Murilo Amaral Shyrley Bernadelli
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FRENTE
A
PORTUGUÊS Por falar nisso O ano já está acabando e você já é capaz de fazer um balanço acerca do aprendizado da língua portuguesa nos últimos meses. Com a maior parte da teoria já explicada e aprendida, você pode observar como o seu domínio de leitura, escrita e sua capacidade de análise linguística avançaram significativamente. O estudo sistemático da gramática do seu idioma materno proporciona o aumento do nível de qualidade de seus textos e, neste momento, você está cada vez mais perto de alcançar o seu objetivo acadêmico. Nas aulas anteriores, nós nos dedicamos profundamente ao estudo da sintaxe da nossa língua e, com esse conhecimento, você pôde compreender como funciona a hierarquia sintagmática da língua portuguesa, bem como as relações de sentido que se constroem entre o sujeito e o predicado. Esse conteúdo, aliado às técnicas de interpretação de texto estudadas na Frente C, deve ser constantemente retomado, para que você, futuro vestibulando, possa garantir sua vaga nas melhores universidades do país. Agora é o último passo e, nos próximos módulos, nós terminaremos o estudo da sintaxe da língua portuguesa e finalizaremos nosso curso com o estudo de um dos aspectos mais fulcrais da redação de um texto: a pontuação; principalmente no tocante à vírgula, que ainda é motivo de muitas dúvidas. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
A17 A18 A19 A20
Orações subordinadas adverbiais................................................. 608 Orações reduzidas......................................................................... 614 Funções do “que” e do “se”.......................................................... 619 Pontuação ..................................................................................... 625
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A17
ASSUNTOS ABORDADOS
ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS
n Orações subordinadas adverbiais
Nas aulas anteriores, nós começamos a estudar as orações subordinadas adverbiais. Dentre as nove classificações desse tipo de relação interoracional, ainda faltam cinco tipos:
n Classificação das orações subordinadas adverbiais
n n n n n
Orações subordinadas adverbiais comparativas; Orações subordinadas adverbiais conformativas; Orações subordinadas adverbiais finais; Orações subordinadas adverbiais proporcionais; Orações subordinadas adverbiais temporais.
Embora seja numerosa a quantidade de orações subordinadas adverbiais, a classificação delas é bastante intuitiva, uma vez que a nossa análise estará centrada na interpretação do elemento coesivo e como a sua posição na frase influencia no entendimento do enunciado. Assim, é importante que você se atenha aos conectivos mais comuns a cada tipo de oração subordinada adverbial.
Classificação das orações subordinadas adverbiais Orações subordinadas adverbiais comparativas Nas orações subordinadas comparativas, há sempre a aproximação entre dois entes distintos, os quais podem ser comparados numa razão de igualdade, de superioridade ou de inferioridade. Entre os conectivos mais utilizados, destacam-se: como; assim como; tão... quanto; mais... (do) que; menos... (do) que.
Leia os exemplos a seguir: n n
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n
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Nenhum país contém mais água doce do que o Brasil contém. Aquele garoto trabalha tanto quanto seus pais trabalham. Aquele garoto estuda menos do que trabalha.
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!
ATENÇÃO!
Uso da zeugma Zeugma é uma das figuras de sintaxe da língua portuguesa. Ela corresponde à elipse de um verbo que já apareceu no enunciado. Nos dois primeiros exemplos acima, você pode ver que é possível que o último verbo seja eliminado sem prejuízo de sentido para o enunciado. Veja! n Nenhum país contém mais água doce do que o Brasil. n Aquele garoto trabalha tanto quanto seus pais.
Mas atente-se para evitar ambiguidades em seu texto. Observe a frase a seguir: n Eu sonho em ganhar um bom salário como meu pai.
Na frase acima, há uma zeugma, já que o último verbo, isto é, o predicado do sujeito “meu pai”, não está evidenciado. No entanto, a elipse desse verbo nos provoca uma dupla interpretação do enunciado, a depender da escolha do verbo, sonhar ou ganhar. Veja as duas possibilidades: n Eu sonho em ganhar um bom salário como meu pai sonha. n Eu sonho em ganhar um bom salário como meu pai ganha.
Orações subordinadas adverbiais conformativas As orações subordinadas adverbiais conformativas exprimem circunstância de conformidade e não contradição em relação à ação expressa pelo verbo da oração principal. A ideia de concordância entre os fatos tem como regra um modelo ou uma referência. São introduzidas pelas seguintes conjunções: como; conforme; segundo; consoante.
Leia os exemplos a seguir: n n n
As chuvas devem começar em breve, segundo afirmam os especialistas. A reunião geral da empresa, como nos foi informado, foi cancelada. Consoante as novas regras da empresa, você terá um aumento na sua jornada de trabalho.
Orações subordinadas adverbiais finais As orações subordinadas adverbiais finais exprimem a ideia de finalidade, isto é, do objetivo a ser conquistado e o resultado pretendido de uma ação. São introduzidas por estas conjunções: a fim de que; para que; com o intuito de; porque.
n n
Para que conseguisse a sua aprovação, a aluna dedicou-se bastante. Viemos aqui a fim de que o diretor nos esclareça algumas dúvidas. Eu saí mais cedo da escola, com o intuito de encontrar meus amigos.
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n
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A17 Orações subordinadas adverbiais
Leia os exemplos a seguir:
Português
Orações subordinadas adverbiais proporcionais As orações subordinadas adverbiais proporcionais exprimem a ideia de proporcionalidade, isto é, a variação simultânea entre dois fatos. São introduzidas por estas conjunções: à medida que; à proporção que; quanto mais... menos; quanto menos... mais.
Leia os exemplos a seguir: n n
À medida que subíamos a montanha, o frio aumentava. Quanto mais se aproxima do fim do mês, menos poder de compra tem o trabalhador.
Orações adverbiais temporais As orações subordinadas adverbiais temporais exprimem a ideia de tempo. São introduzidas por estas conjunções: quando; enquanto; logo que; assim que; desde que.
Leia os exemplos a seguir: n n n
A confusão começou depois que saímos da festa. Os funcionários, enquanto aguardaram o início da reunião, organizaram os documentos importantes. A criança começou a chorar quando seus pais partiram.
Saber interpretar o que se está lendo ou ouvindo é fundamental para classificar as orações subordinadas adverbiais. Além disso, é importante estar sempre atento às falsas relações conjuntivas, visto que uma mesma conjunção (ou locução conjuntiva) pode indicar vários tipos de orações subordinadas adverbiais. Vejamos os dois últimos exemplos: n
A17 Orações subordinadas adverbiais
n
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Comerás a sobremesa desde que almoces. (condição) Ela não parou de cantar desde que chegou. (tempo)
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Exercícios de Fixação
Um cinturão [...] Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher- me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.[...] (Graciliano Ramos. In Moriconi, Ítalo (organizador). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 2001. Com cortes)
“Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me.” A oração que inicia essa frase expressa a) causa. b) oposição. c) alternância. d) finalidade. e) condição. 02. (IFRS) Ao tentarmos discutir a questão dos direitos do cidadão, nada mais oportuno do que repensarmos o tema das
Sabendo-se que textos apresentam mecanismos de coesão sequencial que promovem a coerência e a clareza das ideias, assinale a alternativa que contém a respectiva relação de sentido estabelecida entre as orações. a) proporcionalidade; temporalidade; finalidade b) causalidade; comparação; consequência c) condicionalidade; proporcionalidade; concessão d) finalidade; concessão; condicionalidade e) comparação; temporalidade, condicionalidade 04. (Ibmec SP) [...] Se o “demorou!” é um acelerador apertado no caminho da satisfação, o “já é!” é como a barrinha na gaiola do rato, que, acionada, faz serem despejadas no sangue algumas gotas de serotonina - ou empadas de camarão -, é o seio descendo dos céus em direção à boca do bebê, é o Nirvana se apoderando da mesa do bar. Se um é a superconcordância, o outro é o superpresente: não só “é” como “já é!”. É como se o desejo fosse capaz, tal qual a luz, de dobrar o tempo, criando o “mais do que agora”, esta estreita faixa entre o mar e as montanhas onde nossas vontades são realizadas no instante em que surgem. [...] (Antonio Prata, Folha de S. Paulo, 22/08/2012)
liberdades políticas sob o prisma da censura e da repressão às ideias. (…) A censura assim como a violência física e sim-
Na oração “É como se o desejo fosse capaz, tal qual a luz,
bólica fizeram parte dos projetos políticos articulados em
de dobrar o tempo...” o segmento em destaque estabelece
diferentes momentos de nossa história.
com a oração seguinte a ideia de
(CARNEIRO, Maria Luíza Tucci. Livros proibidos, ideias malditas: o DEOPS e as minorias silenciadas. 2. ed. São Paulo: Ateliê, 2002. p. 21.)
Assinale a alternativa que substitui a primeira oração do texto, sem prejuízo de sentido. a) Embora tentemos discutir a questão dos direitos do cidadão, b) Quando tentamos discutir a questão dos direitos do cidadão, c) A fim de que tentemos discutir a questão dos direitos do cidadão, d) Mesmo que tentemos discutir a questão dos direitos do cidadão, e) Por mais que tentemos discutir a questão dos direitos do cidadão, 03. (Uniube MG) “Eu declaro afinal que não existe um prazer igual à leitura! É mais rápido se cansar de qualquer coisa do que de um livro! Quando eu tiver minha própria casa, eu serei infeliz se eu não tiver uma excelente biblioteca”. (Jane Austen, romancista inglesa, autora de Orgulho e Preconceito)
a) causa. b) conclusão. c) conformidade. d) consequência. e) condição. 05. (IFRS) Observe o período: “Ri, enquanto falo de um assunto sério”. Assinale a alternativa que contém somente informações corretas sobre a oração destacada em itálico. a) Trata-se de uma oração coordenada, que dá circunstância de tempo ao período. b) O período é composto por subordinação e a oração destacada é a principal. c) A oração destacada empresta ideia de condição à oração principal. d) O período é composto por coordenação e a oração destacada se classifica como sindética conclusiva. e) É uma oração subordinada, que faz papel de adjunto adverbial de tempo em relação ao período.
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A17 Orações subordinadas adverbiais
01. (Fac. Direito de Sorocaba SP)
Português
Exercícios Complementares 01. (FM Petrópolis RJ)
Na frase “Acaba quando eu digo que acabou”, presente no
Limites da manipulação genética 1
Nos últimos anos, a possibilidade de manipulação 2 ge-
nética de seres humanos se tornou tecnicamente 3 real, o que levou à publicação de vários 4 manifestos da comunidade científica internacional 5 contra o uso da técnica em embriões, óvulos e espermatozoides 6 humanos. Não aceitamos alterações 7 genéticas que possam ser transmitidas às próximas
8
gerações. Apesar disso, cientistas
chineses publicaram 9 um trabalho descrevendo a criação de embriões 10 humanos geneticamente modificados! Abrimos a 11 Caixa de Pandora? PEREIRA, L. O Globo. Opinião. 12 maio 2015. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/opiniao/limites-da-manipulacao-genetica-16125529>. Acesso em: 20 jun. 2017. Adaptado.
No texto, o trecho “Não aceitamos alterações genéticas que possam ser transmitidas às próximas gerações.” (Refs. 6-8) estabelece, com a frase anterior, uma relação de a) finalidade. b) contradição. c) causalidade. d) concessão. e) condição. 02. (IFCE) “Conquanto a busca por soluções para o problema dos vícios tenha crescido, há ainda um longo caminho até que se consiga resolvê-lo de fato, pois temos a mania de querer remediar em vez de prevenir e evitar”. É correto afirmar-se que a oração sublinhada se classifica como subordinada adverbial a) temporal. b) causal. c) consecutiva. d) comparativa. e) concessiva.
A17 Orações subordinadas adverbiais
03. (IFMA)
WALKER, Mort. Recruta Zero. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 22 mar. 2014. Caderno 2, p. C.
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segundo quadrinho, tem-se um período composto por duas orações subordinadas, introduzidas pelas conjunções quando e que, respectivamente. Marque a alternativa que contém a classificação CORRETA da frase citada acima. a) oração subordinada adverbial temporal/ oração subordinada substantiva objetiva direta b) oração subordinada adverbial temporal/ oração subordinada substantiva objetiva indireta c) oração subordinada adverbial condicional/ oração subordinada substantiva subjetiva d) oração subordinada adverbial causal/ oração subordinada substantiva predicativa e) oração subordinada adverbial concessiva/ oração subordinada substantiva objetiva direta 04. (Unificado RJ) Entrevista (Fragmento) O senhor acredita que a crise hídrica foi uma 52 lição para a sociedade sobre a fragilidade do fornecimento 53 de energia? 54 [Resp.5] A ocorrência dos eventos climáticos 55 extremos coloca a sociedade em um clima de incerteza 56 totalmente inédito. Não podemos dizer que fenômenos 57 como esse ocorrerão, por exemplo, a cada 58 dez anos. Não há uma frequência correta. Falta uma 59 campanha para mostrar à população que economizar 60 energia continua sendo muito importante, mesmo 61 com os avanços tecnológicos. 51
GRANDELLE, R. Entrevista com Ricardo Abramovay. Jornal O Globo. Sociedade. 20 jul. 2015. p. 19. Adaptado.
A relação lógica que se estabelece entre as ideias de um texto pode ser explicitada por conectores ou estar implícita na sequência textual. No trecho “Não podemos dizer que fenômenos como esse ocorrerão, por exemplo, a cada dez anos. Não há uma frequência correta.” (Refs. 56-58), estabelece-se entre os dois períodos uma relação lógica implícita de a) condição. b) causalidade. c) contraposição. d) temporalidade. e) adição. 05. (Fatec SP) Leia o trecho do texto Queda que as mulheres têm para os tolos, de Machado de Assis. O homem de espírito é o menos hábil para escrever a uma mulher.
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<http://tinyurl.com/js7dblq> Acesso em: 02.02.2016.
Assinale a alternativa que apresenta uma relação de subordinação entre as orações do período. a) Quando se arrisca a escrever uma carta, sente dificuldades incríveis. b) Quer ser reservado e parece frio; (...) c) Comete o crime de não ser comum ou vulgar. d) As suas cartas saem do coração e não da cabeça; (...) e) O tolo é fortíssimo em correspondência amorosa, e tem consciência disso. 06. (UEG GO) OS HUMANOS SÃO UMA PARTE IMPORTANTE DA BIOSFERA As maravilhas do mundo natural atraem a nossa curiosidade sobre a vida e tudo que nos cerca. 2 Para muitos de nós, nossa curiosidade sobre a Natureza e os desafios de seu estudo são razões 3 suficientes. Além disso, contudo, nossa necessidade de compreender a Natureza está se tornando 4 mais e mais urgente, à medida que o crescimento da população humana estressa a capacidade dos sistemas 5 naturais em manter sua estrutura e funcionamento. 6 Os ambientes que as atividades humanas dominam ou criaram – incluindo nossas áreas de vida 7 urbanas e suburbanas, nossas terras cultivadas, nossas áreas de recreação, plantações de árvore e 8 pesqueiros – são também ecossistemas. O bem-estar da humanidade depende de manter o funcionamento 9 desses sistemas, sejam eles naturais ou artificiais. Virtualmente toda a superfície da Terra é, ou em breve 10 será, fortemente in1
fluenciada por pessoas, se não completamente sob seu controle. Os humanos já 11 usurpam quase metade da produtividade biológica da biosfera. Não podemos assumir essa 12 responsabilidade de forma negligente. 13 A população humana se aproxima da marca de 7 bilhões, e consome energia e recursos, e produz 14 rejeitos muito além do necessário ditado pelo metabolismo biológico. Essas atividades causaram dois 15 problemas relacionados de dimensões globais. O primeiro é o seu impacto nos sistemas naturais, incluindo 16 a interrupção de processos ecológicos e a exterminação de espécies. O segundo é a firme e constante 17 deterioração do próprio ambiente da espécie humana à medida que pressionamos os limites dentro dos 18 quais os ecossistemas podem se sustentar. Compreender os princípios ecológicos é um passo necessário 19 para lidar com esses problemas. RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p. 15. (Adaptado).
A oração “à medida que o crescimento da população humana estressa a capacidade dos sistemas naturais em manter sua estrutura e funcionamento” (Refs. 4-5) estabelece com a oração principal uma relação de a) causalidade b) proporção c) temporalidade d) contradição 07. (FGV SP) Eram tempos menos duros aqueles vividos na casa de Tia Vicentina, em Madureira, subúrbio do Rio, onde Paulinho da Viola podia traçar, sem cerimônia, um prato de feijoada - comilança que deu até samba, “No Pagode do Vavá”. Mas como não é dado a saudades (lembre-se: é o passado que vive nele, não o contrário), Paulinho aceitou de bom grado a sugestão para que o jantar ocorresse em um dos mais requintados italianos do Rio. A escolha pela alta gastronomia tem seu preço. Assim que o sambista chega à mesa redonda ao lado da porta da cozinha, forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente. [...] Paulinho conta que cresceu comendo o trivial. Seu pai viveu 88 anos à base de arroz, feijão, bife e batata frita. De vez em quando, feijoada. Massa, também. “Mas nada muito sofisticado.” Com exceção de algumas dores de coluna, aos 70 anos, goza de plena saúde. O músico credita sua boa forma ao estilo de vida, como se sabe, não dado a exageros e grandes ansiedades. T. Cardoso, Valor, 28/06/2013. Adaptado.
À frente das frases citadas abaixo, está indicado o tipo de circunstância que elas expressam no texto. A indicação NÃO está correta em: a) “como não é dado a saudades” (causa). b) “para que o jantar ocorresse em um ... do Rio” (finalidade). c) “Assim que o sambista chega à mesa ... da porta da cozinha” (simultaneidade). d) “que cresceu comendo o trivial” (consequência). e) “como se sabe” (conformidade). 613
A17 Orações subordinadas adverbiais
Quando se arrisca a escrever uma carta, sente dificuldades incríveis. Desprezando o vasconço da galanteria, não sabe como se há de fazer entender. Quer ser reservado e parece frio; quer dizer o que espera e indica receio; confessa que nada tem para agradar, e é apanhado pela palavra. Comete o crime de não ser comum ou vulgar. As suas cartas saem do coração e não da cabeça; têm o estilo simples, claro e límpido, contendo apenas alguns detalhes tocantes. Mas é exatamente o que faz com que elas não sejam lidas, nem compreendidas. São cartas decentes, quando as pedem estúpidas. O tolo é fortíssimo em correspondência amorosa, e tem consciência disso. Longe de recuar diante da remessa de uma carta, é muitas vezes por aí que ele começa. Tem uma coleção de cartas prontas para todos os graus de paixão. Alega nelas em linguagem brusca o ardor de sua chama; a cada palavra repete: meu anjo, eu vos adoro. As suas fórmulas são enfáticas e chatas; nada que indique uma personalidade. Não faz suspeitar excentricidade ou poesia; é quanto basta; é medíocre e ridículo, tanto melhor. Efetivamente o estranho que ler as suas missivas nada tem a dizer; na mocidade o pai da menina escrevia assim; a própria menina não esperava outra coisa. Todos estão satisfeitos, até os amigos. Que querem mais?
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PORTUGUÊS
MÓDULO A18
ASSUNTOS ABORDADOS n Orações reduzidas n Orações subordinadas substantivas reduzidas n Orações subordinadas adjetivas reduzidas n Orações subordinadas adverbiais reduzidas
ORAÇÕES REDUZIDAS As orações subordinadas são introduzidas por uma conjunção subordinativa ou por um pronome relativo. Desse modo, por meio do conectivo, é possível estabelecer uma relação de subordinação entre duas orações distintas. No entanto, é possível elaborar frases que, na ausência do conectivo, ainda fique evidente a relação de subordinação entre as mesmas orações. Para que isso seja possível, é preciso mudar a forma verbal para o infinitivo (desinência – r), para o gerúndio (desinência – ndo) ou para o particípio (desinência – do). As orações subordinadas substantivas, que são introduzidas por uma conjunção integrante, só podem ser reduzidas com o uso do verbo da oração subordinada reduzida no infinitivo. Já em relação às orações subordinadas adjetivas e adverbiais, estas podem ser reduzidas para o infinitivo, para o gerúndio ou para o particípio. Atente-se, porém, para o fato de que nem toda oração subordinada é passível de redução, embora toda oração reduzida possa ser desenvolvida.
Orações subordinadas substantivas reduzidas Como vimos acima, as orações subordinadas substantivas só podem ser reduzidas para o infinitivo do verbo. Veja alguns exemplos: Oração subordinada substantiva subjetiva n n
Reduzida: É essencial comparecer ao evento. Desenvolvida: É essencial que você compareça ao evento.
Oração subordinada substantiva objetiva direta n n
Reduzida: Os alunos não sabiam ser dia de prova. Desenvolvida: Os alunos não sabiam que era dia de prova.
Oração subordinada substantiva objetiva indireta n n
Reduzida: O médico insistiu em fazermos uma dieta. Desenvolvida: O médico insistiu em que nós fizéssemos uma dieta.
Oração subordinada substantiva completiva nominal n n
Reduzida: Eu tenho esperança de conseguirem o emprego. Desenvolvida: Eu tenho esperança de que consigam o emprego.
Oração subordinada substantiva predicativa n n
Reduzida: O melhor é ser sempre feliz! Desenvolvida: O melhor é que eu seja sempre feliz!
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Oração subordinada substantiva apositiva
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n n
Reduzida: Apenas quero uma coisa: encontrar o meu próprio caminho. Desenvolvida: Apenas quero uma coisa: que eu encontre o meu próprio caminho.
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Oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo n n
Reduzida: A patinadora, a rodopiar no meio do palco, era a minha filha. Desenvolvida: A patinadora, que rodopiava no meio do palco, era a minha filha.
n n n n n n n n
Oração subordinada adjetiva reduzida de gerúndio n n
Reduzida: Vi cinco atletas da seleção correndo no calçadão. Desenvolvida: Vi cinco atletas da seleção que corriam no calçadão.
Oração subordinada adjetiva reduzida de particípio n n
Reduzida: Já foi usado o material comprado por mim. Desenvolvida: Já foi usado o material que eu comprei.
Orações subordinadas adverbiais reduzidas As orações subordinadas adverbiais podem ser reduzidas utilizando verbo no infinitivo, no particípio ou no gerúndio. Observe. Oração subordinada adverbial reduzida de infinitivo n n n n n n
Reduzida: Por ser sempre assim, já ninguém dá atenção! Desenvolvida: Porque é sempre assim, já ninguém dá atenção! Reduzida: Sem arrumarem o quarto, não iremos ao cinema. Desenvolvida: Caso não arrumem o quarto, não iremos ao cinema. Reduzida: Sem saber nada sobre você, eu acredito na sua honestidade. Desenvolvida: Embora eu não saiba nada sobre você, eu acredito na sua honestidade.
Reduzida: Não sendo honesta, só arrumou confusão. Desenvolvida: Como não foi honesta, só arrumou confusão. Reduzida: Precisando de ajuda, fale comigo. Desenvolvida: Caso precise de ajuda, fale comigo. Reduzida: Respeitando o combinado, outros acordos serão necessários. Desenvolvida: Ainda que respeitem o combinado, outros acordos serão necessários. Reduzida: Chegando à entrada do prédio, ele me ligou. Desenvolvida: Quando chegou à entrada do prédio, ele me ligou.
Oração subordinada adverbial reduzida de particípio n n n n n n n n
Reduzida: Arrependido, tentou resolver a situação. Desenvolvida: Uma vez que se arrependeu, tentou resolver a situação. Reduzida: Cumprida a sua promessa, poderá fazer como entender. Desenvolvida: Desde que cumpra a sua promessa, poderá fazer como entender. Reduzida: Resolvido este problema, outras dificuldades virão. Desenvolvida: Mesmo que resolvam este problema, outras dificuldades virão. Reduzida: Chegada a correspondência, o telefone tocou. Desenvolvida: Assim que a correspondência chegou, o telefone tocou.
As orações reduzidas dispensam os elementos de conexão (conjunções subordinativas e pronomes relativos), deixando o discurso mais conciso e menos prolixo. Outro ponto importante é que, nas orações reduzidas formadas por locução verbal, é o verbo auxiliar que indica o tipo de reduzida. Vejamos o exemplo dessa última consideração: n
Tendo saído do trabalho, passou pela casa da mãe. (reduzida de gerúndio)
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A18 Orações reduzidas
As orações subordinadas adjetivas podem ser reduzidas utilizando verbo no infinitivo, no particípio ou no gerúndio. Observe:
Oração subordinada adverbial reduzida de gerúndio
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Orações subordinadas adjetivas reduzidas
a eso de ncio; , dionde z da noite não nlace ácuntam e so-
Português Questão 02. 1ª – “...de que chegasse uma pessoa...” Subordinada substantiva completiva nominal 2ª – “...para me prender”. Subordinada adverbial final reduzida de infinitivo
Exercícios de Fixação 01. (UFT TO) Em produções escritas é comum o uso excessivo do elemento “que”. Substituí-lo por substantivos e orações reduzidas pode ser uma alternativa no sentido de eliminar seu uso exagerado. Considerando o enunciado “A coordenadora exigiu que adiasse o encontro até que as infrações que o funcionário cometeu fossem solucionadas.”, assinale a alternativa em que a substituição do “que” por substantivos e/ou orações reduzidas pode deixar o texto mais leve, sem alterar o sentido. a) A coordenadora exigiu o adiamento do encontro com o funcionário até as infrações serem solucionadas. b) A coordenadora exigiu o adiamento do encontro até a solução das infrações cometidas pelo funcionário. c) A coordenadora exigiu o adiamento do encontro com o funcionário até as infrações serem solucionadas por ele. d) A coordenadora exigiu o adiamento do encontro até as infrações cometidas serem solucionadas pelo funcionário. e) A coordenadora exigiu o adiamento do encontro até o funcionário solucionar as infrações cometidas por ele. 02. (Uerj RJ) Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender. No trecho acima, há duas orações subordinadas. Transcreva essas orações e classifique sintaticamente cada uma delas. 03. (Ibmec SP) XXVI
A18 Orações reduzidas
Poeta, em nossa Terra, Ainda existem palmeiras E no enterro das crianças Ainda canta o sabiá. Crescem lavouras de cana, De arroz, de trigo e café. Crescem fábricas e usinas, Crescem comércio e cidade. Automóveis que se cruzam num delírio de chegar. “Minha terra tem palmeiras” Tem crianças sem abrigo E homens sem trabalhar. Cada edifício que surge, Numa busca de infinito, É um casebre que tombou P’ra surgir noutro lugar. “Minha terra tem palmeiras”... Tem crianças seminuas E cachaça p’ra esquentar. Tem miséria pelos campos, Caatinga, floresta e mar, E no enterro das crianças Ainda canta o sabiá.
(Alvaro Moreyra)
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Alvaro Moreyra (1888 - 1964), contemporâneo de Manuel Bandeira, foi também autor representativo da primeira fase do Modernismo no Brasil. Destacou-se no universo da crônica e da poesia, em que a realidade e a ficção se fundem em temas do cotidiano, com ironia e força lírica. “É um casebre / que tombou” / (v. 16) “P’ra surgir noutro lugar” (v. 17) As três orações sublinhadas são classificadas, respectivamente, como: a) Principal / subordinada adjetiva explicativa / subordinada adverbial final. b) Coordenada assindética / coordenada sindética explicativa / subordinada adverbial causal. c) Principal / subordinada adjetiva restritiva / subordinada adverbial final reduzida de infinitivo. d) Coordenada assindética / subordinada adjetiva restritiva / subordinada adverbial condicional. e) Principal / subordinada adverbial consecutiva / subordinada adverbial final reduzida de infinitivo. 04. (Unisa SP) Depois de ficar rica, a China descobriu um problema: os maus hábitos de seus habitantes. Cuspir no chão, inclusive dentro do ônibus e do metrô, sorver ruidosamente o sorvete, furar filas são modos perfeitamente aceitáveis em Pequim ou Xangai. Quando os chineses viajam para outros países, o choque cultural é tremendo. O que para muitos é constrangedor, para Yue-Sai Kan foi uma oportunidade. Maior autoridade em etiqueta na China, ela enriqueceu com a publicação de sete best-sellers sobre comportamento, decoração e beleza, com a venda de cosméticos, com palestras e programas de entrevista, cultura e viagem na televisão. Às vésperas da Olimpíada de Pequim, prevendo o vexame diante dos visitantes estrangeiros, o governo chinês usou seus manuais para treinar voluntários. (Veja, 24.07.2013. Adaptado.)
No período – Às vésperas da Olimpíada de Pequim, prevendo o vexame diante dos visitantes estrangeiros, o governo chinês usou seus manuais para treinar voluntários. –, a oração reduzida de gerúndio pode ser substituída, sem alteração de sentido, por: a) conforme previa o vexame diante dos visitantes estrangeiros. b) já que previa o vexame diante dos visitantes estrangeiros. c) embora previsse o vexame diante dos visitantes estrangeiros. d) entretanto previa o vexame diante dos visitantes estrangeiros. e) à medida que previsse o vexame diante dos visitantes estrangeiros.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
“É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A população, aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra, constitui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema técnico atual”. A oração reduzida de gerúndio “abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema técnico atual” retoma como sujeito o seguinte sintagma: a) “uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais” b) “a população aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra” c) “descoberta pelas massas” d) “o discurso da escassez” e) “tais alicerces” 02. (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública) 1 O ambiente competitivo atual tem sido regido 2 pela transformação tecnológica, globalização, 3 competição acirrada e extrema ênfase na relação 4 custo-benefício, qualidade e satisfação do cliente, 5 exigindo um foco muito maior na criatividade e 6 na inovação como competência estratégica das 7 organizações. Competência estratégica essa que se 8 não for rapidamente priorizada e incrementada, a 9 organização tenderá a ficar obsoleta tal é a rapidez 10 das mudanças e da implementação de novos 11 serviços e produtos. 12 Se a pessoa quer ser criativa, deve fazer coisas 13 diferentes todos os dias! Mudar o seu ambiente de 14 trabalho, mudar alguma coisa no seu lar, ver novos 15 filmes, ir a novos lugares, falar com novas pessoas, 16 ler livros variados. Na medida em que a mente fica 17 exposta a novidades, há estímulo, a observação fica 18 mais aguçada e é mais fácil fazer novas conexões 19 entre as ideias. 20 Quando a pessoa tem paixão pelo trabalho 21 que realiza, a criatividade manifesta-se mais 22 espontaneamente, já que a tarefa é sentida 23 prioritariamente como prazerosa, acima do 24 dever, da obrigação. O autodesenvolvimento com 25 conhecimento não apenas na área de atuação, mas 26 em outros temas, amplia os horizontes e ajuda, 27 também, nas conexões de ideias variadas. Cabe 28 ressaltar também a habilidade de se trabalhar 29 em equipe, já que muitas vezes as ideias pegam 30 “carona” umas com as outras e a sinergia do 31 trabalho de um grupo coeso e diversificado em 32 suas capacidades é muito maior do que a soma do 33 intelecto dos indivíduos que o compõem.
Porém, algumas pessoas conseguem 35 implementar suas ideias e outras não. Por que 36 não? Porque têm receio de se expor, medo do 37 grupo social, de parecerem ridículas, e acabam 38 acomodando-se. Para implantar uma ideia criativa, 39 é preciso, acima de tudo, muita determinação. 40 A criatividade por si só não basta. É preciso 41 implementá-la. Transformá-la em uma inovação 42 concreta através de novos produtos, serviços, 43 formas de gestão. Senão ela não passa de uma 44 elucubração mental e não se transforma em ação. 34
HOLANDA, Fátima. Criatividade e inovação: O verdadeiro diferencial das empresas. Disponível em: <http:// www.portaleducacao.com.br/administracao/ artigos/3395/criatividade-e-inovacao-o-verdadeiro-diferencialdas- empresas#ixzz3mNZouefS>. Acesso em: 21 set. 2015. Adaptado.
A análise linguística dos elementos que compõem o texto está correta em 01. O tempo composto “tem sido regido” (Ref. 1) evidencia uma ação que se desenvolve no presente pontual, confirmando um fenômeno próprio da atualidade. 02. A marca linguística “muito” (Ref. 5) é um modificador da forma nominal “exigindo” (Ref. 5), intensificando essa ação. 03. O termo preposicionado “pelo trabalho” (Ref. 20) introduz uma circunstância de causa, sugerindo a razão pela qual se deve produzir de forma criativa. 04. O conectivo “mas” (Ref. 25) apresenta valor adversativo, explicitando uma contradição de ideias. 05. A oração reduzida “de se expor” (Ref. 36) completa o sentido do nome “receio” (Ref. 36), evidenciando uma razão pela qual muitas pessoas não conseguem implementar novas ideias. 03. (USF SP) A língua portuguesa tem à sua disposição um arsenal de estruturas linguísticas que podem evitar o emprego excessivo de conectivos, além de sofisticar o estilo textual do autor. Entre essas opções estão as orações reduzidas. Assinale a alternativa que faz uma afirmação correta sobre algumas das reduções das frases a seguir. a) ‘Em “Os protestos, duramente reprimidos pela polícia de Maduro, causaram a morte de 43 pessoas”, a oração reduzida em destaque, adverbial, poderia ser desenvolvida com o conectivo como, já que veicula ideia causal. b) Em “Apesar da pressão de alguns países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), não há data para uma reunião de emergência entre os presidentes do bloco para discutir o conflito”, a oração reduzida é adverbial consecutiva e poderia ser desenvolvida com a expressão a fim de que. c) Em “Jobim esteve na linha de frente para contornar crises anteriores provocadas pelo chavismo”, a oração destacada é adjetiva e, se fosse desenvolvida, seria reescrita com um pronome relativo.
617
A18 Orações reduzidas
01. (UEG GO) Considere o seguinte parágrafo:
Português
d) Em “Maduro rejeitou a criação de uma comissão de observadores eleitorais, inviabilizando os planos originais do governo brasileiro para tentar amainar os ânimos na Venezuela”, a oração destacada, reduzida de gerúndio, poderia ser desenvolvida com um conectivo concessivo, da sua relação semântica com sua principal. e) Em “Estima-se que cerca de 20 mil colombianos tenham sido deportados ou abandonado a Venezuela, provocando uma crise humanitária que o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, não esperava encarar em seu segundo mandato”, a oração destacada é reduzida de gerúndio e mantém relação de causa com a sua oração principal. 04. (FCM PB) Na frase: “O médico vai investir alguns minutos para entender o papel da fé na sua vida”, a estrutura oracional em destaque se apresenta reescrita na sua forma desenvolvida em: a) a fim de que entenda o papel da fé na sua vida. b) à medida que entenda o papel da fé na sua vida. c) conforme entenda o papel da fé na sua vida. d) mesmo que entenda o papel da fé na sua vida. e) caso entenda o papel da fé na sua vida. 05. (Mackenzie SP) Adquirir a capacidade de usar bem a língua requer − como toda atividade artística − uma rigorosa disciplina: só se pode manejar o meio, fazê-lo obedecer à nossa intenção expressiva, quando por nossa vez obedecemos sem discutir à sua estrutura própria, que nos precede e nos ultrapassa. No caso da escrita, é preciso seguir escrupulosamente a ossatura do idioma, mesmo quando se quer trincá-lo de leve: conhecer e respeitar a pontuação, a regência, a concordância, as normas de colocação das palavras na frase, as regras de coordenação e subordinação das orações ... A arte de escrever consiste em servir a língua para dela poder servir-se; a vassalagem é aqui condição do domínio do meio e, portanto, da possibilidade de exercitar a liberdade criativa.
A18 Orações reduzidas
Renato Mezan
Assinale a alternativa correta. a) No texto, o uso recorrente de orações reduzidas de infinitivo colabora para o efeito de generalização. b) O verbo “requerer” está corretamente flexionado na frase: “Seu domínio da língua requis muita dedicação”. c) Em seguir (...) a ossatura do idioma, o complemento do verbo pode ser corretamente substituído pelo pronome “lhe”. d) Substituindo-se obedecer por “respeitar” em obedecer à nossa intenção expressiva, mantém-se o acento grave, indicador de crase. e) No último período, a oposição entre vassalagem e domínio implica a exclusão de um termo em relação ao outro. 06. (ESPM SP) Como percepção da sociedade moderna, não há nada que se compare a ‘O Capital’, ao ‘Manifesto Comunista’ e aos escritos sobre a luta de classes na França. A potência da formulação e da análise até hoje deixa boquiaberto. Dito isso, os prognósticos de Marx sobre a revolução operária não se reali618
zaram, o que obriga a uma leitura distanciada. Outros aspectos da teoria, entretanto, ficaram de pé, mais atuais do que nunca, tais como a mercantilização da existência, a crise geral sempre pendente e a exploração do trabalho. Nossa vida intelectual seria bem mais relevante se não fechássemos os olhos para esse lado das coisas. (Roberto Schwarz, “Por que ler Marx”, Folha de S.Paulo, 22.02.2013)
No trecho: “Dito isso, os prognósticos de Marx sobre a revolução operária...”, a vírgula separa uma oração reduzida e isso também ocorre na frase: a) Nada influencia mais a mortalidade infantil, no Brasil de hoje, do que o baixo nível de escolaridade dos adultos. b) Nem a falta de dinheiro, de água ou de esgoto têm um impacto maior na mortalidade infantil. c) Se 1% dos adultos de uma cidade é alfabetizado, mais 47 crianças em média sobrevivem à primeira infância. d) O pesquisador do IBGE Celso Simões, autor do estudo, afirma que educação importa mais que saneamento. e) Tendo a mãe um pouco de educação, consegue-se que o filho tenha acesso aos programas sociais do governo. 07. (Udesc SC) 1 Ele: – Pois é. 2 Ela: – Pois é o quê? 3 Ele: – Eu só disse pois é! 4 Ela: – Mas “pois é” o quê? 5 Ele: – Melhor mudar de conversa porque você não me entende. 6 Ela: – Entender o quê? 7 Ele: – Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já! 8 Ela: – Falar então de quê? 9 Ele: – Por exemplo, de você. 10 Ela: – Eu?! 11 Ele: – Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 48.
Assinale a alternativa incorreta em relação ao período: “Quando eu era mulher-dama já ia juntando meu dinheirinho, dando porcentagem à chefa, é claro.” (Lispector, Clarice. A hora da estrela, p. 75.) a) O vocábulo “mulher-dama” é um substantivo composto, e refere-se à madame Carlota; se pluralizado fica mulheres-damas. b) O período é composto, formado por quatro orações, sendo que a segunda e a terceira orações são reduzidas do gerúndio, em relação à primeira oração que é a principal. c) A palavra “já”, no período, indica uma circunstância de tempo. d) O substantivo “dinheirinho” quanto à flexão de grau é diminutivo sintético, e o sufixo -inho está sendo usado para indicar valor afetivo. e) A palavra “mulher-dama”, sintaticamente, é predicativo do sujeito, e “dando”, quanto à transitividade, é verbo transitivo direto e indireto.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A19
FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE” As palavras “que” e “se” são as que mais possuem variáveis classificatórias na língua portuguesa. Elas podem ora funcionar como um pronome, ora como uma conjunção. Nesse sentido, a compreensão da classificação morfológica e sintática desses dois termos é fundamental para que você possa ler e escrever com mais qualidade qualquer texto.
ASSUNTOS ABORDADOS n Funções do “que” e do “se” n As funções do “se” n Índice de indeterminação do sujeito n As funções do “que”
Assim sendo, nesta aula, nós dedicaremos atenção especial a essas duas pequenas palavras, cujo conteúdo é, sem dúvida, um dos mais ricos da língua portuguesa. O termo “se” possui várias funções, entre as quais seis nós estudaremos com detalhe. Já o termo “que” possui mais de vinte funções, o que faz com que nós tenhamos de escolher as principais e estudá-las com o foco necessário.
As funções do “se” A seguir serão listadas algumas funções do “se”. Atente-se para cada uma delas: Pronome pessoal reflexivo Neste caso, o “se” vai servir para indicar uma ação que é praticada pelo sujeito e ele mesmo receberá suas consequências. Diz-se que, nesse caso, o sujeito pratica e sofre a ação. Veja: n n
Antônia arrependeu-se do que disse. Levantou-se mais cedo para trabalhar.
Pronome pessoal recíproco O pronome recíproco é muito parecido com o reflexivo, mas neste caso a ação envolve dois sujeitos, em que ambos praticam a ação um sobre o outro, portanto também sofrem a consequência da ação praticada: n n
Ana e João abraçaram-se. Meus pais se admiram fortemente.
Pronome apassivador Pode também ser chamado de partícula apassivadora/apassivante, e serve para indicar que a frase está na voz passiva sintética, ou seja, o sujeito sofre a ação praticada por outro agente. Chamamos de sujeito “paciente”. O pronome apassivador segue um VTD (verbo transitivo direto) que esteja na 3ª (terceira) pessoa: n
Vendem-se casas. Os anéis que se perderam foram encontrados.
Fonte: Shutterstock.com
n
619
Português
Índice de indeterminação do sujeito
As funções do “que”
Ao lado dos verbos que não admitem voz passiva (intransitivos, transitivos indiretos e de ligação), o pronome se pode indicar a indeterminação do sujeito. Bastando para isso, que o verbo esteja na terceira pessoa do singular:
A seguir serão listadas algumas das funções do “que”. Atente-se para cada uma delas:
Precisa-se de editor. Vive-se um dia de cada vez. Veste-se uma roupa de cada vez.
Nestes casos, admite o acompanhamento de um artigo indefinido (um), e pede uma preposição (de). Além disso, deve ser acentuado (quê).
n n
Partícula expletiva ou de realce Como o nome já sugere, o “se” servirá, neste caso, para realçar aquilo que está sendo dito, portanto poderá ser retirado da frase sem prejudicar a sua estrutura sintática e coesão: n n
Foi-se embora a minha última esperança. Vai-se já embora da minha casa!
Conjunção subordinativa a) Causal Pode ser substituída pelas construções “já que”, “visto que” e “por que”. É utilizada na oração subordinada para indicar a causa da oração principal: n
Se você não chegou, tivemos que improvisar um apresentador.
b) Condicional Indica uma condição para a oração principal: n
Se você não chegar cedo, teremos que improvisar um apresentador.
c) Integrante Aparece entre dois verbos para completar o sentido de um deles. É utilizada nas orações substantivas: n
n
Este texto tem um quê de romantismo... Nem parece um texto modernista.
Pronome adjetivo Como pronome, o “que” poderá ser interrogativo, exclamativo ou indefinido. n n
Que horas são? (interrogativo) Que delícia de jantar! (exclamativo)
Pronome relativo Neste caso, diz-se que é um dêitico, pois serve para recuperar termos que estão citados antes dele, fazendo-lhes referência. n
O chocolate que você me deu é muito delicioso!
Pronome interrogativo Considera-se, nesse caso, também como pronome indefinido. É encontrado o início de frases interrogativas. n
Que houve com o aniversariante?
