MATERIAL DIGITAL DE APOIO À PRÁTICA DO PROFESSOR Livro DO Professor
Elaborado por
Andréia Manfrin Alves
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Arco 43, 2021 O encontro da cidade criança com o sertão menino Material digital de apoio à prática do professor 2a. edição, 2021 Direção-geral
Vicente Tortamano Avanso
Arquivo pessoal
Direção editorial Gerência editorial Edição Assistência editorial Apoio editorial Supervisão de artes Editoração eletrônica Supervisão de revisão Revisão Supervisão de iconografia Pesquisa iconográfica Supervisão de controle de processos editoriais
Felipe Ramos Poletti Gilsandro Vieira Sales Paulo Fuzinelli Aline Sá Martins Maria Carolina Rodrigues Andrea Melo Bétula Editorial Elaine Silva Bétula Editorial Léo Burgos Daniel Andrade e Priscila Ferraz Roseli Said
Material elaborado por Andréia Manfrin Alves, bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Didática do ensino de francês pela Sorbonne Université. Trabalha há 15 anos como revisora, preparadora, editora e tradutora de textos, e escreve materiais de apoio para livros de literatura há pelo menos cinco anos. É também atriz, locutora e contadora de histórias e adora envolver toda a sua formação prática e teórica no trabalho com textos em diferentes vertentes. A literatura infantojuvenil é a menina dos seus olhos.
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Sumário Carta ao professor e à professora........................................................................ 4 Propostas de atividades....................................................................................... 6 Pré-leitura................................................................................................................................. 7 Leitura..................................................................................................................................... 10 Pós-leitura............................................................................................................................... 14
Sugestões de conteúdos complementares........................................................ 22
Laerte Silvino
Referências........................................................................................................ 25
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Carta ao professor e à professora
Arco 43
É sabido por professores, educadores, formadores e pesquisadores que a leitura é um instrumento de fundamental importância na formação do estudante, sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando são construídos os alicerces da competência leitora, que permitirão a conquista da gradativa autonomia de leitura conforme as habilidades forem sendo adquiridas e desenvolvidas ao longo dos anos escolares. Todavia, além dessa importância de ordem prática – da leitura como ferramenta em si –, desfrutar da leitura e da leitura literária é, essencialmente, desfrutar da arte em sua essência. É transitar por universos distintos, que podem nos levar para outros ainda mais diversos e cheios de nuances, e que nos fazem crescer como leitores e como indivíduos, tudo através da experiência transformadora da leitura. Ter em mãos literaturas de diferentes gêneros textuais, escritas por diferentes autores, originários de diferentes regiões, culturas ou países, também contribui para essa múltipla formação, pois permite que os leitores tenham acesso a formas e conteúdos distintos entre si, revelando o lado mais essencialmente humano possível da produção literária. Passar da prosa à poesia, do verso ao parágrafo, do local ao universal, do particular ao coletivo, do imagético ao concreto, da experiência empírica ao desejo mais abstrato, tudo pertence ao universo da proficiência leitora. O livro O encontro da cidade criança com o sertão menino, de Marco Haurélio, com ilustrações de Laerte Silvino, é um exemplo de literatura que abarca poesia, rimas, encontros de culturas, relações humanas e reflexões universais a respeito de pertencimento, de ausência e de presença, transportando o leitor para diferentes universos. Por meio de uma escrita ao mesmo tempo cuidadosa e leve, que perpassa regionalismos, marcas de oralidade e coloquialismos, o livro tem como tema principal o mundo natural e social e abarca questões bastante significativas que estão em conexão direta com o público leitor dessa faixa etária, tais como: as relações familiares; a necessidade de mudança de cidade em busca de melhores oportunidades de trabalho; o estranhamento inicial e o posterior convívio com diferentes hábitos e culturas; chegando às consequentes descobertas do novo; ao compartilhamento de experiências; às 4
diferenças entre viver na cidade grande ou no sertão; e à importância das artes (música e literatura) para a formação cultural de um povo. A obra também traz referências externas à narrativa, como nomes representativos da literatura de cordel e dos repentes, a menção à festa de Santos Reis e à lapinha, a figura de João Grilo, as brincadeiras regionais como “boca de forno” etc. Escrita em sextilhas septissílabas (característica comum da literatura de cordel) e com rimas no segundo, quarto e sexto versos de todas as estrofes, o cordel de Marco Haurélio propõe uma intertextualidade com outros cordéis, característica típica desse tipo de literatura, que usa outros textos para contar e recontar histórias e coloca grande importância na repetição de textos que já existem. Além disso, o texto tem uma sensibilidade que atrai o leitor para o universo da história, pois é fácil se reconhecer em uma das personagens, com suas hesitações iniciais em relação ao que é diferente, a curiosidade característica do universo infantil e a importância de mergulhar no mundo de outrem de forma gradativa, com cuidado e delicadeza, mas sem deixar que as diferenças virem barreiras. Tais diferenças servem na verdade como pontes para realidades diferentes e, por isso, são interessantes e instigantes. As ilustrações de Laerte Silvino constroem, com a narrativa, um vasto repertório de possibilidades de leitura, recorrendo, mais uma vez – e de forma sensível e inteligente –, à proposta da xilogravura, forma clássica que é característica fundamental dos folhetos de cordel e que, nesse livro, foi adaptada com maestria pelo ilustrador, que fez uso de recursos digitais para emular o método de produção original desse tipo de arte. Cores, traços e formas transportam o leitor para dentro de um varal de folhetos e o convidam a viajar pelas histórias contadas por meio das imagens. Por todas essas razões, e por tantas outras que você poderá descobrir durante sua leitura, ler O encontro da cidade criança com o sertão menino é falar de encontros plurais: encontro entre os primos Zé Silva e Joãozinho, encontro entre cidade e sertão, encontro entre mãe e filho e avó e netos encontro entre autor e ilustrador, encontro entre leitor e texto, leitor e imagens, leitor e repentistas, leitor e cordelistas e até entre leitores. Ler esse livro é desfrutar da literatura. Por isso, convido você, professor e professora, a explorar essa obra em sala de aula. Boa leitura! Andréia Manfrin Alves
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Propostas de atividades
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As atividades propostas a seguir podem e devem ser ampliadas ou adaptadas de acordo com as características da turma e com seus objetivos pedagógicos. Elas também podem servir como ponte para outras temáticas que surjam durante o desenrolar das aulas e das parcerias que forem feitas com outras disciplinas. Antes de planejar e encaminhar as atividades propostas neste material, se possível, mergulhe nas temáticas e nas imagens do livro, assista aos filmes sugeridos, ouça as músicas, veja as demais indicações que constam na seção Sugestões de conteúdos complementares e faça pesquisas sempre que considerar necessário expandir ou aprofundar algum dos conteúdos. Finalmente, considere que as propostas aqui descritas buscam abarcar uma das competências específicas da área de linguagens, proposta pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p. 65), que considera fundamental “desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais”. Por esse motivo, as atividades também estão organizadas em três etapas: Pré-leitura, Leitura e Pós-leitura. Lembre-se de que são apenas dicas e sugestões de como o livro O encontro da cidade criança com o sertão menino pode ser apresentado e trabalhado em sala de aula. Cabe a você, professor, analisar e avaliar as propostas, o grupo de estudantes e a instituição educativa, adaptando as atividades conforme a necessidade.
