Prezado(a) _____________________________________ . Esta obra está na categoria dos mais elevados e reconhecidos clássicos cristãos. Nela há uma unção especial que descortina segredos espirituais para uma alma em busca de Deus. Sinceramente, este presente é uma pérola de grande valor para alguém especial como você. Que Deus a use para revelar Sua vontade e para trazer luz quanto aos Seus misteriosos tratamentos em sua vida. De coração, ____________________________________ .
______________________, ____ de _______________ de _______
Título do original em inglês: Autobiography Of Madame Guyon Escaneado da edição da Moody Press, Chicago por Harry Plantinga, 1995 Copyright © 2004 Editora dos Clássicos Tradução: Valéria Lamim Delgado Fernandes Revisão: Paulo César de Oliveira Capa: Magno Paganelli Diagramação: Rafael Alt Produção e coordenação editorial: Gerson Lima 1ª edição: outubro de 2004 2ª edição: outubro de 2008 3ª reimpressão: julho de 2012 P714a
Plantinga, Harry Autobiografia de Madame Guyon / Harry Plantinga ; tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes. – São Paulo : Editora dos Clássicos, 2004. 14x21cm. ; 432 p. ISBN 85-87832-30-1 1. Autobiografia – Madame Guyon. I. Título. CDU 929Guyon
Catalogação na publicação: Leandro Augusto dos Santos Lima – CRB 10/1273 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora dos Clássicos Site: www.editoradosclassicos.com.br E-mail: contato@editoradosclassicos.com.br Fones: (19) 3889-1368 / (19) 3217-7089
Proibida a reprodução total ou parcial deste livro sem a autorização escrita dos editores.
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Sumário
Introdução ...................................................................13 Parte 1 1. O Encargo desta Obra ............................................ 19 2. Uma Criança com o Coração Dilacerado ..............27 3. Uma Infância na Escola do Sofrimento ................. 35 4. Nuvens Escuras, no Caminho da Luz .................... 41 5. Quanta Compaixão pelos Pecadores! .................... 51 6. O Casamento, uma Casa de Luto...........................63 7. O Vazio de Todas as Coisas Terrenas ....................77 8. A Vida de Oração Profunda: Primeiros Passos .....87 9. Só o Doador Deve Ser Nosso Objetivo .................97 10. A União da Nossa Vontade com a Dele............. 101 11. Todo o Avanço Espiritual Depende disso .......... 107 12. Eu Suportava em Silêncio ................................... 113
13. É a Ti, e Somente a Ti, que Devo Tudo ............ 127 14. Atraída para o Interior......................................... 137 15. Deus Usa as Criaturas e suas Inclinações .......... 143 16. A Falta de Experiência ......................................... 153 17. Somente por Ti! ................................................... 161 18. Depois de Recuperar-Me da Varíola.................... 169 19. Agora só me Restava o Filho de Minhas Dores. 177 20. O Golpe mais Duro que já Senti ....................... 187 21. Um Estado de Privação Total ............................. 197 22. Depois de Doze Anos de Casamento ................ 201 23. Sendo Eu agora uma Viúva ................................ 211 24. Meu Deus Parecia Estar tão Distante ................. 219 25. Censurada por Todos ......................................... 225 26. “Deus me Queria em Genebra” ......................... 233 27. Uma Alma que se Perde em Seu Deus! ............. 241 28. “Ele me Queria em Genebra” ............................. 249 29. Sua Divina Providência ......................................... 259 Parte 2 30. Em Genebra ........................................................ 275 31. Quanto à minha Filha.........................................283 32. O Maior dos Milagres .........................................289 33. Depois de Ter Saído do Estado de Provação ....295 34. Minha Chegada a Gex ........................................303 35. Várias Coisas não me Agradavam ...................... 311
36. Após a Partida do Padre La Combe................... 319 37. A Alma no Estado de Gozo Absoluto ................ 327 38. Eu não me Preocupava Comigo......................... 333 39. Satisfeita com a Ordem de Deus ........................ 339 40. Senti uma Forte Propensão para Escrever ......... 345 41. Com Relação ao Padre La Combe ...................... 351 42. De Acordo com a Vontade de Deus .................. 363 43. Devo Ser Conformada a Ele ............................... 375 44. Os Monges .......................................................... 383 45. Abandonada por meus Amigos .......................... 391 46. O Injusto Caminho da Prisão.............................405 47. Foi desta Maneira que Jesus Sofreu ................... 417
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª edição (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
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eanne Marie Bouvier de La Motte (1648-1717), mais conhecida como Madame Guyon, foi levantada por Deus num contexto católico, em pleno século XVII, quando as nuvens da apostasia ainda eram densas, apesar da fresta de luz da Reforma. Deus a usou de forma especial para abrir caminho para a restauração da vida interior, da comunhão profunda com Ele, através da oração, da consagração plena, da santificação e do operar da cruz. Seus inspirados escritos, especialmente gerados na prisão, influenciaram a muitos ao redor do mundo e a notáveis líderes, tais como o Arcebispo Fenelon, os Quacres, John Wesley, Zinzendorf, Jessie Penn-Lewis, Andrew Murray e Watchman Nee. Eles foram tão marcados por Deus através dela que muitas das verdades comentadas e vividas por eles tiveram origem, de alguma maneira, no que herdaram de Madame Guyon; em nossos dias, estamos apenas começando a tocar no fluir das águas da verdadeira espiritualidade que Deus fez jorrar através dela.
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Prefacio à Edição Brasileira
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Autobiografia de Madame Guyon Sua autobiografia, escrita especialmente para atender à insistência de seu mentor, o padre La Combe, é notoriamente reconhecida como um dos maiores clássicos cristãos. Em vários livros encontramos menções dispersas desta autobiografia e de seus escritos, tentando resumir sua vida e obra. Hoje, pela primeira vez em língua portuguesa, temos a grande satisfação de apresentar aos garimpeiros de preciosidades esta singular obra. Esta é uma versão completa da obra original, e conservamos na íntegra o estilo da autora, em sua linguagem e contexto católico (apenas adicionamos os títulos, subtítulos e frases resumindo os capítulos). Como ela ressaltou: “Espero que o que escrevo não seja visto por ninguém que possa ofender-se com isso, ou que não esteja em condição de ver estes assuntos em Deus”. Assim, é nosso encargo que, sem preconceitos, nossos olhos sejam abertos para também vermos, como muitos, além das letras e da casca das conjunturas naturais e tocar nos segredos do coração de Deus dispensados de forma especial pela correspondência incondicional de Madame Guyon. Esta é uma obra que merece nosso respeito. Que possamos vê-Lo no cenário e amá-Lo ainda mais. Ó Senhor, esta obra é fruto de Tua providência. A Ti damos toda glória! Gerson Lima São Paulo, 05 de novembro de 2004.
