Murilo Amaral Shyrley Bernadelli
FRENTE
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PORTUGUÊS Por falar nisso O estudo da concordância verbal constitui um dos aspectos mais ricos da sintaxe da Língua Portuguesa. Trata-se, principalmente, de uma relação de solidariedade entre o sujeito de uma oração e um verbo. Uma concordância adequada, em um texto, revela não só a capacidade de entendimento da norma-padrão do escritor, como também transparece a harmonia entre os termos da oração. Por meio da concordância, constroem-se elos de coesão e mantém-se a coerência do texto. A partir das flexões do verbo, é possível omitir o sujeito da oração e evitar repetições desnecessárias. Nesse sentido, para você melhorar seu domínio sobre a norma da língua e escrever textos, cada vez mais, com progressão semântica e fluidez, é preciso que você se atente a essa área da sintaxe. A Língua Portuguesa não é difícil e você pode até achá-la complexa; mas ela é, na verdade, completa. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
A05 A06 A07 A08
Concordância verbal I ................................................................... 610 Concordância verbal II .................................................................. 617 Conjunção, preposição e artigo .................................................... 623 Regência verbo-nominal ............................................................... 630
FRENTE
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PORTUGUÊS
MÓDULO A05
ASSUNTOS ABORDADOS n Concordância verbal I n Tipos de concordância n Regra geral n Sujeito composto
CONCORDÂNCIA VERBAL I Tipos de concordância Nesta aula, conheceremos os aspectos gerais das relações de concordância entre termos da Língua Portuguesa. Esse estudo divide-se em dois ramos: concordância nominal, que aprendemos na série anterior, e concordância verbal. Para início, veja os tipos de concordância: Gramatical: aquela que segue à risca as regras da gramática normativa. n n
Existem tristeza e melancolia no seu olhar. Comprei violão e violino novos.
Atrativa: ocorre devido à proximidade entre os elementos relacionados, embasada no princípio da eufonia (o que soa bem). n n
Existe tristeza e melancolia no seu olhar. Comprei violão e violino novo.
Ideológica: esse tipo de concordância ocorre quando se deixa de estabelecer a concordância padrão, ou por eufonia para se criar uma relação com alguma ideia ou por um elemento implícito no contexto. A concordância ideológica é chamada de silepse. Podem ocorrer silepses de número, gênero e pessoa. Observe: n n n
Figura 01 - Pessoas em concordância harmônica
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Silepse de pessoa: Todos somos (são) iguais perante a lei. Silepse de número: A plateia estava indignada, esperaram (esperou) demais pelo show. Silepse de gênero: Vossa Excelência parece insatisfeito (insatisfeita) com o resultado das urnas.
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Regra geral A concordância entre o sujeito de uma oração e um verbo estabelece-se a partir da conformidade entre a pessoa e número do sujeito. Não importa se o sujeito é expresso ou elíptico na oração. Ele é o referente do verbo e com ele deve ser feita a concordância. Veja abaixo os exemplos: A redução das alíquotas do IPI vinha sendo pleiteada pelas montadoras desde novembro passado. No exemplo acima, o sujeito da locução verbal “vinha sendo pleiteada” é “a redução das alíquotas do IPI”. Veja que, nesse sujeito, há palavras no singular e palavras no plural. Nesse caso, como deve proceder a relação de concordância? É muito simples. Basta que você encontre o núcleo do sujeito. Lembre-se de que o núcleo do sujeito é o centro do sintagma nominal e é independente sintaticamente, ou seja, não vem regido por preposição. Nesse sentido, o núcleo do sujeito “a redução das alíquotas do IPI” só pode ser “redução”, por se tratar de uma palavra desse sintagma nominal que não é regida por preposição. Como o núcleo do sujeito está no singular, o verbo deve também estar no singular para, com ele, concordar em número e pessoa. Logo, estaria em desacordo com a norma-padrão escrever “A redução das alíquotas do IPI vinham sendo pleiteadas”. Observe ainda que, na locução verbal do exemplo, há um verbo na voz passiva analítica. O particípio verbal da voz passiva analítica é a única forma nominal dos verbos que varia quanto ao gênero, isto é, concorda com o gênero masculino ou feminino. Dessa forma, como o núcleo do sujeito, além de estar no singular é uma palavra do gênero feminino, a forma verbal no particípio deve concordar com o núcleo em número e gênero.
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ATENÇÃO!
Lembre-se de que também é possível elaborar orações com o particípio do verbo na voz ativa. Nesse caso, o verbo no particípio não varia quanto ao gênero nem ao número; ele permanece no masculino e singular. Veja os exemplos: n Maria Angélica e Andressa tinham lido a prova antes de todo mundo. (voz ativa) n As folhas do livro de História foram lidas pelas crianças do 8º andar. (voz passiva)
A05 Concordância verbal I
Uma dica que vale ouro! Quando tiver dúvida se uma oração está na voz ativa ou passiva, para fazer a concordância adequada com o verbo no particípio, atente-se para o verbo auxiliar. Na voz ativa, os verbos auxiliares do particípio são os verbos TER e HAVER. Na voz passiva, os verbos auxiliares do particípio são os verbos SER, ESTAR e FICAR.
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Sujeito composto Como pudemos ver, o verbo concorda em número e pessoa com o núcleo do sujeito. No entanto, há orações em que o sujeito possui dois núcleos. Veja os exemplos: Água, passagem de ônibus e luz custarão mais caro no mês que vem. Note que, mesmo com um sujeito constituído somente por termos no singular, o verbo da oração concorda no plural. Isso acontece porque trata-se de um sujeito composto que possui três núcleos, o que faz com que o verbo esteja no plural. Sujeito composto posposto ao verbo Quando o sujeito composto vier posposto ao verbo, este pode concordar tanto no singular, isto é, concordando com o núcleo mais próximo, quanto no plural. Veja: n n
Custarão mais caro água, passagem e luz no mês que vem. Custará mais caro água, passagem e luz no mês que vem.
Sujeito pronominal Quando o sujeito composto for constituído por pronomes de diferentes pessoas, o verbo deve fazer o seguinte tipo de concordância: { eu + tu + ele } → verbo na 1ª pessoa do plural { eu + tu } → verbo na 1ª pessoa do plural { eu + ele } → verbo na 1ª pessoa do plural { tu + ele } → verbo na 2ª pessoa do plural { ele + ela } → verbo na 3ª pessoa do plural Note que a lógica por trás dessa concordância é uma hierarquia pronominal. Sempre o pronome mais próximo à primeira pessoa é o detentor da concordância. Sujeito composto por núcleos sinônimos Quando os núcleos de um sujeito composto são palavras sinonímicas, o verbo pode concordar tanto no singular quanto no plural. Veja: n n
A angústia e a ansiedade não o ajudavam a se concentrar. A angústia e a ansiedade não o ajudava a se concentrar.
Sujeito composto com aposto resumidor Quando o sujeito composto de uma oração for recapitulado por um aposto resumidor, o verbo sempre concorda com o aposto resumidor. Veja: n n
Lutar, trabalhar, amar e odiar, tudo vale a pena nesta vida. Os pedidos, as súplicas, o desespero, nada o comoveu.
Sujeito composto ligado por séries correlativas A05 Concordância verbal I
Quando o sujeito composto for ligado pelas séries correlativas: um e outro, nem um nem outro, tanto como, assim como, não só, mas também etc., a norma-padrão recomenda o uso do verbo no plural, embora a concordância no singular também seja aceita por muitos gramáticos. Veja: n n
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Tanto a mãe quanto a filha ficaram surpresas com a notícia. (ficou surpresa) Não só a incompetência, mas também a preguiça, o atrapalhavam. (atrapalhava)
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Sujeito composto ligado pela conjunção “ou” A conjunção “ou” intraoracional, isto é, quando está dentro de um sintagma nominal, pode promover a inclusão entre os termos que relaciona ou uma exclusão. Quando seu valor for inclusivo, o verbo deve concordar no plural; quando seu valor for excludente, o verbo deve concordar no singular. Veja: n n
Pedro ou Antônio receberá o primeiro prêmio. (exclusão) A poluição sonora ou a poluição do ar são nocivas ao homem. (inclusão)
Sujeito composto ligado pela preposição “com” Quando o sujeito composto for constituído por dois núcleos e o segundo for iniciado pela preposição “com”, quando houver separação por vírgulas, o verbo deve concordar no singular. Quando não houver separação por vírgulas, o verbo deve concordar no plural. Veja: n n n n
O aluno com o mestre saíram da sala. Eu com a moça fomos ao cinema. O aluno, com o mestre, saiu da sala. Eu, com a moça, fui ao cinema.
Exercícios de Fixação
Para que Literatura? Nesta época de tanta ciência e tecnologia, para que publicar textos de Literatura? Quem por eles se interessaria? Os pobres, que constituem a maioria em nosso País, absorvidos pela própria sobrevivência, talvez nem saibam que existe Literatura, embora boa parte dos grandes escritores tenham surgido de famílias pobres. Parece que o sofrimento nutre as Artes. As perguntas sobre os grandes temas da vida humana se tecem nos poemas e nas obras de ficção. A Literatura, já o disse de outra maneira Roland Barthes, não responde às perguntas, fechando-as; porque as amplia, multiplica suas respostas. Não pretende atingir nenhuma “verdade”; pretende abrir nossa mente para as inúmeras percepções de mundo, que existem nos universos mentais das pessoas. Mas do que precisamos, dizem os homens práticos, é de soluções, de respostas, de expedientes úteis, de resolver os problemas da cidade e do campo. Então, para que Literatura? Para levantar questões fundamentais, abrir nosso mundo pequenino, feito de minúsculos fatos do dia a dia, ao grande painel da reflexão humana. Vivemos em Lorena, mas podemos transitar em Londres, Paris, Estados Unidos, Rússia, Antártida, Terra do Fogo, Noruega, Índia, no planeta Marte, nas Galáxias infinitas, enfim, no Cosmos. Sem perder o pé na realidade. A leitura é o meio que temos de conviver com valores e ideias de outros universos, no espaço e no tempo, inacessíveis, de outro modo, à experiência humana. (...) Por que não Literatura? Por que não Poesia? A poesia é
o que criamos de mais próximo do núcleo da realidade e do ser. Parecendo etérea e desvinculada de nossas metas pragmáticas, a poesia, no entanto, nos dá o mundo em lágrimas e em risos, em vida e morte, em angústia e esperança, o mundo em dimensão de humano. O poema recupera o ritmo das coisas, capta o alento e a respiração do todo, e os exprime em “palavras-coisas” essenciais. Por vezes, a poesia invade nossa vida sob a forma de uma criança, um palhaço, um bêbado, um louco. Sob a forma de uma flor, de bicho, de árvore, de fogo, de beleza, enfim. Se isso acontecer, se formos capazes de reconhecer o rosto de nossa irmã-poesia nos pequenos ou breves encontros com as coisas, então estamos salvos do tédio e do desespero. Cada um de nós, enquanto se torna receptivo aos grandes temas da Literatura – o amor e a morte, a liberdade e o destino, o absurdo e o racional, a iniquidade e a justiça, a angústia e o medo, o desespero e a esperança, a beleza e o grotesco –, poderá encontrar em si o diálogo com as profundezas do ser e o silêncio diante do mistério. Para que Literatura? Para termos o direito ao sonho e a garantia da realidade. (Olga de Sá. Introdução a Contos de cidadezinha, de Ruth Guimarães. Centro Cultural Teresa d’Ávila, 1996).
A observação da concordância verbal e nominal atualizada no texto nos permite afirmar o seguinte: a) No trecho: Cada um de nós poderá encontrar em si o diálogo com as profundezas do ser, o verbo sublinhado também poderia estar na primeira pessoa do plural concordando com o pronome ‘nós’.
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A05 Concordância verbal I
01. (UFAL)
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b) No trecho: Qual dos alunos não se interessariam pela Literatura?, o verbo sublinhado está flexionado corretamente, pois concorda com o sujeito ‘alunos’. c) No trecho: Nenhum dos alunos deixou de aderir ao Projeto de Literatura promovido pela escola, o verbo sublinhado está no singular concordando com o núcleo do sujeito, que é o indefinido ‘nenhum’. d) No trecho: Nos dá o mundo em lágrimas e em risos, em vida e morte a Literatura e a Arte em geral, o verbo sublinhado somente pode estar no plural para concordar com o sujeito posposto também plural. e) No trecho: Podem haver inúmeras percepções de mundo nos universos mentais das pessoas, o correto é deixar a locução verbal no plural; nada justificaria o singular. 02. (Unifor CE) A mensagem abaixo, postada no Twitter de um apresentador de TV, está com problemas ortográficos e gramaticais:
I. II. III. IV.
Algumas palavras estão sem o acento gráfico e outras com letra a menos. O verbo existir não é impessoal e deveria estar no plural. Antes da palavra séculos deveria estar o verbo haver na 3ª pessoa do singular (há) em vez da preposição a. O verbo ver não deveria estar no infinitivo, mas na terceira pessoa do singular do presente do indicativo.
Marque a opção que corresponde às alternativas VERDADEIRAS: a) I, II e III b) II e IV c) II, III e IV d) I, II, III, IV e) I e III 03. (Uespi PI)
A05 Concordância verbal I
O que é escrita? Se houve um tempo em que era comum a existência de comunidades ágrafas, se houve um tempo em que a escrita era de difícil acesso ou uma atividade destinada a poucos privilegiados, na atualidade, a escrita faz parte da nossa vida cotidiana, seja porque somos constantemente solicitados a produzir textos escritos (bilhete, e-mail, listas de compras etc.), seja porque somos solicitados a ler textos escritos em diversas situações do dia a dia (placas, letreiros, anúncios, embalagens, e-mail, etc., etc.).
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Alguém afirmou que “hoje a escrita não é mais domínio exclusivo dos escrivães e dos eruditos. [...] A prática da escrita, de fato, se generalizou: além dos trabalhos escolares ou eruditos, é utilizada para o trabalho, a comunicação, a gestão da vida pessoal e doméstica”. Que a escrita é onipresente em nossa vida já o sabemos. Mas, afinal, “o que é escrita?” Responder a essa questão é uma tarefa difícil porque a atividade de escrita envolve aspectos de natureza variada (linguística, cognitiva, pragmática, sócio-histórica e cultural). Como é de nosso conhecimento, há muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas, que nos propiciam diferentes modos de responder a questão em foco. Basta pensarmos, por exemplo, nas investigações existentes, segundo as quais a escrita ao longo do tempo foi e vem-se constituindo como um produto sócio-histórico-cultural, em diferentes suportes (livros, jornais, revistas) e demandando diferentes modos de leitura. Basta pensarmos no modo pelo qual ocorre o processo de aquisição da escrita. Basta pensarmos no modo pelo qual a escrita é concebida como uma atividade cuja realização demanda a ativação de conhecimento e o uso de várias estratégias no curso mesmo da produção do texto. Apesar da complexidade que envolve a questão não é raro, quer em sala de aula, quer em outras situações do dia a dia, nos depararmos com definições de escrita, tais como: “escrita é inspiração”; “escrita é uma atividade para alguns poucos privilegiados (aqueles que nascem com esse dom e se transformam em escritores renomados)”; “escrita é expressão do pensamento” no papel ou em outro suporte; “escrita é domínio de regras da língua”; “escrita é trabalho” que requer a utilização de diversas estratégias da parte do produtor. Essa pluralidade de resposta nos faz pensar que o modo pelo qual concebemos a escrita não se encontra dissociado do modo pelo qual entendemos a linguagem, o texto e o sujeito que escreve. Em outras palavras, subjaz uma concepção de linguagem, de texto e de sujeito escritor ao modo pelo qual entendemos, praticamos e ensinamos a escrita, ainda que não tenhamos consciência disso. (Ingedore Villaça Koch. Vanda Maria Elias. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Editora Contexto, 2009. p. 31-32. Adaptado.)
Repare na concordância dos verbos em: “Como é de nosso conhecimento, há muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas”. Identifique a alternativa em que a concordância do verbo ‘haver’ também está correta. a) Como é de nosso conhecimento, devem haver muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas. b) Como é de nosso conhecimento, haviam muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas. c) Como é de nosso conhecimento, houveram muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas. d) Como é de nosso conhecimento, estudos sobre a escrita haviam sido feitos se a perspectiva fosse outra. e) Como é de nosso conhecimento, hão de haver muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas bem estruturada.
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Exercícios C om p l em en t ares
Os segmentos frasais do texto de Machado de Assis - ... suponhamos... / Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe... /. – estão corretamente alterados, de acordo com o contexto e com a norma culta, em: a) ... imaginemos... / Nasceram esses africanos, cresceu, foi vendido; um navio os trouxe... b) ... imaginamos... / Nasceram esses africanos, cresceram, foi vendido; um navio o trouxe... c) ... imaginemos... / Nasceu esses africanos, cresceram, foram vendidos; um navio o trouxe... / d) ... imaginamos... / Nasceu esse africano, cresceram, foram vendidos; um navio o trouxe... / e) ... imaginemos... / Nasceram esses africanos, cresceram, foram vendidos; um navio os trouxe... / 02. (Puc Campinas SP) A frase em que a palavra destacada está empregada em conformidade com o padrão culto escrito é: a) O rapaz é a maior vítima nessa história toda. b) Ontem à noite, recompomos toda a descrição que havíamos feito dos fatos, para ver o que poderia ter provocado o mal-entendido. c) Esperamos que ele não continui a se mostrar insensível ao problema da moça. d) Se esse novato antever alguma possibilidade de fazer parte da seleção, fará tudo para merecer a convocação. e) Queria no jardim a Branca de Neve e os sete anãozinhos.
b) As leis trabalhistas conseguirão terminar com o trabalho escravo? c) Violaram a legislação trabalhista marcas internacionais de roupa. d) Existem anomalias em algumas de nossas atividades econômicas. e) A maioria das confecções de São Paulo explora o trabalhador imigrante. 04. (UFGD MS) Considere as normas da Língua Portuguesa padrão e assinale a alternativa em que NÃO ocorre inadequação. a) Na sala, naquele momento, haviam cinco executivos e uma secretária. b) Durante a reunião da diretoria, o presidente solicitou que se analisasse todos os documentos com atenção. c) Quando os funcionários chegaram a seus locais de trabalho, ainda não eram 8h. d) O presidente e os demais membros de diretoria nunca desentenderam-se. e) A sala a qual estavam os membros da diretoria permaneceu fechada por duas horas. 05. (Uncisal AL) Assinale a opção cujo período não viola a concordância verbal. a) O Centro Espacial teve sua área reduzida de 14 mil para 9,3 mil hectares, quando o ideal seria 20 mil hectares, no mínimo. b) O ministro homenageou seus antecessores com o cuidado de fazer desaparecerem os erros que cometeram. c) As megacidades são ideais para pesquisadores investigarem os impactos das atividades socioeconômicas, assim como identificar soluções para os problemas mais graves. d) A mudança gera polêmica. É contra ela, por exemplo, aqueles que costumam pontuar bem, mas não andam o suficiente para vencer as provas. e) O objetivo dessa exposição é mostrar a possibilidade de se fazer documentários, animações, videoclipes. 06. (Unifacs BA) Como fisgar uma vaga / De olho nas redes sociais
A05 Concordância verbal I
01. (Fameca SP) Leia o trecho, extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca o princípio universal, repartido e resumido em cada homem. Olha: a guerra, que parece uma calamidade, é uma operação conveniente, como se disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome (... ele chupava filosoficamente a asa do frango) eu não quero outro documento da sublimidade do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu-se do milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de Angola. Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um navio construído de madeira cortada no mato por dez ou doze homens, levado por velas, que oito ou dez homens teceram (...) Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão de esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu apetite.
03. (Unisa SP) Assinale a alternativa em que o verbo pode ser usado tanto no singular como no plural. a) Cativeiro, trabalho escravo, violação de leis, tudo depõe contra as confecções.
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escolha de
a uma série de normas. Daí surgiram xerocar, xerocopiar, xero-
trainees não deixa espaço para deslizes dos 03 candidatos. As empresas esperam dos jovens talentos, 04 segundo Adriana Ro-
grafar, enfim, nasceu uma constelação de palavras dentro do
01
A concorrência acirrada nos processos para a
02
ggieri, do Grupo Foco, bom senso 05 para se vestir, interesse pela empresa, autocontrole, 06 participação comedida e comportamento adequado. Uma pesquisa mundial, feita pela empresa de 08 recrutamento Robert Half, mostrou que muitos gestores 09 olham o perfil de
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seus candidatos nas redes sociais, 10 como Facebook e Twitter. E a maioria deles diz que, 11 quando encontram algo que consideram de mau gosto,
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isso pode prejudicar a avaliação
de um profissional com 13 um bom currículo. 14 Não há nada de anormal em publicar, nas redes, 15 fotos informais, de viagens ou com amigos. As imagens 16 em que a pessoa aparece em trajes de banho, por 17 exemplo, ou alcoolizada, são imperdoáveis. Opiniões controversas ou preconceituosas são de 19 péssimo tom. Também pegam muito mal as críticas à 20 empresa ou ao ambiente corporativo. Reclamações 21 como “Não vejo a hora de chegar sexta-feira!” 22 demonstram desinteresse, dentre outras. E, seja qual 23 for o conteúdo, erros de ortografia sempre depõem contra 24 o candidato. 18
MACEDO, Daniela; SANDOVAL, Gabriela. Como fisgar uma vaga/ De olho nas redes sociais. Veja, São Paulo: Abril, ed. 2231, ano 44, n. 24, p. 128, 24 ago. 2011. Guia Veja. Adaptado.
A05 Concordância verbal I
Jornalista. Então esse processo não é ruim? Bechara. É até enriquecedor, pois incorpora palavras. Não há língua que tenha seu léxico livre dos estrangeirismos. A língua que mais os recebe, curiosamente, é o inglês, por ser um idioma voltado para o mundo. Hoje, fala-se “delivery”, mas poderíamos dizer “entrega a domicílio”. E há quem diga que o correto é “entrega em domicílio”. Será? Na dúvida, há quem fique com o “delivery”. A palavra inglesa delivery não chegou a entrar nos sistemas da nossa língua, pois dela não resultam outras palavras. Apenas entrou no vocabulário do dia a dia no contexto dos alimentos. Agora deram de falar que “entrega em domicílio” é melhor do que “entrega a domicílio”. Não sei de onde isso saiu, porque o verbo entregar normalmente se constrói com a preposição a. Fulano entregou a alma a Deus. De qualquer modo, a língua se enriquece quando você tem dois modos de dizer a mesma coisa. Jornalista. E por que usar “delivery”, se temos uma expressão própria em português? Não é mais um badulaque desnecessário? Bechara. Não sei se é badulaque, o fato é que a língua, que
Em relação aos recursos linguísticos usados no texto, está correto o que se afirma em 01. O articulador “pela”, nos contextos “interesse pela em-
não tem vida independente, também admite modismos, além
presa” (Ref. 5) e “feita pela empresa” (Ref. 7), exerce a mesma função. 02. A forma verbal “diz” (Ref. 10) está no singular, concordando com a expressão partitiva presente no sujeito da oração,
por termos nossos. Foi o que aconteceu com a terminologia
mas poderia aparecer no plural, concordando com o complemento dessa expressão, que está no plural. 03. Os vocábulos “mau” (Ref. 11), “bom” (Ref. 13) e “mal” (Ref. 19) pertencem à mesma classe de palavras. 04. Os termos “anormal” (Ref. 14) e “desinteresse” (Ref. 22) são derivados formados por diferentes processos. 05. A expressão “seja qual for” (Ref. 22-23) expressa o descaso dos gestores pelos conteúdos postados na rede. 07. (UFAL) Entrevista com Evanildo Bechara Jornalista. É fato que o português está sendo invadido por expressões inglesas ou americanizadas – como background, playground, delivery, fastfood, dowload... Isso o preocupa? Bechara. Não. É preciso diferenciar língua e cultura. O sistema da língua não sofre nada com a introdução de termos estrangeiros. Pelo contrário, quando esses termos entram no sistema têm de se submeter às regras de funcionamento da língua, no caso, o português. Um exemplo: nós recebemos a palavra xerox. Ao entrar na língua, ela acabou por se submeter 616
sistema da língua portuguesa.
de refletir todas as qualidades e os defeitos do povo que a fala. Estrangeirismos aparecem, somem e podem ser substituídos clássica e introdutória do futebol no Brasil, quando se falava em goalkeeper, off side e corner. Com a passar do tempo, e sem nenhuma atitude controladora, os termos estrangeiros do futebol foram dando lugar a expressões feitas no Brasil, como goleiro, impedimento, escanteio. (Entrevista de Evanildo Bechara. Disponível em http.//www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=. Acesso em 30 de março de 2008. Adaptado).
As normas da concordância verbal e nominal são prestigiadas socialmente quanto ao desempenho comunicativo das pessoas. Segundo tais normas, a alternativa inteiramente correta é: a) Nasceu várias palavras derivadas de outras estrangeiras que entraram na língua. b) Nenhuma das diferentes línguas conseguiu livrar-se completamente do fenômeno dos estrangeirismos. c) Cada uma das diferentes palavras importadas de outras línguas entraram no sistema lexical da língua. d) Não haviam, no começo do século passado, línguas que não tenha tido seu léxico enriquecido com palavras estrangeiras. e) Podem haver estrangeirismos que não afetem a estrutura do sistema lexical da língua.
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PORTUGUÊS
MÓDULO A06
CONCORDÂNCIA VERBAL II Na aula anterior, nós estudamos os aspectos gerais da concordância verbal. Aprendemos que o verbo concorda com o núcleo do sujeito de uma oração em número e pessoa. Nesta aula, nós estudaremos casos especiais de concordância verbal.
Casos especiais de concordância verbal
ASSUNTOS ABORDADOS n Concordância verbal II n Casos especiais de concordância verbal n Verbo “SER” n Verbo “HAVER” n Infinitivo pessoal
Sujeito é um nome próprio no plural Quando o sujeito de uma oração é um nome próprio no plural, o verbo da oração concorda desta maneira: n n
Singular: quando o nome próprio não é acompanhado por artigo, ou quando o artigo que o acompanha está no singular. Plural: quando o nome próprio é acompanhado por artigo no plural.
Veja os exemplos: n n n
Estados Unidos aumenta taxa de juros. (sem artigo) O Amazonas nasce nos Andes. (artigo no singular) Os Estados Unidos aumentam taxa de juros. (artigo no plural)
Sujeito é um substantivo coletivo Quando o sujeito for formado por uma palavra ou expressão de valor coletivo (multidão, grupo, bando etc.) ou partitivo (parte, metade, a maioria, a maior parte, grande parte), seguida de um substantivo ou pronome no plural, o verbo deverá ficar na terceira pessoa do singular. No entanto, se tais palavras vierem seguidas de determinante no plural, o verbo poderá ficar tanto no singular como no plural. Veja a seguir: n n n n
Metade não apresentou nenhuma proposta interessante. Uma multidão aplaudiu os artistas. Metade dos candidatos não apresentou (apresentaram) nenhuma proposta interessante. Uma multidão de fãs aplaudiu (aplaudiram) os artistas.
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Sujeito é um numeral percentual Quando o sujeito for representado por um numeral percentual sem determinante, o verbo deverá concordar com o numeral percentual. Caso este venha acompanhado de determinante, o verbo poderá concordar com o numeral ou com o determinante. n n n n
Um por cento (1%) compareceu à prova. Vinte por cento (20%) ficaram desabrigados. Um por cento dos candidatos compareceu (compareceram) à prova. Vinte por cento da população ficou (ficaram) desabrigada(os).
Verbo “SER” A concordância do verbo “ser” é absolutamente particular, rica em detalhes. Em várias situações, esse verbo deixa de concordar com o sujeito para concordar com o predicativo. Essa flexão ocorre de acordo com o termo que se queira enfatizar e obedece a uma certa hierarquia. Observe: n
Quando for colocado entre um pronome pessoal e um substantivo comum ou próprio, o verbo “ser” concordará com o pronome pessoal. Exemplos: n Tu és o culpado. n O professor sou eu.
n
Quando colocado entre um nome próprio e um comum, o verbo “ser” concordará com o nome próprio. Exemplos: n Paula é as esperanças de uma medalha. n Marcos era só aflições e desespero.
n
Quando colocado entre um substantivo comum no singular e outro no plural, o verbo “ser” irá para o plural, independentemente da ordem dos substantivos. Exemplos: n A cama são algumas tábuas retorcidas. n O sofá eram jornais velhos.
n
Quando colocado entre um substantivo e um pronome que não seja pessoaI, o verbo “ser” tenderá a concordar com o substantivo. No entanto, quando o pronome é um termo vago ou genérico (tudo, nada, isto, isso, aquilo etc.), pode-se concordar tanto com esses pronomes como com o substantivo. Exemplos: n Quem são os escolhidos? n Na vida, nem tudo são (é) flores. n Aquilo eram (era) fofocas.
Verbo “HAVER” O verbo “haver”, quando sinônimo dos verbos “existir”, “ocorrer” ou “acontecer”, é impessoal. Isso significa que o verbo não possui um sujeito com o qual possa concordar em número e pessoa. Desse modo, a concordância desse verbo impessoal sempre se dá na terceira pessoal do singular. Exemplos: n A06 Concordância verbal II
n
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Há várias perguntas sem resposta. Nunca houve tantos interessados neste cargo.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Infinitivo pessoal A forma flexionada deve ser usada obrigatoriamente quando se tem um sujeito diferente do sujeito da oração anterior: n n n
(Eu) Suponho serem eles os responsáveis. (Eu) Lembrei-me da recomendação médica de (tu) tomares sol todas as manhãs. (Nós) Ouvimos (eles) gritarem seu nome.
A flexão do infinitivo é optativa quando a oração reduzida que complementa um auxiliar causativo ou sensitivo apresenta como sujeito um substantivo. Observe: n n n
Mande os meninos entrarem. (ou entrar) Ouvi os pássaros cantarem. (ou cantar) Deixe os torcedores assistirem (ou assistir) ao treino.
SAIBA MAIS Quando o infinitivo é empregado numa oração reduzida que complementa um verbo que tem como sujeito um pronome oblíquo, emprega-se o infinitivo impessoal: n Mande-os entrar.
n Não os ouvi cantar.
n Deixe-os assistir ao treino.
Quando o sujeito da oração reduzida no infinitivo for o mesmo da oração anterior, a flexão do infinitivo é desnecessária. Observe: n n
Eles irão a Brasília para apresentar sua proposta ao presidente. (Nós) Fizemos o possível e o impossível para aceitar sua indicação. Exercícios de Fixação
01. (UFPE) No Brasil existem aproximadamente 16 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever ao menos um simples bilhete. Considerando-se o conceito de “analfabeto funcional”, que inclui as pessoas com menos de quatro séries de estudo concluídas, o número salta para 33 milhões
02. (UPE PE) Uma geração descobre o prazer de ler Ler obras juvenis ou best-sellers é apenas o começo de uma longa e produtiva convivência com os livros. Essa é a lição que anima os jovens a se aventurarem na boa literatura atual e nos clássicos. Bruno Méier
Em janeiro, a universitária Iris Figueiredo, de 18 anos, anunciou em seu blog a intenção de organizar encontros para discutir clássicos da literatura. A ideia era reunir jovens que estavam cansados de ler as séries de ficção que lideram as vendas nas livrarias e passar a ler obras de grandes autores. Trinta respostas chegaram rapidamente. No mês seguinte, o evento notável de Iris começou: vinte adolescentes procuraram uma sombra no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – cada um com seu exemplar de Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, debaixo do braço – e sentaram-se para conversar. Durante duas horas, leram os trechos de sua preferência, analisaram a influência da autora sobre escritores contemporâneos (descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding) e destrincharam os dilemas pelos quais passaram a vivaz Elizabeth Bennett e o arrogante Mr. Darcy, os protagonistas do romance. 2 Iris se entusiasma ao falar do sucesso de suas reuniões – que já abordaram títulos como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, 1984, de George Orwell, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Desde pequena, ela é boa leitora. Mas foi só ao descobrir a série Harry Potter que se apaixonou pela leitura e a transformou em parte central de seu dia a
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Por isso mesmo ele foi publicado. Tendo em conta o caráter público do texto, podemos considerar como adequadas as opções de concordância verbal adotadas. Também, em um mesmo contexto de interação, seriam adequadas as formulações dos seguintes enunciados. 00. Mais de um brasileiro jovem detém a prerrogativa de saber ler, embora muitos deles tenham tido essa prerrogativa garantida apenas tardiamente. 01. Cada um dos brasileiros alfabetizados podem contribuir para erradicar o analfabetismo no Brasil. Não falta oportunidades para isso. 02. Quais de nós não experimentamos a precariedade do ensino, no que concerne às experiências de leitura? 03. Nenhum dos princípios teóricos atuais defendem uma leitura em que autor e leitor não interajam entre si. 04. Qual de vocês não está convencido da multiplicidade de funções atribuídas à leitura de textos literários? Essas funções haviam sido definidas anteriormente.
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A06 Concordância verbal II
1
P ortug uê s
dia. Quando a saga do bruxinho virou mania entre as crianças e os adolescentes, uma década atrás, vários céticos apressaram-se em decretar que esse seria um fenômeno de resultados nulos. Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Potter só formaria mais leitores de Harry Potter – os livros da inglesa J. K. Rowling seriam incapazes de conduzir a outras leituras e propiciar a evolução desses iniciantes. Jovens como Iris desmentem essa tese de forma cabal. Ler é prazer. E, uma vez que se prova desse deleite, ele é mais e mais desejado. Basta um pequeno empurrãozinho – como o que a universitária ofereceu por meio do convite em seu blog – para que o leitor potencial deslanche e, guiado por sua curiosidade, se aventure pelos caminhos infinitos que, em 3 000 anos de criação literária, incontáveis autores foram abrindo para seus pares. (...) Revista Veja, edição 2217, 18 de maio de 2011, p. 98-108. (com adaptações)
A06 Concordância verbal II
Sobre as relações de concordância verbo-nominal no texto, e considerando o que prescreve a norma-padrão do português, leia as seguintes considerações: I. No fragmento “Ler obras juvenis ou best-sellers é apenas o começo” (subtítulo), o padrão de concordância verbal respeita a prescrição da gramática normativa em relação aos núcleos do sujeito unidos pela conjunção “ou”, indicativa de exclusão. II. O padrão de concordância verbal pode auxiliar na identificação do responsável pela ação verbal em casos de sujeito elíptico, como no trecho “descobriram, por exemplo, que certas frases do romance foram emuladas em diálogos da série O Diário de Bridget Jones [...]” (1º parágrafo). III. Conforme a prescrição gramatical, no trecho “e destrincharam os dilemas pelos quais passaram a vivaz Elizabeth Bennett e o arrogante Mr. Darcy” (1º parágrafo), a forma verbal sublinhada admite, também, a forma singular. IV. No trecho “Com o eminente crítico americano Harold Bloom à frente, argumentavam que Harry Potter [...]” (2º parágrafo), a flexão de terceira pessoa do plural é admitida, tendo em vista um sujeito que não se conhece ou não se quer declarar. V. Na estrutura “E, uma vez que se prova desse deleite, ele é mais e mais desejado” (2º parágrafo), a forma verbal destacada obedece à gramática padrão, que preconiza a harmonia sintática entre verbo e sujeito apassivado (desse deleite). Estão CORRETAS a) I e II. b) I, II e V. c) II e III. d) III e IV. e) III, IV e V.
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03. (Acafe SC) Estados Unidos apoiam ascensão do Brasil no cenário internacional 19/03/2011 Wellton Máximo
Os Estados Unidos não apenas reconhecem a ascensão do Brasil como apoiam a inserção cada vez maior do país no cenário internacional, disse hoje (19) o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O líder norte-americano, no entanto, não expressou apoio explícito à pretensão do Brasil de assumir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). “Continuamos a trabalhar com Brasil para que reformas permitam tornar o Conselho de Segurança um órgão mais eficiente e eficaz”, limitou-se a dizer o presidente dos Estados Unidos. Ele afirmou ainda que o Brasil é um dos países líderes nas iniciativas para a governança aberta e transparente das Nações Unidas. Apesar da cautela em relação à ampliação do Conselho de Segurança, Obama citou avanços na política externa brasileira. No discurso no salão leste do Palácio do Planalto, ele ressaltou as recentes reformas que fortaleceram a posição brasileira nos organismos multilaterais, como o G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo. “Os Estados Unidos não apenas reconhecem a emergência do Brasil, como apoiam essa emergência. Por isso, transformamos o G20 no principal fórum econômico para que o Brasil tenha voz mais potente”, afirmou Obama. Em relação à segurança, o presidente norte americano mencionou o trabalho conjunto dos dois países para enfrentar a crise humanitária no Haiti, as parcerias para combate ao tráfico de drogas e anunciou a criação de um centro conjunto de segurança nuclear. Obama destacou a assinatura de acordos nas áreas de ciência e tecnologia, comércio e intercâmbio acadêmico. Segundo ele, essas parcerias resultarão em oportunidades para os dois países: “Lançamos bases para uma cooperação que durará décadas”. Disponível em:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-03-19/estadosunidos-apoiam-ascensao-do-brasil-no-cenario-internacionaldiz-obama. Acesso em: 16-04-2011. [Adaptado].
Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal. a) Também há registro de trânsito lento em Vargem Pequena, pois no trecho está sendo feito obras de alargamento de pista. b) Para que não deem munição à oposição, os parlamentares que apoiam o governo foram orientados a passar longe dos microfones da imprensa nos próximos dias. c) A presença de tantas telas de ficção em nossas telas não nos devem levar a pensar que possamos transformar nossa vida diária em uma fantasia. d) Ainda que só venha a restar da nossa época algumas boas lembranças, elas servirão de referência para dar sustentação à educação de nossos filhos.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Exercícios C om p l em en t ares
A retomada da tabuleta 1 O tablet mudou de gênero, mas no essencial é a antiga tabuleta romana, 2 do latim tabula, espécie de lousa portátil em que os alunos escreviam com um 3 estilo, do latim stilus, haste de ferro, osso ou outro material. A extremidade 4 pontiaguda era usada para escrever em tábuas enceradas. A outra ponta, 5 larga e chata, para corrigir o que se escrevia. 6 Esse sentido denotativo migrou para o conotativo e “estilo” passou a 7 designar o modo de expressar as ideias, com marcas individuais, revelando 8 as qualidades do texto composto: quem usava muitas palavras, tinha estilo 9 prolixo; se usasse só as necessárias, tinha estilo conciso. 10 Portanto, tablet e “estilo” são inventos antigos, o que mudou foi o modo de 11 utilização. O conceito permanece. Deu-se algo semelhante com um dos que 12 mais usa o tablet hoje em dia, o aluno. “Aluno” veio do latim alumnus, do 13 mesmo étimo do verbo alere (alimentar), aquele que era alimentado e 14 educado pela família ou por pais adotivos. O aluno, com tabuleta no colo e 15 estilo nas mãos, aprendia no intervalo dos trabalhos, com professores, 16 instrutores, colegas. Esse intervalo era chamado schola, origem do português 17 “escola”, que Roma trouxera do grego skholé (descanso, tempo livre). A 18 escola é um intervalo ainda hoje para milhões de alunos, para os quais o 19 principal é trabalhar para angariar os recursos com os quais pagam as 20 instituições de ensino. 21 Depois do latim tabula veio o francês antigo tablete, hoje tablette (caderno), 22 origem recente do inglês tablet. O inglês é ecumênico, aceita palavras de 23 todas as línguas e, com o sentido de objeto para se escrever, tablet aparece 24 já no século 14, adaptado do francês antigo tablete. O étimo remoto no 25 francês é table, mesa. Entre os séculos 16 e 19, tablet deixou de designar só 26 superfície plana e passou a significar algo prensado, como drágeas, 27 comprimidos e bombons, que não fossem redondos, mas quadrados ou em 28 forma de losango. 29 Pois o tablet está sendo a mais recente atração com que escolas e 30 universidades buscam atrair o aluno interessado em educar-se. É um recurso 31 novo no processo de ensino por trazer ementas, planos de ensino etc. 32 Representa uma forma rápida e segura de o aluno verificar se o professor 33 segue os planos de ensino, atendo-se à bibliografia, cumprindo prazos etc. 34 Em resumo, chegou uma ferramenta que pode tornar-se poderoso recurso 35 na qualidade do ensino. SILVA, Dionísio. A retomada da tabuleta. Revista Língua Portuguesa, ano 7, nº. 76, p. 43, fev. 2012.
Quanto à concordância verbal, assinale a alternativa CORRETA. a) Foi transformado a tabuleta em uma lousa digital. b) Era usado uma haste de ferro ou osso para escrever e apagar.
c) Desenvolveram-se muitas ferramentas para auxiliar na tarefa de ensinar e aprender. d) No futuro, haverão ainda muitos outros equipamentos modernos que facilitarão as tarefas humanas. e) Livros e cadernos tem ainda grande utilidade no processo ensino-aprendizagem. 02. (Unifev SP) A frase está construída de acordo com as normas gramaticais quanto à concordância verbal/nominal em: a) Demanda por vagas e médicos também vão nortear a ampliação de cursos já existente. b) Os ministérios da Educação e da Saúde, com um grupo de especialistas, deve definir estímulos para que hospitais e faculdades sintam-se atraído. c) Notícias de possíveis bebês clonados esquenta o debate sobre os riscos e promessas da genética. d) De acordo com o censo da educação superior de 2011, haviam 108 033 alunos matriculados na graduação de medicina. e) Cada edital deve listar as cidades onde existem demanda por vagas e estrutura para receber os alunos. 03. (UEAM) Instrução: Leia o texto de Fábio Reynol, publicado em 2008. Lixo é problema diretamente ligado à riqueza e ao consumo Mais da metade da produção mundial de lixo urbano pertence aos cidadãos dos países desenvolvidos. A cada ano, 2,5 bilhões de fraldas são descartadas pelos britânicos, 30 milhões de câmeras fotográficas descartáveis vão para os lixos japoneses e 183 milhões de lâminas de barbear, 350 milhões de latas de spray e 2,7 bilhões de pilhas e baterias são destinadas aos lixões norte-americanos. A organização indiana Centre for Science and Environment (CSE), que levantou esses dados, chegou à conclusão de que os países ricos são melhores produtores de lixo do que propriamente de bens de consumo. Os números também revelam uma faceta do sistema produtivo moderno: quanto mais abastada, mais lixo a nação produz. O ambientalista Alan Thein Durning, diretor da Norwest Environment Watch, uma ONG norte-americana, associou o consumo crescente das nações ricas aos principais problemas ambientais do planeta. Durning dividiu o mundo em três grupos de consumo, de acordo com o impacto ambiental produzido por cada um. No topo da pirâmide, segundo o autor, está 1,1 bilhão de pessoas que andam de carro e avião, abusam dos produtos descartáveis e consomem muita comida embalada e processada. No meio, situa-se a maior parcela da população, com 3,3 bilhões de pessoas, que anda de ônibus ou bicicleta, vive de um consumo frugal e se alimenta de produtos e grãos produzidos localmente. Por fim, 1,1 bilhão de indivíduos que andam a pé e não têm aces-
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A06 Concordância verbal II
01. (IFSC)
P ortug uê s
so às condições mínimas para manter a própria saúde e vivem com uma dieta irrisória de grãos e sem água potável. Além da quantidade, a qualidade do lixo também pode identificar o grau de riqueza de seu produtor. O papel descartado, por exemplo, poderia ser um fiel indicador de desenvolvimento econômico de uma nação, segundo dados publicados pelo periódico britânico The Economist. Nos países de baixa renda, o papel responde por apenas 2% do lixo; nos de renda média, o percentual sobe para 14%; e nas nações ricas, os índices chegam a impressionantes 31%, quase um terço da montanha de lixo. Para o engenheiro sanitário Paulo Roberto Moraes, da UFBA, “interesses poderosos não deixaram que o Brasil tivesse até hoje uma política nacional de tratamento de resíduos sólidos. Os projetos de lei que abordaram a questão não foram adiante”, lamenta o engenheiro, para quem são necessárias mudanças educacionais e culturais em todos os níveis a fim de que o Brasil evolua nessa questão. (www.agsolve.com.br. Adaptado.)
Considerando a norma-padrão, assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal. a) Existe dados confiáveis sobre o tema fornecidos por diferentes organizações. b) Mudanças educacionais e culturais, segundo o engenheiro da UFBA, deve determinar o caminho para o Brasil evoluir na questão do lixo. c) A quantidade e a qualidade do lixo descartado revela o grau de riqueza do consumidor. d) As nações desenvolvidas mantém o primeiro lugar no ranking dos mais poluidores. e) Os problemas ambientais do planeta vêm se agravando pelo excesso de consumo. 04. (UEPG PR) “Um cão de pequeno porte vivia, em média, nove anos. Agora, atinge facilmente os quinze. Os de grande porte, que antes chegavam aos oito anos, hoje vivem mais de doze. No caso dos gatos, a expectativa de vida dobrou e os bichanos já vivem até vinte anos. A longevidade, como não poderia deixar de ser, traz seus problemas. Entre seis e oito anos, quando os cães passam a ser considerados idosos, e a partir dos dez, quando a terceira idade chega também para os felinos, eles se tornam mais propensos a desenvolver doenças como diabetes, insuficiência cardíaca, artrose e câncer. Para prevenir esses males ou fazer um diagnóstico precoce deles, já existe um arsenal de exames laboratoriais e de imagem específico para cães e gatos. Eles devem ser repetidos anualmente e compõem o que os veterinários chamam de check-up senil.” A06 Concordância verbal II
Adaptado de: Revista Veja de 6/7/2011, p.124, edição 2224 - ano 44 – nº 27.
Com relação à norma-padrão da língua portuguesa, assinale o que for correto. 01. Havia exames laboratoriais para cães e gatos. 02. Existiam vários tipos de exame. 04. Já fazia alguns anos que os diagnósticos eram realizados. 08. Se houvesse mais veterinários, os animais seriam mais bem atendidos. 622
05. (Acafe SC) Assinale a frase correta quanto à concordância verbal. a) Como faziam anos que meu marido tinha morrido, contratei três empregados que era suficiente para cuidar da fazenda. b) Compraram-se alguns equipamentos necessários à adequação da nossa indústria às atuais exigências de mercado. c) Talvez possam haver soluções melhores do que estas, mas nenhuma delas foram sugeridas até agora. d) Ainda não havia soado 11 horas da noite, quando bateu à porta: eram três meninos das redondezas. 06. (Acafe SC) Considerando a frase a seguir, de Millôr Fernandes, assinale a alternativa correta. “Fique certo de uma coisa, meu filho: se você mantiver seus princípios com firmeza, um dia lhe oferecerão excelentes oportunidades de abdicar deles.” a) A forma deles, que é uma combinação do artigo “de” com o pronome “eles”, exerce a função de complemento nominal do adjetivo “princípios”. b) O pronome lhe refere-se a “meu filho”, que é objeto direto do verbo “oferecerão”. c) Se a forma verbal mantiver for substituída pela por mantivesse, obrigatoriamente a forma verbal oferecerão seria substituída por ofereceriam. d) O período é composto por três orações. 07. (FGV SP) Considerando a norma-padrão quanto ao uso ou não do sinal indicativo de crase, à concordância nominal e verbal e à conjugação de verbo, assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente as lacunas. Vá _______ uma loja Olhares e saia de óculos _______ … Já _______ quase 90 anos trabalhando com os menores preços. Se você _______ outra oferta igual, o produto sai de graça. a) à … novo … são … ver b) a … novos … é … ver c) a … novos … são … vir d) à … novo … são … vir e) a … novo … é … vir 08. (Ibmec SP)
(Jornal do Brasil, 01/04/1990)
O que motivou o apito do juiz foi a) a necessidade de empregar a ênclise para seguir a norma-padrão. b) o uso de um objeto direto no lugar de um objeto indireto. c) a opção pelo pronome pessoal oblíquo “o” em vez de “a”. d) a obrigatoriedade da mesóclise nessa construção linguística. e) a transgressão às regras de concordância nominal relacionadas ao pronome.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A07
CONJUNÇÃO, PREPOSIÇÃO E ARTIGO Conjunção As conjunções são palavras que podem relacionar duas orações ou dois termos semelhantes na mesma oração. Elas se dividem em dois grupos: n n
Conjunções coordenativas: relacionam termos ou orações de idêntica função gramatical. Conjunções subordinativas: ligam duas orações, uma das quais determina ou completa o sentido da outra.
ASSUNTOS ABORDADOS n Conjunção, preposição e artigo n Conjunção n Preposição n Artigo n Combinações entre preposição e artigo
Conjunções coordenativas As conjunções coordenativas dividem-se em cinco grupos: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. Aditivas Simplesmente ligam dois termos ou duas orações de idêntica função, somando-as. São as conjunções: e, nem (= e não). n n
Maurício jantou e se deitou. Ele não saiu bem na prova nem passou de ano.
Adversativas Ligam dois termos ou duas orações de idêntica função, acrescentando uma ideia de contraste, oposição. São as conjunções: mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto etc. n n
Meu irmão mora em frente à praia, mas lá nunca tem sol. Terminei o jantar a tempo, no entanto ninguém gostou da comida.
Alternativas Ligam dois termos ou orações de sentido distinto, indicando que, ao cumprir-se um fato, o outro não se cumpre. São as conjunções: ou, ora... ora, quer... quer, seja... seja, nem... nem. n n
Ora lia, ora fingia ler para impressionar o professor. Maria não sabia se viajava para São Paulo ou ficava em casa.
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P ortug uê s
Conclusivas Ligam orações exprimindo uma ideia de conclusão, consequência. São as conjunções: logo, pois (posposto ao verbo), portanto, por conseguinte, por isso, assim, então, nesse sentido, desse modo, dessa forma, dessa maneira. Trata-se, pois, de assuntos cabíveis ao Presidente da República. O céu está cheio de nuvens, portanto deve chover pela noite.
n n
Explicativas Ligam orações, exprimindo uma justificativa, uma explicação. São as conjunções: porque, já que, visto que, uma vez que, pois (anteposto ao verbo), que. Vamos comer, gente, que eu estou morrendo de fome. Venha cá, pois quero te mostrar minhas tarefas feitas.
n n
Conjunções subordinativas As conjunções subordinativas dividem-se nos seguintes grupos: causais, concessivas, condicionais, finais, temporais, comparativas, consecutivas, conformativas, proporcionais e integrantes. Causais Iniciam uma oração subordinada adverbial que denota causa. São as conjunções: porque, como (início de período), haja vista que, porquanto, por isso que, uma vez que. Como as empresas do meu tio faliram, tive que mudar de apartamento. Hoje eu só viajo sozinho, porque detesto companhias desagradáveis.
n n
!
ATENÇÃO!
Qual a diferença entre conjunções explicativas e conjunções causais? Note que nem toda explicação, necessariamente, apresenta a causa de um problema. Veja o exemplo: n Eu sei que ontem choveu, porque o chão está molhado.
Perceba que o fato de o chão estar molhado não é a causa da afirmação da primeira oração, na verdade, trata-se de uma constatação, de uma explicação.
Concessivas Iniciam uma oração subordinada em que se admite um fato contrário à ação principal, mas incapaz de impedi-la. São as conjunções: embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, se bem que, por mais que, por menos que, apesar de que, nem que, que. A07 Conjunção, preposição e artigo
n n
Nunca conseguirei tocar guitarra como ele, embora tenha tentado por anos. Nem que reprovasse na escola, mudaria os hábitos de estudo.
