Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A metatextualidade, genericamente chamada de metalinguagem, é a mensagem centrada no código. É um poema que fala do ato criativo, da dificuldade de seu material – a palavra, do conflito pedregoso diante da folha branca como “uma pedra no meio do caminho”. Em outras palavras, é a utilização crítica dos elementos do cotidiano, numa síntese da relação entre o poeta e a realidade, pondo em relevo seu humor, sua ironia e ainda seu senso de autocrítica. Em “Mãos Dadas”, Drummond diz: “Não serei o poeta de um mundo caduco/ também não contarei o mundo futuro”. Isto é, o poeta não é arcaísta nem invencionista. Em “O lutador”, o escritor é mais explícito: “Lutar com palavras/ é a luta mais vã./ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã./ São muitas, eu pouco. Já em “Canção Amiga”, Drummond surpreende ao dizer: “Eu preparo uma canção/ em que minha mãe se reconheça/ todas as mães se reconheçam”; parece uma contradição para quem disse que não é o poeta de um mundo caduco ou que diz suspiros ao anoitecer, mas ele desfaz o problema: Atente para os versos de “O Sobrevivente” em que Drummond lança seu grito irônico e apocalíptico. O Sobrevivente Impossível compor um poema a essa altura da evolução [da humanidade. Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de [verdadeira poesia. O último trovador morreu em 1914. Tinha um nome de que ninguém se lembra mais. Há máquinas terrivelmente complicadas para as [necessidades mais simples. Se quer fumar um charuto aperte um botão. Paletós abotoam-se por eletricidade. [...] Os homens não melhoram e matam-se como percevejos. Os percevejos heroicos renascem. Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo [dilúvio. Drummond devia estar pensando no início da Primeira Guerra Mundial e em Augusto dos Anjos que, curiosamente, foi quem morreu em 1914 e foi o primeiro trovador dos novos tempos, novas palavras, nova visão de mundo e novo ponto de vista.
Nos versos a seguir, percebemos o ponto de vista tecnológico, beirando a ficção científica: Há máquinas terrivelmente complicadas para as [necessidades mais simples. Se quer fumar um charuto aperte um botão. Paletós abotoam-se por eletricidade. É o fascínio pelo que o século XX vinha prometendo automatização e mecanização das tarefas. Ao concluir, Drummond diz: Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo [dilúvio. Retomando a temática das questões sociais e a preocupação com o mundo, vamos à leitura de dois poemas de Drummond sobre O Medo. O mundo tinha acabado de passar pela Primeira Guerra (1914-1918) e estava submetido à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), assistindo ao crescimento dos regimes totalitários. No Brasil, Getúlio Vargas estava no poder - período conhecido como Estado Novo. Sabemos que o ser humano é passível de diversos sentimentos e emoções que são resultados das situações que transpõem seu cotidiano. O medo é um deles. Drummond era incapaz de ignorar o social e sua individualidade. Ele procurava estabelecer um vínculo com a realidade e via o medo como uma imposição dos opressores. O poema O Medo representa o sentimento mais utilizado para causar rejeição ao sistema político em que o autor acreditava - o comunismo. Drummond critica desde a base social e educacional até a condição política pela qual o Brasil vinha sendo levado. O Medo é um retrato, na visão do poeta, das causas e consequências da sociedade daqueles anos. Classe média e elite, as principais responsáveis pela ascensão da Ditadura do Estado Novo, no Brasil, e do fascismo na Europa, agora estavam vivenciando todos os aspectos do medo. A leitura deste poema revela a insatisfação com o presente e a falta de perspectiva com relação à vida. Essas imagens estão impressas no vocábulo “escuro”- ( Nascemos escuro) que sugere a ideia de desorientação e incerteza em relação ao futuro. O sujeito lírico sente a mediocridade da sociedade que se revela indiferente quanto às questões sociais. O Medo Em verdade temos medo. Nascemos no escuro. As existências são poucas; Carteiro, ditador, soldado. Nosso destino, incompleto. 635
B13 Modernismo segunda fase - poesia - Carlos Drummond de Andrade
O Metapoema de Drummond