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a história do mundo foram poucas as pessoas que atingiram o alto grau de espiritualidade alcançado por Madame Guyon. Ela nasceu em uma época corrupta, em uma nação marcada pela decadência; cresceu e criou-se em uma igreja tão devassa quanto o mundo em que estava inserida; foi perseguida a cada passo de sua carreira; andando às cegas em meio a uma devastação e ignorância espiritual, não obstante ela atingiu o auge da preeminência em termos de espiritualidade e devoção cristã. Viveu e morreu dentro da igreja católica; contudo, padeceu tormentos e aflições; foi maltratada, sofreu abusos e foi presa durante anos pelas maiores autoridades daquela igreja. Seu único crime foi amar a Deus. Sua suprema devoção e incomensurável ligação com Cristo foram os pretextos usados para justificar as ofensas que sofreu. Exigidos seu dinheiro e seus bens, ela, com alegria, se
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Introdução
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Autobiografia de Madame Guyon desfez deles, mesmo sabendo que ficaria pobre, mas de nada adiantou. O pecado de amar Aquele em quem todo o seu ser estava absorvido jamais seria amenizado, ou perdoado. Ela simplesmente gostava de fazer o bem para o próximo, e foi tão cheia do Espírito Santo e do poder de Deus que operou maravilhas em sua época, não deixando de influenciar as gerações seguintes. Do ponto de vista humano, é um sublime espetáculo ver uma mulher solitária subverter todas as manobras de reis e cortesãos, tratar com o máximo desprezo todos os conluios malignos da inquisição papal e do silêncio e confundir as ambições dos clérigos mais eruditos. Ela não só viu com maior clareza as verdades mais sublimes do nosso cristianismo mais santo, como também se aqueceu sob a mais clara e bela luz do sol enquanto eles tateavam na escuridão. Compreendeu com facilidade as verdades mais profundas e mais sublimes das Sagradas Escrituras, enquanto eles se perdiam nos labirintos de sua profunda ignorância. Um distinto clérigo deleitava-se em sentar-se aos pés dela. A princípio ele a ouvia com desconfiança; depois, com admiração. Por fim, abriu seu coração para a verdade e estendeu sua mão para ser conduzido por esta santa de Deus para o Santo dos Santos, onde ela habitava. Nós nos referimos ao distinto arcebispo Fenelon, cujo espírito meigo e fascinantes textos têm sido uma bênção para cada geração que o sucedeu.
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Não apresentamos nenhum pedido de desculpas por publicarmos na Autobiografia de Madame Guyon as expressões de devoção de sua igreja, que encontraram vazão em seus escritos. Madame Guyon era uma autêntica católica no início do protestantismo. Não há dúvida de que Deus, por uma intervenção especial de Sua Providência, levou-a a dedicar sua vida, de modo tão meticuloso, à escrita. O dever foi-lhe imposto por seu líder espiritual, a quem, de acordo com as normas de sua igreja, ela era obrigada a obedecer. Seus textos foram escritos enquanto ela estava presa em uma solitária. A mesma Providência, dotada de toda a sabedoria, impediu que fossem destruídos. Não temos sombra de dúvida de que eles têm por objetivo realizar algo dez vezes maior no futuro do que o realizado no passado. Na realidade, o mundo cristão está só começando a entendê-los e apreciá-los, e esperamos e oramos para que milhares de pessoas possam, por meio desses textos, ser levadas à mesma relação e comunhão íntima com Deus, que muito se agradou de Madame Guyon.
Parte 1 No Caminho do Quebrantamento “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; Mas, se morrer, produz muito fruto.” (Palavra de Jesus em João 12.24)
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O Encargo desta Obra
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ouve importantes omissões na anterior narração de minha vida. Prontamente cumpro com teu desejo, ao dar-te uma relação mais circunstancial, embora o trabalho pareça ser muito doloroso, visto que não posso utilizar grande parte do estudo ou reflexão. Meu desejo mais ardente é pincelar com cores genuínas a bondade de Deus para comigo e a profundidade de minha própria ingratidão – entretanto, isso é impossível, uma vez que inúmeras situações menores têm escapado à minha memória. Além do mais, tu expressas o desejo de que não tenho por que te dar uma minuciosa relação de meus pecados. Não obstante, tentarei deixar de lado o mínimo possível de faltas. Dependo de ti para destruí-las, uma vez que tua alma já absorveu aquelas verdades espirituais que Deus intentou, e a cujo propósito quero sacrificar todas as coisas. Estou plenamente convencida de Seus desígnios para tua vida, bem como para a santificação dos outros, e também para tua própria santificação.