Preposição Até pouco tempo atrás, era considerado coloquialismo, mas já é aceito pela gramática. O “que” é utilizado aqui para substituir o “de” após o verbo “ter”. n
Teremos que sair mais cedo hoje.
Fonte: Shutterstock.com
A19 Funções do “que” e do “se”
n
Perguntei se você trouxe a encomenda que pedi. Diga-me se estou certo ou errado.
Substantivo
620
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Advérbio de modo O “que” pode também substituir o “como”. n n
Que roupa mal costurada era aquela! (Como aquela roupa era mal costurada!)
c) Adversativa n
d) Explicativa n
Advérbio de intensidade Como a própria denominação diz, serve para intensificar o termo ao qual se refere. Equivale a “quão”. n
Que enganados andam os homens!
Partícula expletiva Neste caso, não tem função na oração, serve apenas para realçar determinado termo. n
Há muito tempo que não vou à minha cidade natal.
Interjeição n
Quê! Não acredito que vai custar tudo isso!
Conjunção coordenativa a) Aditiva n
Exemplo: Mexe que mexe e não encontra nada!
b) Alternativa n
Exemplo: Que aceitem ou que não aceitem, eu vou falar mesmo assim.
Exemplo: Vocês precisam escutar, que é muito importante.
Conjunção subordinativa a) Integrante Aparece no início de uma oração subordinada substantiva e não tem função sintática. n
Falou que não iria, mas acabou indo.
b) Comparativa Aparece no início de uma oração subordinada adverbial comparativa. n
Funciona para indicar uma exclamação do enunciador.
Exemplo: Pode falar à vontade que não vai fazer efeito!
Não há maior prova de amor que doar a vida pelo irmão.
c) Causal Aparece no início de uma oração subordinada adverbial causal. n
Tenho de tomar cuidado, que esse chão é muito escorregadio.
d) Consecutiva Expressa uma consequência do que acabou de ser afirmado. n
É tão pequeno que não alcança a geladeira.
Exercícios de Fixação
Uma revisão de dados recentes sobre a morte de línguas
Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século — uma taxa de extinção que supera as estimativas mais pessimistas quanto à extinção de espécies biológicas. (...) Segundo a Unesco, 96% da população mundial falam só 4% das línguas existentes. E apenas 4% da humanidade partilha o restante dos idiomas, metade dos quais se encontra em perigo de extinção. Entre 20 e 30 idiomas desaparecem por ano — uma média de uma língua a cada duas semanas. (...) Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/116/a-morteanunciada-355517-1.asp> acesso em 28 set. 2015.
Na frase “Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século”, que aparece no início do texto, o vocábulo “que” funciona como a) conjunção integrante e introduz uma nova oração com valor de predicativo do sujeito.
b) pronome relativo e estabelece uma ligação entre o verbo e a palavra “metade”. c) conjunção integrante e introduz uma nova oração com valor de sujeito. d) pronome e estabelece uma relação entre “linguistas” e o que sucede o pronome. e) conjunção integrante e introduz uma oração com valor de objeto direto. 02. (Uncisal AL) Aquilo que não mata só nos faz fortalecer Vivendo aprendi que é só fazer por merecer Que passo a passo um dia a gente chega lá Pois não existe mal que não possa acabar Não perca a fé em Deus, fé em Deus Que tudo irá se acertar NOGUEIRA, DIOGO. Fé em Deus. Disponível em: <http:// letras.mus.br/diogo-nogueira/1062615/>.Acesso em: 28 out. 2015.
621
A19 Funções do “que” e do “se”
01. (IFPE)
Português
O vocábulo que foi empregado, pelo compositor da canção,
vítima e o 29 aproveitador da suposta vantagem de ser vítima. 30
como pronome relativo
“Vantagem” que ele inventa a partir da lógica da 31 distorção à
a) em apenas uma ocorrência.
qual serve. Vítimas estão aí. Uma 32 reflexão sobre o tema talvez
b) em apenas duas ocorrências.
nos permita pensar em 33 nossas posturas e imposturas quando
c) em apenas três ocorrências.
atacamos e 34 somos atacados ao nível da linguagem.
d) em apenas quatro ocorrências.
35
e) nas cinco ocorrências.
dem também atuar contra nós. Ora,
03. (USF SP) O vocábulo que é uma das principais palavras de conexão da nossa língua. Suas duas funções mais recorrentes são a de pronome relativo, quando retoma um referente da oração anterior, e a de conjunção integrante, quando insere uma informação nova no discurso. Selecione a alternativa em que o trecho apresente um pronome relativo. a) O advogado de defesa, Carlos Gutiérrez, disse que o julgamento foi repleto de irregularidades (...). b) (...) com a clara intenção de desviar a atenção da gravíssima c) Estima-se que cerca de 20 mil colombianos tenham sido ded) Santos se dispôs a encontrar Maduro, mas exigiu que os líderes da Unasul “tomem decisões e não apenas tirem fotos”. e) Nesta altura, o Itamaraty teme que qualquer manifestação sua gere uma reação intempestiva de Maduro (...). 04. (Fac. Baiana de Direito BA) 1 No processo de rebaixamento 2
do debate e do diálogo que presenciamos
em escala nacional, surgem maledicências e mal-entendi3
dos 5
4
que se entrelaçam formando o processo que venho
chamando de “consumismo da linguagem”. Meios
6
de
que usam 42
41
39
usamos discursos,
por eles (penso na subjeti-
apresentadores de televisão que
mentira e pela maledicência). Aqueles
discursos sempre podem ocupar a posição de
algozes: usam seu discurso contra o outro, mas 43 também
podem ser usados por discursos que
44
julgam ser autenti-
camente seus. O que chamamos 45 de discurso, diferente do diálogo, sempre tem algo pensa que faz um
47
46
de pronto. Na verdade, quem
discurso sempre é feito por ele.
Somos construídos pelo que dizemos. E pelo 49 que pensamos
que estamos dizendo. A diferença 51
50
talvez esteja entre quem
que somos. Há sempre algum grau
de objetividade 52 nessas definições. 53
Quem pode com isso? Se a linguagem foi o 54 que nos tornou
seres políticos, a sua destruição 55 nos tornará o quê? TIBURI, Márcia. Consumismo da linguagem: sobre o rebaixamento dos discursos. Disponível em: <http://revistacult.uol.com.br/ home/2015/08/consumismo-da-linguagemsobre- o-rebaixamento-dos-discursos/>. Acesso em: 1 set. 2015. Adaptado.
Considerando-se os aspectos coesivos que mantêm a progressão do texto, é correto afirmar: 01. O pronome relativo “que”, em “que presenciamos em escala nacional” (Refs. 2-3), retoma anaforicamente o
parte da imprensa, onde indivíduos podem se expressar so-
vocábulo “discursos” (Ref. 1), introduzindo uma caracte-
8
bre ideologias, livremente, sem limites de responsabilidade 9
rística desse nome.
estabelecem compreensões gerais quanto a
02. O termo coesivo “onde”, em “onde indivíduos podem se
fatos 11 que passam a circular como verdades apenas 12 por-
expressar sobre ideologias” (Refs. 7-8), introduz uma ora-
que são repetidas. Quem sabe manipular o
ção adjetiva que restringe o lugar em que os meios de co-
ética e legal,
10
13
círculo vicioso
e tortuoso da linguagem ganha em 14 termos de poder. 15
guagem pelo incremento do O esvaziamento político expressão particular,
19
18
municação divulgam suas ideias.
“consumismo da
03. O conector “mas”, em “mas produz também o aproveita-
elemento político da lin-
dor da vítima” (Refs. 27-28), relaciona ideias paradoxais,
seu potencial demagógico.
assim como em “mas também somos usados por eles”
O processo que venho chamando de
linguagem” é a eliminação do
A19 Funções do “que” e do “se”
discursam pela
40
38
37
comunicação em geral, inclusas as redes sociais e grande 7
17
16
é, muitas vezes, mascarado de
(Refs. 37-38).
de direito à livre expressão. A histe-
04. A marca de oralidade “Ora”, em “Ora, usamos discur-
ria, a gritaria, as 21 falácias e falsos argumentos fazem muito
sos” (Refs. 36-37), substitui um conectivo com valor
sucesso, 22 são livremente imitados e soam como absurdos 23
semântico de adição, acrescentando novas ideias ao
20
apenas para quem se nega a comprar a lógica da 24 distorção em alta no mercado da linguagem.
que já foi exposto. 05. O conectivo “Se”, em “Se a linguagem foi o que nos tornou
A lógica da distorção é própria ao consumismo 26 da lingua-
seres políticos” (Refs. 53-54), introduz uma ideia de causa
gem. Como em todo consumismo, o 27 consumismo da lingua-
na constituição de uma pergunta retórica e pode ser subs-
gem produz vítimas, mas 28 produz também o aproveitador da
tituído pela locução conjuntiva “Já que”.
25
622
vidade dos jornalistas e
somos e quem pensamos
portados ou abandonado a Venezuela (...).
dos discursos,
mas também somos usados
48
crise econômica em que a Argentina mergulhara.
Os discursos podem fazer muita coisa por 36 nós, mas po-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
Quadrilha 1. João amava Teresa que amava Raimundo 2. que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 3. que não amava ninguém. 4. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 5. Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 6. Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 7. que não tinha entrado na história. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2002.
A palavra “que”, nos três primeiros versos, é: a) conjunção integrante e introduz oração subordinada substantiva objetiva direta. b) pronome relativo e introduz oração subordinada adjetiva restritiva. c) conjunção coordenativa e introduz oração coordenada sindética explicativa. d) pronome relativo e introduz oração subordinada adjetiva explicativa. 02. (Uncisal AL) Os vocábulos “que” e “se” são elementos que, além de colaborarem com a coesão textual, apresentam diferentes sentidos, dependendo da classe morfológica à qual pertencem. Diante disso, assinale a alternativa correta quanto à utilização desses termos nos excertos a seguir. a) Em “[...] o recomendado pelos especialistas é que se durma, no mínimo, nove horas por noite.”, o termo destacado funciona como partícula apassivadora, utilizada para destacar a ação em detrimento ao sujeito oracional. b) Em “Os smartphones são pré-requisitos para a vida moderna, tanto que se tornaram extensões do nosso corpo [...]”, o termo destacado classifica-se como índice de indeterminação do sujeito, utilizado como forma de generalizar o agente da ação verbal. c) Em “Dada a importância do sono para a saúde física e mental, adolescentes e adultos devem considerar se os smartphones não estão interferindo na qualidade de seu sono.”, o termo destacado classifica-se como uma conjunção integrante, com intenção de suscitar a reflexão de uma possibilidade. d) Em “Um novo estudo mostra que os jovens não estão dormindo tempo o suficiente [...]”, o termo destacado é um pronome relativo, que introduz uma restrição ao estudo divulgado. e) Em “Os smartphones são pré-requisitos para a vida moderna, tanto que se tornaram extensões do nosso cor-
po.”, o termo em destaque é uma conjunção integrante, pois estabelece uma relação de completude entre o verbo da oração principal e a subordinada que o completa. 03. (Fac. São Francisco de Barreiras BA) A vacinação é uma complexa estratégia para combater as doenças infectocontagiosas e marca, até hoje, o desenvolvimento das políticas públicas no campo da saúde. Essa técnica foi tecida cuidadosamente no ramo científico e institucional de 1970 a 1980, e cuja trajetória foi repleta de conflitos. Um conflito que é estudado nas aulas de História do Brasil foi o chamado de “Revolta da Vacina”, que ocorreu em 1904, no Rio de Janeiro, e consistiu numa tentativa do então presidente, Rodrigues Alves, juntamente com o prefeito Pereira Passos e o médico Oswaldo Cruz, de executar uma grande empreitada sanitária, como forma de “modernizar” e higienizar a região. Esse projeto tinha a finalidade de, além de retirar as pessoas das ruas, declarar guerra aos mosquitos, ratos e outros animais “maléficos” e também obrigar a população inteira a vacinar-se contra a varíola, criando, inclusive, a Lei da Vacina Obrigatória, em 31 de outubro de 1904. A reação popular foi extrema: pedradas, protestos, incêndios, dentre outras formas de revolta, que fizeram com que o governo revisse a obrigatoriedade. A maioria das vacinas são seguras e eficazes, mas não totalmente, já que seus receptores apresentam respostas imunogênicas e reações adversas em diferentes graus. O principal objetivo é promover a prevenção com menos efeitos colaterais. SAKAGAMI, Dominique Cristina de Costa. A inserção da vacina contra doença meningocócica no calendário de vacinação de Curitiba para a redução da morbi-mortalidade. Disponível em:<http://www. arcos.org.br/artigos>. Acesso em: 10 nov. 2016. Adaptado.
Levando-se em consideração os aspectos linguísticos do texto, está devidamente analisado o transcrito na alternativa: a) A expressão “das políticas públicas”, em “e marca, até hoje, o desenvolvimento das políticas públicas no campo da saúde.”, exerce a função de objeto indireto. b) A palavra “até”, na expressão “até hoje”, denota inclusão. c) O conector “ que”, em “Um conflito que é estudado nas aulas de História do Brasil foi o chamado de ‘Revolta da Vacina’, que ocorreu em 1904, no Rio de Janeiro,”, nas duas ocorrências, tem valor pronominal e introduz orações adjetivas, indicando, respectivamente, restrição e explicação relativas ao termo anterior. d) O pronome “Esse”, em “Esse projeto tinha a finalidade de, além de retirar as pessoas das ruas, declarar guerra aos mosquitos, ratos e outros animais ‘maléficos’ ” enuncia, de forma catafórica, o objetivo do projeto elaborado em 1904.
623
A19 Funções do “que” e do “se”
01. (Fac. Santo Agostinho BA)
Português
e) Os dois-pontos utilizados em “A reação popular foi extrema: pedradas, protestos, incêndios, dentre outras formas de revolta”, marcam a suspensão de uma voz não concluída, informando uma citação.
No fragmento de texto acima, a palavra QUE constitui pronome relativo, EXCETO em a) […] que é uma coalizão [...] (ref. 21) b) […] que se especializam [...] (ref. 21-22) c) […] que parte do problema [...] (ref. 22)
04. (UniforCE)
d) […] que publique em plataformas [...] (ref. 23) e) […] que são atingidas por uma organização jornalística. (ref. 24)
Gota d’água Chico Buarque
06. (Uninorte AC)
Já lhe dei meu corpo, minha alegria Já estanquei meu sangue quando fervia Olha a voz que me resta Olha a veia que salta Olha a gota que falta pro desfecho da festa Por favor Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota d’água Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br
No texto, há quatro ocorrências da palavra que. É correto classificá-la, respectivamente, como a) pronome relativo, pronome relativo, pronome relativo, conjunção subordinativa causal. b) conjunção integrante, pronome relativo, pronome relativo, conjunção subordinativa causal. c) pronome relativo nas quatro ocorrências. d) conjunção integrante nas quatro ocorrências. e) pronome relativo, pronome relativo, pronome relativo, conjunção integrante.
I
II
III
Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=tirinhas+inteligentes.. Acesso em: 19 nov. 2016
Em relação aos aspectos linguísticos presentes nessa tira, é correto afirmar: a) Os termos “você” e “que”, quadro I, pertencem à mesma classe gramatical, embora exerçam funções diferentes . b) ‘Os advérbios “sempre”, quadro I, indica circunstância de tempo, e “Geralmente”, quadro II, de afirmação. c) A locução verbal “vai ouvir”, quadro I, expressa a ideia de uma ação que ocorrerá no futuro em relação ao presente. d) No quadro II, o pronome relativo “que” retoma a palavra “pessoas” para introduzir uma explicação sobre seu emprego de forma generalizada. e) Os vocábulos “Nada” e “alguma”, quadro III, funcionam, no período em que estão inseridos, como pronomes adjetivos. 07. (Ibmec SP)
05. (ITA SP) Vídeos falsos confundem o público e a imprensa Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado.
Alastair Reid, editor administrativo do site First Draft, que é uma coalizão de organizações que se 22especializam em checar informações e conta com o apoio do Google, disse que parte do problema é que 23qualquer pessoa que publique em plataformas como o Facebook tem a capacidade de atingir uma audiência 24tão ampla quanto aquelas que são atingidas por uma organização jornalística. “Pode tratar-se de alguém 25tentando desviar propositalmente a pauta jornalística por motivos políticos, ou muitas vezes são apenas 26pessoas que querem os números, os cliques e os compartilhamentos porque querem fazer parte da conversa 27ou da validade da informação”, disse ele. “Eles não têm quaisquer padrões de ética, mas têm o mesmo tipo 28de distribuição.”
A19 Funções do “que” e do “se”
21
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/. (Publicado originalmente no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.)
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Folha de S. Paulo, 28/08/2015
No slogan acima, integrante de uma peça publicitária que apresenta múltiplos suportes para textos jornalísticos, é correto afirmar que o termo “todo” funciona como a) pronome relativo apenas na primeira ocorrência. b) adjetivo apenas na segunda ocorrência. c) pronome indefinido nas duas ocorrências. d) pronome demonstrativo nas duas ocorrências. e) advérbio de intensidade na segunda ocorrência.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A20
PONTUAÇÃO Pontuar bem um texto é fundamental para que você consiga expressar-se de forma eficaz o sentido de um enunciado. Afinal, uma vírgula é capaz de mudar totalmente o sentido de uma frase. No exemplo do diálogo a seguir, podemos observar o efeito da vírgula em funcionamento e as consequências interpretativas do uso inadequado desse sinal de pontuação.
ASSUNTOS ABORDADOS n Pontuação n Sinais de pontuação n Uso dos sinais de pontuação n Uso da vírgula
Um senhor está caminhando por um parque, quando avista uma barraquinha vendendo pamonha, queijo fresco e curau. O senhor que caminha, interessado em comprar um queijo fresco, pergunta ao vendedor: - Tem queijo, fresco? Leia atentamente os termos destacados “queijo fresco” e “queijo, fresco”. Na primeira ocorrência, a palavra “fresco”, funciona como um adjetivo que se refere ao próprio queijo. Já na segunda ocorrência, a palavra “fresco”, por estar isolada por vírgula, funciona como um vocativo que se refere ao vendedor de queijos. Nesse sentido, fica evidente que o humor no diálogo é justamente difamar o vendedor de queijo, chamando-o de fresco.
Sinais de pontuação Os sinais de pontuação da língua portuguesa são os seguintes: n n n n n n n n n n
Ponto(.); Dois-pontos (:); Reticências(...); Parênteses (); Ponto de exclamação (!); Ponto de interrogação(?); Ponto e vírgula (;); Travessão (–); Aspas (“”); Vírgula (,).
Uso dos sinais de pontuação Ponto Utilização do ponto: a) Indicação do final de uma frase declarativa: n
Acho que Pedro vai atrasar, devido ao trânsito.
b) Separação de períodos: n
Ela vai amanhã ao parque conosco. Ela ama passear.
n
V. Ex.ª (Vossa excelência)
Fonte: Shutterstock.com
c) Abreviação de palavras:
625
Português
Dois-pontos
Ponto de interrogação
Utilização dos dois-pontos:
Utilização do ponto de interrogação:
a) Início de fala de personagens:
a) Em perguntas diretas:
n
Ela disse: – Venha cá!
b) Antecedência de apostos ou de orações apositivas, de enumerações ou de sequência de palavras que explicam e/ ou resumem ideias anteriores. n n
Esta é a questão de que devemos tratar: os professores são desvalorizados. Anote meu e-mail: joaodasilva@hotmail.com
c) Antecedência de uma citação direta: n
É como disse Rousseau: “O homem nasce bom. A sociedade que o corrompe. ”
n
Quando é o seu aniversário?
Ponto e vírgula Utiliza-se ponto-e-vírgula para separar orações coordenadas muito extensas ou orações coordenadas nas quais já se tenha utilizado a vírgula: “O rosto de tez amarelenta e feições inexpressivas, numa quietude apática, era pronunciadamente vultuoso, o que mais se acentuava no fim da vida, quando a bronquite crônica de que sofria desde moço se foi transformando em opressora asma cardíaca; os lábios grossos, o inferior um tanto tenso.” (O Visconde de Inhomerim - Visconde de Taunay)
Reticências Utilização das reticências: a) Indicação de dúvidas ou de hesitação: n
Eu estou sentindo algo por você... Eu te amo muito.
b) Interrupção de uma frase incompleta sintaticamente: n
Só se você pudesse trazer meu presente...
Parênteses Utilização dos parênteses: a) Isolamento de palavras, de frases intercaladas de caráter explicativo, datas. Também podem substituir a vírgula ou o travessão: n n
Paul McCartney nasceu em Liverpool (1942). Era de manhã (uma linda manhã de primavera), e minhas flores enfim brotaram.
Ponto de exclamação Utilização do ponto de exclamação: b) Final de frases imperativas: n
Corra!
Travessão Utilização do travessão: a) Início da fala de um personagem no discurso direto: n n
b) Substituição da vírgula em expressões ou frases explicativas: n
Utilização das aspas: a) Isolamento de palavras ou expressões que fogem à norma culta, como gírias, estrangeirismos, palavrões, neologismos, arcaísmos e expressões populares: n n
A nossa viagem foi “irada”. O professor pediu um “feedback” aos seus alunos.
b) Indicar uma citação direta: n
n
“Ia viajar! Viajei. Trinta e quatro vezes, às pressas, bufando, com todo o sangue na face, desfiz e refiz a mala.” (O prazer de viajar - Eça de Queirós)
Fonte: Shutterstock.com
A20 Pontuação
Uai! Credo!
Dizem que Luís XVI – o rei decapitado – era covarde.
Aspas
c) Após interjeição: n
Então ele gritou com veemência: — Pare de me importunar com seu pedantismo!
626
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Uso da vírgula Uso da vírgula em uma oração Há oito regras essenciais para a utilização da vírgula. Leia-as a seguir junto aos respectivos exemplos: 1) Separação de termos de mesma função sintática: n Carlos, Joaquim, Clarice e João foram ao parque no domingo. n Chamaram os alunos de estudiosos, carinhosos e educados. 2) Separação dos predicativos deslocados dos núcleos a que se referem: n A aluna, irritada, desrespeitou suas colegas durante a aula. n Preocupada, a professora chamou a atenção de seus alunos. 3) Separação do adjunto adverbial deslocado do seu lugar normal: n Hoje, nos Estados Unidos, o porte de arma é legalizado. n Na virada do ano, as pessoas comemoram pulando sete “ondinhas”. 4) Colocação do objeto no início da oração para repeti-lo: n As empadas, eu as comi durante o jantar. 5) Deslocamento da conjunção adversativa ou conclusiva: n Os alunos chegaram tarde, não há, portanto, motivo para eles entrarem. n Carlos Eduardo gritou com sua mãe, ele, porém, a ama muito. 6) Separação do aposto e do vocativo do resto da oração: n Antônio, o aluno mais dedicado, tirou nota máxima na prova. n O resultado da prova, queridos alunos, será divulgado no site da escola. 7) Substituição de um verbo subentendido: n Alguns alunos são dedicados; outros, mal-educados. 8) Separação de expressões ou termos intercalados que servem para exemplificar, resumir, retificar, incluir ou excluir: n Esse problema, por exemplo, deve ser solucionado de forma rápida. Uso da vírgula entre orações Há quatro regras básicas para a utilização da vírgula entre orações. Leia-as atentamente a seguir: 1) Separação de orações coordenadas (com exceção daquelas iniciadas por e): n Minha avó faz aulas de piano, toca piano, é uma intelectual. n Estava nevando lá fora, mas as crianças queriam tomar sorvete. 2) Separação das orações subordinadas adjetivas explicativas da principal: n Juliana, que namora Osvaldo, vai viajar amanhã com a família. n Os alunos do Olimpo, que são dedicados, sempre são aprovados.
A20 Pontuação
3) Separação de orações que antecedem a oração principal: n Se os alunos chegarem atrasados, não poderão entrar na sala. n Quando eu passar no vestibular, meus pais dar-me-ão um carro de presente. 4) Separação de orações intercaladas: n O comunismo, ainda que seja utópico, é um meio de se chegar à igualdade.
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Bloom
Português
e ler ípua nformas mos essor aná-
Exercícios de Fixação 01. (ESPM SP) A reivindicação do massacre na Charlie Hebdo pela facção da Al-Qaeda na Península Arábica recoloca em primeiro plano um movimento afastado da mídia pelos sucessos militares da Organização do Estado Islâmico. (Le Monde Diplomatique Brasil, 04.02.2016)
Das afirmações abaixo sobre o uso da vírgula, assinale a única correta: a) o segmento “pela facção da al-Qaeda na Península Arábica” é um adjunto adnominal e deveria estar entre vírgulas. b) poderia haver uma vírgula após o sujeito “A reivindicação do massacre na Charlie Hebdo”. c) deveria haver uma vírgula após o objeto direto “um movimento afastado”. d) deveria haver uma vírgula após a forma verbal “recoloca”. e) o segmento “em primeiro plano” é um adjunto adverbial intercalado e poderia estar entre vírgulas. 02. (UniCesumar SP) Vidas públicas, vidas privadas Pouco tempo atrás, graças a uma amiga, pude ver a página no Facebook de um antigo colega da universidade com quem eu tinha perdido contato. Pude ver e ler, com assombro, como ele relatava cada acontecimento corrente de sua vida – encontros, visitas, experiências –, como narrava parte de sua história familiar e até revelava detalhes de sua vida sentimental e sexual! Na realidade, bi e homossexual (se a conjunção é possível). Que mecanismos podem levar um homem de 60 anos a participar dessa demolição do privado? Por que um encontro com uma pessoa determinada precisa adquirir o caráter de notícia?
A20 Pontuação
Nesse fragmento de texto, são empregados os travessões com a finalidade de a) destacar esclarecimentos. b) enunciar ideias dispensáveis. c) expressar dúvidas. d) amenizar questionamentos. e) confrontar ideias. 03. (FCM PB) OS DESÍGNÍOS E A CARACTERIZAÇÃO DA CIÊNCIA APLICADA No que concerne ao Brasil, a Constituição Federal de 1988, no seu art. 5º, estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo a todos a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, o que nos leva a questionar sobre como ficam esses direitos e garantias fundamentais, quando nos depa-
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ramos com problemas relacionados à falta de infraestrutura sanitária para grande parte da população? Com a falta ou má qualidade da alimentação? A existência de doenças tropicais, cujos vetores já foram erradicados em todos os países desenvolvidos? As epidemias, de dengue, chikungunya e, mais recentemente, a contaminação causada pelo vírus zika? São perguntas para as quais não teremos respostas nos próximos 30 ou 40 anos. (LIMA, João Batista Gomes de Lima. Os desígnios e a caracterização da Ciência Aplicada. O mundo da saúde. v 39. n.4)
No parágrafo acima, um sinal de pontuação repetidamente utilizado é a interrogação. Tal sinal se justifica, no texto, pelo fato de as perguntas a) denotarem surpresa. b) traduzirem ordens. c) indicarem incerteza ou dúvida no tocante ao seu conteúdo. d) encerrarem frases irônicas e ambíguas. e) incitarem o leitor a um processo reflexivo. 04. (Uni-FaceF SP) Leia o poema de Ferreira Gullar. Dois e dois: quatro Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena Como teus olhos são claros e tua pele, morena como é azul o oceano e a lagoa, serena como um tempo de alegria por trás do terror me acena e a noite carrega o dia no seu colo de açucena — sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena. (Toda poesia (1950-1980), 1980.)
No último verso do poema, a vírgula, além de marcar uma pausa que convida à reflexão, a) une duas palavras de mesma classe gramatical. b) explicita uma relação de causa e consequência. c) pode ser substituída pela forma verbal “seja”. d) atenua o valor concessivo de “mesmo que”. e) enfatiza o sentido pejorativo de “liberdade”.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
(Essencial, 2011.)
Verifica-se o emprego de vírgula para indicar a elipse (supressão) do verbo em: a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?” (1º parágrafo) b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...].” (3º parágrafo) c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” (1º parágrafo) d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.” (1º parágrafo) e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.” (3º parágrafo) 02. (UEL PR) 1 O velho adormeceu, a mulher sentou-se 1 à porta. Na sombra do seu descanso viu o sol vazar, lento rei n2 das luzes. Pensou no dia e riu-se dos contrários: ela, cujo nascimento faltara nas datas, tinha já o seu fim3 marcado. Quando a lua começou a acender as árvores do mato ela inclinou-se e adormeceu. Sonhou dali4 para muito longe: vieram os filhos, os mortos e os vivos, a machamba encheu-se de produtos, os olhos a5 escorregarem no verde. O velho
estava no centro, gravatado, contando as histórias, mentira quase todas.6 Estavam ali os todos, os filhos e os netos. Estava ali a vida a continuar-se, grávida de promessas. Naquela7 roda feliz, todos acreditavam na verdade dos velhos, todos tinham sempre razão, nenhuma mãe abria a sua8 carne para a morte. Os ruídos da manhã foram-na chamando para fora de si, ela negando abandonar aquele9 sonho, pediu com tanta devoção como pedira à vida que não lhe roubasse os filhos.10 Procurou na penumbra o braço do marido para acrescentar força naquela tremura que sentia. Quando a11 sua mão encontrou o corpo do companheiro viu que estava frio, tão frio que parecia que, desta vez, ele12 adormecera longe dessa fogueira que ninguém nunca acendera. (Adaptado de: COUTO, Mia. A fogueira. In: Vozes anoitecidas. São Paulo, Companhia das Letras, 2013. p. 25).
Sobre a pontuação utilizada no texto, considere as afirmativas a seguir. I. Em “ela, cujo nascimento faltara nas datas, tinha já o seu fim marcado”, as vírgulas separam uma oração de sentido explicativo. II. O deslocamento dos dois pontos (linha 4) para após o trecho “vieram os filhos” não causaria prejuízo à coesão do período. III. Em “vieram os filhos, os mortos e os vivos, a machamba encheu-se de produtos”, as duas vírgulas indicam enumeração. IV. No trecho “tão frio que parecia que, desta vez, ele adormecera longe dessa fogueira” (linhas 11 e 12), as vírgulas marcam intercalação de locução temporal. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 03. (PUC Campinas SP) Considere o trecho inicial do conto “A aranha”, do escritor e jornalista paulista Orígenes Lessa (19031986). 1 — Quer assunto para um conto? – perguntou o Eneias, cercando-me no corredor. 2 Sorri. 3 — Não, obrigado. 4 — Mas é assunto ótimo, verdadeiro, vivido, acontecido, interessantíssimo! 5 — Não, não é preciso... Fica para outra vez... 6 — Você está com pressa? 7 — Muita!
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A20 Pontuação
01. (Unesp SP) Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697). “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...].. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
Português
— Bem, de outra vez será. Dá um conto estupendo. E com esta vantagem: aconteceu... É só florear um pouco. 9 — Está bem...Então...até logo...Tenho que apanhar o elevador... 10 Quando me despedia, surge um terceiro. Prendendo-me à prosa. Desmoralizando-me a pressa. 11 − Então, que há de novo? 12 — Estávamos batendo papo... Eu estava cedendo, de graça, um assunto notável para um conto. Tão bom, que até comecei13 a esboçá-lo, há tempos. Mas conto não é gênero meu − continuou o Eneias, os olhos azuis transbordando de14 generosidade. 15 — Sobre o quê? − perguntou o outro. 16 Eu estava frio. Não havia remédio. Tinha que ouvir, mais uma vez, o assunto. 17 — Um caso passado. Conheceu o Melo, que foi dono de uma grande torrefação aqui em São Paulo, e tinha uma ou várias18 fazendas pelo interior? 19 Pergunta dirigida a mim. Era mais fácil concordar. 8
(In: Omelete em Bombaim, 1946. Disponível em: www.academia.org.br)
A20 Pontuação
A análise do trecho evidencia: a) nas falas − Não, não é preciso... Fica para outra vez... / Está bem...Então...até logo..., o autor valeu-se das reticências como recurso para sugerir o acanhamento da personagem ao tentar recusar com evasivas a oferta de Eneias tão insistentemente renovada. b) o intenso desejo de Enéias de ceder um assunto para um conto é a força que estabelece o embate entre ele e o provável escritor a quem oferece o caso real; a chegada de um terceiro é fato que equilibra o confronto, pois, naquele momento, não beneficia nem a Eneias, nem ao provável escritor. c) o espaço em que se desenvolve a conversa relatada poderia ter sido oferecido ao leitor em trechos que interromperiam, momentaneamente, a narração das falas para desenhar o lugar ou lugares da ação; como isso não se dá, o leitor é livre para imaginar onde os interlocutores estariam situados. d) o leitor tem acesso somente a poucas linhas descritivas, motivo pelo qual conhece apenas algumas características de uma única personagem, o fazendeiro Melo; nada sobre o perfil das duas outras é perceptível no excerto transcrito. e) para dar maior expressividade ao texto, o autor valeu-se da formulação os olhos azuis transbordando de generosidade; ao construir essa figura, Lessa baseou-se na semelhança entre o que está em destaque e o termo que ele substitui. 04. (ESPM SP) A vírgula, antes do conetivo E, foi utilizada de modo inadequado na opção: a) Dólar encosta em R$3,17, e Bolsa encerra o dia perto da estabilidade, após dúvida sobre arrecadação do governo. b) Depois da desistência da ESPN Brasil de negociar com a Globo, os canais SporTV, e agora também o canal da Fox, transmitirão a Copa do Mundo da Rússia para o Brasil.
630
c) A Lua bloqueia a luminosidade do astro-rei; numa faixa que cruza os Estados Unidos, esse alinhamento será perfeito, e o eclipse será total. d) O comediante Jerry Lewis colecionou polêmicas, principalmente relacionadas à comunidade gay, e uma fama de rabugento incorrigível. e) Procurador Geral da República denuncia senador acusado de corrupção passiva, e lavagem de dinheiro na operação Zelotes. 05. (Fac. Albert Einstein SP) Era digital desafia exercício profissional “A medicina não sobreviverá ao velho método do médico de família, mas terá que se adaptar”. A afirmação é do desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Diaulas Costa Ribeiro, proferida durante a mesa redonda “Panorama atual das mídias sociais e aplicativos na medicina contemporânea”. Para ele, as novas tecnologias trazem desafios que precisam ser colocados em perspectiva para garantir a ética e o sigilo. Federal de Medicina (CFM). Brasília, jul. 2017, p. 7.
No primeiro parágrafo do editorial do CFM, as aspas são empregadas, respectivamente, para demarcar a) críticas tanto ao Tribunal de Justiça quanto à mesa redonda de Diaulas Costa Ribeiro. b) o dizer tal e qual foi proferido por Diaulas Costa Ribeiro e o título da mesa-redonda. c) o velho método do médico de família e o estado das mídias sociais na medicina atual. d) o uso de modernas tecnologias na medicina e a fala do desembargador do TJDFT. 06. (PUC SP) Considerando o texto abaixo, marque a alternativa correta. Também nesse caldo de cultura brotam as famigeradas “fake news”, notícias falsas criadas pela má-fé e propagadas em meio à balbúrdia informativa. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br /opiniao /2017/10/ 1925264 -formato-global.shtml. Acesso em: 08 out.
a) introduzir o significado de caldo de cultura. b) apresentar onde surgem as “fake news”. c) contrapor os significados das “fake news” com os das notícias falsas. d) isolar o emprego da expressão estrangeira do que ela significa. 07. (Unirg TO) Observe o fragmento de “A sereníssima república”, um conto de Machado de Assis: “A aranha [...] apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre”. Marque a alternativa que justifica o emprego das duas primeiras virgulas. a) destacam o adjunto adnominal de “moscas”. b) evidenciam o adjunto adverbial de companhia. c) separam o complemento nominal de “moscas”. d) indicam um aposto, expressão explicativa sobre “moscas”.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (UEA) Considere o trecho a seguir, também de Órfãos do Eldorado,
03. (UFRN) Prólogo
em que Arminto recorda-se de uma conversa com Florita.
No princípio era o pântano, com valas de agrião e rãs coaxan-
Quando rememora sua juventude, período em que estava mo-
1
rando em Manaus, Arminto comenta como era o seu dia a dia:
tes. Hoje é o parque do Anhangabaú, todo ele relvado, com ruas de asfalto, [...] a Eva de Brecheret, a estátua de um ado-
Arranjei um serviço no empório de um português, estudava de manhã, almoçava no mercado, e passava a tarde carregando caixas e atendendo fregueses. Mesmo com um ordenado miúdo, avisei a Estiliano que estava pagando o aluguel do quarto. No trecho em destaque tem-se a ideia de concessão, que também está presente em: a) Sei que Amando e meu avô tinham inimigos. b) A única saída era vender o palácio branco, minha última propriedade valiosa. c) Aprendeu a gostar dele, apesar da baixeza. d) Não esqueci o que ela me disse logo depois do enterro de Amando [...]. e) O cemitério de Vila Bela é um matagal só, ela disse. 02. (Enem MEC)
lescente nu que corre − e mais coisas. Autos voam pela via central, e cruzam-se pedestres em todas as direções. Lindo parque, civilizadíssimo. Atravessando-o certa tarde, vi formar-se ali um bolo de gente, rumo ao qual vinha vindo um polícia apressado. Fagocitose, pensei. A rua é a artéria; os passantes, o sangue.
5
O desordeiro, o bêbado, o gatuno são os micróbios maléficos, perturbadores do ritmo circulatório. O soldado da polícia é o glóbulo branco − o fagócito de Metchennikoff. Está de ordinário parado no seu posto, 10circunvagando olhares atentos. Mal se congestiona o tráfego pela ação antissocial do desordeiro, o fagócito move-se, caminha, corre, cai a fundo sobre o mau elemento e arrasta-o para o xadrez. Foi assim naquele dia. [...] 15 Alguém perturbara a paz do jardim, e em redor desse rebelde logo se juntou um grupo de glóbulos vermelhos, vulgo passantes. E lá se vinha o fagócito fardado restabelecer a harmonia universal. LOBATO, Monteiro. O fisco (Conto de Natal). In:______. Negrinha. São Paulo: Globo, 2008. p. 63-64.
Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com.br. Acesso em: 21 set. 2011.
Nessa charge, o recurso morfossintático que colabora para o efeito de humor está indicado pelo(a) a) emprego de uma oração adversativa, que orienta a quebra da expectativa ao final. b) uso de conjunção aditiva, que cria uma relação de causa e efeito entre as ações. c) retomada do substantivo “mãe”, que desfaz a ambiguidade dos sentidos a ele atribuídos, d) utilização da forma pronominal “la”, que reflete um tratamento formal do filho em relação à “mãe”. e) repetição da forma verbal “é”, que reforça a relação de adição existente entre as orações.
Corresponde a uma forma desenvolvida da oração reduzida “Atravessando-o certa tarde […]” (ref. 5): a) Certa tarde, a ponto de atravessá-lo. b) Quando ia atravessá-lo, certa tarde. c) Certa tarde, enquanto o atravessava. d) Contanto o atravessasse, certa tarde. 04. (Unimontes MG) Leia o seguinte texto. “E, se o luxo desse tempo existe, eu o emprego para ser, para viver, ou para correr atrás de mais um trabalho a fim de pagar dívidas nem sempre necessárias?” (ref. 30) Sobre a construção sintática do período acima e as relações sintático-semânticas entre as orações que o compõem, estão corretas todas as afirmativas abaixo, EXCETO a) A oração “E (...) eu o emprego” classifica-se como principal. b) A oração iniciada por “se” exprime um fato hipotético. c) Trata-se de um período composto por subordinação, apenas. d) Quatro orações do período exprimem finalidade em relação à sua principal. 631
Português
05. (IFAL) “É sabido que o fato novo assusta os indivíduos, que
Na oração relativa “que achou que não seria convocado”,
preferem o mal velho, testado e vivido, à experiência nova,
o pronome “que” faz uma retomada anafórica do seguinte
sempre ameaçadora. Se você disser ao cidadão desprevenido
elemento:
que o leite, por ser essencial, deve sair das mãos dos particu-
a) “Ex-atleta da seleção brasileira”
lares para cooperativas ou entidades estatais, se você disser
b) “armador”
que os bancos, vivendo exclusivamente das poupanças popu-
c) “Raul Filho”
lares, não têm nenhuma razão de estar em mãos privadas,
d) “Raulzinho”
o cidadão o olhará com olhos perplexos de quem vê alguém propondo algo muito perigoso. Mas, se, ao contrário, você advogar a tese de que a água deveria ser explorada por parti-
07. (PUC SP) De Caetano a Guimarães Rosa, veja as referências de Cármen Lúcia em seu discurso de posse
culares, todos se voltarão contra você pois — com toda razão — jamais poderiam admitir essa hipótese, tão acostumados
POR LUMA POLETTI | 13/09/2016 10:00
estão com essa que é uma das mais antigas realizações co-
Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen Lúcia,
munitárias do homem: a água é direito e serventia de todos. Por isso o cidadão deve ficar alerta, sobretudo para com os malucos, excepcionais e marginais, pois estes, quase sempre, são os que trazem as mais espantosas propostas de renovação contra tudo o que foi estabelecido.” Millôr. In: Redação em construção. Ed. Moderna. p. 105.
A palavra que, como pronome relativo, desempenha o papel gra-
so, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos e fez menção a Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, clássico de Guimarães Rosa e uma das mais. A escolha das referências musicais da ministra dá pistas sobre sua visão acerca do atual momento sociopolítico. Citando o
em cujo trecho do texto o que não apresenta essa função.
cantor e compositor Caetano Veloso, presente na sessão – que
a) [...] que o fato novo assusta os indivíduos [...]
interpretou em voz e violão o hino nacional – Cármen Lúcia
b) [...] que preferem o mal velho, testado e vivido [...]
concordou que “alguma coisa está fora da ordem”.
c) [...] que é uma das mais antigas realizações comunitárias do
“Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural concluem em uníssono: alguma coisa está fora de ordem, fora da nova ordem
d) [...] que trazem as mais espantosas propostas [...]
mundial”, disse a ministra. “O que nos cumpre, a nós servidores
e) [...] que foi estabelecido.
públicos em especial, é questionar e achar resposta: de qual
06. (Unievangélica GO) Leia o texto a seguir. Após “tirar” o pai de Barcelona 1992, Raulzinho brilha pelos dois no Mundial
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
segunda-feira (12), citou trechos de canções de Caetano Velo-
matical de referência ao seu antecedente. Assinale a alternativa
homem [...]
ordem está tudo fora…”, acrescentou. O cantor já se posicionou contra o governo do presidente Michel Temer, nos bastidores da cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016.
