MATERIAL DIGITAL DE APOIO À PRÁTICA DO PROFESSOR
Livro DO r Professo
Elaborado por
Francyane Canesche
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FGV Editora, 2021 Vai viajar, Caracol? - Material digital de apoio à prática do professor 2a edição, 2021
Arquivo pessoal
Revisão Michele Mitie Sudoh Editoração eletrônica Bétula Editorial
Material elaborado por Francyane Canesche, mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e licenciada em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa e Língua Espanhola pela mesma universidade. Atualmente, cursa Pedagogia na Faculdade Estácio de Sá (EaD – Polo Ervália – MG). Desde 2017, leciona a disciplina de Língua Portuguesa na Educação Básica da rede pública e atualmente também elabora conteúdos didáticos.
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Sumário Carta ao professor e à professora........................................................................ 4 Propostas de atividades....................................................................................... 6 Pré-leitura................................................................................................................................. 7 Leitura..................................................................................................................................... 15 Pós-leitura............................................................................................................................... 19
Sugestões de conteúdos complementares........................................................ 25
Luciano Tasso
Referências........................................................................................................ 28
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Carta ao professor e à professora Quando pequenas, as crianças iniciam suas interações sociais descobrindo diferentes formas de se expressar, começando com sons, gestos e evoluindo para imagens e a língua oral, até conseguirem utilizá-la também na escrita. Ao fim desse processo, elas são capazes de utilizar diferentes tipos de linguagem para se comunicar. Quanto mais utilizam as linguagens para compreender, ser compreendidas, mais o mundo delas se expande, ampliando o conhecimento que têm das palavras e da realidade ao redor. Nessa conjuntura, a literatura se insere como terreno fértil, sendo um veículo de expressão que explora as potencialidades da linguagem, por meio da qual as crianças podem romper os limites do tempo e do espaço, conhecendo o outro e a si mesmas no processo. Nada tão completo quanto a literatura para concretizar essa missão! Sua realidade inventada abre portas para o extraordinário, permitindo ao leitor viajar sem sair do lugar, além de atuar como instrumento dialógico de libertação. Na infância, esse contato entre o texto literário e o leitor estimula a criatividade, a curiosidade e a imaginação, essenciais para a formação humana do indivíduo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça esse papel da literatura no âmbito educacional, destacando que as experiências com literatura infantil “propostas pelo educador [...] contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo” (BRASIL, 2018, p. 42). Além disso, aponta que as experiências estéticas e interculturais do indivíduo no seu dia a dia ampliam “a autonomia intelectual, a compreensão de normas e os interesses pela vida social [...] que dizem respeito às relações dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente” (BRASIL, 2018, p. 59), garantindo uma abordagem de letramento literário desde a Educação Infantil. A Política Nacional de Alfabetização (PNA) também traz como norte o conceito de literacia, ou seja, o “conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionados à leitura e à escrita, bem como sua prática produtiva” (BRASIL, 2019b, p. 21), que não só colabora com o processo de alfabetização mas também de formação humana das crianças. Por isso, incentivar o hábito de leitura é tão importante nessa etapa da vida, já que insere a criança em um processo de crescimento e amadurecimento que trabalharão suas relações interpessoais, emocionais e identitárias de forma lúdica e divertida. Atividades associadas ao ato de ler, como a interação verbal, a leitura dialogada e a literacia familiar, potencializam esse processo, valorizando as diferenças e permitindo a análise e, por vezes, a superação das fragilidades individuais. 4
FGV Editora
A obra Vai viajar, caracol?, escrita por Maurício Veneza e ilustrada por Luciano Tasso, é um excelente ponto de partida para uma viagem literária, pois o personagem principal, um caracol simpático que deseja viajar, convida o leitor a explorar um roteiro de lugares, experiências e diversidades por meio da literatura. Os planos do pequeno caracol, ao fim do poema, parecem irrealizáveis para um animal que não consegue andar muito rápido, mas, despretensiosamente, se concretizam para a criança durante a leitura das ilustrações, que trazem todos os destinos que ele queria, mas não conseguiu visitar. Nesse sentido, o livro tem como tema principal diversão e aventura, pois além da viagem que permite que o leitor realize um passeio por diferentes países e continentes, explorando suas culturas, sua fauna, sua flora e suas paisagens, o livro também estimula a imaginação das crianças a partir da união entre texto e imagem. Em um mundo acelerado como o nosso, poder parar para ler e apreciar um sonho é um LUCIANO momento grandioso que toda criança deveria MAURÍCIO TASSO VENEZA poder aproveitar desde os primeiros dias de decidiu viajar vida, dentro e fora do ambiente Caracol escolar. e não se sabe muito bem Nessa perspectiva, insere-se este, mas matepara onde nem como uma coisa é certa: será uma rial, que visa apresentar uma de e tanto acompanhar aventura possibilidade essa história. Vamos? abordagem pedagógica que torne significativa a experiência da criança com o livro Vai viajar, caracol?, promovendo o diálogo entre a realidade da obra e a do pequeno leitor. Para efetivar essa abordagem, propõe-se, ao longo do material, diferentes atividades que têm por finalidade possibilitar a interação com o texto literário, estimular a criatividade e a imaginação do estudante e aumentar a compreensão da obra e do mundo de forma lúdica e divertida. Para explorar essa obra de modo rico e completo, mobiliza-se nas propostas a interação com outros textos literários e com outros componentes curriculares, tanto no que se refere ao trabalho em sala de aula quanto às orientações de literacia familiar. Além disso, trouxemos na seção Sugestões de conteúdos complementares uma lista de materiais para ampliar a sua formação como docente e permitir um precioso diálogo não apenas com essa obra mas também com o mundo da literatura. ilustrações de
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Propostas de atividades A produção literária está intimamente ligada à experiência humana e, talvez por isso, nos aproximemos dela com tanta facilidade, como se ela nos estendesse a mão em momentos difíceis e tornasse o mundo mais compreensível. No diálogo entre autor, texto e leitor, a literatura amplia nossos horizontes, seja no que se refere ao conhecimento de nós mesmos ou da realidade que nos cerca. Segundo o professor e pesquisador Rildo Cosson, a:
É por esse motivo que a literatura precisa fazer parte do dia a dia da criança, já que serve, para além de um espaço de fruição, como agente de formação. Em suas viagens pela literatura, as crianças vão somando vivências, ampliando seu repertório cultural, bem como se constituindo como indivíduos. Funcionando como porta de entrada para vários mundos, o texto literário desperta as potencialidades da criança e auxilia-a em seu amadurecimento, preparando-a para as mais diversas circunstâncias que enfrentará no seu próprio mundo. Na obra Vai viajar, caracol?, esse contato com o outro é estimulado por meio do desejo de viajar e conhecer o diferente, explorando o mundo como espaço cultural, social e linguístico. Ao conhecer as vontades do pequeno caracol, o leitor é convidado a vivenciá-las e desejá-las; assim, sua imaginação e criatividade são estimuladas, tornando o momento divertido e prazeroso. Oportunizar o contato significativo com obras literárias é uma responsabilidade da escola porque, como afirma Cosson (2021), “o letramento literário é uma prática social”. Dessa forma, a criança pode interagir com o texto verbal e não verbal, bem como com o seu mundo e o do outro, aprendendo enquanto se diverte. 6
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[...] experiência literária não só nos permite saber da vida por meio da experiência do outro, como também vivenciar essa experiência. Ou seja, a ficção feita palavra na narrativa e a palavra feita matéria na poesia são processos formativos tanto da linguagem quanto do leitor e do escritor. Uma e outra permitem que se diga o que não sabemos expressar e nos falam de maneira mais precisa o que queremos dizer ao mundo, assim como nos dizer a nós mesmos (COSSON, 2021, p. 17).