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Pré-leitura As atividades de pré-leitura têm o objetivo de criar um ambiente significativo, que acolha o grupo e contribua para a construção do sentido da obra que será lida. Contextualizar a obra e tudo o que envolve sua produção facilitará e dará mais sentido a tudo que será lido e explorado.
O cordel e a xilogravura O livro O encontro da cidade criança com o sertão menino convida o leitor a adentrar no universo da literatura de cordel, por meio da história de Zé Silva e Joãozinho, que vem acompanhada de ilustrações que complementam e ampliam os sentidos do texto. Por isso, fazer uma exploração prévia da literatura de cordel enquanto manifestação artística, cultural e literária irá contribuir para que os estudantes aproveitem melhor a experiência de leitura da obra. É possível seguir uma sequência gradativa, iniciando com informações gerais sobre o gênero textual até chegar à exploração de exemplos reais e representativos dessa literatura tão rica e diversa, a fim de preparar a turma para a leitura da obra e ampliar sua compreensão a respeito do cordel. Comece fazendo perguntas abertas como: Vocês conhecem a literatura de cordel? Sabem a origem desse nome? Imaginam em que região do país ela se tornou mais popular? Conhecem a técnica de pintura chamada xilogravura? Já viram alguma? Têm ideia de como ela é feita? Conforme as respostas, você poderá determinar quais conhecimentos prévios eles têm sobre o gênero textual. Proponha, então, que os estudantes pesquisem informações sobre a literatura de cordel, confirmando as respostas que eles deram na sondagem inicial ou encontrando respostas para as perguntas que eles não souberam responder. Essa pesquisa pode ser feita em livros da biblioteca, em sites confiáveis da internet (como o site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, disponível em: www.ablc.com.br. Acesso em: 21 ago. 2021), entrevistando pessoas que têm algum contato com esse tipo de literatura etc. Traga para a sala de aula alguns folhetos de cordel para que a turma possa explorá-los detalhadamente. Deixe-os livres para folhear o material e chame a atenção deles para a estrutura dos textos, as características das ilustrações, os nomes dos autores, as cores das capas dos folhetos, o formato. Se achar pertinente, sugira que eles façam uma pesquisa também a respeito dos autores dos textos lidos, encontrando informações sobre o estado e a cidade onde nasceram, quais são suas influências artísticas e literárias, 7
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que características são consideradas mais marcantes em seus textos, se eles exercem outras profissões paralelas etc. Após a pesquisa sobre cordel e os folhetos, deixe que os estudantes escolham um ou dois desses folhetos para serem lidos coletivamente em voz alta. A leitura pode ser feita por você ou por um ou mais estudantes. Em seguida, faça perguntas sobre as características gerais do texto: Ele foi escrito em verso ou em prosa? Ele usa rimas? O título revela o tema do folheto? A linguagem é fácil ou difícil? Por quê? É possível associar as ilustrações a determinadas passagens do texto? Preferem quando as ilustrações são feitas na cor preta ou com cores? Aproveite para explicar que o preto é mais comum em xilografias, mas que cores são usadas em alguns casos. Em uma segunda etapa, apresente aos alunos algumas xilogravuras conhecidas, como as do xilógrafo pernambucano J. Borges (há algumas imagens no Acervo Olho Latino, disponível em: www.olholatino.com.br/acervo/index.php/artistas-do-acervo/ 80-artistas-brasil/244-j-borges. Acesso em: 21 ago. 2021) ou as de pintores como Lasar Segall (disponível em: www.mls.gov.br/acervos/. Acesso em: 21 ago. 2021), Tarsila do Amaral ou algum outro artista xilógrafo que você considere relevante. Depois, selecione uma dessas pinturas e convide os estudantes a falar sobre ela, explorando-a em todas as suas nuances. Pergunte se sabem como funciona a técnica com a qual ela foi feita – retomando a discussão inicial sobre o tema – que materiais eles acham que foram utilizados, se pode haver diferentes técnicas para chegar ao mesmo resultado etc. Se houver possibilidade, apresente a eles a videorreportagem sobre J. Borges intitulada J. Borges – O mestre da xilogravura e do cordel (Disponível em: www.youtube.com/watch?v= QeongNP6wuI. Acesso em: 24 ago. 2021) e/ou o vídeo curto O que é xilogravura?, que conta a história e a origem da técnica (Disponível em: www.youtube.com/watch?v=k42KFO8e3TQ. Acesso em: 24 ago. 2021). Retome as xilogravuras do folheto selecionado e aprofunde a exploração das imagens. Peça que os estudantes as descrevam, tentem identificar o que elas representam e até as impressões que elas transmitem. Esse tipo de atividade contribui para a sensibilização do olhar para imagens artísticas de um modo geral. 8
Ao final, peça que cada estudante selecione uma das ilustrações dos folhetos trazidos para a sala de aula e crie uma história para a figura. Podem ser incluídas informações como nome, idade, nacionalidade, local de nascimento, profissão, além do que está ocorrendo naquele momento. Essa atividade pode ser feita por escrito, de forma individual, ou até oral, de forma coletiva.