Ex-atleta da seleção brasileira, Raul Filho desistiu de jogar o
A nova presidente do STF também citou a música “Comida”,
maior torneio de sua carreira para ver o nascimento do arma-
da banda Titãs. “Cumpre-nos dedicar-nos de forma intransi-
dor, que achou que não seria convocado.
gente e integral a dar cobro ao que nos é determinado pela
Mesmo antes de nascer, em 1992, o atleta mais novo do
Constituição da República e que de nós é esperado pelo
elenco do Brasil foi decisivo na carreira do pai. Convocado
cidadão brasileiro, o qual quer saúde, educação, trabalho,
para a pré-lista do então técnico José Medalha para os Jogos
sossego para andar em paz por ruas, estradas do país e tri-
de Barcelona do mesmo ano, Raul Filho desistiu do torneio
lhas livres para poder sonhar além do mais. Que, como na
poucas horas antes de embarcar de Minas para São Paulo,
fala do poeta da música popular brasileira, ninguém quer só
por causa do nascimento de seu filho do meio. No saguão do
comida, quer também diversão e arte”.
hotel de Madri, onde a delegação brasileira está hospedada
Um dos compositores da canção citada é Arnaldo Antunes,
para a fase final da Copa do Mundo, o cestinha da vitória
que também se posicionou contra o impeachment de Dilma
contra a Argentina, com 21 pontos, brincou com a repor-
Rousseff nas redes sociais.
tagem do GloboEsporte.com, dizendo que “tirou” o pai da
Versos
competição mais importante do esporte.
Cármen Lúcia também citou versos da escritora Cecília Mei-
Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/basquete/noticia/2014/09/ apos-tirar-o pai-de-barcelona-1992-raulzinho-brilha-pelos-dois-no-mundial. html>. Acesso em: 09 set. 2014. (Adaptado).
632
que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal nesta
reles, ao dizer que “liberdade é um sonho que o mundo inteiro alimenta” – da obra Romanceiro da Inconfidência, lan-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
çada em 1953. “Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade
municar 04 com os sumérios na antiga Mesopotâmia, por volta
é um sonho, que o mundo inteiro alimenta, parece-me ser a
de 3.000 a.C., 05 ou às conquistas do antigo império egípcio, ou
Justiça um sentimento, que a humanidade inteira acalenta”,
ainda do império dos
discursou a ministra.
grego como segunda língua, em 07 reconhecimento ao prestígio
Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez menção a
daquela civilização. É possível afirmar 08 que, desde os primeiros
um personagem do livro Grande Sertão: Veredas, do escri-
intercâmbios entre sociedades, quando 09 civilizações descobri-
tor mineiro (tal como a ministra) Guimarães Rosa. “Riobaldo
ram e dominaram outros povos, a necessidade de
afirmava que ‘natureza da gente não cabe em nenhuma cer-
mento entre falantes de línguas distintas levava interessados
teza’. Mas parece-me que a natureza da gente não se aguen-
a
ta em tantas incertezas. Especialmente quando o incerto é a
de comunicar-se;
Justiça que se pede e que se espera do Estado”, disse a nova
língua estrangeira em 13 situações comunicativas.
presidente do STF.
14
À parte o estudo do grego e do latim (este, detentor, por longo
Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por Cármen
15
período, do título de língua franca), que se restringira à gra-
Lúcia. “Em tempos cujo nome é tumulto escrito em pedra,
mática e 16 à tradução para fins culturais, políticos ou religiosos,
como diria Drummond, os desafios são maiores. Ser difícil não
é a partir de 17 meados do século XVII [...] que a necessidade de
significa ser impossível. De resto, não acho que para o ser hu-
aprender um novo 18 idioma, com o intento genuíno de comuni-
mano exista, na vida, o impossível”, disse a ministra, em refe-
cação, se intensificou.
11
“O Judiciário brasileiro sabe dos seus compromissos e de suas responsabilidades. Em tempo de dores multiplicadas, há que se multiplicarem também as esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos”, disse Cármen Lúcia, em referência ao “Poema Didático”, de Paulo Mendes Campos. Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-caetano-a-guimaraes-rosa-vejaas-referencias-de-carmen-lucia-em-seu-discurso-de-posse. Acesso em: 26 set.2016. [Adaptado]
10
entendi-
12
buscava-se, como hoje, a oralidade numa
Vera Hanna, Línguas estrangeiras: o ensino em um contexto cultural.
Texto II 01
O domínio de uma língua estrangeira, em especial o inglês,
02
é uma exigência cada vez mais frequente nas empresas. A
maior 03 parte dos candidatos às vagas, por sua vez, atesta no currículo que 04 fez cursos – o que em geral é verdade. Mas, na prática, são poucos
05
os que sustentam uma entrevista mais
detalhada em outro idioma 06 ou mantêm uma conversação em inglês sem grande esforço. Para 07 muitos prevalece a sensação de só cometer um erro após outro. E o 08 pior é que a inseguequívocos
“Riobaldo afirmava que ‘natureza da gente não cabe em ne-
rança quanto à gramática e o medo de cometer
nhuma certeza’. Mas parece-me que a natureza da gente não
terminam por comprometer as possibilidades de acerto. 10 Em
se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quando o in-
muitos casos, nem mesmo anos de aula mudam essa situação. Jan Dönges, Revista Mente e Cérebro.
certo é a Justiça que se pede e que se espera do Estado”. Nesse trecho do terceiro parágrafo da parte Versos, Luma Poletti emprega as aspas simples dentro das aspas duplas para a) identificar com as simples o texto de Guimarães Rosa e as duplas a fala de Riobaldo. b) evidenciar com as simples o discurso de Cármen Lúcia e com as duplas pensamento de Riobaldo. c) assinalar com as simples o dizer de Riobaldo e com as duplas o discurso da ministra. d) indicar com as simples a natureza da gente e com as duplas o discurso de Cármen Lúcia. 08. (Mackenzie SP) Texto I
09
Assinale a alternativa INCORRETA. a) No texto II, a forma verbal atesta (Ref. 03) pode ser usada no singular ou no plural, como abonam gramáticas do português contemporâneo. b) No texto I, a forma se restringira (Ref. 15) pode ser substituída por “tinha se restringido”, mantendo-se, mesmo assim, a correção gramatical do texto. c) A forma poderia se retroceder (Ref. 02), tal como empregada no texto I, pode ser substituída por “poderia retroceder-se”, sem prejuízos para a correção gramatical. d) No texto I, é opcional o uso da crase na expressão à parte (Ref. 13), tal como empregada no texto, pois as duas formas são corretas gramaticalmente.
01
Quando se pensa em traçar um histórico sobre o aprendizado
e) A expressão em geral (Ref. 04), no sentido como é emprega-
02
de línguas estrangeiras, poderia se retroceder aos primórdios
da no texto II, pode vir ou não isolada por vírgulas: “que, em
dos 03 tempos globalizantes, com os acadianos tentando se co-
geral, é verdade”.
633
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
tando um terceiro escritor mineiro: Paulo Mendes Campos.
romanos, eles mesmos aprendendo o
aprender novos idiomas com o propósito mais natural, o
rência ao poema “Nosso tempo”, do escritor mineiro. A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o discurso ci-
06
Fonte: Wikimidia commons
FRENTE
B
PORTUGUÊS Por falar nisso A partir de 1945, o mundo começa a viver as consequências da Segunda Guerra Mundial: declínio das antigas potências – Alemanha, França, Inglaterra e Japão –; ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética; crescimento socialista; guerra fria; conquistas espaciais; industrialização. Com o fim do Estado Novo, uma assembleia constituinte elabora uma nova Constituição e, em 1946, o marechal Eurico Gaspar Dutra é eleito presidente. A partir daí, o Brasil vive as influências da Guerra Fria, alinha-se ao Bloco Ocidental que realiza uma política de contenção ao avanço comunista, elege mais uma vez Getúlio Vargas, conhece a habilidade e o espírito desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, assiste à transferência da capital para o Planalto Central, decepciona-se com a renúncia de Jânio Quadros e, depois de quase três anos do atribulado governo de João Goulart, ingressa na era da Revolução de 1964. No que diz respeito à literatura, as décadas de 1940 até 1960 produzem desde a poesia “neoparnasiana” da “Geração de 45” - salva do descrédito pela maestria de João Cabral de Melo Neto -, até a continuação de produções como as de Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, além da fertilidade da poesia concreta, da poesia de práxis, da obra poética de Ferreira Gullar e do poema-processo. Nas décadas de 50 e 60, crescem e aperfeiçoam-se os meios de comunicação. Em 1955, o Brasil dispõe de 477 emissoras de rádio e meio milhão de receptores. E o que se pode ouvir? Além de “O Direito de nascer” e do “Repórter Esso”? Adoniran Barbosa, Valdir Azevedo, Linda e Dircinha Batista, Emilinha, Cauby Peixoto, Ângela Maria e mais alguns ídolos que frequentavam as páginas da Revista Rádio. A televisão chega ao Brasil em 1950. Havia aqueles que preferiam gastar suas horas de lazer assistindo ao filme o Cangaceiro, de Lima Barreto (1953), ao início do ciclo de filmes sobre o Nordeste, e, pouco mais tarde, ao discutidíssimo movimento do Cinema Novo. Ou então se divertiam assistindo às peças do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) ou ao grupo Opinião – teatro de protesto do qual fazia parte Ferreira Gullar. Em 1965, assume a presidência o marechal Castelo Branco e cria-se o cruzeiro novo e, ao mesmo tempo, o Ato Institucional Número Dois - AI-2. Extinguem-se os antigos partidos e instituiem-se a Arena e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB. Em 1967, Arthur da Costa e Silva assume a presidência e em 1968, ano das passeatas e das grandes manifestações contra o governo, é assinado o Ato Institucional nº 5, seguido do recesso do Congresso e muitas cassações. Em 1969, Costa e Silva, por motivo de saúde, afasta-se do governo e assume Emílio Garrastazu Médici. O estabelecimento da censura prévia de livros e periódicos, a inauguração de trecho da Transamazônica, da ponte Rio-Niterói e o exílio de muitos brasileiros foram alguns dos acontecimentos que marcaram a passagem de Garrastazu Médici pela presidência até 1974. Nesse mesmo ano, assume o governo o General Ernesto Geisel. No início da década 1980, cai o cruzeiro para dar lugar ao cruzado e aos pacotes econômicos que a Nova República tratou de instaurar. Entra um novo presidente para substituir João Batista Figueiredo. José Sarney, embora fosse vice, assumiu a presidência em 1985, após Tancredo Neves falecer antes de dar aos brasileiros a oportunidade de ver as promessas políticas postas em prática. Chega ao fim a Velha República. Os brasileiros voltaram a votar, mas continuaram a queixar-se da inflação, da dívida externa e do Fundo Monetário Institucional - FMI. Tornaram-se entusiasmados fiscais do Sarney e em seguida, descrentes da política econômica. Viram os efeitos da era atômica instalarem-se no centro do País. Goiânia se viu diante de um dos maiores acidentes radiológicos com o césio-137. Os brasileiros viram também a esperança de uma nova Constituição se esvair na confusão partidária da Assembleia constituinte. É nesse cenário muito conturbado e em meio às notícias brasileiras, que os jornais anunciavam e a televisão transmitia, ao vivo e em cores, que surge a “Geração de 45”. Uma geração de poetas que vai ganhando corpo, trazendo textos que se opõem às conquistas e inovações dos modernistas de 1922, negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras” modernistas. Esses poetas de 45 se dedicam a uma poesia mais equilibrada e séria”. Os poetas brasileiros pós-modernistas e contemporâneos encontraram em sua poesia e em seus textos críticos uma forma de fazer da linguagem um instrumento de sua contundente visão de mundo. O concretismo, movimento lançado em meados dos anos 1950, liderado pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e por Décio Pignatari, pregava o aproveitamento do espaço tipográfico, a dissolução e o reagrupamento dos vocábulos, o jogo semântico, visual, acústico. Pósmodernistas e contemporâneos não chegaram aos extremos de romper com as conquistas dos primeiros modernistas, mas não abriram mão da pesquisa estética. Nos próximos módulos, vamos conhecer nomes como João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, produzindo uma literatura da mais alta qualidade, mas não vamos nos esquecer do genial Manuel de Barros dos goianos Cora Coralina e Bernardo Élis. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
B17 B18 B19 B20
Pós-Modernismo I – Poesia – João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros.....................................................................................................636 Pós-Modernismo II – Poesia social e concreta – Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália.............................................649 Pós-Modernismo III – O teatro de Nelson Rodrigues, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernardo Élis.............................................667 Prosa Contemporânea Brasileira e Portuguesa – Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela.........................................................687
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B17
ASSUNTOS ABORDADOS n Pós-modernismo - I Poesia - João
Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros n João Cabral de Melo Neto n Manoel de Barros
PÓS-MODERNISMO I – POESIA – JOÃO CABRAL DE MELO NETO E MANUEL DE BARROS João Cabral de Melo Neto A poesia, para os pós-modernistas, nada mais era do que a arte da palavra, e trazia, dessa forma, um intenso rompimento com o caráter social, político, religioso e filosófico que foi explorado pela geração anterior. João Cabral de Melo Neto é considerado por alguns críticos um caso à parte na literatura brasileira. Chamado de antipoeta em relação à lírica anterior, para o poeta, não há uma só emoção que não venha pensada, uma só palavra que não chegue a um conceito, uma só música, sem a exatidão e a nudez do único som necessário. A obra cabralina é uma das maiores criações da cultura brasileira do século XX. Ele é um poeta que rompeu com o sentimentalismo, com a melodia fácil, com a poesia de inspiração. Seus versos são despojados, ásperos, rudes, e rigorosamente trabalhados. Conduzido pelo raciocínio e pela lógica, seus poemas penetram no universo dos objetos, das paisagens e dos fatos sociais.
Fonte: Wikimedia Commons
O encantamento estético que sua poesia pode causar vem de uma leitura racional e analítica, não do envolvimento emocional com o texto. É, na verdade, quase uma ruptura com o lirismo. É considerada uma poesia cerebral e não emotiva. O poeta recorre a uma construção elaborada da linguagem para criar uma atmosfera poética. João Cabral afirmava que a poesia se encontra no rigor de sua construção e na organização do texto em si. Por isso, ele é considerado um escritor singular dentro da literatura brasileira. Para ele, o trabalho poético não é fruto de uma “inspiração” ou uma espécie de momento criativo. Por conta disso, João Cabral é chamado pelos críticos de “arquiteto das palavras” ou de “o poeta-engenheiro”.
Figura 01 - João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999)
636
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
O estilo cabralino traz uma poesia clássica que busca a harmonia, a objetividade, o equilíbrio e o rigor formal. Cabral escreveu uma poesia antilírica, dirigindo-se, sobretudo, ao raciocínio, sem concessões ao confessionalismo e ao sentimentalismo. É chamado, com muita propriedade, de “o poeta engenheiro”, tal o grau de planejamento formal que emprega na produção de seus poemas. Quando escreve, coloca uma palavra sobre a outra, assim como o engenheiro coloca pedra sobre pedra. O autor faz uma poesia visual, sólida, exata, geométrica e sóbria, cujas palavras de tal maneira articuladas ganham massa, volume e nitidez. João Cabral valoriza o substantivo e o verbo, usa poucos adjetivos e, quando eles aparecem, são essenciais. n
n
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n
n n
O primeiro livro de Cabral de Melo - Pedra do Sono apresenta elementos que o aproximam do surrealismo. São eles: irrealidade, sonho e sono. Em O engenheiro, embora apresente poemas de caráter surrealista, traz as bases de sua nova concepção de poesia. Uma linguagem mais sintética e precisa. Preocupado com a organização do texto, a concisão e a precisão da linguagem, o poeta busca a palavra objetiva, exata, para a concretização do poema, que mantém sob contenção a musicalidade fácil e repudia o exagero metafórico. Cabral de Melo rejeita - em poemas de caráter metalinguístico - a inspiração e assume a objetividade diante do ato de escrever. Utiliza em suas obras o artifício da musicalidade, dentro do estilo de rima toante. Ele constrói uma poesia não lírica, não confessional, presa à realidade e dirigida ao intelecto.
Pedra do sono reúne vinte poemas curtos nos quais há a predominância de uma visão surrealista do mundo, como se pode notar no poema que segue: Composição Frutas decapitadas, mapas, aves que prendi sob o chapéu, não sei que vitrolas errantes, a cidade que nasce e morre, no teu olho a flor, trilhos que me abandonam, jornais que me chegam pela janela repetem os gestos obscenos que vejo fazerem as flores me vigiando em noites apagadas onde nuvens invariavelmente chovem prantos que não digo. Psicologia da composição (1947)
Obras do autor: Pedra do sono; O engenheiro; Psicologia da composição; O cão sem plumas; O rio; Morte e vida severina; Quaderna; Educação pela pedra; Museu de tudo; A escola das facas; Auto do frade; Crime na Calle Relator. Poemas representativos Pedra do sono (1942) foi o primeiro livro da coletânea do poeta e reúne diversos poemas escritos durante sua adoles637
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
A grande preocupação da Geração de 45 era buscar uma nova expressão literária, por meio da experimentação e inovações estéticas, temáticas e linguísticas. Uma arte voltada para a palavra e a forma, ao mesmo tempo que explorava assuntos essencialmente humanos, como é o caso de João Cabral de Melo Neto. Ele é considerado pelos críticos “não apenas um dos maiores poetas sociais, mas um renovador consistente, instigante e original da dicção poética antes, durante e depois dele”.
cência em Pernambuco. A obra já traz alguns temas e imagens que serão tratados por João Cabral em outro momento, mas ainda de forma não muito desenvolvida. Nos poemas de Pedra do sono, há uma intenção de experimentação poética, com algumas tentativas de caráter surrealista, mas há também a construção bem trabalhada que será a marca de João Cabral posteriormente.
Fonte: Wikimedia Commons
O neomodernismo de João Cabral
Português
Com Psicologia da composição (1947), João Cabral dá o passo definitivo em direção à objetividade poética que marca toda a sua obra a partir de então. O livro traz poemas sobre o fazer poético, nos quais leva mais adiante a sua objetividade, rejeitando a poesia como fruto de inspiração. “Psicologia da composição” é um poema que traz reflexões sobre a própria criação poética, que é uma constante dentro da obra de João Cabral. “Saio de meu poema / como quem lava as mãos”. Esses versos que iniciam o poema “Psicologia da composição” mostram que para o autor, a poesia deixa de ser fruto de um momento de inspiração e passa a ser o resultado de um esforço cerebral, um trabalho de artesão da palavra. A ação de “lavar as mãos” ao terminar um poema é muito parecida com o fim do trabalho de um artesão ou de um escultor. Nessa obra, a tendência racionalista já se mostra mais amadurecida. O poeta abandona a inspiração e assume uma posição de objetividade diante da escrita. Observe o fragmento transcrito abaixo, do poema “Psicologia da composição”: É mineral o papel onde escrever o verso; o verso que é possível não fazer. São minerais as flores e as plantas, as frutas, os bichos quando em estado de palavra. O engenheiro (1945)
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
Nessa obra, o poeta começa a revelar os traços essenciais de sua poesia: o racionalismo e a construção artesanal do poema, rompendo com a visão surrealista do primeiro momento. Essa característica, a partir daí, irá predominar em toda a sua obra, como se pode observar num trecho do poema “O engenheiro”: A luz, o sol, o ar livre envolvem o sonho do engenheiro. O engenheiro sonha coisas claras: superfícies, tênis, um copo de água. O lápis, o esquadro, o papel; o desenho, o projeto, o número: o engenheiro pensa o mundo justo, mundo que nenhum véu encobre. (Em certas tardes nós subíamos ao edifício. A cidade diária, como um jornal que todos liam, ganhava um pulmão de cimento e vidro.) A água, o vento, a claridade, de um lado do rio, no alto as nuvens, situavam na natureza o edifício crescendo de suas forças simples. 638
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Fonte: Wikimedia Commons
Em A educação pela pedra, a linguagem é seca, precisa, concisa, desprezando o sentimentalismo. A arte não é intuitiva – ela é calculada, nua e crua. A poesia de Cabral vai em busca da palavra exata, em um exercício de lapidação da palavra e do próprio poema. É uma poesia com a objetividade de uma pedra. Leia o fragmento a seguir. Nesse poema, podemos observar a objetividade e crueza da palavra, em meio à aridez da existência retratada. Encontramos, nesse texto, duas preocupações exemplares do poeta: a metalinguagem e a denúncia social. A educação pela pedra Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu andensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma. Melo Neto (1979, p. 11-12)
No poema, a pedra, apesar de ser um objeto inanimado, duro, frio, ela ensina ao homem. A pedra que, inicialmente, não tem nenhuma qualidade, não demonstra sentimento, não faz nada e é passada despercebida, ganha, nas mãos de João Cabral de Melo, essa poesia fantástica. Na segunda estrofe, a pedra é movida para o sertão, para a alma do sertanejo, e continua pétrea, mostrando que seus versos não irão exibir seus sentimentos mais íntimos, apenas a objetividade. Isso quer nos dizer que, nos poemas de A educação pela Pedra, João Cabral busca a aventura intelectual, e nunca temas universais como a busca do coração do homem. A pedra nos remete à aridez humana e geográfica do Nordeste e é símbolo constante na obra do autor, fazendo confluir a temática social (linguagem-objeto) com a reflexão sobre o fazer poético no próprio texto artístico (metalinguagem).
639
Português
Fonte: Wikimedia Commons
Morte e Vida Severina Morte e vida severina é a obra-prima do autor pernambucano, escrita entre 1954 e 1955. É um poema de construção dramática com exaltação à tradição pastoril. É um texto escrito em forma de poesia, numa sequência de cenas – ora monólogos, ora diálogos, e foi adaptado para o teatro, para a televisão, como também para o cinema. A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos. O poema choca pelo realismo demonstrado na universalidade da condição miserável do retirante diante da miséria, fome e morte. Esse longo poema foi encenado no teatro, com música de Chico Buarque, tornando-se, assim, uma das obras mais conhecidas de João Cabral de Melo Neto.
Figura 02 - Capa do DVD – do especial produzido pela Rede Globo
Morte e vida Severina (cujo subtítulo é Auto de Natal pernambucano), obra mais famosa e popular do autor, que retrata em forma de um poema dramático a trajetória de Severino, - um retirante nordestino que se encaminha para o Recife em busca de uma vida melhor no litoral, mas encontra apenas a seca, a subnutrição e a morte por onde passa. Essa obra revela a preocupação social, evidenciando os problemas do homem nordestino dentro do seu meio. O poema é construído em redondilha maior (sete sílabas poéticas) e é dividido em duas partes: a primeira, “caminho ou fuga da morte”, passa-se antes do protagonista chegar à capital Recife; e a segunda, “presépio ou encontro da vida”, é após a chegada à cidade. Assim, o poema dramático é centrado em duas linhas narrativas que seguem a dicotomia existente no próprio título da obra: “morte” e “vida”.
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
No trecho que você vai ler, Severino segue sua trajetória rumo à cidade quando encontra os irmãos das almas que conduzem um cadáver. O sertanejo toma o lugar de um deles na condução do defunto e assiste ao enterro desse trabalhador, ouvindo o que os amigos dizem do morto que está sendo levado ao cemitério: - Essa cova em que estás,
- É uma cova grande
com palmos medida,
para teu pouco defunto,
é a conta menor
mas estarás mais ancho
que tiraste em vida.
que estavas no mundo.
- É de bom tamanho,
- É uma cova grande
nem largo nem fundo,
para teu defunto parco,
é a parte que te cabe
porém mais que no mundo
deste latifúndio.
te sentirás largo.
- Não é cova grande,
- É uma cova grande
é cova medida,
para tua carne pouca,
é a terra que querias
mas a terra dada
ver dividida.
não se abre a boca. MELO NETO. João Cabral de. Poesias completas. 2.ed.Rio de Janeiro, José Olympio, 1975.p.201.
Pouco a pouco, Severino vai percebendo que apenas os que fazem da morte “ofício ou bazar” conseguem trabalho: rezadeiras, farmacêuticos, coveiros etc. Desencantado com a vida e pensando mesmo em entregar-se à morte, Severino recebe a notícia do nascimento de uma criança, símbolo da resistência da “vida Severina”, o que lhe dá novo alento. 640
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Manoel de Barros
Assim o próprio poeta se definia: “Sou mais a palavra ao ponto de entulho. Amo arrastar algumas no caco de vidro, envergá-las pro chão, corrompê-las, - até que padeçam de mim e me sujem de branco” “O que escrevo resulta de meus armazenamentos ancestrais e de meus envolvimentos com a vida. Sou filho e neto de bugres, andarejos e portugueses melancólicos. Minha infância levei com árvores e bichos do chão. Penso que a leitura e a frequentação das artes desabrocha a imaginação para um mundo mais puro. Acho que uma inocência infantil nas palavras é salutar diante do mundo tão tecnocrata e impuro. Acho mais pura a palavra do poeta que é sempre inocente e pobre”
Carlos Drummond de Andrade foi uma das maiores referências de João Cabral de Melo Neto. O pernambucano chegou a afirmar que Drummond o ensinou que “ser poeta não significava ser sonhador, que a ironia e a prosa cabiam dentro da poesia”. A poesia de João Cabral de Melo Neto também foi influenciada pelas obras de artistas plásticos como o holandês Piet Mondrian, com suas telas abstratas geométricas, e o catalão Joan Miró, com suas pinturas abstratas surrealistas; além do encantamento provocado pela fragmentação e pelas colagens propostas por cubistas como o espanhol Pablo Picasso e o pintor e escultor francês Georges Braque. As teorias arquitetônicas de Le Corbusier também tiveram influência na obra do poeta pernambucano. João Cabral costumava dizer que havia aprendido com esse arquiteto que a poesia “é uma construção, como uma casa”. http://redes.moderna.com.br/2014/10/09/ poesia-objetiva-de-joao-cabral-de-melo-neto/
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
Fonte: Wikimedia Commons
SAIBA MAIS
Considerado como um dos maiores poetas contemporâneos brasileiros, Manoel de Barros é formalmente ligado ao pós-modernismo, situando-se mais próximo das vanguardas europeias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Sua obra está cronologicamente vinculada à Geração Modernista, de 1945, assim como João Cabral de Melo Neto. Manoel de Barros estreou em 1937 com o livro Poemas Concebidos sem Pecado. Em 1996, publicou sua obra mais conhecida, Livro sobre nada. O estilo de Barros A poesia de Manoel de Barros transita entre o sonho e a racionalidade, características singulares que fizeram dele um dos maiores poetas brasileiros. Depois das suas duas primeiras publicações em livro, as quais expressavam um lirismo mais impessoal e ligado às convenções poéticas, a poesia de Manoel de Barros assume as características personalíssimas que marcam a sua obra: a descrição da natureza com inspiração no Pantanal. Com a publicação de A face imóvel (1942), sua poesia passa a ter o Pantanal como “pano de fundo”. É nesse universo propício, que os poemas se mesclam, por meio de sua natureza, das coisas simples e de seu cotidiano. O bioma tem a ver com suas origens. 641
Português
Fonte: Wikimedia Commons
E é, nesse cenário, que a linguagem poética busca aguçar os órgãos dos sentidos, isto é, transformar em visual, tátil, olfativo, gustativo e auditivo aquilo que parece ser abstrato. O poeta pantaneiro utiliza um vocabulário coloquial-rural e uma sintaxe que valoriza a oralidade e a oralitura, expandindo as possibilidades expressivas e comunicativas do léxico por meio da formação de neologismos. Deleitar-se com a obra de Manoel de Barros é aprofundar em uma nova gramática literária, é acompanhar o desmembramento do idioma em neologismos e figuras de linguagem, totalmente desvinculados da linguística normativa, mas que obedecem às regras da vegetação rasteira do Pantanal mato-grossense. Uma das constantes da poesia de Manoel de Barros é a presença de andarilhos, de peregrinos e de outros seres que vagam pelos ermos do Pantanal recriado, pelos becos das cidades portuárias que emulam a Cuiabá natal ou pela Corumbá que o poeta adotou como sua terra. O escritor falava sobre homens, crianças, rios, insetos, de coisas belas, porém, sujas ou malditas. Falava das incertezas da vida e da absoluta desconexão com a produção literária contemporânea do autor. Escrevia sobre o brincar, se sujar, olhar para o céu e deixar-se levar pelo tempo da natureza. Livro sobre nada (1996), de Manoel Barros, é um livro diferente, sem um gênero definido, contendo poesia e prosa, “pensamentos” e fragmentos. É seu trabalho mais conhecido, no qual ele desenvolveu sua linguagem própria, que batizou de “idioleto manoelês arcaico”. Na abertura de sua obra, diz o poeta:
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
[...] o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc. etc. O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora. A poesia que busca o originário, que subverte radicalmente a linguagem para apresentar o “real”, é a poesia do “des-”; uma poesia construída a partir da negação. Desconstruir “as coisas” do seu significado mais habitual, desconstruir para construir, fazer “delirar”, como afirma o próprio poeta, usando o verbo, descoisificar a realidade. E quando ele descoisifica o real ele constrói vários outros significados inexistentes. O que Barros quer é dizer que a poesia é a linguagem que quer o avesso do avesso. A poesia quer a “desutilidade”, o “dessaber”, os “desúteis”. Em uma análise bastante pertinente, Afonso de Castro (UnB) enumera três máximas recorrentes em Manoel de Barros: A poética de Manoel de Barros concilia três faces: não abandona as raízes de origem; a configuração geográfica do pantanal continua como matriz de interpretação luxuriante das águas, dos répteis, dos vermes, dos peixes, das aves, das árvores, dos animais e dos homens, instaurando imagens transformacionais de um universo plurissensorial; o poeta passa a assumir todas as propriedades e faculdades de cada ser que habita o pantanal, estabelecendo uma comunicação direta entre todos os componentes deste universo. (CASTRO, 1991, p. 12).
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A arte de infantilizar formigas Depois de ter entrado para rã, para árvore, para pedra - meu avô começou a dar germínios. Queria ter filhos com uma árvore. Sonhava de pegar um casal de lobisomem para ir vender na cidade. Meu avô ampliava a solidão. No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do quintal : Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra dentro. Um lagarto atravessou meu olho e entrou para o mato. Se diz que o lagarto entrou nas folhas, que folhou. Aí a nossa mãe deu entidade pessoal ao dia. Ela deu ser ao dia, e ele envelheceu como um homem envelhece. Talvez fosse a maneira que a mãe encontrou para aumentar as pessoas daquele lugar que era lacuna de gente. Manoel de Barros
Arte de infantilizar formigas apresenta passagens da infância do autor. A relação com o universo infantil é muito importante, pois vai insinuar vários fatores, entre eles, a valorização da pequenez, da simplicidade, das insignificâncias, enfim, o nada.
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Manoel dignifica “coisinhas sem santidade” como os “urinóis enferrujados”, as garças, rolinhas, rãs, borboletas, lagartos, trastes, formigas, violetas e outras “coisas imprestáveis”. As coisas tinham para nós uma desutilidade poética Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber A gente inventou um truque para fabricar brinquedos com palavras O truque era só virar bocó Como dizer: Eu pendurei um bem-te-vi no sol... O que disse Bugrinha: Por dentro de nossa casa passava um rio inventado O que nosso avô falou: O olho do gafanhoto é sem princípios Mano Preto perguntava: será que fizeram o beija-flor diminuído só para ele voar parado? As distâncias somavam a gente para menos O pai campeava campeava A mãe fazia velas Meu irmão cangava sapos Bugrinha batia com uma vara no corpo do sapo e ele virava uma pedra Fazia de conta? Ela era acrescentada de garças concluídas Manoel de Barros
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Português
O cuidado com a linguagem é uma característica marcante nos poemas de Manoel de Barros. É possível observar uma derrubada da construção sintática, além do frequente emprego de neologismos e figuras de linguagem como as sinestesias. Em seus poemas, podemos ainda encontrar temas como o medo da morte, o destino do homem, a sombra da infância projetada no adulto e a busca da felicidade. Sua obra inclui 18 livros de poesia, além de livros infantis e relatos autobiográficos. Barros recebeu inúmeros prêmios literários, entre eles, dois Jabutis, por O guardador de águas, de 1989, e O fazedor do amanhã, de 2002. Quem foi Manoel de Barros Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 1916 - Campo Grande, 2014) foi um poeta pertencente a “Geração 45”, recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Viveu na Bolívia, no Peru e por um ano em Nova York, onde fez curso de cinema e pintura no Museu de Arte Moderna. Manoel foi agraciado com o “Prêmio Orlando Dantas”, em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro Compêndio para uso dos pássaros. Em 1969, recebeu o “Prêmio Fundação Cultural do Distrito Federal” pela obra Gramática expositiva do chão e, em 1997, o Livro sobre nada recebeu o “Prêmio Nestlé”, de valor nacional. Em 1998, recebeu o “Prêmio Cecília Meireles” (literatura/poesia), concedido pelo Ministério da Cultura. Foi considerado o maior ou um dos maiores poetas do Brasil, e um dos mais aclamado nos círculos literários. Seu trabalho tem sido publicado em Portugal, onde é um dos poetas contemporâneos brasileiros mais conhecidos, na Espanha e na França. O tímido Nequinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares, cresceu livremente em uma fazenda no Pantanal. No derradeiro texto do Livro das Ignorãças, 1993, no poema “Autorretrato falado”, Manoel confessa: B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
“Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, Aves, pessoas humildes, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.” Hoje Manoel de Barros é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais originais do século e mais importantes do Brasil.
Fonte: Wikimedia Commons
SAIBA MAIS
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Aos dezoito anos, Manoel de Barros entrou para a Juventude Comunista e escreveu o seu primeiro livro, Nossa Senhora de minha escuridão, que embora não tenha sido publicado, salvou-o da prisão. Manoel havia pichado “Viva o Comunismo” em uma estátua. A polícia foi buscá-lo na pensão onde morava. A dona da pensão o defendeu, afirmando que o menino era um poeta e que havia até escrito um livro. O policial pediu que provassem, mas levou o rascunho da obra e deixou Manoel livre.
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Exercícios de Fixação
A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. BARROS, Manoel. O retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998.
01. (UECE) Levando em conta as relações de sentido presentes no texto de Manoel de Barros acima, é correto afirmar que o conteúdo temático geral do poema se estabelece na seguinte oposição semântica: a) humanização versus coisificação. b) riqueza versus pobreza. c) ação versus inércia. d) grandeza versus pequenez. 02. (FCM MG) Leia o poema de João Cabral de Melo Neto. NUM MONUMENTO À ASPIRINA Claramente: o mais prático dos sóis, o sol de um comprimido de aspirina: de emprego fácil, portátil e barato, compacto de sol na lápide sucinta. Principalmente porque, sol artificial, que nada limita a funcionar de dia, que a noite não expulsa, cada noite, sol imune às leis da meteorologia, a toda hora em que se necessita dele levanta e vem (sempre num claro dia): acende, para secar a aniagem da alma, quará-la, em linhos de um meio-dia.
Convergem: a aparência e os efeitos da lente do comprimido de aspirina: o acabamento esmerado desse cristal, polido a esmeril e repolido a lima, prefigura o clima onde ele faz viver e o cartesiano de tudo nesse clima. De outro lado, porque lente interna, de uso interno, por detrás da retina, não serve exclusivamente para o olho a lente, ou o comprimido de aspirina: ela reenfoca, para o corpo inteiro, o borroso de ao redor, e o reafina. (http://cmais.com.br/aloescola/literatura/poesias/joaocabraldemeloneto_ nummonumentoaaspirina.htm Acessado em: 17/06/2017.)
Sobre esse poema, é INCORRETO afirmar que: a) O autor sugere efeitos colaterais negativos do uso da aspirina. b) O poema estrutura-se em dois blocos compactos e simétricos. c) A relação entre “monumento” e “aspirina” contém dado humorístico. d) A palavra “linho”, na primeira estrofe, guarda analogia com o verbo “quarar”. 03. (Unifor CE) Tecendo a manhã Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. MELO NETO, Cabral. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Sobre o poema de João Cabral, assinale a alternativa INCORRETA:
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Retrato do artista quando coisa
Português
a) Os seres humanos estão ligados por fios de solidariedade. b) Não há necessidade das relações interpessoais para viver. c) Em todas as atividades humanas há, de alguma forma, a contribuição de outras pessoas. d) As realizações constituem uma produção humano-social. e) A identidade coletiva se manifesta através de uma realização. 04. (UFRGS) Leia abaixo o diálogo entre Severino e Mestre Carpina, retirado de Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
— Seu José, mestre carpina, que lhe pergunte permita: há muito no lamaçal apodrece a sua vida? e a vida que tem vivido foi sempre comprada à vista? — Severino, retirante, sou de Nazaré da Mata, mas tanto lá como aqui jamais me fiaram nada: a vida de cada dia cada dia hei de comprá-la. — Seu José, mestre carpina, e que interesse, me diga, há nessa vida a retalho que é cada dia adquirida? espera poder um dia comprá-la em grandes partidas? — Severino, retirante, não sei bem o que lhe diga: não é que espere comprar em grosso tais partidas, mas o que compro a retalho é, de qualquer forma, vida. — Seu José, mestre carpina, que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida? Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações. ( ) Severino, retirante chegado ao Recife, questiona a vida miserável de Mestre Carpina. ( ) Mestre Carpina defende a necessidade de viver mesmo que em condição precária. ( ) Mestre Carpina nega-se a ouvir os infundados questionamentos de Severino. ( ) Severino, em sua última interrogação, aponta uma hesitação entre viver e morrer. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é 646
a) V – V – F – V. b) V – F – F – F. c) V – F – V – V.
d) F – V – F – V. e) F – V – V – F.
05. (Enem MEC) Dois parlamentos Nestes cemitérios gerais não há morte pessoal. Nenhum morto se viu com modelo seu, especial. Vão todos com a morte padrão, em série fabricada. Morte que não se escolhe e aqui é fornecida de graça. Que acaba sempre por se impor sobre a que já medrasse. Vence a que, mais pessoal, alguém já trouxesse na carne. Mas afinal tem suas vantagens esta morte em série. Faz defuntos funcionais, próprios a uma terra sem vermes. MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a): a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte. b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente. c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte. d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra. e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. 06. (UCS RS) Leia as afirmações feitas a partir da obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. I. A peça, em forma de poema, apresenta a história de um dos tantos severinos de Maria, filhos de Zacarias, que foge da morte que os abate antes da velhice. II. A trajetória do migrante nordestino em busca de um mundo melhor permeia o enredo: por onde passa, encontra miséria, morte, pobreza, sofrimento. III. O título é um exemplo de poesia engajada que retrata a dura realidade da população nordestina. IV. O nascimento de uma criança pode representar a esperança de dias melhores; mesmo com tantas adversidades, há uma quebra na trajetória sofrida do personagem. Das proposições acima, a) apenas I e II estão corretas. b) apenas I e IV estão corretas. c) apenas II, III e IV estão corretas. d) apenas III e IV estão corretas. e) I, II, III e IV estão corretas.
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Exercícios Complementares
O futebol brasileiro evocado da Europa A bola não é inimiga como o touro, numa corrida; e embora seja um utensílio caseiro e que não se usa sem risco, não é o utensílio impessoal, sempre manso, de gesto usual: é um utensílio semivivo, de reação própria como bicho, e que, como bicho, é mister (mais que bicho, como mulher) usar com malícia e atenção dando aos pés astúcia de mão. MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 407.
02. (UCS RS) Leia as afirmações em relação à obra Morte e vida severina, escrita por João Cabral de Melo Neto. I. A peça teatral pode ser classificada como um auto de natal pernambucano. II. A peça, ao contar a saga do nordestino, elege a forma popular com versos curtos, comuns nos autos medievais. III. As únicas profissões possíveis de trabalhar, conforme o enredo, são aquelas ligadas à morte. Das proposições acima, a) apenas I está correta. b) apenas II está correta. c) apenas I e III estão corretas. d) apenas II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas. 03. (PUC RJ) A educação pela pedra
Texto II
Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la.
Foi-se a Copa? Foi-se a Copa? Não faz mal. Adeus chutes e sistemas. A gente pode, afinal, cuidar de nossos problemas. Faltou inflação de pontos? Perdura a inflação de fato. Deixaremos de ser tontos se chutarmos no alvo exato. O povo, noutro torneio, havendo tenacidade,
Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma.
ganhará, rijo, e de cheio, a Copa da Liberdade. ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, p. 1345.
MELO NETO, João Cabral de. Poesias completas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975, p.11.
01. (UFJF MG) O poema de João Cabral de Melo Neto (Texto I) estabelece uma comparação que se fundamenta: a) na personificação da bola para aproximá-la da imagem de um ser vivo. b) na relação entre o uso do touro em esportes na Europa e a bola como utensílio doméstico. c) na representação da figura feminina, que é igualada a um
João Cabral de Melo Neto é considerado um dos mais importantes poetas da geração de escritores que surgiu a partir de 1945. Indique duas características do modernismo brasileiro presentes no poema “A educação pela pedra” Liberdade formal, destruição das formas canônicas, valorização de elementos cotidianos e prosaicos, inventividade linguística.
Texto comum às questões 04 e 05
objeto ou um bicho. Catar Feijão
d) na diferença entre o estilo do futebol europeu e o do brasileiro. e) na ideia de que o futebol é um esporte sedutor através da referência à malícia e à mulher.
1 Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar
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B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
Texto I
Português
e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. 2 Ora, nesse catar feijão entra um risco: o de que entre os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a como o risco. João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra.
B17 Pós-modernismo − I Poesia − João Cabral de Melo Neto e Manuel de Barros
04. (FGV SP) A comparação escolhida por João Cabral de Melo Neto para caracterizar o ato de escrever a) recupera para a literatura as concepções de poesia que orientavam a literatura de folhetos do Nordeste, ou “cordel”. b) inverte certa concepção erudita da poesia, que a vê como atividade elevada, sublime, separada do cotidiano banal. c) inscreve a poética do autor no Regionalismo literário, por vincular a representação literária a práticas locais bem determinadas. d) reata com a tradição parnasiana, que concebia a arte poética como ofício de artesão ou artífice. e) contrapõe-se ao elitismo do Modernismo paulista, que repudiava o primitivismo e as culturas rústicas. 05. (FGV SP) Considere as seguintes afirmações relativas ao poema de Cabral de Melo: I.
O ideal de economia verbal, preconizado no poema, assemelha-se ao ideal estilístico do Graciliano Ramos de Vidas secas, também este sequioso de restringir-se ao essencial.
II.
O recurso ao “grão imastigável, de quebrar dente” e à “pedra [que] dá à frase seu grão mais vivo”, com o sentido que lhe dá Cabral de Melo, encontra-se presente no próprio poema que a reivindica.
III.
A ideia de se produzir uma obstrução da leitura como algo positivo participa do objetivo de se romper com os autoritarismos da percepção – desígnio frequente na literatura moderna, inclusive em autores estilisticamente muito diferentes de Cabral, como é o caso de Guimarães Rosa.