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Sendo assim, ao longo desta seção, você encontrará atividades de leitura relacionadas à obra Vai viajar, caracol? divididas em três momentos: Pré-leitura, Leitura e Pós-leitura. Em todas essas etapas, as propostas estão pautadas nas competências e habilidades previstas pela BNCC e pela PNA. O objetivo das atividades é impulsionar o trabalho com o texto literário, fornecendo diferentes possibilidades para a sua abordagem didática. Cabe destacar que as atividades foram moldadas levando em consideração leitores ainda em processo de alfabetização. Por isso, o papel de mediador do professor é tão importante, já que visa garantir a motivação e o estímulo necessários para que a criança se envolva com o texto literário de forma a progredir para a leitura autônoma. Além disso, é relevante ter em mente que as atividades são apenas propostas, que poderão ser adaptadas de acordo com as necessidades da turma e utilizadas como ponto de partida para o desenvolvimento de outras atividades que abordem as temáticas da obra.
Pré-leitura As atividades de pré-leitura visam despertar a curiosidade do estudante para a obra Vai viajar, caracol?, de forma a estimular o uso da imaginação, ativar seus conhecimentos de mundo sobre a temática da obra e instigar uma conexão com o texto literário. Nessa etapa, as perguntas exploratórias são extremamente importantes, mas é preciso também trazer informações relacionadas à obra antes de prosseguir: dados biográficos do autor e do ilustrador, gênero textual e outros detalhes da obra em si. Portanto, não se esqueça de explorar a seção Vamos falar sobre este livro?, disponível no final do livro do estudante. Além disso, é imperativo garantir o envolvimento da família do estudante na execução de algumas atividades, tornando-as mais significativas e estimulando o desenvolvimento socioemocional do indivíduo. Como defende a PNA, a literacia familiar no dia a dia da criança é de extrema importância, antes e até durante o processo de escolarização. Assim, a escola, como espaço privilegiado de formação humana do indivíduo, 7
deve auxiliar os responsáveis pelos estudantes a iniciar ou manter as práticas de literacia familiar, garantindo o contato com o mundo das letras e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Para auxiliá-lo nessa tarefa, ao longo das atividades propostas você encontrará algumas sugestões de como trabalhar com a literacia familiar, as quais também podem ser ampliadas ou modificadas dependendo da realidade de sua turma. É hora de trabalhar o livro Vai viajar, caracol?, de Maurício Veneza. Organize um espaço aconchegante e convidativo para a realização das atividades – possibilitando aos pequenos leitores a imersão no universo literário e na ludicidade inerente à literatura – e mãos à obra!
O personagem principal Para começar nosso percurso pela leitura de Vai viajar, caracol?, vamos conhecer primeiro o personagem principal: um pequeno caracol sonhador. Para isso, utilize um método comum nas práticas de estudo e pesquisa para explorar as características e curiosidades sobre esse molusco: o verbete de enciclopédia. Essa atividade visa preparar o estudante para a compreensão da narrativa da obra, da estrutura corporal desse animal e das características dessa espécie que se locomove com lentidão. Organize previamente a sala de aula para uma roda de conversa inicial. Comece com perguntas exploratórias, por exemplo: Para que vocês acham que serve uma enciclopédia? Já usaram uma alguma vez? Como foi a experiência? E o verbete de enciclopédia, vocês sabem o que é? Para que ele serve? Deixe que exponham seus conhecimentos e suas inferências em relação às perguntas. Incentive a participação de todos enquanto explora o propósito comunicativo desse tipo de texto. Explique aos estudantes que o verbete de enciclopédia tem como objetivo apresentar definições e informações de um determinado assunto, utilizando uma linguagem objetiva e direta que pode ou não ser acompanhada de gráficos, ilustrações e fotografias. Explique que, embora seja possível encontrar enciclopédias on-line, esse tipo de material não surgiu no mundo digital, apenas se aproveitou bem desse espaço devido aos hipertextos. Se julgar interessante, mostre aos estudantes fotografias de enciclopédias impressas ou, caso haja alguma na sua escola, deixe que eles a manuseiem. Agora que as crianças já sabem um pouco sobre esse tipo de texto, é hora de apresentar exemplos para que possam se familiarizar com sua estrutura, linguagem e diagramação. Leve para a sala de aula diferentes verbetes de enciclopédia, tanto digitais quanto impressos, preferencialmente sobre animais, para que os alunos usem como 8
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Andre Mueller/Shutterstock.com
Vaclav Volrab/Shutterstock.com
referência em sua produção. Exponha os verbetes impressos em uma mesa grande e deixe que os estudantes explorem o material. Peça que eles leiam os verbetes e busquem observar como são construídos. Depois, analise, juntamente com eles, as descobertas, estimulando-os com questionamentos, por exemplo: Que tipo de informação esses verbetes trazem? São textos longos ou curtos? Como é a linguagem utilizada? Ela se parece com aquela utilizada nos contos de fadas ou não? Por que ela é diferente? Há imagens em todos os verbetes? Quando elas aparecem, qual é a sua função? Ao finalizar essa exploração do verbete, é hora de instigar a curiosidade dos estudantes sobre o personagem da obra que irão ler. Traga imagens impressas de diferentes espécies de caracol ou projete essas imagens para que os estudantes possam apreciar os vários tipos que existem. Pergunte se já viram um caracol ao vivo ou em desenho e peça que, por meio das imagens e da memória, descrevam esse animal. Por exemplo, ele é pequeno, gosmento e carrega uma concha nas costas. Anote na lousa os diferentes adjetivos sugeridos pela turma. Em seguida, pergunte: Será que só existe um tipo de caracol no mundo? Observando as imagens, é possível responder que não. Peça a eles que observem as características dos caracóis das imagens e busquem encontrar as diferenças e semelhanças entre eles. Dê tempo para que façam as observações e expressem as descobertas. Continue anotando na lousa essas informações. Não será possível listar todos os dados sobre caracóis apenas pela observação. Por isso, guarde as informações e os adjetivos trazidos pelos estudantes e convide-os a fazerem uma lista com o que ainda não sabem sobre os caracóis. Por exemplo: Por que eles carregam uma concha? Quantos anos vivem? etc. Novamente, anote essa lista na lousa. Organize as informações que ainda precisam ser descobertas e convide-os a realizar uma pesquisa sobre elas. Essa pesquisa pode ser feita em casa, com o auxílio dos familiares,