Condicionais Iniciam uma oração em que se indica uma hipótese, uma condição. São as conjunções: se, caso, contanto que, salvo se, sem que (= se não), dado que, desde que, a menos que, a não ser que, vai que. n n
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Se meu irmão fosse à praia, eu não ficaria contente. A entrevista ficou marcada para amanhã às nove horas, caso não queira vir hoje à tarde.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Iniciam uma oração que indica a finalidade de uma ideia. São as conjunções: para que, a fim de que. n n
Não bastava trabalhar duro para que ganhasse um bom salário. Guardou todos os livros na mochila, a fim de que ninguém os visse.
Temporais Iniciam uma oração que indica uma circunstância de tempo. São as conjunções: quando, antes que, depois que, até que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, mal. n n
Quando meus tios voltaram de viagem, trouxeram-me presentes. Mal cheguei na avenida, um motorista buzinou para mim.
n n
Conformativas Iniciam uma oração que determina uma forma, um critério, um modelo de acordo com o qual se realiza o fato expresso. São as conjunções: como, conforme e segundo. n n
n n
O frio era tanto, que congelou os refrigerantes. A sede era tamanha, que o gado não sobreviveu à falta d’água.
Comparativas Iniciam uma oração que indica uma ideia de comparação entre dois elementos. São as conjunções: mais... do que, menos... do que, como, qual, tanto... quanto. n n
Eu gosto tanto de batata quanto de beterraba. Maria saiu bem no colégio como seu primo Arthur.
Proporcionais Iniciam uma oração que estabelece uma relação de proporção (aumento ou diminuição equivalente) entre o fato da oração adverbial e o da principal. São as conjunções: à proporção que, à medida que, ao passo que, quanto mais... mais, quanto mais... menos.
O STF agiu com sérios critérios, conforme determina o seu Regimento. Segundo informou a meteorologia, o tempo será nublado no feriadão.
Integrante Iniciam uma oração subordinada substantiva. São as conjunções: que, se. n
Consecutivas Iniciam uma oração na qual se indica a consequência do que foi declarado na anterior. São as conjunções: tal... que, tamanho(a)... que, tanto... que, tão... que.
À medida que se aproximava a hora do julgamento, a expectativa do público aumentava. Quanto mais endividava, mais sua vida financeira se complicava.
n
Carlos não sabia se era para comer o frango de ontem ou fritar um peixe. Eu tenho certeza de que a Miriam roubou meu chocolate.
Preposição Preposições são palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro é explicado ou completado pelo segundo. As preposições da língua portuguesa dividem-se em dois grupos: n
n
Preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás. Preposições acidentais: exceto, consoante, durante, mediante, afora, fora, segundo, tirante, visto, senão.
As preposições também podem ser representadas por locuções (conjuntos de palavras que denotam uma ideia). São as seguintes locuções prepositivas: abaixo de, acerca de, antes de, através de, depois de, em cima de, junto a, por causa de, por detrás de, por sobre.
A07 Conjunção, preposição e artigo
Finais
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Artigo Trata-se de uma classe de palavras que se antepõem ao substantivo. Dividem-se, pois, em dois grupos: n n
Artigos definidos: o, a, os, as. Artigos indefinidos: um, uma, uns, umas.
Os artigos definidos determinam o substantivo. Exemplo: n
Comprei o melhor carro da loja.
Os artigos indefinidos não determinam o substantivo. Exemplo: n
Comprei um carro novo ontem.
Combinações entre preposição e artigo Na Língua Portuguesa, preposição e artigo podem unir-se, fundir-se em uma só palavra. As combinações permitidas pela norma-padrão são: Preposição
Artigo
Combinação
a
o, a, os, as
ao, à, aos, às
de
o, a, os, as
do, da, dos, das
em
o, a, os, as
no, na, nos, nas
de
um, uma, uns, umas
dum, duma, duns, dumas
em
um, uma, uns, umas
num, numa, nuns, numas
Há também outras combinações comuns na linguagem oral. Veja: Preposição
Artigo
Combinação
com
o, a, os, as
coo, coa, coos, coas
para
o, a, os, as
pro, pra, pros, pras
Exercícios de Fixação
A07 Conjunção, preposição e artigo
uma asil” ome u de xploquer, ovo, ores, il” 08 bjeto moro de
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01. (UFPR) A épica narrativa de nosso caminho até aqui Quando viajamos para o exterior, muitas vezes passamos pela experiência de aprender mais sobre o nosso país. Ao nos depararmos com uma realidade diferente daquela em que estamos imersos cotidianamente, o estranhamento serve de alerta: deve haver uma razão, um motivo, para que as coisas funcionem em cada lugar de um jeito. Presentes diferentes só podem resultar de passados diferentes. Essa constatação pode ser um poderoso impulso para conhecer melhor a nossa história. Algo assim vem ocorrendo no campo de estudos sobre o Sistema Solar. O florescimento da busca de planetas extrassolares – aqueles que orbitam em torno de outras estrelas – equivaleu a dar uma espiadinha no país vizinho, para ver como vivem “seus habitantes”. Os resultados são surpreendentes.
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Em certos sistemas, os planetas estão tão perto de suas estrelas que completam uma órbita em poucos dias. Muitos são gigantes feitos de gás, e alguns chegam a possuir mais de seis vezes a massa e quase sete vezes o raio de Júpiter, o grandalhão do nosso sistema. Já os nossos planetas rochosos, classe em que se enquadram Terra, Mercúrio, Vênus e Marte, parecem ser mais bem raros do que imaginávamos a princípio. A constatação de que somos quase um ponto fora da curva (pelo menos no que tange ao nosso atual estágio de conhecimento de sistemas planetários) provocou os astrônomos a formular novas teorias para explicar como o Sistema Solar adquiriu sua atual configuração. Isso implica responder perguntas tais como quando se formaram os planetas gasosos, por que estão nas órbitas em que estão hoje, de que forma os planetas rochosos surgiram etc.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias Questão 02. Espera-se que o candidato saiba diferenciar os efeitos de sentido entre as duas proposições, sendo que, na primeira proposição, atribua à sociedade a responsabilidade total pela solução do problema do lixo, enquanto, na segunda proposição, indique que a sociedade é apenas uma parte da solução do problema do lixo.
Nosso artigo de capa traz algumas das respostas que foram formuladas nos últimos 15 a 20 anos. Embora não sejam consensuais, teorias como o Grand Tack, o Grande Ataque e o Modelo de Nice têm desfrutado de grande prestígio na comunidade astronômica e oferecem uma fascinante narrativa da cadeia de eventos que pode ter permitido o surgimento da Terra e, em última instância, da vida por aqui. [...] (Paulo Nogueira, editorial de Scientific American – Brasil – no 168, junho 2016.)
Considere a estrutura “daquela em que estamos imersos” (1º parágrafo) e compare-a com as seguintes: 1. o espaço ___ que moramos ... 2. a organização ____ que confiamos ... 3. a cidade ___ que almejamos ... 4. os problemas ____ que constatamos nos relatórios... Tendo em vista as normas da língua culta, a preposição “em” deveria preencher a lacuna em: a) 1 apenas. d) 1, 3 e 4 apenas. b) 1 e 2 apenas. e) 2, 3 e 4 apenas. c) 2 e 3 apenas. 02. (UFU MG) Qual é o problema do lixo? Todos temos ouvido falar muito que o lixo é um problema. Mas ao cidadão comum parece que o problema do lixo só existe quando há interrupção na coleta do lixo e os lixeiros deixam de passar na sua porta. [...] O lixo, como os demais problemas ambientais, tornou-se uma questão que excede à capacidade dos órgãos governamentais e necessita da participação da sociedade para sua solução. [...] É necessária a colaboração de todos para que esse problema seja amenizado.
por si só, não diz nada; ele só vai produzir sentido no momento em que há a recepção por parte do leitor. A matemática pode, também, potencializar o texto, tornando ainda mais amplo o seu campo de leituras possíveis a partir de regras ou restrições. Muitas passagens de Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho, de Lewis Carroll, estão repletas de enigmas e problemas que até os dias de hoje permitem aos leitores múltiplas interpretações. Edgar Allan Poe é outro escritor a construir personagens que utilizam exaustivamente a lógica matemática como instrumento para a resolução dos enigmas propostos. Explorar as relações entre literatura e matemática é resgatar o romantismo grego da possibilidade do encontro de todas as ciências. É fazer uma viagem pelo mundo das letras e dos números, da literatura comparada e das ficções e romances de diversos autores que beberam (e continuarão bebendo) de diversas e potenciais fontes científicas, poéticas e matemáticas. <http://tinyurl.com/h9z7jot > Acesso em: 17.08.2016. Adaptado.
No trecho “correspondentes a sistemas de pensamento e linguagens”, a palavra destacada é a) um artigo definido feminino que concorda com o substantivo sistemas. b) um pronome possessivo referente ao substantivo pensamento. c) uma conjugação no presente do indicativo para o verbo haver. d) uma preposição regida pelo adjetivo correspondentes. e) um adjetivo para destacar o advérbio linguagens. 04. (UFG GO) Leia a charge abaixo.
Texto disponível em: <http://www.institutogea.org.br/oproblemadolixo.html>. Acesso em: 25 abr. 2017. (Fragmento).
Sobre o tema do texto, explique, em um parágrafo, o(s) efeito(s) de sentido(s) estabelecido(s) nas seguintes proposições: À sociedade foi requerida a solução do problema do lixo. E A sociedade foi requerida na solução do problema do lixo. 03. (Fatec SP) Leia o texto de Jacques Fux. Letras e números costumam ser vistos como símbolos opostos, correspondentes a sistemas de pensamento e linguagens completamente diferentes e, muitas vezes, incomunicáveis. Essa perspectiva, no entanto, foi muitas vezes recusada pela própria literatura, que em diversas ocasiões valeu-se de elementos e pensamentos matemáticos como forma de melhor explorar sua potencialidade e de amplificar suas possibilidades criativas. A utilização da matemática no campo literário se dá por meio das diversas estruturas e rigores, mas também através da apresentação, reflexão e transformação em matéria narrativa de problemas de ordem lógica. Nenhuma leitura é única: o texto,
FOLHA DE S.PAULO. S. Paulo, 14 jun. 2008. p. A2
Observando as falas na charge, é correto afirmar que a mudança de significado dos objetos encomendados se dá pela a) repetição dos substantivos referentes à encomenda. b) substituição dos artigos indefinidos por definidos. c) qualificação da personagem com adjetivos depreciativos. d) gradação por meio de advérbios na descrição da cena. e) sucessão de um verbo de ação por um de estado. 627
A07 Conjunção, preposição e artigo
Literatura e Matemática
P ortug uê s
Exercícios C om p l em en t ares 01. (FCM MG) PESSOAS E NUVENS 1º§ Existe gente que carrega no semblante, nos gestos e nas palavras um jeito de nuvem que chove na roseira de cada um de nós. Molham de afeto a nossa convivência. Parecem trazer sobre a cabeça um regador para banhar os amigos e semelhantes. Incitam o lado bom da vida, a criação, a amizade, o companheirismo. Essas são as pessoas que gosto de encontrar quando ando pelas ruas de nossa e outras cidades. É o tipo que ameniza o calor e nos protege do frio. Inteligentes e interessantes, logo bonitos. Chegam e partem sorrindo. A simples presença contagia e o perfume fica quando se vão. 2º§ Outros carregam tempestade e raios, trovões, reclamações e ódio. Gastam todo o seu tempo para maquinar maldades e desejar que o pior aconteça com os seus desafetos. São minoria, mas têm aptidão para enxergar, no mundo, o lixo e, na humanidade, um exército de adversários e inimigos que devem ser eliminados. 3º§ Seria bom que só existisse gente chuva prazenteira, mas viver em sociedade é complexo e estamos expostos aos chatos e bruxos. São estações inevitáveis, a primavera que traz colheita de frutos e flores e o outono das desesperanças. Confesso que não consigo compreender a razão de alguém somente agir para prejudicar, torcer pela derrota e infelicidade, trabalhar pelo caos. Na cabeça desses eu não entro e nem quero entrar. Tento evitá-los e me proteger de seus projetos de terremotos. Mas é necessário preservar nossas defesas para que não sejamos contaminados. 4º§ Quem reclama já perdeu, dizia o mestre João Saldanha; Quem não se conforma com o sucesso de alguém, e reclama, odeia, xinga e vitupera, perdeu a chance de aproveitar o que a existência tem de bom. 5º§ O mundo não caminha nem nunca caminhou de maneira justa, mas a vida, ah! a vida, é uma aventura deslumbrante que vale a pena ser degustada, em todos os sentidos. Meus olhos se concentram nesse território bendito habitado e irrigado pelos que amo. A07 Conjunção, preposição e artigo
ma vipráticina, turo. visão e do mos
c) “Parecem trazer sobre a cabeça um regador para banhar os amigos e semelhantes.” (a fim de) d) “Essas são as pessoas que gosto de encontrar quando ando pelas ruas de nossa e outras cidades.” (porquanto) 02. (FPS PE) Ainda no âmbito da sintaxe, observe a deslocação de certas expressões no interior de um enunciado e os efeitos que essa deslocação pode provocar. 1. Aos poucos, estão descobrindo o universo literário em sua acepção mais clássica. (Em: Estão descobrindo o universo literário em sua acepção, aos poucos, mais clássica. – houve alteração de sentido). 2. É impossível deter a perplexidade que isso começa a provocar nos jovens, que sentem necessidade, cada vez maior, da comunicação impressa. (Em: É impossível deter a perplexidade, cada vez maior, que isso começa a provocar nos jovens, que sentem necessidade da comunicação impressa. – houve alteração de sentido). 3. Não faz muito tempo, um jovem normal, independente de sua escolaridade, possuía um vocabulário padrão reduzido. (Em: Um jovem normal, não faz muito tempo, independente de sua escolaridade, possuía um vocabulário padrão reduzido – houve alteração de sentido.) Com o deslocamento de um ou outro termo, houve alteração de sentido apenas em: a) 1 e 2 b) 1 e 3 c) 2 d) 2 e 3 e) 3 03. (Uncisal AL)
(BRANT, Fernando. Casa aberta. Sabará, MG: Ed. Dubolsinho, 2012, p.215-216. Texto adaptado.)
O termo destacado pode ser substituído pela expressão dos parênteses, mantendo-se a mesma ideia da frase original em: a) “São minoria, mas têm aptidão para enxergar, no mundo, o lixo...” (logo) b) “O mundo não caminha nem nunca caminhou de maneira justa...” (porém)
628
Disponível em: <https://br.images.search.yahoo.com/search/images>. Acesso em: 21 nov. 2016.
Dadas as afirmativas, considerando os procedimentos linguísticos encontrados em “Viver ou Sonhar?” e “Viver e Sonhar”, I. A interrogativa inicial remete à linguagem professoral e prepara o leitor para a apresentação da ideia.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
III. IV.
A troca das conjunções está na escolha a ser feita; entretanto, não se obtém alteração de sentido. O emprego da conjunção “ou” implica exclusão de ações, o que leva à indecisão. O emprego da conjunção “e” expressa a soma de uma ação à outra, resultando em um modo mais completo de vida. verifica-se que estão corretas apenas
a) I e II. b) I e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) II, III e IV.
Em “Lemos não apenas porque, na vida real, jamais conheceremos tantas pessoas como através da leitura”, trecho do prefácio, a palavra “porque” a) apresenta uma dúvida. b) evidencia uma negação. c) introduz uma explicação. d) expõe um questionamento. e) reafirma uma questão. 05. (FGV SP) Pobres precisam de banheiro, não de celular, diz BM 1 As famílias mais pobres do mundo estão mais propensas a terem telefones 2 celulares do que banheiros ou água limpa. 3
04. (Uni Cesumar SP)
Segundo relatório do Banco Mundial, intitulado ”Dividendos
Digitais”, o número 4 de usuários de internet mais que triplicou Como e por que ler
Harold Bloom PREFÁCIO Não existe apenas um modo de ler bem, mas existe uma razão precípua por que ler. Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria? Se tivermos sorte, encontraremos um professor que nos oriente, mas, em última análise, vemo-nos sós, seguindo nosso caminho sem mediadores. Ler bem é um dos grandes prazeres da solidão; ao menos segundo a minha experiência, é o mais benéfico dos prazeres. Ler nos conduz à alteridade, seja à nossa própria ou à de nossos amigos, presentes ou futuros. Literatura de ficção é alteridade e, portanto, alivia a solidão. Lemos não apenas porque, na vida real, jamais conheceremos tantas pessoas como através da leitura, mas, também, porque amizades são frágeis, propensas a diminuir em número, a desaparecer, a sucumbir em decorrência da distância, do tempo, das divergências, dos desafetos da vida familiar e amorosa. - precípua: principal, essencial - alteridade: natureza ou condição do que é outro; referente ao outro PRÓLOGO Caso pretenda desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações pessoais, o ser humano precisará continuar a ler por iniciativa própria. Como ler (se o faz de maneira proficiente ou não) e o que ler não dependerá, inteiramente, da vontade do leitor, mas o porquê da leitura deve ser a satisfação de interesses pessoais. Seja apenas por divertimento ou com algum objetivo específico, e m dado momento , passamos a ler apressadamente. Os indivíduos que, por iniciativa própria, leem a Bíblia, talvez constituam exemplos mais evidentes de leitura com objetivo específico do que os leitores de Shakespeare; no entanto, a busca é a mesma. Uma das funções da leitura é nos preparar para uma transformação, e a transformação final tem caráter universal. - proficiente: competente e eficiente no que faz In: BLOOM, Harold. Como e por que ler. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15 e 17.
em uma década, para 3,2 bilhões no final 5 do ano passado, representando mais de 40 por cento da população mundial. Embora a expansão da internet e de outras tecnologias digitais tenha facilitado 7 a comunicação e promovido um senso de comunidade global, ela não ofereceu o 8 enorme aumento de produtividade que muitos esperavam, disse o Banco. Ela também 9 não melhorou as oportunidades para
6
as pessoas mais pobres do mundo, nem ajudou 10 a propagar a “governança responsável”. 11 “Os benefícios totais da transformação da informação e comunicação somente se 12 tornarão realidade se os países continuarem a melhorar seu clima de negócios,
investirem na educação e saúde de sua população e proverem a boa governança. Nos 14 países em que esses fundamentos são fracos, as tecnologias digitais não impulsionam 15 a produtividade nem reduzem a desigualdade”, afirmou o relatório. 13
A visão do Banco Mundial contrasta com o otimismo dos empreendedores da 17 tecnologia, como Mark Zuckerberg e Bill Gates, que têm argumentado que o acesso 18 universal à inter16
net é essencial para eliminar a pobreza extrema. “Quando as pessoas têm acesso às ferramentas e ao conhecimento da internet, 20 elas têm acesso a oportunidades que 19
tornam a vida melhor para todos nós”, diz uma 21 declaração do ano passado assinada, entre outros, por Zuckerberg e Gates. 22 Segundo o Banco Mundial, conectar o mundo “é essencial, mas está longe de ser 23 suficiente” para eliminar a pobreza. http://exame.abril.com.br 14//01/2016. Adaptado.
No trecho “é essencial, mas está longe de ser suficiente” (Refs. 22-23), a palavra sublinhada poderia ser corretamente substituída por a) porquanto. b) posto que. c) conquanto. d) não obstante. e) por conseguinte.
629
A07 Conjunção, preposição e artigo
II.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A08
ASSUNTOS ABORDADOS n Regência verbo-nominal n Regência nominal n Regência verbal
REGÊNCIA VERBO-NOMINAL Em geral, as palavras de uma oração são interdependentes, isto é, relacionam-se entre si para formar um todo significativo. Essa relação necessária que se estabelece entre duas palavras, uma das quais serve de complemento à outra, é o que se chama regência. A palavra dependente denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente.
Regência nominal A regência nominal trata do estudo da relação entre um substantivo, adjetivo ou advérbio transitivo e seu respectivo complemento nominal. Essa relação é intermediada por uma preposição. Atente-se para o quadro abaixo em que há um nome transitivo e sua respectiva preposição adequada à regência da norma-padrão.
630
Alheio a, de
Grato a
Ojeriza a, por
Alusão a
Hábil em
Paralelo a
Análogo a
Habituado a
Perto de
Ansioso por
Inacessível a
Posterior a
Apto a, para
Indeciso em
Preferência a, por
Atenção a, para
Inepto para
Preferível a
Atento a, em
Invasão de
Prejudicial a
Aversão a, para, por
Junto a, de
Propício a, para
Benéfico a
Leal a
Próprio de, para
Capacidade de, para
Liberal com
Próximo a, de
Compatível com
Longe de
Querido de, por
Contemporâneo a, de
Maior de
Residente em
Cuidadoso com
Misericordioso com
Respeito a, por
Desacostumado a, com
Morador em
Satisfeito com, de, em, por
Desatento a
Natural de
Sensível a
Desfavorável a
Necessário a
Simpatia por
Desrespeito a
Necessidade de
Simpático a
Estranho a
Nocivo a
Suspeito de
Favorável a
Ódio a, de, por, contra
Útil a, para
Fiel a
Odioso a, para
Versado em
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
No estudo da regência nominal, deve-se levar em conta que muitos nomes seguem exatamente o mesmo regime dos verbos correspondentes. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Veja alguns exemplos de regência nominal: n n n n n n
Ele está sempre alheio a tudo. Acho que você está apto ao trabalho. Sempre existirá gente ávida por dominar. Pedro é meu contemporâneo do Ensino Médio. Juliano é um homem inepto para a matemática. Quando tinha 18 anos, percebi que era propenso ao magistério.
Regência verbal Em aulas anteriores, vimos que os verbos podem ser divididos em transitivos e intransitivos. Para o estudo da regência verbal, é importante atentar-se para o verbo e seu respectivo complemento que pode ser: n n n
Objeto direto: não exige preposição. Objeto indireto: sempre exige preposição. Adjunto adverbial: pode exigir preposição.
A maneira como exporemos o conteúdo nesta aula será por meio da própria regência do verbo, ou seja, apresentaremos uma pequena lista de verbos transitivos diretos, de transitivos indiretos, de intransitivos etc. Você perceberá que o mesmo verbo aparecerá com regências diferentes quando tiver significados diferentes. Também encontrará verbos cuja regência padrão é diferente daquela usada pelos falantes no dia a dia (coloquial). A seguir, veremos a regência de alguns verbos:
SAIBA MAIS
A08 Reg ê ncia verbo nom inal
Você sabia de onde vem a palavra regência? A palavra regência, assim como suas cognatas: reger, regido, regente, vem do latim “regis” que significa “rei” e “regina” que significa “rainha”.
631
P ortug uê s
Verbo
Classificação
Significado
Exemplo
Aspirar
VTD
Sorver, respirar
Os atletas aspiravam com prazer o ar das montanhas.
VTI
Prender, desejar
O vereador recém-eleito aspirava a um alto cargo.
VTI
Estar presente, presenciar
Ontem assisti a um filme iraniano.
VTD ou VTI
Acompanhar, prestar assistência
O médico assiste o doente (ou ao doente).
VI
Morar, residir (rege adjunto adverbial com a preposição “em”)
Minha comadre assiste em Santos.
VTD
Convocar, fazer vir
Chamem a polícia!
VTI
Invocar (exige a preposição “por”)
O pai chamava desesperadamente pela filha.
VTD ou VTI
Cognominar, qualificar, denominar = predicativo do objeto
Chamava-o irresponsável. Chamava-o de irresponsável.
Chegar e ir
VI
(exige a preposição “a” quando indicam lugar)
Cheguei ao cinema 20 minutos atrasado. Vou ao cinema 2 vezes por semana.
Esquecer e lembrar
VTD
(quando não pronominais)
Que chateação! Esqueci o nome dele.
VTI
(quando pronominais exigem a preposição “de”)
Esqueci-me do livro.
VTI
Cair no esquecimento / vir a lembrança
Esqueceram-me as chaves em casa.
VTD
Dar notícias, esclarecer
Os jornais informaram o público consumidor.
VTDI
(mesmo sentido)
A secretária informou a nota do aluno.
VTD
Acarretar, provocar
O erro implicou a sua demissão.
VTI
Ter implicância ‘com’
O professor implicou comigo.
VTDI
Envolver-se ‘em’ (pronominal)
Pedro implicou-se em contrabando.
Obedecer e desobedecer
VTI
(Exigem a preposição “a”)
O bom motorista obedece às leis do trânsito.
Pagar e perdoar
VTD
(Quando o objeto é coisa)
Paguei a conta.
VTI
(Quando o objeto é pessoa)
Perdoei aos inimigos.
Assistir
Chamar
Informar
Implicar
VTDI Preferir
Paguei a conta ao feirante.
VTDI
Querer antes, escolher
Prefiro o amor à guerra.
VTD
Dar primazia a, determinar-se por
Preferimos a alegria, não aceitamos a dor.
VTD
Desejar
Ele queria o disco da Gal, mas não o quer mais.
VTI
Estimar, querer bem (exige a preposição “a”)
Eu quero a meus amigos e sempre lhes quis.
Simpatizar e antipatizar
VTI
(Exige a preposição “com”; não são pronominais)
Simpatizava com a ideia. Simpatizei com ele.
Visar
VTD
Mirar, pôr visto
Visou o alvo e atirou.
VTI
Ter em vista, prender (exige a preposição “a”)
Homem sem escrúpulos, só visava a uma posição de destaque.
Namorar
VTD
Não se usa ‘namorar com’
Namorar alguém.
Custar
VTI
Algo custa ‘a alguém’
Custou-lhe entender esse assunto.
A08 Reg ê ncia verbo nom inal
Querer
Fonte: Gramática Reflexiva. Texto, semântica e interação.
632
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
!
ATENÇÃO!
Verbos com regência diferente não podem reger um mesmo complemento. Estariam, pois, em desacordo com a norma culta as frases: n Entraram e saíram da sala (entrar em/sair de). n Compreendeu e participou da alegria do marido (Compreender algo/participar de algo). n Fui e voltei a Porto Alegre (ir a/voltar de).
O mais adequado seria: n Entraram na sala e saíram de lá. n Compreendeu a alegria do marido e participou dela. n Fui a Porto Alegre e voltei de lá.
Exercícios de Fixação
Literatura Indígena Ainda não há consenso sobre o uso da expressão Literatura Indígena. Afinal, sob o conceito de “indígena” 2 reconhecem-se, atualmente, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 305 3 grupos ét-
1
nicos, com culturas e histórias próprias, falando 274 línguas. Portanto, encontrar uma denominação de 4 referência geral não é muito simples. Outras expressões, embora menos usadas, vêm se apresentando na tentativa de 5 caracterizar esse campo de interesse, como Literatura Nativa, Literatura das Origens, Literatura Ameríndia e Literatura 6 Indígena de Tradição Oral. Próxima a essas, mas já com significado e alcance próprio, ainda contamos com Literatura 7 Indianista, para se referir à produção do Romantismo brasileiro do século XIX de temática indígena, como os versos de 8 Primeiros Cantos (1846) e de Os Timbiras (1857), de Gonçalves Dias, e os romances O Guarani (1857) e Iracema (1865), 9 de José de Alencar. Diante desse quadro, quando usamos, hoje, a expressão Literatura Indígena, uma questão, 10 necessariamente, ainda se apresenta: quais objetos ela incorpora ou para quais aponta ou tem apontado? Em perspectiva ampla, diríamos que essa produção cultural assinala textos criativos em geral (orais ou escritos) 12 produzidos pelos diversos grupos indígenas, editados ou não, incluindo aqueles que não se apresentam, em um primeiro 13 momento, como constituídos a partir de um desejo especificamente estético-literário intencional, como as narrativas, os 14 grafismos e os cantos em contextos próprios, 11
ritualísticos e cerimoniais. Parte dessa produção ganha visibilidade com os 15 registros realizados por antropólogos e pesquisadores em geral. Outra parte surge por meio de
levantamentos realizados 16 por professores atuantes em cursos de licenciatura indígena e dos próprios alunos desses cursos, oriundos de várias 17 etnias. Estima-se que 1564 professores indígenas estavam em formação no ano de 2010, em cursos financiados pelo 18 Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (PROLIND), do Ministério da Educação. Em perspectiva restrita, a expressão Literatura Indígena tem sido utilizada para designar aqueles textos editados e 20 reconhecidos pelo chamado sistema literário (autores, público, críticos, mercado editorial, escolas, programas 21 governamentais, legislação), como sendo de autoria indígena. Um marco importante se dá em 1980, ano de publicação 22 19
do considerado primeiro livro de autoria indígena com tais características, intitulado Antes o Mundo não Existia, de 23 Umúsin Panlõn & Tolamãn Kenhíri, pertencentes ao povo Desâna, do Alto Rio Negro/AM. A partir das licenciaturas 24 indígenas, assistimos, na década de 1990, ao incremento dessa produção editorial. Carlos Augusto Novais. Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE. Acessado em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/literatura-indigena, 14/03/2016.
O verbo assistimos, na referência 24, apresenta exatamente a mesma regência e, portanto, o mesmo sentido que em: a) O agravo de seu estado aconteceu, dizem, pois, o médico não o assistiu em tempo hábil. b) Antes da mudança para o nordeste, ela assistiu em Santos por dez anos. c) O atendente assistiu a senhora primeiro, por ser prioridade. d) A torcida assistiu à partida com muita paixão. e) Apesar de torcer para o adversário, nossa torcida assistiu o ferido prontamente.
633
A08 Reg ê ncia verbo nom inal
01. (IFCE)
P ortug uê s
02. (FPS PE) SAÚDE
dos esforços e opções de vida inteligentes do indivíduo e da sociedade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os
A definição de saúde mais difundida – com implicações le-
principais determinantes da saúde incluem o ambiente social
gais, sociais e econômicas dos estados de saúde e doença
e econômico, o ambiente físico e as características e compor-
– é a definição encontrada no preâmbulo da Constituição da
tamentos individuais da pessoa. Em geral, o contexto em que
Organização Mundial da Saúde (OMS): saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a
um indivíduo vive é de grande importância na sua qualidade de vida e em seu estado de saúde.
ausência de doenças. Quando a OMS foi criada, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia uma preocupação em traçar uma definição positiva de saúde, que incluiria fatores como alimentação, atividade física, acesso ao sistema de saúde etc. O “bem-estar social” da definição veio de uma preocupação com a devastação causada pela guerra, assim como de um otimismo em relação à paz mundial. A OMS foi ainda a primeira organização internacional de saúde a considerar-se responsável pela saúde mental, e não apenas pela saúde do corpo. A definição adotada pela OMS tem sido alvo de inúmeras críticas desde então. Definir a saúde como um estado de completo bem-estar faz com que a saúde seja algo ideal, inatingível, e assim a definição não pode ser usada como meta pelos serviços de saúde. Por outro lado, a definição utópica de saúde é útil como um horizonte para os serviços de saúde por estimular a priorização das ações. Christopher Boorse definiu, em 1977, a saúde como a simples ausência de doença. Em 1981, Leon Kass incluiu, no campo da saúde, “o bem-funcionar de um organismo como um todo”, ou ainda “uma atividade do organismo vivo de acordo com suas excelências específicas”. Lennart Nordenfelt definiu, em 2001, a saúde como um estado físico e mental em que é possível alcançar todas as metas vitais, dadas as circunstâncias. As definições acima têm seus méritos, mas, provavelmente, a
A08 Reg ê ncia verbo nom inal
segunda definição mais citada é da OMS, mais especificamente do Escritório Regional Europeu: A medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente. A saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é um conceito positivo. Essa visão funcional da saúde interessa muito aos profissionais de saúde púbica, incluindo-se aí os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e os engenheiros sanitaristas, e de atenção primária à saúde, pois pode ser usada de forma a melhorar a equidade dos serviços de saúde e de saneamento básico, ou seja, prover cuidados de acordo com as necessidades de cada indivíduo ou grupo. Existem, assim, quatro determinantes gerais de saúde: biologia humana, ambiente, estilo de vida e assistência médica. Dessa forma, a saúde é mantida e melhorada, não só através da promoção e aplicação da ciência da saúde, mas também através
634
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde). (Adaptado.)
Analise a regência verbal em uso no seguinte segmento: “o contexto em que um indivíduo vive é de grande importância na sua qualidade de vida e em seu estado de saúde.” Também estaria conforme as normas da regência verbal, em português, as seguintes afirmativas: 1.
O contexto do qual um indivíduo se sujeita tem grande impor-
tância para a sua qualidade de vida e seu estado de saúde. 2. O contexto de que um indivíduo participa tem grande importância para a sua qualidade de vida e seu estado de saúde. 3. O contexto ao qual um indivíduo se submete tem grande importância para a sua qualidade de vida e seu estado de saúde. 4. O contexto ao qual um indivíduo atribui sentido tem grande importância para a sua qualidade de vida e seu estado de saúde. Estão corretas: a) 1, 2 e 4 apenas b) 1 e 3 apenas c) 1, 2, 3 e 4 d) 2 e 3 apenas e) 2, 3 e 4 apenas 03. (Unifor CE) OCEANO Djavan
Assim Que o dia amanheceu Lá no mar alto da paixão, Dava pra ver o tempo ruir Cadê você? Que solidão! Esquecera de mim? [...] DJAVAN. Djavan. São Paulo: Sony, 1989, 1CD.
Em ‘Esquecera de mim”, temos o uso inadequado da regência do verbo esquecer. Assinale o item correto em relação à regência do verbo esquecer: a) Ele esqueceu às informações dadas. b) Esqueci das informações dadas. c) Esqueci de as informações dadas. d) Todos esqueceram das informações dadas. e) Todos se esqueceram das informações dadas.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Exercícios C om p l em en t ares 01. (Unirv GO) O estudo da regência constitui-se em um instrumento importante para aqueles que precisam interpretar e produzir textos, portanto, após a leitura de cada item abaixo, marque (V) para verdadeiro e (F) falso. a) Perdoou nosso atraso no imposto. b) Meu pai perdoou ao pai. c) Lembrou ao amigo que já era tarde. d) Vi-lhes os olhos na festa.
03. (IFPE)
02. (IFPE) Fico Assim Sem Você Avião sem asa Fogueira sem brasa Sou eu assim sem você Futebol sem bola Piu-Piu sem Frajola Sou eu assim sem você
Disponível em:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/ galerias/imagem/0000000065/0000025206.jpg>. Acesso em: 22 set. 2015.
O verbo “assistir” no sentido de “presenciar” ou “ver” é transitivo indireto, ou seja, ele exige a preposição “a” para
Por que é que tem que ser assim? Se o meu desejo não tem fim Eu te quero a todo instante Nem mil alto-falantes Vão poder falar por mim (...) Tô louco pra te ver chegar, Tô louco pra te ter nas mãos. Deitar no teu abraço, Retomar o pedaço que falta no meu coração Eu não existo longe de você E a solidão é o meu pior castigo Eu conto as horas pra poder te ver Mas o relógio tá de mal comigo
que possa receber um complemento. Outros verbos da língua portuguesa também possuem mais de uma regência a depender do sentido que assumem no contexto. Sabendo disso, analise, nas frases a seguir, a adequação da regência verbal ao que concerne à norma culta da língua portuguesa. I.
Aspiro a uma vaga na equipe titular.
II.
Depois de empossado, o governo assistirá na capital.
III.
Ele está namorando com a prima.
IV.
Esqueci-me o que havíamos combinado.
V.
Sempre ansiamos a dias melhores.
Estão corretas apenas as frases a) II e III.
A regência do verbo “faltar” que aparece no verso “Retomar o pedaço que falta no meu coração” não está de acordo com o que é indicado pela gramática normativa padrão que, nesse caso, indica a utilização da preposição “a”. Sendo assim, o verso ficaria “...que falta ao meu coração”. Desvios como esse são muito comuns no falar cotidiano. Sabendo disso, assinale a única alternativa cuja regência verbal segue o que preceitua a norma padrão. a) Estou indo no banheiro, depois te ligo. b) Sai daí, menino! Que eu já aspirei ao pó do tapete. c) Não posso falar agora, estou assistindo o jogo. d) Eu acabei de pagar aquela conta a costureira. e) Pedro namora a vizinha da cunhada de Isabela.
b) I e II. c) I e III. d) III e V. e) II e V. 04. (Unirv GO) Considere o emprego de a, à, às e há nas frases a seguir. I.
Neste local, existiu, há muitos anos, uma bela casa; agora só há ruínas.
II.
Há anos não ia à terra natal de meus pais, mas daqui a algumas horas estarei lá.
III.
Meus amigos são pessoas às quais devo inúmeros favores.
IV.
As aspirações dos jovens não são iguais às dos adultos.
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A08 Reg ê ncia verbo nom inal
Claudinho e Buchecha
P ortug uê s
Marque (V) para as verdadeiras e (F) paras as falsas.
V-V-V-V
muita televisão, e em que se muda 21 de canal constantemente,
a) I e II são verdadeiras.
ainda que minha 22 mãe ache isso um absurdo. Da tela, uma 23
b) II e IV são falsas.
moça sorridente pergunta se o caro 24 telespectador já conhece
c) II e III são falsas.
certo novo sabão 25 em pó. Não conheço nem quero conhecer,
d) Todas as frases são falsas.
de 26 modo que – zap – mudo de canal. “Não me 27 abandone,
05. (ESPM SP) Em um dos itens abaixo há falta de paralelismo na construção da frase. Assinale-o:
Mariana, não me abandone!”. 28 Abandono, sim. Não tenho o menor remorso, 29 e agora é um desenho, que eu já vi duzentas 30
a) Bebida alcoólica caseira causa intoxicação e mata 51 pessoas na Líbia. b) Três policiais são acusados de desviar drogas e ligação com traficantes internacionais.
........ guitarra elétrica, fala 32 ........ uma entrevistadora. É um roqueiro. É 33 meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas, 34 falta-lhe um dente. É o meu pai. 35
c) Plano de saúde muda de nome e escapa de punição da Agência Nacional de Saúde. d) Problema técnico na PF afetou não só emissão de passaportes, como também retirada. e) Exposição marca Dia Mundial da Água e incentiva consumo consciente.
vezes, e – zap – um homem falando. Um 31 homem, abraçado
É sobre mim que ele fala. Você tem um 36 filho, não tem?, per-
gunta a apresentadora, e 37 ele, meio constrangido – situação pouco 38 admissível para um roqueiro de verdade –, diz 39 que sim, que tem um filho só que não vê há 40 muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta: 41 você sabe, eu tinha que fazer uma opção, era
42
a família ou o rock. A entrevistadora, porém,
insiste (é chata, ela): mas o seu filho gosta de
06. (Unifev SP) Leia as frases extraídas da entrevista do médico Raul Cutait à revista Veja, com algumas alterações, e assinale a alternativa cuja construção segue as normas gramaticais quana) “Prefiro mais morrer do que fazer colostomia” – disse-me, em uma ocasião, um paciente. b) Depois da cirurgia, o paciente me agradeceu por eu ter cumprido o que havíamos combinado. c) Quanto melhor o anestesista faz seu trabalho, mais condições proporciona ao cirurgião se concentrar no ato cirúrgico. d) As decisões na medicina devem obedecer um novo compo-
45
e) Apesar dos avanços da medicina, uma cirurgia, independente-
rock? Que você
Ele se mexe na cadeira; o microfone, 46 preso ........ desbotada
camisa, roça-lhe o 47 peito, produzindo um desagradável e bem audível rascar. Sua angústia é compreensível; 49 aí está, num
programa local e de baixíssima 50 audiência – e ainda tem de passar pelo 51 vexame de uma pergunta que o embaraça e à 52 qual não sabe responder. E então ele me
53
olha. Vocês dirão
que não, que é para a 54 câmera que ele olha; aparentemente é isso;
55
mas na realidade é a mim que ele olha, sabe 56 que,
em algum lugar, diante de uma tevê, 57 estou a fitar seu rosto atormentado, as 58 lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu 59
nente ético – a vontade do doente.
43
saiba, seu filho gosta de rock?
48
to à regência verbal/nominal.
44
olhar ele procura a resposta ........ pergunta 60 da apresenta-
dora: você gosta de rock? Você 61 gosta de mim? Você me per-
mente de sua complexidade, ainda implica com risco de vida.
doa? – mas aí 62 comete um engano mortal: insensivelmente, 63
07. (UFRGS RS) 01 Não faz muito que temos esta nova TV 02 com
da guitarra, é o vício do 65 velho roqueiro. Seu rosto se ilumina e
trata agora de um
ele vai 66 dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto 67 quanto
controle remoto, mas devo dizer que se
03
instrumento sem o qual eu 04 não saberia viver. Passo os dias sentado na 05 velha poltrona, mudando de um canal para o 06 outro – uma tarefa que antes exigia certa
07
movimentação,
mas que agora ficou muito 08 fácil. Estou num canal, não gosto – zap, mudo 09 para outro. Eu gostaria de ganhar em dólar 10
num mês o número de vezes que você troca 11 de canal em
A08 Reg ê ncia verbo nom inal
uma hora, diz minha mãe. Trata-se 12 de uma pretensão fantasiosa, mas pelo 13 menos indica disposição para o humor, 14 admirável nessa mulher. 15
Sofre minha mãe. Sempre sofreu: infância
cruel, etc. Mas o seu sofrimento
17
16
carente, pai
aumentou muito quando
meu pai a deixou. Já 18 faz tempo; foi logo depois que eu nasci, e
636
19
estou agora com treze anos. Uma idade em
20
que se vê
automaticamente, seus dedos começam a 64 dedilhar as cordas
ele, mas nesse momento – zap – 68 aciono o controle remoto e ele some. Em seu 69 lugar, uma bela e sorridente jovem que está –
70
à exceção do pequeno relógio que usa no
71
pulso – nua,
completamente nua. Adaptado de: SCLIAR, M. Zap. In: MORICONI, Í. (Org.) Os cem melhores contos brasileiros. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 547-548.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas nas referências 31, 32, 46 e 59, nesta ordem. a) à – a – à – a b) à – à – a – a c) a – à – a – à d) a – a – à – a e) à – a – à – à
FRENTE
A
PORTUGUÊS
Exercícios de A p rof u n dam en t o Texto comum às questões 01 e 02 A revolução digital Texto e papel. Parceiros de uma história de êxitos. Pareciam feitos um para o outro. Disse “pareciam”, assim, com o verbo no passado, e já me explico: estão em processo de separação. Secular, a união não ruirá do dia para a noite. Mas o divórcio virá, certo como o pôr-do-sol a cada fim de tarde. O texto mantinha com o papel uma relação de dependência. A perpetuação da escrita parecia condicionada à produção de celulose. Súbito, a palavra descobriu um novo meio de propagação: o cristal líquido. Saem as árvores. Entram as nuvens de elétrons. A mudança conduz a veredas ainda não exploradas. De concreto há apenas a impressão de que, longe de enfraquecer, a ebulição digital tonifica a escrita. Isso é bom. Quando nos chega por um ouvido, a palavra costuma sair por outro. Vazando-nos pelos olhos, o texto inunda de imagens a alma. Em outras palavras: falada, a palavra perde-se nos desvãos da memória; impressa, desperta o cérebro, produzindo uma circulação de ideias que gera novos textos. A Internet é, por assim dizer, um livro interativo. Plugados à rede, somos, autores e leitores. Podemos visitar as páginas de um clássico da literatura. Ou simplesmente, arriscar textos próprios. Otto Lara Resende costumava dizer que as pessoas haviam perdido o gosto pela troca de correspondências. Antes de morrer, brindou-me com dois telefonemas. Em um deles prometeu: “Mando-te uma carta qualquer dia destes”. Não sei se teve tempo de render-se ao computador. Creio que não. Mas, vivo, Otto estaria surpreso com a popularização crescente do correio eletrônico. O papel começa a experimentar o mesmo martírio imposto à pedra quando da descoberta do papiro. A era digital está revolucionando o uso do texto. Estamos virando uma página. Ou, por outra, estamos pressionando a tecla “enter”. Josias de Souza. A revolução digital. Folha de São Paulo. 6/05/96. Caderno Brasil, p. 2).
01. (Uespi PI) Analisando a concordância verbal no seguinte fragmento: “Saem as árvores”, pode-se afirmar que: 1. o verbo poderia estar no singular: o sujeito vem posposto ao verbo. 2. nesse caso, a concordância é facultativa: o período é simples.
3. o verbo está corretamente flexionado: trata-se de um sujeito plural. Está(ão) correta(s): a) 1, 2 e 3 apenas b) 1 apenas c) 2 apenas d) 3 apenas e) 1 e 2 apenas 02. (Uespi PI) Em: “as pessoas haviam perdido o gosto pela troca de correspondências”, o uso do verbo ‘haver’: 1. está correto, pois, nesse caso, ‘haver’ é verbo auxiliar do verbo principal. 2. é facultativo: singular ou plural; trata-se de uma crônica literária. 3. deveria estar no singular: o verbo ‘haver’ é sempre impessoal. Está(ão) correta(s): a) 1, 2 e 3 apenas b) 1 apenas c) 2 apenas d) 3 apenas e) 1 e 2 apenas 03. (UFV MG) Há vampiros entre nós? Matemático afirma que, ao menos em termos numéricos, a existência dessas criaturas seria possível A moda dos vampiros, que ganhou nova força por conta do sucesso da saga Crepúsculo e da série True Blood, 2está le1
vando a ciência a considerar – nem sempre em tom de brincadeira – a existência dessas criaturas. A última 3polêmica acontece entre os matemáticos, que pegaram suas calculadoras para descobrir se os números (ao menos eles) 4conseguiriam provar se poderia haver sanguessugas entre nós. O bósnio Dino Sejdinovic acaba de publicar um estudo 5provando a possibilidade de avistarmos um vampiro vagando pela noite. Em termos numéricos, é claro. “A resistência humana contra os vampiros não pode ser ignorada pelos cálculos”, diz Sejdinovic, que com seu 7estudo pretende descredenciar uma tese realizada em 2008 pelos físicos Costas Efthimiou e Sohang Gandhi, das 8Universidades Cornell e Central Florida, nos EUA, que usaram a matemática para provar que os vampiros não poderiam 9existir. Por conta 6
637
P ortug uê s
de sua capacidade de transformar presas em predadores, em
04. (Puc Campinas SP) A frase em que a palavra destacada está
pouco tempo eles reduziriam drasticamente 10a quantidade
empregada em concordância com o padrão culto escrito é: a) São tão criativos, que se entrétem com pouca coisa, até com
de alimento disponível (sangue humano, no caso), até que o mundo fosse povoado apenas por outros 11vampiros. Em suas pesquisas, Costas e Sohang consideram que as criaturas surgiram por volta de 1600 – data que 12remete às primeiras
uma folhinha de árvore. b) Esse concurso semestral premia as melhores redações sobre temas da atualidade.
histórias sobre elas, quando a população da Terra era de 537 milhões de pessoas. Segundo eles, se o 13primeiro vampiro se alimentasse só uma vez por mês, em pouco mais de dois anos a raça humana teria se transformado 14em clones do bran-
c) Concluíram que abaixo-assinado são importantes para dar consistência à solicitação.
quelo Edward Cullen em Crepúsculo. O problema é que não restaria nenhuma Bella Swan para ter seu 15sangue sorvido
e) Disfarçar-se por ingênuo não resolve o problema.
por um par de dentes afiados. 16 Sejdinovic diz que os dois físicos subestimaram tanto a capacidade de resistência dos seres humanos quanto a 17in-
d) Havia animosidade à aspectos de menor importância, mas, no geral, entendiam-se bem.
05. (Unifesp SP)
teligência dos vampiros. E não contabilizaram que parte dos predadores morreria durante esses dois anos por conta de seus 18pontos fracos – estacas, crucifixos, dentes de alho, sol e água benta (e talvez por osteoporose e excesso de proteínas). “Como são 19inteligentes, os vampiros controlariam o estoque de humanos para não exaurir a espécie.” 20 Mas essa discussão não começou agora. Um trabalho da década de 80 dos austríacos Richard Hartl e Alexander 21 Mehlmann explicava quais fórmulas matemáticas teriam de ser seguidas pelos vampiros para sobreviverem sem ter que criar um 22banco de sangue. O estudo revoltou a comunidade antivampiresca porque teria ajudado os monstros a atacar a raça humana 23impunemente. O sociólogo Dennis Snower, da Universidade de Londres, traçou um plano de defesa para nós, mortais, realocando 24parte da mão de obra para produzir estacas e crucifixos (ele não considerou o plantio de alho). Ao menos em termos econômicos, 25portanto, a existência dos vampiros traria benefícios. Teríamos mais empregos e mais dinheiro circulando, o que é muito desejável 26nesse momento de crise global. (ROSA, Guilherme. Há vampiros entre nós? Revista Galileu, n. 227, p. 56, jun. 2010.)
FRENTE A E xercícios de A profundam ento
“[...] parte dos predadores morreria durante esses dois anos por conta de seus pontos fracos [...].” (refs. 17-18) Das alterações processadas na passagem acima, assinale aquela em que a concordância do verbo constitui desvio em relação à norma-padrão: a) A maioria dos predadores morreria durante esses dois anos por conta de seus pontos fracos. b) Alguns dos predadores morreriam durante esses dois anos por conta de seus pontos fracos. c) Nenhum dos predadores morreriam durante esses dois anos por conta de seus pontos fracos. d) Mais de um predador morreria durante esses dois anos por conta de seus pontos fracos. 638
(O Estado de S.Paulo, 01.05.2003. Adaptado.)
Em — E correr uns bons 20 km! — o termo uns assume valor de a) posse. b) exatidão. c) definição. d) especificação. e) aproximação. 06. (UFMA) O amor Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. 2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. 13
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
3
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento
II.
“É um não querer mais que bem querer.”
dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser quei-
III.
“É um não contentar–se de contente.”
mado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
IV.
“É um estar-se preso por vontade.”
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor
V.
“É um ter com quem nos mata a lealdade.”
4
não trata com leviandade, não se ensoberbece. não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
6
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
7
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquila-
8
das; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; 9
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos: Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte
10
será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
11
menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então ve-
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remos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes
13
três, mas o maior destes é o amor. Legião Urbana - Monte Castelo Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor, é só o amor.
a) Em todas as proposições, o artigo indefinido é seguido por um verbo. b) Somente na proposição I, o substantivo é precedido por um artigo indefinido. c) Nas proposições II, III, IV e V, os verbos são precedidos por um artigo indefinido. d) Apenas nas proposições II e III, o artigo indefinido é seguido por um verbo. e) Em todas as proposições, o artigo indefinido é posposto por um substantivo. 07. (Uncisal AL) [...] Quando me chamou, eu vim Quando dei por mim, tava aqui Quando lhe achei, me perdi Quando vi você, me apaixonei... [...] Quando não tinha nada, eu quis Quando tudo era ausência, esperei Quando tive frio, tremi Quando tive coragem, liguei... [...] Disponível em: <http://letras.mus.br/chico-cesar/43885/>. Acesso em: 12 out. 2014.
Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece. O amor é o fogo que arde sem se ver.
Assinale, dentre os versos da letra da canção de Chico César, a alternativa em que se cometeu erro de regência em um dos verbos.
É ferida que dói e não se sente.
a) “Quando tive frio, tremi”.
É um contentamento descontente.
b) “Quando lhe achei, me perdi”.
É dor que desatina sem doer.
c) “Quando me chamou, eu vim”.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
d) “Quando tive coragem, liguei...”.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
e) “Quando vi você, me apaixonei...”.
É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrário a si é o mesmo amor. Considere as proposições abaixo, do ponto de vista morfossintático, e assinale a alternativa correta: I. “É um contentamento descontente.”