Está correto o que se afirma em a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. 648
06. (EsPCEX) Leia os versos a seguir e responda. “Catar Feijão Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e o oco, palha eco,” Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas Em Catar feijão, João Cabral de Melo Neto revela a) o princípio de que a poesia é fruto de inspiração poética, pois resulta de um trabalho emocional. b) influência do Dadaísmo ao escolher palavras, ao acaso, que nada significam para a construção da poesia. c) preocupação com a construção de uma poesia racional contrária ao sentimentalismo choroso. d) valorização do eu lírico, ao extravasar o estado de alma e o sentimento poético. e) valorização do pormenor mediante jogos de palavras, sobrecarregando a poesia de figura e de linguagem rebuscada. 07. (Unifesp SP) O nada que é Um canavial tem a extensão ante a qual todo metro é vão. Tem o escancarado do mar que existe para desafiar que números e seus afins possam prendê-lo nos seus sins. Ante um canavial a medida métrica é de todo esquecida, porque embora todo povoado povoa-o o pleno anonimato que dá esse efeito singular: de um nada prenhe como o mar. (João Cabral de Melo Neto. Museu de tudo e depois, 1988.)
Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo eu lírico formaliza-se em a) uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato. b) uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de canavial. c) uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial. d) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão. e) um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B18
PÓS-MODERNISMO II – POESIA SOCIAL E CONCRETA – FERREIRA GULLAR, AUGUSTO E HAROLDO DE CAMPOS E TROPICÁLIA Ferreira Gullar Em setembro de 1930 nasce José Ribamar Ferreira, em São Luís do Maranhão. Em outubro, um movimento revolucionário comandado por Getúlio Vargas depõe o presidente Washington Luís e encerra o período da República Velha. Em 1942, o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial. Em seguida, o Brasil volta à democracia, com nova Constituição e com Eurico Gaspar Dutra na presidência. Em 1948, José Ribamar trabalha como locutor, na rádio Timbiras e começa a colaborar no Diário de São Luís. Em 1949, já com o pseudônimo de Ferreira Gullar publica Um pouco acima do chão.
ASSUNTOS ABORDADOS n Pós-Modernismo II fase - Poesia
social e concreta - Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália n Ferreira Gullar n Poesia concreta
n Poesia-práxis, Poema-processo, Poesia social, Poesia marginal n A Tropicália ou Tropicalismo ou Movimento tropicalista
Chega o ano de 1968 e com ele, o recrudescimento da ditadura e o ato Institucional nº 5. Gullar é preso, juntamente com Paulo Francis, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros artistas intelectuais. Inicia-se para Ferreira Gullar um período de clandestinidade, e com isso esfria sua ação política exercida essencialmente no setor artístico e vai dedicar-se à pintura. O poeta vai embora para Paris, depois Chile, Peru e Argentina. Do exílio escreve seus artigos para imprensa brasileira em O pasquim, com o pseudônimo de Frederico Marques. Em 1976, publica o Poema Sujo e em 1977. De volta ao Rio de Janeiro, Gullar é preso novamente pelo substituto do DOPS, o Departamento de Polícia Política e Social. Fica três dias seguidos sendo interrogado e ameaçado. Ferreira Gullar poeta, crítico de arte, tradutor, memorialista e ensaísta é um dos poetas mais relevantes da literatura brasileira. Gullar traz uma poesia engajada, indispensável para a compreensão da moderna literatura brasileira em virtude do seu posicionamento político, fato que o fez exilado durante o regime militar brasileiro.
Fonte: Wikimedia Commons
Inicialmente o poeta foi enquadrado no concretismo, depois foi um dos responsáveis pela introdução do neoconcretismo na literatura brasileira, juntamente com Hélio Oiticica e Lígia Clark.
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Português
Estilo do autor Por meio de seus poemas, Gullar expressa a necessidade de lutar contra a opressão social. A poesia engajada é a marca da sua obra. O autor acreditava que a produção artística deveria considerar aquilo que está acontecendo com o mundo. Com palavras simples, porém utilizando uma linguagem inovadora, Gullar consegue relacionar a linguagem verbal e visual. Igualmente valorizando o fazer poético, ele utiliza a metalinguagem em seus poemas.
B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Poema sujo é considerado a obra mais expressiva e mais significativa do poeta. É um extenso poema que sintetiza todas as etapas formais pelas quais Gullar passou no desenvolvimento de sua poética. São textos produzidos em condições emocionais bastante insalubres - o exílio na Argentina e a experiência de ter dois filhos desenvolvendo esquizofrenia. Poema Sujo foi esboçado no Rio de Janeiro, quando Gullar passou oito meses em um apartamento clandestino. Temendo pelo seu futuro, decidiu escrever uma espécie de testemunho final, uma síntese de todas as suas crenças e de toda a sua poética antes que o calassem definitivamente. Mas o poema só ganhou sua forma definitiva em Buenos Aires. Vinícius de Moraes fez uma gravação do poema em voz alta, e assim os versos chegaram ao Brasil para que a publicação fosse levada ao editor Ênio Silveira. Os trechos transcritos a seguir constituem o início e o final do Poema Sujo, que é uma espécie de poema de memória em que a cidade de São Luís e suas cenas cotidianas são reconstituídas por meio de imagens muito fortes. turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato 650
azul era o galo azul o cavalo azul [...] eu não sabia tu não sabias fazer girar a vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era… Perdeu-se na carne fria perdeu-se na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acontecidas [...] O homem está na cidade como uma coisa está em outra e a cidade está no homem que está em outra cidade mas variados são os modos como uma coisa está em outra coisa: o homem, por exemplo, não está na cidade como uma árvore está em qualquer outra nem como uma árvore está em qualquer uma de suas folhas (mesmo rolando longe dela) O homem não está na cidade como uma árvore está num livro quando um vento ali a flolheia a cidade está no homem mas não da mesma maneira que uma pássaro está numa árvore não da mesma maneira que uma pássaro (a imagem dele) está/va na água e nem da mesma maneira que o susto do pássaro está no pássaro que eu escrevo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
a cidade está no homem quase como a árvore voa no pássaro que a deixa cada coisa está em outra de sua própria maneira e de maneira distinta de como está em si mesma a cidade não está no homem do mesmo modo que em suas quitandas praças e ruas Ferreira Gullar
São mais de dois mil versos produzidos na solidão do exílio. São uma espécie de hino pela liberdade. Poema Sujo possui fortes traços autobiográficos. Em uma espécie de desabafo, o poeta retoma a infância vivida em São Luís do Maranhão até os ideais políticos pelos quais lutaria mais tarde. Veja o momento em que o eu poético relembra cenas do passado:
B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luís do Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de febre entre irmãos e pais dentro que um enigma? mas que importa um nome debaixo deste teto de telhas encardidas vigas à mostra entre cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um armário diante de garfos e facas e pratos louça que se quebraram já
Fonte: Wikimedia Commons
um prato de louça ordinária não dura tanto e as facas se perdem e os garfos se perdem pela vida caem pelas falhas do assoalho e vão conviver com ratos e baratas ou enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva-cidreira e as grossas orelhas de hortelã quanta coisa se perde nesta vida...
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Português
Palavras dos grandes críticos Ferreira Gullar […] acaba de escrever um dos mais importantes poemas deste meio século, pelo menos nas línguas que eu conheço; e certamente o mais rico, generoso (e paralelamente rigoroso) e transbordante de vida de toda a literatura brasileira. Vinícius de Moraes
Poema Sujo resume toda a poética de Ferreira Gullar, trazendo ecos das vozes juvenis e fazendo pressentir a polifonia dos motivos e formas que comporiam seus futuros poemas”. Alfredo Bosi
Aliás, a crítica é unânime ao assegurar que, no Poema Sujo, Ferreira Gullar mistura todas as suas fases poéticas anteriores. Nesse poema, o maranhense mescla desde elementos da sua primeira fase - a parnasiana, que respeitava com rigor a métrica e a rima - ao mesmo tempo que considera elementos completamente desiguais como a visualidade e o uso de onomatopeias. O poeta ganhou o Prêmio Camões em 2010, o Prêmio Jabuti em 2007 com o livro Resmungos, levou o prêmio novamente em 2011 com Em alguma parte alguma e a primeira vez foi com o livro Muitas Vozes, de 1999. Lirismo e poesia social B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Os poemas mais recentes refletem o período de readaptação à vida brasileira e a reavaliação dos pontos de vista do autor. No poema “Traduzir-se”, transcrito a seguir, podemos constatar a continuidade do processo de indagação poética. A proposta do autor é interpretar a si mesmo ou até fazer uma autoanálise, um autoconhecimento, ou uma descrição profunda de si mesmo.
Fonte: Wikimedia Commons
O poema “Traduzir-se” é a forma do desencontro íntimo do sujeito lírico, consequência de sua fragmentação interior. O ser que se desconhece precisa de tradução, pois é um mar de contradições. Ele é o microcosmo de um mundo estilhaçado, no qual a vida e a morte, a solidão e a multidão, a razão e os sentimentos, o cotidiano e o inusitado, o perene e o mutável, a linguagem e a vertigem, juntam-se para formar uma colcha de retalhos irregular do mundo. TRADUZIR-SE Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.
Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.
Traduzir-se uma parte na outra parte — que é uma questão de vida ou morte — será arte?
Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. 652
GULLAR, Ferreira. Toda poesia. 9.ed. Rio de janeiro: José Olympio, 2000.
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Em uma breve análise, podemos perceber a dualidade que caracterizará todo o poema. Ao mesmo tempo que parte do eu poético se identifica com todo mundo, outra parte dele é ninguém; sem identidade, que não se traduz. Ele faz uma análise do ponto de vista do relacionamento social, dizendo que parte dele é multidão, convívio, compartilhamento, um ser que se relaciona, mas a outra parte é introspectiva e solitária. Ele diz ser capaz de medir as consequências, analisar, ponderar, de maneira sensata e comedida, mas a outra parte está fora da realidade. E continua a dizer que uma parte dele é previsível, estável, mas outra parte é uma incógnita dele mesmo. Enquanto uma parte dele é só tontura, loucura, outra parte é articulada, racional, sóbria e inteligente. O autor encerra o poema perguntando: será arte? A questão capital para ele é resumir as duas partes, é interpretá-las: uma na outra. A obra de Ferreira Gullar apresenta diferentes fases. Inicialmente, a poesia é mais lírica e experimental, com composições de expressão subjetiva que brincam com a musicalidade e a síntese verbal, além de antecipar a poesia concreta, explorando a espacialidade.
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Nos últimos anos, Ferreira Gullar escrevia artigos para jornais do Rio de janeiro e de São Paulo, e entre suas publicações em poesia mais recentes, estão os livros Muitas Vozes (1999) e Em alguma parte (2010). Veja um exemplo de poesia social do autor: NÃO HÁ VAGAS O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos.
Como não cabem no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras - porque o poema, senhores está fechado: “não há vagas” Só cabem no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema senhores, não fede nem cheira. (Toda poesia. 18 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 209.p.162)
Não há vagas é, certamente, um dos poemas mais instigantes de Ferreira Gullar. Na primeira estrofe, o autor utiliza os substantivos feijão, arroz, carne, telefone, leite, gás, açúcar, pão – que são produtos de primeira necessidade, indispensáveis à vida do cidadão, para garantir a sua sobrevivência. 653
Português
Em meio aos substantivos concretos, surge um abstrato – “sonegação” que destoa dos demais itens. “Sonegar” nos remete ao ato de fraudar, furtar, oferecer prejuízo ao cofre público. Isso diz respeito à saúde financeira do cidadão. E segue na segunda estrofe, destacando os sujeitos que também não cabem no poema: o operário, o funcionário público com seu salário de fome, apenas um número nos fichários. Não há vagas registra um andamento metalinguístico, com o poema que questiona a própria poesia. E para encerrar, o texto traz a seguinte mensagem em seu conteúdo: a poesia não deve se furtar às questões sociais. Ao contrário do que foi dito, na poesia cabe sim, há vagas sim para os dramas diários, para as questões do cotidiano. Esse tema é uma constante na obra de Ferreira Gullar.
Poesia concreta
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Em 1964, entrava em cena o Golpe Militar, e com ele a fase da Ditadura, sem falar nos atos institucionais, sobretudo o AI 5. Surgiu, então, outra classe, com firme propósito de mudança, formada por movimentos estudantis, apoiada por professores, intelectuais e artistas, cujo intuito era o de promover uma verdadeira revolução social. Surgiu o Cinema Novo com Gláuber Rocha e Cacá Diegues, instaurou-se a Bossa Nova e o Tropicalismo. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Chico Buarque foram notabilizados por uma visão engajada da cultura nacionalista. Os países da Europa começavam a se recuperar dos horrores da Segunda Guerra Mundial, no início dos anos 1950, quando os poetas concretistas começam a se movimentar em torno da revista Noigrandes. O Concretismo surge na tentativa de se criar uma manifestação abstrata da arte. Foi um movimento vanguardista que ocorreu nas artes plásticas, na música e na poesia e teve seu auge até a década de 1960. Os artistas precursores desse movimento foram: Max Bill (artes plásticas), Pierre Schaeffer (música) e Vladimir Mayakóvsky (poesia).
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Por volta de 1950, a concepção plástica da arte chega ao Brasil por meio do suíço Max Bill: artista, arquiteto, designer gráfico e de interiores. Bill é o responsável por popularizar as concepções da linguagem plástica no Brasil com a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956. Augusto e Haroldo de Campos
Figura 01 - Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos
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A Poesia Concreta, enquanto movimento internacional, nasce dos esforços conjuntos do Trio Noigandres e da aproximação dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos com Décio Pignatari, graças ao curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco e do interesse em comum pela poesia. Foi em um Festival de Música de Vanguarda do Teatro Arena que, em 1955, o grupo formado por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari usou pela primeira vez a expressão “poesia concreta”.
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Esses poetas do grupo Noigandres reuniram a produção poética mundial e resgataram o pensamento moderno sobre a poesia, contribuindo decisivamente para a difusão da poesia visual no Brasil. A Poesia Concreta revolucionou o mundo da poesia ultrapassando o âmbito literário (livro, revista, jornal, cartaz, objeto, LP, CD, videotexto, holografia, vídeo, internet, logotipo), ampliando as possibilidades de criação na contemporaneidade. No Brasil, foi um divisor de águas. Como toda obra revolucionária, o concretismo subverteu estruturas, mexeu com as Letras, incomodou os acomodados, alcançou simpatizantes, mas também conseguiu uma legião de inimigos. Não se tem notícia de uma tendência artística no Brasil conseguir tantos adversários e por tanto tempo. Os principais autores do Concretismo são seus idealizadores e divulgadores, Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, fundadores da Revista Noigandres (1952), divulgadora das ideias ligadas ao concretismo. A revista trazia textos de autoria dos jovens poetas como também manifestos e textos teóricos. Ao longo dos anos, eles realizaram um trabalho importante nas áreas de teoria literária e linguística, e desenvolveram linhas particulares de criação poética.
Figura 02 - Revista Antologia Noigandres nº 5 fundada em 1952
Características da poesia concreta
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Os recursos da poesia concreta são os mais diversos possíveis. Eles vão desde o uso de caracteres tipográficos de diferentes tamanhos e formas, diagramação de textos na página, criação de neologismos até as experiências sonoras com o uso de aliterações e paronomásias. Outros recursos utilizados como a eliminação do verso, o aproveitamento do espaço do papel, possibilitaram diversas leituras por meio de diferentes ângulos. Além disso: n n n n n n n n n n n
utilização de efeitos gráficos, aproximando a poesia da linguagem do design; valorização dos recursos visuais, acústicos e fonéticos; posição geométrica das palavras e a variação dos espaços tipográficos; busca pela participação ativa do leitor; envolvimento com temas sociais; sintaxe visual em detrimento da discursiva e a exploração do significante; fragmentação vocabular na qual as palavras se desmancham, se refazem, em favor da expressividade de sua nova forma; polissemia, uma vez que os vocábulos assumem uma valência de significados múltipla, ditada pela disposição no interior da poesia; linguagem de intenso apelo persuasivo, aproximando-se da linguagem publicitária; constante cruzamento da linguagem visual e verbal e a possibilidade de leituras múltiplas; comunicação por meio de ícones, ou seja, a forma e tipo da letra, a cor, a posição para facilitar a interpretação.
No poema de Augusto de Campos, podemos encontrar a rejeição do lirismo e do tema. O poema passa a ser um objeto de apreciação, como se fosse um quadro. Por isso é chamado de poema-objeto. Há também múltiplas possibilidades de leitura – amor, morte, ter, tem, temor. (Augusto de Campos)
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Português
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Exemplo de poema concreto
Figura 03 - Décio Pignatari Décio Pignatari. Beba coca cola. In: Poesia pois é poesia: 1950-1975. São Paulo: Brasiliense, 1986.
Depois de uma leitura atenta e observando as características dessa poesia, podemos observar que em vez de sentimentalismos, têm-se concretudes e, em vez de elementos estruturais - estrofes, rimas, valoriza-se a própria palavra, a palavra-objeto. As formas são geometricamente dispostas de tal modo a permitir que o leitor assimile a mensagem por vários ângulos. Especialmente nesse poema, da esquerda para a direita, de cima para baixo e vice-versa. A imagem sobrepõe o caráter discursivo. Veja as diversas possibilidades de leitura desse poema. Leitura linear, vertical e até diagonal. Observe que todas as palavras formadas têm relação com o objetivo do poema. B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Beba coca cola, babe coca cola, caco, cola, cloaca. Sabemos que a literatura é concebida como a expressão do homem vivendo em meio a seu tempo. Os produtos norte-americanos, importados ou produzidos pelas multinacionais que chegavam ao Brasil, transformavam o dia a dia da época. Produtos como a Coca-Cola, os chicletes e os eletrodomésticos passaram a fazer parte da vida das pessoas. Como também fazia parte da vida cotidiana o rockn’roll e outros elementos culturais que caracterizavam o “american way of life”. Para muitos setores da sociedade, essa “invasão americana” não era nada positiva. Como uma espécie de denúncia, a literatura se fez valer por meio de imponentes criações, como essa de Décio Pignatari. Aqui vemos uma crítica ao imperialismo norte-americano e ao consumismo da sociedade moderna, cujo slogan é “Beba Coca-Cola”. É possível fazer interpretações, dada a disposição geometricamente composta das palavras. São evidentes, dentre muitas outras, interpretações voltadas para uma percepção degradante do produto em destaque (no caso, a bebida), manifestada pelo uso dos vocábulos “babe, cola, caco, cloaca”, que nos remete a algo voltado para o imundo, para o pegajoso. Vejamos mais um exemplo de poesia concreta. Ver Navios - Haroldo de Campos VEM NAVIO VAI NAVIO VIR NAVIO VER NAVIO VER NÃO VER VIR NÃO VIR VIR NÃO VER VER NÃO VIR VER NAVIOS 656
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O poema “ver navios” estrutura-se em uma composição que sugere o próprio ir e vir da embarcação, enquanto brinca com o significado da expressão-título (algo como [alguém] “ficar sem nada com que contava”). Nesse poema, o som da correta dicção junta-se à configuração gráfica que nos remete a um barco, com suas pausas e acentos, provocando o sentimento que o texto traz implícito. Aqui é importante notar a semântica do texto que foi iconizada espacialmente (o branco da página ou o arranjo tipográfico dos vocábulos, ou ambos. As repetições, as equivalências horizontais, diagonais e verticais, elementos típicos da função poética são claras tanto aos nossos olhos quanto aos nossos ouvidos, pois aqui os planos óptico e acústico se misturam: a repetição da letra v, deve ser vista com a sua alusão gráfica sutil de navio em movimento. Nessa poesia de Haroldo de Campos, nota-se a decomposição da expressão “ver navios” a fim de produzir novas significações. Além das oscilações produzidas pela repetição (aliteração) do fonema /v /, o que nos remete ao balanço do mar, podemos ver a tensão da espera do eu poemático pelo navio que nunca vem na consoante / r /.
Poesia-práxis, Poema-processo, Poesia social, Poesia marginal Outras tendências como dissidência da Poesia Concreta surgiram com o objetivo de adotar a palavra como organismo vivo gerador de novos organismos vivos – novas palavras. B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Poesia- práxis consiste numa ramificação do Concretismo. É uma dissidência do grupo concretista. Por meio de uma espécie de trocadilho, ex.: “Lavra dor” os adeptos dessa corrente pretendiam mostrar que a palavra traz em si um mundo, cujo significado está nela mesma. Enquanto os concretistas levavam em conta a palavra-objeto, a palavra-coisa, a poesia-práxis considera a palavra-energia. Observe no poema Agiotagem, como a “palavra-energia” é valorizada durante a composição e encadeada com as demais palavras para gerar outras palavras - uma valorização do ato de compor. AGIOTAGEM um dois três o juro: o prazo o pôr / o cento / o mês / o ágio p o r c e n t a g i o. dez cem mil o lucro: o dízimo o ágio / a mora / a monta em péssimo e m p r é s t i m o. muito nada tudo a quebra: a sobra a monta / o pé / o cento / a quota hajanota agiota. Mário Chamie
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Português
Poema-processo ou poema-código utiliza, sobretudo, signos visuais. Basicamente, procura explorar as possibilidades poéticas contidas em signos não verbais.
Poema para ser transfigurado
Poesia social Movimento que surge da relação de alguns poetas aos excessos formais da poesia concretista. No sentido de buscar mais relação com o leitor, a poesia social propõe o retorno ao verso, o emprego de uma linguagem simples e a volta da temática simples para os problemas da realidade social da época. Seus maiores representantes são Ferreira Gullar e Thiago de Melo.
quem somos o que queremos logo logo saberemos por enquanto sabemos que um gesto uma palavra podem transformar o mundo qual deles qual delas saberemos já já
Dois e dois: são quatro Como dois e dois são quatro Sei que a vida vale a pena Embora o pão seja caro E a liberdade pequena B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
A poesia marginal adotou como arma a poesia de guerrilha lírica a alegria e o humor, mostrando caminhos diferentes para a crise que imobilizava e calava a sociedade brasileira.
esta a missão do artista: experimentar
Como teus olhos são claros E a tua pele, morena
por isso somos preciso por dar nossas vidas pelo que - ainda não - é pelo que - quem sabe - será
como é azul o oceano E a lagoa, serena
o que somos o que queremos saberemos juntos já já Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte). In: Boa companhia : poesia São Paulo: Companhia das Letras, 2003.p.125.-
Como um tempo de alegria Por trás do terror me acena
Depois de toda a exploração dos efeitos sonoros, recursos visuais, gráficos e fonéticos e as leituras múltiplas feitas pelos concretistas e seus adeptos, a poesia brasileira experienciou anos agitados a partir da década de 1970. Caminhavam paralelamente ao concretismo a poesia social, a poesia-práxis, a poesia-processo e a poesia marginal chegando ao Tropicalismo. Hoje a literatura brasileira abriga poetas de tendências muito distintas.
E a noite carrega o dia No seu colo de açucena - sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena. Ferreira Gullar
Poesia marginal Na década de 1970, surgiu a poesia marginal. Era marginal a forma como os poetas faziam circular sua produção: cópias mimeografadas, ou material rodado em offset, com pequena tiragem, muitas vezes jogadas do alto dos edifícios ou a venda era realizada de mão em mão, muitas vezes pelo autor. Os grandes nomes dessa produção eram: Chacal e Cacaso.
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A Tropicália ou Tropicalismo ou Movimento tropicalista Tropicália foi um movimento artístico e cultural brasileiro advindo do universo musical dos anos 67 e 68, que estabeleceu diálogos com as obras literárias do escritor Oswald de Andrade com o Manifesto Antropófago e, também, com os poetas concretistas que elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia ao adotar o pensamento de aproveitar qualquer cultura, independentemente de onde viesse.
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O movimento surgiu sob a influência das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, mesclando manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Foi um movimento sincrético, arrojado, ousado e inovador, aberto e integrador. O Tropicalismo conseguiu misturar vários estilos de música: rock, bossa nova, samba, rumba, bolero e até o baião, transformando o repertório da música brasileira e revolucionando a cultura da época. Além disso, o movimento mostrou-se irreverente transformando os gostos da época, não só em relação à música e à politica, mas também ao comportamento, à moral, ao sexo e ao modo de vestir. O Movimento tropicalista manifestou-se principalmente na música, cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé. O marco inicial foi o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record. Características do movimento O Movimento tropicalista tinha objetivos comportamentais que encontraram respaldo de boa parte da sociedade, que vivia sob o regime militar, no final da década de 1960. Entre outros objetivos, o Tropicalismo buscou: n n n n
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reinventar as artes brasileiras, sobretudo a música; romper com as tendências nacionalistas defendidas por setores de esquerda que queriam afastar a arte brasieleira da influência norte-americana; universalizar a linguagem da MPB, incorporando o rock e a guitarra elétrica à musica; resgatar os princípios estéticos dos manifestos Pau-Brasil e Antropofágico, de Oswald de Andrade, pois acreditavam ser possível absorver e reaproveitar, de maneira favorável, os conteúdos dos produtos culturias estrangeiros, produzindo uma música que “deglutisse”, ao mesmo tempo, Os Beatles com suas guitarras elétricas, a Bossa Nova de João Gilberto, o regionalismo de Luís Gonzaga e os textos de Vinícius de Moraes e Tom Jobim; Incorporar a ironia, o humor, o anarquismo e a paródia. 659
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Por fim, o Tropicalismo era uma mistura de cultura brega, com o rock psicodélico, ao mesmo tempo que se associava com a música erudita, com a cultura popular, privilegiando as várias manifestações da cultura nacional. Guitarra elétrica convivia harmonicamente com violinos e com o berimbau, por exemplo. Os tropicalistas ainda se caracterizavam pelo visual excêntrico, roupas coloridas, cabelos compridos e eriçados. As várias influências musicais tinham apenas a intenção de chocar e, por meio de performances caracterizadas pela violência estética, eles protestavam contra a música brasileira bem-comportada. Mas como suas letras compunham um quadro crítico complexo do nosso país, o movimento foi reprimido pelo governo militar, e culminou com a prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso no final de 1968. Contexto histórico, político e social n n n
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Alegria, Alegria Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou. O sol se reparte em crimes Espaço naves, guerrilhas Em Cardinales bonitas, Eu vou. [...] Ela pensa em casamento E eu nunca mais fui à escola Sem lenço e sem documento Eu vou. [...] Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone, No coração do Brasil. Caetano Veloso
O Movimento tropicalista foi muito criticado por aqueles que defendiam as músicas de protesto por não utilizar a música como “arma” de combate político à ditadura militar que vigorava no Brasil. Os tropicalistas acreditavam que a inovação estética musical já era uma forma revolucionária. Outra crítica feita aos tropicalistas foi o uso de guitarras elétricas em suas músicas. Muitos músicos tradicionais e nacionalistas acreditavam que essa era uma influência estrangeira não positiva da cultura pop-rock americana e que prejudicava a música brasileira. 660
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A explosão da Era do Rádio, por meio da poderosa rádio Nacional, do Rio de Janeiro. O nascimento da televisão com a TV Tupi, de Assis Chateaubriand, em São Paulo. Criação da companhia Cinematográfica Vera Cruz. A vitória da Bossa Nova, a partir de 1958, sob a regência de Tom Jobim e participação de João Gilberto, como intérprete, e Vinícius de Moraes, como letrista das canções. A emergência do Cinema Novo – estética brasileira de cinematografia, que buscava mostrar o País sob a ótica realista e crítica e com modernas formas de filmagem e montagem. A criação do CPC (Centro Popular de Cultura) da U.N.E, por artistas e intelectuais jovens, em sua maioria estudantes – durante o governo de João Goulart. A centralização do poder político e hipertrofia do Poder Executivo, e uso frequente de atos institucionais, decretos e emendas constitucuionais. Autoritarismo e repressão- fechamento de Congresso Nacional, extinção dos partidos políticos, perseguição aos sindicatos e organizações civis, censuras aos meios de comunicação. A construção de obras faraônicas ( Itaipu, Ponte Rio-Niterói, Transmazônica) , abertura do país ao capital estrangeiro. Apoio à iniciativa privada, achatamento dos salários e repressão ao movimento operário. Busca de empréstimos externos.
Os tropicalistas transformaram a música popular brasileira, e o expoente maior da arte brasileira de vanguarda foi Caetano Veloso.
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Alegria, Alegria, fala sobre liberdade e é um dos marcos iniciais do Movimento tropicalista da década de 1960. Embora traga o título “Alegria, Alegria”, sua letra nos remete à repressão do período militar no Brasil, chamado os “anos de chumbo”. A música é tão marcante que está impressa na mente e na história do povo brasileiro, pois o seu ritmo leve e alegre traz força nas palavras que a compõem. Veloso utiliza, basicamente, elementos do Modernismo brasileiro, da contracultura, da ironia, da rebeldia, do anarquismo e do humor ou mesmo do terror anárquico. No contexto histórico vivenciado pelo autor, em pleno Regime Militar, a expressão “caminhando contra o vento” carrega a ideia central do texto: ser do contra, lutar contra as forças armadas pelo regime ditatorial, promover a união da população contra o governo.
Figura 04 - Caetano Veloso e Gilberto Gil
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Alegria, Alegria transformou a expressão artística musical brasileira em crítica social. Por esse motivo, Caetano Veloso teve grande parte de suas músicas censuradas pelo Regime Militar, e algumas outras foram até banidas. Em 27 de dezembro de 1968, tanto Caetano Veloso quanto Gilberto Gil foram levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, no Rio, e tiveram suas cabeças raspadas. Caetano e Gil ficaram exilados em Londres de 1969 até 1972.
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A música de protesto político é outra vertente dessa época cujo principal compositor foi Chico Buarque de Hollanda.
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Também exilado na Itália, Chico Buarque via de lá a ditadura militar governar o Brasil. Soube da prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso. De Londres, acompanhou Vinícius de Moraes ser aposentado de seu cargo no Itamaraty por conta do AI-5, soube das denúncias de tortura e prisões políticas como também da posse de Garrastazu Médici. Chico Buarque registrou a ditadura brasileira em suas canções. Ele retratava as dificuldades vividas no período e teve seu trabalho censurado em vários momentos. Uma das canções mais relacionadas ao tema é Apesar de Você, censurada logo depois do lançamento, em 1970. Era o momento que vivíamos sob a ação repressora, os direitos humanos eram violados; e as garantias constitucionais, canceladas. Os cárceres estavam repletos de presos políticos. Escritores, artistas e jornalistas sofriam os rigores da censura. O próprio Chico Buarque amargou o exílio, como Caetano, Gil e tantos outros. “Apesar de você” apresenta como ideia principal a vontade do sujeito poético em expor sua indignação frente a uma pessoa. Podemos olhar esse referente como uma metáfora do governo ditatorial representado pelo então presidente Médici. O Presidente, no texto, seria, pois, esse alguém que não permite o desenrolar dos acontecimentos de forma natural, como podemos observar nos versos:
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Apesar de você
Figura 05 - Chico Buarque de Holanda
Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão. Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? Água nova brotando E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, Esse grito contido, Esse samba no escuro. Você que inventou a tristeza Ora tenha a fineza de “desinventar”. Você vai pagar, e é dobrado, Cada lágrima rolada Nesse meu penar. Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria. Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença. E eu vou morrer de rir E esse dia há de vir Chico Buarque de Holanda
As músicas de Geraldo Vandré também fazem parte de um Brasil marcado pela contracultura juvenil em um contexto de contestação, perseguições políticas, desejo de mudança, envolvendo um misto de medo e esperança. Vandré é outro expoente da música de protesto. Com a repressão política, Vandré ficou sob ameaça de não obter a premiação com a canção Disparada, defendida por Jair Rodrigues na TV Record, já que se tratava de uma música de crítica sociopolítica. 662
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Disparada (fragmento) Geraldo Vandré
Prepare o seu coração Pras coisas que eu vou contar Eu venho lá do sertão Eu venho lá do sertão Eu venho lá do sertão E posso não lhe agradar Aprendi a dizer não Ver a morte sem chorar E a morte, o destino, tudo E a morte, o destino, tudo Estava fora de lugar Eu vivo pra consertar Na boiada já fui boi
Figura 06 - Geraldo Vandré
Mas um dia me montei B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Não por um motivo meu Que junto comigo houvesse Que qualquer querer tivesse Porém por necessidade O dono de uma boiada Cujo vaqueiro morreu
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[...] É muito rica e variada a produção poética contemporânea. Diante de tantos autores da modernidade, não podemos deixar de citar: Adélia Prado, Affonso Romano de Santana e Paulo Leminski. Hoje, os meios de comunicação e as mídias têm facilitado o contato e colocado ao alcance do leitor os mais variados textos.
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Exercícios de Fixação
amo
ógni-
01. (Unifor CE) MÍNIMA MORALIA já fiz de tudo com as palavras agora eu quero fazer de nada
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(Haroldo de Campos)
O poema concreto de Haroldo de Campos trabalha com o aspecto material das palavras com o intuito de gerar um significado para as palavras a partir de sua estrutura. Sendo assim, o efeito expressivo do poema é baseado na: a) estrutura de apenas dois versos (dístico) que é fundamental para que se expressem tais conceitos contemporâneos. b) oposição entre as palavras “tudo” e “nada” cuja antítese é mais importante do que o aspecto semântico da frase. c) estrutura métrica peculiar ao período contemporâneo que é muito similar ao que era utilizado no Parnasianismo. d) oposição entre “fiz” e “quero” que demonstra os anseios de realizar ou não realizar as ações desejadas pelo eu lírico. e) dificuldade de prolongar a escrita na contemporaneidade dado o advento da tecnologia e do homem fragmentado. 02. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo, sobre o álbum Tropicália ou Panis et Circencis. ( ) O álbum foi lançado em julho de 1968, antes da edição do Ato Institucional nº 5, que agravou a censura e a perseguição política a artistas e intelectuais opositores do regime. ( ) O álbum ressalta a impossibilidade de conciliação entre referências musicais como o “brega”, a Bossa Nova, a Jovem Guarda e a canção de protesto. ( ) O álbum está em consonância com outras formas artísticas do período, entre elas o cinema de Glauber Rocha, o Teatro Oficina de Zé Celso Martinez Correa e as artes plásticas de Hélio Oiticica. ( ) O álbum, no campo literário, dialoga com a Poesia Concreta de Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos e com a antropofagia de Oswald de Andrade. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V – F – F – F. b) V – F – V – V. c) F – F – F – V. d) F – V – F – F. e) V – V – V – F.
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03. (UFRGS) No bloco superior abaixo, estão listadas duas obras, apresentadas ora separadas, ora combinadas; no inferior, afirmações referentes a essas obras. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior. 1 − Tropicália ou Panis et Circencis 2 − O amor de Pedro por João 3 − Tropicália ou Panis et Circencis e O amor de Pedro por João ( ) Presença do contexto da ditadura civil militar brasileira. ( ) Apresentação de experimentações formais. ( ) Acompanhamento de trajetória de quem aderiu à luta armada. ( ) Lançamento durante os anos de chumbo da ditadura civil militar brasileira. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) 1 – 3 – 1 – 2. b) 3 – 3 – 2 – 1. c) 2 – 1 – 3 – 1. d) 3 – 1 – 2 – 2. e) 1 – 2 – 3 – 3. 04. (Enem MEC)
CLARK, L. Os bichos. Placas de metal polido unidas por dobradiças, 1960. Disponível em: www.catalogodasartes. com.br. Acesso em: 7 ago. 2012
A série de obras produzida por Lygia Clark, com o nome de Os bichos, evidencia uma possibilidade de expressão da arte contemporânea, a qual: a) solicita a interação do público com a obra. b) enfatiza a visão sobre os demais sentidos corporais. c) privilegia a representação de elementos da natureza. d) provoca o resgate de técnicas tradicionais da escultura. e) requer do observador o reconhecimento do objeto representado.
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Exercícios Complementares
CAMPOS, Augusto de. Código. Disponível em: <http://lousamagica.blogspot.com.br/2009/02/metalinguagem. html>. Acesso em: 10 set. 2016.
O poema concreto de Augusto de Campos evidencia uma a) metalinguagem, mediante um jogo verbal e visual, revelando, ao utilizar a própria palavra, a ideia de identidade com o respectivo código e de diversidade, já que o vocábulo é disposto em forma diferente da convencional. b) metáfora, por meio da imagem construída a partir de símbolos gráficos comuns que, por estarem fora de sua organização habitual, fogem por completo do seu sentido literal. c) antítese, explicitada com o uso de uma representação gráfica criada de modo a formar uma mensagem que vai de encontro à ideologia proposta na temática principal do texto. d) metonímia, evidenciada pela contiguidade que se estabelece entre a figura, resultante da combinação de signos linguísticos, e de seu significado, que, nesse caso, dá um novo sentido ao termo formado. e) comparação entre a configuração gráfica de um círculo e o conceito que se forma da confluência aleatória de letras. 02. (PUC MG)
(CAMPOS, Augusto. Pós-tudo. 1984. Disponível em: http:/ /www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm. Acesso: 19 ago. 2013).
O poema de Augusto de Campos pertence à poesia concreta. Constitui uma característica desse movimento: a) a busca por novas formas de expressão do sentimento. b) a negação dos valores estéticos do modernismo. c) a valorização dos elementos gráficos do poema. d) o envolvimento com os problemas políticos do país.
03. (UFRGS) Assinale a alternativa correta sobre o álbum Tropicália ou panis et circenses. a) A incorporação de sons e ruídos, tal como a conversa em uma refeição em panis et circencis, revela um defeito de composição do álbum. b) A escuta do conjunto das canções revela projeto homogêneo, recuperação e valorização da tradição musical brasileira. c) O refrão “ê bumba-iê-iê-boi”, de Geleia Geral, sinaliza um aspecto relevante do álbum, a mistura entre a tradição popular brasileira e a música pop. d) A escuta das canções obscurece o potencial crítico das letras pela excessiva variedade de ritmos, de paródias, e pelo humor agressivo, presentes nas interpretações. e) A presença de canções como Coração Materno, de Vicente Celestino, sinaliza uma reverência respeitosa que destoa do humor do álbum. 04. (UFRGS) Leia abaixo a letra da canção Mamãe Coragem – composição de Caetano Veloso e Torquato Neto, interpretação de Gal Costa – que integra o álbum Tropicália ou Panis et Circencis. Mamãe, mamãe, não chore A vida é assim mesmo Eu fui embora Mamãe, mamãe, não chore Eu nunca mais vou voltar por aí Mamãe, mamãe, não chore A vida é assim mesmo Eu quero mesmo é isto aqui Mamãe, mamãe, não chore Pegue uns panos pra lavar Leia um romance Veja as contas do mercado Pague as prestações Ser mãe É desdobrar fibra por fibra Os corações dos filhos Seja feliz Seja feliz Mamãe, mamãe, não chore Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz Mamãe, seja feliz Mamãe, mamãe, não chore Não chore nunca mais, não adianta Eu tenho um beijo preso na garganta Eu tenho um jeito de quem não se espanta (Braço de ouro vale 10 milhões) Eu tenho corações fora do peito Mamãe, não chore
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B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
01. (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública)
Português
Não tem jeito Pegue uns panos pra lavar Leia um romance Leia “Alzira morta virgem” “O grande industrial”
B18 Pós-Modernismo − II Fase − Poesia social e concreta − Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos e Tropicália
Eu por aqui vou indo muito bem De vez em quando brinco Carnaval E vou vivendo assim: felicidade Na cidade que eu plantei pra mim E que não tem mais fim Não tem mais fim Não tem mais fim Considere as seguintes afirmações sobre a canção. I. A inversão apresentada na canção – é o/a filho/a jovem que consola a mãe e não o contrário – manifesta-se nas expressões comumente relacionadas ao vocabulário materno como “A vida é assim mesmo” e “Não chore nunca mais, não adianta”. II. A sirene ouvida na abertura da canção é uma provável referência às fábricas da cidade, para onde o sujeito cancional se desloca em busca de oportunidades que superem o trabalho doméstico, a rotina e os passatempos provincianos. III. O uso de “beijo” em vez de “grito”, no verso “Eu tenho um beijo preso na garganta”, expõe a ternura, apesar da rebeldia, que caracteriza o sujeito cancional. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III. 05. (UFRGS) Leia abaixo a letra da canção Baby – composição de Caetano Veloso e interpretação de Gal Costa – que integra o álbum Tropicália ou Panis et Circencis . Baby
Você precisa aprender inglês Precisa aprender o que eu sei E o que eu não sei mais E o que eu não sei mais Não sei, comigo vai tudo azul Contigo vai tudo em paz Vivemos na melhor cidade Da América do Sul Da América do Sul Você precisa Você precisa Não sei Leia na minha camisa Baby baby I love you Considere as seguintes afirmações sobre a canção Baby . I. As expressões em língua estrangeira (“Baby”, “I love you”) e a constatação de que “você precisa aprender inglês” demonstram postura favorável aos Estados Unidos do grupo tropicalista que renegava a língua e a cultura brasileiras. II. A repetição de “você precisa” impõe uma situação conativa, na qual o sujeito cancional faz apelos diretos ao interlocutor. III. O paralelismo rimado inclui, entre as mercadorias “piscina”, “margarina” e “gasolina”, a canção Carolina , de Chico Buarque. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 06. (UnB DF)
Você precisa saber da piscina Da margarina Da Carolina Da gasolina Você precisa saber de mim Baby baby Eu sei que é assim Você precisa tomar um sorvete Na lanchonete Andar com a gente Me ver de perto Ouvir aquela canção do Roberto Baby baby Há quanto tempo 666
In: Haroldo de Campos (Org.). Ideograma: lógica, poesia, linguagem. 4.ª ed. São Paulo: EDUSP, 2000, p. 57.
