do Coruripe: sua feição litorânea
2 Vales da Vertente Atlântica Entre os rios que compõem os Vales da Vertente Atlântica, aqui destacados, encontram-se: o Coruripe, o São Miguel, o Paraíba do Meio e o Mundaú. Estes rios foram
importantes na ocupação e formação do território alagoano, face às suas condições de navegabilidade de pequeno e médio calado, que facilitou o escoamento do açúcar,
principal produto de exportação do Estado, o que permitiu surgirem ainda vários núcleos de povoamento ao longo dos principais vales (LIMA, 1992).
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2.1 Vale do Coruripe Este vale abrange as porções Norte do agreste alagoano, Extremo Sudoeste da mata alagoana e Sul do litoral da mata alagoana. A bacia hidrográfica do Coruripe é a maior bacia contida integralmente em terras Alagoanas, drena aproximadamente 1780 km²,
Área drenada: Aprx. 1.780Km² O que corresponde em seu território a: 6,5% Cidades: Coruripe, Limoeiro do Anadia, Teotônio Vilela, Coité do Nóia, Taquarana, Igací, Belém e Palmeira dos Índios Nº de habitantes: 143.429 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Cultura da Cana-de-açúcar, pecuária bovina de corte e procução de leite, plantação de milho, feijão e mandioca
o que corresponde 6,5% do seu território. No vale principal deste rio estão localizadas as cidades de Coruripe e Limoeiro de Anadia, enquanto nos vales secundários, as cidades de Teotônio Vilela, Coité do Nóia, Taquarana, Igací, Belém e Palmeira dos Índios. Estas cidades, segundo a contagem da população pelo IBGE em 2007, somavam 143.429 habitantes. Deste total, Palmeira dos Índios (50.052 hab.), Coruripe (42.680 hab.) e Teotônio Vilela (32.988), representavam os maiores contingentes populacionais. O rio Coruripe nasce na serra da Mandioca, conhecida também por Bonifácio, na base da escarpa ocidental das Encostas Orientais do Planalto da Borborema. Este rio atravessa uma parte do agreste alagoano, onde forma o açude de Igací, a Nordeste da cidade homônima. Próximo ao povoado de Alto dos Garrotes, nos limites do embasamento cristalino, o rio Coruripe é cortado pela rodovia federal BR-316, para adiante abrir nos tabuleiros seu amplo vale. Após banhar a cidade de Limoeiro de Anadia, onde é cortado pela rodovia estadual AL-220, para adiante se aprofundar ainda mais no seu vale, demandar em direção ao Atlântico. Nas proximidades das Usinas Reunidas Seresta, o rio Coruripe é cortado pela rodovia federal BR-101. Mais a jusante, o rio Coruripe drena terras da Usina Coruripe S. A. para logo em seguida banhar a cidade homônima; daí em diante, em direção ao mar, alarga-se numa várzea rasa e facilmente inundável. A canade-açúcar ocupa grande parte do baixo vale do Coruripe, e também a pecuária e uma regular policultura, representada por milho, feijão e mandioca. O rio Coruripe já foi plenamente navegável até a cidade de Coruripe, nos tempos dos engenhos de açúcar, mas devido ao uso intenso das terras do vale para tal fim, acelerou o assoreamento do próprio talvegue, diminuindo assim a sua profundidade, o que o tornou não mais navegável. O Alto Vale Coruripe apresenta relevo de topografia fortemente ondulado. A economia e a sociedade desta parte do vale apresen-
tam-se hierarquizadas, tendo a cidade de Palmeira dos Índios, seu principal centro urbano, exercendo liderança política e comercial sobre a maioria das localidades. A pecuária bovina leiteira e de corte compreende o setor mais forte da sua economia. A maior produção comercial de leite está nas grandes fazendas, em face de melhor qualidade dos rebanhos, enquanto a agricultura de subsistência está distribuída em milhares de pequenas propriedades de características familiares. A industrialização do leite se caracteriza também pela hierarquia, já que a maior parte da produção é destinada ao laticínio, maior de Alagoas, localizado na sede regional (Palmeira dos Índios), enquanto a menor é destinada às fabriquetas de queijo e manteiga, bem como às unidades médias, que produzem iogurte ou leite pasteurizado. As cidades da parte final do Alto Vale do Coruripe, Coité do Nóia, Taquarana e Limoeiro de Anadia estão sob influência direta da cidade de Arapiraca. O Médio Vale do Coruripe está inserido nos Tabuleiros Costeiros, formados por rochas sedimentares de idade terciária da Bacia Sedimentar Alagoas, o que favorece a existência de recursos hídricos subsuperficiais. O Baixo Vale compreende parte dos Tabuleiros Costeiros e da Planície Costeira, formada por Sedimentos Quaternários de Praia e Aluvião. A presença de solo fértil e água abundante permitiram o desenvolvimento de economia especializada, na área agrícola, com a produção do setor industrial sucro-alcooleiro, representado pela monocultura da cana-de-açúcar, com grande ocorrência na várzea e no tabuleiro. Na passagem do Médio para o Baixo Vale do Coruripe, a paisagem monótona dos canaviais e das pastagens é quebrada com a presença do litoral, onde se observa a existência dos sítios urbanos de Coruripe e do Pontal de Coruripe, cobertos pela presença marcante dos coqueirais, além de manguezais e recifais na área sob influência do seu estuário.
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2.2 Vale do São Miguel O Vale do São Miguel abrange a porção Oeste da mata alagoana e Sul do litoral da mata alagoana. A bacia hidrográfica em que se encontra este vale no estado de Alagoas drena aproximadamente 950 km², o que representa 3,4% da superfície do seu território. O rio São Miguel apresenta-se raso e entulhado das aluviões. As nascentes do rio São Miguel estão posicionadas nas Encostas Orientais do Planalto da Borborema, mais precisamente na serra Tanque D’Arca, onde fluem os rios: Mata Verde, Cachoeira e Boca da Mata, os quais se unem nas proximidades de Maribondo, onde é conhecido como Jamoatá, e se estende até as proximidades da cidade de Anadia; a partir daí recebe o seu nome original. Ao banhar a cidade de São Miguel dos Campos, o rio começa a sofrer as influências da dinâmica das marés, formando antes meandros, para logo em seguida desaguar na laguna do Roteiro, onde existe uma comunidade de pescadores que usufrui da sua grande riqueza de camarões e peixes. Na margem esquerda desta laguna
Área drenada: Aprx. 950Km² O que corresponde em seu território a: 3,4% Cidades São Miguel, Anadia, Tanque D´Arca, Marimbondo e Boca da Mata. No estuário-lagunar: Roteiro e Barra de São Miguel Nº de habitantes: 84.240 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Presença de usinas de cana-de-açúcar e uma fábrica de cimento. O cultivo de arroz também marcou história nos famosos campos de arrozal de Inhaúns, atual município de Anadia.