O objeto livro Chegou o momento de apresentar o livro O encontro da cidade criança com o sertão menino à turma. Comece pela capa. Pergunte aos estudantes se eles identificam semelhanças entre ela e os livretos que exploraram anteriormente. Deixe-os livres para falar sobre as cores, o estilo das ilustrações, os traços, a provável técnica adotada pelo ilustrador etc. Então, explore mais a fundo os elementos presentes na ilustração: Quem seriam as duas personagens retratadas? Qual é a relação entre elas? O que elas têm em comum e que diferenças são possíveis estabelecer por meio da observação de suas roupas, por exemplo? Além dos dois meninos, que outros elementos fazem parte da ilustração e o que eles podem significar dentro do contexto? Em seguida, leia o título do livro. Chame a atenção deles para os termos “cidade criança” e “sertão menino”. Que elementos da ilustração podem fazer parte do sertão? E quais são característicos de uma cidade urbana? Na sequência, proponha que eles folheiem o livro da forma como quiserem, sem se preocupar, nesse momento, com a leitura do texto. Oriente-os para que observem as ilustrações em página dupla, a sequência que as imagens sugerem e a organização do texto. Também, pergunte quem eles acham que são as pessoas das ilustrações, se há elementos parecidos com os dos folhetos que eles viram anteriormente etc. É importante valorizar o ponto de vista dos alunos, sempre fazendo as mediações necessárias. Uma vez finalizada essa exploração, pergunte que história eles acham que o livro vai contar, associando a sequência de imagens com o título da obra. Deixe-os livres para criar suas hipóteses e anote as principais no quadro, para que elas possam ser retomadas no final da leitura do livro, a fim de verificar se elas se confirmaram ou não. O objetivo central dessa proposta não é que os estudantes sejam capazes de prever o que será contado pela história mas que exercitem, mais uma vez, a habilidade de observação das imagens e das narrativas que elas podem construir, reforçando a importância que as ilustrações de um livro têm e como elas podem ir além do mero retrato fiel da narrativa textual, permitindo que sejam feitas novas leituras. 9
Mediar conversas, lançar perguntas e convidá-los a ser propositivos contribui para que desenvolvam um olhar aguçado, crítico e contextualizado das obras literárias com as quais têm contato. Uma leitura nunca é uma simples leitura, e uma obra literária nunca se esgota em seu registro imagético e textual. Há sempre referências e influências externas que contribuem na produção de um autor, de um gênero textual, de um estilo literário. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF15LP01, EF15LP02, EF15LP04, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11,
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EF15LP13, EF15LP15 e EF15LP18.
Leitura Como descreve o educador e filósofo brasileiro Paulo Freire: A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele [...]. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente. (FREIRE, 1981, p. 22).
Desse modo, se considerarmos a leitura em seu sentido mais amplo, podemos partir da ideia de que toda atividade de leitura envolve a percepção individual, que é construída com base nas experiências que foram acumuladas ao longo da trajetória de cada um, dentro e fora da sala de aula. Por isso, estruturar o repertório com os estudantes, em sala de aula, é fundamental para que essa prática leitora seja cada vez mais significativa e completa. As atividades propostas a seguir buscam integrar as práticas leitoras em diferentes conceitos, para que a experiência com o objeto livro seja prazerosa e profícua.
O início, o fim e os meios Ao iniciar as propostas de leitura do livro, é importante levar em consideração que ela deve ser conduzida de forma participativa e atraente, para que os alunos se sintam instigados pela obra, pelo ritmo do texto, pelo imagético criado através de cadência e rimas, pelo conteúdo da narrativa e pelas ilustrações. Esses critérios, inclusive, estão em 10
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sintonia com o que é proposto pela BNCC para os anos iniciais do Ensino Fundamental do componente Língua Portuguesa, que, ao tratar da perspectiva enunciativo-discursiva, considera-a centralidade do texto enquanto unidade de trabalho, relacionando-o ao contexto de produção e levando em conta o desenvolvimento de habilidades e sua relação com o uso significativo da linguagem nas atividades de leitura, escuta de produção de textos (BRASIL, 2018, p. 65). Mais uma vez, o protagonismo do leitor é colocado em primeiro plano, e é desse princípio que partimos para propor as atividades a seguir. A primeira leitura do livro pode ser feita por você, para que a oralidade e a musicalidade característica do texto, tanto em sua composição como na forma tradicional de se compartilhar a leitura desse gênero textual, possam ser aproveitadas da melhor maneira possível. Prepare-se previamente para realizar uma leitura ritmada, enfatizando as rimas e dando especial atenção às imagens que o texto sugere, bem como aos diálogos nele presentes. Nesse primeiro momento, convide os alunos a apenas ouvir a história, sem acompanhar a leitura do texto no livro. No final, faça perguntas para confirmar o que eles entenderam: Como se chamam os personagens? Onde eles vivem? Quantos anos têm? Como se encontraram? Qual a relação de parentesco entre eles? O que cada um mais gosta de fazer? Quais são as brincadeiras preferidas de cada um? Em que época do ano o filho de dona Sinhana foi visitá-la com sua família? Que festas acontecem nessa época? Que cordelistas e repentistas dona Sinhana conhece? Que profissão cada um dos meninos escolheu seguir? Onde decidiram morar depois que ficaram adultos? Você pode, obviamente, adaptar ou acrescentar perguntas de acordo com o perfil da turma. Converse também sobre o formato do texto, abordando os tópicos que foram vistos nos cordéis que você leu com eles anteriormente, tais como: rima, ritmo, conteúdo da história, organização do texto em versos etc. Proponha uma segunda leitura, dessa vez com a participação dos estudantes. Selecione um leitor para cada página dupla e faça pausas ao longo da leitura conversando com os estudantes sobre as impressões deles a respeito do trecho lido e aproveitando para esclarecer possíveis dúvidas que eles tenham sobre o vocabulário. Essa atividade pode contribuir para que eles melhorem sua relação com a leitura em 11