No poema acima, Haroldo de Campos, por meio da técnica ideogramática, busca aproximar-se da lógica metafórica dos ideogramas chineses. A união do ideograma que significa “coração” com o que significa “meio” resulta no sentido de “lealdade”. Considerando esse contexto, redija um texto, na modalidade padrão da língua, definindo metáfora. Apresente um exemplo extraído do trecho do poema contido na obra Signância quase céu, de Haroldo de Campos, seguido de interpretação.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B19
PÓS-MODERNISMO III – O TEATRO DE NELSON RODRIGUES, A POESIA DE CORA CORALINA E A PROSA DE BERNARDO ÉLIS Teatro brasileiro do século XX
ASSUNTOS ABORDADOS n Pós-Modernismo III – o Teatro de
Nelson Rodrigues, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernardo Élis n Teatro brasileiro do século XX n Bernardo Élis
Na década de 1950 e início dos anos 60, o clima sociocultural carioca era efervescente. A classe média invadia as ruas, subia os morros para prestar assistência aos despossuídos. A imprensa denunciava a desigualdade social, mas, apesar disso, no subúrbio, conseguia-se preservar certa qualidade de vida e boa parte da classe média era para lá atraída. A cidade do Rio de Janeiro, ao final dos anos 1950, vive o auge de seu charme. Os ares modernos e desenvolvimentistas do governo de Juscelino Kubitschek colocaram o Brasil rumo ao sonho do futuro. A TV Tupi inicia a sua transmissão, ao vivo, do Carnaval na Avenida Rio Branco e, em 1960, os grandes nomes das rádios migram para a televisão. Chega às bancas a revista Senhor, que registra os sinais da modernidade e nela Clarice Lispector publica todos os seus textos inéditos. O som da Bossa Nova é ouvido além da Avenida Atlântica e o Concretismo defendido pelos poetas da época. O Brasil ganha a Copa na Suécia. A juventude brasileira descobre o rock-n’roll. Porém, nem só de encanto e alegria vive o Rio de Janeiro como todo o Brasil. A estupidez da violência urbana também caminha ao lado da modernidade. Jovens ateando fogo em mendigos, jovem de 18 anos é jogada do 12º andar por dois delinquentes. São crimes inexplicáveis na época. A “Cidade Maravilhosa”, o antagonismo. De um lado, a corrupção, o medo, a pobreza, a crueldade, a violência urbana, a ausência de infraestrutura minguada; do outro, a farra nos bares da moda, os bate-papos, a música, os filmes, os debates sobre valores morais, as paixões, os amores, tudo isso com toque de modernidade. Somente a partir de 1943, é que se pode falar da existência de uma dramaturgia moderna do Brasil, com a encenação de Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues. Descobrindo um universo dramático absolutamente original, coube a ele apontar caminhos para novos dramaturgos da atualidade. Dentre os autores do moderno teatro brasileiro, situam-se Nelson Rodrigues, Gianfrancesco Guarnieri, Dias Gomes Ariano Suassuna, Chico Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Oduvaldo Viana filho (Vianinha), Millôr Fernandes, Plínio Marcos entre outros. Nelson Rodrigues Polêmico, pornográfico, genial, inovador, reacionário – um divisor de águas. Nelson Rodrigues é, sem exagero, o dramaturgo ícone do teatro moderno. É considerado pela crítica um gênio, louco, reacionário, esquisito e subversivo. Além de ter sido o revolucionário do teatro no Brasil, foi um dos maiores folhetinistas brasileiros. Nelson Rodrigues foi plural, como o são as paixões, combustível para sua escrita fulminante.
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Português
O autor trouxe enredos polêmicos, mesclando tragédia e humor, colocando o subúrbio do Rio de Janeiro nos palcos e revolucionando o teatro brasileiro. Nelson não tinha pudores para escrever sobre adultério, crime, suicídio, morte e preconceito. Ele criou um estilo inconfundível que, ao longo dos anos, se estabeleceria quase como gênero teatral. O tom magistral em relação à sua obra nada tem de exagero: Vestido de Noiva, dirigida por Ziembinski em 1943, marcou o surgimento do teatro moderno no Brasil. Nelson Rodrigues (1912- 1980) viveu grande parte de sua vida no subúrbio carioca nas décadas dessas grandes transformações. O bairro em que morou é típico de subúrbio, bairro operário. Como era costume naquele tempo, os vizinhos faziam da rua uma extensão da própria casa e circulavam fiscalizando e participando dos acontecimentos. E nesse cenário, utilizando suas reminiscências, juntando com os fatos do presente, observando os movimentos urbanos, Nelson Rodrigues vai produzindo seus textos e dramatizando questões cotidianas. Por isso, o mais influente dramaturgo do Brasil pode ser considerado um narrador da modernidade. O contexto sócio-histórico-cultural e o cotidiano do subúrbio local, vivido por Nelson Rodrigues, se aproximam daqueles que dão o indispensável suporte para a fluência das tramas e das personagens de seus folhetins. A violência urbana e os crimes são reais e são características da modernidade. Ao tratar dessas questões, Nelson Rodrigues revela os caminhos da cultura. Suas personagens são descobertas no cenário da vida real.
B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
Nesse sentido, o cenário do coitadinho passa a compor parte de seus textos. Em Núpcias de fogo (1948), por exemplo, o cenário é predominantemente urbano.
Fonte: Wikimedia Commons
Nelson Rodrigues causou polêmica e estranhamento com as particularidades da peça Vestido de Noiva. A obra chamou a atenção por se passar em três planos distintos que se cruzam – memória, alucinação e realidade –, criando uma viagem ao interior da mente e da alma da personagem principal.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Principais peças O crítico Sábato Magaldi estabeleceu uma divisão temática para as peças Nelson Rodrigues: Peças psicológicas: Vestido de noiva; Viúva, porém honesta etc. Peças míticas: Álbum de família; Senhora dos afogados. Tragédias cariocas: A falecida; Beijo no asfalto; Os sete gatinhos; Boca de ouro; Toda nudez será castigada etc. Pela abordagem psicológica dos personagens e pelas inovações na montagem, Vestida de noiva é considerada o marco do teatro moderno brasileiro. A ação se desenrola simultaneamente em três planos: n n
n
O plano da realidade: o atropelamento, o estado crítico de Alaíde, uma jovem senhora operada num hospital, a mesa de cirurgia, as informações dos repórteres. O plano da alucinação: o encontro entre Alaíde e Madame Clessi, uma famosa cocote assassinada, vestida de noiva, pelo amante adolescente. A moribunda divaga, encontrando em seu delírio, a Madame, de quem Alaíde, no plano real, tinha um diário de confidências. Nessa atração, condensam-se todos os desejos reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido, Pedro. O plano da memória: as lembranças da realidade anterior ao atropelamento revela, pouco a pouco, que Alaíde roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência culpada leva-a a imaginar cenas de traição entre Pedro e Lúcia. No final, Alaíde morre e Lúcia, após período de hesitação, resolve casar-se com Pedro. B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
Segundo Magáldi: “As peças psicológicas abordam elementos míticos e da tragédia carioca. As peças míticas não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia carioca. Já a tragédia carioca assimilou o mundo psicológico e mítico da obra rodrigueana.” Cena de Vestido de noiva
Fonte: Wikimedia Commons
A peça se desenrola em três atos, cuja relação não é exatamente cronológica, a não ser no plano da realidade, que acompanha a degradação do estado de saúde de Alaíde e a aniquilação consequente dos outros dois planos.
Figura 01 - Vestido de noiva
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Português
A peça começa com sons conhecidos pelos habitantes das metrópoles: “buzina de um automóvel. Rumor de derrapagem violenta. Som de vidraças partidas. Silêncio. Assistência. Silêncio”. Esse momento desperta a imaginação do espectador, a cena de um atropelamento. Acende-se o plano da alucinação, e Alaíde chama por Madame Clessi. Encontra-se com vários personagens desconhecidos, que, aos poucos, informam-lhe que Clessi havia sido assassinada. Alaíde desespera-se.
B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
O plano da realidade é aceso, com várias pessoas falando ao mesmo tempo pelo telefone. São repórteres que noticiam o atropelamento. Nesse plano, Alaíde está num bordel e recebe um homem que tem o rosto de seu marido. Suas atitudes são extremadas: acaricia o homem e o esbofeteia. Alaíde repara que todos os homens que aparecem têm o rosto de seu marido. O plano da memória mostra o diálogo entre os pais de Alaíde a respeito de Madame Clessi, antiga habitante da casa. Há também um diálogo rápido entre os médicos revelando que Alaíde está numa mesa de cirurgia. Alternam-se os diálogos entre Alaíde e Clessi no plano da alucinação e cenas do passado no plano da memória. Alaíde diz a Clessi ter matado seu marido. Primeiro ato (fragmento inicial) MICROFONE − Buzina de automóvel. Rumor de derrapagem violenta. Som de vidraças partidas. Silêncio. Assistência. Silêncio. VOZ DE ALAÍDE (microfone) − Clessi... Clessi... (Luz em resistência no plano da alucinação. 3 mesas, 3 mulheres escandalosamente pintadas, com vestidos berrantes e compridos. Decotes. Duas delas dançam ao som de uma vitrola invisível, dando uma vaga sugestão lésbica. Alaíde, uma jovem senhora, vestida com sobriedade e bom gosto, aparece no centro da cena. Vestido cinzento e uma bolsa vermelha.) ALAÍDE (nervosa) − Quero falar com Madame Clessi! Ela está? (Fala à 1ª mulher que, numa das três mesas, faz “paciência”. A mulher não responde.) ALAÍDE (com angústia) − Madame Clessi está - pode-me dizer? ALAÍDE (com ar ingênuo) − Não responde! (com doçura) Não quer responder?
ALAÍDE − Desculpe. Madame Clessi. Ela está? (2ª Mulher também não responde.) ALAÍDE (sempre doce) − Ah! Também não responde? (Hesita. Olha para cada uma das mulheres. Passa um homem, empregado da casa, camisa de malandro. Carrega uma vassoura de borracha e um pano de chão. O mesmo cavalheiro aparece em toda a peça, com roupas e personalidades diferentes. Alaíde corre para ele.) ALAÍDE (amável) − Podia-me dizer se madame... (O homem apressa o passo e desaparece.) ALAÍDE (num desapontamento infantil) − Fugiu de mim! (no meio da cena, dirigindo-se a todas, meio agressiva) Eu não quero nada demais. Só saber se Madame Clessi está! (A 3ª mulher deixa de dançar e vai mudar o disco da vitrola. Faz toda a mímica de quem escolhe um disco, que ninguém vê, coloca-o na vitrola também invisível. Um samba coincidindo com este último movimento. A 2ª mulher aproxima-se lenta, de Alaíde.) 1ª MULHER (misteriosa) − Madame Clessi? ALAÍDE (numa alegria evidente) − Oh! Graças a Deus! Madame Clessi, sim. 2ª MULHER (voz máscula) − Uma que morreu? ALAÍDE (espantada, olhando para todas) − Morreu? 2ª MULHER (para as outras) − Não morreu? 1ª MULHER (a que joga “paciência”) − Morreu. Assassinada. 3ª MULHER (com voz lenta e velada) − Madame Clessi morreu! (brusca e violenta) Agora, saia! ALAÍDE (recuando) − É mentira. Madame Clessi não morreu. (olhando para as mulheres) Que é que estão me olhando? (noutro tom) Não adianta, porque eu não acredito!... 2ª MULHER − Morreu, sim. Foi enterrada de branco. Eu vi. ALAÍDE − Mas ela não podia ser enterrada de branco! Não pode ser. 1ª MULHER − Estava bonita. Parecia uma noiva. ALAÍDE (excitada) − Noiva? (com exaltação) Noiva − ela? (tem um riso entrecortado, histérico) Madame Clessi, noiva! (o riso, em crescendo, transforma-se em soluço) Parem com essa música! Que coisa! (Música cortada. Ilumina-se o plano da realidade. Quatro telefones, em cena, falando ao mesmo tempo. Excitação.) PIMENTA − É o Diário?
(Silêncio da outra.)
REDATOR − É.
ALAÍDE (hesitante) − Então perguntarei (pausa) àquela ali.
PIMENTA − Aqui é o Pimenta.
(Corre para as mulheres que dançam.)
CARIOCA-REPÓRTER − É A Noite?
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
PIMENTA − Um automóvel acaba de pegar uma mulher. REDATOR D’A NOITE − O que é que há? PIMENTA − Aqui na Glória, perto do relógio. CARIOCA-REPÓRTER − Uma senhora foi atropelada. REDATOR D´O DIÁRIO − Na Glória, perto do relógio? REDATOR D’A NOITE − Onde? CARIOCA-REPÓRTER − Na Glória. PIMENTA − A Assistência já levou. CARIOCA-REPÓRTER − Mais ou menos no relógio. Atravessou na frente do bonde. REDATOR D’A NOITE − Relógio. PIMENTA − O chofer fugiu. REDATOR D´O DIÁRIO − O.K. CARIOCA-REPÓRTER − O Chofer meteu o pé. PIMENTA − Bonita, bem vestida. REDATOR D’A NOITE − Morreu? CARIOCA-REPÓRTER − Ainda não. Mas vai. (Trevas. Ilumina-se o plano da alucinação.)
B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
ALAÍDE (trazendo, de braço, a 1ª mulher, para um canto) Aquele homem ali. Quem é? (Indica um homem que acaba de entrar e que fica olhando para Alaíde). 3ª MULHER − Sei lá! (noutro tom) Vem aos sábados. ALAÍDE (aterrorizada) − Tem o rosto do meu marido. (recua, puxando a outra) A mesma cara! 3ª MULHER − Você é casada? ALAÍDE (fica em suspenso) − Não sei. (em dúvida) Me esqueci de tudo. Não tenho memória − sou uma mulher sem memória. (impressionada) Mas todo o mundo tem um passado; eu também devo ter − ora essa! 3ª MULHER (em voz baixa) − Você o que é, é louca. ALAÍDE (impressionada). − Sou louca? (com doçura) Que felicidade! 2ª MULHER (aproximando-se) − O que é que vocês estão conversando aí? 3ª MULHER (para Alaíde) − Isso é aliança? ALAÍDE (mostrando o dedo) − É. 3ª MULHER (olhando) − Aliança de casamento. 2ª MULHER − A da minha irmã é mais fina. 3ª MULHER (céptica) − Grossa ou fina, tanto faz. (dá passos de dança.) RODRIGUES. Nelson. Teatro completo. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.p.349-51
Podemos observar que a conversa dos repórteres com os respectivos redatores não só informa os espectadores do que aconteceu a Alaíde, mas também mostra um humor quase cruel no modo pelo qual o fato é narrado. Pela conversa, podemos notar que os dramas humanos nas redações dos jornais transformam-se em mercadorias. Eles são tratados com frieza como produtos que podem ou não despertar o interesse do leitor.
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Português
A entrada de Alaíde em cena estabelece um enorme contraste com as mulheres presentes, por ela se vestir como uma senhora enquanto as outras estão trajando como prostituta. Acompanhando as cenas, notamos que Alaíde está em busca de uma libertação quando sai à procura de Madame Clessi e percebemos que ela procura libertação de suas fantasias amorosas e sexuais. Nas falas que seguem, concentra-se toda a insatisfação da personagem pela vida de “moça de família” que tinha que aparentar. ALAÍDE (impressionada). − Sou louca? (com doçura) Que felicidade! A forma como Nelson Rodrigues constrói sua peça é muito interessante e um achado precioso, porque o fato de a peça ser dividida em três planos permite mostrar ao público o que se passa no mundo dos desejos insatisfeitos da personagem. Cora Coralina
Fonte: Wikimedia Commons
B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
Assim Cora via a vida:
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nasceu na Cidade de Goiás em 20 de agosto de 1889. A Poeta e contista passou a infância e adolescência na Cidade de Goiás. Os críticos analisam assim a poeta goiana: ...uma fibra de guerreira e uma sabedoria considerada simples, por vezes meio marota, feita de respeito e piedade pelo ser humano, sobretudo pelos que sofrem, mas também com um fundo de ironia mansa e de malícia sem maldade, um humor típico da gente do interior, um sarcasmo angelical, mistura de humildade franciscana e revolta diante das estúpidas repressões da sociedade e da dureza dos costumes antigos... https://www.amazon.com.br/Vint%C3%A9m-cobre-Cora-Coralina-ebook
A essência da prosa e da poesia de Cora Coralina reside na memória autobiográfica. Em seus textos, a escritora aborda cenas da infância em sua cidade natal − Cidade de Goiás − sobretudo aquelas que se passam no espaço doméstico − como no poema Antiguidades. 672
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
bem pequena,
Mulher da Vida
em nossa casa,
Mulher da Vida,
certos dias da semana
Minha irmã.
se fazia um bolo,
De todos os tempos.
assado na panela com um testo de borralho em cima. [...] Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 3.ed. Goiânia. Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1980. p. 41
Para Cora Coralina, obra e biografia são elementos indissociáveis, e a figura pública da escritora mescla-se à da senhora doceira que relembra o passado de menina. O título do poema já nos alerta que o foco será o passado, assim como o título de outros poemas da autora. Velho sobrado Um montão disforme. Taipas e pedras, abraçadas a grossas aroeiras, toscamente esquadriadas. Folhas de janelas. Pedaços de batentes. Almofadados de portas. Vidraças estilhaçadas. Ferragens retorcidas. Abandono. Silêncio. Desordem. Ausência, sobretudo. O avanço vegetal acoberta o quadro. Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 3.ed. Goiânia. Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1980. p. 97
De todos os povos. De todas as latitudes. Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada dos mais torpes sinônimos, apelidos e ápodos: Mulher da zona, Mulher da rua, Mulher perdida, Mulher à toa. Mulher da vida, Minha irmã. Pisadas, espezinhadas, ameaçadas. Desprotegidas e exploradas. Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito. Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 3.ed. Goiânia. Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1980. p. 203-206.
Vintém de Cobre é considerado um dos melhores livros de Cora Coralina. Essa obra apresenta o retrato da sociedade do início do século XX e as dificuldades que impediram a poeta de desenvolver sua paixão pela literatura desde a infância. No tempo do mil réis, o vintém de cobre era a moeda mais desvaliosa, aquela que mal comprava um doce. Servindo-se da malícia sutil, Cora Coralina batizou com o nome de “velha moeda” suas quase memórias, ou meias-confissões, como ela prefere, redigidas em versos.
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Fonte: Wikimedia Commons
Quando eu era menina
O poema que você vai ler foi uma contribuição da poeta Cora Coralina, ao Ano Internacional da Mulher, 1975.
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Antiguidades
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Vintém de Cobre (Freudiana) Eu vestia um antigo mandrião de uma saia velha de minha bisavó. Eu vestia um timão feio de pedaços, de restos de baeta. Vintém de cobre: ainda o vejo ainda o sinto ainda o tenho na mão fechada. Vintém de cobre: dinheiro antigo. Moeda escura, recolhida, desusada.
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Feia, triste, pesada. Corenta. Vintém. Derréis. Dinheiro curto, escasso. Parco. Parcimonioso de gente pobre, da minha terra, da minha casa, da minha infância. Vintém de cobre: Economia. Poupança. A casa pobre. Mandrião de saias velhas. Timão de restos de baeta. Colchas de retalhos desbotados. Panos grosseiros, encardidos, remendados. Vida sedentária. Velhos preconceitos. Orgulho e grandeza do passado. [...] Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 3.ed. Goiânia. Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1980. p. 59-62.
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Cora Coralina usa as conquistas modernistas, como é o caso do verso e da rima livre e da reconfiguração do herói épico, mas imprime também um sentimento telúrico na liricização dos costumes e paisagens locais, mas sem cair no pitoresco. No poema “O palácio dos Arcos” do livro Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, a autora conta a história do soldado Carajá. Podemos observar em toda sua obra temas sobre os excluídos socialmente, o excêntrico, a mulher proletária, as lavadeiras. Na imagem da lavadeira, Cora traz para o centro de sua poesia as vidas obscuras com um lirismo muito singular, o que confirma a tradição moderna e modernista da poetisa goiana. Além de liricizar o negro, o índio, a mulher, ela também aborda as coisas da natureza e as pessoas simples de sua terra. No Poema “A lavadeira”, Cora poetiza as lavadeiras do Rio Vermelho, o rio de sua cidade, mas poderia ser as lavadeiras de qualquer outro lugar, outro rio, denunciando seus sofrimentos e as dificuldades que são as mesmas. A poetisa rompe com os padrões clássicos da poesia que cantavam a mulher bela, a mulher sensível para falar da mulher coragem, mulher pedra, “aquela mulher que faz a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.” A lavadeira Essa mulher. Tosca. Sentada. Alheada. Braços cansados descansando nos joelhos... olhar parado, vago, perdida no seu mundo de trouxas e espuma de sabão - é a lavadeira.
Mãos rudes, deformadas. Roupa molhada. Dedos curtos. Unhas enrugadas. [...] Seu olhar distante, parado no tempo. À sua volta - uma espumarada branca de sabão. Inda o dia vem longe na casa de Deus Nosso Senhor, o primeiro varal de roupa festeja o sol que vai subindo, vestindo o quaradouro de cores multicores. Essa mulher tem quarentanos de lavadeira. Doze filhos crescidos e crescendo. Viúva, naturalmente. Tranquila, exata, corajosa. [...] Às lavadeiras do Rio Vermelho da minha terra, faço deste pequeno poema meu altar de ofertas. Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 3.ed. Goiânia. Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1980. p. 193-195
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B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis Sirirat / Shutterstock.com
Cora Coralina ficou nacionalmente conhecida por intermédio do poeta Carlos Drummond de Andrade que tomou para si a tarefa de apresentar a poetisa ao Brasil. Cora foi a mulher que projetou Goiás no mundo inteiro.
Português
Estilo de Cora Seus poemas têm versos curtos, chegando muitas vezes a suprimir palavras. Um recurso comum em literatura, mas, no caso desse poema, a supressão de elementos pode sugerir a falta de esperança e a rudeza da lavadeira. Uma pessoa rude, com pouca instrução, muitas vezes, ao falar, suprime palavras por não saber usá-las ou não conhecê-las. Inda o dia vem longe na casa de Deus Nosso Senhor, [...] Essa mulher tem quarentanos de lavadeira. Doze filhos crescidos e crescendo. Cora retoma e sustenta alguns dos principais traços do modernismo, como o verso livre, a matéria simples, os acontecimentos do cotidiano, a liricização da escória social, e a matéria telúrica e regional. A poetisa identifica-se com o ser que vive às margens da sociedade, o herói deseroizado, a mulher, o índio carajá e a lavadeira. Em suas obras infantojuvenis, como o Tesouro da Casa Velha, envolvendo fantasmas e tesouros escondidos, os contornos biográficos também estão presentes: os fantasmas são parentes de Cora, e os tesouros estão escondidos na casa de sua família.
A recuperação do passado é uma constante na poesia de Cora. A própria cidade, a sua geografia, os casarios, os becos, as pessoas mais simples, a mulher da vida, o presidiário, os marginalizados, tudo isso é material para sua poesia.
Figura 02 - Casa de Cora
Apesar de Cora Coralina não ter participado ativamente do modernismo brasileiro, a linguagem simples e coloquial e o registro do dado local da autora possuem afinidades com a estética praticada pelo movimento, evidenciando a sincronia da autora com seu tempo. É uma autora que traz a linguagem rude das pedras de Goiás.
Fonte: Wikimedia Commons
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A Cidade de Goiás ligada ao seu glorioso passado colonial possui lugar privilegiado na obra da autora, uma vez que a poeta goiana associa de forma contundente a cidade natal na biografia.
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A publicação da segunda edição de Poemas dos Becos de Goiás, em 1978, pela Editora da Universidade Federal de Goiás repercutiu nacionalmente. O poeta Carlos Drummond de Andrade recebeu um exemplar, e como não tinha referências sobre a poeta, enviou uma carta à universidade: “Cora Coralina, Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina. Todo o carinho, toda a admiração do seu.”
“Minha querida amiga Cora Coralina: Seu “Vintém de Cobre” é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...). O beijo e o carinho do seu Drummond.” Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro, 7 de outubro, 1983. [publicado no livro Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha. 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p.23.]
Doceira de profissão e poeta por vocação, Cora Carolina tinha as mãos precisas para o verbo e para o açúcar. Apesar de se considerar mais cozinheira do que escritora, dominava as duas artes, mesmo só tendo publicado seu primeiro livro aos 75 anos. “Minhas mãos doceiras... Jamais ociosas. Fecundas. Imensas e ocupadas. Mãos laboriosas. Abertas sempre para dar, ajudar, unir e abençoar. Mãos de semeador... Afeitas à sementeira do trabalho. Minhas mãos são raízes procurando terra. Semeando sempre.” Cora Coralina, em trecho do poema “Estas mãos”, da obra Meu livro de cordel. São Paulo: Global Editora, 1998.
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Rio de Janeiro, 7 de outubro, 1983
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Drummond passou a se corresponder com Cora Coralina nos anos seguintes e continuou promovendo a sua obra.
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Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, 14 de julho de 1979. [publicado “Villa Boa de Goyaz”, de Cora Coralina. São Paulo: Global editora, 2001].
Português
Oração do milho Senhor, nada valho. Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres. Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou. Sou a planta primária da lavoura. Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo e de mim não se faz o pão alvo universal. O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares. Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, donde
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não vinga o trigo nobre. Sou de origem obscura e de ascendência pobre, alimento de rústicos e animais do jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques, coroados de rosas e de espigas, quando os hebreus iam em longas caravanas buscar na terra do Egito o trigo dos faraós, quando Rute respigava cantando nas searas de Booz e Jesus abençoava os trigais maduros, eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito. Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário. Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha. Alimento de porcos e do triste mu de carga. O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro. Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis. Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece. Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos. Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor. 678
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado que me fizestes necessário e humilde. Sou o milho. Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 3.ed. Goiânia. Ed. Da Universidade Federal de Goiás, 1980. p. 142.143
O objeto do poema é o milho. O cultivo do milho é simples; não se usa arados nem adubos, o que confirma o seguinte verso: Meu grão, perdido por acaso, / nasce e cresce na terra descuidada. O poema se nos apresenta em forma de oração “Senhor, nada valho”. “ ... e se me ajudardes, Senhor”, “Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor”. Pode-se afirmar que o eu poemático valeu-se da apóstrofe, dirigindo-se ao Senhor, invocando-O e depois agradecendo-O. Como se pode constar, além das referências bíblicas, há referências históricas das civilizações grega, hebraica, egípcia e americana (índios). Na segunda estrofe encontramos a intertextualidade, quer pelas referências bíblicas, quer pela referência às civilizações que se apresentam cronologicamente: “deuses da Hélade” - civilização grega, os hebreus, os egípcios e os ameríndios. Nas referências bíblicas, o foco é na figura de Rute respigando nas searas de Booz, seu marido, e de Jesus abençoando os trigais maduros. A linguagem é culta, com predominância dos períodos curtos sobre os períodos longos, característicos da poesia (bem como da prosa) modernista. O poema Oração do milho inicia-se com o milho apresentando-se humildemente ao Senhor, estabelecendo a relação milho/Senhor-poeta/musa: o Senhor é a própria musa inspiradora, por isso é invocado por duas vezes, tornando bem nítida a forma de oração e reforçando o tom devocional Senhor, nado valho. Sou o planto humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres Esse mesmo tom devocional vamos encontrar no final do poema: Sou a pobreza vegetal agradecida o Vós, Senhor. Sou o cocho abastecido donde rumina o gado Que me fizestes necessário e humilde. Sou o milho.
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E para finalizar, podemos ver a evolução histórica, social, política e econômica do Brasil, do fim do séc. XIX e início do séc. XX Eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias. Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito. Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário. Observe: Eu era o bró (índio: pretérito imperfeito, remete-nos à ideia de continuidade − (os índios continuam a existir). Fui o angu do escravo: pretérito perfeito, encerrando a ideia de um processo completamente concluído em relação ao momento presente: a escravidão. Como vimos, Cora escreveu sobre seu próprio tempo e sobre um tempo futuro, pois dizia escrever para as gerações vindouras. A poeta deve ser vista muito além da figura mítica que para ela foi criada e, por isso, merece nosso interesse e leitura. Casa de Cora
Fonte: Wikimedia B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a Commons prosa de Bernado Élis
A poeta goiana viveu a maior parte de sua vida como doceira na Cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho. Cora Coralina morreu aos 95 anos em Goiânia, em abril de 1985. Após sua morte, a Velha Casa da Ponte foi transformada no Museu de Cora Coralina. A cidade foi declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO em 2001, Patrimônio Cultural da Humanidade, por seu centro histórico preservado, com casarões e igrejas de arquitetura barroca. A casa em que Cora vivia, hoje é uma das atrações mais visitadas. Fica à beira do rio Vermelho e dá título ao único livro de contos de Cora: Histórias da Casa Velha da Ponte. Desde 1989, ali funciona um museu que preserva as memórias e objetos pessoais da poetisa, vários de seus manuscritos, livros, inclusive as correspondências trocadas durante anos com o amigo Carlos Drummond de Andrade. Estão lá também seu fogão a lenha e os tachos de cobre em que a poeta fazia doces. Também se pode ver o quarto onde ela escrevia, o qual Cora chamava de “sobradinho”.
Figura 03 - Após sua morte, a Velha Casa da Ponte foi transformada no Museu de Cora Coralina, na Cidade de Goiás.
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Bernardo Élis
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A cidade de Goiânia, atual capital do estado de Goiás, foi formada a partir das transformações políticas que marcaram a história do nosso país na década de 1930. Em 23 de março de 1937, foi assinado o Decreto nº 1816, transferindo definitivamente a Capital Estadual da Cidade de Goiás para a de Goiânia.
Figura 04 - Bernardo Elis em aquarela de Amaury de Menezes
O então jovem Bernardo Élis vivenciou esse momento histórico na antiga capital goiana. Assistiu à queda do poder daqueles antigos e austeros chefes oligárquicos e viu também ascender outros jovens idealistas. O estudante pobre, em busca de uma oportunidade na vida, testemunhou lutas políticas e sociais, movidas por interesses diversos que sacudiram tanto a velha cidade do Anhanguera quanto a jovem capital do Centro-Oeste goiano. O gosto pela literatura e pela escrita era pulsante no peito do jovem nascido na pacata cidade de Corumbá (Go). O seu tema preferido, sua grande inspiração, foi Goiás, com sua gente, suas paisagens, suas grandezas e misérias. Em 1942, mudou-se para o Rio de Janeiro com a intenção de fixar-se por lá, mas retornou para Goiânia, cidade nova e de oportunidades tantas. O ainda estudante fundou juntamente com outros companheiros a Revista Oeste em que publicou o conto “Nhola dos Anjos e a cheia de Corumbá.” Em 1944, seu livro de contos Ermos e gerais foi publicado pela Bolsa de Publicações de Goiânia, obtendo sucesso e elogios de toda a crítica nacional.
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Em 1945, participou do 1º Congresso de Escritores de São Paulo, e lá conheceu vários literatos nacionais, entre os quais Aurélio Buarque de Holanda, Mário de Andrade e Monteiro Lobato. De volta para Goiânia, fundou a Associação Brasileira de Escritores, da qual foi eleito presidente. Em 1955, publica o livro de poemas Primeira chuva. Bernardo Élis é reconhecido pelos seus romances históricos, seus poemas modernistas, suas crônicas eruditas e seus contos regionais. Pioneiro de Goiânia e de nosso modernismo literário, primeiro e único Goiano na Academia Brasileira de Letras encarregou-se de mostrar ao Brasil as riquezas do Cerrado goiano, o ambiente bucólico da Cidade de Goiás, com seu casario mergulhado entre pedras e árvores retorcidas e as cajazeiras, com seus frutos majestosos. Mas não deixou de retratar também as desigualdades sociais, as mazelas e tragédias de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela manipulação do poder de meados do século XX. Contista e romancista goiano, enérgico de expressão, agradável, popular, vital e espontaneamente original, Bernardo Élis captava a vida rural do interior dos cerrados, onde morava, com uso intenso da linguagem regional. Ele é um exemplo de literato engajado politicamente, comprometido com o seu povo e o seu tempo, que utilizou suas palavras para protestar contra a exploração do homem pelo homem. Obras de Bernardo Élis Sua obra mais importante é o romance O Tronco, publicada em 1956. Ao lado das coletâneas de contos Ermos Gerais (1944), O Tronco é o quarto livro e o primeiro romance publicado pelo autor. É considerado uma das obras mais ousadas que fala sobre a luta contra as oligarquias políticas rurais em Goiás. O texto narra a violenta disputa pelo poder no início do século XX, entre grandes fazendeiros do sul de Goiás, que comandam o governo e coronéis do norte do Estado. A análise da estrutura social, política e econômica de Goiás é o grande diferencial: sempre buscando apreender a realidade, de mostrar o realismo, de ajudar o povo a compreender as contradições fundamentais da sociedade brasileira. 680
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A obra reflete a militância política do autor, com o engajamento no Partido Comunista Brasileiro (PCB) na década de 1950. Nesse sentido, podemos analisar a obra como um “romance de protesto diante das denúncias dos aspectos arcaicos na sociedade do Centro-Oeste brasileiro que contrastam com o ideário de desenvolvimentista defendido pelo então presidente Juscelino Kubitschek. O Tronco embasa-se na recriação ficcional de fatos reais, ocorridos no Norte do antigo estado de Goiás, atual Tocantins, entre 1917 e 1918. Trata-se da batalha sangrenta entre tropas da força pública do Estado e as milícias do principal clã oligárquico da região. A trama desenvolve-se no antigo povoado de Vila do Duro (atual Dianópolis), Tocantins, um cenário marcado pela disputa de poder entre grupos encabeçados pelos chamados “coronéis”. O romance aborda a experiência pessoal do autor que, desde sua infância, assiste à dominação política imposta pelas oligarquias de Goiás. O tronco pode ser visto como um misto entre romance e história de ficção realista que mostra um povo simples, de um lugarejo isolado das “agitações” da distante capital goiana. O desenrolar dos acontecimentos revela o perfil dos personagens e do lugar, a partir da abordagem de um contexto típico da região descrita, inclusive as manifestações de coronelismo e jagunçagem. O autor faz a denúncia começando o título do livro. O “Tronco” era um instrumento de tortura, utilizado para castigar os escravos e indígenas. Esse instrumento de flagelo continuava em pleno funcionamento e punia os desafetos dos coronéis. Era a consolidação do poder oligárquico, a representação da dor e do sofrimento dos camponeses, das relações de produção semifeudais. O romance se passa em 1918, na Vila do Duro (local fictício), um lugar esquecido no meio do sertão, dominado pela família Melo, possuidora de grandes extensões de terras onde desenvolvia relações semifeudais de produção e, consequentemente, do poder político na região. A família Melo mantinha uma relação de semisservidão com os camponeses locais, utilizando algumas variações da renda fundiária na exploração dos camponeses.
O tronco é construído em quatro partes cronologicamente sucessivas – O Inventário, A Comissão, A Prisão e O Assalto. A trama é desenvolvida pela reação do personagem principal, Vicente Lemes, diante de sua “indignação” frente aos fatos vividos. Ermos e Gerais foi um livro de contos publicado pela Bolsa de Publicações de Goiânia em 1944 que recebeu elogios da crítica. Foi a obra que teve repercussão nacional pela originalidade, pelo regionalismo e caráter essencialmente realista. Desprovido de enfeites literários e sem forçar as expressões, Élis descreve as paisagens goianas física e socialmente, de maneira concreta, direta. Nessa obra, o autor destaca o rio Santa Tereza, carregado com as suas lendas e suas histórias; fala das matas escuras cerradeiras, repletas de seus mistérios, lembra o roçado do pequeno sitiante e a roça destocada apenas para o gasto e os bichos para a caça como atambém pesca. Era um mundo pequeno, mas que bastava a si mesmo. Além de regionalista e realista, Bernardo Élis é dramático, violento, irônico, cruel, bruto e, às vezes, causa-nos horror, como no conto “A mulher que comeu o amante”, num rio apinhado de piranhas: “Uma vez, Januário ainda tinha a lazarina, pregou um tiro num veado. O cujo caiu n`água, mas não chegou nem a afundar-se. O poço brilhou no brilho pegajoso de mil escamas e tingiu-se de rubro. Depois, quando a água se limpou mais, a ossada do veado ficou alvejando higienicamente no fundo rio.” Em 1965, mais seguro e mais experiente, com uma simplicidade encantadora, Élis publica Caminhos e descaminhos, em que o autor goiano fala sobre o barranco, o calor, o luar, a queimada no mato virgem, a lonjura do horizonte, a ideia das nascentes, o córrego, as borboletas, o fundo “fofo” da mata, os lambaris e piaus, as imaginações do Cabo Sulivero sobre os mistérios das águas e dos rios, do chão parado e sem mistérios: “Lesma, cobra, bicho danado que ia deslizando, escorregando, viscoso e frio, lambendo o barranco, mordendo as areias, pastando o capim das estrelas; ora azul como o céu, ora faiscante ao sol e fogo, já imitando o azougue nas noites em que o luar é o próprio silencio escorrendo; fumaça que se levanta da queimada de mato virgem e se perde na lonjura do horizonte, confundindo-se com o céu embaciado de agosto; – para onde iria o Tocantins?”. O livro de contos, Veranico de janeiro, é por excelência, uma grande obra marcada, especialmente, pela narrativa poética do conto A enxada. 681
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De acordo com os críticos literários, o texto inaugura a maturidade estilística bernardiana. O tronco revela as mazelas e tragédias de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela manipulação do poder e denuncia a realidade “analfabeta” do Goiás sertanejo e esclarece as condições de “subvivência” humana, como num grito do homem do sertão ermo, esquecido dos governos e à mercê do poder e da dominação.
Português
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A paisagem humana e geográfica que Élis imprime no conto dá uma ideia da vida em Goiás no século passado. Os quadros que o autor pinta em seus contos não são meramente obra de sua imaginação, eles realmente correspondem a um passado real. A vida girava em torno desse sistema econômico e cultural ligado à terra ainda nos anos 60. Ainda hoje a sociedade goiana é marcadamente pela tradição rural. Élis, nesse conto, quis mostrar como funcionavam as engrenagens da vida econômica e política de uma pequena comunidade sob o mando de um terratenente. A fantasia e o absurdo estão presentes em A enxada de forma peculiar, sempre testando os limites da sua própria elaboração pelo comportamento estético do escritor.
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Os anos 1950 e o início dos anos 1960 foram assinalados por um intenso movimento social no campo que, em certa maneira, se associava ao projeto desenvolvimentista nacional. Em Goiás, ocorreu o confronto de Trombas e Formoso, que reuniu trabalhadores do campo e militantes do antigo PCB na luta armada pela posse da terra. A enxada narra a trajetória de um trabalhador rural à procura de seu instrumento de trabalho, a enxada, que permanece inacessível ao personagem até a última palavra do conto. A luta para conseguir uma enxada leva-nos a interpretar o texto como uma denúncia das condições desumanas a que o trabalhador do campo está historicamente submetido no Brasil. A personagem Piano, o negro que tinha uma dívida, enlouquece e morre por não ter arranjado a tal enxada. As principais obras do autor Primeira chuva, poesia (1955); Ermos e gerais, contos (1944); A terra e as carabinas (1951); O tronco, romance (1956); Caminhos e descaminhos, contos (1965); Veranico de janeiro, contos (1966); Caminhos dos gerais, contos (1975); André Louco, contos (1978); Seleta de Bernardo Élis. Org. de Gilberto Mendonça Teles; estudo e notas de Evanildo Bechara (1974); Os enigmas de Bartolomeu Antônio Cordovil (1980); Apenas um violão (1984); Goiás em sol maior (1985); Jeca-Jica-Jica Jeca (1986); Chegou o governador (1987); Obra reunida de B. É. (1987). Pelo conjunto de sua obra, expressiva e bela, Élis recebeu inúmeros prêmios literários: Prêmio José Lins do Rego (1965) e Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1966), pelo livro de contos Veranico de janeiro; Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, pelo seu Caminhos e descaminhos; Prêmio Sesquicentenário da Independência, pelo estudo Marechal Xavier Curado, criador do Exército Nacional (1972). Em 1987, recebeu o Prêmio da Fundação Cultural de Brasília, pelo conjunto de obras, e a medalha do Instituto de Artes e Cultura de Brasília, mesmo ano de sua morte. 682
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Exercícios de Fixação
Mas então eu tive um mau pressentimento... Parei de tocar... A pessoa pediu: 2 CONTINUE! CONTINUE! 3 (toca e para) 4 Gritava: MAIS! MAIS! MAIS! SEMPRE MAIS! 5 (toca e para) 6 E depois... 7 (para a plateia) 8 Que aconteceu depois? 9 (espantada) 10 As lembranças chegam a mim aos pedaços... Ainda agora, eu era menina... 11 (muda-se em menina. Corre, pelo palco, trocando as pernas) 12 Onde está a Margarida, olé, oli, olá? 13 (põe-se de joelhos para espiar as águas de imaginário rio) 14 Vejo restos de memória, boiando num rio, 15 (aponta o chão) 16 Num rio que talvez não exista... 17 (ri, feliz) 18 Passam na corrente gestos e fatos... 19 (apanha na água invisível, com as pontas dos dedos, algo que teoricamente goteja) 20 Eis um fato antigo. 21 (aponta para o ar) 22 Vejo também pedaços de mim mesma por toda parte... 23 (numa revolta) 24 Meu Deus, como era mesmo o meu rosto, meus cabelos, cada uma de minhas feições? 25 (para uma espectadora) 26 Minha senhora, esqueci meu rosto em algum lugar. 1
Adapt.RODRIGUES, Nelson. A valsa nº 6. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. pp. 30 e 31.
01. (Udesc SC) Analise as proposições em relação à obra Valsa nº 6, Nelson Rodrigues, e ao texto, e assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa. ( ) A leitura da obra leva o leitor a inferir que ao mesmo tempo em que Sônia (menina e moça) luta com as lembranças ora boas, ora más, e ainda que não entenda o sentido dessa oposição, o autor vai abordando temas como a loucura, o medo, a morte. ( ) A Valsa nº 6, por ser um monólogo de cunho psicológico e por ter um cenário bastante simples, não desvenda o drama e nem justifica a participação de alguns personagens, como é o caso da personagem Paulo. ( ) Na obra, Sônia dá voz a pessoas que permeiam o universo de seu subconsciente na ânsia de juntar o quebra-cabeça da vida dela.