na biblioteca da escola ou em ambas, o que for melhor para o perfil da turma, considerando eventuais dificuldades de acesso à internet. Na aula seguinte, retome as informações inferidas pelos estudantes por meio das imagens apresentadas e peça que compartilhem as descobertas feitas durante a pesquisa. Não é necessário realizar uma apresentação formal, apenas continue a conversa iniciada na aula anterior. No final, relembre o formato do verbete e proponha a criação de um sobre caracóis. Somando a atividade da aula anterior e a pesquisa realizada pelos estudantes, haverá muitas informações sobre caracóis, por isso será necessário selecionar quais podem ser usadas no verbete e quais devem ser retiradas. É importante que sobrem apenas as informações que farão parte do verbete de enciclopédia. Realize a mediação quando necessário. Com as informações reunidas, é hora de iniciar a produção do verbete sobre caracóis, utilizando os modelos que os estudantes já conhecem. É importante que você atue apenas como mediador, deixando a produção a cargo da turma. Direcione-os por meio de perguntas motivadoras como: Vocês acham que esse parágrafo ficou bom ou devemos mudar algo? Que informação deve vir depois dessa que acabamos de colocar? Alguma informação precisa vir primeiro? Está faltando alguma informação nesse parágrafo? Esse momento também é importante para o desenvolvimento das relações interpessoais dos estudantes, que têm a oportunidade de aprender a respeitar os turnos de fala e as opiniões dos colegas, bem como de aprender a trabalhar em equipe e realizar críticas construtivas em prol da melhoria de um texto. Ao finalizar o texto, solicite a cada estudante que realize a leitura silenciosa do verbete de enciclopédia que eles produziram em conjunto e faça sugestões de melhorias, caso necessário. Com essa etapa concretizada, é hora de ilustrar o verbete com desenhos feitos pelos estudantes. A divulgação do resultado final poderá ser feita em um mural nos corredores ou na própria sala de aula, bem como na página virtual da escola, se houver. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP01, EF35LP03, EF35LP09, EF35LP17, EF35LP18, EF35LP20, EF15LP05, EF15LP06, EF15LP07, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11 e EF15LP18.
De verso em verso Atividades que exploram o gênero textual, sua estrutura e suas peculiaridades são extremamente importantes para a formação leitora, já que promovem um “esquema de recepção, uma competência do leitor, confirmada e/ou contestada por todo texto novo 10
num processo dinâmico” (COMPAGNON, 2010, p. 155). Sendo assim, toda vez que o estudante se deparar com um poema, terá um repertório de apreciação e compreensão do gênero, ampliando a sua interação com ele. Ainda segundo o professor francês de literatura, Antoine Compagnon:
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O gênero, como código literário, conjunto de normas, de regras do jogo, informa o leitor sobre a maneira pela qual ele deverá abordar o texto, assegurando dessa forma a sua compreensão (COMPAGNON, 2010, p.155-156).
Por isso, antes de iniciar a leitura de uma obra poética, é extremamente importante que a criança esteja familiarizada com o gênero textual, de forma que possa aproveitar ao máximo a leitura. No caso do poema, reconhecer as rimas em um texto versificado é essencial para que ela consiga perceber a estrutura e o ritmo do poema, bem como sua musicalização. Esta atividade visa desenvolver tal habilidade. Em preparação para a atividade, solicite previamente que as crianças busquem, com o auxílio dos familiares, poemas, parlendas ou quadrinhas que tenham como personagem principal algum animal (assim como a obra Vai viajar, caracol?). Para incentivar a literacia familiar, envie uma carta aos familiares ou responsáveis orientando-os sobre essa atividade e solicitando que leiam junto com a criança o texto encontrado. Caso os estudantes já tenham essa desenvoltura, você pode pedir que eles preparem o texto escolhido para lê-lo em voz alta na sala de aula. Indique, também, que o texto selecionado deve ser providenciado por escrito (copiado no caderno por eles ou impresso), para que os estudantes possam apresentá-lo aos colegas. No dia da entrega do texto, organize um espaço aconchegante para os estudantes se posicionarem em roda, valendo-se de almofadas, tapetes etc., se possível. Comece a conversa questionando-os se têm o costume de ler poemas, parlendas ou quadrinhas e se gostam desse tipo de texto. Deixe que eles se expressem e compartilhem um pouco sobre os textos que já leram, os autores de que gostam, os livros que lhes chamaram a atenção, os momentos em que utilizaram esses gêneros etc. Sempre que necessário, oriente-os sobre a importância de respeitar o turno de fala de cada participante e que devem levantar a mão sempre que desejarem se manifestar. 11
Explique a eles que um poema não tem o mesmo formato que outros textos, como os contos de fadas, por exemplo. Um poema é organizado em versos e estrofes. Cada linha é um verso e cada conjunto de um ou mais versos é uma estrofe. Um poema também pode trazer algo que geralmente não aparece em outros textos: a rima. Uma rima acontece quando o final de duas palavras tem som parecido. Por exemplo: bailarina rima com menina, mas não rima com bolo. O poema também pode ter outros elementos que juntos criam uma sonoridade especial, quase como se estivéssemos escutando uma canção (mas sem a música). Continue explicando que, por causa dessas diferenças, o texto de um poema não pode ser lido da mesma forma que um texto de conto de fadas. Já que o poema tem como objetivo expressar sentimentos ou convidar o leitor a pensar e refletir sobre algum assunto, a leitura precisa ser expressiva, atentando-se ao ritmo e à entonação determinados pelas rimas e pela organização dos versos (a métrica). Você pode iniciar a apresentação dos textos trazidos pelos estudantes declamando um poema, para que eles possam compreender melhor como deverá ser a leitura desse gênero literário. Você pode utilizar o poema “Voz dos animais”, escrito por Francisca Júlia e Júlio César da Silva, disponível no site Conta pra mim, do Ministério da Educação. Você pode encontrar o link do poema no final deste material, na seção