está posicionada a cidade homônima. Esta laguna abrange 8,00 km² (quarta maior do Estado), apresentando sua desembocadura quase obstruída por um cordão de recifes areníticos alongados e paralelos ao litoral, juntamente com depósitos arenosos de croas e praias. Nesta parte surgem depósitos arenosos das coroas e ilhas aluviônicas, como a do Agenor. Próximo à desembocadura, pela margem esquerda, quando da maré baixa, a laguna do Roteiro recebe as águas do rio Niquim, que banha a cidade de Barra de São Miguel. Do ponto de vista fisiográfico e humano, o Vale do São Miguel apresenta características semelhantes ao Médio e Baixo Vale do Coruripe (cf 1.1 Vale do Coruripe), recebendo forte influência face às suas atividades relacionadas ao setor sucroalcooleiro. No vale principal deste rio estão localizadas as cidades de São Miguel dos Campos, Anadia e Tanque D´Arca, enquanto nos vales secundários estão posicionadas as cidades de Marimbondo e Boca da Mata. Às margens da laguna do Roteiro estão localizadas as cidades de Roteiro e Barra de São Miguel. A contagem da população em 2007 pelo IBGE, para estas cidades, exceto aquelas localizadas às margens da laguna supracitada, somavam 84.240 habitantes, com São Miguel dos Campos (46.708 hab.) e Boca da Mata (16.495) compreendendo as cidades de maior contingente deste vale. O município de São Miguel dos Campos, posicionados no início do Baixo Vale, é o mais importante, já que nele se encontram instaladas as usinas Caeté e Roçadinho e a fábrica CIMPOR – Cimentos do Brasil Ltda. Uma atividade que marcou história no Vale do São Miguel diz respeito ao cultivo de arroz, que ocorria nos famosos Campos de Arrozal de Inhaúns, atual município de Anadia. Merece menção ainda a usina Triunfo S.A., localizada nas proximidades da cidade de Boca da Mata.
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Fernando Rizzotto
Barra de S達o Miguel, Lagoa do Roteiro
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Fernando Rizzotto
Cana-de-açúcar: variedade predominante no Vale
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2.3 Vale do Paraíba DO MEIO O Vale do Paraíba do Meio abrange as porções Centro e Noroeste da mata alagoana e a porção Centro do litoral da mata alagoana. A bacia hidrográfica onde se encontra este vale é a segunda maior contida no estado de Alagoas, drenando aproximadamente 2530 km², o que corresponde a quase 9% do seu território.
Área drenada: Aprx. 2.530Km² O que corresponde em seu território a: 9% Cidades: Atalaia, Capela, Cajueiro, Viçosa, Paulo Jacinto, Quebrangulo, Chã Preta, Mar Vermelho, Pindoba. No estuário-lagunar: Pilar e Marechal Deodoro Nº de habitantes: 91.023 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Cultura da cana-de-açúcar e pecuária bovina de corte
No vale principal deste rio estão localizadas as cidades de Atalaia, Capela, Cajueiro, Viçosa, Paulo Jacinto e Quebrangulo, enquanto nos vales secundários ou subvales estão localizadas as cidades de Chã Preta, Mar Vermelho e Pindoba. Às margens da laguna Manguaba estão localizadas as cidades de Pilar e Marechal Deodoro. Segundo a contagem da população pelo IBGE em 2007, as cidades localizadas no vale do Paraíba do Meio, - exceto aquelas situadas no sistema estuarino-lagunar: Marechal Deodoro (37.578 hab.) e Pilar (30.077 hab.) -, totalizavam 91.023 habitantes, sendo Atalaia (24.794 hab.) Viçosa (18.907 hab), e Cajueiro (16.024 hab.) os maiores contingentes populacionais. O rio Paraíba do Meio nasce em Pernambuco, no extremo oriental da serra do Gigante, ao norte de Bom Conselho, e se estende por 150 quilômetros, banhando toda a porção Centro-Oriental do estado de Alagoas no sentido NO-SE, quando lança suas águas na laguna Manguaba, a sudoeste da cidade do Pilar. O Alto Vale do Paraíba drena parte do Planalto da Borborema (Encostas Orientais). Este planalto apresenta formas convexas, bastante movimentadas, profundamente encravadas entre margens erodidas, exibindo rebentões, colinas e serras. Na bacia onde se encontra inserida esta parte do vale, estão localizados os dois pontos mais altos do estado: Guaribas (882 m) e Cavaleiro (849 m), localizados respectivamente nos municípios de Quebrangulo e Chã Preta. Quando começa a deixar as Encostas Orientais do Planalto da Borborema, após banhar a cidade de Viçosa, o rio Paraíba do Meio se encrava num cânion, que se estende até a serra dos Dois Irmãos, e logo em seguida alcança a “depressão periférica”, na divisa dos municípios de Viçosa e Cajueiro. Próximo à Usina Capricho, na transição para a superfície dos tabuleiros, o rio apresenta um grande número de riachos e algumas cachoeiras, como: Dois Irmãos, Cachoeira Grande ou Baixa Funda, Serraria e Poço Redondo.
No fundo do Vale do Paraíba ocorrem algumas planícies aluviais, que se estendem ainda para alguns vales secundários. No trecho dos tabuleiros as planícies são mais amplas, o que permite o desenvolvimento da policultura e da cana-de-açúcar nas áreas mais propícias. A pecuária, em forma de latifúndio, que começou a se desenvolver mais intensamente nas décadas de 1960 e 1970, encontra-se atualmente consolidada. A economia dos municípios é marcada pela presença da pecuária bovina de corte e pelas plantações de cana-de-açúcar. O Médio Vale do Paraíba é marcado por apresentar elevada umidade, densa vegetação e espessa cobertura de solo, que fazem dessa parte do vale uma das mais ricas em recursos hídricos subsuperficiais do estado de Alagoas. A monocultura canavieira continua sendo a mais importante por conta da presença de algumas usinas, como a Capricho e a Uruba, bem como pela proximidade de outros municípios que possuem destilarias de álcool, localizados principalmente no Vale do Mundaú. O Baixo Vale compreende a Planície Costeira, onde se situa a laguna Manguaba ou do Sul, que banha Marechal Deodoro e Pilar, e que compreende a maior do estado de Alagoas, com 31 km². A ligação entre essas localidades é realizada usando as vias naturais dos canais como: Dentro, Velho e Novo, este último aberto pelos colonizadores para encurtar a distância de Alagoa do Sul (Marechal Deodoro). Estes canais cercam várias ilhas, como: Frades, Boi, Grande e a maior de todas, a de Santa Rita, posicionada na interface entre as lagunas Manguaba e Mundaú, já que elas se unem na parte das “barras”. No passado, antes da implantação da rodovia estadual AL-101 Sul, a laguna Manguaba servia de via de comunicação por meio de lanchas e canoas, atualmente usada para passeios turísticos, concentrados nas áreas dos canais interlagunares. Apesar das inúmeras agressões sofridas ao longo de décadas, a laguna Manguaba ainda possui grande riqueza em peixes e alguns crustáceos e moluscos.