08. (ESPM SP) Assinale a única frase aceita pelas normas de regência verbal: a) Sem-terra preferem a Bolsa Família a Reforma Agrária. b) O jogador disse que preferia jogar no Morumbi do que jogar no Interior. c) O consumidor endividado prefere mais a bebida barata que o uísque importado. d) Deputado petista preferiu ficar no Congresso que assumir cargo administrativo. e) A presidente afirmou que “prefere o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. 639
FRENTE A E xercícios de A profundam ento
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses,
5
FRENTE
B
Fonte: Wikemedia commons
PORTUGUÊS Por falar nisso O Pré-Modernismo foi um período da literatura brasileira que teve seu desenvolvimento nas décadas de 1910 e 1920. Muitos estudiosos afirmam que foi um período de transição entre o Simbolismo e o Modernismo. Se, por um lado, a Europa se preparava para a Primeira Guerra Mundial, o Brasil começava a viver um novo período de sua história. O Pré-Modernismo brasileiro situa-se no contexto histórico da consolidação da República: nas duas primeiras décadas do século XX, com o Brasil recém-saído da República da Espada (1889-1894) para a República do Café com Leite (1894-1930), sob o domínio político das oligarquias rurais de São Paulo e Minas Gerais. Dois presidentes militares foram responsáveis pela instalação e pela consolidação do regime republicano no Brasil: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Eles estiveram no poder de 1889 a 1894, durante a chamada República da Espada. A partir de 1894, tomou posse o primeiro presidente civil, o paulista Prudente de Moraes, que deu início à Republica das Oligarquias ou República do Café com Leite, cuja liderança era constituída por representantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A expectativa de um novo Brasil, mais justo e moderno, com o advento do regime republicano, foi frustrada. No novo regime, a oligarquia se manteve no poder, as desigualdades continuaram e a participação política ficou restrita às elites. Em vários estados brasileiros havia grande tensão, inclusive revoltas populares. Na população das grandes cidades brasileiras, desencadeavam-se protestos contra as injustiças sociais: a Guerra do Contestado - no Sul; o Cangaço Nordeste, a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata - no Rio de Janeiro. Além disso, outros fatores afluíram para essas alterações: o auge da produção agropecuária na região Sudeste; o processo crescente de urbanização de São Paulo; o desembarque de um grande número de imigrantes, sobretudo de italianos, no centro sul do país; a marginalização dos antigos escravos e o declínio acelerado da cultura canavieira do Nordeste, que impossibilitava a competição com a ascensão do café paulista. Todos esses eventos marcaram os fortes contrastes da realidade brasileira. O cenário de tensão e desigualdades entre as regiões provocou intensas agitações sociais, principalmente no sertão nordestino. A Revolta de Canudos, com a figura de Padre Cícero, na cidade cearense de Juazeiro e o fenômeno do cangaço, com a figura de Lampião, refletiam a situação crítica de um Nordeste abandonado. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
B05 B06 B07 B08
Pré-Modernismo I − Euclides da Cunha, Graça Aranha e Monteiro Lobato..642 Pré-Modernismo II − Lima Barreto e Augusto dos Anjos .............................652 Vanguardas europeias ..............................................................................662 Semana de Arte Moderna ........................................................................667
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B05
ASSUNTOS ABORDADOS n Pré-modernismo I – Euclides da
Cunha, Graça Aranha e Monteiro Lobato n Momento tenso na cultura e na sociedade n Estilo de linguagem
PRÉ-MODERNISMO I – EUCLIDES DA CUNHA, GRAÇA ARANHA E MONTEIRO LOBATO Momento tenso na cultura e na sociedade Contrastando com o “mundo cor- de- rosa” das elites, estava a miséria do povo, e poucos escritores tinham os olhos voltados, de modo crítico, para a realidade brasileira. Os literatos da época, preocupados com o prestígio social, frequentavam cafés, saraus, apreciavam palavras eruditas, os modismos e o tom retórico europeu. Enquanto isso: n n n n
as diferenças sociais tornavam-se mais evidentes, sobretudo com relação à burguesia e ao proletariado; aumentava, consideravelmente, o número de imigrantes europeus para o trabalho na lavoura; o negro era discriminado; o interior era marginalizado enquanto a vida urbana era desenvolvida.
Diante desse cenário, nascem as obras regionalistas pré-modernistas, enfatizando a vida dos que vivem fora do movimento das cidades. A partir do Pré-modernismo, surge uma literatura mais engajada, preocupada em mostrar uma visão mais crítica do ambiente sociocultural brasileiro. Os principais romancistas desse momento foram Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha e Monteiro Lobato. Na poesia, destacamos Augusto dos Anjos.
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Euclides da Cunha (1866 – 1909) Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Canaã, de Graça Aranha, publicados em 1902, marcam o início do período pré-modernista. Em Os Sertões, Euclides da Cunha que, na época, acompanhou o conflito armado na condição de jornalista, como correspondente de O Estado de São Paulo, retratou o episódio da Guerra de Canudos, fazendo uma análise completa da terra e do sertanejo nordestino. Exibindo um estilo extremamente rebuscado e permeado de expressões científicas, o romancista vai tecendo uma narrativa forte e atraente, descrevendo a situação de miserabilidade do sertanejo. Nessa obra, ele apresenta uma contundente denúncia sobre o massacre dos sertanejos de Canudos, retratando-os como bravos heróis que resistiram até o fim. A sua narrativa mostra o fanatismo religioso como uma das consequências do abandono ao qual o governo federal relegou o nordestino. Cunha testemunha, com valentia e indignação, o massacre promovido pelo Exército brasileiro para acabar com a chamada “insubordinação” de Antônio Conselheiro e seus fiéis seguidores. O então presidente Prudente de Moraes comemorou a vitória das tropas militares, mas aos poucos, surgiram as críticas tecidas pelos políticos, intelectuais e de diversos setores da sociedade, sobre a (des)necessidade do uso de tamanha violência contra os habitantes de Canudos. Assim, a Guerra de Canudos passou para a história como o grande massacre da população pobre e humilde do Nordeste brasileiro.
642
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
A obra foi publicada em 1902 e é considerada pré-modernista, devido ao seu poder crítico e às profundas convicções sociopolíticas que se destacam na literatura. Esse romance dá início ao Pré-Modernismo na literatura brasileira, revelando, às vezes, com crueldade e certo pessimismo, o contraste cultural nos dois “Brasis”: o do sertão e o do litoral. Em tom crítico, o romancista mostra o que séculos de atraso e miséria, em uma região geográfica e temporalmente separada do resto do país, são capazes de gestar e fazer nascer - um líder fanático e o delírio coletivo de uma população conformada. Euclides da Cunha também critica o nacionalismo acirrado da população litorânea, que não tinha conhecimento da realidade daquela sociedade plural, produzida pelo deserto e por isso agiu às cegas e cometendo um grande crime contra si mesma. Esse é o grande tema de Os Sertões.
Segunda parte - O Homem Nessa etapa, o autor fala sobre a origem dos habitantes do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, seu caráter, seu passado, crença e costume, fazendo uma descrição sociológica e antropológica a partir do estudo feito sobre o protótipo do jagunço. Depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, líder de Canudos. O narrador aborda, também, as tradições sertanejas dos vaqueiros, descrevendo com minúcias seu modo de vida. Antônio Conselheiro tinha uma imagem messiânica, profética: trajava roupão azul, cabeleira desgrenhada, conduzindo um bastão. Essa imagem beneficiou sua associação com uma figura mística, que serviu para o povo fanático e desvalido. Apesar disso, ele era acusado de sonegar impostos, de ser antirrepublicano e de manifestar-se contra a dissociação entre Estado e Igreja no casamento - medida surgida com o advento da República. Terceira Parte – A Luta
O romancista descobre o espaço do sertão do Planalto Central até o norte da Bahia. Seu olhar sutil lhe permite fazer análises biológicas, climáticas e geográficas. Com riqueza de detalhes, ele fala sobre a seca e sobre suas causas, sobre os danos que o homem fez ao ambiente ao longo do tempo, e os danos que o ambiente faz ao homem.
O livro termina com a descrição da queda do Arraial de Canudos e a destruição de todas as casas erguidas no local, trazendo uma triste conclusão: foi apenas um massacre violento em que estavam todos errados e o lado mais frágil resistiu até o fim com seus derradeiros defensores – um velho, dois adultos e uma criança.
Com seu apurado estilo jornalístico, o escritor pinta um quadro dos elementos que compõem a Guerra de Canudos em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Primeira parte – A Terra
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O cientista Euclides da Cunha utilizou a primeira parte do livro para descrever, detalhadamente, o cenário em que tudo aconteceu, mostrando todas as características do lugar: o clima, as secas e a terra.
É a parte mais relevante e importante da obra de Euclides da Cunha. Ele cria o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra. A narrativa é constituída das quatro expedições do Exército enviadas para sufocar a rebelião de Canudos, que reunia os jagunços (das regiões do Rio São Francisco) e cangaceiros (denominação no Norte e Nordeste). Esses cangaceiros e jagunços eram vistos como “bandidos do sertão” e deveriam urgentemente ser reprimidos para evitar uma guerra ainda maior. A Luta se divide em seis subtítulos: Preliminares, Travessia do Cambaio, Expedição Moreira César, Quarta Expedição, Nova Fase de Luta e Últimos Dias. Nessa fase são completados os detalhes e o elenco dos personagens esboçados na parte anterior.
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B05 P ré - m odernism o I − E uclides da Cunh a, G raça A ranh a e Monteiro Lobato
Enviado para o interior da Bahia como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, Euclides da Cunha se deparou com a realidade de famílias reunidas em torno de um líder messiânico, cujo movimento estava na iminência de ser massacrado. A experiência foi transformadora e teve como fruto um romance social que se tornou uma das maiores obras da literatura brasileira – Os Sertões.
P ortug uê s
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O conflito de Canudos surgiu de uma pequena desavença local. Antônio Conselheiro reclama um estoque de madeira que havia encomendado e pago, que seria destinado à construção de uma igreja no Arraial de Canudos. Como a encomenda não foi entregue, houve uma ameaça de ataque à cidade de Juazeiro. O juiz da região pediu ajuda ao governador da Bahia, porém, este, não conseguindo resolver a situação, pediu a presença das tropas federais. Esses foram os argumentos oficiais de Floriano Peixoto para o ataque. Este trecho de Euclides da Cunha descreve a situação no final dos combates:
Figura 01 - Homenagem a Antônio Conselheiro em Canudos, município da Bahia.
A luta, que viera perdendo dia a dia o caráter militar, degenerou, ao cabo, inteiramente. Foram-se os últimos traços de um formalismo inútil: deliberações de comando, movimentos combinados, distribuições de forças, os mesmos toques de cornetas, e por fim a própria hierarquia, já materialmente extinta num exército sem distintivos e sem fardas. Sabia-se de uma coisa única: os jagunços não poderiam resistir por muitas horas. Alguns soldados se haviam abeirado do último reduto e colhido de um lance a situação dos adversários. Era incrível: numa cava quadrangular, de pouco mais de metro de fundo, ao lado da igreja nova, uns vinte lutadores, esfomeados e rotos, medonhos de ver-se, predispunham-se a um suicídio formidável. Chamou-se aquilo o “hospital de sangue” dos jagunços. Era um túmulo. De feito, lá estavam, em maior número, os mortos, alguns de muitos dias já, enfileirados ao longo das quatro bordas da escavação e formando o quadrado assombroso dentro do qual uma dúzia de moribundos, vidas concentradas na última contração dos dedos nos gatilhos das espingardas, combatiam contra um exército. E lutavam com relativa vantagem ainda. Pelo menos fizeram parar os adversários. Destes os que mais se aproximaram lá ficaram, aumentando a trincheira sinistra de corpos esmigalhados e sangrentos. Viam-se, salpintando o acervo de cadáveres andrajosos dos jagunços, listras vermelhas de fardas e entre elas as divisas do sargento-ajudante do 39º, que lá entrara, baqueando logo. Outros tiveram igual destino. Tinham a ilusão do último reecontro feliz e fácil: romperam pelos últimos casebres envolventes, caindo de chofre sobre os titãs combalidos, fulminando-os, esmagando-os...”
#DicaCine Ptugê Guerra de Canudos é um filme brasileiro de 1997, do gênero drama, dirigido por Sérgio Rezende. No elenco estão José Wilker, Cláudia Abreu, Paulo Betti, Marieta Severo, Selton Melo, José de Abreu e outros. Embasado no célebre episódio real da história brasileira, a Guerra de Canudos, o filme fala sobre o enfrentamento do exército brasileiro contra os integrantes de um movimento religioso liderado por Antônio Conselheiro. Essa guerra durou de 1896 a 1897 e terminou com o massacre dos amotinados pelas tropas federais. Sinopse − Em 1893, Antônio Conselheiro (José Wilker) e seus seguidores começam a tornar um simples movimento em algo grande demais para a República, que acabara de ser proclamada e decidira por enviar vários destacamentos militares para destruí-los. Os seguidores de Antônio Conselheiro apenas defendiam seus lares, mas a nova ordem não podia aceitar que humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem a República. Assim, em 1897, esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Esses fatos são vistos pela ótica de uma família com opiniões conflitantes sobre Conselheiro.
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B05 P ré - m odernism o I − E uclides da Cunh a, G raça A ranh a e Monteiro Lobato
Os Sertões, Euclides da Cunha
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SAIBA MAIS ÓRFÃOS DO ÓDIO DE CANUDOS Fonte: wikimedia commons
Crianças sertanejas sobreviventes da Guerra de Canudos foram arrancadas de suas famílias, exibidas como troféus, vendidas e usadas como mão de obra doméstica. O cruel extermínio de prisioneiros, a epidemia de varíola que se alastrou pelo sertão, a fome e a sede dos sobreviventes não foram os únicos legados da Guerra. O conflito ocorrido no interior baiano, entre novembro de 1896 e outubro de 1897, opôs os exércitos da República e a comunidade de sertanejos liderada por Antônio Conselheiro, deixando como herança trágica, um grande contingente de crianças e adolescentes órfãos. A Guerra de Canudos durou quase um ano e contou com a participação de cerca de dez mil soldados, vindos de dezessete estados brasileiros, que deram combate aos homens de Antônio Conselheiro em quatro expedições militares. O número estimado de vítimas é de vinte e cinco mil pessoas, entre elas mulheres e crianças. Quase todos os conselheiristas foram mortos depois de presos, boa parte na prática da “gravata vermelha”, como era conhecida a degola. [...] Canudos ficou completamente destruída. Cinco mil e duzentas casas foram queimadas, enquanto a elite política, acadêmica e militar se congratulava pelo desaparecimento do Arraial.
A linguagem – extraordinariamente elaborada, ornamental, difícil, poética, barroca em suas antíteses, em suas metáforas e em seus paradoxos – é o que confere caráter literário ao texto. Alguns críticos literários e escritores consideram a linguagem de Os Sertões como um “Barroco Científico”. A obra exibe diversas características de textos: literários, científicos e jornalísticos. Ademais é possível claramente observar os traços deterministas e naturalistas do autor ao retratar o homem como produto do meio em que vive. Sobre o estilo de Euclides da Cunha, certa feita Monteiro Lobato escreveu sobre a preferência do autor pelo adjetivo posposto como um dos fatores expressivos do seu estilo: “Colocado ao dorso des(cavalo), confundindo-se com ele, graças à pressão dos jarretes firmes, realiza a criação bizarra de um centauro bronco: emergindo inopinadamente nas clareiras; mergulhando nas macegas altas; saltando ipueiras; vingando cômoros alçados; rompendo, célere, pelos espinheirais mordentes; precipitando-se, a toda brida, no largo dos tabuleiros…” (p.130-vol.I). Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha Nasceu no Rio de Janeiro em 1866 e morreu em 1909. Foi escritor, jornalista, professor e poeta. Ingressou na Escola Militar, da qual foi expulso por afrontar o Ministro da Guerra do Império. Foi para São Paulo em 1889, quando publica no jornal O Estado de São Paulo, uma série de artigos em que defendia ideais republicanos.
Depois de Proclamada a República, Euclides da Cunha volta para o Rio de Janeiro e retorna ao Exército. Cursa, de 1890 a 1892, a Escola Superior de Guerra, formando-se em Engenharia Militar e bacharelando-se em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Em agosto de 1897, foi convidado pelo jornalista Júlio de Mesquita para testemunhar as operações do Exército na Guerra de Canudos, no sertão baiano. Ao regressar de Canudos, vai para São José do Rio Pardo, em São Paulo, para administrar a construção de uma ponte. Escreve o livro que o consagraria no panorama cultural brasileiro, Os Sertões, em que relata não só o que presenciou na guerra, mas explica o fenômeno, cientificamente. No dia 15 de agosto de 1909, por questões de honra, numa troca de tiros com o militar Dilermando de Assis, Euclides é assassinado. Graça Aranha (1868-1931) Graça Aranha é um autor cuja importância se deve a um único livro: Canaã, que praticamente abre o Pré-Modernismo junto com Os Sertões, de Euclides da Cunha. Canaã é considerado um romance de tese que tem como cenário uma colônia de imigrantes em Porto de Cachoeiro, no Espírito Santo. A principal característica da obra são as descrições constantes da natureza e da população daquele lugar. Em uma linguagem culta formal, o enredo de Canaã desenvolve-se no Espírito Santo, cujo foco central são os debates que se estabelecem entre dois alemães que imigraram para o Brasil – Milkau, um homem mais humanitário, e Lentz, um sujeito preconceituoso. 645
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Estilo de linguagem
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O enredo, portanto, gira em torno dos debates entre esses dois personagens com diferentes visões de mundo: Milkau representa o otimismo, a confiança no futuro do Brasil e na força regeneradora do amor universal. Ele prega a integração harmônica de todos os povos na natureza – mãe, revelando-se um evolucionismo humanitário. Enquanto ele acredita na humanidade e pensa encontrar a “terra prometida” (Canaã) no Brasil, Lentz não se adapta à realidade brasileira, voltando-se para a superioridade germânica e para a lei do mais forte. Lentz é um adepto das teorias racistas. Para ele, os brasileiros, por serem mestiços, estão condenados à dominação por parte de raças “superiores”. Ele profetiza a vitória dos arianos, enérgicos e dominadores, sobre o brasileiro fraco e indolente. Nas palavras do crítico Alfredo Bosi: “( ) É o contraste entre o racismo e o universalismo, entre a ´lei da força´ e a ´lei do amor’ que polariza ideologicamente, em Canaã, as atitudes do imigrante europeu diante de sua nova morada.” Canaã denuncia os preconceitos e o racismo como também as extorsões praticadas pelos poderosos. Além da presença do imigrante da colônia e do mulato, o autor faz referência ao folclore indígena e europeu, ressaltando a diferença cultural existente. Por essas características e por seu valor documental, o romance destaca-se como o marco inicial do Pré-Modernismo e se classifica como romance de tese ou de ideias. Monteiro Lobato (1882 - 1948) “Depois que me vi condenado a seis meses de prisão, e posto numa cadeia de assassinos e ladrões só porque teimei demais em dar petróleo à minha terra,
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morri um bom pedaço na alma.” Monteiro Lobato
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Lobato é, sem dúvida, o maior escritor da literatura infantojuvenil brasileira. Com ele, ocorre uma verdadeira revolução no gênero, até então marcado por textos de preocupações patrióticas, ufanistas e moralistas, que não divertiam as crianças, mas tentavam doutriná-las. Monteiro Lobato participou ativamente da vida cultural brasileira. Deixou uma extensa obra, composta por contos, crônicas, ensaios, artigos e uma série de livros que o transformaram no verdadeiro iniciador de nossa literatura infantil. Ao rejeitar os modelos tradicionais, o escritor despertou nas crianças o gosto pela fruição, o prazer ao lidar com as reflexões, com a modernidade e a assimilação de valores universais. Sua produção infantojuvenil constitui a parte mais importante de sua obra. Contudo, Lobato não escreveu apenas para crianças e jovens. O autor é estudado aqui como pré-modernista por duas características fundamentais de suas obras de ficção: o regionalismo e a denúncia da realidade brasileira. Ademais, as ideias políticas de Lobato, como também suas opiniões a respeito da cultura nacional, estão numa série de artigos de jornal, entrevistas e prefácios. Quem foi Monteiro Lobato? Lobato foi promotor, editor, fazendeiro e jornalista, além de dedicar-se à exploração de minério de ferro e petróleo. Lutou ardentemente pela campanha na nacionalização do petróleo, o que lhe custou um processo e seis meses de prisão, em 1941, durante o governo de Getúlio Vargas, por ter criticado as leis que dificultavam a livre iniciativa na área da pesquisa. 646
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Obras do autor Literatura “para adultos” – Urupês, Cidades mortas, Negrinha; n n n n
Contos com ênfase em soluções patéticas, macabras ou anedóticas; Estrutura do conto e de linguagem presa ao modelo realista tradicional; Registro da zona cafeicultora decadente do interior paulista (Cidades mortas); Criação da figura do caboclo brasileiro (o caipira) – Jeca Tatu.
Urupês e Cidades mortas são os dois livros de contos que se destacam na obra de Lobato. Em Urupês (1918), o autor cria a figura do Jeca Tatu, símbolo do caboclo brasileiro. Já em Cidades mortas (1919), ele retrata a decadência das cidades paulistas do Vale do Paraíba, diante do declínio da economia cafeeira. Negrinha é um livro de contos, publicado em 1920. Na sua primeira edição, era constituído pelos contos Negrinha, Fitas da Vida, O drama da geada, O Bugio moqueado, O jardineiro Timóteo e O colocador de pronomes. Literatura infantil- todas as narrativas centram-se em um único espaço – o Sítio do Picapau Amarelo, espécie de metáfora do Brasil. É nesse universo que Lobato: n n
Mescla fantasia, realidade e informação; Traz um cenário típico do interior brasileiro (o sítio).
Na literatura chamada “para adultos”, Lobato é, sobretudo, um criador de contos regionalistas e “contador de histórias” caipiras. Seus cenários, personagens e enredos resgatam o Brasil rural em extinção, com um tom marcado pela oralidade e por uma constante preocupação com as contradições do Brasil, no impasse entre o atraso e a modernidade. Cidades mortas A preocupação primeira e o aspecto literário mais importante para Lobato era denunciar alguns problemas que marcavam a vida das pessoas do interior. O foco do autor era a região do Vale do Paraíba, que entrou em decadência após o deslocamento das culturas de café para o Oeste Paulista. Nos contos de Cidades mortas, Lobato caracteriza o devastamento deixado nas pequenas cidades que, há pouco, prosperavam e critica a queda do café e seus efeitos na população que dele sobrevivia.
Contos como “Um homem de consciência”, “Café! Café!” ou “Cabelos compridos” mostram exatamente o tipo de pessoa que Lobato quis retratar. São, em sua grande maioria, caboclos chucros, que, muitas vezes, tentam se passar por inteligentes e letrados. Em comum, todos estão presos naquela terra onde nada acontece. Cidades mortas é composto por 25 contos, escritos em diferentes fases da vida de Monteiro Lobato, entre 1900 e 1923. Eles retratam, cada um à sua maneira, a decadência das cidades do interior de São Paulo após o declínio das lavouras de café da região. Para ilustrar esse fato, o autor escolhe Itaoca, uma cidadezinha qualquer, parada no tempo, que simboliza o interior do Estado de São Paulo, principalmente o Vale do Paraíba, na época da decadência da lavoura cafeeira. Lobato faz um retrato daquelas pessoas que acreditam que a situação do café ainda vai melhorar, mesmo acumulando prejuízos ano após ano. Entre pequenos causos, histórias mais sérias e reflexões, o autor traça um panorama completo não só da decadência de uma cidade, mas também da decadência de um povo. “Café! Café!”, como o próprio título sugere, é a máxima da decadência desastrosa provocada pela obsessão de um velho major em continuar a produção da monocultura, mesmo com as quedas drásticas que esse produto agrícola sofria. É um relato que reproduz o espírito do homem da terra obcecado pela monocultura do café. Acostumado a vender sua safra por trinta e cinco a quarenta mil réis, não aceitava a queda dos preços que chagava a quatro mil réis, tampouco aceitava a sugestão de cultivar outro cereal. Analisemos os fragmentos do conto a seguir. “O homem encolorizava-se e rugia: - Não! Só café! Há de subir muito. Sempre foi assim. Só café!” E mantendo-se obstinadamente nessa ideia viu suas terras perderem o valor, os empregados serem dispensados e as contas levarem parte de sua fazenda. [...] É que ficou nisso o meu major; se uma ideiazita nova voava para ele, batia no peito em seus ouvidos moucos, como rolinhas em paredes caiadas, caindo morta no chão; ou como borboleta em casa aberta, entrava por uma orelha e saía por outra. Ficou naquilo o major Mimbuia, uma pedra, um verdadeiro monolito que só cuidava de colher café, de secar café, de beber café, de adorar o café. (LOBATO, 1975, p. 106-107).
A insistência e teimosia do major Mimbuia em não querer acabar com a monocultura cafeeira, além de lhe causar a decadência econômica e social, motivou também uma loucura progressiva que aumentava à medida em que o preço da saca de café caía. A obsessão e histeria eram tantas que o 647
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Do ponto de vista cultural, ele teve sempre uma postura nacionalista, até de certa forma bem radical. Embora fosse um homem que acreditasse no progresso, cometeu o equívoco momentâneo de criticar os modernistas da Semana de 1922, que buscavam uma arte de reforma. Assumiu posições antimodernistas, como bem atesta seu artigo intitulado “Paranoia ou mistificação”, criticando a exposição da pintora Anita Malfatti.
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major foi perdendo tudo, apesar de o cafezal manter-se impecável, sinal de esperança de que os tempos melhorariam. O major enlouquecia. Estava à mingua de recursos, endividado, a fazenda penhorada, os camaradas desandando, os credores batendo à porta. Já ia para três anos que o produto das safras não bastava para cobrir o custeio. Três déficits sucessivos devoraram-lhe as economias e estancaram as fontes. Mas o velho não desanimava. O cafezal estava um brinco, sem um pezinho de capim. [...] Aconselharam-lhe o plantio de cereais; o feijão andava caro, o milho dava bom lucro. Nada! O homem encolerizava-se e rugia: - Não! Só café! Só café! Há de subir, há de subir muito. Sempre foi assim. Só café. Só café. [...] Mimbuia estava um espetro, já nu de todo, os olhos esbugalhados a se revirarem nas órbitas com desvario. Um espetro sem carnes, só pele calcinada e ossos pontiagudos. Mas quando a boca se abria naquela barba hirsuta, o que vinha era uma coisa só: - Há de subir, há de subir, há de chegar a sessenta mil réis em julho. Café, café, só café! E o velho major caiu em cisma profunda. A colheita não prometia pouco [...] Mas os preços, os preços! Uma infâmia! Café a seis mil réis, onde se viu isso? E ele que anos atrás vendera-o a trinta! E este governo, santo Deus, regionais, que não obriga o estrangeiro a pagar o precioso grão a peso de ouro! E depois não queriam que ele fosse monarquista... Havia de ser, havia de detestar a república porque era ela a causa de tamanha calamidade, ela com seu Campos Sales de bobagem.
Obra infantojuvenil lobatiana Ao lado da literatura adulta, Lobato deixou extensa obra voltada para o público infantil e infantojuvenil justamente no campo até então pouco explorado em nossas letras. A literatura lobatiana, além do caráter moralista e pedagógico, não abandona a luta pelos interesses nacionais empreendida pelo autor, com seus personagens representativos das várias facetas de nosso povo, e o Sítio do Picapau Amarelo, que é a própria imagem do Brasil. Lobato define e caracteriza, com precisão de detalhes, o nosso caboclo, que ele chama de Jeca Tatu, como criatura ignorante, preguiçosa, inútil, sem ambição, sem nenhum senso de arte, sem desejo de permanência e de realização. Até mesmo a sua religiosidade é preguiçosa (“Deus quis”). A família vive de cócoras pela ausência de cadeiras. Não acompanha os grandes lances da história brasileira, além de não saber em quem votar. Nesse espaço decadente, aparece o caipira subnutrido, vivendo na miséria, na ignorância, no desânimo. Leia o fragmento abaixo, O poço do Visconde, em que a ficção e a realidade se misturam em torno do problema do petróleo.
(LOBATO, 1975, p. 107-116).
O trecho revela-nos que o velho major Mimbuia enlouquece porque a realidade que o cerca não consegue suprir suas necessidades e aspirações, refugiando-se, portanto, no universo do inconsciente e da loucura como resposta a essa desconcertante e depressiva situação. Todos os contos que compõem Cidades Mortas revelam um caráter esteticamente moderno, pois Lobato trazia consigo a sede de renovação das letras nacionais, ainda estagnadas nas estéticas parnasiana e simbolista. Embora evidenciasse uma tímida ruptura com a forma, o escritor transgrediu substancialmente no conteúdo, abordando de forma irônica o panorama das decadentes cidades que compunham o Vale do Paraíba. Lobato trilhou com brilhantismo na contramão do estilo de sua época. Com isso, conseguiu fazer gestar uma literatura tipicamente nacional ao desenhar personagens, paisagens 648
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[...]
e situações brasileiras, com o objetivo de tecer uma crítica ao atraso social e ideológico do nosso país, que mais tarde seria aprofundada pelos revolucionários da geração de 22.
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Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo... Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher (...) Nada mais. Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisso vai longe. Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar o João-de-Barro. Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido. Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem o equilíbrio; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam?
Suas histórias e fábulas, ambientadas no “Sítio do Picapau Amarelo”, têm influenciado gerações de leitores. Nelas o Brasil arcaico, rural, se mistura com um Brasil moderno, da ciência do petróleo. Além disso, seus personagens se misturam aos heróis da mitologia grega, alguns personagens de contos de fadas europeus e personagens clássicos da literatura (como Capitão Gancho e Dom Quixote). Todos se juntam com suas inesquecíveis criações – Dona Benta, Narizinho, Pedrinho, a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa. Sobrevivendo ou não, a literatura infantil de Monteiro Lobato exerceu durante muitos anos a imbatível função de criar o gosto pela leitura em centenas de milhares de crianças brasileiras. Linguagem de Lobato
Seus remotos avós não gozavam de maiores quantidades. Seus netos não meterão a quarta perna no banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.
“__Diabo! A mó que que o Joli do Pedro Surdo? E com uma pedra o espanta. “Sai porqueira! Não ouve o carro? Não tem medo de morrê masgaiado?”
LOBATO, Monteiro. Urupês. Brasiliense: São Paulo; 1948. 245-6.
Cidades mortas
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Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo?
O estilo de Lobato é simples, direto, objetivo, avesso ao rebuscamento da linguagem. A luta por uma linguagem mais próxima do coloquial é preocupação constante do autor. Observa-se ainda a incorporação à linguagem literária de termos e expressões típicas da fala regional. Em vários contos emprega a onomatopeia.
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Jeca Tatu
P ortug uê s Questão 03. A arte impressionista, diferentemente da pintura realista, não pretendia ser um retrato da realidade, e sim fazer da pintura uma obra em si mesma. Claude Monet buscava, através de pinceladas soltas, atrair os olhares para o movimento, a luz e suas variações de intensidade. Na pintura, o barco e o rio aparecem sem contornos nítidos, a ênfase está nas cores que adquirem ao refletir a luz do Sol.
reto sil e
Exercícios de Fixação 01. (FPS PE) Publicado em 1902, Os Sertões, de Euclides da Cunha, fundamenta os seus princípios teóricos e metodológicos nas teorias positivistas, no Evolucionismo Social e no Determinismo. Assentado nesses princípios, Euclides declina as suas interpretações do Brasil, em geral, e do Sertão nordestino, em particular. Ainda sobre a obra máxima de Euclides da Cunha, é correto afirmar o que segue. a) O livro é dividido em 4 partes: A Terra, A Água, O Homem e A Luta. b) O livro trata da Guerra de Canudos e do misticismo do sertanejo. c) O livro defende de maneira veemente a monarquia brasileira. d) O livro mostra o Sertão como uma região de grande futuro econômico. e) O livro exalta a inteligência e a erudição de Antônio Conselheiro.
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e do Préimeem vez proira e XIX. obra
02. (IFMG) O Pré-Modernismo foi o período de transição entre a literatura do século XIX e o movimento modernista que durou de 1902 a 1922. Quanto à literatura produzida nesse período, assinale a alternativa que não apresenta características dessa época: a) Os autores apresentaram conteúdo inovador quanto ao conteúdo e conservador quanto à forma, uma vez que estavam presos ao modo de escrita tradicional. b) Os primeiros anos foram classificados como fase de destruição, pois era necessário romper com o conceito tradicional de literatura e apresentar um novo modelo estético. c) As obras trazem, pela primeira vez, para a literatura brasileira personagens até então marginalizados, como o sertanejo e tipos provenientes dos subúrbios das grandes cidades brasileiras. d) Os principais autores desse período foram Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos e Lima Barreto. 03. (Unesp SP)
04. (Puc Campinas SP) Os escritores Monteiro Lobato e Euclides da Cunha apresentam, além de traços literários originais, características de estilo que fazem lembrar a prosa realista do século XIX. Em nossa história literária, ambos os escritores são localizados a) no período parnasiano, em função da predominância de aspectos conservadores na versificação de seus poemas. b) na escola naturalista mais radical, em função dos cenários naturais idealizados que costumam explorar. c) no período pré-modernista, uma vez que representam uma energia criativa que antecede a eclosão do Modernismo. d) no movimento modernista, visto que receberam a influência de autores como José Lins do Rego e Graciliano Ramos. e) na escola simbolista, uma vez que os traços realistas são inteiramente absorvidos pela sublimação mística. 05. (Uncisal AL) Estrada para o céu Os ingênuos contos sertanejos desde muito lhes haviam revelado as estradas fascinadoramente traiçoeiras que levam ao Inferno. Canudos, imunda antessala do Paraíso, pobre peristilo dos céus, devia ser assim mesmo – repugnante, aterrador, horrendo... Entretanto, lá tinham ido, muitos, alimentando esperanças singulares. “Os aliciadores da seita se ocupam em persuadir o povo de que todo aquele que se quiser salvar precisa vir para Canudos, porque nos outros lugares tudo está contaminado e perdido pela República. Ali, porém, nem é preciso trabalhar, é a terra da promissão, onde corre um rio de leite e são de cuscuz de milho as barrancas.” Chegavam. Deparavam o Vaza-Barris seco, ou empanzinado, volvendo apenas águas barrentas das enchentes, entre os flancos entorroados das colinas... Tinham esvaecida a miragem feliz; mas não se despeavam o misticismo lamentável... CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984.
(Claude Monet. Impression, soleil levant (1873). Musée Marmottan, Paris. Extraído de http://www.ibiblio.org/wm/paint/glo/impressionism)
O Impressionismo foi um dos movimentos artísticos mais significativos do século XIX. Indique uma característica da pintura impressionista, presente na tela, e o motivo pelo qual se afirma que ela rompeu com a pintura realista.
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Em Os Sertões, Euclides da Cunha relata as batalhas entre os homens liderados pelo beato Antônio Conselheiro e as tropas do governo republicano. Referente ao exceto acima, constata-se que a) o narrador concorda com o ponto de vista dos “aliciadores da seita”. b) o sertanejo abandonava seu credo ao deparar com a imagem real de Canudos. c) o narrador apresenta uma imagem unilateral do arraial de Canudos. d) o narrador faz uma citação de um discurso parodístico de marcas utópicas. e) o sertanejo vivia melhor “nos outros lugares” do que em Canudos.
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Exercícios C om p l em en t ares
Fechemos este livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. (...) Forremo-nos à tarefa de descrever seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos. (Euclides da Cunha. Os Sertões. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Alves; Brasília, INL, 1979. p. 4070)
01. (Puc Campinas SP) Entre outras razões, a importância de Os Sertões deve-se ao fato de que essa obra-prima, a) influenciada pelo modernismo de 22, inaugura nossa ficção regionalista. b) motivada pela campanha republicana, dá força à ideologia patriótica. c) inspirada pela Abolição, analisa os reflexos desta em nossa literatura. d) datada do Pré-Modernismo, revela profundas tensões da realidade nacional. e) impulsionada pelo misticismo simbolista, enaltece o fanatismo religioso. 02. (Puc Campinas SP) No trecho acima, Euclides da Cunha faz referências explícitas a) ao significado político do episódio em questão. b) ao caráter propriamente ficcional de sua narrativa. c) a determinados limites de sua narração. d) à admiração que nutre pelos vitoriosos no combate. e) às qualidades trágicas alcançadas pela narrativa. Texto comum às questões 03 e 04 O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas 02 inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se 03 em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, 04 distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras 05 setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que 06 descamba para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, 07 que o despem da primitiva grandeza afastando-o consideravelmente 08 para o interior. 09 De sorte que quem o contorna, seguindo para o norte, observa 10 notáveis mudanças de relevos: a princípio o traço contínuo e dominante 11 das montanhas, precintando-o, com destaque saliente, sobre a linha 12 projetante das praias, depois, no seg01
mento de orla marítima entre o 13 Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um aparelho litoral revolto, feito da 14 envergadura desarticulada das serras, riçado de cumeadas e corroído 15 de angras, e escancelando-se em baías, e repartindo-se em ilhas, 16 e desagregando-se em recifes desnudos, à maneira de escombros 17 do conflito secular que ali se trava entre os mares e a terra; em 18 seguida, transposto o 15º paralelo, a atenuação de todos os acidentes 19 — serranias que se arredondam e suavizam as linhas dos taludes, 20 fracionadas em morros de encostas indistintas no horizonte que se 21 amplia; até que em plena faixa costeira da Bahia, o olhar, livre dos 22 anteparos de serras que até lá o repulsam e abreviam, se dilata em 23 cheio para o ocidente, mergulhando no âmago da terra amplíssima 24 lentamente emergindo num ondear longínquo de chapadas... 25 Este facies geográfico resume a morfogenia do grande maciço 26 continental. Euclides da Cunha, Os Sertões.
03. (Mackenzie SP) A partir do fragmento de Os Sertões, pode-se afirmar que todas as afirmações estão corretas, EXCETO: a) o autor compõe seu texto com traços tanto de uma prosa científica quanto de uma prosa literária. b) a constante utilização de termos científicos, como cumeadas, taludes e morfogenia, compromete o valor literário da obra. c) destacam-se contrastes geográficos do Brasil, como evidenciado no fragmento: Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude (Refs. 04 e 05) d) há uma detalhada descrição da região embasada pelo conhecimento das Ciências Naturais. e) a opção pela utilização de mais de um adjetivo para caracterizar o substantivo, como em escarpas inteiriças, altas e abruptas (Refs. 01 e 02), está vinculada à ideia da objetividade científica. 04. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa INCORRETA sobre o contexto histórico e literário da prosa Pré-Modernista a que pertence o fragmento de Os Sertões. a) Os prosadores pré-modernistas produziram uma literatura problematizadora da realidade brasileira de sua época. b) Entre os temas pré-modernistas, está o subdesenvolvimento do sertão nordestino. c) A investigação social presente na prosa pré-modernista colabora para o aprofundamento do sentimento ufanista nacional. d) A prosa da época é marcada por obras de análise e interpretação social significativas para a literatura brasileira. e) O Pré-Modernismo antecipou formal ou tematicamente práticas e ideias que foram desenvolvidas pelos modernistas.
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Texto comum às questões 01 e 02
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B06
ASSUNTOS ABORDADOS n Pré-Modernismo II - Lima Barreto
e Augusto dos Anjos
n Lima Barreto (1881 – 1922) n Augusto dos Anjos (1884 - 1914)
PRÉ-MODERNISMO II - LIMA BARRETO E AUGUSTO DOS ANJOS Triste fim de Policarpo Quaresma, publicado em 1911, comprova a incompetência dos políticos brasileiros através dos tempos, o que evidencia uma atualidade surpreendente e um caráter profético ao brilhante autor. “É notório que aos governos da República do Brasil faltam duas qualidades essenciais a governos: majestade e dignidade”. Lima Barreto
Esse pensamento de Lima Barreto é apenas um dos exemplos do diálogo do escritor brasileiro com o Brasil ao longo de sua história. O escritor era antirrepublicano convicto, portanto, uma das marcas contundentes das suas produções era a crítica constante ao novo regime democrático. Enquanto as elites intelectuais burguesas defendiam a República como a verdadeira afirmação da identidade brasileira e passaporte para a formação de um Brasil moderno, Lima Barreto enxergava nitidamente a consolidação do regime como a intensificação da exclusão social. Mulato e órfão de mãe aos sete anos, e como era o filho mais velho entre outros três irmãos, tornou-se o chefe da família. Quando ainda era jovem, o autor viu o pai enlouquecer e viu também virar poeira seu sonho de ser doutor quando abandonou, no último ano, o curso de engenharia na Politécnica, ao ser inúmeras vezes reprovado na cadeira de Mecânica. O estigma da cor começa a pesar-lhe forte sobre os ombros.
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Escrita na época em que imperavam os rebuscados parnasianos, a obra de Lima Barreto só começou a ser compreendida e reconhecida muitos anos após sua morte. Somente nos anos de 1960 ele virou moda e passou a ser matéria de estudos, tanto no Brasil como no exterior. Seus romances e contos foram traduzidos para o francês, o inglês, o russo, o espanhol, o japonês e o alemão. O autor também foi objeto de estudo de teses de doutoramento nos Estados Unidos e na Alemanha.
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Lima Barreto (1881 – 1922) Este foi o responsável por pintar um retrato de algumas partes dos centros urbanos ignorados pela elite cultural do Brasil: os subúrbios cariocas. Era lá que vivia a pequena classe média composta de funcionários públicos, professores, moças à espera de casamento e uma variedade de outras personagens que povoam a obra do autor. Assim, Barreto dá voz a uma parcela da população que havia sido ignorada pelos principais escritores românticos e realistas. Os romances, contos e crônicas de Lima Barreto compõem um painel em que se desenham, de forma mais clara, os verdadeiros mecanismos de relacionamento social típicos do Brasil no início do século XX. Nas obras Recordações do escrivão Isaías Caminha e Clara dos Anjos, ele denuncia o preconceito. Idealista e inteligente, o protagonista Isaías acredita ser possível vencer na vida graças aos seus esforços e superar até mesmo o preconceito racial. Assim que chega ao Rio, vindo do interior, procura um influente deputado a quem havia sido recomendado por um amigo da família. Seu suposto protetor recusa-se a ajudá-lo e o jovem passa por muitas dificuldades. Apesar de sua capacidade e dedicação, é somente um fato casual que lhe permitirá realizar o sonho de se tornar repórter: surpreende seu superior em uma noitada de orgias.
O aspecto mais comovente da cena, além da desilusão sofrida pela jovem, é a constatação da impossibilidade de vencer uma sociedade acostumada a determinar o valor de uma pessoa pela cor de sua pele. Triste fim de Policarpo Quarema Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto traça o destino tragicômico de um homem tomado pelo patriotismo ingênuo que trava uma quixotesca luta contra a corrupção política. Ele faz a caricatura do patriota ingênuo, idealista, ufanista, em confronto com os que “vencem na vida” – figuras bajuladoras, medíocres, carreiristas e burocráticas. Barreto conta a história de um nacionalista ingênuo, que acredita em um Brasil forte, rico e soberano, e quer salvá-lo desses políticos corruptos. Porém, esse patriotismo fanático só provoca risos e acaba por levá-lo à internação em um hospício. Antes havia apoiado o Marechal Floriano, mas volta-se contra seu governo por considerá-lo incompetente e desumano. Ao presenciar a escolha de antiflorianistas para fuzilamento, escreve uma carta de indignação ao presidente. No dia seguinte, Quaresma é preso e fuzilado, sob a acusação de traição.
A leitura do livro deixa evidente seu caráter autobiográfico: assim como Isaías, Lima Barreto sofreu o preconceito por ser mulato e, também como ele, conseguiu relativo sucesso com a carreira de jornalista.
[...] Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que tinha presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos. Bem fazia adivinhar isso, seu padrinho! Coitado!... Ora, uma mulatinha, filha de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassis e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam... BARRETO. Lima. Clara do Anjos. In: VASCONCELLOS, Eliane (Org.) Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p.748. (Fragmento)
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[...]
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Já em Clara dos Anjos, um romance inacabado, o preconceito racial retorna, enfocando agora uma moça que é seduzida por um tipo suburbano, Cassi Jones. Após relatar a humilhação da jovem pela família do rapaz que a desonrou, o narrador conclui:
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No mais lido e conhecido romance de Lima Barreto, o protagonista, Policarpo Quaresma, é um major que trabalha como subsecretário do Arsenal de Guerra. Sua cegueira, contudo, é a pátria. Estudioso das coisas do Brasil, tem uma biblioteca de clássicos sobre a fauna e a flora brasileiras, conhece as obras completas dos grandes escritores nacionais, interessa-se pelas tradições e costumes do povo. Esse patriotismo desmedido é ridicularizado por todos aqueles com quem convive, incapazes de perceber a pureza de seu idealismo. A ação do romance transcorre no final do século XIX, época da Primeira República, e a figura central do romance é o major, nacionalista fanático, que conhecendo o Brasil apenas por intermédio dos livros, sonha em poder ajudar o País a se transformar em uma grande potência. Além disso, seu patriotismo leva-o a envolver-se em três projetos, que constituem o conteúdo das três partes em que se divide o livro: n n n
o projeto linguístico - transformar o tupi-guarani em nossa língua oficial; o projeto agrário – desenvolver nossa agricultura com plantações sem implementos artificiais, importados; o projeto político – apoiar Floriano Peixoto - então conhecido como Marechal de Ferro, na Revolta da Armada, que se deu no Rio de Janeiro.
Leia o fragmento abaixo do capítulo: A lição de violão Durante os lazeres burocráticos, estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios.
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(...) Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a “Aurora com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo”, ele se atracava até ao almoço com o Montoya, “Arte y diccionario de la lengua guaraní ó más bien tupí”, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo - Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?” Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade do seu viver impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha
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lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, consertou o seu “pince-nez”, levantou o dedo indicador no ar e respondeu: - Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria. BARRETO. Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. In: VASCONCELLOS, Eliane (Org.) Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p. 264-265. (Fragmento)
Por meio do personagem principal, Lima Barreto tematiza o embate entre o real e o ideal. Em Policarpo, o patriotismo é o ideal. Ele assume ares de visionário, louco, por não pensar em si, por não se interessar por sua carreira ou tentar obter qualquer tipo de vantagem pessoal. Seu único objetivo é o engrandecimento do Brasil. O “triste fim” de Policarpo é a perda de todos os ideais, quando percebe que dedicou sua vida a uma causa inútil. O trecho a seguir foi extraído do final do romance. Nele, aparecem as reflexões de Quaresma na prisão. “Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati. E bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma ideia ao menos sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía? Reviu a história; viu as mutilações, os acréscimos em todos os países históricos e perguntou de si para si: como um homem que vivesse quatro séculos, sendo francês, inglês, italiano, alemão, podia sentir a Pátria?
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Contudo, quem sabe se outros que lhe seguissem as pegadas não seriam felizes? E logo respondeu a si mesmo: mas como? Se não se fizera comunicar, se nada dissera e não prendera o seu sonho, dando-lhe corpo e substância? E esse seguimento adiantaria alguma coisa? E essa continuidade traria enfim a terra, alguma felicidade? E quantos anos de vidas mais valiosas que a dele se vinham oferecendo, sacrificando e as coisas ficaram na mesma, a terra na mesma miséria, na mesma opressão, na mesma tristeza. E ele se lembrava que há bem cem anos, ali, naquele mesmo lugar onde estava, talvez naquela mesma prisão, homens generosos e ilustres estiveram presos por quererem melhorar o estado de cousas de seu tempo. Talvez só tivessem pensado, mas sofreram pelo seu pensamento. Tinha havido vantagem? As condições gerais tinham melhorado? Aparentemente sim; mas, bem examinado, não. [...] Fora bom, fora generoso, fora honesto, fora virtuoso - ele que fora tudo isso, ia para a cova sem acompanhamento de um parente, de um amigo, de um camarada... Onde estariam eles? Sobre o Ricardo Coração dos Outros, tão simples, e tão inocente na sua mania de violão, ele não poria mais os olhos? Era tão bom que o pudesse, para mandar à sua irmã o último recado, ao preto Anastácio um adeus, à sua afilhada um abraço! Nunca mais os veria, nunca! E ele chorou um pouco. Quaresma, porém, enganava-se em parte. Ricardo soubera de sua prisão e procurava soltá-lo. Teve notícia do exato motivo dela; mas não se intimidou. Sabia perfeitamente que corria grande risco, pois a indignação no palácio contra Quaresma fora geral. A vitória tinha feito os vitoriosos inclementes e ferozes, e aquele protesto soou entre eles como um desejo de diminuir o valor das vantagens alcançadas. Não havia mais piedade, não havia mais simpatia, nem respeito pela vida humana; o que era necessário era dar o exemplo de um massacre à turca, porém clandestino, para que jamais o poder constituído fosse atacado ou mesmo discutido BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 178-180.
No romance de Lima Barreto, podemos perceber que a personagem Policarpo Quaresma é inúmeras vezes caracterizado como “caxias”, isto é, uma pessoa extremamente exigente e escrupulosa no cumprimento de suas obrigações. Aquele que exige o máximo rendimento no trabalho, além de possuir extremado respeito às leis e aos regulamentos. Outras vezes “caxias” é um cego servido de ideias e leis, de patriotismo honesto, esperançoso de ver seu país melhorando.
Podemos justificar esse extremo sentimento nacionalista durante a leitura da obra: Quaresma estudara geografia, conhecia o nome dos nossos heróis, a língua tupi, o folclore, sempre com um elevado sentimento de patriotismo. A ilusão de uma pátria de prodigiosa natureza, elevados valores morais, intelectuais e políticos teria guiado Quaresma até o fim de sua vida. Nas palavras de Alfredo Bosi, “Triste fim de Policarpo Quarema é um romance em terceira pessoa, em que se nota maior esforço de construção e acabamento formal. Lima Barreto nele conseguiu criar uma personagem que não fosse mera projeção de amarguras pessoais como o amanuense Isaías Caminha, nem um tipo pré-formado, nos moldes das figuras secundárias que pululam em todas as suas obras. O major Quaresma não se exaure na obsessão nacionalista, no fanatismo xenófobo; pessoa viva, as suas reações revelam o entusiasmo do homem ingênuo, a distanciá-lo do conformismo em que se arrastam os demais burocratas e militares reformados cujos bocejos amornecem os serões do subúrbio.” No desfecho do livro, o funcionário público digno e pontual, o patriota ingênuo, o major Quaresma, fracassa nos três projetos de melhorar o Brasil. É, ironicamente, condenado por crime de alta traição à pátria, porque denuncia ao ditador Floriano as execuções sumárias, a que assiste, dos adversários do governo. Enquanto o major amargura-se com os próprios ideais, questionando-os só agora que lhe resta aguardar pelo “triste fim”, a morte, seus antagonistas permanecem impunes. Entretanto, nós, leitores, nesta altura, já percebemos o verdadeiro alvo de Lima Barreto em Triste fim de Policarpo Quaresma: não se trata exatamente da caricatura do patriota ingênuo, ridículo em sua insistência pelo ideal, mas através dela, da caricatura da pátria que ele julgava existir. Ao longo da leitura, portanto, a imagem ingênua da pátria é que vai sendo despida com crueza, revelando toda a sua mediocridade de generais que nunca foram à guerra, de pedantes bem-sucedidos, de marginalizados, como a mulher que enlouqueceu e suicidou, por ter sido enganada pelo noivo e não imaginar a continuação da vida sem o destino do casamento... Por outro lado, a imagem do patriota se agiganta. Ele nada vê, nada percebe, nada compreende, em termos de senso de realidade prática. Luta contra moinhos de vento, como Dom Quixote. No entanto, através da ingenuidade dos olhos de Quaresma, os nossos olhos começam a enxergar criticamente as questões nacionais e universais, abordadas por essa obra. 655
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#DicaCine Ptugê
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Sinopse: O protagonista, major Policarpo Quaresma, é um sonhador. Um visionário que ama o seu país e deseja vê-lo tão grandioso quanto, acredita, o Brasil pode ser. A sua luta se inicia no Congresso. Policarpo quer que o tupi-guarani seja adotado como idioma nacional. Ele tem o apoio de sua afilhada Olga por quem nutre um afeto especial e Ricardo Coração dos Outros, trovador e compositor de modinhas que conta a história do nosso herói do Brasil.