( ) Em “CONTINUE! CONTINUE!” (Ref. 2) e “MAIS! MAIS! MAIS! SEMPRE MAIS! (Ref. 4) infere-se que o uso da letra maiúscula denota o desespero do suposto assassino em abafar o crime, pelo aumento do som e pela continuidade da Valsa nº 6, de Chopin. ( ) Nos períodos “Vejo também pedaços de mim mesma” (Ref. 22), “como era mesmo o meu rosto” (Ref. 24) as palavras destacadas, na morfologia, são adjetivos e, quanto à concordância nominal, podem ser flexionadas em gênero e número. Assinale a alternativa correta, de cima para baixo. a) V – V – V – V – F b) V – F – V – V – F c) F – F – V – V – V d) V – V – V – F – F e) V – F – V – V – V 02. (Udesc SC) Analise as proposições em relação à obra Valsa nº 6, Nelson Rodrigues, e ao texto. I. Na estrutura “Mas então eu tive um mau pressentimento... Parei de tocar...” (Ref. 1),o emprego do sinal de reticência sugere medo, apreensão, suspense. II. Da leitura da obra, infere-se que o elemento integrador entre os dois atos da peça é a Valsa nº 6, cuja execução varia conforme o estado emocional da personagem Sônia. III. Da leitura de “Vejo também pedaços de mim mesma por toda parte” (Ref. 22), infere-se que a personagem Sônia, por meio da memória, busca a reconstituição dos fatos e da sua identidade. IV. As expressões destacadas em “Meu Deus, como era mesmo o meu rosto” (Ref. 24) e “Minha senhora, esqueci meu rosto (Ref. 26) têm a função sintática de vocativo nas duas estruturas. V. No período “Vejo restos de memória, boiando num rio” (Ref. 14), a palavra destacada representa, para Sônia, momentos de lucidez da sua infância. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras. b) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras. c) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras. d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras. e) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras. 03. (Unirv GO) A respeito do autor de O Tronco, Bernardo Élis, pode -se afirmar as características de um escritor que escreveu literatura com arte e história. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as alternativas. F-F-V-V
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Texto comum às questões 01 e 02
Português
a) O tema desenvolvido no romance é nitidamente barroco. b) A obra apresenta espírito totalmente religioso. c) Observa-se, em O Tronco, uma abordagem de um plano histórico e ficcional ao longo da obra. d) A obra ilustra paulatinamente a incorporação de Goiás ao cenário econômico nacional e internacional. 04. (PUC GO)
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A mulher que comeu o amante Minueto em fá menor [...] Era questão de ponto de vista. Podia matar sumariamente que ninguém saberia jamais. Mas ele já se viciara com a justiça. Precisava achar uma desculpa, um pé qualquer para justificar seu crime e começou a nutrir um ódio feroz pelo velho. Foi Camélia que propôs um dia: – Bamo matá o cujo? De tarde, o velho estava agachado, santamente despreocupado, cochilando na porta do rancho, quando o primo deu um pulo em cima dele, e numa mão de aloite desigual, sojigou o bruto, amarrou-lhe as mãos e peou-o. O velho abriu os olhos inocente e perguntou que brinquedo de cavalo que era aquele. — Que nenhum brinquedo, que nada, seu cachorro! ocê qué me matá, mais in antes de ocê me jantá eu te armoço, porqueira. Vou te tacá ocê pras piranhas comê, viu! Januário pediu explicação: – apois se é pra móde a muié ocê num carece de xujá sua arma. Eu seio que ocês tão viveno junto e num incomodo ocês, mas deixa a gente morrê quando Deus fô servido. – Depois fez uma careta medonha e seus olhos murchos, cansados, encheram-se de lágrimas, que corriam pela barba branca e entravam na boca contraída. O moço, porém, falava com uma raiva convicta, firme, para convencer a si mesmo da necessidade do ato: — Coisa ruim, cachorro, farso. A covardia, a fraqueza do velho davam-lhe força, aumentavam a sua barbaridade. E foi daí que ele carregou Januário e o atirou ao poço, entre os garranchos e as folhas podres. Uma lágrima ainda saltou e caiu na boca de Camélia que estava carrancuda e quieta atrás do primo. Ela teve nojo, quis cuspir fora, mas estava com tanta saudade de comer sal que resolveu engulir. O corpo de Januário deu uns corcovos elegantes, uns arrancos ágeis; depois uns passos engraçados de cururu ou de recortado e se confundiu com o sangue, com os tacos de porcaria. [...] (ÉLIS, Bernardo. A mulher que comeu o amante. In: ______. Melhores contos. 4. ed. São Paulo: Global, 2015. p. 20-21.)
Assinale a alternativa correta no que diz respeito à linguagem, ao discurso narrativo e ao ponto de vista das personagens no conto “A mulher que comeu o amante”, de Bernardo Élis, de que o texto é fragmento: a) Embora o narrador pareça isento de julgamentos morais, estes aparecem à revelia de seu discurso.
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b) A linguagem das personagens se confunde com o discurso do narrador na maior parte da narração. c) Embora haja crueldade no assassinato de Januário, o narrador mostra-se cúmplice do crime. d) O espaço narrativo das personagens reforça o caráter de imoralidade e barbaridade de suas ações. 05. (PUC GO) Ontem, como hoje, como amanhã, como depois [...] — Ei, chão parado! — suspirava incessantemente o cabo, na venda, os olhos derramados pelo bamburral do fim da rua, ansioso por que viesse o cumpade Man-Pôk com a linda filha Put-Kôe, que em Craô queria dizer a Esposa do Sol. Também na aldeia, Man-Pôk, a Ema Queimada, não tinha sossego, louco por vir ao povoado e receber do “cristão bão” a garrafa de pinga a troco dos amores de sua filha. Naquelas ausências, a imaginação do cabo trabalhava. Ora, levar para garimpo mulher branca era muito difícil. Garimpo é lugar excomungado de sem conforto; mulher branca nenhuma ia aguentar. E se aguentasse, ficaria caro. Bom seria levar a tapuia. Ela cozinharia para Sulivero, lavaria a roupa, cuidaria das coisas enquanto ele estivesse na cata. Serviria de mulher. E ficaria barato. Put-Kôe não exigia nem vestido, não exigia comida boa, não exigia calçado, não queria cama, nem casa, nem coisa alguma. O empecilho era Man-Pôk; não concordava com a ida da filha. Talvez compreendendo que, longe de sua companhia, a aguardente lhe viesse a faltar. — Cristão bão dá pinga, — disse o vendeiro. — Cristão bão deu ordem pá mim: todo sábado Man- -Pôk recebe uma garrafa de pinga. — E assim o índio acedeu que a filha se fosse para o garimpo, ficando, porém, o vendeiro obrigado a lhe dar a semanal ração costumeira da cachaça. [...] (ÉLIS, Bernardo. Melhores contos. 4. ed. São Paulo: Global, 2015. p. 48-49.)
No conto “Ontem, como hoje, como amanhã, como depois”, Bernardo Élis expõe a relação de dominação e aculturação do homem branco sobre os índios. Considerando essa afirmação e o fragmento apresentado no texto, assinale a alternativa que traduz o ponto de vista do narrador: a) O narrador, por meio do discurso de Sulivero, expõe o seu machismo contra a mulher branca e exalta a coragem da indígena. b) O narrador rebate a crença cultural e preconceituosa de que as mulheres de etnia indígena são preguiçosas. c) O narrador tem um olhar que tudo vê e tudo sabe inclusive consegue adentrar na imaginação do cabo Sulivero. d) O narrador critica a personagem Sulivero que, em seu delírio amoroso, idealiza a subserviência da índia nas atividades domésticas.
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Exercícios Complementares
(Aos moços)”, de Cora Coralina.
Analise as afirmações a seguir sobre esse drama de Nelson Rodrigues: I.
Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou.
na de arranjos, apresentando discussões de temas pouco atuais e quase irrelevantes. II.
Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
mas profundos, atuais e relevantes. III.
Apresenta linguagem expressiva e temática variada, colocando em pauta o drama cotidiano de uma gente simples que e considerada pela mídia apenas
Ser otimista. [...]
generosidade e idealismo. Creio nos milagres da ciência
Parte de uma cena comum, em linguagem corrente, sem maiores arranjos, para chegar à discussão de te-
Acreditar nos valores humanos.
Acredito nos moços. Exalto sua confiança,
Parte de uma cena comum, mas sua linguagem e ple-
quando protagoniza tragédias como ocorre com Aprígio e Arandir. IV.
Possui linguagem expressiva e tema único, colocando em pauta tão somente um drama pessoal, uma tragédia familiar, protagonizada por dois personagens principais: Aprígio e Arandir.
e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente.
Assinale a alternativa correta:
Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar.
c) II, III e IV são verdadeiras.
CORALINA, Cora. Melhores poemas. Seleção de Darcy França Denófrio. São Paulo: Global, 2004. p. 132-133. (Coleção Melhores poemas).
a) I, II e IV são verdadeiras. b) Apenas II e III são verdadeiras. d) Apenas III e IV são verdadeiras. 03. (UFGD MS) O fragmento a seguir faz parte da obra O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues. Na obra, a personagem
Somam-se a esse texto poético outros poemas, tais como
Arandir, ao socorrer um homem atropelado, concede um úl-
“Lembranças de Aninha (Colhe dos velhos plantadores)”,
timo desejo ao moribundo, um beijo. A consequência desse
“Normas de educação”, “Pai e filho”, “Cora Coralina, quem é
ato é o fim do seu casamento com Selminha e o seu assassi-
você?” e “Mestra Silvina”, que são unidos por uma temática
nato, cometido por Aprígio, seu sogro.
central que trata da
ARANDIR (violento) – Deus sabe!
a) condição intergeracional que funciona como base para a
APÍGIO – Eu não acredito em você. Ninguém acredita. Os
educação humana. b) situação física precária que exemplifica o universo escolar da Cidade de Goiás. c) idealização dos professores antigos que valorizavam a pedagogia humanista. d) crença nos avanços da ciência que cumpre o papel de gerar bem-estar social. e) arte literária engajada que deve ser usada como instrumento de ensino formal.
jornais, as rádios! Não há uma pessoa, uma única, em toda
02. (PUC GO) O fragmento extraído da peça O beijo no asfalto (texto) dá mostras de uma escrita cujo teor crítico, manifesto na fala dos personagens, apresenta vestígios inequívocos da degradação humana, com muitas dúvidas, sensacionalismo, suspense e senso crítico bastante afiado.
a cidade. Ninguém! ARANDIR (com voz estrangulada) – Ninguém acredita, mas eu! Eu acredito, acredito em mim! APÍGIO – Você, olha! ARANDIR – Selminha há de acreditar! APÍGIO (fora de si) – Cala a boca! (muda de tom) Eu te perdoaria tudo! Eu perdoaria o casamento. Escuta! Ainda agora, eu estava na porta ouvindo. Ouvi tudo. Você tentando seduzir a minha filha menor! ARANDIR – Nunca! APÍGIO – Mas eu perdoaria, ainda. Eu perdoaria que você fosse espiar o banho da cunhada. Você quis ver a cunhada nua.
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B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
01. (UFG GO) Leia o fragmento do poema “Ofertas de Aninha
Português
ARANDIR – Mentira!
Com base na leitura do trecho acima e na leitura da obra Anjo
APÍGIO (ofegante) – Eu perdoaria tudo. (mais violento) Só não
Negro, assinale a alternativa correta. a) Percebe-se nesse trecho uma imitação cômica das tragédias
perdoo o beijo no asfalto. Só não perdoo o beijo que você deu na boca de um homem! RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto: tragédia carioca em três atos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
Diante do desfecho da peça, é possível afirmar que o sogro, ao matar Arandir, estava a) defendendo a honra da filha. O beijo dado por Arandir ao homem atropelado ganhou repercussão nacional. A família virou motivo de deboche de toda a sociedade. b) atuando como um homem preconceituoso, que não escondia o seu desprezo pelos homossexuais. A personagem não conseguia se perdoar por não ter salvo a filha da mentira de Arandir.
gregas antigas, exemplo disso é a personagem Virgínia que, em delírios, acusa o marido do assassinato dos filhos. b) Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, dialoga com alguns personagens cruéis das tragédias gregas antigas, exemplo disso é Virgínia que se comporta como uma mãe infanticida. c) Ismael se comporta como um personagem das tragédias gregas antigas que, depois de matar os bebês, tenta se safar do castigo, apontando a esposa como a culpada pelos crimes. d) Anjo Negro dialoga com as tragédias gregas antigas, principalmente quando Ismael e Virgínia cometem o crime do infanticídio, afogando seus bebês para ocultar o adultério. 06. (Unifacs BA) Leia o texto a seguir.
c) protegendo a filha mais nova de Arandir. Sob ele caía a acusação de tentar seduzir a cunhada. d) agindo por um ciúme incontrolável, afinal, Aprígio era apaixonado pelo genro. e) chamando a atenção para si. Egocêntrico, o sogro não suportou ver o genro estampado nas notícias de jornal, sendo
B19 Pós-Modernismo III − o Teatro de Nelson Rodrigos, a poesia de Cora Coralina e a prosa de Bernado Élis
a ele destinado o anonimato. 04. (UFU MG) Virgínia: Ana Maria precisa saber muitas coisas, inclusive que você é um estranho, um desconhecido, e que matou o pai dela... Ismael: E quem dirá? Virgínia: Eu. RODRIGUES, Nelson. Anjo negro. Rio de Janeiro: 2012 p. 68.
Em Anjo Negro, Nelson Rodrigues se aproxima a) da tragicomédia, com a presença híbrida da melancolia e do riso, desenvolvendo diálogos eruditos e rebuscados tão comuns em sua época. b) do teatro engajado e político, ao denunciar os desmandos da ditadura militar, enfocando a questão do racismo e do assassinato de jovens inocentes. c) das tragédias gregas, suscitando terror e piedade nos espectadores, ao tratar de temas polêmicos e dramáticos, tais como infanticídio, incesto e adultério. d) do teatro medieval, ao mergulhar sua peça na moral cristã, com a presença de personagens com nomes bíblicos e todos de conduta íntegra. 05. (UFU MG) Ismael: ¾ Eles morreram porque eram pretos... Virgínia (com terror) ¾ Foi o destino. Ismael ¾ (contendo-se ainda) _ Porque eram pretos. (novo tom) ¾ Pensas que eu não sei? Virgínia (recuando num sopro de voz) ¾ Não, Ismael, não!... Ismael ¾ Que fizeste com meus filhos? Virgínia (apavorada) ¾ Nada ¾ Não fiz nada....
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Não sei… se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura… enquanto durar. CORA CORALINA. Saber viver. Disponível em: <http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=108084>. Acesso em: 23 ago. 2015.
Os versos de Cora Coralina 01. mostram a pessoa como um produto do meio em que vive. 02. refletem temor mediante a possibilidade de finitude da vida. 03. revelam o sentimentalismo permeando o discurso do eu lírico. 04. evidenciam o amor-doação ao próximo como essência da vida humana. 05. demonstram apreensão ante a consciência da inexorabilidade do fluir do tempo.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B20
PROSA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA E PORTUGUESA - DALTON TREVISAN, SARAMAGO, MIA COUTO E PEPETELA Passamos pela Revoluçao de 1930, atravessamos a Era Vargas, vivenciamos a Ditadura militar nos anos 1970 quando alguns escritores e poetas ainda denunciavam os problemas enfrentados pela população brasileira, por meio de seus romances.
ASSUNTOS ABORDADOS n Prosa Contemporânea brasileira
e portuguesa - Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela n Dalton Trevisan n Literatura Africana de língua portuguesa
A partir da década de 1990, com a volta da democracia, a literatura politizada e de protesto perde espaço, mas continuam a ser divulgados os temas da violência urbana e da exclusão social. Desse período em diante, além da permanência de autores e poetas já existentes, registram-se o surgimento e a estreia de diversos novos escritores. Prevalece ainda a temática urbana, flagrando a exclusão social, a violência, os desequilíbrios psicológicos decorrentes de um contexto social caótico. Na literatura, com o desenvolvimento das novas tecnologias e da comunicação, não havia mais a separação entre a arte culta e a arte popular. O que importava no momento era a comunicabilidade. Houve uma comunhão entre todas as estéticas e aceitas de forma inovadora. Com a intenção de tornar os problemas sociais menos rígidos, investe-se no humor ou no erotismo. Na prosa brasileira, destacamos o conto, a crônica e o romance. Muitas vezes, motivados pela agitação e a rapidez típicas da realidade em que vivem muitos escritores brasileiros da contemporaneidade vêm optando pelo conto. Uma explicação aceitável para essa escolha é a maior facilidade de explorar a semelhança entre a literatura e a notícia, como também por serem textos curtos e por se tratar de situações anedóticas, que chamam mais atenção do leitor atual. Ademais, existe, nesses textos, a possibilidade de garantir a liberdade criadora conquistada pelos modernistas. A diversidade de tendências e a pluralidade das formas que marcam hoje a literatura brasileira, além da falta de um direcionamento histórico, dificultam a localização da pós-modernidade na literatura. As referências que seguem mesclam textos pós-modernos com textos ligados a formas e recursos tradicionais da narrativa. Realismo fantástico − Alguns escritores produzem obras cuja narrativa incorpora elementos antirracionais, criando situações absurdas, que servem como metáfora para também denunciar os desequilíbrios da época. O pioneiro dessa tendência é o escritor Murilo Rubião (Ex-mágico, O pirotécnico Zacarias). Destacam-se também José J. Veiga e Moacir Scliar. Prosa regionalista – Seguindo a trilha de Guimarães Rosa, alguns escritores focalizam o espaço e o homem rural brasileiro. Destacam-se Mário Palmério (com Chapadão do Bugre) Bernardo Élis (O tronco) e Ariano Suassuna (A pedra do reino). Prosa política − Esse tipo de prosa denuncia a violência social e política a que o Brasil foi submetido a partir de 1964, e que ainda hoje é um modelo muito praticado. Um bom exemplo é a censura aos meios de comunicação de massa, sofrida no começo de 1964. São personagens, temas e enredos que sevem de veículo para denúncia e o protesto contra a repressão política e questões sociais.
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Português
Autores representantes dessa literatura: Ignácio de Loyola Brandão, Antonio Callado, Roberto Drummond, José Louzeiro, Márcio Souza, João Ubaldo Ribeiro, Ivan Ângelo, Murilo Rubião, José J. Veiga e Moacyr Scliar. Prosa intimista − Estão presentes a observação psicológica das personagens, a introspecção e o entrelaçamento do lirismo com o realismo. Esse tipo de narrativa exibe personagens mergulhados em si mesmos, por meio dos quais o escritor investiga e vasculha o interior do ser humano. Destacam-se Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Osman Lins e Adélia Prado. Prosa urbana − Os grandes centros urbanos e seus problemas são o foco principal como o progresso e sua influência nas relações humanas: a solidão, a marginalização e a violência. São expressivas as obras de Rubem Fonseca, João Antônio, Luiz Vilela e principalmente Dalton Trevisan. Além de Dalton Trevisan, outros contistas que se destacam por essa mesma temática são: Sérgio Sant´Anna, Ricardo Ramos, Lygia Fagundes Telles, Otto Lara Rezende, José J. Veiga, Murilo Rubião, Osman Lins, Moacyr Scliar, Autran Dourado, Fernando Sabino, Domingos Pellegrini Jr., Carlos Heitor Cony, Inácio de Loyola Brandão e Rubem Fonseca e muitos outros.
Dalton Trevisan
B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
Dalton Trevisan é autor dos livros O vampiro de Curitiba, A polaquinha e O maníaco do olho verde, entre outros títulos. Sua obra foi traduzida para diversos idiomas, como o inglês, o espanhol e o italiano. Em 2012, Trevisan ganhou o prêmio Camões de literatura. O autor vive em Curitiba (PR), e é reconhecido como um dos maiores contistas vivos da literatura brasileira pela maioria dos críticos do nosso país. Com vimos nas aulas anteriores, os temas desenvolvidos na prosa contemporânea incorporaram elementos do cotidiano urbano, destacando os problemas psicológicos, religiosos, filosóficos e morais, provocados pela vida nos grandes centros urbanos. Nesse sentido, o conto passa a ter um papel relevante, pela facilidade de, em textos curtos, poder explorar a semelhança entre a literatura e a notícia, como já dissemos anteriormente. Leia um fragmento do conto de Dalton Trevisan, em que, apesar da extrema concisão, o leitor pôde reconstruir toda a angústia sentida pelo personagem.
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O conto “Chove Chuva” foi “traduzido” em imagens, em fotografias que mostram a simplicidade e a rudeza da vida em Curitiba.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A casa das formigas não tem porta, e quando chove, não se afogam? Piam milhares de pardais entre as folhas do chorão. Não existe melhor conchego que um barzinho. Nada como a meia grossa de lã. Apaixonadas ou não, mocinhas espirram na fila do ônibus. Neste instante há no mínimo três mil pessoas infelizes com o sapato furado. Basta que não chova eu me chamo Felipe, o Belo. Como pisar na lama, garotas da várzea, sem sujar as sapatilhas? Orelhas de piás são puxadas por brincarem na chuva. Os mascates que vendem maçã na rua, em desespero comem as maçãs? Não estivesse chovendo eu teria sete filhos. Guardas de trânsito abrem os braços na esquina e apitam: por que choves, Senhor? Chove que chuva, apaga o meu recado de amor no muro. Mães pensam nos filhos tão longe, uns dedos trêmulos na vidraça: dona mãe, me deixa entrar. Em cada lata vazia repicam os sinos da chuva. As mãos no bolso não esquentam. Alguns viúvos choram na fila, esse ônibus nunca vem. Ora, gotas de chuva, pensam os vizinhos. Todos querem esse guarda-chuva esquecido num dia de sol, quando havia sol.
Os armários das velhas casas estalam. Antigos baús são abertos, dia ruim para as traças. Há medo de vampiro na cidade. Asinhas encharcadas, filhotes de pardais caem das árvores e se afogam nas poças. As vovozinhas choram de frio na beira do fogão de lenha. Cães arranham a porta, licença para entrar. A sopa de caldo de feijão, epa! te queimou a língua. Mesmo com chuva, há pares de namorados à sombra das árvores. Nem a chuva tira uma solteirona da janela. Chapinhando as poças investe uma trinca de gordalhufas – pra cá pra lá, bundalhões hotentotes tremelicantes! Senhor, tão bom se não chovesse. Ah, não chovesse, eu usaria barbicha. Não tivesse chovido eu casava com a Lia e não a Raquel. Pra onde fogem os sorveteiros quando chove? Se chove, mais difícil enfrentar o vento sul sem perder o chapéu. Homens chegam em casa esfregam o pé no capacho e sentam para comer, dizendo: chuva desgracida. Uma rosa no teu jardim abre as mil pálpebras do único olho. O vento despenteia a cabeleira da chuva sobre os telhados. Mesmo quando para a chuva, as árvores continuam chovendo. A chuva lava o rosto dos teus mortos queridos. “Chove Chuva”, conto do livro Cemitério de Elefantes.
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A fumaça da chuva sobe pela chaminé das casas e se espalha sobre a cidade. Um fio de silêncio cai de cada gota. As gatas dengosas se viram de costas para dormir. Chove chuvinha, um lado da palmeira nunca se molha.
Os rabanetes no canteiro pulam as cabecinhas de fora.
B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
Chove chuva
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O vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan, foi publicado em 1965 e, desde então, a obra consagrou o autor como um dos grandes escritores brasileiros da segunda metade do século passado. A obra é constituída de vários contos que apresentam somente um fio condutor quanto aos aspectos temáticos, personagem, linguagem e o estilo. Todos os contos têm como protagonista, o jovem Nelsinho em uma trajetória de busca pelas ruas de Curitiba à procura de satisfazer os seus desejos carnais. O vampiro de Curitiba leva-nos ao cotidiano de Nelsinho, o vampiro literário e personagem dos quinze contos do livro. O curitibano segue e assedia as velhinhas, senhoras respeitáveis, virgens e prostitutas. A virilidade e a força são as armas que o vampiro usa para conquistar suas presas. A presença do erotismo é uma marca frequente em todos os contos do autor. A linguagem coloquial é predominante, com termos, às vezes, vulgares marcados de ironia e sarcasmo. Algumas vezes o autor usa o diminutivo para debochar e tirar proveito de situações (casadinha, safadinha, taradinha, Nelsinho...). Na sua maioria, os textos são narrados em 3ª pessoa, o discurso direto é predominante, às vezes, fragmentado e aparentemente sem nexo. Leiamos o fragmento de O vampiro de Curitiba
B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
Ai, me dá vontade até de morrer. Veja, a boquinha dela está pedindo beijo - beijo de virgem é mordida de bicho cabeludo. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É uma que molha o lábio com a ponta da língua para ficar mais excitante. Por que Deus fez da mulher o suspiro do moço e o sumidouro do velho? Não é justo para um pecador como eu. Ai, eu morro só de olhar para ela, imagine então se. Não imagine, arara bêbada. São onze da manhã, não sobrevivo até à noite. Se fosse me chegando, quem não quer nada - ai, querida, é uma folha seca ao vento - e encostasse bem devagar na safadinha. Acho que morria: fecho os olhos e me derreto de gozo. Não quero do mundo mais que duas ou três só para mim. Aqui diante dela, pode que se encante com o meu bigodinho. Desgraçada! Fez que não me enxergou: eis uma borboleta acima de minha cabecinha doida. Olha através de mim e lê o cartaz de cinema no muro. Sou eu nuvem ou folha seca ao vento? Maldita feiticeira, queimá-la viva, em fogo lento. Piedade não tem no coração negro de ameixa. Não sabe o que é gemer de amor. Bom seria pendurá-la cabeça para baixo, esvaída em sangue. Se não quer, por que exibe as graças em vez de esconder? Hei de chupar a carótida de uma por uma. Até lá enxugo os meus conhaques. Por causa de uma cadelinha como essa que aí vai rebolando-se inteira. Quieto no meu canto, ela que começou. Ninguém diga sou taradinho. No fundo de cada filho de família dorme um vampiro - não sinta gosto de sangue. Eunuco, ai quem me dera. Castrado aos cinco anos. Morda a língua, desgraçado. Um anjo pode-dizer amém! Muito sofredor ver moça bonita- e são tantas. Perdoe a indiscrição, querida, deixa o recheio do sonho para as formigas? Ó, você permite, minha flor? Só um pouquinho, um beijinho só. Mais um, só mais um. Outro mais. Não vai doer, se doer eu caia duro a seus pés. Por Deus do céu não lhe faço mal- o nome de guerra é Nelsinho, o Delicado. Olhos velados que suplicam e fogem ao surpreender no óculo o lampejo do crime? Com elas usar de agradinho e doçura. Ser gentilíssimo. A impaciência é que me perde, a quantas afugentei com gesto precipitado? Culpa minha não é. Elas fizeram o que sou - oco de pau podre, onde floresce aranha, cobra, escorpião. Sempre se enfeitando, se pintando, se adorando no espelhinho da bolsa. Se não é para deixar assanhado um pobre cristão por que é então? Olhe as filhas da cidade, como elas crescem: não trabalham nem fiam, bem que estão gordinhas. Essa é uma das lascivas que gostam de se coçar. Ouça o risco da unha na meia de seda. Que me arranhasse o corpo inteiro, vertendo sangue do peito. Aqui jaz Nelsinho, o que se finou de ataque. Gênio do espelho, existe em Curitiba alguém mais aflito que eu? 690
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Veja, parou um carro. Ela vai descer. Colocar-me em posição. Ai, querida, não faça isso: eu vi tudo. Disfarce, vem o marido, raça de cornudo. Atrai o pobre rapaz que se deite com a mulher. Contenta-se em espiar ao lado da cama - acho que ficaria inibido. No fundo, herói de bons sentimentos. Aquele tipo do bar, aconteceu com ele. Esse aí um dos tais? Puxa, que olhar feroz. Alguns preferem é o rapaz, seria capaz de? Deus me livre, beijar outro homem, ainda mais de bigode e catinga de cigarro? Na pontinha da língua a mulher filtra o mel que embebeda o colibri e enraivece o vampiro. Cedo a casadinha vai às compras. Ah, pintada de ouro, vestida de pluma, pena e arminho - rasgando com os dentes, deixá-la com os cabelos do corpo. Ó bracinho nu e rechonchudo - se não quer por que mostra em vez de esconder? -, com uma agulha desenho tatuagem obscena. Tem piedade, Senhor, são tantas, eu tão sozinho.[...] Toda família tem uma virgem abrasada no quarto. Não me engana, a safadinha: banho de assento, três ladainhas e vai para a janela, olho arregalado no primeiro varão. Lá envelhece, cotovelo na almofada, a solteirona na sua tina de formol. [...]
Se o cego não vê a fumaça e não fuma, ó Deus, enterra-me no olho a tua agulha de fogo. Não mais cão sarnento atormentado pelas pulgas, que dá voltas para morder o rabo. Em despedida - ó curvas, ó delícias - concede-me a mulherinha que aí vai. Em troca da última fêmea pulo no braseiro- os pés em carne viva. Ai, vontade de morrer até. A boquinha dela pedindo beijo - beijo de virgem é mordida de bicho-cabeludo. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. Dalton Trevisan
Literatura Africana de língua portuguesa O estudo da produção poética dos escritores africanos de língua portuguesa pode ser feito mediante uma abordagem diacrônica das literaturas a que pertencem, isto é, o conjunto dos fenômenos sociais, culturais etc. que ocorrem e se desenvolvem através do tempo: Eis algumas de suas principais características: n n
n
n
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as dificuldades do sujeito poético de se encontrar com seu universo africano; o fato de que grande parte da produção literária reflete a busca da identidade cultural e a tomada progressiva de uma consciência nacional; o fato de que é sempre possível detectar, nos autores, o momento poético da luta, que se configura num discurso de resistência e de reivindicação por mudanças; as mudanças que encaminham para um processo de releitura constante que liga o presente e o passado na construção de uma África que se renova continuamente. Nesse sentido, achamos pertinente apresentar os autores representantes dessa literatura: José Saramago, Mia Couto e Pepetela.
Fonte: Wikimedia commons
Eu vos desprezo, virgens cruéis. A todas poderia desfrutar - nem uma baixou sobre mim o olho estrábico de luxúria. Ah, eu bode imundo e chifrudo, rastejariam e beijavam, a cola
peluda. Tão bom, só posso morrer. Calma, rapaz: admirando as pirâmides marchadoras de Quéops, Quefren e Miquerinos, quem se importa com o sangue dos escravos? Me acuda, ó Deus. Não a vergonha, Senhor, chorar no meio da rua. Pobre rapaz na danação dos vinte anos. Carregar vidro de sanguessugas e, na hora do perigo, pregá-las na nuca?
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B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
Não olhe, infeliz! Não olhe que você está perdido. É das tais que se divertem a seduzir o adolescente. Toda de preto, meia preta, upa lá lá. Órfã ou viúva? Marido enterrado, o véu esconde as espinhas que, noite para o dia, irrompem no rosto - o sarampo da viuvez em flor. Furiosa, recolhe o leiteiro e o padeiro. Muita noite revolve-se na cama de casal, abana-se com leque recendendo a valeriana. Outra, com a roupa da cozinheira, à caça de soldado pela rua. Ela está de preto, a quarentena do nojo. Repare na saia curta, distrai-se a repuxá-la no joelho. Ah, o joelho... Redondinho de curva mais doce que o pêssego maduro. Ai, ser a liga roxa que aperta a coxa fosforescente de brancura. Ai, o sapato que machuca o pé. E, sapato, ser esmagado pela dona do pezinho e morrer gemendo. Como um gato!
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José Saramago
B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
Não é domingo, mas com esta chuva, os campos alagados, ninguém pode ir trabalhar. João Mau-Tempo vai ter toda a família ao pé de si, não são muitos, não se pode contar com aqueles que estão longe e não podem vir, sua irmã Maria Conceição, que ainda serve em Lisboa, sempre os mesmos patrões, há fidelidade assim, entreguem-lhe ouro em pó e encontrá-lo-ão todo e talvez acrescentado, e seu irmão Anselmo, desde que foi viver para o norte nunca mais deu notícias, quem sabe se já morreu, se foi à frente, como Domingos num ano qualquer destes, quem se lembra, alguém deu por isso, Certas vidas são mais apagadas do que outras, mas é só porque temos tanta coisa em que pensar, acabamos por não reparar nelas e lá vem o dia em que nos arrependermos. Fiz mal, devia ter dado mais atenção, pois é, pensasses nisso mais cedo, enfim, são pequenos remorsos que vem e logo esquecem, é o que nos vale. [...] Estará também Antônio Mau-Tempo, meu filho, que agora se levantou e veio descalço. Como se sente, meu pai, e eu, que sei que hoje o dia da minha morte, respondo. Estou bem, quem sabe se acreditará, tem os cotovelos assentes na barra da cama, aos pés, olha pra mim, afinal não acreditou, ninguém convence ninguém se não estiver convencido, quem viu este rapaz, vê-lo agora, ainda está longe dos cinquenta anos e apesar disso, a França deu cabo dele, tudo dá cabo de nós, esta dor, a pontada, ou talvez não seja a pontada, é um doer que está por baixo dele, nem eu sei se explicar. [...] João Mau-Tempo finca os cotovelos no enxergão, arrasta o corpo para cima, ajudam-no, só ele sabe que doutra maneira não se moveriam as pernas, tem certeza de que recostando se sentirá melhor, aliviará o aperto que subitamente lhe chegou ao peito, não é que se tenha assustado, sabe que nada acontecerá enquanto a neta não chegar e talvez um dos que ali estão se lembre de sair, ir ver se o céu estará escampando,
o quarto tão abafado. Abram aquela porta, é a que dá para o quintal, ainda chove, só nos romances o céu se abre em ocasião assim, é uma luz branca que entra, e de repente João Mau-Tempo deixa de vê-la, nem ele soube como aquilo foi. José Saramago. Levantando do chão. José Saramago. São Paulo, Difel, 1982.
A história narrada por Saramago atravessa vários períodos de Portugal, desde a época da monarquia, no início do século XX, o fim da monarquia, a república, a ditadura e a volta da liberdade no final do século XX. Saramago é incomparável na arte da literatura histórica. Na obra Levantado do Chão, cujo fragmento você acabou de ler, é impressionante a capacidade do escritor de refletir todas as angústias e ansiedades de um povo na figura de uma única família. Os Mau-Tempo são reflexo direto da ditadura: sem dinheiro, a família é obrigada a trabalhar para grandes proprietários de terra que pagam misérias enquanto cobram horas extremamente longas de trabalho. Em um país cuja legislação não existe para proteger os trabalhadores e o governo é financiado por grandes empresários, o povo só poderia recorrer a eles mesmos ou na sua própria terra. Levantado do Chão conta a saga de uma família de camponeses pobres, os Mau-Tempo, que desde o século XV vivem em Portugal, na região do Alentejo e são selecionados pelo autor para relatar a difícil relação do homem português com a terra. Alguns dos mais importantes livros de José Saramago foram: O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) e Ensaio Sobre a Cegueira (1995). Saramago, tido como o mais importante de língua portuguesa, recebeu o Prêmio Camões, em 1995. Em 1998, tornou-se o primeiro escritor português a ser aclamado com o Nobel de Literatura.
#DicaCine Ptugê Título original: Blindness Lançamento: 2008 Direção: Fernando Meirelles Elenco: Juliane Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Gael Garcia Bernal, Dany Glover, Yusuke Iseva, entre outros. Autor do livro: José Saramago (1995) Roteiro: Don McKellar Diretor de fotografia: Cesar Charlone Produção: Rhombus Media, Bee Vine Pictures. Sinopse: Uma inexplicável epidemia de cegueira atinge uma cidade. Chamada de “cegueira branca”, já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa, a doença surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar, as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. http://www.ccine10.com.br/ensaio-sobre-a-cegueira-critica/
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Mia Couto Mia Couto (1955), pseudônimo de Antônio Emílio Leite Couto, nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, África, no dia 5 de julho de 1955. O autor moçambicano é um mestre da linguagem. Ele traz grande inovação linguística criando personagens populares, valorizando as tradições de sua terra, e ao mesmo tempo fazendo crítica social e política. Ele é capaz de tecer, por meio das palavras, momentos de rara sensibilidade e lirismo. São várias e marcantes as características da literatura de Mia Couto. Ele consegue mostrar o processo, ou como funciona o português falado em Moçambique, suas maneiras de falar e palavras que enriquecem o patrimônio comum da língua portuguesa. Ele mostra a riqueza de concepções, enredos, situações e criação dos seus personagens, trazendo um pouco da magia da África, espaço em que o real se mescla com o espiritual. Mia Couto exibe inúmeras situações de forma figurada, com referências aos mitos, às lendas e ao folclore português. Couto é comparado a nomes como Gabriel Garcia Márquez, Guimarães Rosa e Jorge Amado pelo realismo fantástico das suas impressionantes narrativas. Terra sonâmbula, romance lançado em 1992, foi considerado, em uma feira internacional ocorrida no Zimbábue, como uma das doze melhores obras africanas escritas no século XX. Com uma beleza ímpar, o autor utiliza formas oralizantes, criativas e espontâneas. A sua escrita sintética e limpa tem a mesma beleza que as paisagens de Moçambique.
B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
Em Terra sonâmbula, é emocionante como o narrador apresenta ao leitor, desde o primeiro parágrafo, uma terra destruída pelo colonialismo português, na qual os viventes se acostumam ao chão, em resignada aprendizagem da morte. Couto consegue desenhar essa imagem com lirismo e sensibilidade apesar de ser um momento marcado pela tragédia, como é o caso de Terra sonâmbula. Terra sonâmbula é escrita em prosa poética e o foco central do escritor é fazer um retrato de Moçambique após anos de guerra civil que deixou cerca 1 milhão de mortos, revelando os horrores e desgraças que envolveram a guerra no país. Os conflitos, o cotidiano, os sonhos, a esperança e a luta pela sobrevivência são os pontos mais relevantes do enredo.
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O título da obra faz referência à instabilidade do país e à falta de descanso da terra que permanece “sonâmbula”.
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Português
O trecho que você vai ler traz uma narrativa sobre o cenário de guerra de Moçambique pós-independência (1977-1992). O texto descreve, entre outras coisas, a fuga de Tuahir e Muidinga da Guerra Civil. Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte. A estrada que agora se abre aos nossos olhos não se entrecruza com outra nenhuma. Está mais deitada que os séculos, suportando sozinha toda a distância. Pelas bermas apodrecem carros incendiados, restos de pilhagens. Na savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o mundo a desflorir. Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. Andam bambolentos como se caminhar fosse seu único serviço desde que nasceram. Vão para lá de nenhuma parte, dando o vindo por não ido, à espera do adiante. Fogem da guerra, dessa guerra que contaminara toda a sua terra. Vão na ilusão de, mais além, haver um refúgio tranquilo. Avançam descalços, suas vestes têm a mesma cor do caminho. [...] (Mia Couto, Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 9-10
Pela leitura, é possível apontar elementos comuns a Angola e Moçambique, após suas independências em 1975: n
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as guerras civis sangrentas enfrentadas, Angola entre 1975 e 2002 e Moçambique de 1977 a 1992, entre grupos de diferentes espectros ideológicos, capitalistas e socialistas; a presença de sérios problemas sociais, como concentração de renda, alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida; a existência de grupos tribais que são obstáculos para a criação de um Estado Nacional; a adoção da língua portuguesa (do colonizador) como uma forma de buscar a unidade nacional.
#DicaCine Ptugê O filme Terra Sonâmbula é uma adaptação cinematográfica de 2007, uma coprodução de Moçambique e Portugal, e embasado no livro de mesmo nome, do escritor moçambicano Mia Couto. Ficha técnica Data de lançamento: 22 de setembro de 2007 (Brasil) Direção: Teresa Prata Personagens: Muidinga, Tuahir, Kindzu, Siqueleto. Sinopse: Moçambique, década de 1990. Terra devastada pela guerra, um menino sem memória é encontrado por um velho errante. Um ônibus incendiado em uma estrada poeirenta serve de abrigo ao velho Tuahir e ao menino Muidinga, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda parte em Moçambique. Ambos, Muidinga e Tuahir, marcados por conflitos que não entendem, são desprovidos de passado e de esperança. O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também outro corpo à beira da estrada, junto a uma mala que abriga os “cadernos de Kindzu”, o longo diário do defunto. A partir desse momento, duas histórias são narradas paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga, e, em flashback, o percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra. Nessa busca, o estranho par descobre-se, reinventa-se, enfrenta a insanidade e a miséria que alastram em seu redor, e recusa deixar morrer o alento. Tal como a terra que percorrem sem destino, uma terra que nunca dorme, nunca descansa, uma terra sonâmbula. É um romance tão bem escrito, com um lirismo pungente, mesclado de prosa poética que remete ao nosso brilhante Guimarães Rosa.
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Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do desfecho. Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. 2Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara cama feita. Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insetos gostavam do suor docicado do velho Taímo. 3Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele. 1
— Chiças: transpiro mais que palmeira! Proferia tontices enquanto ia acordando. 4Nos lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados. Meu pai sofria de sonhos, saia pela noite de olhos 5transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava: — Venham: papa teve um sonho! E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me perguntava sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era. — Nem duvidem, avisava mama, suspeitando-nos. E assim seguia nossa criancice, tempos afora. 6Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. Recordo meu pai nos chamar um dia. Parecia mais uma dessas reuniões em que ele lembrava as cores e os tamanhos de seus sonhos. Mas não. Dessa vez, o velho se gravatara, fato e sapato com sola. 7A sua voz não variava em delírios. Anunciava um facto: a Independência do país. Nessa altura, nós nem sabíamos o verdadeiro significado daquele anúncio. Mas havia na voz do velho uma emoção tão funda, parecia estar ali a consumação de todos seus sonhos. Chamou minha mãe e, tocando sua barriga redonda como lua cheia, disse: — Esta criança há de ser chamada de Vinticinco de Junho. Vinticinco de Junho era nome demasiado. 8Afinal, o menino ficou sendo só Junho. Ou de maneira mais mindinha: Junhito. Minha mãe não mais teve filhos. Junhito foi o último habitante daquele ventre.
O tempo passeava com mansas lentidões quando chegou a guerra. Meu pai dizia que era confusão vinda de fora, trazida por aqueles que tinham perdido seus privilégios. 9No princípio, só escutávamos as vagas novidades, acontecidas no longe. Depois, os tiroteios foram chegando mais perto e o sangue foi enchendo nossos medos. A guerra é uma cobra que usa os nossos próprios dentes para nos morder. Seu veneno circulava agora em todos os rios da nossa alma. De dia já não saíamos, de noite não sonhávamos. O sonho é o olho da vida. Nós estávamos cegos. (COUTO, Mia. Terra sonâmbula. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 17-19)
Pela leitura do texto, podemos observar a semelhança entre nosso poeta mineiro Guimarães Rosa e Mia Couto. Observea semelhança entre o sertão de Guimaraes Rosa com o “lugarzinho” no texto de Mia Couto. O lugarzinho de Couto também é um mundo rural repleto de histórias, em que os sonhos, as fábulas e lendas nutrem e enriquecem a realidade. A semelhança se faz presente também na linguagem oralizada e poética nos dois fragmentos seguintes. Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo,” e em“ Leito dele era o puro chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar.” “1
O léxico utilizado por Mia Couto apropria-se das regras gramaticais do português para formar novas unidades lexicais, reproduzindo ao mesmo tempo a realidade linguística moçambicana. No desfecho do texto, o autor faz uma crítica poética à guerra. Veja. “Mas havia na voz do velho uma emoção tão funda, parecia estar ali a consumação de todos seus sonhos. Chamou minha mãe e, tocando sua barriga redonda como lua cheia, disse: — Esta criança há de ser chamada de Vinticinco de Junho.” O velho dá nome ao filho que vai nascer com a data da Independência de Moçambique. Principais obras do autor: Poesia – Raiz de orvalho (1983); Tradutor de chuvas (2001) Conto – Vozes anoitecidas (1986); Cada homem é uma raça, Estórias abensonhadas (1994); Contos do nascer da terra (1997); Na berma de nenhuma estrada (1999); O fio das missangas (2003). Romance Terra Sonâmbula, 1992, A Varanda do frangipani (1996); Mar que me quer (1998); Vinte e Zinco (1999) O Último Voo do Flamingo (2000); O Gato e o Escuro, (2001); Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2002); A chuva pasmada (2004) entre outros. 695
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O tempo em que o mundo tinha nossa idade
Português
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Pepetela Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos é um dos maiores nomes da literatura angolana. Mais conhecido como Pepetela, nasceu no dia 29 de outubro de 1941, na região litorânea de Benguela. Pepetela é considerado um escritor singular no trabalho de desconstrução discursiva, pela reinvenção de uma estratégia que consiste em articular a sua ficção com as transformações da História e da sociedade angolana. Sua obra está ligada à independência de Angola, finalizada após 40 anos de Guerra Civil. O primeiro romance do autor foi Mayombe, escrito durante os conflitos do seu país e retrata as vidas e os pensamentos, como também o cotidiano de um grupo de guerrilheiros durante a guerra de libertação. “É a escrita mestiça de um dos maiores nomes da literatura africana, de um dos melhores criadores de expressão portuguesa. Uma escrita grande na beleza estética, imensa no sentido comunicacional, cuidada na forma rigorosa, contida, e libertadora numa sempre renovada proposta ativa de fazer do pensamento, hoje, a arma principal contra todas as moléstias sociais, políticas e culturais. Guerrilheiro que foi, Pepetela sabe definir os tempos e as circunstâncias. Por isso mesmo, guerrilheiro continua, guerrilheiro, todavia, que usa as palavras para um combate que tem de travar-se nos campos do conhecimento e da reflexão.” In: Maria Augusta Silva, Diário de Notícias.