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2.4 Vale do Mundaú
Área drenada: Aprx. 2.081Km² O que corresponde em seu território a: 7,5% Cidades: Rio Largo, Murici, Branquinha, União dos Palmares, Messias, Santana do Mundaú, São José da Laje, Ibateguara. No estuário-lagunar: Satuba, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco e Maceió Nº de habitantes: 168.611 (IBGE, 2007) Principais atividades econômicas: Pecuária bovina, cultura da cana-de-açúcar com a presença de várias usinas, uma fábrica de tecido e outra de bebidas
O Vale do Mundaú abrange as porções Centro e Centro-Norte da mata alagoana e a poção Centro do litoral da mata alagoana. A bacia hidrográfica onde se encontra este vale no estado de Alagoas drena aproximadamente 2081 km², o que representa pouco mais de 7,5% da sua superfície, sendo a quarta maior bacia interiorana de Alagoas. No vale principal deste rio estão localizadas as cidades de Rio Largo, Murici, Branquinha e União dos Palmares. Nos vales secundários estão localizadas as cidades de Messias, Santana do Mundaú, São José da Laje e Ibateguara. Às margens da laguna Mundaú estão localizadas as cidades de Satuba, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco e Maceió. Estas cidades, segundo a contagem da população pelo IBGE em 2007, totalizavam 168.611 habitantes, sendo as mais representativas: Rio Largo (53.542 hab.), União dos Palmares (44.513 hab.) e Murici (20.839 hab.). No sistema estuarino-lagunar, estimase que residam mais de 326.000 habitantes, com Maceió (parte ocidental e meridional), abrigando mais de 303.000 habitantes. O rio Mundaú nasce em terras pernambucanas, na Serra do Gigante, próximo à fazenda Araçá, município de Caetés, a noroeste da cidade de Garanhuns. Parte de seu curso é perfeitamente temporário, sofrendo as influências da semi-aridez, que alcança certos níveis do Planalto da Borborema. Após percorrer cerca de 200 km, alcança sua embocadura na laguna Mundaú, no município de Satuba.
O Vale do Mundaú tem sua importância marcada não só pela ferrovia que unia os estados de Alagoas e Pernambuco, mas também pelas várias usinas que aí se encontravam até a década passada, como: a Lajinha, a Campo Verde, a São Simeão, a Bititinga, às margens de um de seus afluentes, o Porto Velho. Atualmente só restam, como mais importantes, a Usina Serra Grande, a Santa Clotilde e a Central Leão Utinga. O vale do Mundaú apresenta, do ponto de vista fisiográfico e humano, características semelhantes ao Vale do Paraíba (cf 2.3 Vale do Paraíba do Meio). O Alto Vale do Mundaú está encravado nas Encostas Orientais do Planalto da Borborema, que se abre na forma de uma ferradura, em que os rios e os tributários desta parte do vale erodiram profundamente, evidenciando assim a intensidade do seu trabalho. A partir da proximidade da cidade de Santana do Mundaú (antiga Mundaú-Mirim), na sua parte ocidental, já em território alagoano, o vale apresenta-se bastante amplo; o mesmo ocorre na parte oriental, pelo vale do Canhoto, chegando ao povoado de Rocha Cavalcante (antiga Barra do Canhoto), no município de União dos Palmares. Nesta parte do vale, as presenças de algumas cachoeiras revelam os desníveis pelo qual o rio passa, sendo a mais importante, a da Escada, posicionada na divisa com o estado de Pernambuco, próximo à cidade pernambucana de Correntes, que recebia até pouco tempo os benefícios da energia elétrica, proporcionada pela pequena central elétrica ali instalada. No setor industrial, merece menção a Usina Serra Grande, posicionada na margem direita do rio Canhoto e a Destilaria Serrana, localizada na cabeceira do riacho Cana Brava.
O Médio Vale se estende da cidade de União de Palmares até as proximidades do povoado de Utinga. Antigos engenhos e fazendas foram implantados, aproveitando as planuras aluviais desta parte do vale, e também fazendo uso das encostas mais onduladas para a criação de gado, principalmente o bovino. Nesta parte do vale encontrava-se a Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos, surgida com a união das Companhias Progresso e Cachoeira Alagoana, que por muito tempo utilizou a energia fornecida pela pequena central elétrica instalada na cachoeira Gustavo Paiva. A única indústria de destaque nesta parte do vale é a fábrica da Schincariol, localizada no município de Murici. O Baixo Vale, a exemplo do Vale do Paraíba (cf 2.3 Vale do Paraíba), está inserido nos Tabuleiros Costeiros e na Planície Costeira. Esta parte do vale tem início logo após o povoado de Utinga e se estende até a foz com a laguna Mundaú. Esta parte do vale é marcada pela grande várzea inundável do rio Mundaú e pela laguna homônima, que chega ao mar pelos canais da Assembleia - Pontal da Barra. A laguna Mundaú é a segunda maior do estado de Alagoas, com 23 km², compreendendo a mais importante do estado de Alagoas, já que banha a capital Maceió. As águas desta laguna são sempre salobras e nela é encontrado o célebre marisco sururu. Mesmo com as diversas agressões ao longo das últimas décadas, vários moluscos e crustáceos ainda podem ser encontrados como: a taioba, a unha-de-velho, o maçunim e a ostra. Os peixes são variados: carapebas, camurins, bagres e tainhas. A laguna, ainda hoje, serve como via de comunicação entre as cidades que banha, usando-se embarcações de pequeno porte, como canoas e lanchas. As cidades que compõem esta parte do vale possuem forte relação com a capital Maceió, na qual mantêm certa continuidade espacial, principalmente Messias, Rio Largo, Satuba, Santa Luzia do Norte e Coqueiro Seco.
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Fernando Rizzotto
Área que foi dos Palmares
Fotos: Fernando Rizzotto
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Silvana Quintella Cavalcanti Calheiros
Quem é Formada em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas (1977), Mestre em Geografia pela UNESP, Rio Claro (1996), Doutora em Geografia pela UFRJ (2000). Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Professora Associada 2 e Diretora do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFAL desde 2006, onde ministra aulas nos Cursos de Bacharelado e Licenciatura em Geografia. Foi coordenadora de Curso de Graduação em Geografia. Coordenou a pós-graduação especialização em Geografia: análise ambiental-IGDEMA. Professora do Mestrado de Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFAL. Coordenadora do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado – LGA. Na área de pesquisa, atua no uso da tecnologia de geoprocessamento para análise do espaço geográfico por meio dos Sistemas Geográficos de Informação, auxiliados pela Cartografia Digital e o Sensoriamento Remoto. Participou de vários projetos, entre os quais: Análise Ambiental de Municípios por Geoprocessamento (CNPQ-CAPES-PROPEP-UFAL); Macrozoneamento Costeiro do Estado de Alagoas (UFAL–IMA/GERCO-AL); Gerenciamento Integrado para Transferência e Destino Final dos Resíduos Sólidos de Maceió (GERSRAD/UFAL–PMM/SLUM); Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terra na Bacia do São Francisco (ANA-GEF-PNUMA/OEA); Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira do Estado de Alagoas (LABMAR-IGDEMA), entre outros. Paralelo a isso, é Coordenadora do Grupo de Estudos de Resíduos Sólidos e Recuperação de Áreas Degradadas – GERSRAD/UFAL. É Coordenadora do Projeto de Capacitação dos técnicos dos municípios alagoanos em Geoprocessamento.