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O filme Policarpo Quaresma, Herói do Brasil – Brasil (1988) do diretor Paulo Thiago, traz a história desse homem que acreditava com voracidade no potencial do nosso país.
Augusto dos Anjos (1884 - 1914) Augusto dos Anjos é considerado pela crítica literária o mais original dos poetas brasileiros. De vocabulário excessivamente erudito e científico, seus poemas apresentam a dor e o pessimismo de quem vê o ser humano como um elemento sempre a caminho do fim, da desintegração. Basta ler alguns de seus poemas para comprovar a singularidade de sua linguagem e criação estética, elementos permeados por esse profundo pessimismo e forte angústia moral.
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A obra de Augusto dos Anjos é a soma de todas as tendências. Na verdade, recebeu influências de diversas correntes filosóficas e literárias do fim do século. Por isso, torna-se difícil classificar sua obra em uma ou outra tendência. Trata-se de um poeta extremamente original, que utiliza uma linguagem, muitas vezes chocante, deixando transparecer um pessimismo incomum em nossa literatura. A crítica aponta como principais características de Augusto dos Anjos: n
Referências à decomposição da matéria; Tome, Dr., esta tesoura, e ... corte/Minha singularíssima pessoa. /Que importa que a bicharia roa Que importa que a bicharia roa /Todo o meu coração, depois da morte?!
n
Pessimismo diante da vida; Dedos denunciadores escreviam/ Na lúgubre extensão da rua preta/ Todo o destino negro do planeta,...
n
Amor reduzido a instinto; E aprofundando o raciocínio obscuro. / Eu vi, então, à luz dos áureos reflexão, /O trabalho genésico dos sexos, /Fazendo à noite dos homens do Futuro.
n
Incorporação de vocabulário científico.
A linguagem do poeta apresenta um vocabulário pouco comum, até mesmo estranho em poesia, que, certamente, chocaram o público e a crítica da época, acostumados à elegância parnasiana. O autor incorpora inúmeros termos com forte carga cientificista, apresenta multiplicidade de influências literárias, que dificulta ou mesmo impossibilita sua classificação estilística. Essa linguagem ponteada de palavras “não poéticas” como: cuspe, vômito, escarro, vermes, era uma afronta à poesia parnasiana ainda em vigor. 656
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Alguns de seus poemas são vistos como os mais estranhos de toda a nossa literatura e podem ser considerados de “mau gosto”. O poema que você vai ler transmite uma visão pessimista da vida. Versos Íntimos Augusto dos Anjos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável!
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Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Essa obra revela também a dualidade na vida do ser humano, indicando como tudo pode mudar. As coisas boas podem se transformar em coisas más. Além do livro Eu, Augusto dos Anjos deixou um grande legado para os poetas posteriores, sobretudo para os primeiros modernistas, que se valeram do antilirismo e da antipoesia como elementos que propiciaram a ruptura com a tradição literária vigente até a segunda década do século XX. Existe também um contraste entre o título e a realidade revelada pelo poeta, pois o título “Versos Íntimos” pode remeter para o romantismo, algo que não se verifica no conteúdo do poema. Em seguida, revelamos uma possível interpretação de cada estrofe:
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Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável! Nesses versos, o autor menciona o enterro da última quimera, que aqui significa o fim da esperança ou do último sonho. Ele passa a ideia de que ninguém se importa com os sonhos destruídos dos outros, porque as pessoas são ingratas. Elas são tais quais os animais selvagens que no soneto é uma feroz pantera. Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Nessa quadra, o autor usa o imperativo dando um conselho: quanto mais cedo a pessoa se acostuma com a cruel e miserável realidade do mundo, mais fácil será. Ele diz que o Homem voltará à lama, regressará ao pó e está destinado a cair e se sujar na lama. O autor afirma ainda que o Homem vive no meio de feras, de pessoas inescrupulosas, pessoas más e que por isso ele também tem que se acostumar e tem que ser uma fera para conseguir conviver nesse mundo cruel. 657
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Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Em uma linguagem coloquial, o poeta convida o “amigo” (seu interlocutor) a se preparar para falsidades e deslealdades. A despeito das demonstrações de carinho e amizade, como um beijo, o presságio de algo mau é iminente. Aquela pessoa que hoje demonstra amizade e o ajuda, amanhã poderá lhe causar dor e sofrimento. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! No último terceto, o eu poético, ainda usando o imperativo e temendo que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas vão nos desiludir e nos machucar, sugere ao seu interlocutor cuspir na boca de quem o beija e apedrejar a mão que faz carinho para evitar sofrimento no futuro.
Por outro lado, o trabalho de Augusto dos Anjos nos permite perceber um poeta bastante preocupado com a forma poética. Seu cuidado com a métrica e com as rimas indica a adoção de algumas propostas parnasianas. Além disso, a exploração das qualidades musicais das palavras e dos versos significa que alguns procedimentos simbolistas lhe eram simpáticos. Augusto dos Anjos nasceu no engenho “Pau d’Arco, na Paraíba, no dia 22 de abril de 1884 e morreu em Leopoldina, Minas Gerais, em 1914. Formou-se em Direito, em Recife, Pernambuco, mas escolheu viver como professor. Foi um dos poetas mais críticos de sua época. Também foi identificado como o mais importante poeta do Pré-Modernismo, embora revele em sua poesia, raízes do simbolismo, retratando o gosto pela morte, a angústia e o uso de metáforas. Declarou-se “Cantor da poesia de tudo que é morto”. Sua obra poética está resumida em um único livro − EU, publicado em 1912, e reeditado com o nome Eu e Outros Poemas.
Exercícios de Fixação
ções ale o
01. (Puc RS) Leia o poema A meu pai morto, de Augusto dos Anjos, e analise as afirmativas.
ue a gível nesnte. ores rada
Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra. Em seus lábios que os meus lábios osculam Microrganismos fúnebres pululam Numa fermentação gorda de cidra. Duras leis as que os homens e a hórrida hidra A uma só lei biológica vinculam, E a marcha das moléculas regulam, Com a invariabilidade da clepsidra!...
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Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos Roída toda de bichos, como os queijos Sobre a mesa de orgíacos festins!... Amo meu Pai na atômica desordem Entre as bocas necrófagas que o mordem E a terra infecta que lhe cobre os rins! I.
II.
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As estrofes que começam por “Podre meu Pai!” reiteram a ideia de que, por trás da Morte, há a presença de bichos e microrganismos cuja função é servir à lei biológica, que conduz todo ser vivo ao seu fim e à dissolução. O poema, por ser um soneto, contrasta com a produção de Augusto dos Anjos, em geral marcada pela presença de versos livres e pela renovação formal.
III.
O uso de vocabulário científico, transformado em linguagem poética pelo autor, é percebido na poesia de Augusto dos Anjos.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 02. (IFMG) Leia o trecho a seguir. A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas; entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na memória e habituar a mão a escrevê-los. À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu “a-b-c” malaio, e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente. (LIMA BARRETO, O Homem que Sabia Javanês).
Considere as afirmativas acerca do protagonista da obra de Lima Barreto. I. Viu uma possibilidade de ascensão social a partir do estudo da língua javanesa.
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III.
Acreditou que o estudo de poucas palavras e do abece-
Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e jane-
dário da língua javanesa o qualificaria como professor do
la, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos
idioma oceânico.
depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha
Revelou-se oportunista e possuidor de uma flexibilidade ética.
rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com
Está correto o que se afirma em a) I, apenas.
uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo pa-
b) II, apenas.
velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco clas-
c) II e III, apenas.
sificável, que parece vexada a querer ocultar-se, diante daquela
d) I, II e III.
onda de edifícios disparatados e novos.
lha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma
BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. (Fragmento).
03. (UEPG PR) Sobre Recordações do Escrivão Isaías Caminha e o autor Lima Barreto em seu tempo, assinale o que for correto. 01. Em 1908, prestes à publicação de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, a obra foi divulgada pela “Revista do Brasil”, de Monteiro Lobato. Ocasião em que Lima Barreto adentra à Academia Brasileira de Letras, sucedendo João do Rio e derrotando Humberto de Campos. 02. Após ser colocada à venda, no Rio de Janeiro, a obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto participa do Júri da “Primavera de Sangue” (em 1910), que condena um tenente pela repressão a estudantes no Largo de São Francisco. 04. O ano em que eclode a Primeira Grande Guerra (1914) coincide com o ano em que Lima Barreto é internado pela primeira vez no Hospício Nacional. Já havia, naquela ocasião, escrito a obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha. 08. O ano em que a obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha está em conclusão, em 1908, coincide com a ocasião do falecimento de Machado de Assis. 04. (Uncisal AL) Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação de cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções. Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiam como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevares e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado. Às vezes se sucedem na mesma direção com uma frequência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva. Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.
O texto acima apresenta, como características da escrita de Lima Barreto, a) a análise da Guerra de Canudos e o otimismo acerca do futuro da nação. b) o nacionalismo ufanista e a tematização da escravidão indígena e africana. c) o uso de uma linguagem rebuscada e o tema da loucura nas classes menos abastadas. d) o olhar para a realidade social do país e a opção por uma linguagem não rebuscada. e) a predileção por figuras de linguagem que expressam contraste e o nacionalismo ufanista. 05. (UFU MG) ―Mamãe, Mamãe! ―Que é minha filha? ―Nós não somos nada nesta vida. Todos os Santos -Rio de Janeiro-Dezembro de 1921-janeiro de 1922. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Tecnoprint/Ediouro, s/d. p. 77.
De acordo com o trecho acima, assinale a alternativa correta. a) O diálogo entre dona Engrácia e sua filha Clara simboliza de forma alegórica a desumanização da mulher negra e pobre, numa sociedade regida por D. Pedro I, mas manipulada por uma elite branca preconceituosa. b) Este pequeno diálogo pode ser considerado uma metáfora de uma classe social típica da Primeira República: indivíduos escravos, sem perspectiva de ascensão econômica, os quais lutavam pela assinatura da Lei Áurea. c) O diálogo entre Clara e sua mãe, Engrácia, que aparece ao final do romance Clara dos Anjos, publicado em plena Monarquia, simboliza a falta de perspectiva da mulher negra, analfabeta e pobre. d) Esse pequeno diálogo, que fecha o final do romance Clara dos Anjos, pode ser considerado uma metáfora do sofrimento de uma classe social que, mesmo com a assinatura da Lei Áurea, continuava estigmatizada etnicamente.
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Exercícios C om p l em en t ares 01. (UFU MG) A muito custo, devido às insistências de Dona Margarida, consentira em ajudá-la nos bordados, trabalhados para fora, com o que ia ganhando algum dinheiro. Não que ela fosse vadia, ao contrário, mas tinha um tolo escrúpulo de ganhar dinheiro por suas próprias mãos. Parecia tolo a uma moça ou a uma mulher.
co, a, ncia, odía-
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Tecnoprint/Ediouro, s/d, p.72.
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Em relação às personagens D. Margarida e Clara, é correto afirmar que: a) Dona Margarida é caracterizada, no romance, como alguém indiferente aos sofrimentos de Clara dos Anjos, tornando-se, a cada dia, uma triste senhora, muito apática e distante dos compromissos e dos relacionamentos familiares. b) Dona Margarida, sogra de Clara dos Anjos, sempre se compadeceu da nora, menina simples e pobre, tratando, desde sempre, de ajudá-la financeiramente, ensinando-a ganhar seu próprio dinheiro com pequenos trabalhos de agulha. c) Dona Margarida, personagem secundária do enredo de Lima Barreto, tem enorme influência no desenvolvimento emocional e psíquico de Clara dos Anjos, incentivando-a, inclusive, a se casar com o aventureiro Cassi Jones. d) Dona Margarida pode ser considerada uma personagem oposta à protagonista Clara dos Anjos, uma vez que é uma mulher mais objetiva e pragmática frente à vida, menos sonhadora e mais realista diante dos relacionamentos humanos. 02. (Unimontes MG) Leia com atenção o trecho inicial do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto. O carteiro Joaquim dos Anjos não era homem de serestas e serenatas; mas gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora. Os velhos do Rio de Janeiro, ainda hoje, se lembram do famoso Calado e das suas polcas, uma das quais — “Cruzes, minha prima!” — é uma lembrança emocionante para os cariocas que estão a roçar pelos setenta. De uns tempos a esta parte, porém, a flauta caiu de importância, e só um único flautista dos nossos dias conseguiu, por instantes, reabilitar o mavioso instrumento — delícia, que foi, dos nossos pais e avós. Quero falar do Patápio Silva. Com a morte dele a flauta voltou a ocupar um lugar secundário como instrumento musical, a que os doutores em música, quer executantes, quer os críticos eruditos, não dão nenhuma importância. Voltou a ser novamente plebeu.
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Apesar disso, na sua simplicidade de nascimento, origem e condição, Joaquim dos Anjos acreditavase músico de certa ordem, pois, além de tocar flauta, compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas. Uma polca sua — “Siri sem unha” — e uma valsa — “Mágoas do coração” — tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinquenta mil-réis, a uma casa de músicas e pianos da rua do Ouvidor. O seu saber musical era fraco; adivinhava mais do que empregava noções teóricas que tivesse estudado. Aprendeu a “artinha” musical na terra do seu nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas de igreja a sua flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar. Embora gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na “artinha” de Francisco Manuel, que sabia de cor; mas não saíra dela, para ir além. (BARRETO, Lima. Clara dos Anjos, ano, p. 57-60.)
Após a leitura do fragmento, assinale a alternativa INCORRETA. a) A narrativa, ao descrever instrumento e variedades musicais, expressa a vivacidade cultural do subúrbio carioca, do início do século XX. b) As descrições do narrador acerca da arte musical praticada pelo carteiro Joaquim dos Anjos revelam que o domínio das técnicas musicais independia de sua situação econômica e social. c) As polcas, com seus nomes pitorescos, evidenciam o caráter bem-humorado e popular da arte musical praticada pelo personagem. d) A voz narrativa demonstra ironia e humor na apresentação do personagem, cujas características são evidenciadas por meio de sua prática musical. 03. (Unimontes MG) Assinale a alternativa INCORRETA acerca do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto. a) O romance de Lima Barreto demonstra a opção do autor pelos pobres, oprimidos, negros e mulatos, denunciando a marginalidade em que estes vivem. b) No livro, o autor aborda, enfaticamente, as disparidades sociais do Brasil, por isso opta pelo espaço do subúrbio, que, segundo ele, é “o refúgio dos infelizes”. c) A ambientação no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro traz à tona a vida simples, bucólica e pacata dos moradores pobres da cidade. d) Um dos alvos do escritor é a figura do literato empoado da Belle Époque, contra quem a letra de Barreto se opõe, por se aproximar do drama do povo.
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Psicologia de um vencido Eu, filho de carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundíssimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco.
As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto,
Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra,
foi publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióti-
Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!
natureza brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país. b) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ide-
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como a) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas e o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo. b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “influência má dos signos do zodíaco. c) a seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância” e “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem. d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética, e o desconcerto existencial. e) a ênfase no processo de construção de uma poesia descrita e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas. 05. (Enem MEC) Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante e que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, de folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada.
cas evidencia que a) a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da
al de prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto republicano. c) a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz à frustração ideológica. d) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete. e) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto ideológico salvacionista, tal como foi difundido na época do autor. 06. (Enem MEC) A sua concepção de governo [do Marechal Floriano Peixoto] não era o despotismo, nem a democracia, nem a aristocracia; era a de uma tirania doméstica. O bebê portou-se mal, castiga-se. Levada a coisa ao grande o portar-se mal era fazer-lhe oposição, ter opiniões contrárias às suas e o castigo não eram mais palmadas, sim, porém, prisão e morte. Não há dinheiro no tesouro; ponham-se as notas recolhidas em circulação, assim como se faz em casa quando chegam visitas e a sopa é pouca: põe-se mais água. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1956 (fragmento).
A obra literária de Lima Barreto faz uma crítica incisiva ao período da Primeira República no Brasil. No fragmento do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, a expressão “tirania doméstica”, como concepção do governo florianista, significa que a) o regime político era omisso e elitista. b) a visão política de governo era infantilizada. c) o presidente empregava seus parentes no governo. d) o modelo de ação política e econômica era patriarcal. e) o presidente assumiu a imagem populista de pai da nação.
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04. (Enem MEC)
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B07
ASSUNTOS ABORDADOS n As Vanguardas Europeias n Futurismo n Cubismo n Expressionismo n Dadaísmo ou Dadá n Surrealismo
AS VANGUARDAS EUROPEIAS No início do século XX, vivia-se a euforia da chamada Belle Époque, momento marcado por um extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico, dos quais são exemplos: o telégrafo, a eletricidade, o telefone, o cinema, o automóvel e o avião. Somadas a isso, estavam a teoria da relatividade, de Einstein, e a teoria psicanalítica, de Freud. A euforia do século XX e a posterior eclosão da Primeira Guerra Mundial foram decisivas para as atitudes de negação da cultura europeia tradicional e de busca de novos valores morais e estéticos. Nesse momento, a humanidade passa a descrer nos sistemas políticos, sociais e filosóficos, como também questionar os valores de seu tempo. Nas primeiras décadas desse século, a ruptura violenta com o tradicionalismo ocorreu com o surgimento de tendências que provocaram uma revolução nas artes plásticas, caracterizada por um intenso desejo de experimentação, de busca de novas linguagens artísticas. Na verdade, antes da Primeira Guerra Mundial, alguns autores brasileiros, que tiveram oportunidade de ir à Europa, conheceram novas orientações da arte, apesar de não muito bem definidas. O que ficava claro, no entanto, era que tentavam buscar maior liberdade, desvinculação do passado e renovação plena. Diante da descrença e apoiados pelos questionamentos, surgem vários movimentos de vanguarda na Europa, que influenciaram o Modernismo brasileiro. Foram movimentos literários e estéticos radicais, cujos principais objetivos eram promover a ruptura com a tradição e a abertura de novas possibilidades artísticas, como as oferecidas pela vida urbana moderna e pela explosão do irracionalismo e do inconsciente. As principais vanguardas ou “ismos” foram o Futurismo, o Cubismo, o Expressionismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.
Futurismo O Futurismo foi um movimento lançado pelo poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), no Manifesto futurista, publicado em 1909, pelo Le Figaro, na França. O estilo apresentava como pontos fundamentais a exaltação da vida moderna, o culto da máquina e da velocidade, além de uma inevitável ruptura com os modelos passados, propondo: n n n n n n n n
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liberdade das palavras, por meio da destruição da sintaxe; abolição da pontuação para evitar pausas que impediriam a velocidade desejada; poesia por meio de exprimir revoltas, sem medo; valorização do substantivo, eliminando-se modificadores como adjetivo, que impediriam a objetividade; movimento, dinamismo, com negação do passado, que lhes parecia algo inerte; uma arte voltada para o futuro, agressiva e violenta; exaltação da guerra como meio de “higienizar” o mundo; uso de verbos no infinitivo, para que ele em si transmitisse a ausência de limites no universo, o “infinito”.
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Cubismo O Cubismo desenvolveu-se inicialmente na França, por volta de 1907. Foi um movimento ligado basicamente à pintura – destacando-se Picasso, tendo acontecido também na poesia do francês Guilherme Apollinaire. O Cubismo descompunha os objetos da realidade cotidiana em diferentes planos geométricos (cones, esferas, cilindros etc.), revelando um objeto em seus múltiplos ângulos. Na literatura, o Cubismo valorizava o subjetivismo, a ilogicidade, a frase nominal, o tempo presente, a enumeração caótica e o humor. Podemos citar como exemplo o brasileiro Oswald de Andrade, com Memórias sentimentais de João Miramar.
Expressionismo O movimento expressionista surgiu em 1910, na Alemanha, trazendo uma forte herança da arte do final do século XIX, preocupada com as manifestações do mundo interior e com a forma de expressá-las. O Expressionismo é a arte dos extremos emocionais e sentimentais, da inquietação e da espiritualidade. A principal característica desse estilo é a deformação expressiva da realidade, que passa a ser interpretada subjetivamente. Desde o final do século XIX, os pintores Vincent Van Gogh e Cézanne já manifestavam tendências expressionistas. Porém, o termo expressionismo foi usado pela primeira vez em 1901, pelo pintor francês Julien-Auguste Hervé, para distinguir seus quadros.
Figura 01 - Less demoiselles d´Avignon ( 1906-07), Pablo Picasso. Essa tela de 1907 foi o trabalho mais revolucionário de Picasso, considerado a primeira obra cubista. Picasso retrata cinco mulheres de um bordel francês em poses sensuais.
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Outro artista precursor do movimento, que deixou um marco por meio da obra O grito, foi Edvard Munch.
Figura 02 - O grito, 1895, de Edvard Munch
Nesse quadro, vemos a expressão de medo, de dor, de angústia em relação ao conturbado final do século XIX, em junção com sua própria vida. 663
P ortug uê s
Dadaísmo ou Dadá O Dadaísmo foi o ápice, o apogeu das três vanguardas anteriores: Futurismo, Cubismo e Expressionismo. Esses movimentos aconteceram, concomitantemente, em várias cidades, mas foi em Zurique (Suíça), em 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, que um grupo de intelectuais inicia o mais radical dos movimentos das vanguardas europeias: o Dadaísmo. O primeiro dos sete manifestos dadaístas foi lançado pelo romeno Tristan Tzara (1896-1963). Segundo ele, abrindo ao acaso o dicionário, deparou com a palavra DADA, que continha diversos significados, o que lhe pareceu totalmente possível não querer dizer “nada”. Em geral, o Dadaísmo buscava a antiarte, irracional e anárquica. Suas bases: n n n
eram contra todas as ordens e valores estabelecidos; queriam liberdade de criação; pregavam a destruição de todos os valores culturais da sociedade que fazia a guerra, instaurando o absurdo, o ilógico e o incoerente, na tentativa de criar nova linguagem.
Surrealismo Esse movimento surgiu na França, por volta de 1920, mas o Manifesto Surrealista só foi lançado em 1924, pelo poeta francês André Breton. O Surrealismo apresentava elementos do Dadaísmo e do Futurismo, valorizava o passado, buscava a emancipação total do homem fora da lógica, da razão, da família, da pátria, da moral e da religião. Os surrealistas almejavam o embasamento filosófico em Freud e Marx, por isso, conferiam importância aos sonhos e fantasias e à exploração do inconsciente. Esse movimento influenciou escritores brasileiros como Oswald e Mário de Andrade e, posteriormente, Murilo Mendes e Jorge de Lima (escritores da geração de 1930). Na pintura, teve como representantes Salvador Dalí. Características: n n n n
como as vanguardas anteriores, esse movimento traz o negativismo e a descrença nas ordens estabelecidas, sentimentos provocados pela Primeira Guerra Mundial; valoriza a inspiração e a expressão do mundo interior; abandona a lógica, já que se deveria dar vazão ao mundo do subconsciente e do inconsciente; realidade palpável e não palpável se fundem por valorizar o sonho.
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No Brasil, não poderia ser diferente. As cinco correntes vanguardistas que mais influenciaram o fazer literário foram: Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo. Essas vanguardas passaram pela Literatura Brasileira deixando sua contribuição, especialmente ao somarem com a Semana de Arte Moderna e com o movimento modernista, pois juntos vieram romper com a antiga estética que até então reinava em nosso país. Muitos dos nossos escritores já não se contentavam em continuar seguindo fórmulas de fazer literatura que o Realismo-Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo praticavam. Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos já haviam renovado a linguagem literária, como também a forma de encarar os problemas sociais do Brasil. Um dos nomes mais fortes quando falamos de Expressionismo, especificamente, é o de Anita Malfatti. Anita introduziu as vanguardas europeias no Brasil após um período de estudos na Alemanha. Assunto que abordaremos na próxima aula. 664
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias Questão 03. As correntes de vanguarda, embora apresentassem propostas específicas, pregavam um mesmo ideal: era preciso derrubar a tradição por meio de práticas inovadoras, capazes de subverter o senso comum e captar as tendências do futuro. Essas propostas, incompreendidas à época em virtude principalmente do contexto conservador no qual estavam inseridas, adquiriram importância histórica e influenciaram o trabalho de vários artistas no mundo.
Exercícios de Fixação
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65x70, IEB//USP
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que, nas artes plásticas, a a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas. b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano. c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico. d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada. e) forma apresenta contornos e detalhes humanos. 02. (UCP PR) Movimento literário brasileiro que recebeu influências de vanguardas europeias, tais como o Futurismo e o Surrealismo: a) Modernismo d) Realismo b) Parnasianismo e) Simbolismo c) Romantismo 03. As vanguardas europeias foram importantes para o desenvolvimento da arte moderna no Brasil. Esses movimentos, e outros que os seguiram, influenciaram bastante os intelectuais brasileiros, principalmente aqueles que mantinham contato direto com essas vanguardas, quando viajavam para a Europa. Sobre as vanguardas europeias, é correto afirmar, exceto: a) Entre suas principais manifestações estão o Cubismo, o Futurismo, o Expressionismo, o Dadaísmo e o Surrealismo, todos surgidos na Europa, no início do século XX. b) As vanguardas europeias influenciaram as artes no mundo ocidental de maneira contundente. No Brasil, as inovações nas artes e na literatura ficaram conhecidas como Modernismo. c) A palavra “vanguarda” tem origem no francês avant-garde, que significa “o que marcha na frente”, ou seja, as correntes de vanguarda antecipavam o futuro com suas práticas artísticas inovadoras e nada convencionais. Questão 02. O Modernismo brasileiro foi extremamente influenciado pelas vanguardas europeias que eclodiram na Europa, no início do século XX. No Brasil, todas as manifestações artísticas inovadoras foram classificadas como modernistas e, assim como aconteceu na Europa, aqui também não havia um projeto artístico bem definido, mas sim o desejo comum, tal qual o desejo dos artistas europeus, de renovar as artes em geral.
d) Não havia um projeto artístico em comum que agregasse os artistas de vanguarda em torno de uma única proposta. Contudo, estavam unidos por uma mesma causa: a de inovar as artes e romper com os padrões clássicos vigentes. e) As tendências literárias que compuseram as vanguardas europeias estavam unidas por um único projeto artístico, cuja proposta era a de retomar os ideais clássicos nas artes e na literatura. 04. Os movimentos de vanguarda emergiram na Europa nas duas primeiras décadas do século XX e provocaram ruptura com a tradição cultural do século XIX. Foram extremamente radicais e influenciaram manifestações artísticas em todo o mundo. Sobre o Futurismo, estão corretas as seguintes alternativas: I.
No Brasil, todas as tendências de vanguarda foram chamadas de Modernismo, que equivale ao Futurismo, para os italianos, e ao Expressionismo, para os alemães. II. Na literatura brasileira, seus principais representantes foram Manuel Bandeira e Augusto Frederico Schmidt, que se apropriaram de ideais futuristas para a realização de uma escrita automática e telegráfica. III. O Futurismo difundiu-se por meio de manifestos e conferências, encontrando na literatura seu meio ideal de realização artística. IV. Entre suas principais características estão a decomposição das figuras em formas geométricas, a não retratação da realidade de forma real (realidade fragmentada), a não utilização da perspectiva e a tridimensionalidade e o uso do humor. a) Todas estão corretas. d) Apenas I está correta. b) II e IV estão corretas. e) I e III estão corretas. c) III e IV estão corretas. 05. (UEL PR) Em 1924, os surrealistas lançaram um manifesto no qual anunciaram a força do inconsciente na criação de novas percepções. Valorizavam a ausência de lógica das experiências psíquicas e oníricas, propondo novas experiências estéticas. Sobre o Surrealismo, é correto afirmar: a) Acredita que a liberação do psiquismo humano se dá por meio da sacralização da natureza. b) Baseia-se na razão, negando as oscilações do temperamento humano. c) Destaca que o fundamental, na arte, é o objeto visível em detrimento do emocionalismo subjetivo do artista. d) Concede mais valor ao livre jogo da imaginação individual do que à codificação dos ideais da sociedade ou da história. e) Busca limitar o psiquismo humano e suas manifestações, transfigurando-os em geometria a favor de uma nova ordem. Questão 04. Os principais representantes do Futurismo na literatura brasileira foram os escritores precursores do Modernismo, Mário e Oswald de Andrade.
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01. (Enem MEC)
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Exercícios C om p l em en t ares
Manipor
01. (UFPE PE) Os movimentos culturais do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX dialogavam com as mudanças que ocorriam na sociedade, com a afirmação do modo de produção capitalista e com as novas formas de pensar e de sentir o mundo. Com o Modernismo e as vanguardas artísticas, houve mudanças importantes, pois ( ) o dadaísmo procurou radicalizar nas suas propostas, criticando os valores estabelecidos, com destaque para a obra de artistas como Marcel Duchamp. ( ) o surrealismo trouxe a exploração do inconsciente, presente na pintura do espanhol Salvador Dalí e na obra literária do francês André Breton. ( ) com obras que causaram impacto, houve um rompimento frente aos modelos clássicos que adotavam regras e limites para o artista. ( ) O Cubismo foi o movimento que mais explorou o subjetivismo, demonstrando intensa preocupação com o sofrimento humano.
uico opõe al do ento, pela ação o as-
a) V – V – V – V b) V – V – V – F c) V – F – V – F d) V – V – F – F e) F – V – V – F
concepção das obras. O termo que completa corretamente o espaço é: a) Trovadorismo. b) Arcadismo. c) Romantismo d) Modernismo. e) Concretismo. 04. (Unifor CE) O quadro Les Demoiselles D’Avignon, do pintor espanhol Pablo Picasso, é uma peça representativa de um Movimento de Vanguarda do século XIX, que retratava o espaço por diversos ângulos ao mesmo tempo, minimizando a necessidade de haver fidelidade com a realidade, bem como o poema do francês Guillaume Apollinaire, cujas palavras dispostas de forma simultânea, visam à retratação de uma imagem. A vanguarda de que falamos é o a) Impressionismo b) Surrealismo c) Futurismo d) Dadaísmo e) Cubismo 05. (Famerp) A primeira manifestação surrealista aconteceu em
02. (ESPM SP) Centrando-se, assim, no moderno, [...] faziam apologia da velocidade, da máquina, do automóvel (“um automóvel é mais belo que a Vitória de Samotrácia”, dizia Marinetti no seu primeiro manifesto), da agressividade, do esporte, da guerra, do patriotismo, do militarismo, das fábricas, das estações ferroviárias, das multidões, das locomotivas, dos aviões, enfim, de tudo quanto exprimisse o moderno nas suas formas avançadas e imprevistas.
1924 com a divulgação do panfleto “Um cadáver”, a propó-
(Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários, Cultrix, p.234)
sequência funesta, Breton e Aragon perderam o emprego
O texto acima define um dos primeiros “ismos” das vanguardas artísticas europeias que sacudiram o século XX. Trata-se do: a) Cubismo b) Futurismo B07 A s V ang uardas E uropeias
be aproveitar (devorar) as influências estrangeiras para a
c) Surrealismo d) Dadaísmo e) Impressionismo 03. (Faceres SP) O Dadaísmo foi uma das vanguardas cujos preceitos serviram de base para o movimento do ________________, no início do século XX. Ele levou em consideração a afirmação da identidade nacional mas sou-
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sito da morte de Anatole France, prêmio Nobel de literatura. Os surrealistas não estavam interessados no estilo límpido, nem no famoso ceticismo desse escritor consagrado e, por isso mesmo, alvo perfeito para o grupo de jovens lobos mostrarem suas garras. Numa linguagem violenta, afirmavam que acabava de morrer “um pouco da servilidade humana”. E, como esperavam, a repercussão foi enorme. Como conoferecido pelo colecionador Jacques Doucet. (Surrealismo, 1986.)
Com base no texto, é correto afirmar que Anatole France a) pregava a “servilidade humana”, ideia que os escritores surrealistas pretendiam resgatar. b) havia contribuído, antes de sua morte, para a perda do emprego de artistas como Breton e Aragon. c) foi um famoso escritor, participante do movimento surrealista e ganhador do prêmio Nobel de literatura d) foi homenageado pelo grupo surrealista, em um panfleto, por ocasião de sua morte. e) fez, em sua obra, opções estéticas que foram combatidas pelo grupo surrealista.
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MÓDULO B08
SEMANA DE ARTE MODERNA Sempre se ouviu falar que a verdadeira literatura é o espelho da realidade. Em âmbito nacional, seguindo essa esteira, o Modernismo, movimento que trouxe mudanças radicais à linguagem literária, pressupõe uma tensão entre manifestações artísticas do início do século XX e o contexto social vigente. A intelectualidade brasileira já vinha se preparando para as inovações há muito e agora sentia-se pronta para chocar a burguesia. O marco de instalação do Modernismo foi em 1922, durante a Semana de Arte Moderna. No Teatro Municipal de São Paulo, várias atividades de música, dança, recitais e também conferências foram realizadas. Nomes como os de Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Monteiro Lobato, Lima Barreto e Ronald de Carvalho podem ser destacados. Vale ainda citar Anita Malfati, Di Cavalcanti, Lasar Segall e Tarsila do Amaral, na pintura; Heitor Villa-Lobos, na música, e Victor Brecheret, na escultura, como nomes importantes desse desejo de renovação radical nas artes.
ASSUNTOS ABORDADOS n Semana de Arte Moderna n Características da Semana de Arte Moderna n As três fases do Modernismo n Dia 17 e último dia da Semana de 22 n Anita Malfatti
Com o propósito de renovar a expressão literária para libertar-se de formas antigas, o Modernismo busca, em seu primeiro momento, rever e desmistificar a história do Brasil. Para registrar esse fato, seus representantes privilegiam os temas com matizes brasileiros de forma crítica e bem-humorada, fazendo ressurgir um nacionalismo forte, mas agora livre da ingenuidade e de exageros românticos. Os autores passam a valorizar: o negro, o índio e o europeu como componentes de nossa brasilidade e sujeitos de nossa história.
Aos poucos, a vida cultural de São Paulo começou a sentir os efeitos das vanguardas europeias. O Modernismo chega ao Brasil coincidindo com o fim da República Velha. Na verdade, esse movimento começou em nosso país, quando Oswald de Andrade retornou da Europa em 1912, onde teve contato com as vanguardas. Desse contato, vários acontecimentos que delinearam as mudanças que estavam surgindo nas artes brasileiras. Figura 01 - A Ventania. 1915-1917. óleo s/ tela (51x61). Col. Palácio dos Bandeirantes, SP.
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O glamour da Belle Époque ainda marcava as ruas do Rio de Janeiro, com seus cafés, livrarias, teatros e festas. O Parnasianismo com suas rimas rebuscadas e versos rígidos imperava soberano no gosto popular.
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Português
Figura 02 - Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 1922, autoria de Di Cavalcanti
Características da Semana de Arte Moderna Uma vez que o intuito principal desses artistas era chocar o público e trazer à tona outras maneiras de sentir, ver e fruir a arte, as características desse momento foram: n n n n n n n n n
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n
Ausência de formalismo; Ruptura com academicismo e tradicionalismo; Crítica ao modelo parnasiano; Influência das vanguardas artísticas europeias (Futurismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, Expressionismo); Valorização da identidade e cultura brasileira; Fusão de influências externas aos elementos brasileiros; Experimentações estéticas; Liberdade de expressão; Aproximação da linguagem oral, com utilização da linguagem coloquial e vulgar; Temáticas nacionalistas e cotidianas.
As três fases do Modernismo O Modernismo brasileiro está dividido em três etapas: Primeira fase (1922 - 1930); Segunda fase (1930 – 1945) e Terceira fase (1945 em diante). Em geral, todas as características estão reunidas em um dos períodos de maior efervescência cultural da história da arte: o Modernismo. Como vimos, a Semana de Arte Moderna, realizada no mês de fevereiro de 1922, foi o marco histórico desse impor668
tante movimento no Brasil que aconteceu nos dias 13, 15 e 17, no Teatro Municipal de São Paulo. O evento que reunia artistas plásticos, músicos e escritores vanguardistas tinha como objetivo não só colocar a cultura brasileira a par das novas tendências e correntes de vanguarda que já vigoravam na Europa, mas também visava pregar a tomada de consciência da realidade brasileira.
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Mário de Andrade foi uma das figuras centrais e principal articulador da Semana de Arte Moderna de 22, mas o idealizador desse evento artístico e cultural foi o pintor brasileiro Di Cavalcanti, ao lado de outros organizadores.
Figura 03 - Programação afixada no saguão do Teatro Municipal, relativa ao segundo dia da Semana de Arte Moderna.
A solenidade de abertura ficou a cargo do poeta Graça Aranha, com sua conferência “A Emoção Estética na Arte Moderna”, acompanhada da música de Ernani Braga e a poesia de Ronald de Carvalho e de Guilherme de Almeida. A conferência de Graça Aranha começava assim: “Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de “horrores”. Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros “horrores” vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo.” Essa conferência não causou estranheza ou espanto, ao contrário da música de Ernani Braga, que fazia uma sátira a Chopin. Ainda na primeira noite houve a conferência de Ronald de Carvalho – “A Pintura e Escultura Moderna no Brasil”, três solos de piano de Ernani Braga e três danças africanas de Villa-Lobos. Também no primeiro dia da festa, no saguão do teatro, estavam sendo expostas pinturas de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz e outros; esculturas de Victor Brecheret e projetos de arquitetura de Antonio Moya. O público presente, não acostumado às novidades, fazia críticas e deboche sobre as obras. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão. Com esse propósito, experimentavam diferentes caminhos, mesmo sem definir nenhum padrão.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Grande agitação ocorreu na segunda noite do evento. Diante das vaias, relinchos e miados do público presente, Menotti Del Picchia reagiu à reprovação da plateia, dizendo que os conservadores provavelmente desejavam enforcá-los “um a um, nos finos assobios de suas vaias”.
Os termos cognatos.
Mas a agitação virou confusão quando Ronald de Carvalho recitou o poema-sátira, Os Sapos, no qual Manuel Bandeira critica a estética parnasiana. Nessa obra, Bandeira chama de sapos os poetas parnasianos que somente aceitavam a poesia rimada, formal, como os sonetos. Ele também satirizou as declamações de tais poetas e as comparou com o coaxar dos sapos num rio. O autor dá diferentes nomes a cada: sapoboi, sapo-tanoeiro e, aos menores, chama de saparia. E vai além: mostra algumas das regras que eles seguiam: comer hiatos, nunca rimar cognatos, dar importância à forma.
Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A fôrmas a forma.
Em oposição ao rigor gramatical e ao preciosismo linguístico parnasianos, os poetas modernistas valorizavam a incorporação de gírias e de sintaxe irregular, além da aproximação da linguagem oral de vários segmentos da sociedade brasileira. Vale a pena a leitura do poema, marco da Semana de Arte Moderna. Os sapos Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - “Meu pai foi à guerra!” - “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”. O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo
Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas...” Urra o sapo-boi: - “Meu pai foi rei!”- “Foi!” - “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”. Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: - A grande arte é como Lavor de joalheiro. Ou bem de estatuário. Tudo quanto é belo, Tudo quanto é vário, Canta no martelo”. Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas, - “Sei!” - “Não sabe!” - “Sabe!”. Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita Veste a sombra imensa; Lá, fugido ao mundo, Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é Que soluças tu, Transido de frio, Sapo-cururu Da beira do rio... (Carnaval. In Poesia completa e prosa.) B08 Semana de Arte Moderna
Ao longo do poema, o eu poemático constrói a crítica ao parnasiano e sua estética, ironizando o modo perfeito de se fazer arte. Manuel Bandeira, de maneira ácida, também faz uma alusão irônica aos poemas que valorizam a descrição dos objetos e da escultura clássica.
O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio.
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Português
O poema-sátira metalinguístico acima faz uma crítica contundente ao Parnasianismo de modo irônico e sarcástico, valendo-se do tema e da própria forma poética na construção dos versos. “Os sapos” pode ser visto ainda como uma paródia do poema “Profissão de fé”, de Olavo Bilac. Bandeira faz um jogo de palavras à maneira dos parnasianos, colocando pontos essenciais e características importantes defendidas e cultuadas por eles: sonoridade, métrica regular etc. Iniciado com uma cena em que alguns sapos saem da penumbra, enfunados de orgulho e põem-se a conversar, o poema discute como a poesia não deveria ser. De forma irônica, Bandeira utiliza-se de recursos dos próprios parnasianos para satirizar a poética deles. Os termos sapo-boi, sapo-tanoeiro e sapo-pipa são metáforas para aquilo que podemos chamar de “tipos” de poetas. Já o conteúdo da conversa é a poesia que os parnasianos defendem e com a qual eles comungam.
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Por fim, nas últimas três estrofes, o eu poético faz referência a um determinado “sapo cururu” que, com uma obra simples e sem aspirar à fama, está isolado à beira do rio, sem ter o reconhecimento do povo. O referido sapo representa o poeta não parnasiano, por isso, desintegrado, (longe dessa grita (...) sem glória, sem fé (...) solitário), versos das últimas estrofes.
Figura 04 - Comissão Organizadora da Semana de Arte Moderna. Da esquerda para a direita: Manuel Bandeira é o segundo e Mário de Andrade, o terceiro; Oswald de Andrade aparece em primeiro plano.
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Dia 17 e último dia da Semana de 22 No terceiro e último dia do grande festival da Semana, um espetáculo de variadas peças compostas por Heitor Villa-Lobos e executadas pelos talentosos artistas presentes no festival encerra a Semana de Arte Moderna. Foi o dia mais tranquilo dos três. O público, que já não lotava o teatro, comportava-se mais respeitosamente. Nessa noite, houve um longo recital e Villa-Lobos se apresentou de casaca, um pé calçado com chinelo e o outro com sapato, motivo que levou a plateia a interpretar a atitude como futurista. Por isso ele recebeu uma sonora vaia dos presentes. Tempos depois, Villa-Lobos culpou um calo arruinado. 670
Consequências da Semana de 22 As pessoas ficaram desconfortáveis com as apresentações e exposições artísticas, pois não conseguiram compreender a nova proposta de arte. Em virtude disso, a crítica ao movimento foi tão severa. Os artistas envolvidos no evento chegaram a ser comparados a doentes mentais e loucos. O autor de Urupês, criador do Sítio do Picapau Amarelo e também crítico de arte e pintor, Monteiro Lobato, escrevia para o jornal O Estado de S. Paulo. Lobato foi quem mais atacou as ações da Semana de 22. Nessa época, Anita Malfatti acabara de retornar da Europa e estava repleta de obras modernistas, que foram duramente criticadas no manifesto “Paranoia ou Mistificação?”, gerando um grande mal-estar na opinião popular. Como consequência dessa dura crítica, muitas de suas telas, que tinham sido vendidas, foram devolvidas. Algumas delas foram, inclusive, destruídas a bengaladas. Paranoia ou Mistificação “Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas (...) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Embora eles se deem como novos precursores de uma arte a vir - nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação (...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, inventiva, em que alto grau possui um número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e “tutti quanti” não passam de outros ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, da forma – caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar uma ideia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador.
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Como já vimos anteriormente, entre os organizadores da Semana de 22, estavam Mário de Andrade e Oswald de Andrade que, posteriormente, ao lado de Manuel Bandeira, formaram a célebre tríade modernista. Esses três poetas foram considerados os principais representantes e divulgadores do Modernismo no Brasil. Graças a eles, a estética modernista recebeu apoio de outros importantes escritores, conseguindo, assim, consolidar e influenciar as gerações futuras.
Anita Malfa� Depois de todo o furor causado pela exposição de seus quadros e da repercussão do artigo feroz, intitulado Paranoia ou Mistificação, publicado no jornal O Estado de São Paulo, por Monteiro Lobato, Anita Malfatti vai para Paris, onde realiza seu sonho de estudar Artes. Lá ficou por cinco anos, estudando e produzindo. Nesse período, realizou exposições em Berlim, Paris e Nova York. De volta ao Brasil, ao lado de Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, integrava o “Grupo dos Cinco”. Esses artistas defendiam as ideias da Semana de Arte Moderna.
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Figura 05 - Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita)
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Entre suas principais obras, estão: A boba; Uma rua; Abaporu; As margaridas de Mario; A estudante russa; O homem das sete cores; Nu Cubista; O homem amarelo; entre outros.
Figura 06 - A boba. 1915-1916. Col. Museu de Arte Contemporânea da USP, SP.
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P ortug uê s Questão 01. C - O principal objetivo da Semana de Arte Moderna era combater a arte tradicional e com os padrões literários vigentes, muito ligados à cultura europeia. A partir da Semana, a arte brasileira ganhou novos rumos, buscando retratar o povo brasileiro e sua cultura.
Exercícios de Fixação 01. (Puc SP) A Semana de Arte Moderna (1922), expressão de um movimento cultural que atingiu todas as nossas manifestações artísticas, surgiu de uma rejeição ao chamado colonialismo mental, pregava uma maior fidelidade à realidade brasileira e valorizava sobretudo o regionalismo. Com isso, pode-se dizer que a) romance regional assumiu características de exaltação, retratando os aspectos românticos da vida sertaneja. b) a escultura e a pintura tiveram seu apogeu com a valorização dos modelos clássicos. c) movimento redescobriu o Brasil, revitalizando os temas nacionais e reinterpretando nossa realidade. d) os modelos arquitetônicos do período buscaram sua inspiração na tradição do barroco português. e) a preocupação dominante dos autores foi com o retratar os males da colonização.
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riun. euoeo
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02. (Enem MEC) Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros modernistas a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais. b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação artística nacional. c) representavam a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a prática educativa. d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada à tradição acadêmica. e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados. 03. (UFRGS RS) Assinale a alternativa INCORRETA. a) O Modernismo brasileiro de 1922 teve, entre outros objetivos, as renovações formais, expressas em prefácios, manifestos, poemas e romances. b) Manuel Bandeira, poeta nascido em Recife, abordou em sua obra múltiplos temas aos quais, algumas vezes, atribuiu caráter autobiográfico. c) Vinicius de Moraes, autor de “Soneto de fidelidade” e “Soneto de separação”, também escreveu poemas infantis e a peça de teatro “Orfeu da Conceição.”
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Questão 02. A O trabalho de Anita Malfatti era reconhecido na Europa, contudo, no Brasil, não houve a mesma receptividade. Isso aconteceu porque os artistas modernistas tinham como objetivo criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, libertando-se de normas acadêmicas europeias, destacando as cores e os temas nacionais.
d) Carlos Drummond de Andrade, autor de “Alguma poesia”, “Sentimento do mundo”, “A Rosa do povo” e “Claro enigma”, caracteriza-se pela construção de uma poética rigorosa e pela desatenção aos temas do cotidiano. e) João Cabral de Melo Neto destaca-se na literatura brasileira pelo desinteresse em relação ao saudosismo e ao confessionalismo característicos da tradição lírica em língua portuguesa. 04. (UFSM RS) Leia as seguintes afirmativas a respeito da literatura pré-modernista. I. Simões Lopes Neto destaca-se por um conjunto de contos que expressam costumes e incorporam registros da oralidade sul-rio-grandense. II. Em OS SERTÕES, Euclides da Cunha focaliza o episódio de Canudos e descreve o homem e a terra, fatores que situam a obra no nível da cultura científica e histórica. III. Lima Barreto, em seus romances, recupera quadros das regiões que cultivam cana-de-açúcar no interior fluminense. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas III. d) apenas II e III. e) I, II e III. 05. (UFRGS RS) Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso) as afirmações abaixo sobre a obra Os Sertões, de Euclides da Cunha. ( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o requinte da linguagem, a intenção científica e o propósito jornalístico. ( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da literatura brasileira que tematiza o povoamento do sertão, iniciada ainda no Romantismo com Bernardo Guimarães. ( ) Euclides da Cunha escreveu Os Sertões com base nas reportagens que realizou como correspondente do jornal O Estado de São Paulo. ( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia criada pelo imaginário do autor. ( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de protesto surgidos logo após a proclamação da Independência do Brasil. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V- F- V- F- F b) V- V- V- F- F c) F- F- V- V- F d) F- V- F- F- V e) V- V- F- F- F
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Exercícios C om p l em en t ares
02. (Unifoa MG) Autor do polêmico artigo “Paranoia ou mistificação?”, em que critica a exposição da pintura de Anita Mafaltti e, por extensão, a arte de vanguarda. Trata-se de: a) Carlos Drummond de Andrade b) Mário de Andrade c) Monteiro Lobato d) Oswaldo de Andrade e) Lima Barreto 03. (Enem MEC) No Brasil colonial, os portugueses procuravam ocupar e explorar os territórios descobertos, nos quais viviam índios, que eles queriam cristianizar e usar como força de trabalho. Os missionários aprendiam os idiomas dos nativos para catequizá-los nas suas próprias línguas. Ao longo do tempo, as línguas se influenciaram. O resultado desse processo foi a formação de uma língua geral, desdobrada em duas variedades: o abanheenga, ao sul, e o nheengatu, ao norte. Quase todos se comunicavam na língua geral, sendo poucos aqueles que falavam apenas o português. De acordo com o texto, a língua geral formou-se e consolidou-se no contexto histórico do Brasil-Colônia. Portanto, a formação desse idioma e suas variedades foi condicionada a) pelo interesse dos indígenas em aprender a religião dos portugueses. b) pelo interesse dos portugueses em aprimorar o saber linguístico dos índios. c) pela percepção dos indígenas de que as suas línguas precisavam aperfeiçoar-se. d) pelo interesse unilateral dos indígenas em aprender uma nova língua com os portugueses. e) pela distribuição espacial das línguas indígenas, que era anterior à chegada dos portugueses. 04. (UFV MG) Leia as afirmativas abaixo, relacionadas ao Pré-Modernismo brasileiro: I. Lima Barreto, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato são autores pré-modernistas, cujas obras revelam interesse pela realidade brasileira.
II.
As obras dos escritores pré-modernistas anteciparam alguns pressupostos temáticos e/ou formais do Modernismo. III. Denomina-se Pré-Modernismo o período de transição entre as tendências artísticas do final do século XIX e o Modernismo. Está CORRETO o que se afirma em: a) II, apenas. c) I, II e III. b) III, apenas. d) I e II, apenas. 05. (Fuvest SP) MACUMBA DE PAI ZUSÉ Na macumba do Encantado Nego véio pai de santo fez mandinga No palacete de Botafogo Sangue de branca virou água Foram vê estava morta! É correto afirmar que, neste poema de Manuel Bandeira, a) emprega-se a modalidade do poema-piada, típica da década de 20, com o fim de satirizar os costumes populares. b) usam-se os recursos sonoros (ritmo e metro regulares, redondilha menor) para representar a cultura branca, e os recursos visuais (imagens, cores), para caracterizar a religião afro-brasileira. c) mesclam-se duas variedades linguísticas: uma que se aproxima da língua escrita culta e outra que mimetiza uma modalidade da língua oral-popular. d) manifesta-se a contradição entre dois tipos de práticas religiosas, representadas pelas oposições negro x branco, macumba x pai de santo, nego véio x Encantado. e) expressa-se a tendência modernista de encarar a cultura popular como manifestação do atraso nacional, a ser superado pela modernização. 06. (Puc PR) Identifique a alternativa verdadeira. a) O Cubismo pregava a demolição de museus e bibliotecas com o objetivo de minimizar a importância do passado. b) Segundo os próprios dadaístas, a palavra “dadá” não tem significado algum. c) Os futuristas alteravam profundamente a sintaxe para tentar reproduzir nos textos literários os efeitos resultantes do rompimento com a perspectiva sobre as técnicas de pintura. d) Os manifestos redigidos por artistas brasileiros na década de 20 são cópias dos manifestos das vanguardas europeias, com pequenas adaptações. e) O Surrealismo foi a tendência da vanguarda europeia que mais influenciou as primeiras obras de Oswald de Andrade e de Mário de Andrade.