Sugestões de conteúdos complementares. Em seguida, dê aos estudantes a liberdade de se voluntariarem para realizar a leitura de seus textos e incentive a participação deles. Caso ainda não tenham dominado a leitura, ela pode ser realizada por você, em voz alta, solicitando aos estudantes que repitam os versos ou as estrofes, conforme a sua preferência, engajando-os no processo. Após essa apresentação, pergunte se a turma recorda de algum trecho dos poemas, quadrinhas e parlendas apresentados. Caso se recordem, é muito provável que eles falem de versos que rimam entre si. Explique aos alunos que isso ocorre porque as rimas consistem em repetições que são registradas mais facilmente pelo nosso cérebro. Para aprofundar o estudo das rimas, escreva na lousa um trecho de outro poema, chamado “O pássaro cativo”, de Olavo Bilac, também disponível no site Conta pra Mim. Em seguida, leia o trecho, garantindo o ritmo e a entonação adequados, para estimular a apreciação poética. Então, convide as crianças a observar atentamente as rimas que marcam o ritmo do poema e peça que elas indiquem quais palavras rimam entre si. Explore também a estrutura do gênero, fazendo os seguintes questionamentos: Essas palavras que vocês apontaram estão na mesma linha ou em linhas diferentes? Elas 12
fazem parte de um grupo de versos ou estão espalhadas ao longo do poema? Vocês se lembram que nome damos a cada linha do poema? E ao grupo de versos? Se o trabalho estiver sendo realizado com leitores em processo, principalmente os do 3o ano, há a possibilidade de ampliar o trabalho com as rimas ao explorar aquelas que ocorrem no interior dos versos, para além das que aparecem apenas no final. Nesse caso, aproveite a segunda estrofe do poema de Bilac, que começa com “Dás-lhe alpiste...” para explorar essa questão. Para abordar as rimas, faça perguntas como estas: Tudo rima com ? Ficar rima com ? Essas rimas estão no final dos versos? Se essas duas rimas estivessem em lugares diferentes, o ritmo do poema seria o mesmo? Peça que os estudantes troquem uma das palavras dos pares (por exemplo, substituírem ficar por viver) e testem as hipóteses levantadas na pergunta anterior. É essencial que nessa etapa da vida escolar eles sejam capazes de criar e testar suas hipóteses, atribuindo autonomia ao processo de ensino e aprendizagem. Para finalizar a atividade, comente com as crianças que a obra que elas irão explorar em seguida, o livro Vai viajar, caracol?, traz um texto escrito em versos e que também contém rimas. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP01, EF35LP21, EF35LP23, EF35LP27, EF35LP28, EF15LP03, EF15LP09, EF15LP10 e EF15LP15.
Um encontro com a obra
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Agora que os estudantes já estão familiarizados com o caracol e com as características do gênero textual poema, é hora de colocá-los em contato com o livro Vai viajar, caracol?, de Maurício Veneza. Inicie a atividade solicitando aos estudantes que peguem cada um o seu livro. Primeiramente, leia ou peça que algum estudante leia o título da obra em voz alta. Questione-os sobre o que esse título sugere, ou seja, sobre o que eles acham que será a obra. Ouça com atenção as hipóteses levantadas e cuide para que todos façam o mesmo, respeitando o momento de fala de cada um. Enriqueça a discussão trazendo questionamentos como: Quem está fazendo essa pergunta? Por que estão perguntando isso ao caracol?
Será que duvidam dele? Qual será a resposta do caracol? Se ele realmente for viajar, para onde vocês acham que ele vai? Você gostaria de conhecer esses lugares? Lembre-se de registrar esses levantamentos para a checagem posterior durante a leitura. Nesse primeiro contato com a obra, a atividade de inferência é de grande valia para o estudante, porque ela permite uma melhor imersão na leitura que será feita posteriormente e estimula a curiosidade nata da criança, garantindo a qualidade da interpretação. Essa é uma das estratégias que o leitor, seja ele iniciante ou em processo, aprende na escola e que lhe servirão durante toda a vida. Dê continuidade ao estudo da capa realizando a leitura do nome do autor e do ilustrador. Pergunte se eles já conhecem outras obras deles, de onde acham que eles são etc. Deixe que se expressem e, depois, fale um pouco sobre ambos. A seção Vamos falar sobre este livro?, disponível no final do livro do estudante, traz fotografias e biografias tanto do autor quanto do ilustrador. Depois dessa conversa, peça aos estudantes que olhem novamente para a capa e explorem também a quarta capa, dando atenção agora à ilustração. Convide-os a descrever as imagens. Amplie as observações com questionamentos como: Qual é a expressão do caracol? Ele parece feliz ou triste? Em que lugar ele estaria agora? O que você acha que esse mapa representa em relação à história? Que lugares você consegue reconhecer por meio das ilustrações no mapa? Estimule o uso da imaginação e criatividade nesse momento e evite corrigir ou interromper as crianças. Use esse momento para registrar as observações delas, para que possam ser reanalisadas após a leitura da obra, checando as hipóteses que se confirmaram e as que não se confirmaram. Continue a conversa perguntando às crianças se elas sabem quais documentos são necessários para viajar. Aprofunde a discussão perguntando: Em toda viagem é necessário o uso de um passaporte? Em que casos ele é utilizado? Que dados aparecem nesse documento? Se for uma viagem de carro, que documentos devemos levar? Você pode viajar sozinho ou acompanhado por qualquer pessoa? Explique-lhes que um passaporte é o documento utilizado em viagens internacionais. Diga que em viagens dentro do nosso país precisamos apenas do nosso Registro Geral (RG), também conhecido como carteira de identidade, ou ainda de outro documento com foto. Com essa atividade, os estudantes também poderão adquirir mais consciência sobre a legislação do país, aprendendo que não podem viajar com pessoas estranhas sem autorização por escrito dos pais ou responsáveis, bem como não podem fazê-lo sem levar sua documentação pessoal. 14
Durante toda a atividade de diálogo, é importante garantir a interação verbal utilizando perguntas diretas e objetivas, mas que, ao mesmo tempo, estimulem a expressão individual. Sendo necessário, amplie o repertório de perguntas aqui proposto. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente
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curricular Língua Portuguesa: EF35LP04, EF15LP02, EF15LP03, EF15LP09, EF15LP11 e EF15LP18.