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Capítulo 1
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Autobiografia de Madame Guyon Permite-me certificar-te de que isso não se obtém a não ser por meio de dor, sofrimento e trabalho, e será alcançado por meio de uma vereda que decepcionará profundamente tuas expectativas. Não obstante, se estiveres completamente convencido de que é sobre a esterilidade do homem que Deus estabelece Suas maiores obras, estarás, em parte, protegido contra a decepção ou surpresa. Ele destrói para poder edificar, pois quando está prestes a edificar Seu sagrado templo em nós, Ele primeiro arrasa totalmente esse fútil e pomposo edifício que as artes e os esforços humanos erigiram, e, de suas terríveis ruínas, uma nova estrutura é formada, somente pelo Seu poder. Ó, que tu possas compreender a profundidade deste mistério e aprender os segredos da conduta de Deus, revelados às criancinhas, mas ocultos aos sábios e grandes deste mundo, que se consideram os conselheiros do Senhor, e capazes de investigar Seus métodos, e supõem que obtiveram essa divina sabedoria, oculta aos olhos de todos aqueles que vivem em si mesmos e estão envoltos em suas próprias obras. Quem, por um vivo engenho e elevadas faculdades, sobe ao Céu e pensa compreender a altura, profundidade e largura de Deus? Esta sabedoria divina é desconhecida, mesmo para aqueles que passam pelo mundo como pessoas de extraordinário conhecimento e iluminação. Quem, então, a conhece, e quem nos pode revelar algumas de suas
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incógnitas? A destruição e a morte asseguram-nos que eles escutaram com seus ouvidos acerca de sua fama e renome. É, portanto, morrendo para todas as coisas, e estando verdadeiramente desatentos a elas, seguindo adiante em direção a Deus, e existindo somente Nele, que chegamos a algum conhecimento da verdadeira sabedoria. Ó, quão pouco se sabe de seus caminhos e de sua conduta para com os seus servos eleitos. Raramente descobrimos algo dela, mas, surpresos com a dissimilitude existente entre a verdade recém-descoberta e nossas prévias idéias acerca dela, clamamos junto a São Paulo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33). O Senhor não julga as coisas como fazem os homens, que chamam o mal de bem e o bem de mal, e têm por justo o que é abominável aos Seus olhos, coisas que, segundo o profeta, Ele considera trapos imundos. Deus submeterá a estrito juízo estes que se justificam a si mesmos, e, como os fariseus, serão mais objetos de Sua ira do que objetos de Seu amor, ou herdeiros de Suas recompensas. Não é o próprio Cristo que nos assegura que “se a [nossa] justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais [entraremos] no reino dos céus” (Mt 5.20)? E quem dentre nós se aproxima a eles em justiça? Ou que, se vivermos na prática de virtudes, embora muito inferiores às deles, não somos dez vezes mais ostentosos? Quem não se agrada em contemplar-se
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O Encargo desta Obra
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Autobiografia de Madame Guyon a si mesmo como justo aos seus próprios olhos, e aos olhos dos outros? Ou quem é que duvida que tal justiça basta para agradar a Deus? Todavia, vemos a indignação de nosso Senhor manifestada contra eles. Aquele que foi o padrão perfeito em ternura e mansidão, como a que fluía do fundo do coração, e não como aquela mansidão fingida que, sob a forma de uma pomba, esconde o coração de um falcão. Ele se mostra severo somente com estas pessoas que se justificam, e as desonrou em público. Que estranha paleta de cores Ele utiliza para representá-las, enquanto sustenta o pobre pecador com misericórdia, compaixão e amor, e declara que só por ele foi que Ele veio, que era o enfermo que necessitava de médico; e que Ele só veio para salvar a ovelha perdida da casa de Israel. Ó Tu, Manancial de Amor! Pareces de fato tão zeloso pela salvação dos que tens comprado que preferes o pecador ao justo! O pobre pecador, que se vê vil e miserável, é, por assim dizer, forçado a detestar-se a si mesmo; e, vendo que seu estado é tão horrível, ele se lança, em seu desespero, nos braços de seu Salvador, mergulha na fonte de cura e sai dela “branco como a neve”. Então, perplexo com o exame de seu estado de desordem, transborda de amor por Ele, que, tendo todo o poder, teve também a compaixão de salvá-lo – sendo o excesso de seu amor proporcional à enormidade de seus crimes, e a plenitude de sua gratidão, à extensão da dívida perdoada. Aquele que se
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justifica a si mesmo, apoiando-se nas muitas boas obras que imagina ter feito, parece segurar a salvação em suas próprias mãos e considera o céu como uma justa recompensa para seus méritos. Na amargura de seu zelo, ele brada contra todos os pecadores e mostram as portas da misericórdia como que trancadas contra eles, e o Céu como um lugar ao qual eles não têm direito. Que necessidade têm tais pessoas, que se justificam a si mesmas, de um Salvador? Elas já têm a carga de seus próprios méritos. Ó, quanto tempo carregam a carga lisonjeira, enquanto os pecadores, despojados de tudo, voam velozmente nas asas da fé e do amor para os braços de seu Salvador, que de graça lhes concede o que gratuitamente prometeu! Quão cheios de amor próprio são os que se justificam a si mesmos, e quão vazios do amor de Deus! Eles se valorizam e se admiram em suas obras de justiça, que acreditam ser uma fonte de felicidade. Tão logo essas obras são expostas ao Sol da Justiça, descobrem que todas estão cheias de impureza e infâmia, e isso lhes aflige sobremaneira. Enquanto isso, a pobre pecadora, Madalena, é perdoada porque ama muito, e sua fé e amor são aceitos como justiça. O inspirado Paulo, que tão bem entendeu estas grandes verdades e tanto as investigou, assegura-nos que “isso [a fé de Abraão] lhe foi também imputado para justiça” (Rm 4.22). Isso é de fato precioso, pois é certo que todas as ações daquele santo patriarca foram estritamente justas; porém, não
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Autobiografia de Madame Guyon as vendo assim e estando livre do amor para com elas, e despojado de egoísmo, sua fé foi fundada sobre o Cristo que haveria de vir. Esperou Nele mesmo contra a própria esperança, e isso lhe foi imputado para justiça (Rm 4.18, 22), uma pura, simples e genuína justiça, feita por Cristo, e não uma justiça feita por si mesmo, e tida como sua justiça. Talvez penses que isso seja uma grave digressão do assunto, porém ela nos leva, inconscientemente, a ele. Mostra que Deus realiza Sua obra em pecadores convertidos, cujas iniqüidades do passado servem de contrapeso para seu engrandecimento, ou em pessoas cuja justiça própria Ele destrói, derrocando por completo o orgulhoso edifício que ergueram sobre um alicerce arenoso, e não sobre a Rocha – CRISTO. A instauração de todos estes fins, para cujo propósito Ele veio ao mundo, efetua-se pela visível destruição dessa mesma estrutura que, na realidade, Ele erigiria. Por meios que parecem destruir a Sua Igreja, Ele a estabelece. De que estranha forma Ele funda a nova dispensação e lhe dá Seu beneplácito! O próprio Legislador é condenado pelos versados e poderosos como um malfeitor, e morre uma morte ignominiosa. Ó, que entendamos na íntegra quão oposta é nossa própria justiça aos desígnios de Deus – seria um assunto de humilhação sem fim, e deveríamos ter uma verdadeira desconfiança daquilo que, neste momento, constitui toda a nossa dependência.
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Partindo de um amor justo, próprio de Seu supremo poder, e de um zelo idôneo pela humanidade, que atribui a si mesma os dons que Ele mesmo concede, aprouve a Deus tomar uma das mais indignas criaturas da criação para tornar conhecido o fato de que Suas graças são os frutos de Sua vontade, e não os frutos de nossos méritos. É próprio de Sua sabedoria destruir o que está construído com orgulho e construir o que está destruído; fazer uso de coisas fracas para confundir os poderosos e empregar para Seu serviço aquele que parece vil e desprezível. Isso Ele faz de uma forma tão surpreendente que chega a transformá-los nos objetos do escárnio e desprezo do mundo. Não é para atrair sobre eles a aprovação pública que Ele faz deles instrumento para salvação dos outros, mas para torná-los objetos de seu desgosto e súditos de seus insultos; como verás nesta vida sobre a qual tenho o encargo de escrever.