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B08 Sem ana de A rte Moderna
01. (Unimar SP) Em relação à Semana de Arte Moderna de 1922 é correto afirmar: a) A preferência pelas manifestações artísticas já cristalizadas nas linhas do academicismo. b) Nela se realizou uma retrospectiva da produção artística brasileira do período simbolista. c) Constituiu marco histórico-literário, ponto de partida para profundas modificações na arte brasileira. d) Foi um movimento artístico ocorrido no Rio de Janeiro, como consequência direta da Guerra Mundial de 1914-1918. e) Nela se discutiram as condições políticas para a implementação de um novo modelo industrial no Brasil.
FRENTE
B
–
PORTUGUÊS
Exercícios de A p rof u n dam en t o Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o 02 sonhava Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas que no 03 romance, ombro a ombro com altos tipos civilizados, a todos sobreleva 04 em beleza d’alma e corpo. 05 Contrapôs-lhe a cruel etnologia dos sertanistas modernos um 06 selvagem real, feio e brutesco, anguloso e desinteressante, tão 07 incapaz, muscularmente, de arrancar uma palmeira, como incapaz, 08 moralmente, de amar Ceci. 09 [...] 10 Não morreu, todavia. 11 Evoluiu. 12 O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismouse 13 de “caboclismo”. O cocar de penas de arara passou a chapéu de 14 palha rebatido à testa; a ocara virou rancho de sapé; o tacape afilou, 15 criou gatilho, deitou ouvido e é hoje espingarda trochada; o boré 16 descaiu lamentavelmente para pio de inambu; a tanga ascendeu a 17 camisa aberta ao peito. 18 Mas o substrato psíquico não mudou: orgulho indomável, 19 independência, fidalguia, coragem, virilidade heroica, todo o recheio, 20 em suma, sem faltar uma azeitona, dos Peris e Ubirajaras. 21 Este setembrino rebrotar duma arte morta inda se não desbagoou 22 de todos os frutos. Terá o seu “I Juca Pirama”, o seu “Canto do Piaga” 23 e talvez dê ópera lírica. 24 [...] 25 Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado 26 matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro 27 recente e o aborígene de tabuinha do beiço, uma existe a vegetar 28 de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e 29 sorna, nada a põe de pé. 01
ronmisa ine de dade ecuras fimou
–
sma presacios e 04 hada
–
sen-
cenque
Monteiro Lobato, Urupês.
Vocabulário: boré (Ref. 15): trombeta de bambu usada pelos índios. inambu (Ref. 16): ave desprovida completamente ou quase completamente de cauda. ocara (Ref. 14): choupana de índios do Brasil. sorna (Ref. 29): indolente, inerte. trochada (Ref. 15): cano de espingarda que foi torcido para tornar-se reforçado.
agas, refe-
–
01. (Mackenzie SP) Sobre o Pré-Modernismo é INCORRETO afirmar que: a) sua prosa aproxima-se da realidade, expondo e denunciando os contrastes e as mazelas socioeconômicas brasileiras. b) é um período de transição das prosas realista e naturalista e das poesias parnasiana e simbolista para produção literária modernista brasileira.
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c) são alguns de seus prosadores: Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Graça Aranha. d) é uma escola literária brasileira que sofreu forte influência do estilo moderno da prosa portuguesa. e) sua prosa retrata diferentes realidades brasileiras, dentre elas: os subúrbios cariocas, o interior paulista e o sertão nordestino. 02. (Puc Campinas SP) O ensaio de Candido mostra-nos um interesse dos brasileiros pela América hispânica muito maior do que o imaginado. Efetivamente houve -confirma Candido -vários brasileiros preocupados com o tema das relações entre o Brasil e os países hispanoamericanos. E, se alguns desses autores, como Euclides da Cunha e Eduardo Prado, opinavam que o melhor para o Brasil era afastarse da ‘anarquia das repúblicas vizinhas’, outros, como Manoel Bonfim e o barão do Rio Branco (ministro plenipotenciário e das Relações Exteriores do governo brasileiro, de 1902 a 1912), buscaram soluções alternativas ao tradicional isolamento e ao frequente ensimesmamento característico de brasileiros e hispanoamericanos. (SERNA, Jorge Ruedas de la. (Org.) História e literatura: homenagem a Antonio Candido. Campinas-SP: Ed. Da Unicamp; São Paulo-SP: Fundação Memorial da América Latina/Imprensa Oficial do Estado, 2003. p.98-99)
As convicções republicanas de Euclides da Cunha não deixaram de sofrer um grande impacto quando esse escritor veio a testemunhar, como a) jornalista, o episódio da guerra de Canudos, central na obra-prima que é Os Sertões. b) enviado especial, a guerra do Paraguai, em que eram tão desiguais as forças em conflito. c) político liberal, a deposição de D. Pedro II, que levou o escritor ao tema de Triste fim de Policarpo Quaresma. d) militar, a intervenção federal no Estado do Ceará, matéria do conjunto de artigos reunidos em Os Sertões. e) emissário da Justiça Federal, os embates entre poderosas famílias gaúchas, que viriam a ser o centro do romance Triste fim de Policarpo Quaresma. 03. (Unirg TO) Leia o poema a seguir. VERSOS ÍNTIMOS Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável!
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.
c) a recorrência a ideias deterministas que impulsionam o “eu” a superar seus conflitos, rompendo um ciclo que naturalmente lhe é imposto. d) a vontade de se conhecer e mudar o mundo em que se vive, o que só pode ser alcançado quando se abandona a desintegração psíquica e se parte para o equilíbrio do “eu”. e) o uso de conceitos advindos do cientificismo do século XIX, por meio dos quais o poeta mergulha no “eu”, buscando assim explorar seu ser biológico e metafísico.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa ainda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
05. (IFPE) Versos Íntimos Pau d’Arco, 1901.
ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. p. 94-95.
O poema “Versos íntimos” explora uma temática recorrente na poética de Augusto dos Anjos, a qual se expressa na a) aceitação do caráter contraditório do homem. b) negação de qualquer valor à vida humana. c) concepção determinista do comportamento do homem. d) constatação da miséria inerente à vida humana.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.
04. (Unifesp SP) Apóstrofe à carne Quando eu pego nas carnes do meu rosto, Pressinto o fim da orgânica batalha: – Olhos que o húmus necrófago estraçalha, Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
Carne, feixe de mônadas bastardas, Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas, A dardejar relampejantes brilhos, Dói-me ver, muito embora a alma te acenda, Em tua podridão a herança horrenda, Que eu tenho de deixar para os meus filhos! (Augusto dos Anjos. Obra completa, 1994.)
No soneto de Augusto dos Anjos, é evidente a) a visão pessimista de um “eu” cindido, que desiste de conhecer-se, pelo medo de constatar o já sabido de sua condição humana transitória. b) o transcendentalismo, uma vez que o “eu” desintegrado objetiva alçar voos e romper com um projeto de vida marcado pelo pessimismo e pela tortura existencial.
Em relação aos sentidos das palavras retiradas do poema “Versos íntimos” do poeta paraibano Augusto dos Anjos, é correto afirmar que I. o vocábulo “formidável”, no primeiro verso, tem como sinônimo admirável. II. “quimera”, no segundo verso do poema, pode significar “fantasia” ou “alucinação”. III. no décimo verso do poema, o termo “escarro” tem uma conotação positiva. IV. “chaga”, no primeiro verso da última estrofe, é sinônimo de doença. V. no penúltimo verso do poema, a palavra “vil” significa “desconhecida”. São verdadeiras apenas as proposições: a) I, II e III b) I, IV e V c) II, III e V d) I, II e IV e) II, III e IV 675
FRENTE B E xercícios de A profundam ento
ANJOS, Augusto dos .Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/poemas_de_ augusto_dos_anjos/>.Acesso em: 30 set. 2014.
E o Homem – negro e heteróclito composto, Onde a alva flama psíquica trabalha, Desagrega-se e deixa na mortalha O tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!
P ortug uê s Questão 06 Gab. D - A máscara remete a uma manifestação artística mais simples, sintética, sem tantas preocupações com trações, contornos, como pregava a arte mimética, praticada na Europa até então.
06. (Enem MEC)
paisagem rasgada por um automóvel, ou por um trem, perde em valor descritivo, mas ganha em valor sintético. O homem moderno registra cem vezes mais impressões do que o artista do século XVIII. LEGÉR, F. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989.
Máscara senufo, Mali. Madiera e fibra vegetal. Acervo do MAE/USP.
As formas plásticas nas produções africanas conduziram artistas modernos do início do século XX, como Pablo Picasso, a algumas proposições artísticas denominadas vanguardas. A máscara remete à a) preservação da proporção. b) idealização do movimento. c) estruturação assimétrica. d) sintetização das formas. e) valorização estética 07. (Enem MEC) Texto I
A vanguarda europeia, evidenciada pela obra e pelo texto, expressa os ideais e a estética do a) Cubismo, que questionava o uso da perspectiva por meio da fragmentação geométrica. b) Expressionismo alemão, que criticava a arte acadêmica, usando a deformação das figuras. c) Dadaísmo, que rejeitava a instituição artística, propondo a antiarte. d) Futurismo, que propunha uma nova estética, baseada nos valores da vida moderna. e) Neoplasticismo, que buscava o equilíbrio plástico, com utilização da direção horizontal e vertical. 08. (Unemat MT) PORQUINNHO-DA-ÍNDIA Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas… — O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
FRENTE B E xercícios de A profundam ento
(Manuel Bandeira. Libertinagem e Estrela da manhã.)
SEVERINI, G. A hieroglífica dinâmica do Mal Tabarin. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, 1912.
TEXTO II A existência dos homens criadores modernos é muito mais condensada e mais complicada do que a das pessoas dos séculos precedentes. A coisa representada, por imagem, fica menos fixa, o objeto em si mesmo se expõe menos do que antes. Uma 676
Manuel Bandeira é considerado um dos mais importantes poetas da primeira geração modernista brasileira. O poema em questão é um bom exemplo da renovação estética proposta pelo grupo de modernistas que, dentre seus propósitos, defendia: a) a arte pela arte, o rigor na composição formal, preferencialmente com uso de esquema rítmico regular. b) a inserção de temas do cotidiano das pessoas, aproximando a poesia da vida, valorizando a simplicidade da linguagem c) a idealização da natureza, da fauna e da flora, como elementos símbolos da nacionalidade. d) a supressão do lirismo amoroso, ironizando e ridicularizando as paixões adolescentes, especialmente as não correspondidas. e) a valorização da variante padrão da língua, com o objetivo de promover a homogeneização da fala dos brasileiros. 09. (Unifor CE) O quadro Persistência da memória, de Salvador Dalí, pertence ao Surrealismo, que exerceu influências na Li-
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
teratura, no Cinema e nas artes visuais no início do século XX. Sobre esse movimento de vanguarda não se pode afirmar:
Parnasiano aguado, Diz: - “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. [...]
10. (Faceres SP) Observe os dois trechos a seguir retirados dos poemas “Satélite” e “Os sapos”, respectivamente, ambos escritos pelo poeta Manuel Bandeira e pertencentes ao Modernismo Brasileiro. Texto 1: [...] Ah, Lua deste fim de tarde, Demissionária de atribuições românticas, Sem show para as disponibilidades sentimentais! Fatigado de mais-valia, Gosto de ti assim: Coisa em si, - Satélite. [...] Texto 2: [...] O sapo-tanoeiro,
11. (Enem MEC) O bonde abre a viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem. Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém. ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993.
O desenvolvimento das grandes cidades e a consequente concentração populacional nos centros urbanos geraram mudanças importantes no comportamento dos indivíduos em sociedade. No poema de Mário de Andrade, publicado na década de 1940, a vida na metrópole aparece representada pela contraposição entre a) a solidão e a multidão b) a carência e a satisfação c) a mobilidade e a lentidão. d) a amizade e a indiferença. e) a mudança e a estagnação. 677
FRENTE B E xercícios de A profundam ento
a) Foi iniciado em Paris, em 1924, por André Breton, no período entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da Primeira Guerra e sobre a experiência acumulada de outros movimentos de vanguarda. b) Deu novos rumos à arte, utilizando-se da ausência de controle exercido pela razão e do automatismo psíquico puro. c) Sofreu influência do o pensamento do psicanalista Sigmund Freud, ao explorar o inconsciente, o sonho, a loucura e aproximar-se de tudo o que estivesse fora do controle da consciência. d) Recusou o positivismo, o progresso cientificista, a crença nas possibilidades ilimitadas do ser humano baseadas na ciência e na técnica. A arte é uma forma de refletir sentimentos e estados anímicos, propensos à melancolia e ao pessimismo. e) Caracterizou-se pelo humor, pelo sonho e pelo ilogismo, no intuito de libertar o homem da existência utilitária. Subverteu o padrão de bom gosto e decoro estabelecido pela sociedade.
A respeito dos trechos, é possível afirmar: a) Bandeira é conhecido como poeta difícil, hermético, atrelado aos cânones clássicos e ao uso da língua portuguesa com refinado preciosismo, como demonstram os trechos lidos. Com uma poesia visivelmente política, o poeta instiga o povo brasileiro para as ideias marxistas, o que se percebe, nos trechos dados, em “Fatigado de mais-valia” e “Meu cancioneiro/ É bem martelado”. b) Os trechos trazem, respectivamente, referências críticas aos movimentos literários “Romantismo” e “Parnasianismo”. Eles demonstram que o autor pretendia se libertar das estéticas anteriores e ajudar a construir novos padrões para a poesia brasileira. c) O uso do ponto de exclamação revela o sentimentalismo dos poemas, sempre ligados à função emotiva da linguagem. Bandeira é conhecido pelo seu lirismo piegas. d) Os textos fazem parte da produção de Manuel Bandeira dirigida ao público infantil e trazem temas pertencentes ao imaginário das crianças, amparados em uma musicalidade bastante envolvente.
FRENTE
C
PORTUGUÊS Por falar nisso Retórica, palavra de origem no latim, que, literalmente, significa a arte e/ou técnica de bem falar. Trata-se, portanto, da arte de usar uma linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva (que convence o interlocutor). A retórica teria nascido no século V a.C., na Sicília, e foi introduzida em Atenas pelo sofista Górgias, desenvolvendo-se nos círculos políticos e judiciais da Grécia antiga. Originalmente, visava à persuasão de uma audiência dos mais diversos assuntos, mas acabou por se tornar sinônimo da arte de bem falar. Aristóteles, na obra Retórica, lançou as bases para sistematizar seu estudo, identificando-a como um dos elementos centrais da filosofia, junto com a lógica e a dialética. A retórica foi uma das três artes liberais ensinadas nas universidades da Idade Média, constituindo o “trivium”, junto com a lógica e a gramática. Até o século XIX, foi uma parte central da educação ocidental, preenchendo a necessidade de treinar oradores e escritores para convencer audiências mediante argumentos. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
C05 C06 C07 C08
Tipos de discurso............................................................................ 680 Argumentação............................................................................... 686 Fatores de textualidade ................................................................ 691 Paralelismos .................................................................................. 697
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C05
ASSUNTOS ABORDADOS n Tipos de discurso n Discurso direto n Discurso indireto n Discurso indireto livre
TIPOS DE DISCURSO A palavra discurso normalmente está relacionada a discursos políticos, a pessoas subindo em palanques para debater propostas. Discurso, no entanto, é todo ato que envolve interação por meio da linguagem dentro de um determinado contexto, considerando quem fala, a quem se fala e do que se fala. Nesse sentido, dentro de um texto, o escritor pode expor os pensamentos e as palavras de personagens reais ou fictícios por meio de três moldes linguísticos diversos. São eles: n n n
Discurso (ou estilo) direto; Discurso (ou estilo) indireto; Discurso (ou estilo) indireto livre.
Discurso direto Leia, a seguir, este trecho do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis: Virgília replicou: - Promete que algum dia me fará baronesa? Atente-se para o fato de que, nesse trecho transcrito, há duas vozes: a voz do narrador que, por sua vez, é Brás Cubas, e a voz do locutor, que é Virgília. Note que o narrador, após introduzir a personagem Virgília, deixou que ela se expressasse por si mesma, limitando-se a reproduzir a fala como ela efetivamente teria discursado, organizado e emitido. Características do discurso direto O discurso direto é, geralmente, introduzido por verbos dicendi, isto é, verbos que introduzem a fala das personagens. No exemplo anterior, Machado de Assis escolheu o verbo “replicar” para apontar a fala da personagem. Outros verbos dicendi muito utilizados são: dizer, afirmar, ponderar, sugerir, perguntar, indagar, responder e tantos outros. Nas narrativas modernas, entretanto, tem-se buscado elipsar tais verbos, de maneira que somente pelo contexto, ou por sinais de pontuação (dois-pontos, aspas, travessão), o autor consegue indicar a fala da personagem. Observe: E Thaís, espantada, virou-se para Sandra: - Você ficou a manhã toda em casa e esqueceu de pôr o lixo para fora!
680
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Discurso indireto Leia a seguir este trecho do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis: José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Note agora que, diferentemente do discurso direto, no discurso indireto, há apenas uma voz, a voz do narrador. Este incorpora em suas próprias palavras uma informação da personagem, contentando-se em transmitir ao leitor apenas o seu conteúdo, sem nenhum respeito à forma linguística que teria sido realmente empregada. Características do discurso indireto O discurso indireto também é comumente introduzido por verbos dicendi, mas por meio de uma oração subordinada introduzida pela conjunção “que” ou “se”. Veja: João Paulo garantiu que nos emprestaria o carro. Angélica perguntou se podia ir brincar no pátio. Transposição do discurso direto para o indireto Leia as duas frases a seguir: Arthur perguntou para Neusa: - Quer dançar comigo? Arthur perguntou para Neusa se ela queria dançar com ele.
Discurso direto
Discurso indireto
Enunciado em 1ª ou 2ª pessoa
Enunciado em 3ª pessoa
Verbo enunciado no presente do indicativo
Verbo enunciado no pretérito imperfeito do indicativo
Verbo enunciado no pretérito perfeito do indicativo
Verbo enunciado no pretérito mais-que-perfeito do indicativo
Verbo enunciado no futuro do presente
Verbo enunciado no futuro do pretérito
Verbo no modo imperativo
Verbo no modo subjuntivo
Enunciado com ponto de interrogação
Enunciado sem ponto de interrogação
Pronome demonstrativo de 1ª (este) ou 2ª (esse) pessoa
Pronome demonstrativo de 3ª (aquele) pessoa
Advérbio de lugar aqui
Advérbio de lugar ali C05 T ipos de discurso
Note que, apesar de transmitir o mesmo conteúdo, há distinções entre o discurso direto e indireto. Observe que há diferenças no emprego do tempo verbal e que, no discurso indireto, a pergunta aparece desacompanhada de um ponto de interrogação. Nesse sentido, atente-se para a tabela a seguir para aprender como se faz a transposição de um discurso direto para um discurso indireto:
681
P ortug uê s
Discurso indireto livre Na modernidade literária, tem sido utilizado largamente um outro recurso de reprodução de discursos, que é resultado da conjunção dos dois processos descritos anteriormente. Trata-se do discurso indireto livre, que, em vez de revelar a própria voz da personagem (discurso direto), ou de informar objetivamente o leitor sobre o que ela teria dito (discurso indireto), aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressão de que passam a falar em conjunto. Veja a seguir um exemplo de Clarice Lispector, que muito utilizou desse recurso: “O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infeliz frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família.” Características do discurso indireto livre O discurso indireto livre no plano sintático aparece sem conjunção, no entanto, dentro do corpo discursivo do narrador. Assim, confunde-se a voz do narrador e a voz da personagem. Logo: n n n
O discurso indireto livre aparece liberto de qualquer conector subordinativo. Ao contrário do que aparece no discurso indireto, o indireto livre conserva as interrogações, as exclamações, as palavras e as frases da personagem. O discurso indireto livre também garante mais fluência ao texto.
Exercícios de Fixação
UMA
01. (Faculdade Baiana de Direito BA)
mais mete mane ex-
uma que ência
c) lembrar que existe uma lei que protege os que se encontram na faixa etária que abrange o período do nascimento até a maioridade, a fim de que, por meio das políticas sociais públicas, possam ter uma vida saudável e justa. d) conscientizar os pais e responsáveis por aqueles que, pela faixa etária se encontram sob seus cuidados a respeito do compromisso que têm em face da relevância desse proceder no contexto socioeconômico. e) explicar que a questão da cidadania é bem mais ampla do que se pode imaginar, indo muito além da mera participação política de votar e de ser votado. 02. (IFPE) O Grito
Disponível em: <http://www.cmdca-sl.org.br>. Acesso em: mar. 2017.
C05 T ipos de discurso
Essa peça publicitária informando à sociedade o que reza o Art. 7o do Estatuto da Criança e do Adolescente pretende a) viabilizar o engajamento dos cidadãos em campanhas que defendam os direitos básicos dos menores de idade. b) estimular os cuidados da população em geral com aqueles que ainda não gozam de autonomia para responder pelos próprios atos.
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(1) O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida. (2) Acredita-se que tenha sido algum alimento malconservado ingerido no dia anterior em Santos, no litoral paulista, ou a água contaminada das bicas e chafarizes que abasteciam as tropas de mula na serra do Mar. Testemunha dos
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
acontecimentos, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro barão de Pindamonhangaba, usou em suas memórias um eufemismo para descrever a situação do príncipe. Segundo ele, a intervalos regulares D. Pedro se via obrigado a apear do animal que o transportava para “prover-se” no denso matagal que cobria as margens da estrada. (3) A montaria usada por D. Pedro nem de longe lembrava o fogoso alazão que, meio século mais tarde, o pintor Pedro Américo colocaria no quadro “Independência ou Morte”, também chamado de “O Grito do Ipiranga”, a mais conhecida cena do acontecimento. O coronel Marcondes se refere ao animal como uma “baia gateada”. Outra testemunha, o padre mineiro Belchior Pinheiro de Oliveira, cita uma “bela besta baia”. Em outras palavras, uma mula sem nenhum charme, porém forte e confiável. Era esta a forma correta e segura de subir a serra do Mar naquela época de caminhos íngremes, enlameados e esburacados. (4) Foi, portanto, como um simples tropeiro, coberto pela lama e pela poeira do caminho, às voltas com as dificuldades naturais do corpo e de seu tempo, que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil. A cena real é bucólica e prosaica, mais brasileira e menos épica do que a retratada no quadro de Pedro Américo. E, ainda assim, importantíssima. Ela marca o início da história do Brasil como nação independente. GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado. 2. Ed. São Paulo: Globo, 2015. p. 27.
e) ambos são persuasivos, pois expõem fatos que podem ser reais ou ficcionais, a depender do poder de persuasão de seus autores. 03. (Unifor CE) A missão chinesa surpreendeu o mundo, que estava esperando uma investida tripulada somente em 2018, e provou que o país entrou para valer na corrida espacial do futuro. Não faltam projetos. Um deles, anunciado na semana passada, dá conta de uma estação espacial produzida 100% na China. O objetivo é “realizar experiências científicas de grande escala” e criar uma “sólida base para utilização pacífica do espaço e exploração de seus recursos”. Essa estação ajudará o país a avançar em projetos muito mais ambiciosos. Em 2017, por exemplo, a sua agência espacial lançará missão com robô para a lua. Se tudo correr bem, em 2020 serão os próprios taikonautas que pisarão o solo lunar. E o passo seguinte já está previsto: Marte, até 2040. Revista Isto É, 08/10/2008.
Considerando o texto acima, marque a opção que indica a função da linguagem predominante. a) Conativa b) Metalinguística c) Referencial d) Poética e) Fática 04. (Unifor CE) Vai namorar? O vinho é uma bebida amiga do amor. Num jantar a dois, seja num restaurante, seja em casa, é preciso fazer as escolhas certas, e a primeira ideia que vem à cabeça é o champanhe ou espumante. Perfeito! Mas existem outras sugestões também sedutoras. É só pensar um pouco: pratos pesados, como carnes vermelhas e molhos fortes, definitivamente não combinam com namoro. Ainda bem, pois assim estão descartados todos os vinhos encorpados e tânicos (aqueles que amarram a boca – já pensou que desastre?). Sendo assim, ficou bem mais fácil escolher o vinho.
SAMUCA. In: CAVALCANTI, M.C.C. Multimodalidade e Argumentação na Charge. 2008. 112 f. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco. p. 8.
A comparação entre o texto e a charge nos permite afirmar que a) o primeiro se utiliza de sequências injuntivas para explicar um fato histórico; o segundo vale-se do balão de fala para reproduzir a pergunta do personagem. b) o primeiro, por meio da descrição verbal, e o segundo, por meio da imagem caricatural, representam D. Pedro como um tropeiro. c) ambos relatam histórias reais, mas que se passaram em épocas diferentes. d) o primeiro apresenta relatos de testemunhas; o segundo elabora uma crítica social através de uma construção irônica.
Os tipos textuais se definem pelas escolhas lexicais, os aspectos sintáticos, o emprego de tempos verbais, pela sua natureza linguística intrínseca de sua composição, portanto. Levando em consideração as características do texto acima e o suporte em que ele foi veiculado, pode-se afirmar que a) trata-se de um texto descritivo, pois orienta um comportamento. b) o tipo textual predominante é o narrativo, dadas as ações de agentes no tempo e no espaço. c) o texto é dissertativo-argumentativo, pois o objetivo principal é convencer, persuadir. d) o texto é expositivo, pois apresenta conceitos e informações. e) trata-se de um texto injuntivo, pois está centrado no leitor e as formas verbais incitam à ação. 683
C05 T ipos de discurso
Suzamara Santos. Pequeno livro do vinho, guia para toda hora. Campinas, SP: Verus Editora, 2006, p. 74
rreia sadiais e viupa, ando orre quer estar ntes.
P ortug uê s
Exercícios C om p l em en t ares 01. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP)
Crédito Imobiliário Financie até 95% do seu imóvel. Você poderá comprar um imóvel novo ou usado e pagá-lo em até 35 anos. Faça uma simulação no site banco.barueri e conheça as condições especiais.
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Banco Barueri Fonte: Autor anônimo – Dados fictícios
A função da linguagem que predomina nesse texto publicitário é: a) Referencial b) Apelativa c) Poética d) Metalinguística e) Fática 02. (Ibmec SP) Leia o poema de Manuel Bandeira.
C05 T ipos de discurso
Evocação do Recife Recife Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais Não o Recife dos Mascates Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois – Recife das revoluções libertárias Mas o Recife sem história nem literatura Recife sem mais nada Recife da minha infância A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras mexericos namoros risadas A gente brincava no meio da rua (...)
684
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada (Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa, 1993. Adaptado)
Na organização do poema, além da função poética, sobressai também a a) apelativa, pois o eu lírico invoca a cidade de Recife, personificando- a, com a intenção de imputar a ela as causas das suas desgraças e das suas tristezas. b) fática, pois o eu lírico faz um movimento temático redundante, mais preocupado em manter-se em contato com o leitor do que em expressar seus sentimentos. c) referencial, pois o eu lírico afasta-se do campo da subjetividade e dá vez à descrição da realidade de sua infância, com seus sonhos, ansiedades e frustrações. d) emotiva, pois o eu lírico se põe a buscar Recife nas reminiscências de sua infância, externando com nostalgia sua relação com a cidade. e) metalinguística, pois o eu lírico pontua o movimento de criação artística, deixando claro ao leitor que se trata de um relato pessoal e afetivo da sua infância. 03. (UEMG) No início de 2015, um questionário com 36 perguntas e quatro minutos ininterruptos de contato visual ficou conhecido por causa de um artigo da escritora Mandy Len Catron, publicado no jornal norte-americano The New York Times. No texto, ela conta a história de como se apaixonou pelo marido com a ajuda de um método usado para criar intimidade romântica em laboratório, experimento criado há mais de 20 anos pelo professor de psicologia social Arthur Aron, da Universidade de Stony Brooks, nos Estados Unidos. Em nove dias, o texto foi lido por mais de 5 milhões de pessoas e compartilhado 270 mil vezes no Facebook (inclusive por Mark Zuckerberg). “Criamos esse questionário a fim de ter um método para ser usado em laboratório e estudar os efeitos da intimidade na vida social de uma pessoa. Esse método já foi utilizado em centenas de estudos”, disse Aron à reportagem. Quando foi criado, o estudo tinha regras bem rígidas: um homem e uma mulher heterossexuais entram em um laboratório por portas separadas. Eles se sentam frente a frente e respondem às perguntas, que têm um teor cada vez mais pessoal. Essa fase leva cerca de 45 minutos e, em seguida, é
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
preciso encarar o outro nos olhos durante quatro minutos, sem desviar o foco. Na experiência conduzida pelo professor Aron, dois participantes do teste se casaram depois de seis meses e chamaram os funcionários do laboratório para a cerimônia. LOUREIRO, G. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/03/querencontrar-o-amor-ciencia-e-tecnologia-podem-te-ajudar.html >. Acesso em: 10 out. 2016.
Assinale a alternativa em que o trecho em destaque tem a função de dar ênfase à informação apresentada no excerto: a) “Eles se sentam frente a frente e respondem às perguntas, que têm um teor cada vez mais pessoal.” b) “Em nove dias, o texto foi lido por mais de 5 milhões de pessoas e compartilhado 270 mil vezes no Facebook (inclusive por Mark Zuckerberg)”. c) “[...] um método usado para criar intimidade romântica em laboratório, experimento criado há mais de 20 anos pelo professor de psicologia social Arthur Aron”. d) “No início de 2015, um questionário com 36 perguntas e quatro minutos ininterruptos de contato visual ficou conhecido por causa de um artigo da escritora Mandy Len Catron”. Texto comum às questões 04 e 05
e) a consciência é derivada de simples mecanismos cerebrais, nos quais se incluem apenas relações internas entre neurônios, como fator relevante. 05. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa correta. a) A função expressiva evidencia-se como predominante no texto, marcada inclusive pelo uso reiterado da primeira pessoa. b) O texto está elaborado em torno da função referencial, uma vez que a transmissão objetiva de um conteúdo é o interesse principal do autor. c) Como todo texto científico, a exposição que se faz sobre o cérebro humano é estruturada em torno do uso predominante da função fática. d) O destaque que se dá, no texto, para o uso expressivo da língua e seus recursos conotativos permite evidenciar a função poética como predominante. e) A utilização de outros tipos de linguagem, além da verbal, permite que se reconheça no texto como predominante uma função argumentativa. 06. (UFU MG) Leia o texto a seguir.
Parece quase impossível existir algo tão complexo como o cérebro 02 humano. Um neurocientista dedica anos de estudo apenas para se 03 familiarizar com as principais regiões deste órgão, e não é para 04 menos – são bilhões de células e trilhões de conexões. Por trás da 05 fascinante estrutura neural, encontram-se funções bastante simples 06 em seu objetivo. O cérebro existe para que possamos perceber o 07 mundo e saber como reagir. É comum tratarmos a consciência como 08 uma atividade passiva, mas não é bem assim – consciência requer 09 metas, expectativas, capacidade de filtrar informações. 10 Se a mente lhe parece um espaço ativo, preenchido com mais 11 coisas do que costuma aparecer em uma massa de circuitos, então 12 você está certo ou certa. Você é a expressão física de uma história 13 de desenvolvimento social muito maior do que imaginou. Seu cérebro 14 é uma delicada entidade num constante frenesi de produção de 15 conhecimento. A riqueza de suas vias reflete a riqueza de nossa vida. 01
04. (Mackenzie SP) Depreende-se corretamente do texto que a) as funções cerebrais são extremamente complexas, o que torna improvável uma compreensão de seu funcionamento. b) as funções do cérebro relacionam-se a atividades que estão distantes de nossa percepção e compreensão do mundo. c) as relações sociais ao longo de nossas vidas têm pouca relevância para a organização e o funcionamento do cérebro. d) compreender o cérebro implica entender que seus elementos estruturais relacionam-se com fatores externos, que os afetam de alguma maneira.
Disponível em: <https://jalecovida.wordpress.com/2010/10/15/diamundial-de-lavar-as-maos-15-de-outubro>. Acesso em: 23 abr. 2017. (Adaptado).
Com base nas características do texto, responda: Qual a finalidade/função do texto? Espera-se que o candidato, considerando a distinção entre tipo e gênero textual, e com base nas características do texto, responda: finalidade de orientar/conscientizar/ alertar/informar/instruir/ensinar a forma como se deve lavar as mãos. 685
C05 T ipos de discurso
Adaptado de Como o cérebro funciona, de John McCrone
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C06
ASSUNTOS ABORDADOS n Argumentação n Argumentação por citação n Argumentação por comprovação n Argumentação por causa e consequência n Contra-argumentação
ARGUMENTAÇÃO A argumentação consiste, com o intuito de embasar determinado pensamento ou ideia, na capacidade de relacionar fatos, teses, estudos, opiniões, problemas e possíveis soluções. Um texto de caráter predominantemente argumentativo é escrito visando a um público leitor. O objetivo desse tipo de texto é o convencimento e a persuasão do leitor para seguir uma linha de raciocínio e concordar com ela. No caso da redação, por se tratar de um texto pequeno, no qual a concisão e a precisão são fundamentais, o leitor tem de ser levado direto à tese, à opinião do autor. Para isso, é necessário expor o tema a ser abordado logo no início do texto e, a partir dele, tomar uma posição, sempre de forma impessoal. O uso da primeira pessoa em texto da tipologia argumentativa pode comprometer o poder de convencimento dos argumentos utilizados. A argumentação não se constitui da investigação de fatos e evidências, com o intuito de, entre opiniões diversas, buscar a mais coerente. Também é interessante fazer uma comparação entre essas diversas opiniões e os vários ângulos de visão a respeito do assunto. Isso auxilia no processo de convencimento do leitor, pois não dará margens para contra-argumentos. No entanto, deve-se tomar muito cuidado para não se contradizer. Para isso, é necessário um bom domínio do assunto.
Argumentação por citação Sempre que queremos defender uma ideia, procuramos pessoas consagradas, que pensam como nós acerca do tema em evidência. Apresentamos, no corpo de nosso texto, a menção de uma informação extraída de outra fonte. Nesse caso, a citação pode ser apresentada assim: Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (Piaget, 1994, p.11). A essência da moral é o respeito às regras. A capacidade intelectual de compreender que a regra expressa uma racionalidade em si mesma equilibrada. O trecho citado deve estar de acordo com as ideias do texto, assim, tal estratégia poderá funcionar bem.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Argumentação por comprovação A sustentação da argumentação dar-se-á a partir das informações apresentadas (dados, estatísticas, percentuais) que a acompanham. Esse recurso é explorado quando o objetivo é contestar um ponto de vista equivocado. Nesse tipo de citação, o autor precisa de dados que demonstrem sua tese. Veja: O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o Mapa da Exclusão Educacional. O estudo do Inep, feito a partir de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da Educação, mostra o número de crianças de sete a catorze anos que estão fora das escolas em cada estado. Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 % da população nessa faixa etária (sete a catorze anos), para a qual o ensino é obrigatório, não frequentam as salas de aula. O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado, ou 92,8 mil, estão fora da escola. O melhor, o Distrito Federal, com apenas 2,3% (7 200) de crianças excluídas, seguido por Rio Grande do Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7 mil). (Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)
Argumentação por causa e consequência A criação de relações de causa e consequência é um recurso utilizado para demonstrar que uma conclusão (afirmada no texto) é necessária, e não fruto de uma interpretação pessoal que pode ser contestada. Para a construção de um bom texto argumentativo, faz-se necessário o conhecimento sobre a questão proposta e sua fundamentação para que seja realizado com sucesso. Veja: O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia. VARELLA, Drauzio. In: Folha de S. Paulo, 20 de maio de 2000.
Contra-argumentação A contra-argumentação é um recurso utilizado para rebater ou refutar as proposições produzidas pela argumentação. Em outras palavras, ela apresenta uma opinião contrária à argumentação textual. Trata-se de uma parte fundamental na produção de textos opinativos, sobretudo, dos textos dissertativos argumentativos. Ao contrário da argumentação, utilizada para expressar o ponto de vista do escritor e conferir maior propriedade nos textos, a contra-argumentação apresenta ideias opostas à argumentação.
C06 Argumentação
A contra-argumentação nada mais é do que contestar e derrubar o argumento opositor. É uma espécie de “feitiço que virou contra o feiticeiro”. É o uso de um argumento opositor em favor da tese do autor. É evidente que, para usá-lo, você precisa ter a mente mais aberta e se imaginar em posição contrária ao da sua, pois você precisa refutar os argumentos contrários aos da sua opinião.
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bem. sexo mais o es, um neamanama muito
P ortug uê s
Exercícios de Fixação 01. (UEMG) Imagine alguém contando essa historinha: “Depois de receber uma premagem, o ludâmbulo desligou o lucivelo, colocou o focale, chamou o cinesíforo e foi ao local da runimol de que teve notícia por um amigo alvissareiro”. Assim seria contada essa historinha se se tivesse adotado a proposta de Antônio Castro Lopes, filólogo que viveu de 1827 a 1901. Os neologismos que ele propôs, como ludâmbulo, focalo e cinesíforo não pegaram. Então podemos contar hoje a mesma historinha assim: “Depois de receber uma massagem, o turista desligou o abajur, colocou o cachecol, chamou o motorista e foi ao local da avalanche de que teve notícia por um amigo repórter”. Acho muito estranho nessas palavras a proposta de usar “alvissareiro” em vez de repórter. Alvíssaras é uma palavra sempre relacionada a boas notícias, o que não é bem o caso da maioria do que ouvimos ou lemos dos repórteres. BENEDITO, M. Disponível em: <https://blogdaboitempo.com.br/2016/03/11/ chato-cricri-ezung- zung/>. Acesso em: 03 out. 2016. (Adaptado).
No fragmento, o autor questiona o emprego do termo “alvissareiro” por considerá-lo a) distante da realidade linguística do português brasileiro. b) impróprio para designar o dia a dia do trabalho de repórter. c) estranho para ser utilizado como sinônimo de “más notícias”. d) inadequado diante do teor negativo atribuído a notícias jornalísticas.
desculpa – em geral, acusando uma outra pessoa – para não montar no cavalo. Fará gestos e pose de corajoso, mas, na verdade, é exatamente o contrário. Buscará tantas certezas prévias de que não irá cair do cavalo que, caso chegue a tê-las, o cavalo já terá ido embora há muito tempo. O forte é o que parece ser o fraco: é quieto, discreto, não grita e é o ousado. Faz o que ninguém esperava que ele fizesse. GIKOVATE, F. Disponível em: <http://flaviogikovate.com.br/uma-pessoaverdadeiramenteforte/# more-540>. Acesso em: 01 out. 2016.
A relação entre a tese do texto e os argumentos apresentados pelo autor para sustentar seu ponto de vista é caracterizada pela a) contraposição entre os significados de força e fraqueza. b) valorização do fracasso e das frustrações da vida. c) distinção entre a ousadia e o medo da novidade. d) depreciação de indivíduos considerados fortes. 03. (UEMG)
02. (UEMG) Uma pessoa verdadeiramente forte
C06 A rg um entação
A gente costuma ouvir que uma pessoa é forte, que tem gênio forte, quando ela reage com grande violência em situações que a desagradam. Ou seja, a pessoa de temperamento forte só está bem e calma quando tudo acontece exatamente de acordo com a vontade dela. Nos outros casos, sua reação é explosiva e o estouro costuma provocar o medo nas pessoas que a cercam. As pessoas que não toleram frustrações, dores e contrariedades são as fracas e não as fortes. Fazem muito barulho, gritam, fazem escândalos e ameaçam bater. São barulhentas e não fortes. O forte é aquele que ousa e se aventura em situações novas, porque tem a convicção íntima de que, se fracassar, terá forças interiores para se recuperar. Ninguém pode ter certeza de que seu empreendimento – sentimental, profissional, social – será bem-sucedido. Temos medo da novidade justamente por causa disso. O fraco não ousará, pois a simples ideia do fracasso já lhe provoca uma dor insuportável. O forte ousará porque tem a sensação íntima de que é capaz de aguentar o revés. O forte é aquele que monta no cavalo porque sabe que, se cair, terá forças para se levantar. O fraco encontrará uma
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Disponível em :<http://www.comunicaquemuda.com.br/culpa-nao-e-delas/>. Acesso em: 25 set. 2016.
A leitura do infográfico indica que a) o Nordeste é a região com maior índice de violência contra a mulher. b) o medo da violência contra a mulher é maior nos municípios com até 50 mil habitantes. c) quanto maior o nível de escolaridade, menor a tendência de culpar a mulher pelo estupro. d) entre brasileiros do sexo masculino, a percepção da violência contra a mulher é mais acentuada.
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Exercícios C om p l em en t ares
Livro e futebol O leitor a quem se dirige esse livro não é evidente: em geral, quem vive o futebol não está interessado em ler sobre ele mais do que a notícia de jornal ou revista, e quem se dedica a ler livros e especulações poucas vezes conhece o futebol por dentro. Pierre Bourdieu observa, por exemplo, que a sociologia esportiva é desdenhada pelos sociólogos e menosprezada pelos envolvidos com o esporte. A observação pode valer também para ensaios como este aqui, embora ele não seja do gênero sociológico. No limite, a onipresença do jogo de bola soa abusiva e irrelevante para quem acompanha a discussão cultural. Assim, mais do que um desconhecimento recíproco entre as partes, pode-se falar, de fato, de uma dupla resistência. Viver o futebol dispensa pensá-lo, e, em grande parte, é essa dispensa que se procura nele. Os pensadores, por sua vez, à esquerda ou à direita, na meia ou no centro, têm muitas vezes uma reserva contra os componentes anti-intelectuais e massivos do futebol, e temem ou se recusam a endossá-los, por um lado, e a se misturar com eles, por outro. Tudo isso, por si só, já daria um belo assunto: o futebol como o nó cego em que a cultura e a sociedade se expõem no seu ponto ao mesmo tempo mais visível e invisível. E esse não deixa de ser o tema deste livro, que talvez possa interessar a quem esteja disposto a lê-lo independentemente de conhecer o futebol ou de ser ou não “intelectual”. Não é incomum, também, que intelectuais vivam intensamente o futebol, sem pensá-lo, e que resistam, ao mesmo tempo, a admiti-lo na ordem do pensamento. Nesse caso, aqueles dois personagens a que nos referimos no começo podem se encontrar numa pessoa só. [...] (José Miguel Wisnik. Veneno Remédio: o Futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.)
01. (UFPR) O autor inicia o texto dizendo que o leitor de seu livro não é evidente, porque o tema por ele tratado, o futebol, é abordado de maneira incomum. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas: 1. Os apaixonados pelo futebol anseiam há muito por uma abordagem sociológica do esporte. 2. Pensar o futebol do ponto de vista intelectual é algo muito comum num país em que esse esporte é o mais apreciado, e é esse tratamento que predomina hoje em jornais e revistas. 3. O livro aborda o futebol do ponto de vista cultural, intelectual, distanciando-se do tratamento do senso comum que impera em jornais e revistas.
4. Viver e pensar o futebol são coisas diferentes e independentes, mas é possível uma abordagem intelectual que agrade os dois tipos de espectador. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 02. (UFPR) “Nesse caso, aqueles dois personagens a que nos referimos no começo podem se encontrar numa pessoa só”. Com isso, o autor reconhece que 1. é desejável pensar o esporte por outro viés que não seja aquele permeado por admiração e paixão. 2. admitir o futebol na ordem do pensamento significa fazer do torcedor apaixonado uma pessoa capaz de refletir sobre seus pontos positivos e negativos. 3. há intelectuais que, mesmo não admitindo que possam haver abordagens intelectualizadas do futebol, são torcedores fervorosos. 4. o torcedor apaixonado é aquele que prefere pensar o futebol na sua expressão cultural e, portanto, é o que congrega as características de leitor preferencial do livro. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. Texto comum às questões 03, 04 e 05 A produção em série, em escala gigantesca, impõe 2 em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. 3 Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais 4 devastadora que qualquer ditadura do partido único: 5 impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz 6 os seres humanos como fotocópias do consumidor 7 exemplar. 8 O sistema fala em nome de todos, dirige a todos 9 suas ordens imperiosas de consumo, difunde, entre todos 10 a febre compradora. A maioria, que se endivida para ter 11 coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar 12 dívidas, as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir 13 fantasias que, por vezes, materializa delinquindo. 14 Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as 15 galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são 16 submetidas à luz contínua, para que cresçam mais 17 depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também 18 estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão 19 condenadas à insônia, pela ansiedade de com1
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Texto comum às questões 01 e 02
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prar e pela 20 angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom 21 para as pessoas, mas é muito bom para a indústria 22 farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos 23 sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que 24 se vendem legalmente no mundo, e mais da metade 25 das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que 26 não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm 27 apenas cinco por cento da população mundial. 28 Invisível violência do mercado: a diversidade é 29 inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. O 30 consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, 31 que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a 32 gordura com a boa alimentação. O país que inventou as 33 comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat 34 free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O 35 consumidor exemplar só sai do automóvel para trabalhar 36 e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, 37 passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico. 38 As massas consumidoras recebem ordens num 39 idioma universal: a publicidade conseguiu o que o 40 esperanto quis e não pôde. Tempo livre, tempo prisioneiro: 41 as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor 42 e o televisor tem a palavra. Comprado a prazo, esse 43 animalejo prova a vocação democrática do progresso: 44 não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos 45 conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último 46 modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas 47 taxas de juros que este ou aquele banco oferece. 48 Os peritos sabem converter as mercadorias em 49 conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm 50 atributos humanos: acariciam, acompanham, 51 compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel 52 é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da 53 solidão o mais lucrativo dos mercados. A publicidade 54 não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes 55 o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial 56 consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. 57 Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, 58 mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de 59 sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão 60 parecido que a diferença é assunto para especialistas. 61 O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas 62 as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As 63 multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior 64 das massas do consumo. A maioria dos devotos 65 contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos 66 não podem pagar, enquanto a minoria compradora 67 submete-se ao bombardeio da oferta incessante e 68 extenuante. 69 A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena 70 tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo 71 vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade 72 de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, 73 para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. 74 Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos do fugaz, 75 oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. 76 Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, 77 sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do 78 espaço, para além das turbulências da perigosa 79 realidade do mundo. 80 A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um 81 defeito a 690
superar: é uma necessidade essencial. Não há 82 natureza capaz de alimentar um shopping center do 83 tamanho do planeta. GALEANO, Eduardo. O império do consumo. Disponível em: <http:// www.cartacapital.com.br/economia/o-imperio-do-consumo>. Acesso em: 20 out. 2016 (passim).
03. (UEFS BA) No seu conjunto, o texto constitui 01. uma descrição objetiva e imparcial das características do mundo atual, que ressalta, igualmente, aspectos positivos e negativos da sociedade de consumo. 02. uma dissertação sobre as mazelas da atualidade, com destaque para as características da sociedade de consumo e seus efeitos danosos sobre as pessoas. 03. uma sequência narrativa que comprova a importância do consumo na superação das frustrações e carências decorrentes da solidão das pessoas no mundo atual. 04. um artigo em que o autor apresenta argumentos relativos à sua discordância dirigidas ao progresso e suas consequências para o futuro da humanidade. 05. um depoimento sobre uma possível e necessária superação completa da injustiça social pela universalização do direito ao consumo e a uma vida digna. 04. (UEFS BA) Observe o trecho: “Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas.” (Ref. 14-15). “Flores”, “galinhas” e “pessoas” estão agrupadas nessa afirmação porque são 01. exemplos de beneficiários da sociedade de consumo. 02. organismos vivos, todos sujeitos à efemeridade da vida. 03. seres isentos de vontade própria e de capacidade de reagir. 04. categorias que representam formas diferenciadas de consumo. 05. entes igualmente vulneráveis ao estresse inerente ao mundo do consumo. 05. (UEFS BA) “A injustiça social não é um erro a corrigir” (Ref. 80). Com essa afirmativa, o autor introduz uma conclusão que está corretamente explicitada em 01. A sociedade de consumo depende da existência de diferenças sociais; portanto a injustiça social é condição necessária e inerente à sua existência. 02. A sociedade de consumo corrige a injustiça social; nela, todos têm o direito de escolher livremente os bens de consumo que desejarem possuir. 03. A injustiça social constitui uma falácia, já que os recursos disponíveis no planeta são suficientes e podem ser equitativamente distribuídos. 04. Justiça ou injustiça social constituem contradições passíveis de superação a partir do avanço tecnológico possibilitado pela sociedade de consumo. 05. Injustiça social é uma expressão abstrata, que não abarca os problemas mais graves decorrentes do rápido avanço da sociedade de consumo.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C07
FATORES DE TEXTUALIDADE O texto é uma unidade de linguagem em uso. Trata-se de um veículo de interação que transmite um pensamento, uma informação, que se realiza por meio de um discurso verbal (oral ou escrito) e não verbal (gestos, sinais, imagens, sons). Nesse sentido, um texto deve atender às seguintes propriedades básicas: n n n
Função sociocomunicativa: as intenções do autor do texto e o contexto sociocultural de produção; Coerência: o fato de constituir-se como uma unidade semântica, em que o texto seja um todo significativo; Unidade formal: as palavras que se integram para formar um todo coeso.
ASSUNTOS ABORDADOS n Fatores de textualidade n Quadro-resumo n Definições sumárias n Intencionalidade e aceitabilidade n Situacionalidade e informatividade
Os fatores que constituem a textualidade são: coerência, coesão, intertextualidade, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e contexto. Os três primeiros fatores nós tivemos a oportunidade de estudar a fundo no livro anterior, de maneira que, nesta aula, focaremos nossa atenção para os fatores textuais restantes.
Quadro-resumo Coerência
Responsável pela unidade semântica, pelo sentido do texto, envolvendo não só aspectos lógicos, mas também cognitivos.
Coesão
Unidade estrutural do texto, que se dá por mecanismos gramaticais e lexicais.
Intencionalidade
Empenho do autor em construir um texto que atinja o objetivo que ele tem em mente. Isso diz respeito ao valor elocutório, ou seja, o que o texto pretende falar.
Aceitabilidade
É a expectativa do leitor de que o texto seja útil e relevante. O texto deve responder às necessidades do leitor e ter autenticidade.
Situacionalidade
Diz respeito à pertinência e à relevância do texto no contexto. Situar o texto é adequá-lo à situação sociocomunicativa.
Informatividade
Quanto menos previsível apresentar-se o texto, mais informatividade ele contém. Um bom índice de informatividade atende à suficiência de dados.
Intertextualidade
Concerne aos fatores que ligam a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s). Um texto constrói-se em cima do “já-dito”.
Contexto
Inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação.