Leitura Nessa etapa, os estudantes serão convidados a entrar em contato com o texto literário, concretizando a construção de sentidos iniciada na etapa de pré-leitura, na qual eles tiveram a oportunidade de se familiarizar com o gênero e conhecer mais sobre o personagem principal. Dessa forma, as atividades aqui desenvolvidas visam, principalmente, à experienciação estética, ao desenvolvimento da fluência em leitura oral, à compreensão de textos e à aquisição de vocabulário. Segundo a PNA, esses três últimos objetivos são componentes essenciais da alfabetização. As propostas estão organizadas sob a ótica da leitura dialogada, na qual a interação verbal promove não apenas a exploração do texto, mas também o desenvolvimento do indivíduo em diferentes âmbitos, por exemplo, o social e o linguístico. Por meio dela, o ato de ler ganha significado para o estudante e deixa de ser solitário, dinamizando-se. Ler, nessa perspectiva, promove não apenas a aquisição do prazer da leitura, mas também estimula uma participação ativa do estudante.
Senta que lá vem história! Está na hora de começar a leitura. Primeiramente, organize um espaço aconchegante e silencioso para que esse momento seja prazeroso e lúdico. Em seguida, solicite aos estudantes que fiquem com seus livros em mãos para que possam manuseá-lo durante as atividades e, se já tiverem fluência leitora, acompanhar a leitura. Com o ambiente organizado e os estudantes preparados para a leitura, retome as inferências feitas anteriormente, acionando a memória deles ao questioná-los sobre o que já imaginaram que o livro vai abordar. Se necessário, retome os registros feitos por 15
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você para auxiliar na discussão. Para aguçar ainda mais a curiosidade dos estudantes, diga-lhes que darão uma volta ao mundo junto com o caracol e amplie a conversa perguntando-lhes: Por onde vamos passar? O que conheceremos sobre cada lugar? Você acha que haverá fotografias? Como conheceremos esses lugares? Que meio de transporte utilizaremos? Depois dessa retomada, prossiga com a leitura dialogada. Explique aos estudantes que você fará primeiro uma leitura em voz alta do texto verbal, de forma fluida, e que, em seguida, vocês retomarão a leitura em uma espécie de bate-papo. Em ambas, os estudantes devem acompanhar em seus próprios livros, virando página a página com o professor. Inicie a primeira leitura de forma expressiva, mantendo o ritmo e a entonação adequados, para fornecer dinamicidade e vida ao poema. Nessa etapa, os estudantes devem ouvir com atenção. Você também pode revezar a leitura com os estudantes, dependendo da fluência leitora deles, solicitando que, algumas vezes, alguém lhe substitua no processo. Para a segunda leitura, prepare previamente imagens dos diferentes lugares, das etnias e dos animais citados na obra Vai viajar, caracol?, por exemplo: girafa, ornitorrinco, Alasca, Sudão, pirâmides do Egito, chinês, pigmeu etc. Fixe-as com velcro em um mural de tecido ou com fita adesiva na lousa, sem identificá-las, de forma que as crianças possam retirá-las e colocá-las com facilidade. A segunda leitura, também em voz alta, poderá ser feita por você ou também de forma coletiva pelos estudantes. Nesse momento, a cada página dupla, você fará uma pausa para dialogar com os estudantes e construir sentidos com base na relação texto e ilustração, e até explorar as rimas contidas em cada estrofe. Inicie pela leitura das estrofes da página 7. Você pode aproveitar e pedir que os alunos repitam os versos em voz alta, articulando rimas e jogos de palavras e também estimulando a fluência em leitura oral, que são atividades previstas pela PNA. Se necessário, retome os conhecimentos adquiridos na etapa de pré-leitura sobre o gênero. Após a leitura das estrofes da página dupla, estimule os estudantes a refletir sobre o texto questionando-os: Para onde o caracol queria ir? Ele tinha alguma vantagem nessa viagem? O que vocês acham que ele faria nesses lugares? Por que ele foi devagarinho? Para responder a essa última pergunta, eles devem acionar os conhecimentos da etapa de pré-leitura adquiridos na produção do verbete.
Se, durante a leitura, os estudantes encontrarem alguma dificuldade para entender o vocabulário apresentado no poema, utilize inferências e exemplos para tentar resolver o problema. Em último caso, eles podem recorrer ao dicionário como fonte de consulta, caso ainda não tenham desvendado o significado da palavra. Em uma segunda etapa de exploração das estrofes lidas naquelas páginas, pergunte se conhecem os lugares mencionados pelo caracol e promova um momento de partilha dos conhecimentos prévios dos estudantes. Lembre-se de que, assim como o caracol era um personagem extremamente curioso, a leitura dessa obra deve estimular essa mesma atitude diante dos elementos apresentados. Depois, solicite aos estudantes que busquem no mural as imagens que estão associadas às estrofes que eles acabaram de ler e discutir. Verifique se as imagens selecionadas por eles estão de acordo com o esperado e auxilie-os, caso sejam necessárias trocas, dando dicas sobre os elementos abordados na estrofe. Com as imagens corretas em mãos, explore com eles a paisagem da França e da Guatemala (no caso das páginas 6-7), além disso, informe ou mostre a localização desses países no mapa-múndi, com o suporte de um atlas, se possível. Traga também algumas características principais e curiosidades sobre esses locais. Solicite aos estudantes que busquem nas ilustrações os elementos que viram por meio das fotografias do mural. Na produção de Luciano Tasso para essas páginas, por exemplo, eles encontrarão a Torre Eiffel e as pirâmides maias, as quais eles poderão associar aos países apresentados. Sempre que necessário, ajude-os nas associações. Para que essa atividade se concretize de forma significativa, é importante que você realize uma pesquisa prévia sobre os assuntos, lugares, animais e outros temas abordados na obra. O trabalho com a exploração para além do texto verbal, tendo o professor como mediador, é de extrema importância nessa faixa etária, já que, segundo a crítica literária brasileira Nelly Novaes Coelho: O maior ou menor grau de intimidade leitor-poema dependerá inteiramente dos comentários a serem feitos pelo adulto, no sentido de ajudá-lo a descobrir novos detalhes ou novos significados no que leu, ou ainda inventar novas situações a partir daquela que o poema lhe apresentou (COELHO, 2000, p. 268-269).