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O Encargo desta Obra
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Uma Criança com o Coração Dilacerado (Conselho aos Pais quanto à Criação de seus Filhos)
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asci em 18 de abril de 1648. Meus pais, em particular meu pai, eram extremamente religiosos, porém, para ele, tratava-se de uma herança. Muitos de seus antepassados foram santos. Minha mãe, no oitavo mês de gravidez, levou um terrível susto, o que provocou um aborto. Normalmente acredita-se que uma criança que nasce no oitavo mês não pode sobreviver. Na realidade, fiquei tão enferma logo depois que nasci que todos os que estavam à minha volta perderam a esperança de que eu viveria e temiam que eu morresse sem ser batizada. Ao perceber alguns sinais de vitalidade, correram para avisar meu pai, que, imediatamente, trouxe um padre; entretanto, ao entrarem no quarto, disseram a eles que aqueles sintomas que haviam reacendido suas esperanças não passavam de esforços de alguém que expirava, e que tudo estava acabado.
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Capítulo 2
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Autobiografia de Madame Guyon Tão logo mostrei novos sinais de vida, voltei a ter uma recaída e fiquei em um estado incerto por um período tão longo que foi preciso tempo para que pudessem encontrar uma oportunidade adequada para batizar-me. Continuei muito enferma até completar dois anos e meio, quando me enviaram para o convento das ursulinas, onde permaneci por alguns meses. Quando voltei para casa, minha mãe negou-se a dar a devida atenção à minha educação. Ela não gostava muito das filhas e abandonou-me aos cuidados dos empregados. Na realidade, eu teria sofrido muito por conta de sua falta de atenção para comigo se a Providência, totalmente atenta, não tivesse sido a minha proteção: por causa de minha vivacidade, sofri vários acidentes. Caí muitas vezes em um porão onde guardávamos lenha; no entanto, sempre escapei ilesa. A duquesa de Montbason apareceu no convento dos Beneditinos quando eu tinha quase 4 anos. Ela tinha uma grande amizade com meu pai e teve permissão dele para que eu fosse para o mesmo convento. Ela ficava encantada com minhas brincadeiras e demonstrava certa doçura para com minha conduta exterior. Passei a ser sua constante companheira. Fui culpada de freqüentes e perigosas irregularidades nesta casa, e cometi sérias faltas. Tinha bons exemplos diante de mim, e sendo, por natureza, inclinada a eles, eu os seguia quando não havia ninguém para
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corrigir-me. Gostava de ouvir coisas acerca de Deus, de estar na igreja e de usar vestes religiosas. Falaram-me dos terrores do Inferno, o que, em minha imaginação, era uma tática para intimidar-me, uma vez que eu era extremamente inquieta e cheia de uma petulante vivacidade que chamavam de engenho. Na noite seguinte sonhei com o Inferno, e, embora fosse jovem, o tempo nunca foi capaz de apagar as terríveis idéias impressas em minha imaginação. Tudo não passava de uma terrível escuridão, onde as almas eram castigadas, e meu lugar entre elas já estava determinado. Diante disso, eu chorava amargamente e clamava: “Ó, meu Deus, se tiveres misericórdia de mim e poupares a minha vida um pouco mais, nunca mais voltarei a ofender-Te”. E Tu, ó Senhor, em misericórdia ouviste o meu pranto e derramaste sobre mim força e coragem para servir-Te de uma forma fora do comum para alguém de minha idade. Eu queria ir confessar-me em particular, mas, como eu era pequena, a superiora das internas levou-me ao padre e ficou comigo enquanto ele me ouvia. Ela ficou muito surpresa quando mencionei que tinha teorias contra a fé, e o confessor começou a rir e a perguntar quais eram. Eu lhe disse que, até então, duvidava que existia um lugar como o Inferno e achava que minha superiora havia me falado dele só para fazer com que eu ficasse boazinha, mas, agora, as minhas dúvidas já se haviam dissipado. Após a confissão, meu coração incendiou-se com certo fervor
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Uma Criança com o Coração Dilacerado
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Autobiografia de Madame Guyon e, naquele instante, tive o desejo de sofrer martírio. Para entreterem-se e verem até onde este aumento de fervor haveria de me levar, as boas garotas da casa rogaramme que me preparasse para o martírio. Encontrei grande fervor e deleite na oração, e estava convencida de que este ardor, que era tão recente quanto agradável, era uma prova do amor de Deus. Isso me inspirou com tal coragem e resolução que passei a suplicar seriamente que prosseguissem, para que, por meio do martírio, eu pudesse entrar na santa presença de Deus. Porém não havia uma latente hipocrisia aqui? Eu não imaginava que seria possível que não me matassem, e que eu teria o mérito do martírio sem sofrê-lo? Na realidade, parecia que havia algo ali desta natureza. Colocada de joelhos sobre um pano estendido para a ocasião e vendo atrás de mim uma grande espada levantada que haviam preparado para comprovar até onde meu ardor me levaria, gritei: “Esperem! Não é certo que eu morra sem obter primeiro a permissão de meu pai”. Havendo dito isso fui logo repreendida; disseram-me que eu poderia levantar-me e escapar dali, e que já não era mais uma mártir. Continuei desconsolada por muito tempo e sem receber consolo algum; algo no meu íntimo me reprovava por não haver abraçado aquela oportunidade de ir para o Céu, quando tudo dependia de minha própria escolha. A meu pedido, e por muitas vezes cair enferma, fui levada, por fim, para casa. Ao regressar, tendo
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minha mãe uma criada em quem havia depositado sua confiança, ela voltou a deixar-me aos cuidados dos empregados. É um grande erro, do qual as mães são culpadas, quando, com o pretexto de devoções externas ou outros compromissos, elas obrigam as filhas a suportar sua ausência. Não deixo de condenar essa injusta parcialidade com a qual alguns pais tratam os filhos. Muitas vezes é fruto de divisões nas famílias, e até a destruição de algumas. A imparcialidade, ao unir o coração dos filhos entre si, estabelece o alicerce de uma unanimidade e harmonia duradouras. Gostaria de poder convencer os pais, e todos aqueles que cuidam de jovens, da grande atenção que estes requerem e de quão perigoso é, durante qualquer lapso de tempo, não tê-los debaixo dos olhos ou deixar que fiquem sem algum tipo de emprego. Esta negligência é a ruína de muitas garotas. Quanto há de se lamentar que as mães inclinadas à piedade pervertam até mesmo os meios da salvação para sua própria destruição – ao cometerem as maiores irregularidades enquanto aparentemente perseguem aquilo que deveria produzir a conduta mais regular e prudente. Assim, uma vez que experimentam certos benefícios em oração, passam o dia todo na igreja; enquanto isso, os filhos correm para a destruição. Glorificamos mais a Deus quando impedimos o que Lhe pode ofender. De que natureza haverá de ser aquele sacrifício que
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Uma Criança com o Coração Dilacerado