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Definições sumárias Texto O texto é uma unidade linguística que se estrutura por meio de signos (palavras) de maneira coerente e coesa. As partes de um texto devem se relacionar e manifestar um posicionamento unidirecional. Um fragmento de palavras, por exemplo, que trata de várias temáticas, não pode ser chamado de texto. Isso implicaria a falta de coerência, as contradições de ideias. Se o que compõe a frase não estiver coeso para que se passe de uma ideia a outra, não será possível concluir o texto. O autor de cada texto precisa ter tais noções, para que imprima qualidade ao que escreve, para que consiga interagir com o leitor, para que cumpra a competência do escritor. A formação de um texto exige habilidades que vão desde a compreensão dos códigos, do conhecimento da gramática da língua, até da combinação dos valores simbólicos e de signos do mundo das palavras. Essa confluência de habilidades permite a existência de um bom texto. Contexto O contexto representa o conjunto de informações que acompanha o texto. A compreensão do contexto influencia diretamente na qualidade final da produção do texto. Não basta apenas reconhecer e decodificar as informações dentro do texto. É preciso interpretar em qual contexto ele se enquadra, em que realidade e cenário ele foi produzido. O contexto se compõe por dois níveis de estudo: os enunciados (em nível de superfície) e a semântica, os efeitos de sentido (em nível de profundidade). O leitor aprofunda a compreensão a partir de cada oração e, assim, busca compreender a visão de mundo que domina o indivíduo que redigiu tal texto. Cada escritor vale-se de uma bagagem histórica, geográfica, sociológica e literária específicas, antes de gerar suas próprias palavras e de compreender o mundo por meio de um texto.
Intencionalidade e aceitabilidade A intencionalidade do autor é tudo aquilo que ele quer expressar a partir do texto. Para que o autor possa passar sua intenção sobre o texto, é necessário ter domínio sobre o conteúdo do texto e do contexto. Já o papel do leitor relaciona-se a um conhecimento prévio para avaliação correta do texto. Dessa forma, fica a critério do receptor aceitar ou não a intenção real do autor. De acordo com a linguista Ingedore Villaça Koch, a aceitabilidade é uma contraparte da intencionalidade, pois ela nos deixa claro que, para que haja a aceitação, é necessário que o autor, o texto e o leitor, estejam em constante interação. Leia a seguir esta anedota: Fonte: Wikimedia commons
Um mendigo se aproxima de uma senhora cheia de sacolas de compras, que acaba de sair de um shopping center, e diz: — Senhora, estou sem comer faz quatro dias… — Meu Deus! Gostaria de ter sua força de vontade!
C07 F atores de textualidade
Nessa pequena anedota, nós podemos ver que o papel sociocomunicativo do texto não foi cumprido, uma vez que a intenção de fala do mendigo não foi aceita, como deveria, pela senhora. A intenção do mendigo ao dizer que está sem comer há quatro dias diz respeito à miséria em que vive e às péssimas condições de vida. Ele está sem se alimentar contra a própria vontade, certamente por não ter dinheiro ou meios de arranjar comida. No entanto, a senhora da anedota está completamente alienada dessa situação e a maneira como ela aceita o texto desse mendigo é totalmente diferente da intenção que ele expressa. A madame relaciona o fato de ficar sem comer a dietas de emagrecimento. Por isso, ela se encanta com a suposta força de vontade do mendigo. 692
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Situacionalidade e informatividade Informatividade diz respeito às informações veiculadas a partir dos textos escritos ou visuais. O grau de informatividade de um texto é medido de acordo com o conhecimento de mundo das pessoas a que ele se destina. O que significa que um texto possui um alto grau de informatividade quando a compreensão mais ampla desse texto depender do repertório sociocultural do leitor? Um texto é mais informativo quanto menor for sua previsibilidade, e vice-versa. Para que haja sucesso na interação verbal, é preciso que a informatividade do texto seja adequada ao interlocutor. Uma grande parcela dos textos de circulação nacional veiculados pela mídia possui um grau médio de informatividade. Dessa maneira, eles conseguem prender a atenção do leitor e, ao mesmo tempo, acrescentar-lhe novas informações. Assim, para que se construa um texto dissertativo que contenha informações relevantes ao leitor, é preciso pesquisar e confrontar diversas fontes sobre a mesma temática, a fim de que o texto apresente argumentos suficientes para levar o leitor a compreender seu raciocínio lógico. Exercícios de Fixação
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Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ornadas, Do que anda só o engenho mais profundo.
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Não é fácil viver entre os insanos, Erra quem presumir que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos.
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O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo mar de enganos Ser louco cos demais, que ser sisudo.
Gregório de Matos. Crônica do viver baiano seiscentista – obra poética completa – códice James Amado. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Record, V. 1 1999, p. 347.
Considerando o texto acima, de Gregório de Matos, julgue os itens seguintes. E – E – C – E – E – E – E – C – C ( ) A oração “seguir o imundo/Caminho” (v.5-6) é aposto da expressão “O remédio” e evoca, no nível semântico e interpretativo, a cura das dores de que o poeta se queixa. ( ) No verso 10, verifica-se ordem indireta, visto que o sujeito da oração – “quem” – está posposto ao verbo – “Erra”. ( ) No verso 11, a inversão de termos tem como efeito, entre outros, a descontinuidade do sintagma cujo núcleo é o vocábulo “atalho”.
( ) Na oração “que ser sisudo” (v.14), observa-se elipse da forma comparativa sintética do adjetivo bom, a qual está expressa no verso anterior. ( ) Os termos “passadas” (v.2) e “pisadas” (v.6) foram empregados metaforicamente, com perda dos traços semânticos de evento, os quais estão presentes nos correlatos verbais. ( ) Há elementos que permitem interpretar que, no poema, é proposta a valorização da prudência diante da insânia do mundo. ( ) O termo “Carregado de mim” (v.1), que exerce função adverbial, indica o modo como o eu lírico anda no mundo. ( ) No poema apresentado, a sensibilidade barroca é caracterizada por um jogo de antíteses, fortemente marcado na oposição entre as imagens das “bestas” (v.7) e do “engenho” (v.8). ( ) O tema do “desconcerto do mundo”, tão caro à estética clássica, está representado no texto; no entanto, diferentemente da postura renascentista, Gregório de Matos, em seu poema, ironiza a solução para o mundo desventurado. Texto comum às questões 02 e 03 Razão contra Sandice Já o leitor compreendeu que era a Razão que voltava 2 à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e com melhor 3 jus, as palavras de Tartufo: 4 — La maison est à moi, c’est à vous d’en sortir. 5 Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas 6 alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificilmente lha 7 farão despejar. É sestro; não se tira daí; há muito que lhe 8 calejou 1
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01. (UnB DF) Queixa-se o poeta em que o mundo vay errado, e querendo emendâlo o que tem por empreza difficultosa.
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a vergonha. Agora, se advertirmos no imenso número 9 de casas que ocupa, umas de vez, outras durante as suas 10 estações calmosas, concluiremos que está amável peregrina e 11 o terror dos proprietários. No nosso caso, houve quase um 12 distúrbio à porta do meu cérebro, porque a adventícia não 13 queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar 14 o que era seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um 15 cantinho no sótão. 16 — Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de 17 lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é 18 passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e 19 ao resto. 20 — Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou 21 na pista de um mistério… 22 — Que mistério? 23 — De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da 24 morte; peço-lhe só uns dez minutos. 25 A Razão pôs a rir. 26 — Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a 27 mesma coisa... sempre a mesma coisa. 28 E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para 29 fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu 30 algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se 31 depressa, deitou a língua de fora, em ar de surriada, e foi 32 andando… Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001, p.84-5.
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Tendo como base o texto acima, de Machado de Assis, e as questões por ele suscitadas, julgue os itens ou faça o que se pede se o item for do tipo C. 02. (UnB DF) E – E – E – C – C – C – C – C – C – C ( ) A estrutura frasal do enunciado “Já o leitor compreendeu” (Ref.1) permite que o conteúdo seja interpretado como um pedido de informação que o narrador-autor dirige ao interlocutor, no sentido de chamar a atenção para fatos anteriores e, então, continuar o relato. ( ) Em “voltava à casa” (Refs.1-2) e em “criar amor às casas alheias” (Ref.5-6), o acento indicativo da crase é facultativo, por se tratar de estruturas em que o substantivo “casa” tem relação com o “possuidor”, que está expresso sintaticamente. ( ) Considerando-se a estrutura sintática do trecho “e convidava a Sandice a sair, clamando, e com melhor jus, as palavras de Tartufo” (Refs.2-3), verifica-se que a Razão empreendeu grande esforço para convencer a Sandice a deixar a casa repetindo as palavras de Tartufo. ( ) No trecho “De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da morte” (Refs.23-24), está implícito o substantivo mistérios, que é o elemento de referência do aposto. ( ) No processo de coesão textual, as expressões “esta amável peregrina” (Ref.10) e “a adventícia” (Ref.12) retomam o vocábulo “Sandice” (Refs.2 e 5). ( ) A citação do personagem Tartufo, sem tradução, soava natural na cultura brasileira, ao longo do século XIX e na
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Primeira República, visto que a França era o modelo a ser seguido, como se verifica, por exemplo, no governo Rodrigues Alves, quando se realizou a modernização urbanística do Rio de Janeiro, claramente inspirada em Paris. ) No período que se inicia na referência 11, verifica-se uma relação de causa e efeito. ) As formas verbais conotativas “gemeu” (Ref.29) e “grunhiu” (Ref.30) remetem a particularidades de processos de emissão de voz. ) No trecho “dificilmente lha farão despejar” (Refs.6-7), a flexão do verbo em terceira pessoa do plural é recurso empregado para indeterminar o sujeito da oração. ) A oração “criar amor às casas alheias” (Refs.5-6) exerce função de sujeito da oração que a antecede, o que implica dizer que “sestro antigo da Sandice” (R.5) é predicativo desse sujeito.
03. (UnB DF) Com base no capítulo apresentado da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e em relação às características da produção literária brasileira do século XIX, assinale a opção correta. a) A disputa alegórica entre a Razão e a Sandice representa um dos motivos temáticos do estilo machadiano, em que se evidencia a preferência pelos sãos, em detrimento dos loucos. b) A ironia, presente no fragmento apresentado, revela a preocupação do narrador-personagem em, entre a Razão e a Sandice, sobrevalorizar a Razão, o que constitui uma característica tipicamente machadiana. c) A escrita alegórica, característica típica do Realismo, evidencia a crítica social, muito presente nos textos de Machado de Assis. d) A escrita irônica de Machado de Assis, expressa, no fragmento apresentado, pela alegoria Razão e Sandice, revela a postura crítica do narrador-personagem, que convoca o leitor a se inteirar do destino da Sandice. 04. (UnB DF) A população brasileira deverá corresponder, em 2030, a cerca de 206,8 milhões de habitantes, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A projeção foi feita com base nos resultados de fecundidade apresentados pela Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios. Em 2009, a pesquisa apontou para a manutenção do valor da taxa de fecundidade total nos níveis observados em 2007 e 2008, que estavam bem abaixo dos de reposição: 1,8 filho por mulher. Espera-se, portanto, para 2040, de acordo com o IPEA, um contingente menor que o de 2030: 204,7 milhões de habitantes. Internet: <www.g1.globo.com> (com adaptações).
Considerando as informações acima, faça o que se pede no item a seguir, que e do tipo D. Redija um texto, na modalidade padrão da língua portuguesa, abordando fatores que justifiquem a previsão de diminuição do ritmo de crescimento da população brasileira, conforme mencionado no texto acima.
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Exercícios C om p l em en t ares
Kugler. A economia do ouro azul. In: Ciência Hoje, set./2014 (com adaptações).
Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens subsequentes. E-C-C ( ) Na obra Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre defende a tese de que o Brasil é muito mais europeu que africano e classifica a miscigenação como entrave ao pleno desenvolvimento do país. ( ) Supondo que o trecho apresentado seja o primeiro parágrafo de um texto, verifica-se o emprego do verbo na 3.ª pessoa do plural — “Dizem” (Ref.1) — como recurso de indeterminação do sujeito da oração. Assim, se a estrutura fosse alterada para Diz-se, o sujeito passaria a ser explícito, mas permaneceria indeterminado o agente da ação expressa por esse verbo. ( ) Com correção gramatical e sem contrariar a informação expressa no texto, os dois primeiros períodos poderiam ser reescritos da seguinte forma: A afirmação de que o Brasil é uma potência agrícola, embora seja verdadeira, deve ser analisada com cautela. Texto comum às questões 02 e 03 O teatro é base de toda educação criativa. Dele fluem todas as artes. O homem primitivo expressou-se, antes, dramaticamente: dançava mimeticamente, criando os sons. Depois, necessitou da arte, para pintar-se, ou cobrir-se com peles de animais, ou magicamente representar suas ações nas paredes das cavernas; e a música foi essencial para dar ritmo e tempo à sua dança dramática. A criança “inventa” e, em seu “faz de conta”, necessita de música, dança, artes plásticas e habilidades manuais. A expressão dramática provê as outras artes de um significado e um objetivo para a criança. A criatividade espontânea fundamenta-se na experiência dos sentidos e, ao enfocá-la quer psicodramaticamente, quer cineticamente, verificamos que a espontaneidade tem sua base na imaginação dramática. Courtney. Jogo, teatro e pensamento – As bases intelectuais do teatro na educação. São Paulo: Perspectiva, 1980, p. 56-7 (com adaptações).
Tendo como referência as ideias desenvolvidas no texto acima, julgue os itens ou faça o que se pede se o item for do tipo C. 02. (UnB DF) E-E-C-C-C ( ) Infere-se do texto que o teatro é base da educação formal e que, a partir dele, aglomeram-se outros tipos de conhecimento, como o da ciência, o da tecnologia e o da religião, que fundamentam a educação criativa. ( ) Com base no texto, conclui-se que a criança, por ter o dom de inventar, cria narrativas fundamentando-se na lógica cartesiana e, portanto, prescinde da arte em seu faz de conta dramático. ( ) A espontaneidade própria da ação criativa, cuja base é a imaginação dramática, ampara-se na experiência dos sentidos enfocada cinética ou psicodramaticamente. ( ) Desde o início da comunicação humana, o teatro incorporou outras formas artísticas, que se tornaram essenciais para as representações dramáticas. ( ) A música, que exerce o papel principal em um concerto, pode desempenhar papel secundário em encenações teatrais, filmes, rituais ou atividades terapêuticas. 03. (UnB DF) A partir das ideias do texto, assinale a opção correta. a) O homem, desde sua gênese, dançava ao som de vários ritmos, como maracatu, congada e carnaval, tradições culturais que chegaram aos dias de hoje e se tornaram símbolos da cultura do homem contemporâneo. b) Na tentativa de adornar-se para atuar em festas populares, o homem primitivo cobria-se com peles de animais, estimulado pelas representações dramáticas de animais nas paredes das cavernas. c) Do teatro, base de processos educativos pautados na criatividade, fazem parte outras formas artísticas, como dança, artes visuais, música e habilidades manuais. d) Segundo o texto, das artes plásticas flui a expressão dramática, na medida em que delas derivam formas expressivas de representação cênica. Texto comum às questões 04 e 05 Conto de escola A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia ― uma segunda-feira, do mês de maio ―, deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant’Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o
695
C07 F atores de textualidade
01. (UnB DF) 1 Dizem que o Brasil é uma potência agrícola — e 2 isso é verdade. Mas cuidado com esse discurso. Por mais 3 irônico que pareça, o país considerado “celeiro do mundo” 4 apresenta notável deficiência no uso inteligente de um precioso 5 recurso natural: a água. É certo que temas ambientais raramente 6 suscitam consensos. Nesse caso, entretanto, parece imperar 7 desconfortável unanimidade entre os especialistas. 8 “A necessidade de usarmos com mais racionalidade os recursos 9 hídricos na agricultura é uma constatação de todos os 10 pesquisadores que trabalham diretamente com o assunto”, 11 garante um engenheiro agrônomo da Empresa Brasileira de 12 Pesquisa Agropecuária.
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problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. [...] Raimundo recuou a mão dele e deu à boca um gesto amarelo, que queria sorrir. Em seguida, propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe. Não conseguira reter nada do livro, e estava com medo do pai. E concluía a proposta esfregando a pratinha nos joelhos… Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma ideia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada. Machado de Assis. Conto de escola. Internet:<www.dominiopublico.org>.
Tendo como referência o fragmento acima, da obra Conto de escola, de Machado de Assis, julgue os itens ou faça o que se pede se o item for do tipo C. 04. (UnB DF) ( ) Na cidade do Rio de Janeiro, geralmente, os morros são considerados áreas de risco de acidentes naturais, por estarem sujeitos a escorregamentos e deslizamentos de solo e de rochas no período chuvoso. ( ) No fragmento apresentado, é relatada uma situação que corresponde a um processo de incorporação de um valor social que gera conflito no narrador-personagem. Esse valor social é a liberdade de troca entre indivíduos. ( ) No 3.º período do texto, para apresentar detalhe relativo ao tempo da narrativa, Machado de Assis utiliza estrutura sintática de aposto explicativo, que corresponde ao trecho entre travessões.
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C-C-C
05. (UnB DF) A data mencionada no conto, 1840, é a mesma de importante acontecimento na história política do Brasil: o Golpe da Maioridade. Relativamente ao cenário político nacional nas primeiras décadas após a Independência do Brasil, assinale a opção correta. a) A antecipação da maioridade de D. Pedro II atendia aos apelos dos grupos dirigentes do Império, marginalizados pelo centralismo do período regencial. b) A estabilidade política do Primeiro Reinado deveu-se a ação conciliadora de D. Pedro I, facilitada pelo clima de concórdia e paz que prevalecia nessa época. c) O ato Adicional de 1834, que alterou a Constituição promulgada dez anos antes, fortaleceu a Corte diante das províncias. d) A Lei de Interpretação do Ato Adicional foi o suporte jurídico para o advento do Segundo Reinado, período marcado pelo que se denomina parlamentarismo às avessas. 696
06. (UnB DF)
Manuelzinho Salustiano. Estandartes de Maracatu. 1
O maracatu era preconceituosamente chamado “coisa 2 de
negro”. Hoje, virou inspiração de compositores brasileiros, 3 de compositores do mundo todo, de bandas de rock, de artistas 4 plásticos e de escritores. É tema de tese de mestrado e de doutorado. Chega-se a falar em diáspora do maracatu, já que 6 existem
5
tantos grupos imitando o maracatu pelo mundo todo. 7
Eu acredito que essa migração do maracatu deve-se a 8 muitos
fatores: à difusão através da imprensa, às políticas 9 públicas, aos artistas famosos e também à disposição dos 10 próprios grupos de sair em busca de novos espaços. No entanto, a gente não pode confundir maracatu com
12
grupo de percussão. Maracatu é um complexo cultural que
13
envolve religião, envolve comunidades, envolve séculos de
14
11
tradição. É preciso distinguir o maracatu tradicional dos grupos 15
de percussão. Depoimento de Climério de Oliveira (com adaptações).
C-E-E-E-C
Considerando o texto e a imagem acima, julgue os itens a seguir. ( ) Para sintetizar informações mencionadas no 1.º e 2.º parágrafos, o autor do depoimento emprega, no início do 3.º parágrafo, a expressão “essa migração do maracatu” (ref.7), mecanismo coesivo que possibilita inferir que o sentido de “diáspora” (ref.5) está associado a dispersão, disseminação. ( ) A ostentação de estandartes ricamente elaborados, como mostra a imagem acima, compõe os cortejos do maracatu, nos quais a tradição não é fator essencial. ( ) Originário do Rio de Janeiro, o maracatu é considerado a base das escolas de samba, que hoje protagonizam os desfiles de carnaval do Rio de Janeiro. ( ) A alfaia, uma das figuras humanas da encenação do maracatu, simboliza as rainhas africanas. ( ) Um dos elementos sagrados do maracatu é a calunga, boneca conduzida durante o cortejo.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C08
PARALELISMOS Paralelismo, de modo geral, é a característica ou condição do que é paralelo. Iniciemos, portanto, a aula de hoje com a seguinte reflexão: o que o paralelismo implica na lógica linguística? Nossa língua – um instrumento de comunicação e meio de interação – organiza-se mediante uma sequência lógica de signos a fim de transmitir uma informação. O conteúdo dessa informação, nesse sentido, forma-se sobre uma estrutura pré-estabelecida inconscientemente em cada usuário da língua.
ASSUNTOS ABORDADOS n Paralelismos n Paralelismo sintático n Paralelismo semântico n Paralelismo na literatura
Quando se fala em paralelismo linguístico, devemos nos lembrar, principalmente, das relações de coordenação entre termos da oração. Palavras ou expressões de função sintática equivalente devem obedecer a uma mesma estrutura gramatical. Paralelismo, logo, é a correspondência de funções gramaticais e semânticas existentes nas orações. Além de melhorar a compreensão do texto, o fato de se respeitar o paralelismo torna sua leitura mais clara. Veja a seguir o exemplo: n n
Cíntia não só vende empadas por encomenda, como biscoitos é a sua especialidade. Cíntia não só vende empadas por encomenda, como faz biscoitos com especialidade.
A partir da análise dos dois exemplos acima, podemos perceber que o primeiro período foi construído sem paralelismo, diferente do segundo período. Para se entender como o paralelismo do segundo exemplo foi elaborado, é necessário compreender a estrutura desse enunciado. Observe:
Com a leitura do quadro acima, você pode perceber que a estrutura dos sintagmas: “vende empadas por encomenda” e “faz biscoitos com especialidade” é a mesma, isto é, verbo seguido por seu complemento. Essa exigência de se elaborar uma estrutura sintática semelhante dá-se, sobretudo, à coordenação realizada pelos elementos coesivos “não só” e “como”. Veja também que, no primeiro exemplo, o paralelismo se quebra porque “biscoitos é a sua especialidade” - cujo núcleo é um substantivo; diferentemente da estrutura de “vende empadas por encomenda” - cujo núcleo é um verbo. 697
P ortug uê s
Paralelismo sintático Preposições Quando, em um texto, o autor precisa enumerar termos, ele estabelece uma coordenação entre as palavras que compõem essa enumeração. Como já pudemos ver, termos coordenados entre si devem seguir uma mesma estrutura sintática. Atente-se, dessa maneira, para o uso correto das preposições ao sequenciar termos oracionais. Veja: n n n
João Pedro saiu com seu pai e com sua mãe para fazer compras. Maria Beatriz não gosta de pera nem de abacate. A casa ainda está bagunçada devido à festa de ontem e à preguiça dos convidados.
Em se tratando desse tipo de paralelismo, a repetição da preposição não é uma exigência, e a falta dela, em um enunciado, não constitui uma inadequação gramatical. No entanto, é importante atentar-se para esses recursos, pois eles tornam mais clara a informação expressada pelo autor. Tempo verbal Os tempos verbais em uma oração também estabelecem uma relação lógica que não deve ser quebrada. Veja a seguir os exemplos: n n
Se eu fizer minhas tarefas, a professora dar-me-á ponto extra. Se eu fizesse minhas tarefas, a professora dar-me-ia ponto extra.
Núcleo do sintagma Na introdução dessa aula, nós entendemos o conceito de paralelismo a partir de um enunciado cujos núcleos sintagmáticos não possuíam uma estrutura sintática semelhante, o que caracteriza a falta de paralelismo. Aprofundemos, pois, nesse tópico, com o exemplo a seguir: n
O que eu espero das minhas férias: viagens, praia é visitar lugares diferentes.
Nesse exemplo, o termo sublinhado evidencia a quebra de paralelismo desse enunciado, uma vez que se trata de um verbo após uma sequência de substantivos em paralelo. Nesse sentido, o período deveria ser reelaborado desta maneira: n
O que eu espero das minhas férias: viagens, praia e visitas a lugares diferentes.
Casos frequentes 1) não só ... mas também Sem paralelismo: Não só corrigiu os seus erros e a ajuda do seu grupo de estudos. Com paralelismo: Não só corrigiu os seus erros, mas também ajudou seu grupo de estudos. 2) por um lado ... por outro Sem paralelismo: Por um lado, eu concordo com a atitude dela, por outro, eu acho que ela fez o que era certo. Com paralelismo: Por um lado, eu concordo com a atitude dela, por outro, fico preocupada com as consequências. 3) quanto mais ... mais
Nesses tipos de construções com orações subordinadas, os tempos verbais devem estabelecer uma lógica temporal de sentido. Assim, o verbo “fizer” (futuro do subjuntivo) relaciona-se com o verbo “dará” (futuro do presente do indicativo), como também o verbo “fizesse” (pretérito imperfeito do subjuntivo) relaciona-se com o verbo “daria” (futuro do pretérito do indicativo). Faça a seguir o exercício de fixação:
Com paralelismo: Quanto mais eu o vejo, mais certeza tenho de que não quero me casar com ele.
Quando eu der a notícia, eles __________ (ficar) tristes. Quando eu desse a notícia, eles __________ (ficar) tristes.
Com paralelismo: Tanto foram convidados adultos quanto crianças.
n
C08 P aralelism os
n
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Sem paralelismo: Quanto mais eu o vejo, talvez não case com ele.
4) tanto ... quanto Sem paralelismo: Tanto foram convidados adultos e crianças.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
5) ora ... ora, seja ... seja Sem paralelismo: Ora faz os deveres, mas não faz tudo. Com paralelismo: Ora faz os deveres, ora não os faz. 6) não ... nem Sem paralelismo: Não posso contar para o patrão, provavelmente para a patroa. Com paralelismo: Não posso contar para o patrão, nem para a patroa. 7) primeiro ... segundo Sem paralelismo: Primeiro porque eu não como carne, segundo porque eu sou vegetariana. Com paralelismo: Primeiro porque eu não como carne, segundo porque não quero sair com você.
Paralelismo semântico O paralelismo semântico observa a correspondência de valores existentes no discurso. Quando se coordenam palavras, é importante que elas pertençam à mesma área de significação. Caso isso não ocorra, pode haver uma ruptura do paralelismo semântico, do sentido. Veja: n n
Fui ao shopping e comprei uma calça jeans, duas camisetas, um par de meias e um sorvete. Maria Eduarda é ótima na cozinha, faz bolos, tortas, pães e natação.
Paralelismo na literatura Paralelismo linguístico é menos uma regra do que uma orientação para que você escreva textos com o sentido evidente e claro para o leitor. No entanto, em nossa literatura, muitos autores valeram-se da quebra de paralelismo para construir frases célebres de sentido riquíssimo. Um grande mestre desse recurso é o escritor Machado de Assis. Leia a seguir os fragmentos dos romances Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom casmurro, respectivamente: n n
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis. Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.
Ao ler os exemplos acima, você pôde perceber que Machado de Assis usou construções que quebram o paralelismo semântico do enunciado e não satisfazem a expectativa do leitor. Porém é justamente essa ruptura de sentido que promove a riqueza literária desses excertos. No primeiro fragmento, o autor diz que, enquanto ele amou Marcela por quinze meses, ele gastou com ela onze contos de réis (moeda à época). Com isso, ele revela e faz uma crítica à relação de interesse financeiro que a Marcela contraiu com ele. No segundo fragmento, o autor mais uma vez rompe a expectativa do leitor. Ao escrever que conhece o rapaz “de vista e de chapéu”, ele diz que sempre que vê o rapaz ele está de chapéu.
Note que o último termo de cada um dos enunciados acima quebra a expectativa do leitor. Não se trata, necessariamente de um desvio gramatical, pois não há nenhuma inadequação na estrutura dos exemplos citados. No entanto, essa quebra do sentido é provocada pela falta de similaridade dos elementos em enumeração. No primeiro exemplo, os itens enumerados são peças de roupas, o que faz com que sorvete fique perdido naquela sequência. Assim como no segundo exemplo, o fato de Maria Eduarda também fazer natação quebrar a expectativa do leitor, após uma enumeração de comidas caseiras. Então, para desfazer essa quebra de paralelismo, poder-se-ia reescrever os enunciados desta maneira:
n
Fui ao shopping e comprei uma calça jeans, duas camisetas e um par de meias e depois tomei um sorvete. Maria Eduarda é ótima na cozinha, faz bolos, tortas, pães, além do mais faz natação.
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n
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, em todo s de ormiadortido , um eres nsu-
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Exercícios de Fixação 01. (Acafe SC) Assinale a alternativa em que os vocábulos equivalem, respectivamente, às expressões: governo dos nobres - inflamação da boca - chefe de facções populares - medo de animais. a) aristocracia - estomatite - demagogo - zoofobia b) democracia - ortodontia - antropófago - nosofobia c) plutocracia - cefalgia - demográfico - cinofobia d) oligarquia - endofagia – democrático – hidrofobia
dos, erio-
Assinale a alternativa que indica INCORRETAMENTE a relação sinonímica entre palavras, tal como empregadas no texto I. a) primórdios (Ref. 02): início b) detentor (Ref. 14): possuidor c) restringira (Ref. 15): limitara d) intento (Ref. 18): finalidade e) genuíno (Ref. 18): geral 03. (ESPM SP)
02. (Mackenzie SP) Texto I Quando se pensa em traçar um histórico sobre o aprendizado 02 de línguas estrangeiras, poderia se retroceder aos primórdios dos 03 tempos globalizantes, com os acadianos tentando se comunicar 04 com os sumérios na antiga Mesopotâmia, por volta de 3.000 a.C., 05 ou às conquistas do antigo império egípcio, ou ainda do império dos 06 romanos, eles mesmos aprendendo o grego como segunda língua, em 07 reconhecimento ao prestígio daquela civilização. É possível afirmar 08 que, desde os primeiros intercâmbios entre sociedades, quando 09 civilizações descobriram e dominaram outros povos, a necessidade de 10 entendimento entre falantes de línguas distintas levava interessados a 11 aprender novos idiomas com o propósito mais natural, o de comunicarse; 12 buscava-se, como hoje, a oralidade numa língua estrangeira em 13 situações comunicativas. 14 À parte o estudo do grego e do latim (este, detentor, por longo 15 período, do título de língua franca), que se restringira à gramática e 16 à tradução para fins culturais, políticos ou religiosos, é a partir de 17 meados do século XVII [...] que a necessidade de aprender um novo 18 idioma, com o intento genuíno de comunicação, se intensificou. 01
Vera Hanna, Línguas estrangeiras: o ensino em um contexto cultural
Texto II
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil)
O domínio de uma língua estrangeira, em especial o inglês, 02 é uma exigência cada vez mais frequente nas empresas. A maior 03 parte dos candidatos às vagas, por sua vez, atesta no currículo que 04 fez cursos – o que em geral é verdade. Mas, na prática, são poucos 05 os que sustentam uma entrevista mais detalhada em outro idioma 06 ou mantêm uma conversação em inglês sem grande esforço. Para 07 muitos prevalece a sensação de só cometer um erro após outro. E o 08 pior é que a insegurança quanto à gramática e o medo de cometer 09 equívocos terminam por comprometer as possibilidades de acerto. 10 Em muitos casos, nem mesmo anos de aula mudam essa situação.
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01
Jan Dönges, Revista Mente e Cérebro
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A opinião de que um indivíduo filiado a determinado partido político assumiu, pelo fato dessa filiação, compromissos que não pode romper sem felonia pertence de modo bem distinto a um círculo de ideias e princípios que a ascensão da burguesia urbana tenderia a depreciar cada vez mais. Segundo tal concepção, as facções são constituídas à semelhança das famílias, precisamente das famílias de estilo patriarcal, onde os vínculos biológicos e afetivos que unem ao chefe os descendentes, colaterais e afins, além da famulagem¹ e dos agregados de toda sorte, hão de preponderar sobre as demais considerações. Formam, assim, como um todo indivisível, cujos membros se acham associados, uns aos outros, por sentimentos e deveres, nunca por interesses ou ideias. ¹famulagem: conjunto de fâmulos (criados, servidores); criadagem. Entende-se por felonia: a) A tendência a sujeitar os interesses pessoais às decisões do poder político. b) A capacidade de arregimentação conseguida pelos responsáveis para a direção do partido. c) A recusa em submeter o interesse individual à determinação de uma organização coletiva. d) A ideia de deslealdade e traição aos vínculos partidários, vividos como se fossem relações pessoais. e) A rebelião do vassalo contra o senhor, motivada por razões simbólicas e institucionais.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Exercícios C om p l em en t ares 01. (FCM MG) Leia o poema “Ilusões da vida”, de Francisco Otaviano. Quem passou pela vida em branca nuvem E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu, Foi espectro de homem - não foi homem, Só passou pela vida - não viveu. (http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/francisco_ otaviano.html. Acesso em 07/07/2016.)
Consideradas no contexto, as palavras “propensas” (Ref. 1) e “Dividendos” (Ref. 3) podem ser substituídas, sem prejuízo para o sentido, por: a) inclinadas; Ganhos. d) necessitadas; Descontos. b) dispostas; Insumos. e) obrigadas; Acordos. c) decididas; Partilhas. 03. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP)
O termo “espectro”, no dicionário, tem várias acepções. A que condiz com seu sentido no poema é: a) visão, fantasma. b) coisa vazia, falsa. c) evocação obsedante. d) suposta aparição de um defunto. 02. (FGV SP) Pobres precisam de banheiro, não de celular, diz BM As famílias mais pobres do mundo estão mais propensas a terem telefones 2 celulares do que banheiros ou água limpa. 3 Segundo relatório do Banco Mundial, intitulado ”Dividendos Digitais”, o número 4 de usuários de internet mais que triplicou em uma década, para 3,2 bilhões no final 5 do ano passado, representando mais de 40 por cento da população mundial. 6 Embora a expansão da internet e de outras tecnologias digitais tenha facilitado 7 a comunicação e promovido um senso de comunidade global, ela não ofereceu o 8 enorme aumento de produtividade que muitos esperavam, disse o Banco. Ela também 9 não melhorou as oportunidades para as pessoas mais pobres do mundo, nem ajudou 10 a propagar a “governança responsável”. 11 “Os benefícios totais da transformação da informação e comunicação somente se 12 tornarão realidade se os países continuarem a melhorar seu clima de negócios, 13 investirem na educação e saúde de sua população e proverem a boa governança. Nos 14 países em que esses fundamentos são fracos, as tecnologias digitais não impulsionam 15 a produtividade nem reduzem a desigualdade”, afirmou o relatório. 16 A visão do Banco Mundial contrasta com o otimismo dos empreendedores da 17 tecnologia, como Mark Zuckerberg e Bill Gates, que têm argumentado que o acesso 18 universal à internet é essencial para eliminar a pobreza extrema. 19 “Quando as pessoas têm acesso às ferramentas e ao conhecimento da internet, 20 elas têm acesso a oportunidades que tornam a vida melhor para todos nós”, diz uma 21 declaração do ano passado assinada, entre outros, por Zuckerberg e Gates. 22 Segundo o Banco Mundial, conectar o mundo “é essencial, mas está longe de ser 23 suficiente” para eliminar a pobreza. 1
Leia o trecho: “Café, Patrimônio Cultural do Brasil: Ciência, História e Arte”... Qual das frases, a seguir, tem o mesmo significado dos termos grifados? a) A preocupação naquela família, é sempre aumentar o patrimônio. b) Aquele notável patrimônio de joias era fortemente guardado. c) Eu tinha meu patrimônio e cuidava bem dele. d) Aquele povo preservava com extremo carinho o seu patrimônio histórico. e) Todo o seu patrimônio estava penhorado. Texto comum às questões 04 e 05 Médicos e Medicina Decidi dividir com você, leitor, uma visão muito pessoal a respeito da prática médica. Como eu vejo a Medicina, seu passado, seu presente e futuro. Procuro dividir também minha visão acerca do muito que já foi feito e do que podemos fazer para nos sairmos cada vez melhor na “arte de curar”. Divido com você, leitor, minhas dúvidas, angústias e dificuldades, ao longo desses trinta anos em que procuro entender o adoecimento e seus múltiplos vieses. Isto porque é com eles que lidamos todos os dias.
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http://exame.abril.com.br 14//01/2016. Adaptado.
Fonte: Folha de São Paulo – 27/10/2016 – Turismo.
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Não existe “a receita do bolo”. Quando nós, médicos, nos graduamos, acreditamos que, se fizermos tudo “de acordo com a cartilha”, estaremos sempre acertando. Não perderíamos nunca um diagnóstico. Todos os pacientes ficariam curados, nada sairia do controle. No entanto, não é assim que acontece. Felizmente, para acertamos, ou ao menos para estarmos cada vez mais próximos de melhor ajudar nossos pacientes, é preciso manter a perspectiva do melhor. É preciso estudar sempre, convencidos de que nunca saberemos tudo o que devemos saber. Sempre existirá o que aprender. Mas, ainda assim, mesmo sabendo que estaremos sempre fazendo o possível e dando o melhor de nós, várias vezes, nos sentimos impotentes. Gostaríamos de poder fazer mais e nunca ter um insucesso a reportar. Somos lembrados, às vezes, do quanto somos falíveis. Afinal, somos todos humanos, pacientes e médicos. Mais do que isso, não existe mágica para resolver a doença. O indivíduo aposta no médico como única solução para seus problemas e esquece que ele também deve participar do processo de cura. O médico apenas pode ajudá-lo a retomar o caminho ideal. O médico não faz milagres. Não somos deuses. Ou seja, é equivocada a relação de distanciamento que sempre existiu entre médico e paciente. O assistencialismo (em todas as áreas) ainda é necessário, mas, sozinho, não atende à necessidade de devolver ao assistido a responsabilidade sobre sua vida, sobre sua sustentabilidade e cidadania. Da mesma forma, em relação à medicina, sobretudo em relação à medicina preventiva, o indivíduo deve assumir também as rédeas de sua saúde. (...) As escolhas que fazemos a cada momento são determinantes. A vida de cada um de nós é feita de escolhas, mudanças de rotas e reorganizações em busca da retomada do melhor caminho em direção ao objetivo desejado. A saúde é dinâmica e é uma conquista diária e global. Definitivamente, não está nas mãos dos médicos, apenas. Atualmente, a facilitação da informação é uma das tarefas do médico. Tenho a convicção de que a educação em saúde é a forma ideal de se contrapor à doença. A prevenção só é eficaz quando paralelamente se promove a saúde através da educação. Informar é educar! Ou seja, uma das primeiras providências no sentido de devolvermos ao indivíduo a responsabilidade pela sua saúde passa necessariamente pela informação. Pela educação em saúde.
3. aos programas de saúde, pouco significativos, que persistem nos cursos de graduação. 4. à crença na consistência e estabilidade imutáveis das teorias divulgadas pelas ciências médicas. Estão corretas: a) 1, 2, 3 e 4 b) 1, 2 e 3 apenas c) 1, 2 e 4 apenas d) 3 e 4 apenas e) 1, 3 e 4 apenas 05. (FPS PE) Qualquer expressão somente ocorre em um texto com um determinado propósito e, assim, produz certo efeito de sentido, como é mostrado a seguir. 1. Em “O indivíduo aposta no médico como única solução para seus problemas e esquece que ele também deve participar do processo de cura”, o pronome destacado se refere a ‘médico’. 2. Em: “Tenho a convicção de que a educação em saúde é a forma ideal de se contrapor à doença”, o segmento destacado deixa a afirmação mais contundente. 3. Em: “O médico não faz milagres. Não somos deuses.”, os dois termos em destaque pertencem a campos semânticos afins. São, por isso, coesivos. 4. Em: “A saúde é dinâmica e é uma conquista diária e global”, pelas palavras em realce, podemos entender que a saúde é um exercício ativo, diligente e coletivo. Estão corretas: a) 1, 2, 3 e 4 d) 2, 3 e 4 apenas b) 1, 2 e 3 apenas e) 1, 3 e 4 apenas c) 1, 2 e 4 apenas 06. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP)
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(https://saudeelongevidade.com/322-2/. Adaptado.)
04. (FPS PE) Analise os sentidos das expressões entre aspas no seguinte trecho: Não existe “a receita do bolo”. Quando nós, médicos, nos graduamos, acreditamos que sim, se fizermos tudo “de acordo com a cartilha”... Com essas expressões, o autor quer se referir: 1. à suposta infalibilidade de prescrições, diagnósticos e procedimentos médicos. 2. aos conteúdos acadêmicos, que priorizam a relação entre saúde e alimentação. 702
Fonte: Folha de São Paulo – 27/10/2016 – Mercado.
Na charge lida, a palavra mercado pode ser entendida como a) mercado negro, ou seja, de práticas clandestinas. b) local onde se vendem produtos alimentícios de todas as espécies. c) mercado de trabalho para oferta e procura de emprego. d) estabelecimento comercial onde se tem pessoa interesseira que trabalha por dinheiro. e) ambiente econômico de bens e serviços na sociedade.
avras eses
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PORTUGUÊS
Exercícios de A p rof u n dam en t o 01. (Unitau SP) Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao senhor diretor Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo [...]”. Manuel Bandeira. Libertinagem.
O fragmento de poema acima trata do lirismo, da lírica portanto, do fazer poético. Há o predomínio, no poema, de uma das funções da linguagem. Qual alternativa abaixo indica essa função? a) Função conativa d) Função poética b) Função apelativa e) Função referencial c) Função metalinguística Texto comum às questões 02 e 03 Texto I Cachorro Velho aproximou do rosto a borda da cuia e cheirou. O aroma do café adoçado com mel lhe entrou em cheio, reconfortando-o. Sempre cheirava primeiro. Já era um costume, um ritual aprendido com os anos. Uniu os lábios grossos e bebeu um gole. O líquido desceu numa onda ardente até seu estômago.
b) enaltecedora dos povos africanos, atribuindo ao primeiro a habilidade narrativa na transmissão de contos da tradição da África e ao segundo bravura e heroicidade. c) desesperançada acerca da humanidade, conferindo ao primeiro a marca da dor por haver tido seu filho assassinado e ao segundo a revolta contra os que lhe oprimiam. d) irônica sobre a escravidão, propondo o primeiro como uma mulher incapaz de gerar filhos e o segundo como um homem conformado com sua condição de escravo. 03. (UEMG) Quando a névoa encobriu o corpo de Beira, Cachorro Velho voltou a desabar no solo. Bufando contra a poeira, lembrou-se da mãe. O rosto lhe chegou de imediato, sem avisar. Soube que era ela pelos olhos. Pela forma de sua face escura. Pelos seios abundantes, ainda cheios daquele odor que, quando criança, ele buscava em outras mulheres só para reencontrá-la. Sim, era ela. Havia passado a vida inteira tentando recordá-la, e só naquela hora aziaga seu rosto emergia do Nada. — Qual é o meu nome? — perguntou à aparição que enchia sua mente. E viu-lhe os lábios grossos se moverem, mas não escutou nenhum som. Os latidos dos cães cobriram a trilha. Lentamente, a alma do porteiro se levantou no ar e, vislumbrando El Colibrí, entrou na floresta. CÁRDENAS, Teresa. Cachorro Velho. Rio de Janeiro: Palhas, 2010. p. 141.
Texto II O feitor tocou o sino e todos se aproximaram do pátio central. O sol da manhã era suave e o vento trazia, quase imperceptível, o cheiro enjoativo da moenda. Os ajudantes do feitor entregavam às mulheres umas batas de tecido cru, com bolsos grandes, e lenços coloridos. Os homens receberam camisas grossas e calças para o trabalho no campo. Texto III Rodeava o engenho um denso manto verde. Troncos de todos os formatos, folhas de cores variadas, flores com todos os perfumes. CÁRDENAS, Teresa. Cachorro Velho. Rio de Janeiro: Palhas, 2010. p. 07, 51, 61.
02. (UEMG) Na trama, a caracterização dos personagens de Aroni e Ulundi são indicativas de uma visão a) combativa em relação ao jugo imposto sobre os negros, representando o primeiro como uma guerreira abolicionista e o segundo como um dos líderes da rebelião.
Lido no contexto da narrativa, esse fragmento extraído do final do romance sugere a) o desnudamento de dramas existenciais, relacionados à ausência materna. b) a necessidade de se continuar militando contra os rastros de um passado escravista. c) a importância de se preservar a crença em um tempo futuro de libertação. d) o ensinamento de legados africanos ainda hoje ameaçados pelo preconceito racial. 04. (UEMG) De todos os percentuais divulgados, meu favoritíssimo aborda extraterrestres: 78,25% das civilizações alienígenas que nos visitam vêm de fora da Via Láctea. Depois dessa precisão alienígena, eu, que vivia fora de órbita, ando agora 78,25% mais à Terra. Com tanta gente estranha por aqui, acredito que a confusão estatística é coisa de ET. Ou do diabo. Tenho 66,6% de certeza. GIFFONI, L. Confusão estatística. In: O acaso abre portas. Belo Horizonte: Abacate, 2014. p. 21.
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P ortug uê s
Os recursos de estilo empregados nesse fragmento indicam a
06. (UnB DF)
intenção do autor de a) demonstrar indiferença a critérios percentuais. b) criticar a vagueza de informações numéricas. c) questionar as probabilidades científicas. d) ironizar a precisão de dados estatísticos. Texto comum às questões 05 e 06 [...] 1
uma dança de espadas
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esta escrita delirante lâminas cursivas
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a lua entre dois dragões
10
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com uma haste de bambu passar por entre lianas sem desenredá-las Haroldo de Campos. Signância quase céu. Melhores poemas de Haroldo de Campos. Seleção de Inês Oseki Dépré. 3.ª ed. São Paulo: Global, 2000, p. 82.
Tendo como base o trecho apresentado acima, extraído de um poema de Haroldo de Campos, julgue os itens ou faça o que se pede se o item for do tipo D. 05. (UnB DF)
C – C – C- C
( ) Das associações presentes no fragmento do poema, depreende-se que a “escrita delirante”, ou seja, a produção de um poema, requer minucioso cuidado. FRENTE C E xercícios de A profundam ento
( ) Considerados sob o ponto de vista de propriedades gerais dos infinitivos, os versos “passar/por entre lianas/sem desenredá-las” (v.12-14) conservam analogia com sentenças de texto de gênero instrucional, em que a estrutura “sem desenredá-las” representaria, no nível semântico, uma condição para a realização da ação ai indicada. ( ) Os versos “uma dança/de espadas” (v.1-2) antecipam a relação de predicação entre esse termo e o dos versos “esta/ escrita/delirante” (v.3-5). ( ) No trecho “passar/por entre lianas” (v.12-13), “por” indica movimento, e “entre”, a ideia de limite.
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In: Haroldo de Campos (Org.). Ideograma: lógica, poesia, linguagem. 4.ª ed. São Paulo: EDUSP, 2000, p. 57.
No poema acima, Haroldo de Campos, por meio da técnica ideogramática, busca aproximar-se da lógica metafórica dos ideogramas chineses. A união do ideograma que significa “coração” com o que significa “meio” resulta no sentido de “lealdade”. Considerando esse contexto, redija um texto, na modalidade padrão da língua, definindo metáfora. Apresente um exemplo extraído do trecho do poema contido na obra Signância quase céu, de Haroldo de Campos, seguido de interpretação. 07. (Puc RS) Muitas vezes, quando pensamos em ritual, duas ideias nos vêm à mente: por um lado, a noção de que um ritual é algo formal e arcaico, quase que desprovido de conteúdo, algo feito para celebrar momentos especiais e nada mais; por outro lado, podemos pensar que os rituais estão ligados apenas à esfera religiosa, a um culto ou a uma missa. Segundo alguns autores, nossa vida de todos os dias – a vida social – é marcada por um eterno conflito entre dois opostos: ou o caos total, onde ninguém segue nenhuma regra ou lei, ou uma ordem absoluta, quando todos cumpririam à risca todas as regras e leis já estabelecidas. A visão desses opostos não deixa de ser engraçada: alguém consegue imaginar nossa sociedade funcionando de uma dessas maneiras? É evidente que não. Dizemos que os rituais emprestam formas convencionais e estilizadas para organizar certos aspectos da vida social, mas por que esta formalidade? Ora, as formas estabelecidas para os diferentes rituais têm uma marca comum: a repetição. Os rituais, executados repetidamente, conhecidos ou identificáveis pelas pessoas, concedem certa segurança. Pela familiaridade com a(s) sequência(s) ritual(is), sabemos o que vai acontecer, celebramos nossa solidariedade, partilhamos sentimentos, enfim, temos uma sensação de coesão social. É assim que entendemos: “cada ritual é um manifesto contra a indeterminação”. Através da repetição e da formalidade, elaboradas e determinadas pelos grupos sociais, os rituais demonstram a ordem e a promessa de continuidade desses mesmos grupos. Adaptado de RODOLPHO, Adriane Luísa. Rituais, ritos de passagem e de iniciação: uma revisão da bibliografia antropológica. In: Estudos Teológicos, v. 44, n. 2, p. 138-146, 2004
Os verbos “emprestam” (Ref. 17), “concedem” (Ref. 23) e “demonstram” (Ref. 30) poderiam ser substituídos, respectivamente, por a) se valem de, conferem, evidenciam. b) se inspiram em, consideram, explicam. c) se aliam a, facilitam, revelam. d) se assemelham a, permitem, comprovam. e) recorrem a, inserem, simulam.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
08. (Fac. Direito de Franca SP)
cidadãos e impor como verdade os interesses dos poderosos.