Lembre-se sempre de explorar também as rimas e os jogos de palavras, retomando, inclusive, as relações grafemas-fonemas já apreendidas no processo de alfabetização. Ainda nas páginas 6-7, temos, por exemplo, um par de rimas: caminho/devagarinho. Repita o procedimento com as outras páginas duplas do livro, fazendo perguntas sobre as ilustrações, o texto verbal e outros aspectos do gênero poema, como as rimas, jogos de palavras etc. Sempre avalie as respostas das crianças e amplie-as, fornecendo 17
mais elementos e informações. Se necessário, repita a resposta expandida para auxiliar na fixação desses novos dados, assim como prevê a técnica PAVERE, presente no guia Conta pra mim (BRASIL, 2019a). Durante a leitura dialogada, você pode variar as perguntas entre as cinco categorias previstas em uma técnica complementar denominada QueFaleComVida, proposta nesse mesmo guia, ou seja, perguntas: 1. Com pronomes e advérbios interrogativos (que, quem, quando, onde etc.). 2. Que não se resumam a uma resposta de sim ou não, exigindo esforço mental do estudante. 3. Que direcionem o estudante para lembrar acontecimentos que já foram vistos durante a leitura. 4. De completar, nas quais se deixa uma lacuna no final da frase, ideais para a exploração de rimas.
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5. Relacionadas à vida da criança, estabelecendo uma ponte entre o real e o ficcional. Ao chegar à página dupla 30-31, que apresenta a última estrofe do poema com o relato da não concretização da viagem, pergunte aos estudantes se eles já imaginavam que isso poderia acontecer, principalmente depois de terem estudado as características do caracol na produção do verbete de enciclopédia. Estimule-os a participar com os seguintes questionamentos: Em um texto literário, seria possível essa viagem? Por quê? Então, por que você acha que o autor não utilizou essa característica da literatura? Você acha que a intenção do autor era tornar o texto triste ou bem-humorado? Por quê? E se o caracol tivesse pegado um avião? Ele poderia fazer isso em uma obra literária? Examine com os estudantes o uso das reticências no final do livro, trabalhando a sua função com perguntas como: Por que o autor finaliza o texto com reticências? Será que vai acontecer algo mais na história? O que vocês acham que pode acontecer? Explore com eles as inúmeras possibilidades que o autor teria de construção do final da obra. Considerando as características do caracol e da literatura, por exemplo, tudo poderia ter sido um sonho! Para estimular a literacia familiar, deixe que os estudantes levem o livro para casa e peça que eles recontem a história, sem o apoio do texto verbal, para 18
os familiares ou responsáveis. Eles podem utilizar as ilustrações como suporte, rememorando os elementos apreendidos durante a leitura em sala de aula para apresentar aos seus ouvintes o roteiro com os lugares que o caracol gostaria de conhecer em suas viagens. Essa atividade estimula a memória e, também, a criatividade do estudante, bem como instiga o uso da oralidade e o desenvolvimento das relações interpessoais no âmbito familiar. Se julgar interessante, você pode fornecer um material, digital ou impresso, com informações sobre esses elementos, para que os familiares possam interagir com o estudante durante a leitura, questionando-o e ampliando suas perspectivas socioculturais. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF03LP10, EF35LP01, EF35LP03, EF35LP04, EF35LP05, EF35LP12, EF35LP21, EF35LP23, EF35LP27, EF35LP28, EF35LP31, EF15LP02, EF15LP03, EF15LP09, EF15LP10,
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EF15LP11, EF15LP15, EF15LP17 e EF15LP19.
Pós-leitura Agora que os estudantes já realizaram a leitura da obra, é importante promover atividades que ampliem os significados construídos até o momento, explorando as chaves que o texto fornece para sua interpretação. Segundo Nelly Novaes Coelho: [...] da fruição e compreensão do poema, o pequeno aprendiz deve ser incentivado a criar novos jogos poéticos a partir das sugestões dadas pela leitura [...] é esse exercício que enriquecerá interiormente e ampliará sua leitura de mundo (COELHO, 2000, p. 269).
Nas propostas a seguir, você encontrará diferentes abordagens pedagógicas desenvolvidas para explorar a obra e trabalhar as habilidades propostas pela BNCC. O objetivo é estimular a reflexão do estudante acerca do texto lido, atuando sobre e por meio dele com produções individuais e coletivas. Esse momento é importante para que você, professor, possa avaliar a compreensão do estudante a respeito de sua leitura e, também, para dar voz ao leitor em processo, de forma que ele se conecte cada vez mais com a obra e com a mensagem que ela carrega. 19
Minha concha
lukpedclub/iStockphoto.com
Na leitura da obra Vai viajar, caracol?, constatamos que o personagem principal viajaria com sua casa, a concha, onde poderia proteger-se e guardar todas as lembranças de seus passeios. Nas pesquisas para a construção do verbete de enciclopédia, os estudantes também devem ter descoberto o quanto a concha é importante, biologicamente, para o caracol, pois evita a desidratação e o protege de predadores, servindo de abrigo. Ao associar as nossas experiências de vida ao contexto da obra Vai viajar, caracol?, percebemos que ao longo de nossa existência vamos construindo, metaforicamente, a nossa concha pessoal com vivências que nos dão a sensação de aconchego e proteção. Essa concha também serve para demonstrar quem somos e o caminho que percorremos. Por isso, essa atividade propõe que cada estudante construa uma concha com imagens e desenhos que representem essas situações marcantes na vida deles. Para realizar a atividade, será necessário que você solicite, previamente, que os estudantes tragam para a aula cópias impressas de fotografias desses momentos importantes, ou imagens e desenhos que representem essas situações, todos em diferentes tamanhos. Relembre-os de que o objetivo da atividade é construir uma concha com base em memórias e vivências aconchegantes, que remetam à proteção e à formação humana deles, ou seja, as imagens devem representar momentos bons e felizes. Essa seleção de fotografias, imagens ou desenhos estimulará o diálogo entre os estudantes e seus familiares, incentivando-os a construírem sentidos juntos e promovendo momentos de literacia familiar. Lembre-se de enviar aos familiares uma orientação impressa no caderno do estudante para direcionar a atuação do adulto que acompanhará a criança nesse processo. Em sala de aula, já com os desenhos e fotografias em mãos, forneça aos estudantes, em folha de papel sulfite, a imagem de uma concha semelhante à do desenho a seguir.