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Autobiografia de Madame Guyon dá motivo para o pecado! Deus deve ser servido à Sua maneira. Que a devoção das mães seja ajustada de modo a evitar que suas filhas se desviem. Que elas as tratem como irmãs, não como escravas. Que pareçam satisfeitas com suas pequenas diversões. Os filhos irão deleitar-se, então, com a presença da mãe, em vez de evitá-la. Se eles encontrarem tanta felicidade com elas, não sonharão em buscá-la em nenhum outro lugar. As mães muitas vezes negam aos filhos qualquer tipo de liberdade. Como pássaros constantemente presos em uma gaiola, tão logo encontram meios de escapar, eles se vão para nunca mais voltar. Para amansá-los e torná-los dóceis quando jovens, às vezes se deveria permitir que batessem asas, mas, uma vez que seu vôo é vulnerável e está sendo observado de perto, é fácil recuperá-los quando escapam. Um pequeno vôo dá-lhes o hábito de regressar de forma natural à sua gaiola, a qual se torna uma agradável prisão. Creio que as meninas deveriam ser tratadas de uma forma similar. As mães deveriam consentir uma inocente liberdade, porém nunca perdê-las de vista. Para proteger a sensível mente dos filhos daquilo que é errado, deve-se tomar muito cuidado em ocupá-los com assuntos adequados e proveitosos. Eles não devem ser empanturrados de alimentos dos quais não podem gostar. Deve-se dar o leite adequado para os bebês, e não a carne dura que tanto pode enfastiá-los, para que, quando chegarem a uma idade em que ela seja seu
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alimento apropriado, não só se limitem a experimentá-la. Todos os dias eles devem ser incentivados a ler trechos de um bom livro, passar algum tempo em oração, o que deve servir mais para fomentar os sentimentos, e não a meditação. Ó, se este método de educação fosse seguido, com que rapidez cessariam tantas irregularidades! Quando se tornassem mães, estas filhas educariam seus filhos como elas mesmas foram educadas. Os pais também deveriam evitar mostrar o menor indício de parcialidade no tratamento dos filhos. Isso gera uma secreta inveja e aversão entre eles, que muitas vezes aumentam com o tempo e persistem até a morte. Quantas vezes vemos que alguns filhos são os ídolos da casa, comportando-se como verdadeiros tiranos, tratando os irmãos e irmãs como escravos, seguindo o exemplo do pai e da mãe. E muitas vezes o que acontece é que o favorito passa a ser um castigo para os pais, enquanto o pobre desprezado e odiado tornase seu consolo e apoio. Minha mãe foi muito deficiente na educação dos filhos. Ela me mantinha por vários dias longe de sua presença, na companhia dos empregados, cuja conversa e exemplo eram, sobretudo, prejudiciais para alguém de meu temperamento. O coração de minha mãe parecia estar totalmente centrado em meu irmão. Eu raramente era favorecida com o menor exemplo de sua ternura ou carinho. Por conseguinte, eu me ausentava voluntariamente de sua presença. É verdade
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Uma Criança com o Coração Dilacerado
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Autobiografia de Madame Guyon que meu irmão era mais amável do que eu, mas o excesso do afeto que ela tinha por ele a deixou cega até para minhas boas qualidades exteriores. Só servia para revelar meus defeitos, que teriam sido pequenos se ela me tivesse dado a devida atenção.
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Uma Infância na Escola do Sofrimento
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eu pai, que me amava ternamente, vendo quão pequena era a atenção dada à minha educação, tratou de enviar-me a um convento das ursulinas. Eu tinha quase sete anos. Nesta casa havia duas meias-irmãs minhas, uma por parte de pai e outra por parte de mãe. Meu pai deixou-me sob os cuidados de sua filha, uma pessoa de grande capacidade e com a mais entusiasmada religiosidade, primorosamente qualificada para a instrução de jovens. Esta foi uma singular dispensação da providência e do amor de Deus para comigo, e uma prova do primeiro traço de minha salvação. Ela me amava com ternura, e sua afeição levou-a a descobrir em mim muitas qualidades amáveis que o Senhor havia implantado. Esforçou-se por melhorar essas boas qualidades, e creio que se eu tivesse continuado em mãos tão cuidadosas, teria adquirido tantos hábitos virtuosos quanto os malignos que contraí mais tarde.
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Capítulo 3
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Autobiografia de Madame Guyon Esta boa irmã investiu seu tempo para instruir-me na piedade e naquelas vertentes da aprendizagem que eram apropriadas para a minha idade e capacidade. Ela tinha bons talentos e soube muito bem aperfeiçoá-los. Era assídua na oração, e sua fé era tão grande quanto a da maioria das pessoas. Negava-se a si mesma um prazer sim e outro não para estar comigo e instruir-me. Tamanha era sua afeição por mim que ela encontrava mais prazer em estar comigo do que em qualquer outro lugar. Se eu lhe dava respostas propícias, embora mais por casualidade do que por juízo, ela já se considerava bem paga por todo o seu trabalho. Sob seus cuidados, logo me tornei mestra na maior parte dos estudos adequados para mim. Muitas pessoas adultas e de posição não conseguiriam responder às perguntas feitas para mim. Como meu pai muitas vezes mandava alguém para buscar-me, desejando ver-me em casa, em certa ocasião encontrei-me ali com a rainha da Inglaterra. Eu tinha quase 8 anos. Meu pai disse ao confessor da rainha que, quando queria alguma distração, ele podia entreter-se comigo. Ele me testava com várias perguntas muito difíceis, às quais contestei com respostas tão pertinentes a ponto de ele me levar à presença da rainha e dizer: “Sua majestade deve divertir-se com esta criança”. Ela também fez um teste comigo e ficou tão satisfeita com minhas vívidas respostas, e com minha
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conduta, que me pediu a meu pai em um momento um tanto inoportuno. Assegurou-lhe que cuidaria de modo especial de mim, designando-me dama de honra da princesa. Meu pai opôs-se. Sem dúvida alguma foi Deus quem permitiu essa resposta negativa e, com isso, desviou o golpe que provavelmente teria interrompido a minha salvação. Sendo eu tão frágil, como poderia ter resistido às tentações e distrações de uma corte? Voltei com as ursulinas para o lugar onde minha admirável irmã continuou a dar-me mostras de sua afeição. No entanto, como ela não era a superiora dos internos, e como eu era obrigada às vezes a acompanhálos, adquiri maus hábitos. Habituei-me com a mentira, a impertinência e a falta de devoção, passando dias inteiros sem pensar em Deus, embora Ele constantemente zelasse por mim, como se verá mais adiante. Não fiquei muito tempo sob a influência de tais hábitos porque o cuidado de minha irmã me restabelecia. Gostava muito de ouvir a voz de Deus, não me cansava da igreja, gostava de orar, tinha carinho pelos pobres e uma antipatia natural por pessoas cuja doutrina era considerada falha. Deus sempre mostrou esta graça para comigo, em minhas maiores infidelidades. Ao final do jardim que ligava a este convento havia uma pequena capela consagrada ao menino Jesus. A ela eu me dirigia para fazer minhas devoções e, por algum tempo, levando para lá meu café da manhã todos os dias, eu o escondia atrás desta imagem.