Corrupção se combate com respeito à lei Claudio Lamachia Folha de S.Paulo, 11/08/2016
O combate à corrupção, hoje questão central da vida institucional brasileira, só é eficiente e benéfico para a sociedade quando conduzido por meios legais. Do contrário, o próprio Estado se confunde com a criminalidade e incentiva o desrespeito à lei, ignorando séculos de avanço da ciência do direito e promovendo grande retrocesso civilizatório. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), maior entidade civil do país, participa ativamente do combate à corrupção e ao crime do colarinho branco. Possui orgulho de ter proposto a Lei da Ficha Limpa e de ter defendido, no STF (Supremo Tribunal Federal), a proibição do investimento empresarial em partidos e candidatos. Agora, a Ordem quer mais avanços democráticos. Está engajada no combate a organizações criminosas que tentem se apossar do Estado e na aprovação de uma lei que criminalize o caixa dois. Nesta quinta, 11 de agosto, Dia da Advocacia, cabe à profissão que atua todos os dias para colocar em prática os valores democráticos, muitas vezes vistos apenas como abstratos, fazer um alerta: as garantias constitucionais impõem limites à ação do Estado para que autoridades não extrapolem seus poderes e persigam adversários políticos. Provas obtidas por meio ilícito, método que o Ministério Público insiste em defender, ensejam truculência e ilegalidade, negando a própria essência da Justiça. Pior: o uso de meios ilegais transmite a ideia de que a lei é impotente e que a repressão aos desvios necessita de licenciosidade para ser eficaz. Felizmente, a Justiça não é assim – caso fosse, seria criminosa. Não se pode combater o crime cometendo outro crime nem ignorando os limites da lei. São recorrentes em nosso país confissões mediante tortura , testemunhas forjadas, intimidação, documentos falsos, gravações ocultas sem autorização judicial e provas plantadas. Considerar esses métodos razoáveis para alguns, mesmo que culpados, só cria precedente para os mesmos métodos serem usados contra cidadãos de bem. Foi a compreensão dos erros do passado que motivou o constituinte de 1988 a condenar, de maneira inapelável, provas obtidas por meios ilícitos. Essa proibição está no artigo quinto, inciso 56, capítulo um dos direitos e deveres individuais e coletivos (uma cláusula pétrea não pode ser modificada). Trata-se de uma das maiores conquistas democráticas, obtida após décadas de luta contra regimes de exceção, civis e militares, que não se submeteram a limites na hora de perseguir
É inadmissível não apenas prova ilícita, mas também a tentativa de o Estado brasileiro revogar uma cláusula pétrea, gerando retrocesso à ordem jurídica. Validar prova ilícita, sob o argumento de que o agente que a produziu estava de “boa-fé” (mesmo que estivesse), é consagrar o autoritarismo. Fosse uma ideia absurda como essa colocada em prática, haveria respaldo para qualquer agente estatal cometer ilegalidades no cumprimento da tarefa de combate à corrupção e em qualquer outra esfera de atuação. Quando promulgou o AI-5 (Ato Institucional Nº 5), em 1968, o marechal-ditador Arthur da Costa e Silva “tranquilizou” o vice-presidente Pedro Aleixo dizendo que teria juízo ao utilizar tal instrumento. Ouviu do vice: “O que me preocupa não é o senhor, presidente, mas o guarda da esquina”. O tumor, quando se instala e não é combatido, produz metástases. A truculência de cima chega rápido ao guarda da esquina. Corrupção é crime odioso, viola preceitos republicanos, lesa o cidadão em suas carências básicas, desviando recursos essenciais que deveriam ser aplicados em educação, segurança e saúde, sobretudo num país com tamanhas desigualdades sociais como o nosso. O combate, entretanto, não pode ser contaminado pelos critérios e práticas do adversário, sob pena de não mais se poder distingui-los. Não há Justiça fora da lei, não importa a natureza do delito praticado. CLAUDIO LAMACHIA, 55, especialista em direito empresarial, é presidente nacional da OAB- Ordem dos Advogados do Brasil [texto adaptado para fins de vestibular]
Texto 2
Corrupção charge – Crédito: Candeia Disponível em: http://nossapolitica.net/2015/01/corrupcaosignificados-definicoes-e-conceitos/. Acesso em: 18 nov. 2016. [texto adaptado para fins de vestibular]
O propósito comunicativo do texto 1 é o de a) defender a ideia de negar a essência da justiça pelo uso de meios legais. b) transmitir ponto de vista sobre a impotência da lei diante da repressão à corrupção. c) formar opinião sobre a legalidade com que deve ser combatida a corrupção. d) denunciar a dispensável licenciosidade para ser combatido o uso de meios ilegais. 705
FRENTE C E xercícios de A profundam ento
Texto 1
FRENTE
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PORTUGUÊS Por falar nisso A palavra jornal tem origem na palavra latina diurnale, que significa diário. Por isso que o veículo impresso, radiofônico ou televisivo de notícias diárias recebe esse nome. Nos jornais impressos, os gêneros textuais mais encontrados são: a notícia, o editorial e o artigo de opinião. Como a produção desses textos é diária, o hábito de lê-los também deve sê-lo. Nesse sentido, para que você se mantenha atualizado acerca das novidades de sua cidade, de seu país e do mundo é importante que você leia sempre textos jornalísticos. Uma pessoa que não lê jornais tende a ser alguém alienado dos problemas sociais que o cercam. Ademais, hoje o acesso às notícias está cada vez mais fácil, devido aos meios eletrônicos de divulgações de informações, dentre eles sites de jornais e revistas, como também, redes sociais. Dessa maneira, não há desculpas para não ser um indivíduo informado. Qual notícia você já leu hoje? Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
D05 D06 D07 D08
Notícia ........................................................................................... 708 Editorial ......................................................................................... 714 Artigo de opinião I ........................................................................ 720 Artigo de opinião II ....................................................................... 725
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D05
ASSUNTOS ABORDADOS n Notícia n Ambiguidade e polissemia n Características da notícia n Estrutura da notícia n Exemplo de notícia
NOTÍCIA Um gênero textual, como pudemos estudar em aulas anteriores, é definido como um texto que possui uma função sociocomunicativa. O emissor, mediante o ato comunicativo, tem uma finalidade para com seu receptor. Nesse sentido, pensemos juntos: a notícia como um gênero textual presente em jornais e revistas possui que finalidade? Certamente, o objetivo principal de um noticiário é informar alguém sobre determinado fato ou ocorrência. Em virtude de a notícia compor uma categoria preconizada pelo ambiente jornalístico, ela se caracteriza como uma narrativa técnica. Tal atribuição está condicionada, principalmente, à sua natureza linguística, pois, diferente da linguagem literária, que, via de regra, revela traços de intensa subjetividade, a imparcialidade desse gênero é a palavra de ordem. Desse modo, a linguagem da notícia, necessariamente, deve ser inteligível, objetiva, concisa e precisa, de maneira a isentar-se de quaisquer possibilidades que, porventura, tendam a ocasionar múltiplas interpretações por parte do receptor.
Ambiguidade e polissemia É importante que, nesta aula, você aprenda o conceito e analise exemplos de ambiguidade e polissemia para que esses recursos linguístico-textuais estejam ausentes na sua produção textual de notícia. Tanto a ambiguidade como a polissemia são recursos que geram, no leitor, múltiplas interpretações. Portanto, contraria uma das principais características da notícia: a precisão da narração de um fato. Ambiguidade Ambiguidade é aquilo que pode ter mais do que um sentido ou significado. Além disso, ela pode apresentar a sensação de indecisão, hesitação, imprecisão, incerteza e indeterminação. Veja a seguir o exemplo: n
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A mãe bateu na filha porque ela estava alcoolizada.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Para desfazer a ambiguidade dessa frase, é preciso que você saiba usar adequadamente os pronomes demonstrativos. Utilizando-os, você consegue precisar quem estava alcoolizada. Veja: n
n
A mãe bateu na filha porque esta estava alcoolizada. (o pronome esta refere-se ao elemento mais próximo, portanto, a filha). A mãe bateu na filha porque aquela estava alcoolizada. (o pronome aquela refere-se ao elemento mais distante, portanto, a mãe).
A ambiguidade de um texto também pode ser causada pelo uso inadequado de um pronome possessivo. Veja: n
O guarda municipal prendeu o suspeito de roubo em sua casa.
No exemplo, a informação não é transmitida com precisão, pois não se sabe se o suspeito foi preso na casa do guarda municipal ou em sua própria casa. Assim, para desfazer essa ambiguidade, novamente, você deve se valer do uso dos pronomes demonstrativos. n
n
O guarda municipal prendeu o suspeito de roubo na casa deste. (o pronome deste refere-se ao elemento mais próximo, portanto, o suspeito de roubo). O guarda municipal prendeu o suspeito de roubo na casa daquele. (o pronome daquele refere-se ao elemento mais distante, portanto, o guarda municipal).
Polissemia A palavra polissemia é de origem grega: “polysemos”, significa muitos sentidos. Diferente da ambiguidade, que está no nível da frase, a polissemia corresponde aos múltiplos significados de uma mesma palavra. A depender do contexto de uso, tais significados de uma palavra podem se confundir dentro de uma frase. Por exemplo, a palavra “vela” pode significar: n n n
Vela: objeto incandescente propício à iluminação. Vela: objeto utilizado em barcos para navegação. Vela: do verbo velar, que significa estar vigilante.
Características da notícia As principais caraterísticas do gênero textual notícia são: n n n n n n n n n
Texto de cunho informativo; Textos descritivos e/ou narrativos; Textos relativamente curtos; Veiculado nos meios de comunicação; Linguagem formal, clara e objetiva; Textos com título (manchete); Textos em terceira pessoa (impessoais); Discurso indireto; Fatos reais, atuais e cotidianos.
Estrutura da notícia A estrutura da notícia recebe o nome de pirâmide invertida, porque as informações principais e mais relevantes já se encontram no primeiro parágrafo do texto. Em uma notícia, os eventos são apresentados pelo interesse, na perspectiva de quem conta e pelo que o leitor pode considerar mais importante. Leia, a seguir, os elementos que constituem o texto notícia:
D05 Notícia
Ao ler o período anterior, fica a dúvida causada pela ambiguidade da frase: quem estava alcoolizada, a mãe ou a filha? A ambiguidade desse fragmento textual é causada pelo pronome pessoal “ela”, que, no caso, pode tanto referir-se à mãe como à filha. Você sabe como desfazer essa ambiguidade?
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P ortug uê s
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Manchete: não se trata de um título, simplesmente. Além de expor o tema sobre o qual a notícia foi escrita, a manchete tem a função de despertar o interesse do leitor. Lide (lead): trata-se do primeiro parágrafo no qual estão expostas as informações mais relevantes para o leitor e apresenta a importante tarefa de fazê-lo querer continuar a leitura do texto. Nesse parágrafo, procura-se responder às seguintes questões: Quem? Onde? O quê? Como? Quando? Por quê? Essa estratégia é bastante utilizada em jornais devido ao seu caráter informativo e sintético e por poder levar informações rápidas e claras ao leitor. Corpo da notícia: corresponde à informação propriamente dita, com a exposição mais detalhada dos acontecimentos mencionados. Após trazer as informações mais importantes no primeiro parágrafo, os parágrafos seguintes apresentam os outros acontecimentos sempre em ordem decrescente de relevância (lembre-se da pirâmide invertida). As informações realmente necessárias para o entendimento dos fatos – tais como as personagens, o espaço e o tempo – são priorizadas. Outras informações, como a causa do acontecimento, o desenrolar e as consequências dos fatos, vêm logo em seguida.
Exemplo de notícia A notícia tem um compromisso com a veracidade dos fatos. Por isso, não deve, de maneira alguma, apresentar informações incertas ou duvidosas. Nesse sentido, a linguagem empregada deve transmitir confiança para o leitor acerca da
veracidade da informação. A comprovação das informações por meio de entrevistas com as testemunhas, fotos ou filmagens é uma excelente estratégia. Outra estratégia importante para conquistar a confiança do leitor é a impessoalidade. Utilizam-se verbos na terceira pessoa do singular e no modo indicativo (modo que indica certeza). A linguagem jornalística deve prezar pela imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja a seguir o exemplo: Morre Stephen Hawking, o gênio do “universo numa casca de noz”, aos 76 anos O cientista britânico Stephen Hawking morreu nesta quarta-feira (14/03/2018) aos 76 anos em sua residência, na cidade inglesa de Cambridge. Sua família enviou uma declaração oficial à imprensa confirmando a morte do físico e cosmólogo. Lucy, Robert e Tim, seus filhos, afirmaram que Hawking era “um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos”. Considerada uma das mentes mais brilhantes da história da ciência, ele fez grandes contribuições à comunidade científica, com teorias como a do espaço-tempo e do funcionamento dos buracos negros, a partir das quais conseguiu aproximar o público de temas que poderiam parecer complexos para muitos. Há décadas convivia com esclerose lateral amiotrófica, doença responsável por paralisar os músculos do corpo, mas que não comprometeu suas funções cerebrais.
#DicaCine Ptugê Assista ao filme A teoria de tudo.
O filme é estrelado por Eddie Redmayne, cuja atuação lhe valeu o Oscar de Melhor Ator, e por Felicity Jones, além de Charlie Cox, Emily Watson e David Thewlis em papéis coadjuvantes. Teve sua pré-estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2014 e foi lançado nos Estados Unidos em 7 de novembro de 2014 e no Reino Unido em 1º de janeiro de 2015.
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Fonte: Wikimedia commons
D05 Notícia
A teoria de tudo (no original em inglês, The theory of everything) é um filme britânico biográfico do gênero drama e romance, dirigido por James Marsh e escrito por Anthony McCarten. O filme foi inspirado na obra Travelling to infinity: My life with Stephen (Viajando ao infinito: Minha vida com Stephen) de Jane Hawking, que descreve seu relacionamento com o físico e teórico Stephen Hawking e o desafio com a doença do neurônio motor: esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Exercícios de Fixação 01. (Puc Campinas SP)
O menino nasce morto.
NARRAÇÃO Observe atentamente o texto e a foto a seguir. “Todo mundo queria saber, toda hora vinha alguém com uma notícia fresquinha. Então o vozerio aumentava, os comentários passavam de boca em boca, o murmúrio crescia. Que foi, que não foi? (...) A respiração suspensa, os olhos parados, a gente aguardava mais alguma coisa, a gente queria o principal (...).” (Autran Dourado)
(Murilo Mendes. Conversa portátil. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 1486)
O texto apresenta-se de forma predominantemente: a) narrativa, com narrador em terceira pessoa. b) narrativa, com narrador em primeira pessoa. c) descritiva, sobretudo nos três primeiros parágrafos. d) descritiva, sobretudo nos três últimos parágrafos. e) dissertativa, pois se apoia em argumentos encadeados. 04. (Unicamp SP)
REDAÇÃO
ATENÇÃO: SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ ANULADA.
Resposta pessoal
02. (Unifor CE) Punha os olhos nas janelas, via a paisagem correr e soltava meus pensamentos, minhas memórias, meus planos… O período acima apresenta as seguintes características: a) marcas de discurso narrativo e manutenção de um mesmo tempo verbal. b) predomínio do discurso descritivo e de orações subordinadas. c) predomínio do discurso dissertativo e variação dos tempos verbais. d) relação de causa e efeito e variação dos tempos verbais. e) formulação de hipóteses e manutenção de um mesmo tempo verbal. 03. (Unifor CE)
Natal 1961
Deslocados por uma operação burocrática – o recenseamento da terra – a Virgem e o carpinteiro José aportam a Belém. “Não há lugar para essa gente”, grita o dono do hotel onde se realiza um congresso internacional de solidariedade. O casal dirige-se a uma estrebaria, recebido por um boi branco e um burro cansado do trabalho. Os soldados de Herodes distribuem elementos radioativos a todos os meninos de menos de dois anos. Uma poderosa nuvem em forma de cogumelo abre o horizonte e súbito explode.
(Extraído de Sidney Chaloub, “Trabalho, Lar e Botequim”: O Cotidiano dos Trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque, São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 105.)
O depoimento anterior transcrito contém elementos que permitem a construção de uma narração: personagens, uma situação problemática e um desfecho. Inspirando-se nos dados desse depoimento, escreva uma narração - em terceira pessoa; - com personagens e elementos da situação construídos com base no texto; - que contenha, além do desfecho constante no depoimento, um segundo desfecho, com fatos ocorridos posteriormente aos relatados e que tenham ALGUMA RELAÇÃO COM TRABALHO. - Não esqueça que você pode valer-se de informações da coletânea geral e dos enunciados das questões desta prova para escrever sua narração. Resposta pessoal
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D05 Notícia
Imagine que as pessoas da foto estejam vivendo a situação apresentada no texto. A partir disso, redija uma narração, escolhendo, na foto, o narrador e uma das personagens de sua história.
Leia o texto a seguir, parte de um depoimento de “Luiz Castilhos, branco, natural do Estado do Rio, de 42 anos, solteiro, sabendo ler e escrever”, em que ele relata a briga que teve com “Joaquim de Souza, mulato, de 32 anos, casado, analfabeto”. O depoimento consta nos autos do processo criminal no qual foi réu este último, no Rio de Janeiro, em 1910. “[declara] que trabalhava no trapiche Comércio à rua da Saúde, onde também trabalhava Joaquim Antonio de Souza; que o trabalho que na ocasião faziam o declarante, Joaquim e outros era pesar carne-seca, que então ali chegando um homem que não é vagabundo pediu a Joaquim um pedaço de carne para comer; que Joaquim como resposta disse ao homem que pedia que fosse pedir à puta que o pariu; que o declarante fazendo ver a Joaquim que havia muita carne e que por consequência um pedaço que desse ao homem para comer em nada prejudicaria ao dono da mercadoria, Joaquim voltando-se para o declarante mandou-o também à puta que o pariu; que em vista do mau humor de Joaquim o declarante retirou-se do trapiche visto como naquele momento terminaria o trabalho do dia; que em seguida o declarante foi à pagadoria receber a sua diária; que ao voltar da pagadoria Joaquim desfechou-lhe quatro ou cinco tiros [...]”
P ortug uê s
Exercícios C om p l em en t ares 01. (UFV MG) REDAÇÃO Faça um texto-notícia para um jornal, num mínimo de 15 e num máximo de 20 linhas, noticiando a realização destas provas que você está fazendo. Informe as datas, o horário, o local e comente o conteúdo das provas. Resposta pessoal 02. (FEI SP) “Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de FINADO. Escrevi-a com a pena da GALHOFA e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse CONÚBIO. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente FRÍVOLA não achará nele seu romance usual; ei-lo aí fica PRIVADO da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião”. Assinale a alternativa que indica o foco narrativo adotado no texto: a) o texto é narrado em primeira pessoa pelo autor do romance. b) o texto é narrado em primeira pessoa por Brás Cubas. c) o texto é narrado em primeira pessoa por Sterne. d) o texto é narrado em primeira pessoa por Xavier de Maistre. e) o texto é narrado em terceira pessoa. Texto comum às questões 03 e 04 Me responda, sargento
D05 Notícia
Dez anos, sargento, apartada do João. Uma tarde, sem se despedir montou no cavalinho pampa. Em dez anos de espera nunca deu notícia. Com a morte do meu velho, que me deixou o sítio, quinze dias atrás lá estava eu, bem quieta, cuidando da casa e da criação, ajudada por meu afilhado José, esse anjo de oito aninhos. Quem vai entrando sem bater palma nem pedir licença? Maltrapilho, chapéu na mão para fazer vida comigo. Mais de espanto que saudade aceitei, bom ou mau, eu disse, é o meu João. Nos primeiros dias foi bonzinho. Quem não gosta de uma cabeça de homem no travesseiro? Logo começou a beber, não me valia em nada no sítio. Eu saía bem cedo com o menino a lidar na roça, o bichão ficava dormindo. Bocejando de chinelo e desfrutando regalias. Não quer castigar o corpinho, um punhado de milho não joga para as galinhas. Só então, sargento, burra de mim, descobri o mistério. Ele voltou por amor da herança. Na primeira semana vendeu o leitão mais gordo do chiqueiro, não me deu satisfação. O sargento viu algum dinheiro? Nem eu.
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Ontem chegou bêbado e de óculos escuro. Espantou o menino para o terreiro e, fechados no quarto, bradou que eu tinha um amante, o meu afilhado bem que era filho. Antes de contar até três, eu dissesse o nome do pai. Mais que, de joelho e mão posta, negasse o outro homem, por mim o testemunho dos vizinhos, ele me cobriu de praga, murro, pontapé. Pegou da espingarda, me bateu com a coronha na cabeça. Obrigou a rezar na hora da morte e pedir louvado. Que eu abrisse a boca, enfiou o cano, fez que apertava o gatilho. Não satisfeito, sacou da garrucha, apagou o lampião a bala. Dois tiros na minha direção, só não acertou porque me desviei. Uma bala se enterrou na porta, a outra furou a cortina, em três pedaços a cabeça do São Jorge. Cansado de reinar, deitou-se vestido e de bota. Que a escrava servisse a janta na cama. Provou uma garfada e atirou o prato, manchando de feijão toda a parede: Quero outra, esta não prestou. Deus me acudiu, ao voltar com a bandeja ele roncava, espumando pelo dente de ouro. Agarrei meu filho, chorando e rezando corri a noite inteira. Ficasse lá no sítio era dona morta. E agora, sargento, que vai ser da minha vida? Que é que eu faço? 03. (UFRN) Quanto ao foco narrativo, marque a opção correta. a) A angústia do narrador intensifica-se no último parágrafo do texto. b) A protagonista se limita a narrar os fatos sem emitir opinião. c) A predominância do discurso indireto livre concorre para desacelerar o ritmo das ações. d) A protagonista oculta sua condição social através da variante linguística utilizada. 04. (UFRN) Sobre o tempo e o espaço, pode-se afirmar: a) Na história contada pela mulher, a protagonista se encontra no sítio e no tempo presente. b) A mulher e o sargento encontram-se no tempo presente, mas não no sítio. c) A mulher e o sargento encontram-se no sítio e no tempo passado. d) Na história contada pela mulher, o sargento se encontra no tempo passado, mas não no sítio. 05. (Unicamp SP) REDAÇÃO No dia 5 de outubro de 1999, terça-feira, o jornal CORREIO POPULAR, de Campinas, SP, publicou a seguinte manchete de primeira página, acompanhada de breve texto:
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias Questão 06. a) Narrador-personagem O narrador -personagem nos conduz a ver os outros personagens e a realidade da mesma forma como ele os vê. É ele quem oferece e impõe o padrão da narrativa, e o ouvinte apreende aqueles personagens e a realidade apenas através da percepção parcial do narrador-personagem. b) O personagem Doutor Mimoso é apresentado de forma favorável, com muitas qualidades positivas: é “justo”, “inteligentudo” e “bom”.
100 MIL FICAM SEM ÁGUA EM SUMARÉ
todo em sagacidades e finuras- é de “fimplus”! “de tintínibus”...
Um crime ambiental provocou a suspensão do abastecimento
- latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso, para ele, era fritada de
de água de cerca de 100 mil moradores de Sumaré. A medi-
meio ovo. O que porém bem.
da foi tomada na sexta-feira, quando uma mancha de óleo de aproximadamente 3 quilômetros de extensão surgiu nas águas
(ROSA, João Guimarães. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.)
do rio Atibaia. Anteontem, uma nova mancha apareceu nas
Na estrutura tradicional de um texto narrativo, uma das atri-
proximidades da Estação de Tratamento de Água I, na divisa en-
buições do narrador é nos dar informações a respeito dos personagens.
tre o bairro Nova Veneza e o município de Paulínia. A situação somente será normalizada na quinta-feira. A Cetesb investiga o caso e os técnicos acreditam que o produto (óleo diesel ou gasolina) foi despejado em esgoto doméstico em Paulínia. Leve em conta esta notícia e privilegie a hipótese dos técnicos, apresentada no final do texto. A partir desses elementos, escreva uma narração em terceira pessoa, caracterizando adequadamente personagens e ambiente. Crie um detetive ou um repórter investigativo que, quando tenta resolver o “crime ambiental”, descobre que o ocorrido é parte de uma conspiração maior.
Resposta pessoal
06. (Uerj RJ)
cargas d’água. No engano sem desengano: o de aprender prático o desfeitio da vida. Sorte? A gente vai - nos passos da história que vem.
Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que sempre fui arrimo de pai bêbado. Só que isso se deu, o que quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tempos! Eu trabalhava para um senhor Doutor Mimoso. 3
Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama - olh’alegre,
justo, inteligentudo - de calibre de quilate de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor, lençol e colcha, bom mesmo quando com dor-de-cabeça: bom, feito mingau adoçado. Versando chefe os solertes preceitos. Ordem, por fora; paciência por dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro poder ir ver seus chamados de seus doentes, tinha fechado um piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mão, dois animais de sela - prontos para qualquer aurora. 4
Identifique o tipo de narrador do texto de Guimarães Rosa e explique, com uma ou duas frases completas, como esse tipo de narrador nos conduz a ver os personagens e a situação em que se encontram. b) Considerando a descrição que o narrador faz do personagem, justifique, com uma frase completa, se a imagem do personagem Doutor Mimoso pode ser depreendida como positiva ou negativa.
Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás, com a
maleta dos remédios e petrechos, renquetrenque, estudante andante. Pois ele comigo proseava, me alentando, cabidamente, por norteação - a conversa manuscrita. Aquela conversa me dava muitos arredores. Ô homem! Inteligente como agulha e linha, feito pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado
qualquer. É aqui que entra a papagaia, aliás, é aqui que ficou chato, porque a papagaia era levadíssima da breca, começou a dizer palavrões homéricos e a citar trechos completos da última peça do Nelson Rodrigues, inclusive confessando desejos incontidos. Já ia mandar a papagaia pro raio que a partisse, quando chegou um vizinho em visita. Ele quando soube do drama disse que tinha dois papagaios comportadíssimos, tão comportados, que passavam o dia rezando. “Eu boto a sua papagaia perto, pode ser que ela se manque e fique igual a eles, rezadeira.” A senhora agradeceu e a papagaia foi. Conforme o prometido, o vizinho deixou a papagaia num poleiro, entre os dois papagaios. Foi aí que um deles abriu o olho e ficou só observando a novidade. Quando teve certeza de que a papagaia era mesmo da pá virada, catucou o outro e ordenou: “Pode parar de rezar porque ou eu muito em engano ou nossas preces acabam de ser atendidas!” (SÉRGIO, Renato. Dupla exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998, p.129)
Comentário. Para chegar à piada com o desfecho inesperado contido na última frase, Sérgio Porto cria toda uma expectativa, fazendo, inclusive, menção ao estado civil da dona papagaia e à “última peça de Nelson Rodrigues”. O que você vai fazer: Construindo um texto coeso e coerente, resumido à metade (ou até menos), sem os detalhes dispensáveis, mas garantindo a expectativa e a surpresa do fecho - obviamente com suas palavras - reconte esta piada.
Questão 07. Há várias opções. Uma papagaia pornô. Este era o animal de estimação de uma senhora, solteira, mas já estava pensando em dá-lo. A “bichinha” tinha por hábito dizer palavrões, recitar trechos de Nelson Rodrigues e até confessar os seus desejos. Certo dia, um vizinho propôs ajudar a senhora, pois também possuía papagaios - bem comportados e rezadores. Levou-a, colocou-a no poleiro junto com os dois. Um deles, encantado com a “novidade”, disse ao outro que parasse de rezar, pois com certeza, Deus tinha ouvido as preces deles.
713
D05 Notícia
Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto; que vale
enterrar minhocas? De como aqui me vi, sutil assim, por tantas
2
a história e dela participa.
07. (UFV MG) Como era uma senhora solteira, ficava até um pouco puxado para o tarado o fato de ela não se dedicar a um bicho - UAI, EU?
1
a) O narrador onisciente é aquele que sabe tudo sobre todos os personagens e suas ações; o narrador-personagem conta
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D06
ASSUNTOS ABORDADOS n Editorial n Estrutura do editorial n Tipos de introdução n Metalinguagem no editorial n Exemplo de editorial
EDITORIAL O editorial, diferente da notícia, não tem a obrigação de ser neutro e imparcial. Ele representa, sobretudo, a orientação opinativa do veículo de comunicação, seja um jornal seja uma revista, acerca de determinados fatos ou ocorrências. Os editoriais, por exemplo, em se tratando de política, podem assumir um caráter de esquerda ou de direita. Nesse sentido, é muito importante que o editorialista saiba se posicionar diante dos acontecimentos políticos para fidelizar e não decepcionar o público leitor. Apesar de diferir da notícia quanto à sua parcialidade, o objetivo principal do editorial, como de todo gênero textual jornalístico, é o de informar, porém, sob um viés opinativo. Assim, os acontecimentos relatados em um editorial estão sob a subjetividade do editorialista, o qual carrega o nome do veículo de comunicação. Lembre-se também de que esse tipo de texto não leva a assinatura de ninguém. O editorial possui um fato e uma opinião. O fato informa o que aconteceu e a opinião transmite a interpretação do que aconteceu. As principais características desse gênero são: n n n
Texto de caráter dissertativo: desenvolve argumentos baseados em uma ideia central; Texto de caráter crítico: expõe um ponto de vista; Texto de caráter informativo: relata um acontecimento.
Estrutura do editorial É importante destacar que o gênero editorial, comumente, é curto e conciso. Então, tome nota das funções que você deve desempenhar em cada parte do texto, a fim de que o seu editorial cumpra, de forma objetiva, o seu papel: n n
n
714
Introdução: parte em que o assunto é identificado, ou seja, apresenta a ideia central; Desenvolvimento: parte em que o tema é problematizado e fundamenta-se o ponto de vista do periódico por meio de dados estatísticos, citações, exemplos, comparações, depoimentos etc.; Conclusão: parte em que o autor pode apresentar soluções para o problema ou fazer uma síntese do que foi discutido, instigando a reflexão crítica em seus leitores.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Introdução por dados estatísticos ou notícias 1) Introdução do Editorial “Inflação não cai no ritmo esperado pelo BC”, publicado pelo jornal Estadão. “O primeiro sinal captado pelo IBGE para inflação de 2016 é o de que a desaceleração dos preços não será tão acentuada como vem projetando o Banco Central (BC). A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) – cujo período de coleta vai do dia 15 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência – foi de 0,92%. É um índice menor do que o de dezembro, de 1,18%, mas ainda alto o bastante para sugerir que será difícil que o acumulado do ano fique em 6,2%, como foi projetado pelo BC no Relatório Trimestral de Inflação divulgado na segunda quinzena de dezembro.” (Estadão/Acesso em: 25/01/2016)
2) Introdução do Editorial “53 mil zeros”, publicado pelo jornal digital O presente. “As notícias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) divulgadas ontem (11) pelo Ministério da Educação mostram, mais uma vez, que o país é recheado de pessoas despreparadas para ocupar um banco na faculdade. Ao todo, 104 candidatos tiraram nota máxima na prova de redação, a mais temida de todas as fases para a ampla maioria dos postulantes a uma vaga no Ensino Superior. Por outro lado, mais de 53 mil tiraram nota zero. É o retrato de um país que ainda não sabe educar a maioria de suas crianças e adolescentes. O resultado é estarrecedor, desespera e aponta para um norte que o país precisa caminhar: melhorar a educação pública.” (O Presente/Acesso em: 25/01/2016)
Os fatores mais utilizados para a construção de uma introdução do gênero editorial são dados e estatísticas de noticiários, uma vez que tais aspectos promovem o surgi-
mento de possíveis problematizações relacionadas a algum recorte temático. A introdução 1, por exemplo, traz uma comparação entre dados estatísticos e evidencia um problema quanto à inflação do país. Já a introdução 2 apresenta situações relacionadas com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as quais nos permitem analisar a qualidade da educação no Brasil. A introdução por dados estatísticos ou notícias é, nesse sentido, muito comum em editoriais, já que tais aspectos são medidores de desenvolvimento de uma sociedade. Introdução por alusão histórica 1) Introdução do Editorial “O petróleo é nosso. E daí?”, publicado pelo jornal digital O presente. “Getúlio Vargas está se revirando no caixão. Ao pronunciar a famosa frase “O petróleo é nosso”, em meados dos anos de 1940, na ocasião em que o governo descobriu reservas consideráveis em solo nacional e que culminaria na criação da Petrobras, talvez não imaginasse a algazarra que se tornaria a estatal 60 anos mais tarde. A petrolífera é hoje um vexame nacional, fadada a um fracasso iminente por conta de corrupção escancarada, políticas burras e ações incompetentes na condução dos negócios.” (O Presente/Acesso em 25/01/2016)
Para definir e, por conseguinte, analisar uma sociedade, a melhor fonte que temos é a história de um povo. Dessa maneira, o recurso de alusão histórica em editoriais é bastante importante, pois acontecimentos e características comportamentais podem ser relacionados e, a partir dessa comparação, é possível fazer reflexões críticas e avaliações sobre a ocorrência ou o fato. Os acontecimentos históricos, embora não sejam tão comuns quanto os dados estatísticos e as notícias, são significativos fatores que geram um editorial, haja vista que, para entender o presente, não há nada melhor do que analisar o passado.
D06 E ditorial
Tipos de introdução
715
P ortug uê s
Metalinguagem no editorial A metalinguagem é um recurso presente nos textos editoriais, cujas marcas linguísticas trazem referências ao próprio meio de comunicação. Leia a seguir o exemplo: “A região de Araçatuba sai na frente e abre caminho para um debate de interesse nacional ao discutir e aprovar mecanismos que ampliam a exigência de “ficha limpa” para a ocupação de cargos públicos e acomodação de apadrinhados. Reportagem publicada hoje pela Folha da Região revela que a Câmara de Lins acaba de aprovar lei estendendo a abrangência para o preenchimento de cargos de confiança na administração municipal.” (Folha da região/Acesso em 25/01/2016)
Exemplo de editorial Dois medos A violência e o desemprego vão pautar a campanha eleitoral e serão os assuntos principais dos candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais. Introdução No Brasil, a maioridade civil se dá aos 18 anos. Para grande parcela dos jovens, é o momento de conclusão do Ensino Médio – portanto, fim da educação básica – e, para muitos, o ingresso na educação superior a fim de adquirir uma formação universitária que lhes permita o ingresso em uma profissão. É uma época da vida em que começam as preocupações com o futuro, o trabalho e os problemas da vida adulta. Pesquisas e estudos vêm apontando que, além dos medos de ordem individual (como o medo de morrer ou de perder os pais), dois medos recorrentes aparecem nos primeiros lugares: o medo da violência e o medo do desemprego.
D06 E ditorial
Desenvolvimento Seguramente, esses dois medos acometem também os pais e a população em geral. Em ano eleitoral, vão pautar a campanha e serão os assuntos principais dos candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais. É importante que a sociedade, por seus vários segmentos, estude, debata e entenda a complexidade dessas mazelas que, no Brasil, assumiram proporções de tragédia social e se tornaram os dois gigantescos desafios da nação como um todo. Em relação à violência, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública produziu um estudo no ano passado sobre o grau de medo da população brasileira a partir de dezesseis situações de violência ou vulnerabilidade, sob o título “Medo da violência e apoio ao autoritarismo no Brasil”.
716
O estudo contém diversas informações úteis para compreensão da situação social vigente no país, com destaque para a conclusão de que, quanto mais amedrontada, mais a população demonstra propensão para apoiar o autoritarismo. Sendo recordista em homicídios – mais de 60 mil pessoas assassinadas por ano –, os índices de criminalidade ajudam a desmoronar a confiança da população nas instituições. Segundo estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas em 2016, apenas 25% da população confia na polícia; 29%, no Judiciário; 11%, na Presidência da República; e 10%, no Congresso. A consequência imediata desse panorama é a descrença na democracia e o apoio a soluções políticas autoritárias. O segundo medo de natureza social é o desemprego. Tendo fechado 2017 com 12,6 milhões de desempregados, equivalentes a 12% da força de trabalho, não é de estranhar que o desemprego atormente a mente dos jovens que entram na universidade e, principalmente, daqueles que se formam, como de resto é o principal flagelo de famílias e profissionais maduros. É bem verdade que o país está saindo da mais grave recessão de sua história, cuja característica é sempre alto desemprego, queda de salários médios e desestruturação financeira de milhões de famílias. Mas o desemprego e o subemprego (trabalho em tempo parcial) são tão elevados que o crescimento da produção nacional necessário para trazer a taxa de desemprego à metade é inalcançável no curto prazo. Conclusão Em 27 de dezembro de 2017, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou projeções e informou que, se a economia brasileira crescer 3% em 2018, deverão ser gerados 1,78 milhão de empregos no ano. Para gerar 2 milhões de empregos formais, o PIB teria de crescer 3,5%, diz o MTE. Para um país que tem 12,6 milhões de desempregados e outros 6 milhões em subemprego, é muito pouco. O desemprego continuará elevado. Adicione-se a esse quadro um fenômeno moderno que dificulta a elevação do nível de emprego à medida que o PIB cresce. Trata-se da velocidade com que a tecnologia vem se espalhando pela economia e revolucionando os processos produtivos, cujo efeito é mais produto com menos gente. As tecnologias que permitem aumentar as quantidades produzidas usando menor número de trabalhadores provocarão alteração no mundo do trabalho e obrigarão as nações a descobrir formas de resolver o problema do desemprego e contribuir para diminuir o pânico dos trabalhadores. É uma tarefa difícil, para a qual não há solução simplista. (Texto extraído do site: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/dois-medos-1q5r4a4x0nfdi5mq6adbw8zrc Acesso no dia: 14/03/2018)
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias Questão 01. Fernando Seixas mostra-se extremamente movido pela ambição e sedução. No entanto, prezava a sua honra e palavra, o que o faz suportar por vários meses as humilhações de Aurélia. Consegue recuperar o dinheiro do dote e procura obter a sua liberdade.
Questão 03. a) descrição b) Utilização de pormenores individualizantes (exemplo) adjetivação intensa para caracterizar o substantivo descrito (exemplo), presença de verbos de estado (exemplo).
Exercícios de Fixação
Em um texto de no máximo 10 linhas, demonstre que a descrição acima oferece elementos para entender o fato de Seixas deixar-se comprar por Aurélia, ao mesmo tempo que revela os valores que lhe permitirão resgatar sua própria honra e o amor de Aurélia. 02. (Unifor CE) Do avião saltamos para a jardineira, a caminho da cidade. A princípio, só o trajeto aborrecido, na pressa de chegar. Que fazer desses ermos lobrigados de passagem, que nos sensibilizam a vista, e daqui a pouco esqueceremos na contemplação de outras formas naturais menos secas? Há uma lagoa na região, e não se deixa ver. De repente começamos a sentir que essa terra humilde vai nos interessando, em seu desconforto. O mato dos barrancos perdeu o verde nativo; tudo ficou vermelho, amarelo ou pardo, tocado de pó incansável. Como se chamam esses vegetais, só Riobaldo Tatarana sabe, e hei de consultá-lo na volta. A paisagem toca pelo que não tem, pela pobreza calma. Não há imprevisto. Nos postos de grama pouca, só as grandes bossas dos cupins se expõem, bichos imobilizados. E à paz do campo mineiro se ajunta, aprofundando-a, a paz do domingo mineiro. Nunca será tão domingo como aqui, e domingo e domingo de eternidade se concentram em vigorosa dominicalização. Não acontecer nada, que beatitude! Deixar o mato crescer – mas o próprio mato foge à obrigação, e goza o domingo. Lá estão o touro zebu e seu harém de nobres e modestas vacas – porque o zebu alia à majestade indiana a placidez das Minas, e boi nenhum se fez tão mineiro quanto esse, e bicho nenhum é tão mineiro quanto o boi, em seu calado conhecimento da vida, sua participação no trabalho. O rebanho amontoa-se em círculo, algumas reses em pé, outras deitadas, chifres cumprimentando-se sem ruído. Parece um só boi espalhado, maginando. Com o pincel do rabo, executa o milenar movimento de repelir a mosca, se é que não o pratica pelo prazer de abanar-se. Mas há bois esparsos, bois solitários, que se postam junto a árvores, aparentemente recolhidos; ou fitam o carro que levanta poeira sobre a poeira habitual, e ruminam não sei que novelas de boi. A terra é um universal domingo, as estampas não se destacam, desaparecem na série. Figura humana é que custa a
aparecer. Só o garotinho que brincava no barro, entre galinhas, e o braço de homem, no fundo escuro da casa desbeiçada, erguendo a garrafa.
Carlos Drummond de Andrade
No texto, a) a descrição e a narração estão usadas como recursos expressivos de uma dissertação. b) há predominância de traços descritivos mesclados a comentários interpretativos. c) o encadeamento causal das ações harmoniza-se com uma estrutura narrativa. d) há relatos de fatos ligados a análises de sentimentos, emoções, conflitos internos. e) há alternância de traços narrativos e dissertativos ao longo dos parágrafos. 03. (Unirio RJ) “Dunas de areia estendem-se ao longo de toda a praia de Lagoa do Mato. Fora do circuito tradicional do litoral cearense, Lagoa do Mato lembra a sua vizinha Canoa Quebrada antes de ser descoberta e ganhar uma infraestrutura que hoje inclui até restaurante francês. Em Lagoa do Mato não há nada parecido. É um lugar de beleza exótica e agreste. As montanhas de areia estão cobertas por murici, plantinha verde de folhas pequenas que tem 90% do seu caule soterrado pela areia.” Revista Veja, 1996.
a) Qual o tipo de composição do texto? b) Justifique sua resposta anterior com dados do próprio texto? 04. (Fuvest SP) A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, com uma portinha pequena. Logo à entrada, um cheiro mole e salobro enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e a umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança. (Eça de Queirós, O PRIMO BASÍLIO)
Observando-se os recursos de estilo presentes na composição desse trecho, é correto afirmar que a) o acúmulo de pormenores induz a uma percepção impessoal e neutra do real. b) a descrição assume caráter impressionista, dando também dimensão subjetiva à percepção do espaço. c) as descrições veiculam as impressões do narrador, e o monólogo interior, as da personagem. d) a carência de adjetivos confere caráter objetivo e real à representação do espaço. e) o predomínio da descrição confere caráter expressionista ao relato, eliminando seus resíduos subjetivos.
717
D06 E ditorial
01. (UFPR) Na segunda parte de Senhora, de José de Alencar, o narrador faz a seguinte descrição dos valores morais de Fernando Seixas: Para o leão fluminense, mentir a uma senhora, insinuar-lhe uma esperança de casamento, trair um amigo, seduzir-lhe a mulher, eram passes de um jogo social, permitidos pelo código da vida elegante. A moral inventada para uso dos colégios nada tinha que ver com as distrações da gente do tom. Faltar porém à palavra dada; retirar sem motivo uma promessa formal de casamento era, no conceito de Seixas, ato que desairava um cavalheiro.
P ortug uê s Questão 02. O excerto em destaque expressa uma condenação às inúmeras fotografias que se popularizam na forma de selfies. Assim, a pontuação adequada a essa postura crítica seria: “Todas as outras? Que ideia!”
Exercícios C om p l em en t ares 01. (ESPM SP) Em uma das frases, ocorre uma ambiguidade ou duplo sentido. Identifique-a:
de que haja uma prática do plágio já consolidada 14 na obra
a) Ex-presidente recorreu ao Comitê da ONU acusando o
musical e teatral de Chico Buarque. Uma vez
c) “Pokemon Go” leva jogadores à caça em cemitérios e igrejas no Brasil. d) Líderes governamentais com tensões e saias-justas na mala vão à China para o G20.
Mas, apesar de suas intenções deslegitimadoras,
19
cabe reconhecer ao crítico o mérito de destacar em
20
18
Chico Buarque a capacidade de tecer um intenso diálogo 21
e) O ministro do STF afirmou que os integrantes do Mi-
com as obras de outros autores. Obviamente, 22 depen-
dendo da perspectiva, tal característica pode ser 23 estig-
nistério Público Federal devem “calçar as sandálias da
matizada como desdenhável propensão ao plágio
humildade”.
pelo contrário, enaltecida como admirável vocação
24
ou, 25
à
intertextualidade.
02. (Fuvest SP) A praga dos selfies De uma coisa tenho certeza. A foto pelo celular vale apenas pelo momento. Não será feito um álbum de fotografias, como no passado, onde víamos as imagens, lembrávamos da família, de férias, de alegrias. As imagens ficarão esquecidas em um imenso arquivo. Talvez uma ou outra, mais especial, seja revivida. Todas as outras, que ideia. Só valem pelo prazer de fazer o selfie. Mostrar a alguns amigos. Mas o significado original da foto de família ou com amigos, que seria preservar o momento, está perdido. Vale pelo instante, como até grandes amores são hoje em dia. É o sorriso, o clique, e obrigado. A conquista: uma foto com alguém conhecido. W. Carrasco, “A praga dos selfies”. Época, 26.09.2016.
Reescreva a frase “Todas as outras, que ideia.”, substituindo os dois sinais de pontuação nela empregados por outros, de tal maneira que fique mais evidente a entonação que ela tem no contexto. 03. (Puc RS) 01 A estreia de Chico Buarque na literatura foi marcada 02 pela acusação mais infamante que um escritor pode receber: o plágio. No coro de elogios e apreciação que, 04
merecidamente, acompanhou o lançamento de Estorvo
05
(1991), foi possível ouvir poucas vozes dissonantes. Mas a teoria do plágio estava apenas no início de
formulação e, em breve, voltou a ser reproposta. O
07
08
sua
pala-
dino mais aguerrido da cruzada a favor da justiça literária 09
D06 E ditorial
novo campo expressivo no qual o compositor 17 saqueador continuaria a sua atividade habitual.
bus, mesmo após liberação pela Prefeitura.
06
posta essa
premissa, consequentemente a literatura seria apenas um
juiz de violar seus direitos.
03
15
16
b) Sem placa orientadora, taxistas evitam corredor de ôni-
foi, sem dúvida, o professor e crítico Wilson Martins, 10 que
718
das as acusações lançadas por Martins decorrem da 13 ideia
das páginas de importantes jornais e revistas moveu
11
re-
petidos ataques com tons cada vez mais irreverentes.
12
To-
Fragmento adaptado de: BACCHINI, Luca. Se Chico Buarque numa noite de inverno… Apologia do plágio em Budapeste. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 63, abr. 2016.
Considere as possibilidades de conclusão para o texto e assinale a que mantém a coesão e a coerência com os demais parágrafos, garantindo a correção e a progressão temática. a) Afinal, toda a literatura (não só a boa, mas sobretudo a boa) parece fundar-se desde sempre na intertextualidade. “Os livros falam sempre de outros livros e cada história conta outra história que já foi contada”, pontua Umberto Eco ao refletir sobre a sua experiência de escritor. b) Porquanto, toda literatura parece fundar-se desde sempre na intertextualidade (não só a boa, mas sobretudo a boa). Explica Umberto Eco ao refletir sobre a sua experiência de escritor: “Os livros falam sempre de outros livros e cada história conta outra história que já foi contada”. c) Conquanto toda a literatura parece fundar-se desde sempre na intertextualidade, “os livros falam sempre de outros livros e cada história (não só a boa, mas sobretudo a boa) conta outra história que já foi contada”, afirma Umberto Eco ao refletir sobre sua experiência de escritor. d) Toda literatura, não só a boa, mas sobretudo a boa, pois, desde sempre funda-se na intertextualidade. Comenta Umberto Eco que, quando reflete sobre sua experiência de escritor, descobriu que os livros falam sempre de outros livros e cada história conta outra história que já foi contada. e) Quando refletia sobre sua experiência de escritor, Umberto Eco dizia que os livros falam sempre de outros livros e, cada história, conta outra história que já foi contada. Neste caso, toda a literatura funda-se na intertextualidade, que não é só a boa, mas sobretudo a boa.
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
Desconfie de médico que mal te olha e já pede exames Médicos e hospitais ainda não se sentem confortáveis quando o paciente assume o protagonismo do seu problema de saúde e os enchem de perguntas ou questionamentos. Passei por essa experiência no último sábado, após sofrer uma queda e, em seguida, um desmaio em Recife (PE). Por precaução, fui levada a uma emergência de um hospital privado. O plantonista, um cirurgião plástico, não me examinou, mal me olhou e já pediu um raio-X do joelho direito (que ficou todo ralado com a queda) e uma tomografia de crânio, mesmo após eu e meu acompanhante garantirmos que não havia batido a cabeça (já estava sentada e amparada por um amigo quando apaguei). Questionei o motivo da indicação da tomografia e se os riscos (radiação acumulada aumenta a chance de câncer) não seriam maiores do que os benefícios (já que o médico mesmo reconhecia que muito provavelmente o exame daria normal porque não havia batido a cabeça). Ele insistiu com os exames e indicou medicação endovenosa para dor e para minha queixa de enjoo. Insisti que não precisava de medicação na veia já que havia alternativa de medicamento oral... Muito a contragosto, ele substituiu a medicação. Mas continuava incomodada com a falta de assistência. Para mim, apenas a prescrição de remédios e exames não se traduzem em cuidado adequado. Liguei então para um amigo de Recife, um médico de família, que prontamente foi até o hospital me avaliar e, como já esperava, concluiu que estava tudo bem. Pedi para ser liberada, não tive sucesso. O médico que escolhi para me assistir pediu a mesma coisa e não foi atendido por não fazer parte do corpo clínico do hospital. O plantonista ficou tão furioso que se recusou a falar com o meu médico. Resumo da ópera: quase precisamos chamar a polícia para fazer valer o meu direito de ouvir uma segunda opinião médica e optar por ela em vez de seguir o recomendado pelo médico plantonista. Isso me fez lembrar dos inúmeros tratamentos médicos desnecessários e de uma campanha, chamada de Choosing Wisely (escolhendo sabiamente, em tradução livre), que está em curso para diminuí-los. Nela, os pacientes também são incentivados a fazer mais perguntas sobre os procedimentos. É uma iniciativa que deveria ser abraçada por todas as especialidades médicas. Por enquanto, só a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e a Sociedade Brasileira de Cardiologia encamparam a ideia no Brasil. A iniciativa começou em 2012, nos EUA, por meio da Abim (American Board of Internal Medicine). Hoje está consolidada em diversos países, entre eles, Canadá, Itália, Holanda e Suíça. Por aqui, a campanha está sendo facilitada pela Proqualis. Choosing Wisely surgiu da percepção de que falta sabedoria quando há utilização exagerada ou inapropriada de recursos na saúde. A campanha convida as especialidades médicas
a fazer uma autocrítica sobre condutas que não deveriam estar sendo adotadas por serem comprovadamente deletérias, ineficazes ou inúteis... Que fique bem claro: não sou contra exames preventivos quando bem indicados e usados de forma racional. Mas cada vez mais desconfio de médico que mal te olha, não te examina e já sai pedindo exames. (COLLUCCI, Cláudia Folha de S. Paulo, 26, out. 2016. Disponível em www1.folha.uol.com.br/.../1826227. Acesso em 28 out. 2016.
Leia as afirmações a seguir e analise os elementos de coesão em negrito: I. Insisti que não precisava de medicação na veia já que havia alternativa de medicamento oral... II. Liguei então para um amigo de Recife, um médico de família, que prontamente foi até o hospital me avaliar e, como já esperava, concluiu que estava tudo bem. a) Causalidade e conformidade b) Temporalidade e comparação c) Proporcionalidade e exemplificação d) Condicionalidade e finalidade e) Explicação e consequência 05. (FGV SP) Leia a tira a seguir.
(Dik Browne. Hagar, o Horrível. Folha de S.Paulo, 09.08.2015. Adaptado)
Levando em consideração os elementos verbais e não verbais dos quadrinhos, em conformidade com a norma-padrão, os termos que garantem coesão e coerência às falas das personagens são, respectivamente: a) este ... Existe b) aquele ... Existem c) esse ... Tem d) este ... Há e) aquele ... Há 719
D06 E ditorial
04. (Uniube MG)
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D07
ASSUNTOS ABORDADOS n Artigo de opinião I n Características gerais n Estrutura do artigo de opinião n Contra-argumentação
ARTIGO DE OPINIÃO I O artigo de opinião, como o próprio nome já diz, é um texto de caráter opinativo e argumentativo, cujo objetivo central é tratar um tema atual e de interesse da comunidade com a finalidade de convencer e persuadir o leitor. Nesse sentido, o autor deve sustentar seu ponto de vista por meio de informações coerentes, admissíveis e verossímeis. O artigo de opinião aparece, comumente, em jornais, revistas e meios digitais de informação como sites e blogs. É importante que você, estudante, como escritor de artigo de opinião, também leia bastante textos desse gênero com o fim de aumentar seu repertório de leitura, de atualizar seus conhecimentos gerais e de embasar com mais profundidade seus argumentos. Com a facilidade de acesso à informação, você pode procurar esses textos nos canais informativos citados. A leitura é breve e simples, pois são textos pequenos e a linguagem não é intelectualizada, uma vez que a intenção é atingir todo tipo de leitor. Como dito, é característica do artigo de opinião persuadir o leitor, cuja tentativa consiste no convencimento do(s) receptor(es) do texto a adotar o ponto de vista do emissor. Por esse motivo, é comum presenciarmos descrições detalhadas, apelo emotivo, acusações, humor satírico, ironia e fontes de informações precisas. A linguagem do artigo de opinião é preferencialmente objetiva. Entretanto, isso não impede o autor do texto de empregar sinais exclamativos e interrogativos que possam contribuir para destacar trechos pertinentes de sua redação. Ademais, também se utilizam, recorrentemente, verbos no imperativo, de modo a promover uma interação com o público leitor. Geralmente, trata-se de um tipo de texto escrito em primeira pessoa, em cujas linhas aparecem marcas de subjetividade. Contudo, também são possíveis artigos de opinião em terceira pessoa.
Características gerais n n n n n n n n n n
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Uso da argumentação e persuasão; Textos em primeira e terceira pessoas; Utilização de linguagem objetiva (3ª pessoa) ou subjetiva (1ª pessoa); Textos veiculados nos meios de comunicação e informação; Linguagem simples, objetiva e subjetiva; Temas da atualidade; Títulos polêmicos e provocativos; Verbos no presente e no imperativo; Obediência à linguagem padrão, devendo-se evitar as marcas utilizadas na oralidade; Exposição de uma ideia ou ponto de vista sobre determinado assunto.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Além das principais características de um artigo de opinião, existem também os procedimentos argumentativos dos quais o autor pode se utilizar para convencer o leitor. Conheça alguns desses procedimentos: n n n
n n
Estabelecer uma relação de causa e consequência; Comparar épocas e lugares; Construir, antecipadamente, contra-argumentos, ao antecipar ainda uma possível crítica dos leitores (lembre-se de que, também por esse motivo, é muito importante que, ao escrever, o autor saiba a qual público o texto se destina); Estabelecer a interlocução com o leitor; Produzir afirmações de efeito.