Sinval Autran Mendes Guimarães Júnior
Quem é É Bacharel em Geografia (1994) e Especialista em Geografia: análise ambiental pela Universidade Federal de Alagoas (2003), onde é Professor Auxiliar do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFAL há mais de doze anos. Nesta mesma instituição, vice-coordenador do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado – LGA. Lecionou ainda, nos Cursos de Licenciatura em Geografia do Departamento de Geo-História - CISE-CESMAC-FEJAL, de 1996 a 2000; e no Programa Especial para Graduação de Professores - PGP da UNEAL, em 2005 e 2006. Na área de pesquisa, atua no uso da tecnologia de geoprocessamento para análise ambiental por meio dos Sistemas Geográficos de Informação, auxiliados pela Cartografia Digital e o Sensoriamento Remoto. Nesta linha de pesquisa participou de vários projetos, entre os quais: Análise Ambiental de Municípios por Geoprocessamento (CNPQ-CAPES-PROPEPUFAL); Macrozoneamento Costeiro do Estado de Alagoas (UFAL–IMA/GERCO-AL);, Gerenciamento Integrado para Transferência e Destino Final dos Resíduos Sólidos de Maceió (GERSRAD/UFAL–PMM/SLUM); Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terra na Bacia do São Francisco (ANA-GEF-PNUMA/ OEA); Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira do Estado de Alagoas - ZEEC-AL (LABMAR-IGDEMA), Plano de Manejo e Gestão da Área de Proteção Ambiental de Santa Rita e Reserva Ecológica do Saco da Pedra – CHESFIMA-AL-IPPA, na qual integra o Comitê Gestor. Na área de extensão, tem trabalhado na Capacitação de Técnicos Municipais em Geoprocessamento do Programa PROEXT/UFAL-MECCIDADES em Alagoas.
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bibliografia ALAGOAS, Governo do Estado de Alagoas, SEPLAN, Secretaria de Planejamento, Estudo, enquadramento e classificação de bacias hidrográficas de Alagoas. (Org. Tenório, R. S.; Almeida, D. B. de.) Maceió: Convênio SEMA; SUDENE e SEPLAN, 1979. p. 228-232. ALAGOAS, Governo do Estado de Alagoas, SEPLAN, Secretaria de Planejamento, CDCT, Coordenação de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, NMRH, Núcleo de Meteorologia e Recursos Hídricos. Hidroclimal. (Org. Centeno, J. A., Kishi, R. T.) Edição Especial. Maceió: 1992, 39p. ALAGOAS, Governo do Estado de Alagoas, SEPLAN, Secretaria de Planejamento, CDCT, Coordenação de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, NMRH, Núcleo de Meteorologia e Recursos Hídricos. Os Recursos hídricos do Estado de Alagoas (Org. Centeno, J. A., Kishi, R. T.) Maceió: Sergasa S. A., 1994. 41p. ANDRADE, M. C de. Usinas e destilarias das alagoas: uma contribuição ao estudo da produção do espaço. Maceió: EDUFAL, 1997. 134 p. ATLAS ESCOLAR ALAGOAS: espaço geo-histórico e cultural/ [José Santino de Assis, coordenador]. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2007. 2 mapas, color., 12 cm x 17 cm. Bacias Hidrográficas e Rede de Drenagem, escala 1: 2.000.0000. BRASIL, República Federativa do Brasil, Ibge. População recenseada, por situação do domícilio e sexo, segundo os municípios – Alagoas, Contagem da população, 2007.
ENCICLOPÉDIA MUNICÍPIOS DE ALAGOAS. História, Economia e Geografia. [Leonardo Simões, coordenador geral] Maceió: Organização Arnon de Mello/Instituto Arnon de Mello, 2006. 4200 p. Estado de Alagoas, Mapa de Bacias Hidrográficas - 1979. 1 mapa, p&b, 69x90cm. Escala 1:400.000. ALAGOAS, Governo do Estado de Alagoas. Estado de Alagoas, Mapa Político - 1993. 1 mapa, color, 69x90cm. Escala 1:400.000. ALAGOAS, Governo do Estado de Alagoas. Estado de Alagoas, Mapa Rodoviário - 2000. 1 mapa, color, 49x73cm. Escala 1:500.000. BRASIL, República Federativa do Brasil; ALAGOAS, Governo do Estado de Alagoas. GUERRA, A. T. Dicionário geológico-geomorfológico. 8 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993. 446p. LIMA, I.F. Ocupação Espacial do Estado de Alagoas. Maceió: SERGASA, 1992. 160 p. LIMA, I.F. Geografia de Alagoas 2ª ed. Editora do Brasil. São Paulo. 1965. 347 p. UFAL - Universidade Federal de Alagoas. GEM, Departamento de Geografia e Meio Ambiente, Atlas Geográfico de Estado de Alagoas: 1994. Maceió; São Paulo: EDUFAL; Ecopres, 1994. 44p. (no prelo).
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Características hidroam do Estado de Alagoas FABIANA CARNAÚBA MEDEIROS, Mestre O Estado de Alagoas, não por acaso conhecido como o Paraíso das Águas, possui um imenso potencial hidrológico, com suas 53 bacias hidrográficas distribuídas em 16 regiões que cortam o Estado. 07 regiões hidrográficas são vertentes do rio São Francisco e 09 são vertentes do Atlântico, tendo como o mais conhecido de todos eles o rio São Francisco. Além dos rios que cortam o Estado, Alagoas possui o Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba, um dos mais importantes do país, que é formado por um sistema de corpos aquáticos naturais constituídos por duas lagoas, Mundaú e Manguaba, localizadas no Litoral Médio do Estado de Alagoas, próximas à capital Maceió. A Lagoa Mundaú possui 27 km2 e representa o baixo curso da Bacia Hidrográfica do rio Mundaú, que tem seu alto curso na região do Agreste do Estado de Pernambuco, e percorre 30 municípios do Estado de Alagoas, com 08 municípios em regiões ribeirinhas. Já a Lagoa Manguaba possui 42 km2 constituindo a região estuarina dos rios Paraíba do Meio e Sumaúma. Ambos
percorrem 26 municípios do Estado, com 14 municípios em regiões ribeirinhas. As Bacias dos rios Paraíba e Mundaú, as maiores do Estado, são bacias Federais, denominação dada às bacias cujos rios banham mais de uma unidade da federação. Neste caso, as bacias têm suas nascentes na região Agreste do Estado de Pernambuco. São vertentes do Atlântico, onde as bacias que drenam para o oceano são na maioria rios perenes. Os rios que drenam para o rio São Francisco, com exceção da bacia hidrográfica do rio Piauí, são temporários. O Estado de Alagoas possui sua estação chuvosa concentrada entre os meses de abril a julho, e esse regime de chuvas é responsável pela chamada quadra chuvosa da região, contribuindo para o aumento da vazão dos rios, quando cheias assolam o Estado em alguns anos considerados atípicos, ou algum evento de grande escala tipo El Nino ou La Nina influencia no clima do Estado. O evento de cheias considerado mais grave dos últimos anos foi registrado nos dias 31 de julho e 01 de agosto de 2000, quando foram observados índices de precipitação próximos a 300 mm, principalmente na região Norte do Estado, destruindo pontes, causando mortes e deixando inúmeros desabrigados, tanto no estado de Alagoas quanto em Pernambuco.