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Autobiografia de Madame Guyon Era tão criança que achava que fazia um sacrifício considerável privando-me dele. Delicada em minhas preferências culinárias, eu queria mortificar-me, mas o amor-próprio ainda era demasiado predominante para submeter-me a essa mortificação. Quando foram limpar essa capela, encontraram atrás da imagem o que eu havia deixado ali e, de pronto, adivinharam que havia sido eu. Eles me viam ir para lá todos os dias. Creio que Deus, que não permite que nada passe sem Sua devida recompensa, logo me recompensou com um interesse por esta pequena devoção na infância. Continuei por certo tempo com minha irmã, em que preservei o amor e o temor a Deus. Minha vida era fácil; minha educação seguia à risca suas orientações. Melhorava muito quando não estava enferma, porém quase sempre estava, e era surpreendida por males que eram tão inesperados quanto incomuns. De tarde estava bem; de manhã, já estava inchada e cheia de marcas azuladas, sintomas de uma febre que logo chegava. Aos nove anos, tive uma hemorragia tão violenta que pensaram que eu iria morrer. Acabei extremamente debilitada. Pouco antes deste terrível ataque, minha outra irmã ficou enciumada, querendo que eu ficasse sob seus cuidados. Apesar de levar uma boa vida, ela não tinha o dom para educar crianças. A princípio cuidou de mim, mas todos os seus cuidados não deixaram impressão alguma em meu coração. Minha outra irmã
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fazia mais com um olhar do que ela com seus cuidados ou ameaças. Quando viu que eu não a amava tanto, passou a dar um tratamento rigoroso. Não me deixava falar com minha outra irmã. Quando ficava sabendo que eu havia conversado com ela, mandava açoitaremme ou ela mesma me surrava. Eu já não podia mais suportar os maus-tratos e, por isso, devolvi com uma perceptível ingratidão todos os favores de minha irmã por parte de pai, não indo mais vê-la. Entretanto, isso não a impediu de dar-me mostras de sua habitual bondade durante a grave enfermidade que acabei de mencionar. Interpretou complacentemente minha ingratidão como conseqüência de meu medo de ser castigada, e não de um coração ruim. De fato, creio que este foi o único exemplo em que o medo do castigo causou um efeito tão forte em mim. Desde então eu sofria mais por afligir Aquele a quem eu amava do que por padecer nas mãos dos outros. Tu sabias, ó meu Amado, que não era o medo de Teus castigos que se abatia tão profundamente em meu entendimento ou em meu coração; era a tristeza por ofender-Te que sempre causava toda a minha angústia, que era tão grande. Imagino que, se não houvesse nem Céu nem Inferno, eu sempre teria guardado o mesmo temor por desagradar a Ti. Tu sabias que, após minhas faltas, quando, em indulgente misericórdia Te aprazias em visitar minha alma, Teus cuidados eram mil vezes mais insuportáveis do que Tua vara.
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Autobiografia de Madame Guyon A par de tudo o que havia se passado, meu pai levou-me novamente para casa. Eu tinha quase dez anos. Fiquei pouco tempo com ele. Uma freira da ordem de São Domingos, de uma grande família, um dos amigos íntimos de meu pai, pediu-lhe para colocarme no convento dela. Ela era a prioresa e prometeu cuidar de mim e hospedar-me em seu aposento. Essa senhora passou a ter um grande carinho por mim. Estava tão envolvida em sua comunidade, em suas muitas situações problemáticas, que não tinha tempo livre para dar-me muita atenção. Tive varicela, o que me deixou de cama por três semanas, período em que recebi um péssimo tratamento, embora meu pai e minha mãe pensassem que eu estivesse sendo muito bem cuidada. As senhoras da casa tinham tanto medo de varíola, que era o que imaginavam que eu tinha, que nem chegavam perto de mim. Passei quase o tempo todo sem ver ninguém. Uma das irmãs, que só trazia a minha dieta em horas específicas, se retirava às pressas. De forma providencial, encontrei uma Bíblia e, ao ter uma inclinação para a leitura e uma boa memória, passei dias inteiros lendo-a de manhã à noite. Aprendi toda a parte histórica. Contudo, eu era de fato muito infeliz nesta casa. As outras internas, meninas maiores, afligiam-me com terríveis perseguições. O descuido para comigo, e também no que dizia respeito à comida, foi tão grande que fiquei bastante magra.