voz alta, para que aprendam a respeitar o ritmo e as rimas do texto e para que exercitem a leitura coletiva, que traz experiências diferentes da leitura individual e silenciosa. Se achar interessante, você pode anotar no quadro as palavras que os alunos sinalizarem e sugerir que eles façam uma pesquisa sobre o significado delas. Depois você pode retornar ao texto e contextualizar a palavra com o uso específico que foi feito dela na narrativa. Esse tipo de proposta contribui para que os estudantes compreendam de forma prática como devem fazer uso do dicionário. É importante que eles percebam que os dicionários costumam oferecer todas as definições e todos os usos possíveis de um termo, mas que seu significado só será definido por meio do contexto em que esse termo foi empregado. Por exemplo, a palavra agregado (página 12 do livro), de acordo com o dicionário Houaiss (Disponível em: www.houaiss.uol.com.br. Acesso em: 11 nov. 2021), pode significar: 1. que está junto ou anexo; reunido/ 2. qualquer conjunto, reunião, aglomerado/ 3. aquele que convive com uma família, como se dela fizesse parte, mesmo não sendo parente/ 4. o que presta serviços na casa de uma família; criado, serviçal [...].
Nem todas essas definições se encaixam no contexto usado no livro: “Lá, meninos e meninas / De vizinhos e agregados, / Que, logo depois da escola, / Iam despreocupados / Brincar de ‘boca de forno’ / Nos terreiros, nos cercados.” (p. 12). Por isso, é importante que essa atividade seja mediada por você, para que os alunos exercitem esse olhar aguçado em relação à compreensão fina das palavras que não conhecem. Caso você ainda não tenha falado sobre a figura do repentista durante as atividades de pré-leitura, aproveite a passagem do texto nas páginas 20 a 22 para perguntar aos estudantes sobre esse perfil de cantor. Eles sabem o que são repentes? Imaginam como eles são compostos? Conhecem algum repentista famoso? Sabem a diferença entre um cordelista e um repentista? Entendem como funciona a dinâmica de “desafio” dos repentistas? Nesse momento, não é necessário aprofundar muito a questão, apenas sondar o conhecimento dos alunos sobre o assunto para mais adiante desenvolver uma atividade detalhada sobre esse tema. Aproveite essa segunda leitura para afinar a compreensão dos alunos a respeito do texto e para convidá-los a manifestar livremente suas opiniões a respeito da história, além de fazer um paralelo com suas próprias vivências. Faça algumas perguntas: Vocês têm parentes que vivem em cidades diferentes das de vocês? Se sim, já foram visitá-los alguma vez? Como foi a experiência? Do que mais gostaram e o que acharam mais peculiar? Vocês costumam manter contato com primos distantes? Como ocorre esse contato? Há alguma coisa que não existe em sua cidade e da qual você sente falta ou 12
gostaria que existisse? As pessoas mais velhas de sua família costumam contar histórias? Quais são as suas preferidas? Você pode optar por uma terceira leitura, dessa vez mais dinâmica. Peça para que cada estudante prepare um trecho da narrativa, respeitando a organização dos versos, obedecendo o ritmo e as rimas e prestando atenção à pronúncia correta das palavras. Neste momento, você pode envolver a família, convidando o estudante a treinar com familiares ou responsáveis antes de apresentar o texto em sala de aula. Em dia combinado, organize a leitura de modo que o texto seja lido ou declamado pelos estudantes sem grandes intervalos. Essa atividade também contribui com o desenvolvimento da leitura em voz alta e da literacia familiar. Realizar diferentes dinâmicas de leitura permite ao leitor entender melhor as nuances de um texto, se apropriando de outras imagens, interpretações e entendimentos e tornando a compreensão da obra cada vez mais significativa. Diversificar essas propostas é igualmente importante, porque através da leitura silenciosa, compartilhada e de escuta, o leitor experiencia o texto de formas distintas. Finalize as atividades de leitura explorando a seção Vamos falar sobre este livro?, ao final do livro do estudante. Esse texto traz informações sobre literatura de cordel, biografias do autor e do ilustrador e outras informações interessantes sobre a obra. Aproveite esse texto para estabelecer paralelos entre essas informações e as que foram levantadas pela turma nas atividades de pré-leitura. Por exemplo, eles sabem explicar agora o que são “sextilhas septissílabas”? (estrofes de seis versos, com cada verso contendo sete sílabas). Se achar interessante, retorne ao próprio texto e peça que eles separem versos e sílabas para comprovar essa organização. Faça também a releitura em voz alta de algum verso, contando as sílabas poéticas com a mão, e demonstrando assim como esse recurso imprime ritmo ao texto. Exemplo (página 18 do livro):
Como a divisão das sílabas poéticas é diferente da divisão silábica das palavras, você pode optar ou não por explorar esse 13
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“pe/le/jo_e/não/me_a/cos/tu– na/ca/pi/tal/da/na/ção tu/do_a/qui/é/di/fe/ren– das/coi/sas/do/meu/ser/tão lá/ti/ram/lei/te/de/va– a/qui/é/no/ca/mi/nhão.”.
assunto mais a fundo com os estudantes, de acordo com seu objetivo pedagógico, mas seria interessante propor que eles façam a escansão de um ou dois versos do livro, em voz alta, para que percebam essa relação com a sonoridade, e depois façam a divisão silábica das palavras do mesmo verso, a fim de verificar se as duas contagens sempre geram resultados iguais (o verso “pelejo e não me acostumo”, por exemplo, tem sete sílabas poéticas, mas tem dez sílabas ao todo). O contato diversificado do estudante com a obra, e tudo que ela pode oferecer, incentiva a formação de leitores proficientes, críticos e envolvidos. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP01, EF35LP03, EF35LP04, EF35LP05, EF35LP21, EF35LP23, EF35LP27, EF35LP31, EF15LP01, EF15LP03, EF15LP04, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP13, EF15LP15,
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EF15LP16 e EF15LP18.