Rios como o Ipanema, Mundaú e Paraíba são considerados críticos, devido aos seus municípios ribeirinhos, que contribuem para desastres naturais em anos com muita chuva. Apesar de o Estado de Alagoas ter uma área pequena, com território de 27.767,6 km2, apresenta diversidade em seu clima. Para efeitos de monitoramento das chuvas, o estado está subdividido em 06 regiões ambientais, onde cada uma possui características climáticas próprias. Litoral: compreende a parte da faixa costeira-litorânea, e apresenta a região do Estado com maiores índices pluviométricos anuais, com médias de 1.570mm; zona-da-mata: possui em sua área um relevo bastante movimentado dos níveis cristalinos que antecedem a Borborema. Apresenta também altos índices de precipitação anual, com média de 1.370,0mm, se comparada às demais regiões do Estado; Baixo São Francisco: apresenta várzeas inundáveis do rio São Francisco, tendo como médias anuais precipitação de 1.270,0mm. Agreste: é chamada região de transição, tendo características de clima úmido e seco. Seus índices de precipitação anual ficam próximos a 950,0mm; Sertão: região inserida no chamado polígono das secas, apresenta médias anuais de 917,0mm; Sertão do São Francisco: região do Estado que apresenta os menores índices anuais de chuva, com médias de 560,0mm. É um laboratório para pesquisas hidrometeorológicas por suas variáveis climatológicas e peculiaridades.
Divulgação
bientais Fabiana Carnaúba Medeiros
Quem é Fabiana Carnaúba Medeiros é graduada em Agronomia pelo Centro de Ciências Agrárias CECA, e mestre em meteorologia pelo Instituto de Ciências Atmosféricas - ICAT, ambos pertencentes à Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Faz parte da equipe técnica do Centro Estadual de Meteorologia de Alagoas, denominado Diretoria de Meteorologia da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos - SEMARH há 09 anos, de onde atualmente é diretora. Faz parte também da Faculdade Raimundo Marinho, onde é professora do curso de Administração, e a partir do próximo ano lecionará também no curso de Engenharia Ambiental.
Média história anual de precipitação por região em milímetros (mm) 1.570
1.370
1.270 950
917 560
Litoral
Agreste
Sertão do São Francisco
Zona da Mata
Sertão
Baixo São Francisco
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As águas e Vidas Secas Maria Heloisa Melo de Moraes, Dra. Em sua condição de elemento fundamental à existência humana, atualmente a água tem sido motivo de sérios debates científicos, que vão de questões regionais a interesses universais, passando sua preservação a ter uma conotação política, gerando discussões que, algumas vezes, chegam a aventar situações catastróficas. Ao lado de tudo que se escreve e se divulga sobre essa atual preocupação da humanidade, sabe-se que a temática da água, por sua simbologia universal, sempre esteve presente na arte literária de todas as épocas. Embora não ignore nem contradiga a literatura científica sobre o tema, a literatura-arte, especialmente a poesia, ao falar da água, geralmente enfatiza seus aspectos simbólicos e mitológicos, o que proporciona ao poeta e ao leitor a incursão numa linguagem metafórica geralmente centrada num universo lexical em que ressaltam palavras relacionadas direta ou indiretamente à água. Que não se entenda essa proposta da literatura como alienação diante de problemas tão sérios. A literatura apenas cumpre o seu papel: discutir os problemas da humanidade de forma indireta, por meio de seus poemas, de suas narrativas, de suas personagens e das ações e atitudes delas; por meio da provocação estética centrada na palavra poética. Marcada geograficamente pela presença da água, em forma de rios, do oceano que margeia toda a sua extensão a leste, e de duas lagunas (conhecidas e nomeadas erroneamente como lagoas) – que lhe renderam seu nome –, Alagoas tem nesse elemento da natureza uma inegável motivação para a sua arte, e não apenas para a literatura. A água faz parte do imaginário coletivo alagoano.
A partir dessa evidência, buscamos exemplificar tal relação entre a água, seu simbolismo e a arte literária por meio de estudos críticos sobre autores(as) alagoanos(as) nos quais se identifica tal proposição. Evidentemente, reiteramos, é apenas uma pequena amostra da presença do elemento água como motivação para a criação literária alagoana, já que são inúmeras as ocorrências dessa temática na literatura desta terra que recebe a alcunha de “Paraíso as águas”. O artigo de Jerzuí Tomaz apresenta questões teóricas sobre o simbolismo da água, num diálogo com a psicanálise. Os artigos de Edilma Acioli Bomfim e Enaura Quixabeira analisam a presença desse elemento mítico em dois poetas alagoanos: Carlos Moliterno e Solange Chalita, respectivamente. Em ambos os estudos fica evidente a força do simbolismo aquático na poesia alagoana, claramente perceptível nos poetas escolhidos. Algo, porém, emerge dessa proposta de se tematizar a presença da água na literatura alagoana, algo que é, de alguma maneira, paradoxal. Referimo-nos a uma obra-prima da literatura alagoana, que no ano de 2008 completou 70 anos de sua publicação – e, diga-se de passagem, sem as devidas comemorações em Alagoas. Trata-se do romance VIDAS SECAS, do mestre Graciliano Ramos. Paradoxal porque, no “Paraíso da águas”, VIDAS SECAS representa o oposto dessa imagem. É a narrativa cuja personagem principal é a realidade da seca no nordeste e os seus efeitos sobre o ser humano. Com a publicação de VIDAS SECAS, o sofrimento do povo do sertão nordestino tornou-se conhecido no
resto do Brasil – que até o ano de sua publicação, 1938, não tinha uma idéia exata do que representava a seca nessa parte do país – e no mundo inteiro. É desse paradoxo que estamos falando. É de Alagoas, terra das águas, que parte o libelo de um escritor que, através de sua arte, mostra ao mundo a degradação física e moral, o sofrimento do homem maltratado pela falta de água. Há exatos 70 anos, a questão da água, ou melhor, da sua falta, já se mostrava em toda a sua complexidade na obra de Graciliano. Coube à literatura levantar essa bandeira numa obra de ficção que, dessa forma, cumpre o seu papel já anteriormente citado: apontar questões relevantes no contexto sócio-histórico de seu tempo, e que, pelo poder da palavra artística, universaliza-se e transcende esse tempo. A resolução de tais questões, no entanto, escapa ao âmbito literário. Em VIDAS SECAS a falta de água tinha causas essencialmente climáticas, não havia a colaboração do homem para essa situação. Esperamos que, no futuro, a poesia ou a prosa de ficção não precisem mais falar dos sofrimentos da humanidade em razão da falta desse elemento condicionante da sua sobrevivência, em qualquer parte do nosso planeta, e não apenas no sertão nordestino. Esperamos ainda que essa carência, caso venha a acontecer, não seja causada pelo homem, autor e personagem de sua própria história.