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erca de oito meses depois, meu pai levou-me para casa. Minha mãe mantinha-me mais com ela, passando a ter uma consideração maior por mim. Ela ainda preferia meu irmão; todos falavam dele. Mesmo quando eu estava doente e não havia coisa alguma de que gostasse, ele a queria para si. Eles a tiravam de mim e a davam para ele, que gozava de perfeita saúde. Um dia ele me fez subir em cima da carruagem e depois me jogou ao chão. Por causa da queda, fiquei bastante machucada. Outras vezes ele me batia. Contudo, independentemente do que ele fizesse, por mais errado que estivesse, meus pais faziam que não viam ou atribuíam ao ocorrido a mais favorável interpretação. Isso me irritava. Eu tinha pouca disposição para fazer o bem, dizendo: “Nunca fui a melhor para isso”. Não era então só por Ti, ó Deus, que eu fazia o bem, pois deixei de praticá-lo ao não encontrar nos outros
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Capítulo 4
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Autobiografia de Madame Guyon a resposta que queria. Se soubesse usar corretamente esta Tua mortificante direção, eu teria feito um bom avanço. Longe de desviar-me do caminho, isso me teria feito voltar-me totalmente para Ti. Olhava com desconfiança para meu irmão, vendo a diferença entre ele e mim. Qualquer coisa que ele fazia era tida como certa, mas se houvesse culpa, ela recaía sobre mim. Minhas meias-irmãs por parte de mãe ganhavam a afeição dela cuidando dele e me perseguindo. De fato, eu era má. Reincidia em meus anteriores defeitos de mentira e impertinência. Apesar de todas essas faltas, eu era muito carinhosa e generosa com os pobres. Orava a Deus assiduamente, gostava de ouvir alguém falar sobre Ele e de ler bons livros. Não tenho dúvida de que te surpreenderás com esta série de inconsistências; entretanto, o que vem a seguir irá surpreender-te ainda mais, quando vires que esta forma de atuar ganha terreno à medida que minha idade avança. Assim como meu entendimento amadurecia, esta conduta irracional estava longe de ser corrigida. O pecado crescia com maior força dentro de mim. Ó meu Deus, Tua graça parecia redobrar-Se em proporção ao aumento de minha ingratidão! Era para comigo como para com uma cidade sitiada, rodeando Tu o meu coração, e eu somente estudando como defender-me de Teus ataques. Levantei fortificações em redor do desprezível lugar, acrescentando a cada dia o número de minhas iniqüidades para evitar que
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Tu o tomasses. Quando parecia que Tu estavas sendo vitorioso sobre este ingrato coração, iniciei um contraataque e levantei muralhas para evitar a Tua bondade e impedir o fluir de Tua graça. Ninguém, a não ser Tu, poderia ter vencido. Não suporto ouvir que “não somos livres para resistir à graça”. Tive uma experiência extremamente longa e fatal de minha liberdade. Fechei as avenidas do meu coração, para que não pudesse ouvir essa voz secreta de Deus que estava me chamando para Si mesmo. Na realidade, desde a mais tenra infância, passei por uma série de agravos, ou em forma de enfermidades ou perseguições. A menina sob cujos cuidados deixou-me minha mãe costumava bater em mim quando arrumava meus cabelos, e não me deixava fazer isso a não ser com raiva e pancadas. Tudo parecia castigar-me, mas isso, em vez de fazer com que eu me voltasse para Ti, ó meu Deus, só servia para afligir e amargurar a minha mente. Meu pai não sabia de nada; seu amor por mim era tanto que não teria permitido isso. Eu o amava muito, mas, ao mesmo tempo, tinha medo dele, por isso não lhe dizia nada. Minha mãe muitas vezes o importunava para queixar-se de mim, ao que ele respondia simplesmente dizendo: “Há doze horas no dia; ela amadurecerá”. Este rigoroso procedimento não foi o pior para a minha alma, embora irritasse meu temperamento, que, por outro lado, era manso e
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Autobiografia de Madame Guyon tranqüilo. Entretanto, a causa de meu maior dano foi preferir estar entre aqueles que me mimavam, para corromper-me e estragar-me. Meu pai, ao ver que agora eu estava bem crescida, colocou-me entre as ursulinas na Quaresma, para fazer minha primeira comunhão na Páscoa, quando eu estava para completar 11 anos. E aqui minha mais querida irmã, sob cuja inspeção colocou-me meu pai, redobrou seus cuidados para preparar-me o melhor possível para este ato de devoção. Agora eu pensava em entregarme a Deus a sério. Eu muitas vezes percebia uma luta entre minhas boas inclinações e meus maus hábitos. Cheguei até a fazer algumas penitências. Como quase sempre estava com minha irmã, e como as internas de sua classe, que era a primeira, eram bastante razoáveis e civilizadas, eu também ficava assim enquanto estava com elas. Fora uma crueldade criar-me mal, pois minha própria natureza estava fortemente inclinada à bondade. Como eu era facilmente convencida com mansidão, com gosto fazia o que minha boa irmã desejava. Por fim chegou a Páscoa; recebi a comunhão com muito gozo e devoção. Permaneci nesta casa até o Pentecostes. Porém, como minha outra irmã era a mestra da segunda classe, exigiu que durante sua semana eu estivesse com ela nessa classe. Seus modos, tão opostos aos de sua outra irmã, fizeram-me relaxar em minha anterior piedade. Eu já não sentia mais aquele novo e prazeroso ardor que havia arrebatado meu coração em minha primeira
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comunhão. Ah! Durou só um pouco. Meus defeitos e meus fracassos logo se confirmaram e me afastaram do cuidado e obrigações da religião. Sendo mais alta do que o normal para uma menina de minha idade, e isso redundando a um maior apreço por parte de minha mãe, ela se encarregou de arrumarme e vestir-me, de buscar-me a companhia de outros e de levar-me ao estrangeiro. Sentia um orgulho fora do normal dessa beleza com a qual Deus me havia formado para bendizer-Lhe e louvá-Lo. Entretanto, perverti essa beleza com uma fonte de orgulho e vaidade. Vários pretendentes vieram a mim, mas como eu ainda não tinha 12 anos, meu pai não ouviu nenhum pedido de casamento. Eu gostava de ler e me trancava para ficar sozinha todos os dias, para ler sem ser interrompida. O que se mostrou eficaz para conquistar-me por completo a Deus, pelo menos por um tempo, foi que um sobrinho de meu pai passara por nossa casa em uma missão para a Cochinchina. Sucedeu que naquele momento eu estava dando um passeio com minhas damas de companhia, o que raramente fazia. Quando voltei, ele já havia partido. Contaram-me de sua santidade e das coisas que havia dito. Fiquei tão comovida que me enchi de tristeza. Chorei o resto do dia e da noite. Na manhã seguinte, logo cedo, fui procurar meu confessor, muito angustiada. Eu lhe disse: “O quê, senhor padre! Vou ser a única pessoa de minha família que irá se perder? Ah, ajude-me em