Pós-leitura A leitura literária envolve o trabalho da obra em sua totalidade, indo além do texto em si para explorar as ilustrações que o acompanham, as informações trazidas por ele e as temáticas exploradas através dele. Por meio desse contato amplo, o estudante pode ampliar seus conhecimentos não somente a respeito da própria história, mas de tudo o que pode ser descoberto para além dela. Por isso mesmo é importante desenvolver propostas condizentes com as características específicas da obra que está sendo explorada. O livro O encontro da cidade criança com o sertão menino, traz uma narrativa rica em intertextualidade, elementos culturais e regionais e muitas possibilidades para trabalhar literatura de cordel e toda a oralidade e a coloquialidade inerentes a esse tipo de texto em sala de aula. A professora de antropologia Julie Cavignac melhor explica a riqueza desse tipo de texto, que é “uma versão escrita de um texto oral e um discurso do poeta (retomado por um leitor) sobre a sua realidade” (CAVIGNAC, 2015, p. 87). Com base nessas considerações, as propostas a seguir pretendem explorar os vários aspectos e temáticas possíveis a partir da obra de Marco Haurélio. Se achar adequado, associe algumas das atividades a seguir aos componentes curriculares Arte e Geografia. 14
Mas que história é essa? Considerando o formato em verso e as possíveis dificuldades que esse formato pode trazer para o entendimento narrativo do estudante, proponha uma atividade prática de reconto da história, de forma lúdica e coletiva. Peça para eles formarem uma roda, todos de pé, e convide um dos alunos para começar a contar a história do início. Ele deve começar com uma frase e, em seguida, apontar para um colega, que deve continuar, e assim por diante, até que a história tenha sido contada do início ao fim. Combine previamente com a turma que ninguém deve ser interrompido ou corrigido durante a atividade e informe que no final eles terão um momento reservado para apontar o que ficou faltando ou as possíveis confusões que tenham sido cometidas, sem, necessariamente, apontar para o colega que se equivocou. Ajude-os a identificar esses elementos que faltaram ou não estavam corretos e recomece a atividade, convidando outro aluno a começar, para que não seja seguida a mesma ordem da primeira rodada. Dessa vez, a dinâmica deve ser semelhante e, quando a história terminar, converse com eles sobre a evolução que houve entre o primeiro e o segundo momento. Que versão da história ficou mais completa? O ritmo de contação da história ficou mais dinâmico e interessante ou mais lento? De qual das duas versões eles mais gostaram? Se achar pertinente, faça um paralelo entre essa atividade e a atividade de um escritor de literatura ou de qualquer escritor que se proponha a produzir algo: quanto mais vezes ele revisitar o texto, quanto mais atento estiver aos detalhes, melhor será o resultado final de seu trabalho. Lembre-se de que essa atividade também contribui para que os alunos percebam, de modo prático, que uma das características centrais da literatura de cordel é que as histórias costumam ter começo, meio e fim. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Arte e Língua Portuguesa: EF15AR25, EF35LP18, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP15 e EF15LP19.
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Universo cidade e universo sertão As histórias paralelas dos primos Zé Silva e João (ou Joãozinho) trazem elementos importantes a respeito das diferenças cotidianas que podem existir na vida de quem mora em uma grande metrópole e de quem vive em uma cidade do interior. Partindo dessa informação, e em parceria com a disciplina 15
de Geografia, convide os estudantes a fazer uma lista dessas diferenças registradas no livro, indicando brincadeiras, hábitos alimentares, relações com as tecnologias e com o espaço físico da cidade. Converse com eles a respeito dessas diferenças, pergunte que vantagens e desvantagens eles acham que existem em cada estilo de vida e qual dos dois estilos eles preferem. Essa proposta não tem o objetivo de levá-los a considerar um lugar melhor ou pior do que o outro, mas de constatar que essas diferenças existem e mudam a relação das pessoas com o ritmo de vida. Em seguida, sugira a comparação dos perfis dos dois personagens com a experiência individual dos próprios estudantes. Pergunte com que perfil eles mais se identificam, que atividades feitas por eles se assemelham às de João ou às de Zé Silva, se eles preferem jogos eletrônicos ou brincadeiras na rua com os amigos etc. Você também pode organizar a turma em dois grandes grupos e orientar os alunos para que pesquisem a respeito dos estados em que vive cada um dos personagens: São Paulo e Alagoas. Estabeleça previamente que informações os grupos deverão pesquisar: região do país, capital, população, número de cidades, tipo de vegetação, clima predominante, características culinárias, artistas conhecidos, escritores famosos etc. Para essa pesquisa, os alunos podem ter acesso a atlas geográficos, sites do governo de cada estado, livros didáticos de geografia etc. Finalizada essa etapa, os dois grupos podem organizar uma apresentação das informações encontradas para a outra metade da turma, trazendo vídeos, fotografias e outros suportes que acharem adequados à apresentação. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Arte, Geografia e Língua Portuguesa: EF15AR25, EF02GE04, EF03GE01, EF35LP18, EF35LP20, EF15LP03, EF15LP09 e EF15LP10.