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Mayombe foi escrito durante a participação do escritor angolano Artur Carlos (Pepetela) na guerra de libertação de Angola na década de 70. O romance, inovador, aborda os sentimentos e as reflexões do grupo, as ações, as contradições e os conflitos que penetravam nas relações daqueles que queriam construir uma Angola livre da colonização. A obra é uma reflexão que discute os ideais socialistas, sobre a dura realidade da sociedade angolana, sobre as perspectivas do movimento de libertação e da população local em relação aos princípios conflitantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Publicado em 2009, o livro O Planalto e a Estepe é uma das obras mais expressivas da literatura africana de língua portuguesa contemporânea. Nessa obra, Pepetela aborda questões políticas e sociais, tendo como bússola o racismo. O retrato das tensões ideológicas na constituição das lutas pelo socialismo, aliado a uma reflexão profunda e sensível sobre as desilusões partidárias e os limites das ideias frente às práticas, mostram a relevância do romance. A obra O planalto e a estepe conta uma história de amor. Um amor vivido em sua plenitude no tempo curto, mas que permeia 35 anos da vida do protagonista. É no intervalo da vivência desse amor que a história acontece. Uma narrativa melancolicamente envolvente: a história do amor impossível entre Júlio e Sarangerel, dos anos 60 à atualidade. Júlio representa o planalto característico da paisagem de sua Angola, o Sul de sua vida; Sarangerel é a própria estepe, que desenha e pinta o cenário da Mongólia. A paisagem descrita na narrativa envolve Júlio e Sarangerel em seu íntimo e a experiência do exílio, que certamente provoca uma cicatriz dolorida e incurável entre o sujeito e seu lugar natal.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Nasci no meio dos rochedos [...] Acordava com o sol, levava o gado para o pasto, me lavava rapidamente e corria depois para escola, a quase uma hora de marcha. Não cansava, distraía. No fim das aulas, os bois estavam à minha espera onde os tinha deixado, de barriga cheia, pois o capim era farto. Ao entardecer, havia que os pôr no cercado feito de paus cruzados e arbustos. [...] Mas antes de guardar o gado, tinha tempo para brincar. A Olga era uma menina muito agarrada à casa e os meus irmãos eram pequenos. Preferi ir brincar com os miúdos das redondezas, que moravam nas cubatas dispersas ao lado de hortas. Eles não iam à escola, mas sabiam muitas coisas para me ensinar. Eu também a eles. Caçávamos com chifutas de borracha, mergulhávamos na lagoa azul perto da estrada, contávamos estórias, ríamos, formávamos um bando unido. Os pais dos meus amigos trabalhavam na cidade, geralmente como criados nas casas dos brancos, ou nas chitacas maiores, também dos brancos. As mães ficavam nas cubatas a tomar conta das crianças e a tratar da chitaca, normalmente muito pequena pela falta de braços, produzindo apenas milho, legumes e frutas para a família. [...] Só em dias de festa grande comiam carne. De boi muito raramente, de cabrito mais frequentemente. Vinha gente de todos os lados para comer a carne de boi nas festas grandes, casamento ou óbito. Dois do meu bando eram filhos de Kanina, João e Job, mas ele tinha outros, ou muito grandes ou pequenos de mais. Nunca reparei na cor da pele deles, quente como a minha. O valor da pele é o seu calor. No entanto, a Olga, sempre atenta aos meus passos, um dia me chamou a atenção para as diferenças: − Devias brincar com os teus colegas e não com esses. − Por quê? − Porque eles são pretos e nós brancos. − E então? − Os pais não acham bem. Os meus pais não tinha dito nada, nem mesmo com os olhos. Mandaram a Olga dizer? Ou foi só da boca dela? A Olga tinha a mania de irmã mais velha, sabem como é. Matia-se na vida dos mais novos. Continuei porém a brinca com meus amigos. À volta de casa não tinha outros. Mas não gostava deles por isso. Gostava por serem meus amigos verdadeiros, me lembro deles quando era muito pequeno e crecemos juntos. Tinha outros amigos, companheiros de escola. Brancos, quase todos. Um ou outro metiço. Não me lembro de nenum negro na escola. Mas devia haver, pois se dizia que Salazar construiu uma Angola multirracial. Bem, nessa altura, nem percebia idiais nem palavras tão complicadas. O certo é ter os amigos das redondezas, com eles
jogava futebol e caçava sardões ou passaros e apanhava fruta. Só hoje sou capaz de reparar terem cores diferentes dos outros da escola. Na época, éramos todos iguais, julgava eu. Não éramos afinal, havia racismo. Olga era racista, desde pequna dizia, não gosto nada de negros. Devia ter ouvido os colonos vezes sem conta com afirmações desse gênero e aprendeu a frase. Acho, começou a repetir como um papagaio antes de a perceber. Eu só mais tarde percebi. Não gostei. Mal sabia eu! O racismo havia me perseguido a vida inteira, como vos explicarei. [...] PEPETELA. O planalto e a estepe. São Paulo: Leya, 2009.p.9-13 ( fragmento)
Podemos perceber pela leitura do fragmento que o angolano Júlio, o narrador da história, relembra sua infância. Nos três primeiros parágrafos, o protagonista parece lembrar de sua infância com saudade, com alegria e carinho. Dos episódios que ele rememora fica a sensação de leveza das brincadeiras de infância, da amizade sincera entre ele e seus amigos, da inocência e da meninice. Ao se referir aos amigos, Júlio revela, aos poucos, as diferenças existentes entre eles e “os miudos das redondezas” com quem brincava, porém, essas diferenças não eram notadas, a princípio, pelo protagonista, porque na infância essas diferenças não eram importantes. “Só hoje sou capaz de reparar terem cores diferentes dos outros da escola. Na época, éramos todos iguais, julgava eu”. No fragmento abaixo, podemos constatar, por meio da rememoração de Júlio, a ausência da diversidade racial no colégio em que ele estudava. O trecho retrata a herança da colonização portuguesa em países africanos. O trecho revela um quadro terrível herdado pelos anos de submissão de Angola aos colonizadores portugueses: a população negra foi destituída de seus direitos fundamentais, entre os quais a educação. “Tinha outros amigos, companheiros de escola. Brancos, quase todos. Um ou outro mestiço. Não me lembro de nenhum negro na escola. Mas devia haver...” Mas Olga, a irmã mais velha de Júlio, chama à atenção para uma grave questão africana: o racismo. A menina, nesse trecho, representa a voz daqueles que reproduzem o discurso segregacionista, reforçando o preconceito em países colonizados, como foi o caso de Angola. “No entanto, a Olga, sempre atenta aos meus passos, um dia me chamou a atenção para as diferenças: − Devias brincar com os teus colegas e não com esses. − Por quê? − Porque eles são pretos e nós brancos. − E então? − Os pais não acham bem.” 697
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Os rochedos da Tundavala
Português
O protagonista torna-se um revolucionário que luta pela libertação de Angola e de seu povo. Júlio acreditava na igualdade entre as pessoas, discordava da postura racista da irmã mais velha e deixa subentendida a crítica ao governo de Salazar, e isso são indícios dos ideais revolucuinários que o guiarão às ações futuras. “Gostava por serem meus amigos verdadeiros, .... [...]O certo é ter os amigos das redondezas...” Obras do autor − As aventuras de Ngunga (1973), Muana Puó (1978), A revolta da casa dos Ídolos (1979), Mayombe (1980), Yaka (1985), O cão e os calús (1985), Lueji (1989), Luandando (1990), A geração da utopia (1992), O desejo da Kianda (1995), Parábola do cágado velho (1996); A gloriosa família (1997); A montanha da água lilás (2000), Jaime Bunda, agente secreto (2001), O planalto e a estepe (2009). Exercícios de Fixação
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Noutico, tado finito grais, maior :
01. (PUC RS) Leia o trecho abaixo e o comentário crítico sobre a obra do qual ele foi extraído, preenchendo as lacunas com o nome do autor e o título das obras. “Então, a Península Ibérica moveu-se um pouco mais, um metro, dois metros, a experimentar as forças. As cordas a que serviam de testemunhos, lançadas de bordo a bordo, tal qual os bombeiros fazem nas paredes que apresentam rachas e ameaçam desabar, rebentaram como simples cordéis, algumas mais sólidas arrancaram pela raiz as árvores e os postes a que estavam atadas. Houve depois uma pausa, sentiu-se passar nos ares um grande sopro, como a primeira respiração profunda de quem acorda, e a massa de pedra e terra, coberta de cidades, aldeias, rios, bosques e fábricas, matos bravios, campos cultivados, com a sua gente e os seus animais, começou a mover-se, barca que se afasta do porto e aponta ao mar outra vez desconhecido.” “Mas a ideologia e as preocupações humanitárias de _________ revelam-se, sobretudo, e numa primeira fase, ou ciclo de produção romanesca, a partir das revisitações que faz do passado histórico português. Revisitações de amplitude e de jaez diverso, como facilmente se constata a partir da leitura de romances como _________ e _________.” (Adaptado de texto de autoria de Ana Paula Arnaut)
A alternativa que completa corretamente as lacunas da análise de Ana Paula Arnaut é: a) Mia Couto – O último voo do flamingo – Os memoráveis b) José Saramago – A jangada de pedra – O ano da morte de Ricardo Reis c) Gil Vicente – Os Lusíadas – Auto da barca do inferno d) Mia Couto – Terra sonâmbula – A viagem do elefante e) José Saramago – As naus – A costa dos murmúrios 02. (Unitau SP) “Regressei à minha velha casa, e ali, sob a sombra do tamarindo, me deixei afogar em lembranças. [...] O tamarindo mais sua sombra: aquilo era feito para abraçar
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saudades. Minha infância fazia ninho nessa árvore. [...] E via os flamingos, setas rapidando-se furtivas pelos céus. Meu pai sentava em baixo, na curva das raízes, e apontava os pássaros” (COUTO, 2005, p. 159). “Agora, sob a grande sombra do tamarindo, eu fechei os olhos e convoquei saudades. Me apareceu o quê? Um pátio, mas que não era aquele. Porque nesse terreiro havia uma criança. Nas mãos desse menino, minha lembrança tocava umas tristezas, coisitas tiradas num lixo. Artes da meninice era fazer dessas coisas um brinquedo. Apetrechos de mago, ele convertia o cosmos num jogo de desmontar. E era qual esse brinquedo? Isso, em meu sonho, eu não conseguia distinguir. Apenas me surgia a enevoada memória da criança escondendo o brinquedo entre as raízes do tamarindo (COUTO, 2005, p. 162). Quanto aos fragmentos acima, de O último voo do flamingo, obra de Mia Couto, pode-se dizer que a) o narrador emprega linguagem descuidada, caracterizada pela oralidade. b) o narrador, incoerentemente, atenta contra os preceitos da gramática normativa. c) o narrador não se caracteriza por dominar os recursos da língua. d) a modalidade de linguagem empregada é a regionalista. e) a modalidade de linguagem empregada é a prosa poética. 03. (PUC Campinas SP) Passadas tantas décadas, estamos de novo preocupados com a modernidade de 22. Os fragmentos futuristas de Miramar e a rapsódia de Macunaíma são apontados sempre como altos modelos de vanguarda literária. Mas e o que veio depois? Nas melhores obras de autores como Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, já se desfaz aquela mistura ideológica e datada de mitologia e
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 04. Narrador observador / onisciente / em 3ª pessoa. Derivação sufixal / sufixação. Morfema: -eco.
tecnicismo que o movimento de 22 começou a propor e algu-
Considerando os diferentes tipos de narrador, classifique o do
mas vanguardas de 60 repetiram, até virarem em esquema e norma. Saber descobrir o sentido ora especular, ora resistente
romance de José Saramago. Em seguida, indique o processo de
dessa literatura moderna sem modernismo é uma das tarefas prioritárias da crítica brasileira.
vel pela avaliação depreciativa que se faz do ladrão.
Dos autores modernos citados no texto, caracteriza-se a produção de a) Guimarães Rosa pela acuidade que mostra este prosador ao recuperar os modelos do nosso regionalismo tradicional. b) Clarice Lispector pela ousadia da forma romanesca, apoiada sobretudo no imediatismo da linguagem jornalística. c) Dalton Trevisan pela composição sintética de contos em que repontam as precariedades da vida de seres marginalizados. d) João Cabral de Melo Neto pela obsessão que demonstra na exposição da subjetividade e do lirismo de suas criaturas. e) Ariano Suassuna pelo rigor da forma poética experimental a que subordinou suas peças de teatro de vanguarda. 04. (Uerj RJ) Leia o texto Ao oferecer-se para ajudar o cego, o homem que depois rou-
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bou o carro não tinha em mira, nesse 2 momento preciso, qualquer intenção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez não foi mais que 3 obedecer àqueles sentimentos de generosidade e altruísmo que são, como toda a gente sabe, duas 4 das melhores características do género humano, podendo ser encontradas até em criminosos bem 5 mais empedernidos do que este, simples ladrãozeco de automóveis sem esperança de avanço na 6
carreira, explorado pelos verdadeiros donos do negócio, que
esses é que se vão aproveitando das 7 necessidades de quem é pobre. (...) Foi só quando já estava perto da casa do cego que a ideia se 8 lhe apresentou com toda a naturalidade (...). Os cépticos acerca da natureza humana, que são muitos 9 e teimosos, vêm sustentando que se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também é
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05. (UFU MG) [Siqueleto] encara os prisioneiros com um só olho enquanto fala na língua local. Tuahir traduz: – Ele diz que nos vai semear. – Semear? [...] Muidinga, então, se excede. Grita. O velho aldeão se atenta para escutar, através da tradução de Tuahir. [...] Mas o desdentado aldeão já anoitecera, queixo no peito. Seu mundo já era esse que Tuahir anunciara, de extensos sossegos. O próprio Muidinga está como se encantado com as palavras de Tuahir. Não é a estória que o fascina mas a alma que está nela. E ao ouvir os sonhos de Tuahir, com os ruídos da guerra por trás, ele vai pensando: “não inventaram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de explodir os homens sem lhes matar. [...] Por um buraco da rede Muidinga consegue retirar um braço. Apanha um pau e escreve no chão. – Que desenhos são esses?, pergunta Siqueleto. – É o teu nome, responde Tuahir. – Esse é o meu nome? O velho desdentado se levanta e roda em volta da palavra. Está arregalado. [...] Solta Tuahir e Muidinga das redes. São conduzidos pelo mato, para lá do longe. Então, frente a uma grande árvore, Siqueleto ordena algo que o jovem não entende. – Está a mandar que escrevas o nome dele. [...] No tronco Muidinga grava letra por letra o nome do velho. Ele queria aquela árvore para parteira de outros Siqueletos, em fecundação de si. [...] – Agora podem-se ir embora. A aldeia vai continuar, já meu nome está no sangue da árvore.
certo que o ajuda muito. Quanto a
COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p.63-67. (Adaptado).
nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado segundo oferecimento do afinal falso samaritano, naque-
Terra sonâmbula trata da guerra civil em Moçambique pós-in-
le derradeiro instante em que a bondade 12 ainda poderia ter
dependência. O autor tece uma escrita em que ocorre a todo
prevalecido, referimo-nos o oferecimento de lhe ficar a fazer
o momento o contato do antigo com o novo, das gerações an-
companhia enquanto a mulher não chegasse, quem sabe se o
tigas com as novas. Por meio desses contatos, com a finalidade
efeito da responsabilidade moral resultante da confiança 14 as-
de que a nação sobreviva, compreende-se que a obra propõe
sim outorgada não teria inibido a tentação criminosa e feito vir
a) um conhecimento ancestral sobreposto ao costume moderno.
nobre sempre será possível
b) uma relação de interdependência entre a geração antiga
o
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ao de cima o que de luminoso e
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encontrar mesmo nas almas mais perdidas.
e a nova.
JOSÉ SARAMAGO Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
c) uma unificação por meio da língua para a harmonia entre
O narrador de Ensaio sobre a cegueira emite uma opinião sobre o
d) uma condescendência das novas gerações para com as
homem que roubou o carro ao chamá-lo de ladrãozeco (Refs. 5).
as gerações. antigas gerações.
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(Adaptado de: BOSI, Alfredo. “Moderno e modernista na literatura brasileira”. In: Céu, inferno. São Paulo: Ática, 1988, p. 126)
formação da palavra ladrãozeco e aponte o morfema responsá-
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Exercícios Complementares 01. (UFPR) Ensaio sobre a cegueira
B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
E então o Congresso saltitou de alegria porque aprovou que nos próximos dez anos 10% do Produto Interno Bruto - PIB serão destinados para a Educação. E então os governadores e prefeitos trombetearam de satisfação porque o Congresso deixou para posterior regulamentação as formas de garantir a aplicação adequada desses recursos e a responsabilização de quem não cumprir. E então os empresários serpentearam de júbilo porque as verbas não são, assim, propriamente para a educação pública. E então o governo federal ululou de felicidade porque a medida é um resgate histórico de lutas pela melhoria da educação e com recursos ninguém segura esse país e esse é um país que vai pra frente e quem não gostar, ora, deixe-o. E então as empresas de informática e de outras parafernálias de última geração para garantir ensino como nunca se viu nesse país deliciaram-se com o êxito da medida que gerará empregos e revolucionará para sempre a educação pátria. E então muitos professores sapatearam frevos, polcas e mazurcas porque agora terão computadores e tablets, quadros digitais e outras ferramentas tecnológicas a aí sim, a educação vai deslanchar. E então muitos pais exultaram emocionados e eufóricos porque agora as crianças receberão uniforme escolar e materiais diversos e enfim poderão aprender e tornarem-se cidadãos melhores e mais preparados. E então muitos alunos festejaram e fizeram chacrinhas e chistes uns com os outros porque agora terão aulas em tempo integral, com muitas atividades de informática e outras atividades lúdicas e jogos e não precisarão mais ficar em casa sem fazer nada. E então disse o mestre Saramago: “Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos, que, vendo, não veem”. Daniel de Medeiros, 18/06/2014, http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-no-dia-a-dia/
José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, é conhecido por subverter o uso da pontuação. É possível observar isso na citação feita no último parágrafo, retirada do livro Ensaio sobre a Cegueira. Se reescrevêssemos o trecho usando as normas canônicas de pontuação, teríamos que utilizar outros sinais, além daqueles usados pelo escritor. Sem alterar a sintaxe do texto, que sinal poderia ser dispensado nessa reescrita? a) Ponto final. b) Ponto e vírgula. c) Travessão. d) Ponto de interrogação. e) Ponto de exclamação.
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Texto comum às questões 03 e 04 Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança. A casa, aquela casa nossa, era morada mais da noite que do dia. Estranho, dirão. Noite e dia não são metades, folha e verso? Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual? Explico. Bastava que a voz de minha mãe em canto se escutasse para que, no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira. E nós éramos meninos para sempre. Certa vez, porém, de nossa mãe escutámos o pranto. Era um choro delgadinho, um fio de água, um chilrear de morcego. Mão em mão, ficámos à porta do quarto dela. Nossos olhos boquiabertos. Ela só suspirou: — Vosso pai já não é meu. (COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 25.)
02. (PUC GO) O texto de Mia Couto associa elementos narrativos a elementos líricos. Figurativizações estão presentes do início ao fim do texto e muitas delas se opõem entre si, formando antíteses. Pensando nisso, assinale a alternativa que interpreta corretamente a oposição construída: a) folha e verso revelam as lembranças mais importante e menos importantes do enunciador. b) peixes e aves remetem às brincadeiras próprias da infância do poeta-narrador. c) noite e dia simbolizam respectivamente a tristeza e a alegria do narrador-poeta. d) canto e pranto representam as experiências líricas e dramáticas do enunciador. 03. (PUC GO) Assinale a alternativa correta, com base no fragmento da narrativa de Mia Couto: a) Narra o estado de consciência do filho, indiferente ao fato de descobrir que o pai estava morto, como, aliás, é comum nos dias atuais, em se tratando da juventude, com seus novos valores. b) Narra o estado de consciência do filho, profundamente angustiado, ao ver materializada a ação do tempo, no desespero quase silencioso de sua mãe, tomada da sensação mais profunda de perda e saudade, ao apresentar aos filhos o pai morto. c) Apresenta um episódio familiar carregado de espanto e fantasia, diante do desaparecimento do pai, misturando dia, noite, claro, escuro, nuvem, lembrança, chuva.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (UESPI) O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan, foi publicado em 1965 e, desde então, consagrou o seu autor como um dos grandes escritores brasileiros da segunda metade do século passado. Ainda sobre essa obra consagradora, podemos afirmar: a) o protagonista principal — Nelsinho — só se interessa por adolescentes e jovens do sexo masculino. b) a obra é constituída de vários contos que, em sua maioria, é narrado na 3ª pessoa. c) Todos os contos se passam na cidade de Curitiba, particularmente nos seus subúrbios. d) Os contos são ordenados em ordem cronológica, de modo que podemos acompanhar a passagem dos anos do protagonista. e) Os contos se valem de uma linguagem erudita e de um vocabulário castiço. 05. (Uerj RJ) Leia o texto 1 (...) Minutos depois, já sozinhos, o médico foi sentar-se ao lado da mulher, o rapazinho estrábico 2 dormitava num canto do sofá, o cão das lágrimas, deitado, com o focinho sobre as patas 3 dianteiras, abria e fechava os olhos de vez em quando para mostrar que continuava vigilante, pela 4 janela aberta, apesar da altura a que estava o andar, entrava o rumor das vozes alteradas, as ruas 5 deviam estar cheias de gente, a multidão a gritar uma só palavra, Vejo, diziam-na os que já tinham 6 recuperado a vista, diziam-na os que de repente a recuperavam, Vejo, vejo, em verdade começa 7 a parecer uma história doutro mundo aquela em que se disse, Estou cego. (...) Por que foi que 8 cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, 9 Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, 10 não veem. 11 A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para 12 as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, 13 Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava. JOSÉ SARAMAGO. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. (epígrafe do livro) Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem. (Refs. 9-10) Os fragmentos acima sintetizam a temática do romance de José Saramago. A epígrafe apresenta uma recomendação por meio de uma gradação de verbos com sentidos relacionados à visão. Nessa gradação, o verbo reparar assume duplo sentido. Aponte esses dois sentidos. Em seguida, reescreva o trecho Cegos que, vendo, não veem, substituindo apenas a oração
reduzida por uma oração desenvolvida em que o conectivo empregado explicite o paradoxo presente na fala do médico.
06. (Unioeste PR) Com base no fragmento abaixo, extraído do conto Penélope, de Dalton Trevisan, assinale a alternativa INCORRETA. “Penélope havia concluído a obra, era a própria mortalha que tecia – o marido em casa. [...] Era sábado, recordou-se. Pessoa alguma tinha o poder de fazer-lhe mal. A mulher pagara pelo crime. Ou – de repente o alarido no peito – acaso inocente? A carta jogada sob outras portas... Por engano na sua.” a) A concisão e a economia linguística, marcas do estilo daltoniano, se fazem presentes no fragmento. b) A frase – “A mulher pagara pelo crime” – evidencia a fala do narrador. c) A frase – “Ou [...] acaso inocente?”– é marcada pelo discurso indireto-livre. d) Ao contrário dos contos de Dalton Trevisan em geral, neste, há um evidente conflito na relação entre irmãos. e) No conto aludido, a esposa se mata assim que termina de tecer a toalhinha de tricô. 07. (PUC RS) Leia o excerto do romance Intermitências da Morte, de José Saramago, e analise as afirmativas. No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar. I. A partir de uma situação fantástica, a inexistência de mortes é vista como um fato inquietante. II. Conforme o texto, podemos inferir que adoentados em estado grave foram salvos da morte, libertando-se de seu sofrimento. III. O estilo do autor é marcado pela oscilação entre a narrativa de um fato e o comentário dissertativo sobre ele. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são, apenas, a) I. b) II. c) III. d) I e III. e) II e III.
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B20 Prosa Contemporânea brasileira e portuguesa − Dalton Trevisan, Saramago, Mia Couto e Pepetela
d) Apresenta um episódio familiar cheio de espanto e mistério, misturando dia, noite, claro, escuro, nuvem, lembrança, chuva, diante do desespero de uma mãe que ao dizer: “Vosso pai já não é meu”, não esclarece se ele sumiu ou morreu.
Questão 05. Sentidos: observar atentamente; consertar. Uma das reescrituras: • Cegos que, apesar de verem, não veem. • Cegos que, embora vejam, não veem.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (UFRGS) Leia o poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto. O sertanejo falando
“Eu queria usar palavras de ave para escrever.
A fala a nível do sertanejo engana:
Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.
as palavras dele vêm, como rebuçadas
Ali a gente brincava de brincar com palavras
(palavras confeito, pílula), na glace de uma entonação lisa, de adocicada.
tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!
Enquanto que sob ela, dura e endurece o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
A Mãe que ouvira a brincadeira falou:
dessa árvore pedrenta (o sertanejo) incapaz de não se expressar em pedra.
Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis
Já vem você com suas visões! e nem há pedras de sacristias por aqui. Isso é traquinagem da sua imaginação.
2 Daí por que o sertanejo fala pouco: as palavras de pedra ulceram a boca e no idioma pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força. Daí também por que ele fala devagar: tem de pegar as palavras com cuidado, confeitá-las na língua, rebuçá-las; pois toma tempo todo esse trabalho. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o poema. ( ) O eu-lírico do poema é o próprio sertanejo que reflete sobre sua forma de falar. ( ) A ideia dos quatro primeiros versos da primeira estrofe é retomada nos quatro últimos da segunda; neles é descrita a melodia aparentemente doce da fala do sertanejo. ( ) Os quatro últimos versos da primeira estrofe estão relacionados aos quatro primeiros da segunda; neles é descrita a essência rude do falar sertanejo. ( ) O sertanejo falando opõe-se aos demais poemas de A educação pela pedra; nele João Cabral de Melo Neto apresenta um rigor formal, uma preocupação com a estrutura do poema, ausente no restante do livro. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V – V – V – F. b) F – V – F – V. c) V – F – V – V. d) F – F – F – V. e) F – V – V – F.
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02. (Unemat MT)
O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes. O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de ver [...] O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias para a gente bem entender a voz das águas e dos caracóis. A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias. Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia”. (BARROS, Manoel de. Menino do Mato).
Nos trechos “O Pai achava que a gente queria desver o mundo/para encontrar nas palavras novas coisas de ver / Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia”, Manoel de Barros indica uma característica literária peculiar, identificada em Menino do Mato. Assinale a alternativa que vem ao encontro dessa característica: a) A visão do adulto prevalece à infantil, tendo em vista que a criança desconstrói o mundo imaginário criado. b) A ausência de visão infantil pelo contexto voltado ao culto da natureza. c) O ato de construção do mundo, a partir da visão do adulto; por isso, o predomínio do realismo mágico, típico da obra de Manoel de Barros. d) O ato de desaprender pela desconstrução do sentido normal das coisas, guiados pela visão da criança. e) A desconstrução da linguagem pelo desprezo ao neologismo e adoção do regionalismo.
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03. (PUC Campinas SP) Num dos festivais da música popular brasileira, a canção “Disparada”, de Geraldo Vandré, obteve grande repercussão e fez história. Entre seus versos estão estes:
São versos que, nos anos subsequentes a 1964, a) assinalam uma atitude de protesto e de engajamento político da arte popular. b) propõem a evasão como reação às intransigências do regime político. c) inauguram uma nova fase da pesquisa folclórica no cancioneiro popular. d) constituem um chamado ao bucolismo e à simplicidade da vida rural. e) convocam o ouvinte a trilhar o caminho do liberalismo econômico. 04. (Fac. São Francisco de Barreiras BA) Não há vagas O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás luz e telefone [...] O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras – porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas” Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço
GULLAR, Ferreira. Não há vagas. Disponível em:<http://oficinadoescritor.blogspot.com.br/ 2012/11/ poema-nao-ha-vagas.html>. Acesso em: 12 nov. 2016.
O sujeito poético constrói o poema, em tom de contestação, dizendo o que não é oportuno para a poesia, como as questões do dia a dia, levando o interlocutor a: a) refletir, por meio do uso do verbo “caber”, sobre o que, de fato, não deve ser tema poético, ou seja, o assunto a ser tratado na poesia, cujo objetivo nada tem a ver com os problemas do cotidiano. b) rejeitar a abordagem de situações que permeiem as relações comerciais e políticas, pois são desgastantes, não havendo razão, portanto, fazer parte desse gênero literário. c) entender a justificativa dada para os dois agentes sociais, que também não cabem no poema – o funcionário público e o operário – já que um, com seu “salário de fome”, tem a “vida fechada / em arquivos”, e o outro, mesmo com um trabalho indispensável à sociedade, fica na sombra, ou seja, invisível socialmente. d) reconhecer o teor contido no título e no corpo do texto, que defendem o que a arte poética deve conter: o “homem sem estômago”, em outras palavras, sem dificuldades com a sua subsistência, a “mulher de nuvens”, isto é, idealizada, objeto de abstração, e a “fruta sem preço”, a que é admirada, desejada até. e) verificar que, valendo-se da metalinguagem, o locutor discorre sobre o próprio fazer poético, a sua poética, que ironiza os que ficaram indiferentes às questões sociais, e também sobre a função da poesia. 05. (Unifor CE) Poema brasileiro No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
(...) gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente. Se você não concordar não posso me desculpar, não canto pra enganar, vou pegar minha viola, vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar,
O poema, senhores, não fede nem cheira
No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade
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Português
Questão 08. a) A revelação consiste no fato de a personagem Júlia ter saído de casa e Saíde continua a agir, perante a população, como se ela ainda morasse com ele. É no desfecho que a verdade é revelada, quando Saíde simula uma discussão com Júlia e finge agredi-la até que um vizinho entra na casa e descobre que tudo não passa de uma mentira de Saíde. Ao mesmo tempo, o leitor descobre que Júlia havia partido, fato ocultado ao longo da narrativa. b) Saíde esconde da população que, na impossibilidade de ter filhos, aceita ser pai de uma criança de outro com o intuito de preservar sua imagem de homem viril diante da comunidade. Admitir diante da população a partida da mulher significaria assumir fraquezas e, mais uma vez, decide esconder a verdade e preservar sua imagem.
antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade Ferreira Gullar. Dentro da noite veloz, 1975.
O poema acima consta de uma única frase, repetida algumas
c) predominância de frases afirmativas (primeiro poema) e de frases negativas (segundo poema). d) emprego de advérbios de negação (primeiro poema) e de advérbios de tempo (segundo poema). 07. (Unirg TO) Fotografia da residência onde viveu a escritora Cora Coralina
vezes em diferentes estruturas de versos. Essa estratégia se deve à: a) busca pela relevância das informações que o poeta quer privilegiar. b) referência à falta de educação formal das crianças do Piauí. c) mostra do descaso dos órgãos públicos para com as crianças do Nordeste. d) tentativa de chamar atenção para o número de crianças que morrem no Piauí. e) necessidade de destaque dos desequilíbrios regionais existentes no Brasil.
E nunca realizei nada na vida. Sempre a inferioridade me tolheu. E foi assim, sem luta, que acomodei na mediocridade de meu destino. CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e histórias mais. Goiânia: UFG, 1980. p. 157.
sembargador, um importante cargo na hierarquia do sistema vância social de seu proprietário? a) As telhas de barro. b) A edificação em pau a pique. c) A localização junto a uma ponte. d) A imponência sugerida pelo número de janelas. 08. (UEL PR) Leia os trechos a seguir, retirados do conto Saíde, o Lata de Água, de Mia Couto. Entrou em casa e fechou a porta. A mão ficou no trinco, distraí-
Não te deixes destruir...
da, enquanto ele passeava os olhos naquele vazio. Lembrou-se
Ajuntando novas pedras
dos tempos em que a encontrou: foram bonitos os dias de
e construindo novos poemas.
Júlia Timane! (p.88)
Recria tua vida, sempre, sempre, sempre.
Sentiu a força do vento na porta e acordou da lembrança. Sem-
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
pre que se recordava trabalhavam facas dentro da alma. Estava
Faz de tua vida mesquinha
proibido de ir ao passado. E tudo por causa de Júlia, raio de
um poema.
mulher. Fechou a porta com a decisão da fúria. CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha Goiânia: UFG, 1985. p. 139.
A poética de Cora Coralina é acentuadamente autobiográfica. Nestes dois fragmentos, ao falar de certos contornos de sua
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
A casa de Cora Coralina foi residência de seu pai, que era dejudiciário nacional. Que aspecto da figura da casa sugere a rele-
06. (Unievangéica GO) Leia os textos a seguir.
própria vida, a escritora apresenta a si mesma de forma contraditória, ora marcada por resignação (primeiro poema), ora marcada pelo desafio (segundo poema).
(p.90) (COUTO, M. Saíde, o Lata de Água. In. Vozes anoitecidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.)
Esses dois fragmentos abrem e fecham uma parte do conto que corresponde à rememoração do protagonista Saíde. Neste instante de rememoração, são narrados fatos que dizem respeito a segredos guardados pelo protagonista. Após esse momento, na etapa do conto que caminha para o desfecho, ocorre uma
Essa contradição pode ser identificada a partir dos seguintes
revelação.
recursos linguísticos:
Com base nesses fragmentos e nessa afirmação, responda aos
a) presença de períodos simples (primeiro poema) e de perío-
itens a seguir.
dos compostos por subordinação (segundo poema). b) uso da 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito (primeiro poema) e da 2ª pessoa do singular do imperativo (segundo poema). 704
Disponível em: <www.eravirtual.org>. Acesso em: 28 maio. 2013.
a) Qual é a revelação feita a um personagem e ao leitor no final do conto? b) Por que o protagonista mantém uma versão falsa em segredo perante a população?
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
a) ao inverter o sentido do ditado popular nesse conto, Mia Couto está radicalmente fazendo uma ruptura com uma tradição popular que não é de origem africana e sim cristã. b) o uso do procedimento da intertextualidade nessa narrativa vem colocar Mia Couto como um escritor que radicaliza a forma tradicional da escrita do gênero conto. c) é possível vislumbrar nesse conto dois tipos de visão, uma mais realista e a outra mais inventiva. A primeira se caracteriza pelo relato de uma realidade mais crua e dura, tal qual seria a descrição do mundo em que as personagens viviam, um mundo de miséria, de guerra e, para Estrelinho um mundo de escuridão, de cegueira. A outra visão, responsável pelo mundo inventado por Gigito, seria caracterizado pela representação de um mundo ideal, um mundo que poderia existir se não houvesse guerra. d) No conto, o significado da inversão de sentido do ditado popular “Ver para crer” em “via para não crer” se refere ao ato do personagem Estrelinho fingir acreditar na descrição do mundo de fantasias que Gigito lhe contava. e) Mia Couto traz uma crítica negativa a um mundo que “foge da realidade”, pois para ele é necessário viver a vida tal como ela é, viver no mundo como ele está, (mesmo sendo este mundo cheio de miséria e falta), para que o homem não se iluda por um mundo de fantasias que o tiram de sua verdadeira vida. 10. (PUC GO) Leia o texto a seguir. Vendo passar o cortejo fúnebre, o menino falou:
Que valia ser criança se lhe faltava a infância? Este mundo não estava para meninices. Porque nos fazem com esta idade, tão pequenos, se a vida aparece sempre adiada para outras idades, outras vidas? Deviam-nos fazer já graúdos, ensinados a sonhar com conta medida. Mesmo o pai passava a vida louvando a sua infância, seu tempo de maravilhas. Se foi para lhe roubar a fonte desse tempo, porque razão o deixaram beber dessa água? — Meu filho, você tem que gostar viver, Deus nos deu esse milagre. Faça de conta que é uma prenda, a vida. Mas ele não gostava dessa prenda. Não seria que Deus lhe podia dar outra, diferente? — Não diga disso, Deus lhe castiga. E a conversa não teve mais diálogo. Fechou-se sob ameaça de punição divina. O menino permanecia em desistência de tudo. Sem nenhum portanto nem consequência. Até que, certa vez, ele decidiu visitar seu avô. Certamente ele o escutaria com maiores paciências. — Avô, o que é preciso para se ser morto? — Necessita ficar nu como um búzio. — Mas eu tanta vez estou nuzinho. — Tem que ser leve como lua. — Mas eu já sou levinho como a ave penugenta. — Precisa mais: precisa ficar escuro na escuridão. — Mas eu sou tinto e retinto. Pretinho como sou, até de noite me indistinto do pirilampo avariado. Então, o avô lhe propôs o negócio. As leis do tempo fariam prever que ele fosse retirado primeiro da vida. [...] (COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 111-112. Adaptado.)
— Mãe: eu também quero ir em caixa daquelas.
No texto, extraído do livro de Mia Couto, lemos que (Assinale a
A alma da mãe, na mão do miúdo, estremeceu. O menino sen-
alternativa correta):
tiu esse arrepio, como descarga da alma na corrente do corpo.
a) Há um diálogo entre presente e futuro, novo e velho, sur-
A mãe puxou-o pelo braço, em repreensão.
preendendo não só a mãe da criança personagem, mas tam-
— Não fale nunca mais isso.
bém o próprio leitor que se vê mergulhado em uma reflexão
Um esticão enfatizava cada palavra.
profunda, embora a cena em pauta apresente um fato coti-
— Por quê, mãe? Eu só queria ir a enterrar como aquele falecido. — Viu? Já está a falar outra vez?
diano, aparentemente banal. b) Há tão somente uma intervenção inoportuna da criança que
Ele sentiu a angústia em sua mãe já vertida em lágrima. Calou-se,
coloca sua mãe em difícil situação, pois o momento era de
guardado em si. Ainda olhou o desfile com inveja. Ter alguém
consternação, e a criança acaba desrespeitando a seriedade
assim que chore por nós, quanto vale uma tristeza dessas?
do ritual fúnebre.
À noite, o pai foi visitá-lo na penumbra do quarto. O menino
c) Há tão somente uma tentativa de comunicação frustrada
suspeitou: nunca o pai lhe dirigira um pensamento. O homem
da criança com sua mãe, interrompida pelo pai que in-
avançou uma tosse solene, anunciando a seriedade do assunto.
tervém energicamente para não permitir que ela cultive
Que a mãe lhe informara sobre seus soturnos comentários no funeral. Que se passava, afinal?
medos e traumas. d) Há uma tentativa de diálogo na qual a criança procura apre-
— Eu não quero mais ser criança.
sentar à mãe e ao pai os seus medos e traumas, mas ambos
— Como assim?
não podem prestar atenção no que ele dizia porque se viram
— Quero envelhecer rápido, pai. Ficar mais velho que o senhor.
estremecidos diante do que consideraram uma premonição.
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FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
09. (Unemat MT) Diante de tal constatação, considera-se que
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FRENTE
C
PORTUGUÊS Por falar nisso Diferentemente dos animais, que possuem um tipo de linguagem limitada às suas necessidades básicas de alimentação e reprodução, sem que precisem articular palavras, é comum a todos os seres humanos a capacidade de linguagem por meio da fala. A comunicação entre os sujeitos é de finalidade social e cultural, e fundamental para o desenvolvimento de laços entre os seres humanos. É por intermédio da linguagem, seja ela verbal ou não verbal, que o ser humano consegue relacionar-se e desenvolver vocabulário para designar os objetos à sua volta e se expressar livremente. Com o passar do desenvolvimento histórico-social da humanidade, a evolução da linguagem diversificou-se e mesclou-se com outras línguas. A partir disso, a introdução de novos termos e expressões foram inseridos na fala. A literatura, por sua vez, obteve um papel importante nesse processo enquanto arte constituinte de um povo. A técnica, que utiliza o recurso linguístico denominada figuras de linguagem fez uso da língua como ferramenta que organiza e forma palavras com discursos repletos de frases conotativas- contrário dos vícios de linguagem, que representam o desvio das regras e padrões da norma culta por parte dos falantes. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
C17 C18 C19 C20
Vícios de linguagem ...................................................................... 708 Polissemia e ambiguidade ............................................................ 714 Tipologia descritiva ....................................................................... 719 Tipologia injuntiva......................................................................... 724
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C17
ASSUNTOS ABORDADOS n Vícios de linguagem n Barbarismo n Solecismo n Cacófato n Eco n Colisão n Hiato n Ambiguidade n Preciosismo e arcaísmo n Gerundismo n Pleonasmo
VÍCIOS DE LINGUAGEM Você já se perguntou por que, mesmo após um longo período de escolarização, as pessoas continuam cometendo certos equívocos em relação à norma-padrão da língua e à sua gramaticalidade? É muito comum que no cotidiano as pessoas em um contexto de distração, acabem cometendo tais desvios por eles se tornarem vícios. Segundo o dicionário Houaiss, vício é um “costume persistente de fazer algo; mania”. Nesse sentido, pode-se comparar vício a um hábito do qual o indivíduo dificilmente consegue se desfazer. Por isso, é importante que você, estudante, fique atento para evitar que vícios da linguagem oral se reproduzam nos textos formais da sua vida estudantil. Mas, o que são, de fato, os vícios de linguagem? Os vícios de linguagem são desvios gramaticais que ocorrem por descuido ou desconhecimento da norma culta da língua nos diferentes níveis linguísticos: fonético, semântico, sintático ou morfológico. Nesse módulo, estudaremos dez tipos de vícios de linguagem. São eles: n n n n n n n n n n
Barbarismo; Solecismo; Cacofonia; Eco Colisão Hiato; Ambiguidade; Preciosismo e arcaísmo; Gerundismo; Pleonasmo.
Barbarismo
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Trata-se de desvio da grafia ou da pronúncia de uma palavra à norma-padrão da língua, como também, problemas semânticos causados pela dificuldade de transmissão do conteúdo do enunciado. Veja os exemplos: Barbarismo de pronúncia n n
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pobrema (problema); prano (plano); programa (programa); rúbrica (rubrica); outrém (outrem); míster (mister).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
n
proesa (proeza); maizena (maisena); advinhar (adivinhar); seguimentos (segmentos).
Barbarismo morfológico n n
Quando eu pôr (puser) o vestido, minha filha virá me buscar. Se eu fazer (fizer) todas as tarefas, eu tiraria nota boa.