Estrutura do artigo de opinião Geralmente, os artigos de opinião seguem o padrão da estrutura dos textos dissertativos- argumentativos, a saber: n n n
Introdução (exposição): apresentação do tema que será discorrido durante o artigo. Desenvolvimento (interpretação): momento em que a opinião e a argumentação são os principais recursos utilizados. Conclusão (opinião): finalização do artigo com apresentação de ideias para solucionar os problemas sobre o tema proposto.
Contra-argumentação A contra-argumentação, ao contrário da argumentação, é uma estratégia linguística de ressalva, cujo objetivo é fortalecer o argumento principal do texto produzido. Esse recurso expressa o ponto de vista do escritor e confere maior indício de autoria. De todo modo, a contra-argumentação apresenta ideias contrárias à argumentação. Trata-se, nesse sentido, de uma estratégia bastante interessante, pois ela já antecipa uma posição contrária e dissuade o leitor dessa ideia. Exemplo de parágrafo contra-argumentativo Título: A Questão do Aborto na Adolescência Parágrafo de introdução: O aborto representa a retirada de um feto em fase de crescimento no interior do útero que pode ocorrer de maneira espontânea ou induzida. Com o aumento da gravidez entre as adolescentes e a legislação brasileira que não permite essa prática, torna-se essencial apresentar os principais problemas que podem envolver um aborto feito em casa ou numa clínica clandestina. Parágrafo argumentativo: Dentre os principais problemas do aborto na adolescência, podemos apontar o risco que correm as mães de realizarem os abortos sem conhecimento sobre o assunto. Em alguns casos, elas podem apresentar problemas no útero e dependendo da agressividade, pode resultar na incapacidade de ter mais filhos no futuro.
D07 Artigo de opinião I
Parágrafo contra-argumentativo: Na maioria dos casos, as jovens mães conseguem ter sucesso. No entanto, essa prática pode ser muito perigosa e devemos lembrar que não é permitido por lei. Assim, a melhor maneira de evitar o aborto é utilizar métodos anticoncepcionais confiáveis. Conclusão: Além da criação de Programas de Conscientização para os jovens, a luta para a legalização do aborto no Brasil deve continuar. Lembre-se de que quando isso acontecer, salvaremos muitas vidas.
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P ortug uê s
Exercícios de Fixação
cia e extos inteuem vidos alvez tura, scris po-
01. (Puc RS) Festas de casamento falsas viram moda na Argentina 01 Comida gostosa, música boa, bar liberado ____ 02 noite toda... quem nunca ______ até altas horas numa 03 boa festa de casamento? Esse ritual, que muitos já 04 presenciaram ao longo da vida, é, porém, desconhecido 05 para alguns representantes das gerações mais 06 jovens. 07 Mas há uma solução para elas: Casamento Falso 08 (ou Falsa Boda, no nome original em espanhol), uma 09 ideia de cinco amigos de La Plata, na Argentina. O 10 detalhe era que os convidados não eram amigos ou 11 parentes dos noivos, mas ilustres desconhecidos que 12 compraram entradas para o evento. 13 Martín Acerbi, um publicitário de 26 anos, estava 14 cansado de ir sempre ____ mesmas boates. “Queríamos 15 organizar uma festa diferente, original”, disse. E 16 assim pensaram em fazer esse evento “temático”, que 17 chamaram de Casamento Falso. 18 Pablo Boniface, um profissional de marketing de 19 32 anos que esteve em um Casamento Falso em 20 Buenos Aires em julho, disse que para ele foi a ocasião 21 perfeita para realizar algo que sempre quis fazer: 22 colocar uma gravata. 23 “Para mim essas festas são até melhores do que 24 um casamento real, _____ você não precisa se sentar 25 com estranhos e ficar entediado. Você passa bons 26 momentos com seus amigos e não se encontra com 27 todos os tios e avôs que normalmente frequentam 28 essas cerimônias”, disse Pablo.
man-
vam amiudatos à ra e a. onra o de gueepu-
Adaptado de: http://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/08/150831_ falsos_casamentos_tg. Acesso em 07 set. 2016.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto. a) a – se divertiu – às – porque b) à – divertiu-se – as – por que c) a – divertiu-se – as – porque d) à – se divertiu – às – por que e) a – divertiu-se – às – por que 02. (FGV SP) O Recomeço da História
D07 Artigo de opinião I
As novas condições materiais, base da globalização perversa, poderão alavancar a mutação filosófica do homem Vivemos em um mundo complexo, marcado na ordem material pela multiplicação incessante do número de objetos e na ordem imaterial pela infinidade de relações que aos objetos nos unem. Nosso mundo é complexo e confuso ao mesmo tempo, graças à força com a qual a ideologia penetra nos objetos e ações. Por isso mesmo, a era da globali-
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zação, mais do que qualquer outra antes dela, exige uma interpretação sistêmica cuidadosa, de modo a permitir que cada coisa seja redefinida em relação ao todo planetário. A grande sorte dos que desejam pensar a nossa época é a existência de uma técnica planetária, direta ou indiretamente presente em todos os lugares, e de uma política planetária, que une e norteia os objetos técnicos. Juntas, elas autorizam uma leitura ao mesmo tempo geral e específica, filosófica e prática, de cada ponto da Terra. Emerge, desse modo, uma universalidade empírica, de modo a ajudar na formulação de ideias que exprimam o que é o mundo e o que são os lugares. Cria-se, de fato, um novo mundo. Para sermos ainda mais precisos, o que, afinal, se cria é o mundo como realidade histórica unitária, ainda que ele seja extremamente diversificado. Ele é datado com uma data substantivamente única, graças aos traços comuns de sua constituição técnica e à existência de um único motor das ações hegemônicas, representado pelo lucro em escala global. É isso, aliás, que, junto à informação generalizada, assegura a cada lugar a comunhão universal com todos os outros. Ao contrário do que tanto se disse, a história universal não acabou; ela apenas começa. Milton Santos, Folha de S. Paulo, 09/01/2000.
O autor conclui o parágrafo, contradizendo uma afirmação que a) resulta de um procedimento intertextual. b) reproduz conhecimento próprio do senso comum. c) foi criada por ele como estratégia argumentativa. d) deve ser entendida como uma manifestação irônica. e) consiste numa paráfrase de um conhecido provérbio. 03. (UEPB) “Um comediante popular, como Tom Cavalcante, costuma dizer que a diferença está no uso da voz, não na idade da piada.” (ref. 16–18) Analise as proposições e marque a alternativa que apresenta a(s) correta(s). I. O artigo indefinido usado em “Um comediante” assume no contexto função semântica valorativa. II. O termo “não”, no enunciado, foi usado como formador de sentido e funciona como recurso argumentativo. III. O termo “como”, no enunciado, foi usado para produzir um efeito de relação conformativa. a) III apenas b) I e II c) I e III d) II e III e) II apenas
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Exercícios C om p l em en t ares
Texto I Deixas criar às portas o inimigo, Por ires buscar outro de tão longe, Por quem se despovoe o Reino antigo, Se enfraqueça e se vá deitando a longe? Buscas o incerto e incógnito perigo Por que a Fama te exalte e te lisonje Chamando-te senhor, com larga cópia, Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia? CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Edição crítica de Francisco da Silveira Bueno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000, p. 78)
Texto II Por que tanta oceania? tanta etiópia por fogo e ferro sempre conquistadas? Por que tanta aflição por tanta cópia salvadores de terras fatigadas? Cornualhas desse mundo, cornucópia de promessas jamais realizadas? Por que esse messianismo vos lisonje pretendeis encarnar o que está longe. (LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 87)
O fragmento citado no texto I compõe-se de interrogações conhecidas como “perguntas retóricas”, as quais dispensam respostas, pois contêm em si uma afirmação. Em tais perguntas, percebe-se que o eu poético dá voz ao a) discurso progressista de quem propõe uma vida dedicada às viagens de exploração. b) discurso reacionário de quem encoraja o imperialismo através da expansão territorial. c) discurso humanista de quem acredita na paz e no diálogo como única solução. d) discurso conservador de quem recomenda ponderação ao invés de heroísmo. e) discurso heroico de quem busca fama e glória através do sacrifício pessoal. 02. (FEI SP) 1 “Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. ELE, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos- e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera(...). 2 - Fabiano, VOCÊ é um homem, exclamou em voz alta. 3 Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando
bem, ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. (...) Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, ALGUÉM tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: 4 - Você é um bicho, Fabiano. 5 Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades”. O estilo do autor do texto anterior é caracterizado pelo frequente emprego do discurso indireto livre. Assinale a alternativa que transcreve uma passagem em que esse recurso é exemplificado a) “(...) a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera” (par. 1) b) “Fabiano ia satisfeito” (par. 1) c) “Sim senhor, arrumara-se” (par. 1) d) “Olhou em torno, com receio” (par. 3) e) “Fabiano, você é um homem” (par. 2) 03. (Fuvest SP) Sinha Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando. (Graciliano Ramos, Vidas secas)
Uma das características do estilo de Vidas secas é o uso do discurso indireto livre, que ocorre no trecho a) “Sinha Vitória falou assim”. b) “Fabiano resmungou”. c) “franziu a testa”. d) “que lembrança”. e) “olhou a mulher”. 04. (Fuvest SP) Observe este anúncio, com foto que retrata um depósito de lixo.
a) Passe para o discurso indireto a frase “Filho, um dia isso tudo será seu”.
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D07 Artigo de opinião I
01. (UFJF MG)
P ortug uê s Questão 04. a) Ele disse (afirmou, falou) que aquilo tudo seria de seu filho um (algum) dia. Há outras possibilidades. Importante é transformar será em seria; isso em aquilo . b) Sim. A ideia de herança é positiva. Na propaganda, ironicamente, é utilizada uma associação negativa entre o termo herança e a imagem fotográfica do lixo.
b) Considere a seguinte afirmação: Da associação entre a frase “Filho, um dia isso tudo será seu” e a imagem fotográfica decorre um sentido irônico. A afirmação aplica-se ao anúncio? Justifique resumidamente sua resposta.
05. (Puc GO) Mas ai do cacique que fia apenas em seus sentidos, vez que são ilusórios e no mais das vezes traiçoeiros. É preciso que haja o concurso dos espíritos para conhecer o verdadeiro destino que está nas mãos dos deuses. Destino este que pode ser alterado para melhor ou para pior, dependendo apenas do grau de entrosamento que possa existir entre os deuses, os espíritos e os sentidos. Os presságios fornecidos pelos deuses, por intermédio dos espíritos, têm de ser clareados pelo entendimento, que carece de treino e exercícios, para que as ações corretivas do destino sejam feitas na forma e no tempo corretos. Na verdade, o novo chefe ainda não domina com perfeição as complicadas engrenagens da magia, como as dominava seu pai. Por isso, se quiser continuar bem vivo e benquisto no comando supremo de sua nação, terá que aprender sem perda de tempo a trilhar por todos os caminhos, bifurcações e atalhos da tradicional magia. O pior é que ela, a magia, tem suas manhas, seus caprichos, seus brinquedos de esconde-esconde e não revela seus segredos assim pelas bordunas da ânsia, nem pelas alavancas da necessidade. Exige uma conjunção de diversas forças naturais e sobrenaturais, um clima adequado, uma estação propícia, como o mel da abelha e o fruto do sapoti. Embora não venha de graça, nem dispense o cultivo. Por isso o jovem líder, assim que redistribuir as mulheres em quinhões equânimes, apaziguar a tribo e realizar a festa de agradecimento aos deuses pelo resultado bélico, que também é uma forma sagrada de adormecer os descontentamentos mais renitentes, mergulhará com fervor contrito no mundo mágico dos ancestrais, a bebericar infusões, a fumegar ervas e a invocar os espíritos e, das informações que vier a receber, que espera não sejam poucas nem triviais, deseja fazer as melhores traduções possíveis e botá-las a serviço de seu aguerrido povo. E só então fazer-se merecedor por inteiro da confiança que a tribo, como um tributo unânime, lhe depositou. (LOURENÇO, Edival. Naqueles morros, depois da chuva: o jogo do Diabolô. São Paulo: Hedra, 2010. p. 160-161.)
D07 Artigo de opinião I
Com base no primeiro parágrafo do texto, marque a alternativa verdadeira, observando os aspectos linguísticos e suas relações com os efeitos de sentido, expressando a intencionalidade do autor: a) A palavra “ai”, no primeiro parágrafo do referido texto, é uma interjeição que permite a intervenção do enunciador; a anteposição da conjunção “mas” contrapõe os enunciados, dispersando a capacidade argumentativa do autor. b) Em “É preciso que haja o concurso dos espíritos”, a oração subordinante representa a avaliação do autor diante do relativo poder humano, apresentado na oração sujeito.
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c) A forma verbal “têm” é acentuada por constituir um dígrafo: conjunto de dois sinais gráficos que representam um único fonema. d) A palavra “fia”, na expressão “que fia” deriva do verbo fiar, que significa reduzir a fio, artefato fino, delgado.
06. (UEG GO) Você Sabe Como Funciona O Governo? As eleições seriam mais efetivas se todos conhecessem bem o funcionamento da administração. Mas não é tão fácil conhecer os meandros dos governos. Primeiro, porque a maioria não tem tempo para se informar e adquirir conhecimento sobre todas as partes que compõem a administração pública. Segundo, pela dificuldade óbvia de explicar assunto tão complexo para grupos menos escolarizados. E, terceiro, pela profusão de especialidades que se transforma em obstáculo para quem quer ter uma visão mais sistêmica do Estado. São economistas, cientistas políticos e administradores que muitas vezes apresentam diagnósticos díspares sobre os problemas e dialogam pouco entre si. [...] O senso comum diz que o maior problema da política brasileira está na corrupção. É uma visão equivocada. Muito mais do que a roubalheira, o que mais aflige nosso sistema político é o amadorismo e o despreparo de boa parte dos eleitos. O resultado é a ineficiência, que também favorece os corruptos e espertalhões, muitos deles localizados no “outro lado do balcão”: nas empresas, nos sindicatos e nas associações civis. O pouco conhecimento dos políticos acerca de administração é tanto maior no Poder Legislativo e nos níveis subnacionais, particularmente nos lugares menos desenvolvidos. Uma forma de combater esse mal seria os partidos políticos darem cursos a todos os seus candidatos e filiados sobre políticas públicas. [...] Tão importante quanto o aperfeiçoamento dos políticos é a pedagogia eleitoral dos cidadãos. Parto da premissa que a realização de eleições regulares, livres e competitivas, como tem ocorrido no Brasil, já é uma forma de instrução cidadã. Daí concluo que os eleitores hoje são melhores do que no passado. Contudo, o voto será sempre mais efetivo quanto mais informado for o eleitor. E o que mais falta ser conhecido pela sociedade é o funcionamento efetivo da administração, inclusive para abandonar a postura meramente demandante em prol da pressão qualificada por mudanças nas políticas públicas. [...]. ABRUCIO, Fernando. Você sabe como funciona o governo? Época. São Paulo, 9 ago. 2010. p. 41. (Adaptado).
No primeiro parágrafo, o autor usa uma a) exemplificação a partir da qual reforça sua tese inicial. b) enumeração de razões que explicam a ideia inicial do texto. c) comparação entre várias ideias que apontam direções argumentativas diferentes. d) oposição, que apresenta tanto argumentos favoráveis quanto contrários à sua tese.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D08
ARTIGO DE OPINIÃO II Você sabe, com segurança, definir o que é fato e o que é opinião? Você sabe trabalhar com os fatos de um acontecimento e, diante disso, dar a sua opinião? É muito importante que você, estudante em formação, saiba analisar os fatos, ponderar as opiniões adjacentes e, a partir disso, elaborar a sua própria opinião.
Fato X Opinião
ASSUNTOS ABORDADOS n Artigo de opinião II n Fato X Opinião n Orientações para a produção de um artigo de opinião n Exemplo
A melhor maneira de compreender o que é fato e o que é opinião é com exemplos atuais e cotidianos. Leia, portanto, os itens a seguir a respeito do aborto no Brasil: n n
n
Fato: quatro mulheres morrem, diariamente, segundo o jornal Estadão, vítimas de abortos malsucedidos em clínicas clandestinas. Opinião 1: diante desse cenário, o Governo Federal deve legalizar o aborto com o intuito de acabar com as clínicas clandestinas e garantir esse direito à mulher pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Opinião 2: diante desse cenário, o Governo Federal deve enrijecer as leis de combates ao aborto e promover campanhas contra essa prática.
Atente-se, nesse sentido, para o fato central da discussão: quatro mulheres morrem por dia devido a complicações no aborto. No entanto, desse fato podem decorrer duas opiniões opostas entre si com a tentativa de solucionar esse problema no Brasil. A primeira opinião acredita que, por meio da legalização, as mulheres correrão menos riscos de vida, uma vez que o aborto será garantido por instituições oficiais. Já a segunda preza pela vida do feto e pensa que só o enrijecimento das leis pode diminuir o número de mortes por aborto no Brasil. Note que, diante de um mesmo fato, duas opiniões totalmente opostas entre si, têm, por fim, o mesmo objetivo: acabar, ou pelo menos reduzir, o número de mortes por aborto. O ponto de partida é um só e, muitas vezes, os objetivos finais podem ser comuns, mas os caminhos que surgem são os mais diversos. Diante desse fato, como você se posiciona? Escreva em seu caderno um parágrafo que expresse sua opinião sobre o assunto em questão.
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P ortug uê s
Orientações para a produção de um artigo de opinião n
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n n
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Após a leitura de vários pontos de vista, anote em um papel os argumentos que mais lhe agradam. Eles podem ser úteis para fundamentar o ponto de vista que você vai desenvolver. Ao compor seu texto, leve em consideração o interlocutor: quem vai ler a sua produção. A linguagem deve ser adequada ao gênero e ao perfil do público leitor. Escolha os argumentos que podem fundamentar a ideia principal do texto de modo mais consciente e desenvolva-os. Pense em um enunciado capaz de expressar a ideia principal que pretende defender. Pense na melhor forma possível de concluir seu texto: retome o que foi exposto, confirme a ideia principal, ou faça uma citação de algum escritor ou alguém importante na área relativa ao tema debatido. Crie um título que desperte o interesse e a curiosidade do leitor. Após o término do texto, releia e observe: n se nele você se posiciona claramente sobre o tema; n se a ideia está fundamentada em argumentos fortes e se estão bem desenvolvidos; n se a linguagem está adequada ao gênero; n se o texto apresenta título e se é convidativo; n e se, por fim, o texto como um todo é persuasivo.
Exemplo Cada indivíduo é responsável por sua conduta Cassildo Souza
D08 Artigo de opinião II
Atribuir à sociedade como um todo a culpa por certos comportamentos errôneos não parece, em minha maneira de pensar, uma atitude sensata. Costumamos ouvir por aí
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coisas do tipo “O Brasil não tem mais jeito”, “O povo brasileiro é corrupto por natureza”, “Todas as pessoas são egoístas” e frases afins. Essa é uma visão já cristalizada no pensamento de boa parte de nosso povo. Entretanto, se há equívocos, se existem erros, se modos ilícitos são verificados, eles sempre terão partido de um indivíduo. Mesmo que depois essas práticas se propaguem, somente serão contaminados por elas aqueles que assim o desejarem. Uma corporação que, por exemplo, está sob investigação criminal em decorrência da ação de alguns de seus componentes, não estará necessariamente corrompida em sua totalidade. Aliás, a meu juízo, isso é quase impossível de acontecer. É preciso compreender que nem todo mundo se deixa influenciar por ações fraudulentas. De repente o que alguém acha interessante pode ser considerado totalmente inviável por outra pessoa e não acredito que seja justo um ser humano ser responsabilizado apenas por fazer parte de um grupo “contaminado”, mesmo sem ele, o cidadão, ter exercido qualquer coisa que comprometa a sua idoneidade moral. Todos sabemos que um indivíduo é constituído suficientemente para pagar por suas falcatruas. Por isso, não concordo que haja julgamento geral. É preciso que saibamos separar o bom do ruim, o honesto do corrupto, o bom-caráter do mau-caráter, o dissimulado do verdadeiro. Todos têm consciência do que seja certo ou errado e devem carregar sozinhos o fardo de terem sido desleais, incorretos e vulgares, sem manchar a imagem daqueles que, por vias do destino, constituem certas facções que não apresentam, totalitariamente, uma conduta legal. Texto extraído do site: https://centraldasletras.blogspot.com.br/p/modelos-de-redacao.html. Acesso em: 20 de março de 2018
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Exercícios de Fixação
EDUCAÇÃO FINANCEIRA − 4 Pontos Principais A Educação Financeira não deve ser confundida com o ensi-
08. A linguagem formal utilizada atende às exigências de um texto de ampla circulação, destinado, principalmente, a um público adulto.
no de técnicas ou com macetes de bem administrar dinhei-
02. (Unirv GO) A argumentação caracteriza-se como um pro-
ro. Tampouco deve funcionar como um manual de regrinhas
cedimento do autor para fazer o leitor aderir às suas teses difundidas em um texto. Ao argumentarmos, construímos
moralistas fáceis − longe disso, aliás. O objetivo da Educação Financeira deve ser o de criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro. Educação Financeira exige uma perspectiva de longo prazo, muito treino e persistência. Em linhas gerais, uma Educação Financeira apropriada deve ter como base 4 pontos: 1. Como ganhar dinheiro O grande desafio da educação não é educar para o hoje, mas educar para que os resultados possam florescer em 15, 20, 30 anos. Desenvolver o espírito empreendedor e estimular modos inovadores de raciocínio, por exemplo, são ferramentas essenciais à preparação de nossas crianças e jovens para o futuro. 2. Como gastar o dinheiro Muito da habilidade em lidar com finanças, tanto na infância quanto na vida adulta, depende de sermos capazes de diferenciar o “eu quero” do “eu preciso”. 3. Como poupar Existem várias razões para se aprender a poupar. Ter uma poupança − ou ser educado para isso − cria disciplina, dá limite e ensina autorrespeito. 4. Como doar tempo, talento e dinheiro
ideias, justificamo-las ordenando-as, buscando também seduzir o leitor, dirigindo os argumentos de modo a atingir nossa meta de persuasão. Assim, leia os itens abaixo e assinale (V) verdadeiro e (F) falso, considerando-os características do texto argumentativo. V-F-F-V a) O texto dissertativo argumentativo volta-se para uma única ideia, que é a tese do texto. Tudo o que se afirma ao longo da argumentação se volta para essa ideia. b) Um bom recurso que pode ser explorado é a utilização de outros autores que tratam do mesmo assunto sobre o qual se propõe a escrever, dispensando o registro e/ ou citação. c) O que realmente o texto precisa apresentar é coesão; os demais elementos da composição são facultativos ou podem ser dispensados. d) O bom texto argumentativo evita a redundância. 03. (Uncisal AL) “A mente humana é sadia quando possui competências relacionais que lhe permitem sair de si para abrir-se a uma realidade social feita de múltiplas diferenças, percebendo de forma adequada os outros e a diversidade da qual são portadores”. MAGARI, Simonetta. Revista Cidade Nova. São Paulo: Abril, ed. 582. Ano LVI, n. 10. out. 2014.
A Educação Financeira deve ensinar que a responsabilidade social e a ética precisam estar sempre presentes no ganho e uso do dinheiro. Adaptado de: http://www.educacaofinanceira.com.br/index.php/escolas/ conteudo/469. Acesso em 15/01/2017.
No que se refere à construção do texto, assinale o que for correto. 01. Utiliza a estratégia textual de enumeração, que auxilia a clareza da exposição. 02. Com o objetivo de provocar maior expectativa no leitor, o texto inicia com sentenças negativas, ou seja, não afirma já de início o que é a Educação Financeira, guarda essa informação para a sequência do parágrafo. 04. No ponto 1, o alvo da Educação Financeira são crianças e jovens; no ponto 2, o autor se inclui, uma vez que usa 1a pessoa do plural; nos pontos 3 e 4, não fica claro quem deve ser, especificamente, o alvo da Educação Financeira, ainda que seja possível inferir.
Assinale a alternativa em que a nova redação dada ao período em destaque no texto apresenta correlata substituição dos elementos linguístico-semânticos de acordo com a norma-padrão do português escrito. a) “A mente humana é sadia depois que possui competências relacionais que a permitem sair de si [...]” b) “A mente humana é sadia à medida que possui competências relacionais os quais lhe permitem sair de si [...]” c) “A mente humana é sadia sempre que possui competências relacionais as quais permitem a você sair de si [...]” d) “A mente humana é sadia sempre que possui competências relacionais com as quais permitem você sair de si [...]” e) “A mente humana é sadia todas as vezes que possui competências relacionais que permitem você sair de si [...]”
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D08 Artigo de opinião II
01. (UEPG PR)
P ortug uê s
Exercícios C om p l em en t ares 01. (Escs DF) 1 Fala-se muito em globalização. As finanças, a 2 informação simultânea, as migrações de povos, o crime 3 organizado, os conhecimentos científicos, a tecnologia, os 4 sistemas de poder, a produção e o trabalho humano, tudo isso 5 se globaliza. Pode-se exaltar a globalização como oportunidade 6 de crescimento econômico e cultural dos povos. Pode-se ainda 7 criticá-la em razão dos que a conduzem, ou de como a 8 conduzem, ou dos rumos que toma. Mas ela é irrefreável, 9 sobretudo por corresponder a muitas exigências dos seres humanos. 10 Essa afirmação pode sofrer duas objeções: uma vem 11 sustentar que a globalização resulta em acumulação de capital 12 e de poder em poucas mãos e no predomínio das finanças 13 internacionais sobre qualquer outro interesse; outra, que o 14 conceito e a natureza da globalização foram criados e 15 difundidos por forças neoliberais, com a intenção de levar 16 os povos a crer que não há alternativa e, assim, de negar a 17 função da política e da democracia. 8 Ambas as objeções baseiam-se em fatos reais. Pode-se 19 acrescentar que o ganho de capital passou a não respeitar nada 20 (a vida, a saúde e até mesmo as partes do corpo humano vão se 21 transformando em mercadoria) e que o credo neoliberal é 22 imposto aos povos com as regras do fundamentalismo 23 monetário, que não admite dissidências. É o que se evidencia 24 quando instituições financeiras internacionais subordinam sua 25 ajuda ao compromisso dos governos de reestruturar os sistemas 26 de saúde pública e previdência social. As consequências dessa 27 opção (e ainda mais, dos crescentes desníveis de renda, de 28 educação e de poder entre as classes e entre os povos) 29 traduziram-se por quase toda a parte em aumento das 30 desigualdades de níveis de saúde, documentadas por 31 estatísticas eloquentes, que se podem traduzir em milhões de 32 existências humanas truncadas ou prejudicadas. Giovanni Berlinguer. Globalização e saúde global. In: Estudos avançados. Vol. 13, n.º 35, São Paulo, jan./abr. 1999. Internet: <www.scielo.br> (com adaptações).
D08 Artigo de opinião II
Considerando os aspectos coesivos do texto, assinale a opção correta. a) A coesão do texto seria mantida caso o trecho “o conceito e a natureza da globalização” (R. 13 e 14) fosse substituído por seu conceito e sua natureza. b) Na referência 16, as formas verbais “crer” e “negar” poderiam ser corretamente flexionadas no plural, dado que o referente de seus sujeitos é “os povos”. c) Em “dessa opção” (Refs. 26 e 27), o pronome demonstrativo e o substantivo que o segue referem-se ao fato de organismos internacionais apresentarem exigências para prestar ajuda aos governos. d) “Essa afirmação” (Ref.10) retoma a ideia expressa em todo o primeiro parágrafo do texto.
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02. (Fuvest SP) 1 Tornando da malograda espera do tigre, alcançou o 2 capanga um casal de velhinhos, que seguiam diante dele o 3 mesmo caminho, e conversavam acerca de seus negócios 4 particulares. Das poucas palavras que apanhara, percebeu 5 Jão Fera que destinavam eles uns cinquenta mil-réis, tudo 6 quanto possuíam, à compra de mantimentos, a fim de fazer 7 um moquirão*, com que pretendiam abrir uma boa roça. 8 – Mas chegará, homem? perguntou a velha. 9 – Há de se espichar bem, mulher! 10 Uma voz os interrompeu: 11 – Por este preço dou eu conta da roça! 12 – Ah! É nhô Jão! 13 Conheciam os velhinhos o capanga, a quem tinham 14 por homem de palavra, e de fazer o que prometia. 15 Aceitaram sem mais hesitação; e foram mostrar o lugar que 16 estava destinado para o roçado. 17 Acompanhou-os Jão Fera; porém, mal seus olhos 18 descobriram entre os utensílios a enxada, a qual ele 19 esquecera um momento no afã de ganhar a soma precisa, 20 que sem mais deu costas ao par de velhinhos e foi-se 21 deixando-os embasbacados. José de Alencar, Til.
* moquirão = mutirão (mobilização coletiva para auxílio mútuo, de caráter gratuito). Considere os seguintes comentários sobre diferentes elementos linguísticos presentes no texto: I. Em “alcançou o capanga um casal de velhinhos” (L. 1-2), o contexto permite identificar qual é o sujeito, mesmo este estando posposto. II. O verbo sublinhado no trecho “que seguiam diante dele o mesmo caminho” (L. 2-3) poderia estar no singular sem prejuízo para a correção gramatical. III. No trecho “que destinavam eles uns cinquenta mil-réis” (L. 5), pode-se apontar um uso informal do pronome pessoal reto “eles”, como na frase “Você tem visto eles por aí?”. Está correto o que se afirma em a) I, apenas. c) III, apenas. e) I, II e III. b) II, apenas. d) I e II, apenas. 03. (Unievangélica GO) Economês – A Folha combate o economês, um vício de estilo comum em jornalismo econômico, como se vê no seguinte exemplo: A autoridade monetária está praticando uma política contracionista de elevação de juros reais com o objetivo de tentar conter o crescimento dos índices inflacionários. Todos os termos técnicos e jargões devem ser evitados ou explicados em linguagem compreensível para qualquer leitor. MANUAL de Redação da Folha de S. Paulo. São Paulo: Publifolha, 2010. p. 66. (Adaptado).
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
04. (UCS RS) O ignorante não sabe que o é Contardo Calligaris
Lena Dunham é a autora e a protagonista de “Girls”, o seriado da HBO 2 que estreia sua última temporada nesta semana. “Girls” é “Sex in the City”, 3 mas para gente grande – o que é irônico, porque o pessoal de “Girls” é mais 4 jovem do que o pessoal de “Sex in the City”. Enfim, Lena Dunham, pela boca 5 de sua personagem Hannah, reconheceu: “Tenho forte opinião sobre tudo. 6 Mesmo em tópicos sobre os quais sei pouco a respeito”. Talvez você não 7 goste de Lena Dunham e pule de alegria porque ela finalmente admitiu o que 8 você sempre pensou dela (ou seja, que ela é “metida” mesmo). Pois bem, não 9 pule. O que Dunham disse é apenas uma regra universal e incontestável: ao 10 tomar posição sobre qualquer tópico, quanto menos soubermos, tanto mais 11 mostraremos e sentiremos uma certeza absoluta. E quanto maior nossa 12 incompetência, tanto maior será nossa convicção na hora de agir. 13 Em 1995, o sr. McArthur Wheeler assaltou dois bancos depois de 14 molhar o rosto com suco de limão, absolutamente convencido de que 15 o suco funcionaria como tinta invisível e não deixaria seu rosto aparecer 16 nas gravações das câmeras de segurança. Todos podemos ter ideias 17 erradas, mas só os grandes incompetentes se avaliam como extremamente 18 competentes. 19 O fenômeno foi comprovado em 1999 por David Dunning e Justin Kruger, 20 psicólogos da Universidade Cornell, em uma série de experiências com a 21 prática médica, o jogo de xadrez, a capacidade de dirigir um carro, etc. Em 22 cada caso, as pessoas incompetentes não reconheciam o tamanho de sua 23 incompetência – só começavam a reconhecer sua incompetência efetiva se 24 e quando elas treinassem e se instruíssem para se tornarem competentes. 25 Ou seja, quanto mais a gente é ignorante e incompetente, mais a gente 26 tem certezas radicais e passionais. Inversamente, quem se afasta de sua 27 incompetência (informando-se ou formando-se) torna-se mais humilde 28 e mais disposto a duvidar de si. Em suma, ignorância e incompetência 29 produzem uma ilusão interna de saber e competência. Inversamente, saber 30 e competência produzem uma certa _________ do sujeito, que passa a 31 duvidar de si. 1
É possível pensar que a certeza passional seja uma maneira de compensar 33 (e esconder) nossa própria ignorância ou incompetência. Mas, de qualquer 34 forma, a explicação é intuitiva: quanto menos eu souber (do que for: de 35 motor de carro, de política econômica, de teatro, de amor, etc.), tanto menos 36 saberei medir o que não sei. Inversamente, quem sabe mede facilmente que 37 só sabe uma pequena parte do que gostaria de saber. Sócrates dizia que ele 38 só sabia que nada sabia. Por isso mesmo, o resultado da pesquisa pareceu 39 tão esperado que Dunning e Kruger, em 2000, ganharam o prêmio Ig Nobel 40 de irrelevância. Mas Dunning continuou e, em 2005, publicou um livro, “Self- 41 Insight”, cujas implicações são úteis. 42 Em época de grandes paixões e conflitos – ou, como se diz, de 43 polarizações – mundo afora, vale _________ pena lembrar que a certeza 44 (ainda mais quando for passional) é proporcional à ignorância e à 45 incompetência. Aplique isso ao campo da moral, da política e da religião: a 46 ignorância é a grande mãe de quase qualquer extremismo. O psicanalista 47 Jacques Lacan disse um dia que só os teólogos conseguiam ser verdadeiros 48 ateus: o saber e a competência nos afastam da certeza. 49 Enfim, alguém poderia se preocupar especificamente com uma 50 consequência disso tudo: se a ignorância e a incompetência nos 51 oferecem certezas (falsas, mas tanto faz), será que isso não significa que 52 os ignorantes e os incompetentes são os mais aptos a agir? Será que o 53 excesso de competência e de saber nos levariam a dúvidas sofridas e, 54 portanto, _________ incapacidade de agir? Por exemplo, deve ser fácil 55 decidir a política dos EUA a partir do noticiário da televisão, mas se você 56 lesse e estudasse todos os relatórios preparados pelas diferentes fontes que 57 informam o presidente, então a tomada de decisão se tornaria complicada, 58 _________. Obviamente, essa não é uma razão para se render às facilidades 59 da incompetência. Tampouco é uma razão para não agir. Para agir, é preciso 60 aceitar que a qualidade de um ato apareça nas dúvidas e não na certeza 61 de quem age, porque, como já dizia Touchstone, o bobo de “As You Like it” 62 (mais de 400 anos antes de Dunning e Kruger), “o idiota pensa que é sábio, 63 enquanto o sábio é aquele que sabe de ser idiota”. 32
Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/ 2017/02/1858984-o-ignorante-nao-sabe-que-o-e.shtml>. Acesso em: 2 mar. 17. (Adaptado.)
Assinale a alternativa em que o termo presente na COLUNA B melhor substitui, no texto, o da COLUNA A, mantendo-se a sinonímia a mais aproximada possível. COLUNA A
COLUNA B
a)
Irônico (Ref. 3)
Gracioso
b)
Convicção (Ref. 12)
Sensatez
c)
Passionais (Ref. 26)
Conscientes
d)
Intuitiva (Ref. 34)
Conceitual
e)
Implicações (Ref. 41)
Repercussões
D08 Artigo de opinião II
O período apresentado pelo Manual de Redação da Folha de S. Paulo como exemplo de economês pode ser reescrito, sem perder o sentido original, do seguinte modo: a) O Banco Central está contraindo os juros na tentativa de baixar o valor do Real. b) O Banco Central está baixando os juros para tentar estimular a deflação. c) O Banco Central está tentando reduzir a inflação com o crescimento econômico. d) O Banco Central está aumentando os juros para tentar segurar a inflação.
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FRENTE
D
PORTUGUÊS Questão 04. a) Descritivo e Dissertativo. b) Descrição: “um sono”, “um esquecimento”. Dissertação: formulação de hipóteses “talvez pensar”, “talvez dormir”, “talvez um esquecimento”.
Exercícios de A p rof u n dam en t o 01. (Unicamp SP) TEMA No século XXII, um cientista resolve criar o “homem perfeito”. Para tanto, desenvolve um “acelerador genético”, capaz de realizar em pouco tempo um processo que supostamente duraria milênios. Aplica o engenho a um pequeno número de cobaias humanas que, à idade propícia, são inseridas na sociedade, para cumprirem seu “destino”. Dessas cobaias, uma suicidou-se, outra tornou-se um criminoso, outra, presidente da república. A quarta é você, a quem cabe atestar o êxito ou o fracasso do experimento. Componha uma narrativa EM PRIMEIRA PESSOA que contenha - ações que justifiquem o desfecho das histórias de seus companheiros; - um desfecho inteiramente diferente para sua própria história. 02. (UFG GO)
b) Originária da Ásia e de grande variedade de cores, a prímula, cujas flores exalam agradável perfume, é uma espécie de planta ornamental que pode ser cultivada em vasos e jardins. c) Podendo ser cultivada em vasos e jardins, a prímula - uma espécie de planta ornamental originária da Ásia que possui flores de grande variedade de cores - exala agradável perfume. d) Originária da Ásia e uma espécie de planta ornamental, a prímula, em que o cultivo pode ser em vasos e nos jardins e que possui flores de grande variedade de cores, exala agradável perfume. e) De grande variedade de cores as flores da prímula, originária da Ásia e podendo ser cultivada em vasos e em jardins, são uma espécie de planta ornamental que exala agradável perfume. 04. (Fuvest SP) Ser consciente é talvez um esquecimento. Talvez pensar um sonho seja, ou um sono. Talvez dormir seja, um momento, Voltar o ‘spirito nosso a ser dono. [Fernando Pessoa]
a) O trecho anterior, do ponto de vista da composição, classifica-se como descritivo, narrativo ou dissertativo? b) Justifique sua resposta, transcrevendo pelo menos dois elementos do texto. 05. (Unic MT) Comparando os aspectos formais presentes em ambas as tiras, constata-se a) o uso reiterado de onomatopeias. b) a repetição de cenas como marcação de tempo. c) a variação de planos no desenrolar da ação. d) o traço realista na representação das personagens. e) o emprego de balões como indicação de monólogo. 03. (ITA SP) Assinale a opção que apresenta a melhor redação, considerando as informações a, seguir: Prímula é uma espécie de planta ornamental. Ela é originária da Ásia e suas flores exalam agradável perfume. Pode ser cultivada em vasos e nos jardins. A prímula possui grande variedade de cores. a) Uma espécie de planta ornamental originária da Ásia, a prímula, de grande variedade de cores cujo cultivo pode ser em vasos e jardins, possui flores que exalam agradável perfume. 730
O Sistema Único de Saúde Antes da criação do SUS, com a lei 8.080 de 1990, 2 o sistema de saúde no Brasil era insuficiente, mal 3 distribuído, inadequado, ineficiente e ineficaz. Na 4 realidade, o SUS continua, sob vários aspectos, 5 ineficiente e inadequado, mas, apesar das críticas que 6 se podem fazer ao sistema de saúde pública no Brasil, 7 é exato dizer que, nestes mais de 25 anos de existência, 8 o SUS já atendeu milhões de pessoas por todo o país, a 9 atenção básica foi ampliada para praticamente 100% da 10 população brasileira, houve redução da mortalidade 11 infantil e aumento da expectativa de vida da população, 12 além de uma oferta de serviços mais complexos, como 13 transplantes para cirurgias cardíacas. 14 O seu caráter de universalidade é uma conquista 15 sem precedentes para a sociedade: a saúde como direito 16 de todos e dever do Estado. 1
Ling uag ens, Códig os e suas T ecnolog ias
MEDEIROS, Alexsandro M. Políticas públicas de saúde. Disponível em: http:// www.portalconscienciapolitica.com.br/ci%C3%AAncia-politica/politicas-publicas/ saude/ Acesso em 04.09.2016. (Passim, adaptado).
O uso da expressão “Tratado das Tordesilhas” (Ref. 49) constitui uma referência à 01. assunção pelo Estado da obrigação de prover assistência de saúde para todos os brasileiros, sem distinção alguma. 02. legitimidade do sistema brasileiro de saúde pública, extinto a partir da vigência da Constituição de 1988, com o advento do SUS. 03. discriminação anteriormente existente entre segurados e não segurados do INAMPS, cujo atendimento era diferenciado na rede pública de saúde.
04. superação das dificuldades anteriores à existência do SUS no que diz respeito à identificação dos portadores de direito à assistência pública de saúde. 05. restrição do acesso inerente ao primeiro sistema de saúde pública criado no Brasil, na época da colonização, cuja característica principal era discriminação social. 06. (Puc MG) O xadrez de Marina SÃO PAULO — Eduardo Campos não é um “zero”, como Ciro Gomes o chamou na sua tola e habitual verborragia, tampouco é o estrategista político formidável, tal qual passou a ser pintado em Brasília após a surpreendente filiação da ex-senadora Marina Silva ao seu PSB. O governador de Pernambuco é um construtor de pontes, paciente e habilidoso, que consegue se manter como interlocutor de quase todo o mundo, de Lula a Serra, de Bornhausen e Ronaldo Caiado a Marina. É um conciliador que parece mais mineiro do que o próprio Aécio Neves. É evidente que esses traços o ajudaram a se posicionar no momento em que Marina precisava achar uma saída para o imbróglio em que se meteu ao não conseguir oficializar a tal Rede Sustentabilidade -- não se filiar a um partido significaria abdicar totalmente da eleição presidencial; entrar numa sigla qualquer apenas para ser candidata seria um gesto personalista que poderia arranhar a imagem da nova política, que Marina tanto cultiva. Mas, na prática, o governador pernambucano foi um agente passivo nessa história toda. Se alguém anteviu alguma coisa, foi Marina. A ex-senadora criou o principal fato político desde a eleição de Dilma e ainda jogou sobre Campos a responsabilidade de crescer nas pesquisas em pouco tempo, ao deixar claro que, se o governador não se viabilizar, ela pode concorrer. No cenário anterior, Campos seria um vitorioso se terminasse a eleição presidencial do ano que vem com cerca de 15% dos votos. Atingiria seu objetivo de tornar-se um nome nacionalmente conhecido a fim de, quatro anos depois, disputar a sucessão para valer. Agora, após o empurrão da ex-senadora, se Campos não atingir esse patamar nos próximos meses, antes mesmo de a campanha eleitoral começar, poderá ser forçado a abdicar da candidatura em favor de Marina. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ rogeriogentile/2013/10/1354262-o-xadrez-de-marina.shtml. Acesso em: 10 out. 2013.
Todos os excertos a seguir trazem considerações que pertencem ao campo da suposição ou hipótese, EXCETO: a) [...] tal qual passou a ser pintado em Brasília [...] b) [...] não se filiar a um partido significaria abdicar totalmente da eleição [...] c) [...] Campos seria um vitorioso se terminasse a eleição presidencial [...] d) [...] poderá ser forçado a abdicar da candidatura em favor de Marina. 731
FRENTE D E xercícios de A profundam ento
Antes da implantação do SUS, o sistema de saúde 18 pública era centralizado e organizado em torno dos 19 serviços estatais (Ministério da Saúde e secretarias 20 municipais de saúde) e da previdência social, mediante 21 o INAMPS. Havia também o sistema de saúde privado, 22 mas, já naquela época, dependia muito do setor público, 23 porque vendia serviços para ele. Eram poucas as clínicas 24 privadas que podiam sobreviver sem vender serviços para 25 o Estado. E, nesse período, já estava começando a se 26 desenvolver o que chamamos de planos de saúde. 27 A garantia da saúde como um direito básico e 28 fundamental para todos os indivíduos, que passou a 29 vigorar na Carta Magna de 1988, foi uma conquista que 30 não veio dos políticos, mas da própria sociedade civil, 31 dos movimentos sociais e populares, que defenderam o 32 direito à saúde vinculado à cidadania, propondo um 33 sistema de saúde de caráter público, sob a 34 responsabilidade do Estado. Foi o resultado de um amplo 35 movimento que chamamos de reforma sanitária brasileira, 36 que se organizou nas décadas de 70 e 80. 37 Estabelecido e legitimado com a Constituição de 38 1988, podemos definir o SUS como “uma nova formulação 39 política e organizacional para o reordenamento dos 40 serviços e ações de saúde”. O SUS não é o sucessor 41 do INAMPS, tampouco do SUDS. É um “Sistema Único” 42 porque adota os mesmos princípios organizativos e 43 diretrizes em todo o território nacional para um fim 44 comum: promoção, proteção e recuperação da saúde. 45 Sobre a importância e a universalidade do SUS, assim 46 se expressa Eugênio Vilaça Mendes: 47 “O SUS constituiu a maior política de inclusão 48 social da história de nosso país. Antes do SUS vigia um 49 Tratado das Tordesilhas da saúde que separava quem 50 portava a carteirinha do INAMPS e que tinha acesso a 51 uma assistência curativa razoável das grandes maiorias 52 que eram atendidas por uma medicina simplificada na 53 atenção primária à saúde e como indigentes na atenção 54 hospitalar. O SUS rompeu essa divisão iníqua e fez da 55 saúde um direito de todos e um dever do Estado. A 56 instituição da cidadania sanitária pelo SUS incorporou,57 imediatamente, mais de cinquenta milhões de brasileiros 58 como portadores de direitos à saúde e fez desaparecer, 59 definitivamente, a figura odiosa do indigente sanitário.” 17
P ortug uê s
07. (UEM PR) Privacidade na internet: chega de andarmos todos nus (Marina Cardoso)
FRENTE D E xercícios de A profundam ento
1 A Prefeitura de São Paulo implementou o bilhete 2 único mensal. Para usá-lo, o cidadão deve fazer um 3 cadastro com seus dados pessoais e foto no site da 4 empresa de transporte e então receber um cartão pessoal 5 e intransferível. Ao mesmo tempo, e silenciosamente, 6 são instaladas câmeras nas catracas dos ônibus da 7 cidade, de forma a garantir a identificação e controle dos 8 passageiros. À primeira vista, este é um projeto de 9 transporte público, mas suas implicações adentram outro 10 campo: o do direito à privacidade. 11 Por ser um cartão pessoal, usado em trens, metrô e 12 ônibus, o bilhete único pode mapear os hábitos dos 13 cidadãos – o que pode ser um excelente instrumento 14 para o planejamento do transporte público, desde que 15 estruturados os sistemas adequados. Mas, ao mesmo 16 tempo, pode se tornar o instrumento perfeito para a 17 vigilância massiva. Com ele, é possível, por exemplo, 18 desenhar quem encontra quem na cidade, onde e em 19 quais horas do dia. E, no entanto, apesar desse potencial 20 todo, após o cadastro para utilização do bilhete único 21 mensal, não há no site da SPTrans qualquer menção à 22 política de privacidade ou explicação e pedido de 23 concordância do cidadão para uso de seus dados. 24 Não cabe aqui o debate sobre modelo de 25 transporte. Mas este é um excelente exemplo de como, e 26 rapidamente, as informações sobre os(as) cidadãos/ãs e 27 consumidores/as estarão estruturadas, em bancos de 28 dados, de forma a permitir seu cruzamento por sistemas 29 chamados de “big data” ou “business inteligence” (BI) 30 com finalidades as mais diversas, sem que estejamos no 31 controle desse processo. 32 No entanto, precisamos ter em conta que as 33 tecnologias não são necessariamente boas ou ruins 34 quanto aos seus fins. O seu uso será definido pelos 35 interesses predominantes na sociedade. Foi isso que 36 aconteceu com qualquer tecnologia já desenvolvida pelo 37 ser humano – seja o avião, que serve para transporte ou 38 bombardeio, ou a explosão atômica, que gera energia ou 39 destrói cidades. 40 Assim, neste momento, grandes companhias de 41 tecnologia da informação (TI) contratam e pagam, muito 42 bem, “evangelizadores” do “big data” para apregoar os 43 benefícios de implantação dessa tecnologia. Cabe 44 apontar que há, de fato, grande potencial para o uso de 45 informações estruturadas para o bem, seja para 46 identificar padrões de adoecimento, seja para o 47 planejamento de políticas de transporte ou para a oferta 48 de melhores serviços. 49 Por outro lado, entidades da sociedade civil 50 começam a questionar se tal capacidade técnica servirá 51 para reforçar a segregação e exclusão econômica e 52 social nas quais é calcada nossa sociedade. Perderão os 53 pobres e as minorias oprimidas? 54 Considerando a tendência de dados de saúde 55 digitalizados e em rede (há diversos projetos públicos e 56 privados nesse sentido), o que acontece se um 57 empregador consegue ter acesso à
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ficha médica dos 58 candidatos? Aqueles que têm doença crônica serão 59 tratados de forma igual em um processo de seleção? 60 Malkia Cyrill, do Center for Media Justice, 61 importante figura no debate de comunicação e parte do 62 movimento negro dos Estados Unidos – 63 tradicionalmente alvo de vigilância e controle por parte 64 das forças de Estado –, é categórica ao afirmar: 65 “qualquer sistema deve ser avaliado não pela intenção 66 do proponente, mas pelos resultados reais que 67 proporciona”. Assim, não importa que a vigilância 68 massiva, via acesso a dados pessoais, seja perpetrada em 69 nome da segurança nacional. O fato é que ela viola o 70 direito à privacidade de toda uma comunidade, e os 71 resultados do ponto de vista da segurança são pífios. 72 Todas essas problematizações devem ser feitas 73 neste momento pelos brasileiros. Aqui, no país do 74 homem cordial, como definiu Sergio Buarque de 75 Hollanda, nunca se aprovou uma lei de proteção de 76 dados pessoais. Estamos vulneráveis tal como deve se 77 sentir uma pessoa nua, a caminhar pelas ruas de uma 78 grande cidade. 79 Ainda não temos proteção suficiente, por exemplo, 80 se uma empresa ou a Receita Federal compartilhar 81 nossos dados ou se o governo deixar vazar o perfil 82 socioeconômico dos beneficiários do Bolsa Família. Os 83 dados, de alguma forma bizarra, poderão parar em CDs, 84 vendidos em cantos escondidos da Santa Efigênia, em 85 São Paulo. 86 O aumento da digitalização, dos negócios a partir 87 de dados pessoais e das nuvens web, combinado com a 88 ausência de proteção, formam o cenário do terror. Sem 89 qualquer regulação, as chances de uso tenebroso das 90 novas tecnologias aumentam vertiginosamente. A 91 balança pesa para o lado errado. 92 (...) (Texto adaptado do original e disponível em http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/privacidade-na-internet-chegade- andarmos-todos-nus-5930.html. Publicado em 25.02.2015. Acesso em 6 de setembro de 2016)
Assinale o que for correto quanto ao emprego dos elementos linguísticos no texto. 01. O pronome “Aqueles” (Ref. 58) remete a um grupo social específico que pode sofrer segregação, no caso de haver um vazamento de dados pessoais na internet. 02. Em “... via acesso a dados pessoais” (Ref. 68), a expressão em negrito completa o sentido da forma verbal “via”, funcionando, sintaticamente, como seu objeto indireto. 04. No trecho “os resultados do ponto de vista da segurança são pífios” (Refs. 70 e 71), a expressão em negrito denota efeitos positivos, funcionando como complemento nominal de “resultados” (Ref. 71). 08. A expressão “categórica” (Ref. 64) caracteriza a maneira de Malkia Cyrill fazer uma afirmação a respeito do tema em questão, podendo ser substituída, sem prejuízo de sentido, por “contundente”. 16. Em “... devem ser feitas neste momento pelos brasileiros” (Refs. 72 e 73), a expressão em negrito estabelece relação semântica de causa.