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Com essa concha de base, as crianças trabalharão com colagem, fixando as imagens da forma como julgarem melhor para criar conchas únicas e pessoais. É importante garantir o material necessário para a realização dessa atividade – cola branca e tesoura de pontas arredondadas, por exemplo. Ao longo da realização da atividade, circule pela sala de aula e estimule as crianças a falarem um pouco sobre si, mostrando interesse pela produção delas com perguntas como: Que foto interessante, por que ela é importante para você? Os momentos que você desenhou foram importantes, mas não foram fotografados? Vocês acham que é mais importante aproveitar o momento ou fotografá-lo? Assim que os estudantes finalizarem a produção de suas conchas, organize um momento para a apresentação delas. É relevante que, antes de iniciá-la, você faça combinados com a turma para garantir que haja silêncio entre os estudantes e, assim, possam ouvir com atenção o colega. Combine, também, um sinal para quando eles desejarem fazer um comentário ou uma pergunta. Diga que cada produção é muito pessoal e, por isso, todas as intervenções devem ser respeitosas e levar em conta que a vivência do outro é algo importante para ele. No final das apresentações, as crianças podem conversar entre si sobre suas experiências, destacando as que foram semelhantes, aquelas de que mais gostaram, as mais marcantes etc. Estimule esse compartilhamento de informações utilizando perguntas com “por que” e “como”. Durante todo esse momento, você deve estar atento para os diálogos, garantindo uma interação construtiva e respeitosa. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP18, EF35LP20, EF15LP10 e EF15LP11.
Viajar pode não ser uma realidade para todas as crianças, considerando, muitas vezes, o alto custo que uma viagem demanda. No entanto, o conhecimento sobre outros países e culturas pode ser adquirido de diferentes formas (filmes, séries, desenhos animados, livros, fotografias, internet etc.), que não envolvem necessariamente viagens.
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Projeto Mapa-Múndi
Por isso, essa proposta foi pensada para ampliar o entendimento das crianças a respeito da realidade que as cerca, seja local, regional, nacional ou global, ao mesmo tempo que incentiva o hábito de leitura e instiga a curiosidade delas. Assim, essa atividade deve ser realizada em longo prazo, como um projeto para um semestre ou até mesmo todo o ano letivo. Antes de iniciar esse projeto, você deverá providenciar um mural na sala de aula com um mapa-múndi ampliado que represente os continentes e, se possível, os países. Se não for possível representar os países no painel, você pode providenciar um mapa-múndi completo impresso e afixá-lo ao lado do mural, de forma que as crianças consigam visualizar durante as atividades onde se localiza, aproximadamente, cada país dentro dos continentes representados. Previamente, você também deverá selecionar livros que tragam representações de culturas variadas, paisagens de diferentes países ou ambas as características. Algumas sugestões de obras que podem ser exploradas nessa atividade estão disponíveis a seguir. É possível selecionar outros títulos disponíveis no acervo da escola. BRAZ, Júlio Emílio. Cinco fábulas da África. Lisboa: Leya, 2012. •• DREGUER, Ricardo. Bia na Ásia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2018. •• DREGUER, Ricardo. Bia na Europa. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2017. •• HAURÉLIO, Marco. Mateus, esse boi é seu. São Paulo: DCL, 2015. •• KLINK, Laura; KLINK, Tamara; KLINK, Marininha. Férias na Antártica. São Paulo: •• Peirópolis, 2010. MATÉ. Poemas da minha terra tupi. São Paulo: Brinque-Book, 2018. •• OCELOT, Michel. Kiriku e a feiticeira. Tradução de Regis L. A. Rosa. Rio de Janeiro: •• Viajante do Tempo Editora, 2016. PIMENTEL, Luis. O peixinho do São Francisco. Rio de Janeiro: Rovelle, 2010. •• SILVA, Flávia Lins e. Diário de Pilar na Índia. Rio de Janeiro: Pequena Zahar, 2021. •• SILVA, Flávia Lins e. Diário de Pilar em Machu Picchu. Rio de Janeiro: Pequena Zahar, •• 2014. Por fim, solicite com antecedência à escola ou aos familiares um caderno pequeno que sirva como diário de bordo para que os estudantes possam registrar a viagem pela literatura, que será realizada ao longo das aulas. Com a seleção de livros e o painel prontos, você poderá dar início ao projeto. Convide os estudantes a explorarem as obras escolhidas e selecionarem uma delas para leitura. 22
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Se possível, eles deverão levá-la para casa e, junto com seus familiares, realizar a leitura silenciosa e em voz alta pelo menos duas vezes. Depois, devem explorar esse novo país, cidade ou lugar apresentado na obra escolhida pesquisando a sua cultura, fauna e flora, e também suas paisagens, seu clima, entre outras informações possíveis. Lembre-os do tipo de texto que estudaram na seção Pré-leitura, o verbete de enciclopédia, que pode ser de grande ajuda nesse momento. Se possível, eles também devem trazer sugestões de filmes, séries, desenhos animados e músicas atrelados a essa cultura ou lugar, de forma a ampliar o acesso à informação por meio de outras mídias. Os dados obtidos devem ser registrados no diário de bordo, com a data de descoberta, podendo ser complementados com fotos, imagens e desenhos. Para ampliar o entendimento dos estudantes sobre essa atividade, você pode explicar que, no período das navegações, durante as descobertas de diferentes lugares, os capitães frequentemente registravam suas descobertas em diários de bordo, que eram apresentados ao rei quando eles retornavam, informando detalhes do que haviam encontrado. Com base nesse contexto, os alunos irão atuar de forma semelhante. Assim, durante a viagem literária que fizerem, eles irão registrar suas descobertas sobre esse “novo” país para apresentar aos colegas a exploração. Combine com os estudantes com que frequência será feita a troca de livros e das apresentações. Realize, também, um sorteio no dia combinado para saber quem apresentará sua obra aos colegas e falará um pouco sobre sua “viagem” mostrando seus registros no diário. Aprofunde a discussão depois da apresentação com perguntas como: Você já conhecia esse lugar? Se sim, o que já sabia sobre ele? Que informação nova você encontrou? Você gostaria de conhecer esse lugar? Por quê? Como fez essa pesquisa? Quem ajudou você? O que você mais gostou nesse lugar? Lá tem algo em comum com o lugar em que vivemos? Há alguma relação entre esse novo lugar que você conheceu e os que o caracol gostaria de conhecer? Abra espaço para que a turma também possa tirar suas dúvidas sobre esse novo lugar e fazer comentários, caso alguém já o conheça. No final de cada apresentação e discussão, você e os alunos devem se deslocar até o painel e marcar com uma bandeirinha colorida o local que acabaram de explorar e conhecer em sala de aula. A ideia é percorrer todos os continentes, de forma que todos tenham uma
bandeirinha no final do período, incentivando os estudantes a buscarem conhecimento dos mais variados tipos enquanto se divertem com a leitura. Por meio desse formato de atividade, que visa levar o estudante a conhecer o espaço, a cultura e as vivências do outro, a literatura infantil cumpre com sua função maior, que é a “de tornar o mundo compreensível transformando sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas que a literatura tem e precisa manter um lugar especial nas escolas” (COSSON, 2021, p. 17). Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF03LP17, EF35LP01, EF35LP02, EF35LP03, EF35LP07, EF35LP09, EF35LP17, EF35LP18, EF35LP21, EF35LP29, EF15LP03, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11, EF15LP15, EF15LP18
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e EF15LP19.