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Autobiografia de Madame Guyon minha salvação”. Ele ficou muito surpreso ao ver-me tão aflita e consolou-me da melhor maneira que pôde, sem chegar a acreditar que eu fosse tão má como parecia. Em meus tropeços eu era dócil, pontual na obediência, cuidadosa para confessar-me muitas vezes. Desde que o procurei, minha vida passou a ser mais regular. Ó Deus de amor, quantas vezes tens batido à porta de meu coração! Quantas vezes tens me aterrorizado com simulacros de uma morte repentina! Todas essas coisas somente deixaram uma impressão passageira. Logo tornei a voltar para minhas infidelidades. Desta vez Tu levaras e conquistaras meu coração. Ah! Que dor eu sentia agora por ter-Lhe desagradado! Que pesar, que suspiros, que soluços! Quem teria pensado, ao ver-me, que minha conversão haveria de durar toda a minha vida? Por que, ó meu Deus, não tomaste por completo este coração para Ti, quando eu o entreguei a Ti tão plenamente? Ou, se Tu o tomaste, por que o deixaste revoltar-se mais uma vez? Certamente eras suficientemente forte para dominá-lo, mas quiseras Tu, ao deixar-me a mim mesma, mostrar Tua misericórdia para que a profundidade de minha iniqüidade pudesse servir como troféu para Tua bondade. Apliquei-me imediatamente a todas as minhas obrigações. Fiz uma confissão geral com grande contrição em meu coração. Confessei com franqueza e com muitas lágrimas tudo o que sabia. Mudei tanto que mal me reconheciam. Não havia incorrido, de forma
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voluntária, no menor deslize. Nada encontraram para absolver quando me confessava. Descobri os menores defeitos, e Deus fez-me o favor de capacitar-me para conquistar-me a mim mesma em muitas coisas. Só restaram alguns vestígios de paixão que me deram algum trabalho para conquistá-los. Contudo, no momento em que eu dava um desgosto, por qualquer motivo, até para os empregados domésticos, implorava seu perdão com o propósito de subjugar minha ira e orgulho, pois a ira é filha do orgulho. Uma pessoa verdadeiramente humilhada não permite que nada lhe deixe com raiva. Assim como o orgulho é o último a morrer na alma, a paixão é a última a ser destruída na conduta externa. Uma alma totalmente morta para si mesma não encontra raiva alguma dentro dela. Há pessoas que, superabundando em graça e em paz, à porta da vereda resignada da luz e do amor, pensam que ali chegaram. Porém, estão muito enganadas ao verem assim sua condição. Se estiverem dispostas a examinar de coração duas coisas, logo descobrirão isso. Primeiro, que se sua natureza for viva, incendida e impulsiva (não me refiro a temperamentos néscios), elas descobrirão que, de vez em quando, cometem deslizes nos quais há uma parcela de emoção e angústia. Ainda assim, esses deslizes são úteis para humilhá-las e aniquilá-las. (Entretanto, quando a aniquilação é aperfeiçoada, toda a paixão se vai – e já não é compatível com este estado.) Descobrirão que muitas
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Autobiografia de Madame Guyon vezes surgem certos impulsos internos de ira, mas a doçura da graça as retêm. Transgrediriam facilmente se, de algum modo, dessem margem a esses impulsos. Há pessoas que se consideram muito mansas porque nada as frustra. Não é delas que estou falando. A mansidão que nunca foi colocada à prova muitas vezes não passa de uma simulação. Aquelas pessoas que, quando não são molestadas, parecem santas, no momento em que são inquietadas por acontecimentos incômodos, bruscamente se levanta nelas uma série incomum de defeitos. Pensavam que estavam mortas, quando só estavam dormentes porque nada as fazia despertar. Continuei com meus exercícios religiosos. Trancavame todos os dias para ler e orar. Dava aos pobres tudo o que tinha, levando até roupas de linho para a casa deles. Eu os ensinava o catecismo e, quando meus pais saíam para jantar fora, eu os fazia comer comigo e lhes servia com grande respeito. Lia as obras de São Francisco de Sales e a vida de Madame de Chantal. Ali aprendi pela primeira vez o que era a oração mental, e supliquei ao meu confessor que me ensinasse aquele tipo de oração. Como ele não o fez, eu mesma me esforcei para praticá-la, embora sem êxito, como depois pensei, porque não era capaz de exercitar a imaginação; convenci-me de que aquela oração não podia ser feita sem formar em mim mesma certas idéias e pensar muito. Esta dificuldade não me deu poucas preocupações, por muito tempo. Eu era muito diligente
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e orava a Deus com fervor para que me concedesse o dom da oração. Tudo o que via na vida de Madame de Chantal me encantava. Eu era tão pequena que pensava que teria de fazer tudo o que via nela. Todos os juramentos que ela havia feito também fiz. Um dia li que ela havia colocado o nome de Jesus em seu coração, obedecendo ao conselho: “Põe-me como selo sobre o teu coração” (Ct 8.6). Para isso, ela tomou um ferro quente, sobre o qual estava gravado o nome santo. Fiquei muito angustiada ao ver que não poderia fazer o mesmo. Decidi escrever aquele sagrado e adorável nome, em letras grandes, no papel e, com laços e uma agulha, eu o preguei à pele em quatro lugares. Nessa posição ele ficou durante muito tempo. Depois disso, concentrei todas as minhas forças em ser freira. Como o amor que tinha por São Francisco de Sales não me permitia pensar em nenhuma outra comunidade, exceto aquela da que ele era fundador, eu muitas vezes ia rogar às freiras dali que me recebessem em seu convento. Com freqüência escapulia da casa de meu pai para ir até lá e solicitar repetidamente minha admissão ali. Embora fosse o que elas muito desejassem, ainda que como uma vantagem passageira, nunca se atreveram a deixar-me entrar, visto que temiam muito meu pai, de cujo afeto por mim estavam cientes. Havia naquela casa uma sobrinha de meu pai, a quem devo muito. A fortuna não havia favorecido muito seu pai. Isso a levava, de certo modo, a depender do
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Autobiografia de Madame Guyon meu, a quem ela colocou a par do meu desejo. Embora, por nada do mundo, não houvesse tentado impedir minha verdadeira vocação, ele não podia ouvir falar de minhas intenções sem derramar lágrimas. Visto que naquela época ele estava no estrangeiro, minha prima procurou meu confessor para pedir-lhe que impedisse minha ida para o convento. Ele não se atreveu, no entanto, a fazê-lo abertamente, por medo de atrair sobre si o ressentimento daquela comunidade. Eu ainda queria ser freira, e importunava sobremodo minha mãe para que me levasse aquela casa. Ela não o fez, por medo de afligir meu pai, que estava ausente.
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