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Como os estudantes já tiveram contato com diferentes textos de literatura de cordel, seguir para a etapa de produção de um texto nesse formato ganha mais significado e pode trazer resultados bastante interessantes. Em um primeiro momento, retome com a turma as principais características da literatura de cordel: texto em versos (que podem ser sextilhas septissílabas, a exemplo do livro), linguagem informal, rimas, marcas de oralidade, temáticas regionais com abordagem de questões sociais, políticas e culturais, história com começo, meio e fim etc. Em seguida, faça o levantamento de temas que eles gostariam de abordar em seus escritos e, com eles, chegue a uma proposta central. A produção do texto pode ser realizada individualmente ou em duplas, conforme o perfil dos estudantes e o domínio da escrita que eles já tiverem. Oriente-os no planejamento de seus textos: Como o tema central será abordado? Haverá personagens na história ou ela será contada somente pelo narrador? Em caso de personagens, as falas delas serão escritas em discurso direto ou indireto? (esta pergunta pode ser descartada caso esse conceito ainda não tenha sido trabalhado com a turma). Em que espaço geográfico a história acontece? Oriente-os para que considerem o fato de que as histórias de cordel têm começo, meio e fim, e que, por isso, eles precisam levar os acontecimentos em consideração, a fim de elaborar uma história interessante para o leitor. Depois, eles podem preparar o rascunho do texto, registrando as principais ideias para, posteriormente, pensar na estrutura do texto no formato de cordel. Eles podem recorrer a sites e manuais de rima para consultar palavras que podem ser usadas para rimar. Alguns sites interessantes para fazer essa busca são: o Rhymit (Disponível em: www.rhymit.com/pt. Acesso em: 24 ago. 2021) e o Banco de Rimas (Disponível em: https://bancoderimas.com/. Acesso em: 24 ago. 2021). É importante que você faça a mediação, a fim de que eles compreendam que as palavras selecionadas, além de rimar, devem dar sentido à história. Aproveite para retornar ao texto do livro, selecione uma dupla de páginas e peça a eles que circulem todas as palavras que rimam no final de cada verso de uma mesma estrofe. Depois, 17
Laerte Silvino
De textos verbais e não verbais
pergunte se percebem uma recorrência na ordem dessas palavras e veja se entenderam que são sempre os mesmos versos (o segundo, o quarto e o sexto) que rimam entre si. Isso irá contribuir para eles entenderem que não são absolutamente todos os versos que precisam rimar, e que a alternância dessas rimas ajuda a dar ritmo ao texto. Finalizado o rascunho, você pode sugerir que eles troquem o texto com um colega (ou com outra dupla) para que haja uma rodada de sugestões de aspectos que podem ser melhorados no texto do colega. É imperativo que haja sempre a mediação do professor, para evitar qualquer tipo de julgamento e garantir que essa troca seja positiva e produtiva. Por fim, chegou o momento de finalizar o texto, fazendo uma leitura da história completa para garantir que todas as características importantes da literatura de cordel tenham sido adotadas nas produções e para fazer possíveis correções de gramática e ortografia que tenham escapado durante as fases iniciais de elaboração do texto. Em uma segunda etapa, é possível trabalhar em conjunto com a disciplina de Arte para realizar uma atividade com xilogravuras para ilustrar os textos produzidos anteriormente. Há diferentes técnicas que podem ser adaptadas para esse trabalho em sala de aula e que podem ser alternativas simples ao uso da madeira, como as bandejas de isopor, legumes secos, papelão etc. Há diversos tutoriais na internet que podem auxiliá-los nessa atividade. Alguns exemplos: Papelogravura (gravura com papelão). Disponível em: www.youtube.com/ •• watch?v=gtQvzFs0Zeo. Acesso em: 25 ago. 2021; Isogravura. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=_KF84Y2F3vk. Acesso em: •• 25 ago. 2021; Xilogravura com batata. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=KYG-37ijmNI. •• Acesso em: 25 ago. 2021. Para criar a ilustração, retome com os alunos todas as xilogravuras que eles conheceram desde o início do projeto. Peça a eles que pensem em imagens que façam sentido com o texto que escreveram, mas que tragam também novas possibilidade de leitura. Use algumas páginas do livro para exemplificar essa sugestão. As páginas 12 e 13, por exemplo, descrevem o momento em que Zé Silva está brincando com os amigos e o primo João está isolado, apenas observando a brincadeira. As imagens retratam não só os dois primos mas também os amigos de Zé Silva, que não são descritos detalhadamente pelo texto, além de um cachorro que está participando da brincadeira mas que também não foi mencionado. Isso significa que elementos que podem enriquecer a cena, ainda que não tenham sido descritos no texto, também podem fazer parte da imagem. 18
Finalizadas as ilustrações e revisados os textos, monte, com os estudantes, os folhetos de cordel. Lembre-os de escolher um título para suas histórias e, novamente, use os materiais explorados durante as atividades anteriores para servir de exemplo. As produções podem ser expostas em um varal para pendurar os folhetos. Ele pode ser montado dentro da sala de aula, no corredor das salas de aula, para que as outras turmas tenham acesso às produções, ou ainda na biblioteca da escola. Os alunos podem levar suas produções para casa para ler com os familiares ou responsáveis e assim incentivar também o hábito da leitura no ambiente familiar. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Arte e Língua Portuguesa: EF15AR04, EF15AR05, EF15AR06, EF35LP07, EF35LP20, EF35LP25, EF35LP26, EF35LP30, EF15LP05, EF15LP06, EF15LP07 e EF15LP15.