Sugestões de conteúdos complementares Nesta seção você encontrará diferentes sugestões de conteúdos que poderão complementar a sua formação e prática pedagógica. Elas são opções para trabalhar o tema, o gênero ou ambos, bem como para aprofundar as atividades propostas neste material.
Canções VAMBORA, tá na hora. Palavra Cantada Oficial. YouTube. Disponível em: https://youtu. be/NuDfmKPLwfU. Acesso em: 9 set. 2021. Ao acompanhar essa viagem divertida de carro, conhecendo suas peculiaridades, as crianças poderão explorar uma nova experiência, dançar e cantar com a música. VIAJAR pelo Safari. Mundo Bita. YouTube. Disponível em: https://youtu.be/9WFYuIu7 BKA. Acesso em: 9 set. 2021. Essa canção explora as descobertas feitas em um safári na África, apontando, nesse contexto, diferentes animais e suas características.
Desenho animado e filmes ABOMINÁVEL. Direção: Jill Culton. Estados Unidos: DreamWorks Animation, Pearl Studio, 2019. 1 vídeo (92 min). Nesse longa-metragem animado, um grupo de adolescentes busca promover o encontro entre o Yeti e a sua família, embarcando em uma viagem ao topo do mundo. CINDERELA E A VIAGEM NA FLORESTA OBSCURA. Episódio 10. Os Amiguinhos. Série animada. 1 vídeo (ca. 8 min). Disponível em: https://youtu.be/ylDoV79xUoU. Acesso em: 9 set. 2021. Nesse episódio, Cinderela parte em uma jornada com o objetivo de enterrar uma semente do mal em frente a um castelo de lama, para que ela nunca mais floresça. No percurso, ela é acompanhada por ratinhos muito divertidos e corajosos.
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Na tentativa de voltar para casa, após um evento traumático, o dinossauro Arlo vive muitas aventuras com seu novo amigo humano, Spot.
Pixar Animation Studios/Walt Disney Pictures
O BOM DINOSSAURO. Direção: Peter Sohn. Estados Unidos: The Walt Disney Company, 2015. 1 vídeo (117 min).
Livros ALTENFELDER, Anna Helena et al. Poetas da escola: caderno do professor. São Paulo: Cenpec, 2019. (Coleção da Olimpíada). Disponível em: www.escrevendoofuturo.org.br/arquivos/10736/caderno-poema. pdf. Acesso em: 28 ago. 2021. Esse material, elaborado especialmente para as Olimpíadas de Língua Portuguesa, traz práticas pedagógicas com o gênero textual poema, bem como sugestões de leitura que permitirão explorá-lo no contexto da sala de aula. FILHO, Djalma Barboza Enes. Letramento literário na escola: a poesia na sala de aula. Curitiba: Appris, 2018. Com uma abordagem didática voltada para o trabalho com o texto literário em sala de aula, em especial a poesia, essa obra direciona o trabalho do professor, fornecendo possibilidades para as práticas literárias na escola.
Esse material, associado ao guia Conta pra mim, do Ministério da Educação, apresenta um poema com as vozes dos animais de forma divertida e ritmada. LOBATO, Monteiro. Viagem ao céu. São Paulo: Editora do Brasil, 2020. Nessa viagem pelo espaço sideral, os personagens do Sítio do Picapau Amarelo viverão muitas aventuras.
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Editora do Brasil
JÚLIA, Francisca; SILVA, Júlio César da. A voz dos animais. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2020. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra-mim/ livros/versao_digital/voz_dos_animais_versao_digital.pdf. Acesso em: 31 out. 2021.
OLAVO, Bilac. O pássaro cativo. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2020. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra-mim/livros/versao_digital/passaro_ cativo_versao_digital.pdf. Acesso em: 31 out. 2021. Esse material, associado ao guia Conta pra mim, do Ministério da Educação, apresenta um poema sobre um animal que estava preso, mas sonhava em alcançar o céu, aproveitando o vento e o sol. ROMEU, Gabriela; PERET, Marlene. Lá no meu quintal: o brincar de meninas e meninos de Norte a Sul. São Paulo: Peirópolis, 2019. Com essa obra, podemos viajar pelas cinco regiões brasileiras, conhecendo principalmente as brincadeiras, os jogos e outras formas de diversão vivenciadas pelas crianças em cada um desses lugares. SILVA, Flávia Lins e. Coleção Diário de Pilar. Rio de Janeiro: Pequena Zahar, 2011. Nessa coleção, a personagem Pilar registra suas descobertas em diferentes viagens por vários lugares: Amazônia, África, Grécia, Egito e Machu Picchu. Nelas, descobre a cultura, as paisagens, a gastronomia, a fauna e a flora dos locais.
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Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 28 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Conta pra mim: guia de literacia familiar. Brasília, DF: Ministério da Educação; Sealf, 2019a. Disponível em: http:// alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra-mim/conta-pra-mim-literacia.pdf. Acesso em: 26 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA: Política Nacional de Alfabetização. Brasília, DF: Ministério da Educação; Sealf, 2019b. Disponível em: http:// alfabetizacao.mec.gov.br/images/pdf/caderdo_final_pna.pdf. Acesso em: 26 ago. 2021. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário. Tradução de Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2003. COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão e Consuelo Fortes Santiago. Belo Horizonte: UFMG, 2010. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2021. COSTA, Marta Morais da. Literatura infantil. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2013. LAJOLO, Marisa. Literatura: ontem, hoje, amanhã. São Paulo: Unesp, 2018. MALUF, Maria Regina; CARDOSO-MARTINS, Cláudia. Alfabetização no século XXI: como se aprende a ler e a escrever. Porto Alegre: Penso, 2013. PALO, Maria José; OLIVEIRA, Maria Rosa D. A literatura infantil: voz de criança. São Paulo: Ática, 2006. PAZ, Otavio. Signos em rotação. Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Perspectiva, 2015. TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2014. 28