Fernando Rizzotto
Maria Heloisa Melo de Moraes
Quem é Nascida em Palmeira dos Índios (AL), aos 5 anos foi morar em Santana do Ipanema. Em Maceió continuou seus estudos até chegar à UFAL, onde fez o curso de Letras. Foi professora estadual até 1991, quando ingressa, por concurso, no quadro de docentes da Universidade Federal de Alagoas. Em 1993 conclui o Mestrado em Literatura Brasileira na UFAL, com dissertação sobre o humor na literatura infanto-juvenil. Em 2000 conclui o Doutorado em Literatura Brasileira, também na UFAL, com a tese Cor, som e sentido a metáfora na poesia de Djavan, posteriormente publicada pela Editora HDV – Curitiba (2001). Publicou ainda o livro Poesia Alagoana hoje: ensaios (org.), pela EDUFAL, em 2007, além de artigos em diversos periódicos. Suas principais áreas de pesquisa são a literatura infantojuvenil brasileira e os estudos teóricos sobre a poesia, com prioridade para os estudos sobre a poesia alagoana.
Trabalho por Aldemir Martins. Adaptação por Fernando Rizzotto
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O simbol Jerzuí Tomaz
Quem é Jerzuí Tomaz é graduada em psicologia, psicanalista do Centro de Estudos Freudianos do Recife e professora adjunta da UFAL. Possui doutorado em Letras e Lingüística e integra o quadro de professores do Programa de PósGraduação em Letras e Lingüística-UFAL. Seus interesses de pesquisa abrangem as interfaces entre psicanálise e literatura, psicanálise e arte, psicanálise e educação e psicanálise e saúde pública.
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ismo universal da água Jerzuí Tomaz, Dra. Falar sobre a água remete a símbolos universais que enredam o sujeito desde os primórdios de sua trajetória existencial. Sabese que este elemento é fonte de vida – afinal, nos originamos na água –, veículo de purificação e núcleo de regenerescência/renascimento em inúmeras culturas. De acordo com Chevalier e Gheerbrant, na tradição judaico-cristã a água simboliza a origem da criação, uma vez que o espírito de Deus, no Gênesis, paira sobre as águas. Reveste-se, assim, de um traço de fertilidade, pureza, sabedoria, graça e virtude. Se no Antigo Testamento ela é vista como sinal de bênção, o Novo Testamento virá celebrar a magnificência da água, imprimindo um sentido de eternidade. Denota-se que a água viva, a água da vida apresenta-se co-
mo um signo cosmogônico, já que cura, purifica, rejuvenesce (a imersão na água pode assumir uma função regeneradora). E é fato que a noção de águas primordiais, de mar das origens, encontra-se em quase todas as civilizações. O psicanalista Sigmund Freud chama atenção para o fato de que o símbolo pode adquirir sentidos ambíguos e muitas vezes contraditórios. Assim, a água inscreve-se em planos simbólicos irremediavelmente opostos – fonte de vida/morte, meio de criação/ destruição –, o que sinaliza para uma diversidade de dimensões e matizes desta rica simbologia. A dualidade simbólica da água ilustrase, por exemplo, por meio da demarcação da água descendente, provinda do céu, da chuva e portadora de um caráter agressivo, uma vez que penetra a terra; e a água nascente, advinda das entranhas do planeta, origem das fontes e insígnia lunar. Tem-se a água estéril e a água fecundante; a água das superfícies que se relaciona com a navegação, a mobilidade e o exílio e a água das profundezas, submarina, núcleo das pulsões secretas e desconhecidas, o que aponta para o conceito de inconsciente, o capítulo censurado da história de cada um de nós.
O elemento primordial em destaque exibe, deste modo, feições marcadamente femininas e masculinas. A água doce, lacustre, plasma da terra, representa uma “valorização feminina, sensual e maternal”. Os rios e o fluir de suas águas – metáfora de nascimento, transformação e renascimento – simbolizam, por sua vez, a existência do ser humano e a dinâmica incessante da vida. A água espumante dos oceanos e dos mares, por seu turno, oferece uma clara imagem da vida e da morte. Suas correntes mortais ou vivificadoras junto ao fluxo ininterrupto das marés possuem a capacidade de dar ou subtrair a vida, demarcando uma situação de ambivalência, com registros de incerteza, dúvida, indecisão, Bem ou Mal. Por fim, o simbolismo da água oferece uma relação particular com a Mulher, representação maior do princípio feminino. A persistência da água sensível, matriz e mãe, no imaginário social induz a pensar na necessidade humana de acolhimento, de aconchego, situando-se como contraponto a um mundo onde imperam a técnica e a aridez (ausência de água!) dos laços afetivos. A este respeito, a sabedoria popular nos dá uma grande lição na existência do hábito de receber o andarilho que se desloca na aridez do Nordeste brasileiro com um copo de água, como para sinalizar que a grande Mãe que acolhe e sustenta a vida o recebe com a benção da água fresca, capaz de sugerir a paz do repouso e a ordem de uma existência renovada.
