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que não para de crescer
Características de Drummond
n Multiplicidade de temas: infância – Itabira; n O cotidiano; n Influência da 1ª fase: paródia, autoironia, (O Gauche) n Autoconhecimento (Poema de sete faces); n Poeta social: preocupações com a realidade e com o homem de seu tempo; (Mãos dadas, E agora José?); n Guerra – Visão 1944; n Metafísica: o ser humano e sua essência – Claro Enigma,
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Sentimento do Mundo, No meio do Caminho; n Metalinguagem – Procura da poesia; n Amor (reflexão sobre o sentimento) – O Mundo é grande, Quadrilha.
Elementos do cotidiano
No livro Alguma Poesia, Drummond lança, com muita lucidez, seu olhar sobre a estupidez do cotidiano, conforme os versos de “Cidadezinha Qualquer”:
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 2. ed. São Paulo: abril, 1982, p. 37.)
Podemos observar, nesses versos, certa apatia diante do espetáculo da vida. Neles, o cotidiano é marcado pelo desencanto e pela ausência de perspectivas. Esse aspecto ganha destaque, estilisticamente, pelo uso da estruturação nominal e da repetição.
As palavras “casas”, “bananeiras”, “mulheres”, “laranjeiras”, “pomar”, “amor”, “cantar”, “homem”, “cachorro” e “burro” exibem uma associação de ideias que brotam do acaso, como sinais de um mundo que perdeu seus referenciais.
A consciência social
A partir do humor e da ironia, bem como de um acentuado sentimento de aniquilamento (niilismo), o escritor rejeita o escapismo. A consciência social é um acordo do poeta com o semelhante. É uma espécie de atuação por meio da poesia. Para Drummond, é a possibilidade de resgatar a consciência do estado de enclausuramento e a presença do pavor.
Em meio a tantas injustiças, ordens, proibições e desmandos vistos e vividos na primeira metade do século XX, o lirismo do poeta surge como forma de questionamento, de filosofia, de protesto, de repensar crenças, valores e conceitos predeterminados por uma sociedade injusta e excludente.
No poema “A flor e a náusea”, Drummond tenta exprimir a crítica sobre a crise existencial, política e sociais em que vivia a humanidade.
Figura 01 - Estátua de Carlos Drummond de Andrade, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
A sétima estrofe começa com o verso que configura o clímax do poema:
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.
(Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 14,15 e 16)
Carlos Drummond de Andrade é o poeta das expressões equilibradas, sempre de emoção controlada, mesmo quando tomado por um espírito de revolta ou de inconformismo. Entretanto, nesse fragmento, ele exclama sua exaltação, enchendo com seu grito a “rua cinzenta”. A “flor” contrasta com os “bondes, ônibus, e o “rio de aço do tráfego”, representantes da tecnologia, do progresso, do império da maquinaria, elementos que seriam responsáveis também pela ausência da sensibilidade, da beleza e do lirismo em nosso tempo.
Andre Luiz Moreira / Shutterstock.com