O trabalho com rimas, produção de textos e criatividade pode extrapolar a escrita e ir além do cordel. Faça um levantamento prévio com os estudantes de tipos de textos com rimas que eles conhecem. Pergunte quais são citados no livro (repente e rap), se conhecem exemplos de artistas de ambos os estilos, se têm o hábito de ouvi-los, se saberiam elencar as diferenças e semelhanças entre eles (ambos são cantados; costumam rimar; abordam temáticas sociais; o repente é improvisado, mas o rap não necessariamente; o repente pode ser composto por dois músicos que se desafiam no improviso e o rap pode ter um ou mais compositores etc.). Com base nas respostas dessa conversa inicial, convide os estudantes a trazer para a sala de aula exemplos de repentes e de raps que eles conheçam ou que tenham pesquisado. Oriente-os nessa pesquisa, para que eles também busquem informações a respeito do autor dos textos. Em um dia previamente combinado, promova uma roda de apresentação dos textos pesquisados e, se possível, permita que os estudantes reproduzam os respectivos áudios. Você também pode preparar um material de apoio, com exemplos de músicas de repentistas e rappers consagrados. Alguns exemplos de repentistas: Chica Barrosa, Inácio da Catingueira, Mocinha de Passira, Romano do Teixeira, Geraldo Amâncio Pereira, José Camelo, Manoel Pereira Sobrinho, Leandro Gomes de Barros (mencionados pelo texto), além de João Paraibano, Chico de Assis, João Santana, Raullino Silva,
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Cidade e sertão rimam com...
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E se a gente brincasse? Uma forma muito natural de crianças explorarem o mundo é por meio de brincadeiras coletivas. Isso, inclusive, é o que faz o personagem do livro começar a se interessar pelo universo do seu primo Zé Silva. Sua curiosidade é aguçada pela brincadeira “boca de forno”, mas ele se acanha e não cede à vontade de se juntar ao grupo. Que tal propor essa brincadeira à turma? Pergunte a eles se a conhecem (com esse nome ou com outro, já que os nomes das brincadeiras podem variar de uma região para a outra) e se sabem descrever todas as regras. Com os estudantes, escolha o espaço da escola onde ela será realizada: na sala de aula, no pátio, na quadra, em uma praça próxima da escola. Ainda sobre as regras, é interessante conversar a respeito delas e pedir para que eles as sistematizem da melhor forma, para que todos entendam como a brincadeira funciona e, assim, possam participar dela em condições iguais. Proponha também que eles adaptem o “castigo” para quem não cumprir a tarefa, revezando entre fazer cinco polichinelos, falar três palavras que rimem entre si em quinze segundos etc. Aproveite a ocasião, se achar pertinente, e promova outras brincadeiras desse tipo, que sejam comuns em sua cidade ou região, enfatizando, ao final, a importância que as 20
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curriculares Arte e Língua Portuguesa: EF15AR13, EF35LP11, EF15LP01, EF15LP09 e EF15LP10.
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Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes
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Os Nonatos (Raimundo Nonato e Nonato Costa), Toinha Brito, Minervina Ferreira, Maria Soledade, entre outros. Alguns exemplos de rappers: Mano Brown, Emicida, Criolo, Djonga, BNegão. Mais uma vez, chame a atenção dos estudantes para o fato de que o rap também conta com nomes femininos, como Negra Li, Tássia Reis, Mc Soffia e muitas outras. Após essas atividades, chame a atenção dos alunos para o fato de que os dois estilos são característicos de regiões diferentes do país. Enquanto o repente se popularizou nas regiões Norte e Nordeste, o rap é uma manifestação artística e cultural muito forte na região Sudeste e em grandes cidades. Abra a discussão para que eles possam argumentar se ainda hoje faria sentido pensar em uma divisão para essas artes, uma vez que, graças aos intercâmbios culturais e às tecnologias, que facilitam o acesso a produções de outros estados, essas produções se tornam nacionalmente (e até mundialmente) conhecidas, o que permite que novos formatos surjam dessas misturas e dessas influências.
brincadeiras têm para a socialização das crianças, para a manutenção das culturais locais e também – simplesmente – para a diversão sem uso de telas (televisão, telefone celular ou computador). Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Arte: EF15AR24 e EF15AR25.
Produção de texto em família Aproveitando um dos temas centrais do livro, proponha aos alunos criar, com seus familiares ou responsáveis, uma ou algumas estrofes baseadas na estrutura do cordel que falem sobre sua própria família. Entre as práticas de literacia familiar propostas pelo guia Conta pra mim: guia de literacia familiar (BRASIL, 2019a, p. 55), a escrita é considerada importante e necessária para o desenvolvimento e aprimoramento do aluno. A participação dos pais na aquisição dessa habilidade é apontada como diversa e gradativa (desde a exposição à escrita – por meio de materiais escritos como livros, placas, anúncios etc. – até a prática propriamente dita – que passa pelo desenho, depois pela grafia inventada, por letras, palavras, frases, até chegar à criação de textos cada vez mais complexos). E é na produção de textos que esta proposta visa se basear. Para isso, retome novamente com eles as principais características da literatura de cordel e sugira que apresentem aos familiares ou responsáveis a história do livro e outros cordéis que vocês selecionarem juntos. É importante que essa atividade seja acompanhada por um bilhete explicativo destinado aos familiares, para que eles possam compreender melhor a proposta e quaisquer informações que sejam relevantes para a produção escrita. Você pode combinar previamente com os estudantes como a atividade deve ser entregue, ou deixá-los livres para apresentar o resultado da atividade da forma que acharem mais conveniente: por escrito, gravado com a família, recitado ou declamado, cantado em forma de repente etc. Coloque-se à disposição para esclarecer eventuais dúvidas que possam surgir por parte dos familiares ou responsáveis e estabeleça um prazo razoável para a realização da atividade completa. Essa proposta, além de aproximar a família, de forma significativa, das experiências e aprendizagens dos alunos, também possibilita que eles ressignifiquem sua experiência de leitura do livro, partindo de vivências pessoais para ampliar seu repertório. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP07, EF15LP05, EF15LP09 e EF15LP10.