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Bestiário aquático: a poe mítica de Solange Chalita Enaura Quixabeira Rosa e Silva, Dra. A escritora Solange Chalita, após um interregno de algumas décadas, publicou recentemente dois novos livros de poesia – O anjo encarnado e Canto mínimo. É o canto da poetisa e da mulher madura em pleno esplendor de sua feminilidade e de sua poética. Neste texto, mergulharemos no universo poemático de Canto mínimo, do qual destacamos o poema “Bestiário Aquático”, composto por seis estrofes, intentando fazer uma leitura da estrutura simbólica e imagética em que predominam as imagens de água. Quem deflagra as ações principais – une as ondas sonoras às ondas do mar e domina as águas salgadas – é a figura emblemática do divino Orfeu, filho de Apolo e da musa Calíope. Guerreiro da Trácia, mais conhecido pelo poder de sua música que pelos feitos heróicos, sintetiza na palavra canto, simbolicamente, música e poesia. A água – elemento vital que neste século XXI ameaça tornar-se o objeto da sobrevivência humana (e, em conseqüência, da cobiça do homem), porque destinada cada vez mais à escassez –, sempre ocupou lugar de destaque no imaginário dos artistas, sejam poetas, pintores, escultores ou músicos. Para Becker (1999), como massa indiferenciada, simboliza a plenitude de todas as possibilidades ou o início primordial de todo ser, a prima materia. Na literatura podemos encontrar, no devaneio poético, imagens das águas salgadas, doces, cristalinas, turvas, amenas ou abissais, fonte de vida ou elemento de morte. Tomemos, como exemplo, a primeira estrofe: Orfeu Com sua melodiosa Cítara uniu as ondas sonoras Às ondas do mar E dominou as águas salgadas e sua fauna Como um franciscano (p.38) As ondas devem ser vistas em estreita relação com a água, mas água em movimento, podendo assumir um caráter ameaçador de forças indomáveis, sobretudo quando associada ao sal, outro elemento vital de preservação e de neutralização de forças maléficas. Assim, é mister que sejam dominadas (elas e todos os seres que
nelas habitam) pelo poder da música/poesia vindo da cítara, símbolo cósmico, de integração entre o céu (ar que propaga o som) e a terra (elemento sólido do qual fomos feitos) para que pudessem ouvir o canto mavioso. O mito assegura que essa dominação realiza-se pela sedução, pois os animais, as plantas e até mesmo os minerais rendem-se ao fascínio de Orfeu como mais tarde capitularam diante do discurso amoroso de Francisco de Assis. Solange Chalita transfigura essa informação nesta segunda estrofe: Baleias golfinhos peixes-bois De todos os oceanos Até os linguados enterrados na areia Ouviram-lhe A beleza do canto (p.38). Essa seqüência de animais remete ao infra-humano instintivo, segundo Jung, citado por Cirlot, (1984, p.83), pois “o animal representa a psique humana bem como o lado psíquico inconsciente”. As duas estrofes seguintes harmonizam elementos díspares como cavalos-marinhos e anêmonas, esta última com duplo simbolismo. Na Antigüidade, símbolo da doença e da morte, anuncia a efemeridade dos seres; na linguagem simbólica cristã, a anêmona significa o sangue derramado dos inocentes, prenunciando a morte de Orfeu. Os elementos morfológico-lingüísticos utilizados para representar essa harmonização foram os verbos dançar e afinar, ambos semanticamente ligados ao ritmo e à música, que conseguem neutralizar os efeitos tóxicos das caravelas, animais marinhos que segregam substâncias que queimam como fogo. Em cortejo cavalos-marinhos Dançaram Cercados de anêmonas Os ventos afinaram a escuta das caravelas azuis Neutralizando as células urticantes Nos mares tropicais (p.38)
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sia Enaura Quixabeira Rosa e Silva
Quem é
Um elemento ambíguo e dissonante surge na quinta estrofe: a imagem das medusas (as famosas águas-vivas que habitam nossos mares), cujos corpos são formados em 95 a 99% de água, imunes ao canto poético. A ambigüidade remete à Medusa, personificação mitológica da morte e da imperfeição, e a dissonância configura-se na rejeição à descoberta do segredo da representação – via maior da poesia/arte. Só as medusas essas Surdas ao encantamento Continuaram ejetando espinhos Paralisantes Na busca da luz solar (p.39) A última estrofe retorna a Orfeu destroçado pela fúria das Bacantes, reduzido a uma cabeça carregada pelas águas do rio Ebro. Seu instrumento musical salva-se com ele e garante a eternidade da arte poética no espaço visível dos mortais. A cabeça do deus despedaçado Salvou-se na correnteza do rio Seu canto propagou-se além do tempo No invisível espaço dos imortais (p.39) Podemos afirmar com Octavio Paz que o poema não é apenas mais uma forma literária, mas o lugar da imortalidade onde a poesia e o homem se encontram. Canto mínimo ratifica exemplarmente tal encontro.
Nascida em Maceió, filha de Possidônio e Áurea Quixabeira. Conclui o Mestrado em Literatura Brasileira na Universidade Federal de Alagoas, defendendo a dissertação em 1994, ano em que ascende, por concurso público, ao corpo docente da UFAL. Em 1995, publica A alegoria da ruína: uma análise de Crônica da casa assassinada, agraciado com o Prêmio Tércio Wanderley, concedido pela Academia Alagoana de Letras. Doutora-se, com a tese “A condição humana na obra de Lúcio Cardoso: entre Eros e Tânatos, a alegoria barroca brasileira”, diante de banca composta paritariamente de doutores brasileiros e franceses, em 1999. É membro da Academia Alagoana de Letras, da Academia Maceioense de Letras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste, da SOBRAMES e do Grupo Literário Alagoano. Em 2001, no Centro Cultural da Academia Brasileira de Letras, recebeu o Diploma do Mérito Cultural da União Brasileira de Escritores. Possui as comendas Graciliano Ramos, Nise da Silveira, o grau Mérito Ouro Ministro Silvério Fernandes de Araújo Jorge, a Láurea Arnon de Mello e a medalha do Mérito Cultural Leda Collor de Mello. Livros publicados: Prazer mortal: lições de literatura brasileira (1997). La condition humaine dans l’oeuvre de Lucio Cardoso: entre Eros et Thanatos, l’allégorie baroque brésilienne. France (2001). Sonata de outono para cordas doloridas e Lúcio Cardoso: paixão e morte na literatura brasileira. (2004). Angústia: 70 anos depois. (2006). Em co-autoria. Hora e vez de José Geraldo W. Marques: a travessia mágico-poética. (2000). Dicionário Mulheres de Alagoas – ontem e hoje. (2007).