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Sugestões de conteúdos complementares As atividades elencadas neste material têm o objetivo de auxiliar seu trabalho em sala de aula com a exploração do livro e de todos os conteúdos que ele evoca. Mas, as propostas não se esgotam nessas atividades e você, professor, pode ampliar sua formação por meio de outras leituras, filmes, documentários, músicas e manifestações artísticas e culturais que tenham relação direta ou indireta com os temas propostos pelo livro.
Filme, documentário e vídeo LITERATURA de Cordel. César Machado. [S. l.: s. n.], [s.d.]. 1 vídeo (ca. 8 min). Publicado pelo canal Brasil Escola. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=5dRi5mP8m2o. Acesso em: 26 ago. 2021. A proposta da aula do professor César Machado é falar sobre as principais características da literatura de cordel e trazer exemplos de poetas populares que escrevem textos em forma de “peleja” ou “confronto”, que é uma forma de desafio entre escritores de cordel.
O AUTO da Compadecida. Direção: Guel Arraes. Brasil: Globo Filmes e Lereby Produções, 2000. 1 vídeo (104 min). Esse filme é baseado na peça homônima de Ariano Suassuna e traz elementos de outros textos do autor, como O santo e a porca e Torturas de um coração, além de ter influências de outros autores, como Giovanni Boccaccio (Decamerão). Essa narrativa cinematográfica traz muitos elementos da cultura popular brasileira e um de seus principais personagens é João Grilo, figura pertencente ao universo da literatura de cordel como um de seus personagens-símbolo.
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Globo Filmes
LITERATURA de Cordel. Programa Globo Rural. TV Globo, 2011. 1 vídeo (44 min). Publicado pelo canal Junior Telmo. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=7DosjK6GSUQ. Acesso em: 17 set. 2021. Documentário realizado pela jornalista Helen Martins a respeito da literatura de cordel, que fala sobre a história e os principais expoentes dessa literatura na atualidade, além de apresentar a Academia Brasileira de Literatura de Cordel e falar da xilogravura.
HAURÉLIO, Marco. Antologia do cordel brasileiro. São Paulo: Editora Global, 2012. A antologia, organizada pelo mesmo autor do livro O encontro da cidade criança com o sertão menino, reúne textos escritos por poetas e cordelistas de diferentes gerações, desde o paraibano Leandro Gomes de Barros, até os cordéis escritos por poetas da atualidade, como Arievaldo Viana e Rouxinol do Rinaré, entre outros. As xilogravuras que ilustram a antologia são de autoria de Erivaldo, um dos artistas mais representativos da xilogravura no Brasil. MEDEIROS, Fábio Henrique Nunes; MORAES, Taiza Mara Rauen (orgs.). Contação de histórias: tradição, poéticas e interfaces. São Paulo: Edições Sesc, 2015. Essa coletânea de ensaios sobre contação de histórias apresenta uma série de textos que abordam o tema de diferentes pontos de vista, partindo de culturas distintas e das mais variadas, de experiências da antiguidade, de culturas indígenas de contação de histórias, de narrativas tradicionais e de muitos outros processos que consideram essencial a arte de narrar. Destacam-se, para o tema do livro, os ensaios A compadecida e o romanceiro nordestino, de Ariano Suassuna e Além da escrita: processos narrativos, cordel e transmissão oral no Nordeste, de Julie Cavignac. SILVA, Gonçalo Ferreira. Dicionário brasileiro de literatura de cordel. Rio de Janeiro: Rovelle, 2013. O dicionário organizado pelo presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel registra em detalhes, mas de maneira objetiva, os aspectos que estruturam esse gênero textual e que preservam o estilo que distingue o cordel de outras narrativas.
Sites AMARAL, Amanda Alves do. Literatura de cordel: texto e imagem. Instituto Claro, 2013. Disponível em: https://www.institutoclaro.org.br/educacao/para-ensinar/planos-de-au la/literatura-de-cordel-texto-e-imagem/. Acesso em: 26 ago. 2021. Proposta de aula para o Ensino Fundamental I, que traz sugestões para trabalhar a literatura de cordel em sala de aula. 23
Editora Global
Livros
SUA MÚSICA. Site com canções repentistas. Disponível em: https://www.suamusica. com.br/www.cdsderachadesom.blogspot.c/repentistas-do-nordeste-o-melhor-da-viola. Acesso em: 17 set. 2021. O site Sua Música reúne um acervo on-line de canções de repentistas consagrados, que podem ser ouvidas gratuitamente. XILOGRAVURA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo14335/ xilogravura. Acesso em: 17 set. 2021. Esse verbete da Enciclopédia Itaú Cultural traz a definição do termo xilogravura, além de explicar a origem dessa técnica, no período da Antiguidade no Oriente, passando por todas as transformações que essa arte sofreu ao longo da história e mencionando os principais usos que foram feitos dela por diferentes povos, artistas e profissionais. XILOTECA. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, [s.d.]. Disponível em: http:// www.cnfcp.gov.br/interna.php?ID_Secao=64. Acesso em: 17 set. 2021.
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Acervo digital do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular dedicado às obras dos principais artistas dessa técnica do país. São cerca de mil xilogravuras originais, organizadas por autor, e que trazem informações a respeito da técnica usada na confecção da obra e também uma pequena biografia do respectivo autor.
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Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 17 set. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Conta pra mim: guia de literacia familiar. Brasília, DF: Ministério da Educação; Sealf, 2019a. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/ images/conta-pra-mim/conta-pra-mim-literacia.pdf. Acesso em: 17 set. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Política Nacional de Alfabetização (PNA). Brasília, DF: Ministério da Educação; Sealf, 2019b. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/images/pdf/caderdo_final_ pna.pdf. Acesso em: 17 set. 2021. CAVIGNAC, Julie. Além da escrita: processos narrativos, cordel e transmissão oral no Nordeste. In: MEDEIROS, Fábio Henrique Nunes; MORAES, Taiza Mara Rauen (orgs.). Contação de histórias: tradição, poéticas e interfaces. São Paulo: Edições Sesc, 2015.
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1981.
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