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Entre águas insulares Moliterno se fez ilha Edilma Acioli Bomfim, Dra. Várias obras artísticas produzidas por alagoanos, em diferentes épocas, estão marcadas pelo elemento mítico, primordial da água. O próprio nome com que a terra foi batizada – ALAGOAS -, em uma referência às grandes lagoas aqui existentes, já faz com que essa referência por si só justifique o poético cognome de “Paraíso das águas”. Entre as várias produções artísticas de alagoanos que se serviram desse elemento tão caro aos nossos olhos, olfato, tato e paladar a construção lírica do livro A Ilha, do poeta alagoano Carlos Moliterno, é uma grande metáfora que reitera a presença do imaginário insular, fruto dessa herança geográfica que marcou a terra e o homem das Alagoas. Diante do poema de Moliterno cabe uma pergunta: o que é mesmo uma ilha? Denotativamente temos uma única resposta: é uma porção de terra cercada de água por todos os lados. Porém, a sua simbologia e significado milenares ultrapassam o sentido primeiro e encaminham o sujeito lírico para outras conotações. Um desses significados é o que coloca a água como elemento universal, princípio feminino, fonte do ser e gerador da vida. Em sua Ilha, Moliterno, liricamente, remete sua criação à imagem daquela descrita no texto bíblico, em especial ao capítulo que trata da origem do universo. Na Gênese da criação a terra é descrita como “vã e vazia” e as trevas cobrindo “a face do abismo”; essa terra estéril não era habitada e o espírito de Deus “pairava sobre as águas”. Assim, tal qual o Criador, Moliterno também se faz demiurgo, criando com palavras a Ilha metafórica que se faz verbo e habita entre nós: “Invento a ilha numa tarde clara,/ Numa tarde de sol, de luz, de sal”. Partindo desse imaginário poético, o eu-lírico (re)constrói, ritualisticamente, o itinerário da busca existencial humana. Chegar à ilha, para o náufrago, é retornar ao útero materno, buscando o aconchego da terra mãe; é o éden recuperado, coberto de relvas, rosas e frutos maduros. É, enfim, o mergulhar no líquido amniótico da água em que foi gerado. Velejo pelo mar e chego à Ilha, no meu barco de sonho e de desejo, carrego na face o céu distante, o céu que trago em símbolos nos olhos.
Ao pisar o seu chão de relva e rosas, onde frutos maduros se opulentam, sob as mornas auroras insulares, sinto um mundo que é meu, nas minhas mãos. Podemos até representar essa imagem mítica da Ilha como um vasto oceano – símbolo do inconsciente – no qual emerge a pequena ilha: o consciente. Assim se justifica o fato de que, embora sendo o livro constituído de 59 sonetos, ele possui um só grande título A Ilha, ficando todos os poemas apenas marcados numericamente. Nessa escolha poética está metaforizada toda a proposta da obra: mergulho no inconsciente numa tentativa de projetar suas imagens ocultas. A busca da identidade, ou seja, o processo de diferenciação psicológica que tem como finalidade o desenvolvimento da personalidade individual se dá no momento em que essas forças antagônicas, inconsciente e ego, terra e água se unem em uma só totalidade, rompendo as dicotomias que impedem a realização do homem como um todo. Isso fez com que o eu-poético buscasse essa ilha de “sonho e desejo” e acreditasse que aqui “seu rosto não se afoga(ria)”. Como jornada para um processo de construção individual, a criação lírica da ilha moliterniana se faz em três momentos: primeiro, sua gênesis, onde o sopro do poeta/criador constrói o seu universo imaginário: “invento a ilha azul no mapa do meu rosto”. A construção e a chegada à Ilha são marcadas pelo encanto do homem que vê nesse encontro a possibilidade de construir a sua alteridade. A Ilha é a imagem do cosmo completa e perfeita, pois que representa um valor sacral concentrado. A noção se aproxima, sob esse aspecto, dos símbolos de templo e santuário, lugar do sagrado, da paz, do encontro com a divindade. É a terra prometida, tal qual a terra do povo hebreu esperada por anos: Me alimento do sal que brota dos seus vales, dos frutos que do solo insular vão nascendo, como as flores também, maduros e seivosos.
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O segundo momento se dá com o confronto entre o náufrago e a força mítica da água que compõe a ilha. Essa luta do indivíduo consigo e com as circunstâncias adversas ao seu processo de individuação constitui o caráter épico desse poema. Esse momento é marcado pelo receio do ego em enfrentar elementos desconhecidos que cobram do sujeito um reconhecimento e uma aceitação que a sua consciência ainda não identifica como elemento da sua própria psique. A água antes pródiga e saciadora de sua necessidades é agora a Mãe-Urubórica, dominadora, que não permite a ruptura do filho, indo ao encontro de sua identidade. A luta se configura e o herói descreve sua imaginada ilha em outro tom: Quando à ilha cheguei, há dois mil anos, Tendo um céu desabado no meu rosto, e um navio partido entre os meus dedos, a flor vermelha abria as suas pétalas. A flor morreu. Rochedos desabaram. E eu, náufrago que sou, de alma aturdida, carrego as suas cinzas nos meus olhos. Jung afirma que não é fácil a jornada da individuação. Projetar, confrontar e introjetar os elementos vários que compõem o universo inconsciente da nossa psique é uma tarefa muito árdua. O eu-lírico projetou nessa ilha imaginária todos os desejos, sonhos e possibilidades e a dificuldade está em moldar todos esses elementos numa totalidade. Daí tantos confrontos a serem enfrentados, como as tempestades do mar bravio, peixes devoradores, a solidão na ilha e o sol causticante. Por isso, agora, “a Ilha é um fogo que me queima o rosto/ e relva incendeia nos caminhos”. Finalmente, após todo esse enfrentamento, o terceiro e último momento são a fase do apaziguamento, quando, vencidas as forças antagônicas e diluída a luta entre o inconsciente e o consciente numa união de opostos complementares, ilha e náufrago se confundem em um desejo mútuo de serem ao mesmo tempo terra e água, sol e lua, flora e fauna, peixe e homem, como nos afirma o eu-poético no último soneto do livro: Os peixes no meu corpo permanecem, E as escamas me cobrem sobre as águas E em escamas de peixe me converto. Assim, podemos perceber que o eu-lírico encontra na água a possibilidade de se ver como o autóctone identificado com a água milenar, herança arquetípica latente, fruto do espaço físico-geográfico – Alagoas –, terra de águas, das lagoas, dos rios, do mar e da(s) ilha(s), elementos da identidade cultural, simbólica e psíquica de Moliterno. Graças a esse imaginário arquetípico presente na cultura caeté a Ilha/água moliterniana se fez verbo e habita ontem, hoje e sempre na criação artística desse poeta que se imortalizou pelo mergulho profundo nas águas da terra que lhe serviu e serve de berço eterno.
Edilma Acioli Bomfim
Quem é Edilma Acioli de Melo Bomfim é natural de Murici-AL, onde nasceu em 13 de maio de 1952. É Doutora em Letras pela Universidade Federal de Alagoas onde durante muitos anos lecionou a disciplina Literatura Alagoana. Preocupada com a escassez de fortuna crítica sobre a obra de alagoanos/as, centra seus estudos e publicações em livros, capítulos de livros, revistas e jornais nessas obras, procurando suprir, de alguma maneira, a grande lacuna da crítica literária em Alagoas. Publicou entre outros: A escritura do desejo: estudo sobre a prosa-poética de Arriete Vilela; Razão mutilada: ficção e loucura em Breno Accioly; A poesia em Alagoas e O conto em Alagoas, em co- autoria com Carlito Lima; Dicionário Mulheres de Alagoas: ontem e hoje, em co-autoria com Enaura Quixabeira; “A poesia em Alagoas: um percurso lírico e histórico”. In: Poesia alagoana hoje, coletânea organizada por Maria Heloisa Melo de Moraes.
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