Barbarismo semântico n n
Assim que chegaram à metrópole, absolveram (absorveram) a poluição. João Carlos deu os devidos comprimentos (cumprimentos) a seu tio.
Solecismo Trata-se do desvio da norma-padrão em relação à sintaxe. Veja os exemplos: Solecismo de concordância n n n
Haviam (havia) muitos assaltantes no bairro. Fazem (faz) duas semanas, que Carlos viajou para o sul do país. Faltou (faltaram) apenas três presentes para eu abrir.
Cacófato Trata-se de uma combinação de palavras que acabam gerando um som desagradável e, por vezes, obscenos. Veja os exemplos: n n n n
Eco Trata-se de uma repetição desagradável entre palavras de terminações iguais. O eco na prosa é considerado um vício de linguagem. Já na poesia, é fundamental para a rima. Veja os exemplos: n n
Trata-se de aproximação de sons consonantais idênticos ou semelhantes. Veja os exemplos: n n n
n
Obedeça o (ao) seu professor, José Antônio! Professor, posso ir no (ao) banheiro?
Solecismo de colocação n n
Tinha dado-lhe (lhe dado) todo amor e carinho do mundo. Não espere-me (me espere) para poder ir ao supermercado.
Vicente já não sente dores de dente tão frequentemente como antigamente quando estava no Oriente. João, meu irmão, comprou pão e saiu de caminhão.
Colisão
Solecismo de regência n
Vou-me já. (parece: “vou mijar”); A fé de meu tio... (parece: “fede meu tio”); Vi ela ontem de manhã. (parece: “viela”); Eu amo ela demais! (parece: “moela”).
Sua saia saiu suja da máquina. A lua recrescia no cru corpo o cruel desejo do rapaz. “Sai do meu sangue, sanguessuga que só sabe sugar.” (Caetano Veloso)
Hiato Trata-se da aproximação de vogais idênticas que provocam um desconforto na audição do enunciado. Veja os exemplos: n n n
Traga a água. Trago o ovo. Ou eu ou ela!
linguagem
n
Fonte: Shutterstock.com C17 Vícios de
Barbarismo de grafia
709
Português
Ambiguidade Ambiguidade é um assunto mais complexo entre os tipos de vícios de linguagem, o qual trataremos mais a fundo na próxima aula. No entanto, para introduzir o tema, ambiguidade se caracteriza como a produção de um enunciado com duplo sentido. Veja os exemplos: n n
O cachorro do seu irmão avançou sobre o amigo. (cachorro pode ser o animal do sujeito, ou um adjetivo para este sujeito). Roberto estava com Maria falando de sua mãe. (a mãe de Roberto ou de Maria?)
Preciosismo e arcaísmo Preciosismo trata-se de um exagero na escolha lexical do falante. Pode, por vezes, ser um recurso da literatura que torna o texto mais poético. Ademais, o arcaísmo é o emprego de expressões que caíram em desuso. Veja os exemplos: n n
Na pretérita centúria, meu progenitor presenciou o acasalamento do astro-rei com a rainha da noite. Isto é: No século passado, meu pai presenciou um eclipse solar.
Gerundismo Trata-se da utilização desnecessária do gerúndio. É importante que você se atenha a esse vício de linguagem para não reproduzi-lo em sua redação. Veja os exemplos: n n
Eu poderei estar falando com você amanhã, a partir do meio-dia. Tua mãe deveria estar te buscando por volta das 13 horas, que é quando a aula acaba.
Pleonasmo Existem dois tipos de pleonasmo. O pleonasmo poético e o pleonasmo vicioso. Nós devemos evitar a presença de pleonasmos viciosos em nossos textos, pois trata-se, sobremaneira, de uma repetição desnecessária de uma expressão. Veja os exemplos: n n n n Fonte: Shutterstock.com
n n n
C17 Vícios de linguagem
n
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Hemorragia de sangue; Subir para cima; Descer para baixo; Ver com os olhos; Certeza absoluta; Panorama geral; Adiar para depois; Antecipar para antes.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
Com relação ao “gerundismo”, é correto afirmar que 01. é um dos principais problemas da ortografia do português brasileiro. 02. denota aspectos do padrão do uso da língua portuguesa. 04. acontece devido a uma influência direta da língua inglesa no português. 08. denota o uso coloquial da variante brasileira da língua portuguesa. 16. caracteriza-se como um fenômeno sintático. 02. (Fuvest SP) Sobre o emprego do gerúndio em frases como “Nós vamos estar analisando os seus dados e vamos estar dando um retorno assim que possível”, um jornalista escreveu uma crônica intitulada “Em 2004, gerundismo zero!”, da qual extraímos o seguinte trecho: Quando a teleatendente diz: “O senhor pode estar aguardando na linha, que eu vou estar transferindo a sua ligação”, ela pensa que está falando bonito. Por sinal, ela não entende por que “eu vou estar transferindo” é errado e “ela está falando bonito” é certo. a) Você concorda com a afirmação do jornalista sobre o que é certo e o que é errado no emprego do gerúndio? Justifique sucintamente sua resposta. b) Identifique qual de seus vários sentidos assume o sufixo empregado na formação da palavra “gerundismo”. Cite outra palavra em que se utiliza o mesmo sufixo com esse mesmo sentido. 03. (Mackenzie SP) 01Estou estudando gramática e fico pasmo02 com os milagres de raciocínio empregados03para enquadrar em linguagem “objetiva”04os fatos da língua. Alguns convencem,05outros não. Estes podem constituir06esforços meritórios, mas se trata de explicações07que a gente sente serem meras08aproximações de algo no fundo inexprimível,09irrotulável, inclassificável, impossível10de compreender integralmente. Meu consolo11é que muitas das coisas que me afligem12devem afligir vocês também. Ou pelo13menos coisas parecidas. João Ubaldo Ribeiro
Afirma-se com correção que: a) o pronome “Estes” (linha 05) se refere às ideias expressas em “Alguns convencem, outros não”. b) o emprego do verbo “estudar” (linha 01) constitui “gerundismo”, infração à norma culta da língua. c) a oração introduzida “por para” (linha 03) expressa finalidade dos estudos gramaticais empreendidos por João Ubaldo Ribeiro. d) “integralmente” (linha 10) apresenta prefixo de sentido equivalente ao que comparece em inclassificável e impossível (linha 09). e) “em muitas das coisas que me afligem” (linhas11 e 12), o pronome que constitui sujeito do verbo “afligir”. 04. (FBD BA)
PROIBIDO comércio ambulante de came-lô... Disponível em: <http://helenaconecta-da. blogspot.com.br>. Acesso em: set. 2017.
Às vezes, observam-se desvios na construção normal de uma expressão ou frase com a finalidade estilística de realçar ideias, dando-lhes maior expressividade. Na placa em destaque, aparece uma dessas interferências na estrutura gramatical da mensagem transmitida, que se identifica como a) zeugma, por haver a omissão de um termo já mencionado anteriormente, com o propósito de evitar repetição. b) silepse de gênero, devido à concordância existente no comunicado ser ideológica e não com a palavra expressa. c) pleonasmo, por evidenciar uma redundância com o objetivo de enfatizar a informação, reforçando-lhe o sentido. d) anástrofe, graças à presença de inversão de vocábulos no mesmo sintagma nominal, provocando uma alteração na ordem natural da sentença. e) anacoluto, por meio da interrupção da sequência lógica do pensamento, configurando-se, assim, uma quebra na elaboração sintática do enunciado.
02 Gab. a) Embora o jornalista não explicite regras de uso do gerúndio, pode-se deduzir de sua afirmação que ele considera indevido o gerúndio quando este faz parte de uma locução formada por três verbos: os dois primeiros seriam auxiliares do verbo principal, que se encontra no gerúndio. Exemplos: pode estar aguardando, vou estar transferindo, etc. Ora, nesses casos, o auxiliar “estar” é completamente dispensável, sem qualquer função, pois pode-se simplesmente dizer: “pode aguardar”, “vou transferir”, como é tradição na língua portuguesa. Esse uso é devido à contaminação do português pelo inglês. Para o jornalista, nada justificaria a importação de tal estrutura sintática, a qual seria apenas vício ou modismo dos que não sabem falar bem a sua própria língua. Por outro lado, deve-se lembrar que a língua é um organismo vivo, dinâmico, que evolui com o tempo, descartando e assimilando novas formas de expressão. b) O sufixo –ismo em gerundismo significa tendência para o uso de, mas com valor pejorativo. O mesmo ocorre com certos neologismos como peemedebismo, petismo, malufismo, lulismo etc.
711
C17 Vícios de linguagem
01. (UFMS) Analise esta tira, extraída do sítio http://educacao. uol.com.br/album/tiras.
e
Português
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Exercícios Complementares 01. (Unesp SP) Leia o trecho do livro Bem-vindo ao deserto do real!, de Slavoj Žižek. Numa antiga anedota que circulava na hoje falecida República Democrática Alemã, um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correspondência será lida pelos censores, ele combina com os amigos: “Vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se estiver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira.” Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em tinta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas, sempre prontas para um programa – o único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha.” Neste caso, a estrutura é mais refinada do que indicam as aparências: apesar de não ter como usar o código combinado para indicar que tudo o que está dito é mentira, mesmo assim ele consegue passar a mensagem. Como? Pela introdução da referência ao código, como um de seus elementos, na própria mensagem codificada. (Bem-vindo ao deserto do real!, 2003.)
C17 Vícios de linguagem
A “introdução da referência ao código, como um de seus elementos, na própria mensagem codificada” constitui um exemplo de a) eufemismo. b) metalinguagem. c) intertextualidade. d) hipérbole. e) pleonasmo. 02. (FMABC SP) 57 O termo é hoje lugar-comum, em duplo sentido: é 58 corriqueiro, parece estar no discurso de todos, mas 59 pode ser também um lugar compartilhado, um ponto 60 de encontro de saberes, disciplinas e políticas. 61 Contudo, não estamos diante de um fenômeno universal, 62 tampouco permanente. Na França, preocupações 63 com patrimônio ou, para usar um termo então 64 utilizado, com monumentos tiveram início após a 65 Revolução Francesa; na Inglaterra, em meio à Revolução 66 Industrial, vitorianos que denunciavam uma 67 civilização moderna percebida como sem raízes se voltavam 68 para um passado pré-industrial, localizado na 69 arquitetura. No Brasil, a descoberta de um 70 patrimônio na iminência de ser perdido não se vinculou 71 a revolução de qualquer tipo: foi um debate que teve 72 início na nada revolucionária Primeira República 73 (1889-1930), quando cidades passavam por 74 reformas urbanas pautadas
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por um “bota abaixo” 75 − como ocorreu no Rio de Janeiro e no Recife no 76 começo do século XX −, e consolidou-se no Estado 77 Novo. (Adaptado de: RUBINO, Silvana. Companhia das Letras, 2011, p. 392 e 393)
Observe o parágrafo acima, é afirmação correta: a) O período final contém ambiguidade, pois nada indica se o trecho “e consolidou-se no Estado Novo” deve unir-se “a foi um debate que teve início na nada revolucionária Primeira República” ou a “como ocorreu no Rio de Janeiro e no Recife no começo do século XX”. b) O advérbio hoje poderia ser substituído pela expressão “na modernidade” sem prejuízo do sentido original, pois ambos abarcam a mesma extensão temporal. c) Em “nada revolucionária Primeira República”, o segmento destacado constitui pleonasmo a ser evitado, pois não promove ampliação alguma da ideia anunciada anteriormente sobre a relação entre patrimônio e revolução no Brasil. d) Explica-se o enunciado “No Brasil, a descoberta de um patrimônio na iminência de ser perdido não se vinculou a revolução de qualquer tipo” porque o contexto sinalizou a probabilidade de ocorrência dessa vinculação. e) Se o segmento destacado “em vitorianos que denunciavam uma civilização moderna percebida como sem raízes” se voltavam para um passado pré-industrial viesse entre vírgulas, o sentido original não seria prejudicado. 03. (FDSBC SP) O conto “Conversa de Bois”, integrante de Sagarana, apresenta uma linguagem rica de recursos poéticos e estilísticos, como os que seguem: - Cristo! Cris-pim – cris-pim – cris-pim – crispim! ... Um par de joãos-de-barro arruou no caminho, pouco que aos pés de Tiãozinho. - Seriam bem dez horas, e, de repente, começou a chegar – nhein ... nheinnhein ...renheinnhein ... do caminho da esquerda, a cantiga de um carro-de-bois. Assim, as figuras presentes nos trechos, são a) Pleonasmos, pela repetição dos mesmos vocábulos, o que torna a expressão redundante. b) Anáforas, pela constância repetitiva dos mesmos sons, por meio da decomposição estrutural da palavra. c) Onomatopeias, pela incorporação dos sons da natureza capazes de aproximar ou reproduzir dados da realidade. d) Comparações, pela aproximação entre sons e sentidos na reprodução e representação do canto da ave e do ruído das rodas do carro.
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04. (PUC SP) Leia os trechos a seguir: I.
07. (FDSBC - SP) Hélio Schwartsman
O sol ia subindo, por cima do voo verde das aves itinerantes (A Hora e a vez de A Matraga, in Sagarana, G. Rosa);
II.
Aquele grande mar da Odisseia – resplandecente e sonoro, sempre azul, todo azul, sob o voo branco das gaivotas, rolando...(in A Cidade e as Serras – E Queirós).
Folha de S.Paulo, 17/10/2015
SÃO PAULO – A filosofia distingue entre a ética descritiva e a normativa. Enquanto a primeira se limita a arrolar as crenças morais das pessoas, a segunda tenta estabelecer se essas cren-
A função poética nos dois trechos se dá por força de
ças se justificam à luz de princípios que permitam classificá-las
a) metáfora, caracterizada pela comparação e pela simples
em termos de certo e errado.
transferência de significados entre as palavras do texto. b) metonímia, constituída pela tomada do todo pela soma das partes, na caracterização do voo. c) pleonasmo, verificado na repetição de palavras ligadas à cor das aves, na ação que elas produzem. d) hipérbole, verificada pelo aumento exagerado do significado da ação dos pássaros, na configuração do voo. 05. (Fuvest SP) Leia este aviso, comum em vários lugares públicos:
Como filósofos têm imaginação fértil, há desde sistemas baseados no cálculo da felicidade até os que se fundam na religião. Um dos favoritos é a chamada regra de ouro, segundo a qual não devemos fazer ao próximo aquilo que não desejaríamos que ele nos fizesse. Surgem assim normas morais invioláveis como não roubar, não mentir, pôr o interesse público acima dos particulares etc. O princípio é tão popular que já foi sequestrado por religiões tão diversas quanto cristianismo e budismo e por filósofos do calibre de Kant. A aplicação da regra de ouro ao cenário político brasileiro recomendaria desistir do país. Ao que tudo indica, o governo acuado pela ruína econômica e por infindáveis denúncias de corrupção está em vias de fechar um acordo com o presidente da Câmara, ele próprio enredado em acusações de corrupção. Se os relatos de bastidores são precisos, parlamentares da
a) As pessoas que não gostam de ser filmadas prefeririam uma mensagem que dissesse o contrário. Para atender a essas pessoas, reescreva o aviso, usando a primeira pessoa do plural e fazendo as modificações necessárias. b) Criou-se, recentemente, a palavra “gerundismo”, para designar o uso abusivo do gerúndio. Na sua opinião, esse tipo de desvio ocorre no aviso acima? Explique. 06. (UFMS) O ladrão entra numa joalheria e rouba todas as joias da loja. Guarda tudo numa mala e, para disfarçar, coloca roupas em cima. Sai correndo para um beco, onde encontra um amigo, que pergunta: - E aí, tudo joia? - Que nada! Metade é roupa...
base governista livrariam a cara do chefe dos deputados no Conselho de Ética em troca de ele segurar os trâmites que poderiam levar a um processo de impeachment contra a presidente da República. Como a oposição calcula que não pode dispensar as boas graças do ilustre parlamentar, também evita contrariá-lo. Ninguém admite nada disso, pois fazê-lo equivaleria a confessar que um bom naco das normas morais supostamente invioláveis estão sendo violadas. Uma alternativa seria trocar a regra de ouro por éticas mais realistas, como o consequencialismo, segundo o qual ações devem ser julgadas pelos resultados que acarretam. Mas, neste caso, a emenda fica pior que o soneto, pois são as disputas entre políticos que estão magnificando a crise econômica. Qual é o efeito de sentido desencadeado pelo uso do verbo no
Com relação à frase “Sai correndo para um beco”, é correto
gerúndio, na última linha do texto?
afirmar:
a) Evidenciar o bom nível das disputas entre políticos, que não
02. Trata-se de caso explícito de gerundismo. 04. Apresenta um problema de referenciação, considerando que o sujeito não é expresso. 08. O sujeito é oculto, o que torna a frase ambígua. 16. A construção está de acordo com os padrões coloquiais da língua portuguesa. Questão05. a) O aviso, na primeira pessoa do plural, teria a seguinte redação: “Sorriamos, nós não estamos sendo filmados.” b) Não. O gerúndio está sendo usado adequadamente para expressar uma ação em curso no momento da leitura.
tem aumentado a crise. b) Exaltar que os embates entre os políticos continuam a aumentar a crise. c) Criticar o gerundismo e enaltecer que a crise só tem aumentado. d) Explicar que as brigas entre os políticos contribuem magnificamente para éticas mais realistas.
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C17 Vícios de linguagem
01. O sujeito é expresso de forma anafórica.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C18
ASSUNTOS ABORDADOS
POLISSEMIA E AMBIGUIDADE
n Polissemia e ambiguidade
Polissemia
n Polissemia n Ambiguidade
Com origem no termo grego polysemos, polissemia é um conceito dos estudos da linguagem, que apresenta múltiplos significados ou sentidos a uma mesma palavra ou expressão. A palavra “manga”, por exemplo, é um caso de polissemia. Ela pode significar o fruto da mangueira; uma parte das camisas e camisetas ou pode, ainda, ser a conjugação do verbo mangar, que significa: escarnecer fingindo seriedade; caçoar. As distintas variações de sentido podem depender da origem da palavra em análise, do seu uso metafórico ou, em última instância, do contexto em que ela está inserida. Neste último caso, na prática linguageira, a palavra passa a ter um só sentido, assegurando, dessa forma, a comunicação sem dupla interpretação. A polissemia constitui uma propriedade básica das unidades léxicas e é um elemento estrutural da linguagem. O oposto da polissemia é a monossemia, ou seja, quando uma palavra assume só um significado. Exemplos de polissemia Leia a seguir alguns exemplos de polissemia, nos quais as mesmas palavras podem ser utilizadas em diferentes contextos: n n n
A letra da música do Caetano Veloso é muito profunda. A letra daquele médico é ininteligível ! Não consigo entender. Meu nome começa com a letra M.
Nos exemplos acima, vimos que a palavra “letra” é um termo polissêmico por abarcar significados distintos dependendo do contexto de sua utilização. No primeiro exemplo, a palavra é utilizada como referência à música ou canção. Na segunda frase, corresponde à caligrafia, isto é, ao formato da letra. Já no último exemplo, indica uma letra do alfabeto. Entretanto, apesar dos muitos significados, todos se relacionam com a ideia de escrita e podem, assim, ser facilmente identificados. Veja a seguir outros exemplos: n n n
A praça parecia um formigueiro no sábado. O paciente queixou-se ao médico do formigueiro nos pés. Foi todo picado logo depois de pisar num formigueiro.
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Na primeira frase, formigueiro tem o sentido de multidão. Já na segunda oração, tem o sentido de coceira. E, finalmente, no terceiro exemplo, o formigueiro refere-se à toca das formigas. Todos se relacionam com a ideia de multidão, muitas formigas passando dão a sensação de coceira, por exemplo.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
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Ambiguidade Um texto ambíguo é aquele que apresenta mais de um sentido ou significação no momento de sua interpretação. Sentenças ambíguas, podem estar presentes não só em textos complexos, mas, também, em palavras mal colocadas, em pequenas frases ou expressões completas. A ambiguidade é bastante utilizada em textos de teor literário, poético ou humorístico, mas deve ser evitada em textos científicos e jornalísticos, por exemplo. Diferentemente da polissemia, que atua principalmente no campo do significado, a ambiguidade, por sua vez, é mais percebida no campo do sentido. Leia a frase abaixo e entenda a ambiguidade nela presente: O garoto viu uma senhora com os binóculos. A ambiguidade da frase acima é causada pelo termo “com os binóculos”. A partir da leitura desse enunciado, não é possível detectar se os binóculos estão com o garoto ou com a senhora. Para isso, é importante entender como funciona sintaticamente cada uma das interpretações para desfazer com facilidade a ambiguidade da frase. Observe: Os binóculos estão com o garoto Se os binóculos são o instrumento utilizado pelo garoto para ver a senhora, então o termo “com os binóculos” é um adjunto adverbial de instrumento. Tal termo, portanto, está relacionado diretamente ao verbo ver e, por isso, ganha uma carga adverbial. Para desfazer essa ambiguidade, basta deslocar o termo “com os binóculos”. Veja: O garoto com os binóculos viu uma senhora. Os binóculos estão com a senhora Se os binóculos estiverem na mão da senhora, enquanto ela é vista pelo garoto, então o termo “com os binóculos” é um adjunto adnominal. Tal termo, portanto, está relacionado diretamente ao nome “senhora” e, por isso, ganha uma carga adnominal. Para desfazer essa ambiguidade, basta deslocar todo o termo “uma senhora com binóculos”. Veja:
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C18 Polissemia e ambiguidade
Uma senhora com binóculos o garoto viu.
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um s eu o reuma a imodos me me mennso.
Português
Exercícios de Fixação 01. (UniCesumar PR) Considere a tirinha abaixo.
c) o sinal de interrogação seguido de uma exclamação sugere ironia em relação ao fato enfocado. d) o emprego da palavra “gente” inclui o locutário no grupo dos que agem de modo ético, esquivando-se sempre da malandragem característica de algumas pessoas públicas. e) a expressão “vergonha na cara” é uma maneira de retomar as repreensões antigas de pais para filhos, objeti-
(WALKER, Mort. Recruta Zero. http://cultura.estadao.com.br, 08 de julho de 2017)
Acerca do último quadrinho, pode-se afirmar que
vando mostrar o desrespeito ao outro que grassa no País hoje em dia.
a) privilegia a função fática da linguagem, na medida em
03. (Uerj RJ) Precisamos de modelos para entender o universo
que a fala de uma personagem revela a intenção de esti-
(que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso), (Refs. 17-18)
mular a interação com o outro personagem.
No enunciado acima, o conteúdo entre parênteses propõe
b) encerra uma reflexão de caráter metalinguístico, visto
uma reformulação da palavra universo, em função da argu-
que a personagem faz um comentário acerca de um re-
mentação feita pelo autor.
curso de expressão da tira.
Essa reformulação explora o seguinte recurso:
c) evidencia uma crítica irônica e bem-humorada à maneira pouco cordial com que os representantes do exército interagem com a população. d) enuncia o propósito apelativo da tira, cuja finalidade é persuadir o leitor a adotar um determinado ponto de vista sobre uma temática polêmica.
a) contraste de morfemas de sentidos distintos b) citação de neologismos de valor polissêmico c) comparação de conceitos relacionados ao tema d) enumeração de sinônimos possíveis no contexto 04. (ESPM SP)
e) combina a função poética da linguagem com o caráter metonímico dos vocábulos isto e aqui, o que resulta em um discurso emotivo e polissêmico. 02. (FBD BA)
A graça da tira decorre: a) do “ruído” de comunicação ocorrido entre a primeira e a segunda personagem, já que a expressão “palavras cruzadas” foi entendida em seu sentido referencial. b) do não entendimento, por parte da última personagem,
C18 Polissemia e ambiguidade
da expressão “palavras cruzadas” usada metaforicamenELVIS. Manifestações. Disponível em: <www.google.com.br>. Acesso em: mar. 2017.
te, pois foi associada à uma expressão homônima ligada
Para identificar o efeito do humor dessa charge, o leitor
c) da ambiguidade da expressão “palavras cruzadas”, em-
deve perceber que a) o caráter polissêmico do termo “jeitinho” transforma a resposta em crítica à habilidade criativa do brasileiro para sanar problemas. b) o uso de marcas linguísticas próprias da informalidade faz uma referência zombeteira ao linguajar descuidado do povo.
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a charada ou passatempo. pregada inicialmente em sentido literal e posteriormente entendida em sentido figurado. d) da incompatibilidade entre os níveis de linguagem dos falantes, uma vez que o primeiro usa linguagem formal, enquanto que o segundo lança mão da linguagem informal. e) do fato de o último falante não saber que a expressão “quebra-cabeça” é símile da expressão “palavras cruzadas”.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
É DEUS NO CÉU E ELE NA TERRA.
Disponível em: http://imagens.us/marcas/bombril/bombril%20(1).jpg. Acesso:30/09/2015
O slogan dessa propaganda explora, por meio do emprego do pronome “ele”, a) algumas das semelhanças entre o trabalho religioso e o ato de limpar a casa. b) a dupla referenciação do pronome, que pode remeter ao papa e ao produto. c) um descompasso intencional entre os elementos verbais e não verbais do anúncio. d) uma ambiguidade que coloca “Deus” e a palha de aço no mesmo nível de importância. e) a polissemia da marca, que, por metonímia, costuma indicar todas as palhas de aço. 02. (UECE) A velha contrabandista Stanislaw Ponte Preta
Diz que era uma velhinha que sabia andar 233 de lambreta. Todo dia ela passava pela 234 fronteira montada na lambreta, com um 235 bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da 236 Alfândega – tudo malandro velho – 237 começou a desconfiar da velhinha. 238 Um dia, quando ela vinha na lambreta com 239 o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou 240 ela parar. A velhinha parou e então o fiscal 241 perguntou assim pra ela: 242 - Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa 243 por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. 244 Que diabo a senhora leva nesse saco? 245 A velhinha sorriu com os poucos dentes que 246 lhe restavam e mais os outros, que ela 247 adquirira no odontólogo e respondeu: 248 - É areia! 249 Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não 250 era areia nenhuma e mandou a velhinha 251 saltar da lambreta para examinar o saco. A 252 velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e 253 dentro só tinha areia. Muito encabulado, 254 ordenou à 232
velhinha que fosse em frente. Ela 255 montou na lambreta e foi embora, com o 256 saco de areia atrás. 257 Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez 258 a velhinha passasse um dia com areia e no 259 outro com muamba, dentro daquele maldito 260 saco. No dia seguinte, quando ela passou 261 na lambreta com o saco atrás, o fiscal 262 mandou outra vez. Perguntou o que é que 263 ela levava no saco e ela respondeu que era 264 areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. 265 Durante um mês seguido o fiscal 266 interceptou a velhinha e, todas as vezes, o 267 que ela levava no saco era areia. 268 Diz que foi aí que o fiscal se chateou: 269 - Olha, vovozinha, eu sou fiscal de 270 alfândega com 40 anos de serviço. Manjo 271 essa coisa de contrabando pra burro. 272 Ninguém me tira da cabeça que a senhora é 273 contrabandista. 274 - Mas no saco só tem areia! – insistiu a 275 velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o 276 fiscal propôs: 277 - Eu prometo à senhora que deixo a 278 senhora passar. Não dou parte, não 279 apreendo, não conto nada a ninguém, mas 280 a senhora vai me dizer: qual é o 281 contrabando que a senhora está passando 282 por aqui todos os dias? 283 - O senhor promete que não “espaia”? – 284 quis saber a velhinha. 285 - Juro – respondeu o fiscal. 286 - É lambreta. PRETA, Stanislaw Ponte. Primo Altamirando e elas. São Paulo: Agir, Martins Fontes, 2008.
Para conseguir o efeito de humor, o texto acima recorre em especial a) à apresentação de personagens bastante contrastantes que se diferenciam pela idade, sexo, classe social e profissão. b) à quebra de expectativa do sentido do texto para a qual a situação narrada se encaminha. c) as palavras cheias de ambiguidade para gerar duplo sentido ao que está sendo narrado. d) a uma cena pouco comum no nosso cotidiano para criticar a desatenção da fiscalização dos alfandegários. 03. (ESPM SP) Assinale o item em que o par de prefixos grifados não possua equivalência semântica: a) hipermercado / supermercado b) anfíbio / ambiguidade c) endovenoso / intramuscular d) diálogo / bienal e) periferia / circunferência 04. (UFU MG) Há uma pequena árvore na porta de um bar, todos passam e dão uma beliscada na desprotegida árvore. Alguns arrancam folhas, alguns só puxam e outros, às vezes,
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C18 Polissemia e ambiguidade
01. (IBMEC SP)
Português
até arrancam um galho. O homem que vive na periferia é igual a essa pequena árvore, todos passam por ele e arrancam-lhe algo de valor. A pequena árvore é protegida pelo dono do bar, que põe em sua volta uma armação de madeira; assim, ela fica segura, mas sua beleza é escondida. O homem que vive na periferia, quando resolve buscar o que lhe roubaram, é posto atrás das grades pelo sistema. Tentam proteger a sociedade dele, mas também escondem sua beleza. FERRÉZ. Capão Pecado. São Paulo: Labortexto, 2000.
Tomada, isoladamente, a proposição “Tentam proteger a sociedade dele” poderia ser considerada ambígua. Para explicitar o sentido que essa oração assume no contexto em que foi empregada, a expressão “a sociedade dele” deve ser substituída por a) a sociedade contra ele. b) a sociedade para ele. c) a sociedade com ele. d) a sua sociedade. 05. (IBMEC SP) Nos últimos tempos, surgiu um novo critério para avaliar jornalistas da TV – a relação do profissional com os seus admiradores nas redes sociais. O tamanho dos fãs-clubes e a forma de interação com eles se tornou, igualmente, uma maneira de “medir” o talento de apresentadores. A estreia de Dony de Nuccio na bancada do “Jornal Hoje”, ao lado de Sandra Annenberg, nesta segunda-feira [07.08.2017], deixou claro o peso destes aspectos mais subjetivos. O novo apresentador até deu um beijo em sua colega na abertura do telejornal. Foi mais um gesto, entre outros, no esforço de mostrar aos fãs que a saída de Evaristo Costa, parceiro de Sandra por mais de 13 anos, não vai afetar em nada o bom andamento do telejornal. Não à toa, Dony festejou no ar o seu antecessor: “É um grande desafio substituir o Evaristo Costa, tão querido por todos, tão competente na condução do telejornal por tantos anos.” (https://mauriciostycer.blogosfera.uol.com.br)
C18 Polissemia e ambiguidade
Observe o uso das aspas nas seguintes passagens do texto: – ... uma maneira de “medir” o talento de apresentadores. (1º parágrafo); – A estreia de Dony de Nuccio na bancada do “Jornal Hoje”, ao lado de Sandra Annenberg... (2º parágrafo); – “É um grande desafio substituir o Evaristo Costa, tão querido por todos, tão competente na condução do telejornal por tantos anos.” (3º parágrafo). Nessas passagens, usam-se as aspas, respectivamente, para: a) indicar ênfase ao termo empregado; marcar uso de nome próprio composto; indicar o discurso indireto livre. b) marcar ambiguidade no emprego do termo; enfatizar o nome do noticiário; indicar a fala do autor. c) indicar o sentido denotativo do termo empregado; indicar discurso direto; marcar um comentário do autor.
718
d) conferir um novo significado ao termo empregado; indicar um comentário; marcar a fala do jornalista. e) relativizar a significação do termo empregado; destacar o nome do noticiário; indicar o discurso direto. 06. (Enem MEC) TEXTO I Criatividade em publicidade: teorias e reflexões Resumo: O presente artigo aborda uma questão primordial na publicidade: a criatividade. Apesar de aclamada pelos departamentos de criação das agências, devemos ter a consciência de que nem todo anúncio é, de fato, criativo. A partir do resgate teórico, no qual os conceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se estabelecer a compreensão dos temas. Para elucidar tais questões, é analisada uma campanha impressa da marca XXXX. As reflexões apontam que a publicidade criativa é essencialmente simples e apresenta uma releitura do cotidiano. DEPEXE, S. D. Travessias: Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e Artes, n. 2, 2008.
TEXTO II
Homenagem ao Dia das Mães 2012. Disponível em: www.comunicacao.com. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado).
Os dois textos apresentados versam sobre o tema criatividade. O Texto I é um resumo de caráter científico e o Texto II, uma homenagem promovida por um site de publicidade. De que maneira o Texto II exemplifica o conceito de criatividade em publicidade apresentado no Texto l? a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus filhos. b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu trabalho de criar os filhos. c) Explorando a polissemia do termo “criação” d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples. e) Utilizando recursos gráficos diversificados. 07. (FGV SP) Com base nas regras atuais de acentuação da língua, considere que as frases das alternativas possam ser manchetes jornalísticas e assinale aquela em que o enunciado apresenta ambiguidade no uso do termo em destaque. a) Cientistas preveem novas catástrofes ambientais. b) Novas ideias mudam a economia do país. c) Nova lei em vigor para o trânsito da capital paulista. d) É preciso que se apazigue o investidor no Brasil. e) Pelo de gato pode mesmo causar alergia?
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C19
TIPOLOGIA DESCRITIVA A característica principal da tipologia descritiva é o ato de descrever pessoas, animais, seres animados e inanimados, assim como um objeto qualquer ou um lugar. Ao descrever um texto, a intenção do autor é classificada como sendo de natureza subjetiva ou objetiva a respeito de determinado tema – o que veremos mais adiante. No entanto, em sua maioria, os textos de tipologia descritiva tratam da descrição de um acontecimento, de um fato e, por isso, é um tipo textual. A tipologia textual, geralmente, encontra-se atrelada a textos da tipologia narrativa. Portanto, a descrição, sobretudo, transmite ao leitor as impressões e a qualidade de algo.
ASSUNTOS ABORDADOS n Tipologia descritiva n Características do texto descritivo n Estrutura Descritiva n Tipos de Descrição n Exemplos
O texto descritivo, por exemplo, capta as impressões de um acontecimento, de modo a representar o retrato de uma fotografia, ou uma cena do cotidiano, por meio de palavras. Assim, esse tipo de texto atende aos aspectos mais relevantes para uma elaboração textual que abarca desde as características físicas, como também psicológicas do que se pretender descrever, além de ater-se aos detalhes como a cor, a textura, a altura, o comprimento, o peso, as dimensões, a função, o clima, o tempo, a vegetação, a localização, a sensação, dentre outros aspectos dessa estrutura tipológica.
Características do texto descritivo n n n n n n
Fotografia feita por meio de palavras (signos linguísticos); Ausência de ação e relação de anterioridade ou posterioridade entre as frases; Presença maior de substantivos e palavras substantivas, assim como, adjetivos e locuções adjetivas; Recorrência de enumerações e comparações; Os verbos, em sua maioria, são de ligação, como “ser”, “estar”e “parecer”; Os verbos, em sua maioria, são flexionados no presente ou no pretérito perfeito, no modo indicativo; Emprego recorrente de orações coordenadas.
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n
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Português
Estrutura Descritiva A estrutura do texto descritivo assemelha-se bastante à estrutura do texto narrativo. Como dito, é comum encontrar a tipologia descritiva em textos de tipologia narrativas. A descrição, apresenta três passos para a construção: n n n
Introdução: apresentação do que se pretende descrever. Desenvolvimento: caracterização subjetiva ou objetiva da descrição. Conclusão: finalização da apresentação e caracterização de algo.
Tipos de Descrição Os textos descritivos podem ser definidos de acordo com a natureza da descrição, isto é, podem-se ter textos com descrição subjetiva e textos com descrição objetiva. Conforme a intenção do texto, as descrições classificam-se em: n
n
Descrição Subjetiva: apresenta as descrições de um ser animado, de um ser inanimado ou de um acontecimento, evidenciando as impressões pessoais do autor do texto e a subjetividade do escritor. Este tipo de classificação é muito comum em textos literários, como os romances românticos do século XIX e as descrições de José de Alencar, por exemplo, que são carregadas de subjetividade. Descrição Objetiva: nesse caso, o texto busca descrever de forma realista e com exatidão as características de um ser inanimado ou de um acontecimento. Assim procura não atribuir juízo de valor nem as impressões subjetivas do emissor. Esse tipo de descrição aparece em retratos falados, manuais de instruções, verbetes de dicionário e enciclopédia, por exemplo.
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Exemplos Descrição Subjetiva Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. (ALENCAR, José. Iracema)
Descrição Objetiva
C19 Tipologia descritiva
Era um homem alto, robusto, muito forte, que caminhava lentamente, como se precisasse fazer esforço para movimentar seu corpo gigantesco. Tinha, em contrapartida, uma cara de menino, cuja expressão alegre acentuava ainda mais. Tinha cabelo curto e encaracolado. Não sorria, porque não tinha os dois dentes da frente. Tinha uma cicatriz na sobrancelha esquerda, que deixava seu olho esquerdo levemente mais baixo que o olho direito. Tinha um nariz grande, com uma pequena verruga na ponta. Tinha a barba por fazer. Usava naquele momento uma camisa social branca com uma calça jeans, além de sapatos sociais de marca.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (UEFS BA) Leia o poema “Vila Rica”, de Olavo Bilac.
acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começa-
Vila Rica
vam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava,
O ouro fulvo1 do ocaso as velhas casas cobre;
gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, na-
Sangram, em laivos2 de ouro, as minas, que a ambição
quela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal
E cada cicatriz brilha como um brasão.
de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
O ângelus3 plange4 ao longe em doloroso dobre, O último ouro do sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema-unção. Agora, para além do cerro5, o céu parece Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... A neblina, roçando o chão, cicia6, em prece, Como uma procissão espectral que se move... Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. (Melhores poemas, 2000.)
fulvo: amarelo-ouro. 2 laivo: desenho sinuoso na madeira ou na pedra; veio. 3 ângelus: toque do sino que anuncia a ave-maria. 4 planger: soar. 5 cerro: pequena elevação; colina. 6 ciciar: sussurrar. 1
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o segmento. ( ) O segmento apresenta a descrição do cortiço sem destacar um personagem, com ênfase na coletividade para ações triviais de homens, mulheres e crianças. ( ) O despertar, matéria cotidiana, é figurado como fato rotineiro de pessoas executando seus hábitos higiênicos matinais. ( ) A linguagem do narrador, preocupado em mostrar a dimensão natural presente nas ações humanas, evidencia-se em expressões como ―prazer animal de existir‖. ( ) O objetivo, nesse segmento, é apresentar o cortiço e a venda como empreendimentos comerciais usados no enriquecimento de João Romão. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – V – F – F. b) V – V – V – V. c) V – F – F – V. d) F – F – F – V.
02. (UFRGS) Leia o segmento abaixo, do terceiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo. Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. (...) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias
e) V – V – V – F. 03. (FDF SP) Iracema é a personagem que dá título ao romance indianista, de mesmo nome, de José de Alencar. A respeito dela NÃO É CORRETO afirmar que a) carrega em seu nome o anagrama de América e ela se mostra ligada, simbolicamente, à fundação do estado do Ceará. b) mostra-se como uma figura real e concreta do contexto brasileiro e sua descrição física obedece a um exagero retórico que compromete a figura feminina dentro do Romantismo. c) dá corpo a uma alegoria, e se configura como a representação mais complexa de Pindorama, símbolo da nacionalidade brasileira. d) constrói-se a partir de muitas metáforas e comparações tomadas à natureza brasileira, de sua flora e sua fauna.
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C19 Tipologia descritiva
Uma característica do Parnasianismo encontrada no poema é a) a focalização de cenários históricos com a finalidade de intervenção da arte na sociedade. b) a intervenção subjetiva na abordagem de temáticas sociais e históricas. c) a crítica social estabelecida a partir de um ponto de vista religioso cristão. d) a descrição detalhada de objetos e cenários em linguagem e vocabulário rebuscados. e) a expressão intimista e passional de um eu lírico que vira as costas para a realidade objetiva.
Português
Exercícios Complementares 01. (Unipas PB) 1 O Brasil atravessa seu pior surto de febre amarela 2 silvestre. E, com ele, o medo da volta da febre amarela 3 urbana, que não ocorre, no país, desde 1942. Ao longo de 4 sua história, o Brasil sofreu mais com esse mal do que 5 com qualquer outra doença. 6 Ela se originou na África e chegou ao Brasil, no 7 século XVII, com a escravidão, trazida em navios 8 negreiros, junto com o Aedes aegypti. A primeira 9 epidemia descrita no Brasil aconteceu em 1685, em 10 Recife. Já era o maior problema de saúde pública no 11 século XIX. 12 Coube às famosas campanhas lideradas por 13 Oswaldo Cruz e seus sucessores o controle da febre 14 amarela urbana na primeira metade do século XX. Porém 15 a silvestre nunca deixou de ser uma ameaça à saúde 16 pública. 17 Não existem medicamentos específicos para o 18 tratamento dessa doença. Apenas os sintomas são 19 tratados, e a pessoa melhora em função da resposta de 20 seu sistema imunológico. 21 A vacinação é o modo mais eficiente de evitar a 22 disseminação de surtos. AZEVEDO, Ana Lúcia. O que você precisa saber sobre a febre amarela. Disponível em:<http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/oque-voce-precisa-saber-sobre-febre-amarela-2-20872029>. Acesso em:12 abr. 2017. Adaptado.
Considerando-se os elementos discursivos do texto em destaque, é correto considerá-lo como predominantemente 01. descritivo, por se deter na descrição objetiva da febre amarela e das circunstâncias propícias à ocorrência de surtos. 02. injuntivo, pelo seu caráter instrucional, objetivando relacionar todos os cuidados relacionados com a prevenção da enfermidade enfocada.
C19 Tipologia descritiva
03. expositivo, porque objetiva informar sobre uma afecção, indicando o recurso mais eficiente de que se dispõe para evitar o adoecimento e prevenir sua proliferação. 04. dissertativo, pois desenvolve ideias por meio de estratégias argumentativas com a finalidade de conquistar a adesão do interlocutor ao ponto de vista que defende. 05. narrativo, visto que sua principal característica é contar um fato situado no tempo e no espaço, envolvendo personagens e outros itens próprios da referida tipologia. 02. (Mackenzie SP) Escrever é um ato não natural. A palavra falada é mais velha do que nossa espécie, e o instinto para a linguagem permite que as crianças engatem em conversas articuladas anos antes de entrar numa escola. Mas a palavra escrita é uma invenção recente que não deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida mediante esforço ao longo da infância e depois.
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A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é uma das razões pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita: reproduzir os sons da língua com um lápis ou com o teclado requer prática. Mas a fala e a escrita diferem também de outra maneira, o que faz da aquisição da escrita um desafio para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi dominado. Falar e escrever envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente o que diz respeito à fala nos chega naturalmente. A conversação falada é instintiva porque a interação social é instintiva: falamos às pessoas “com quem temos diálogo”. Quando começamos um diálogo com nossos interlocutores, temos uma suposição do que já sabem e do que poderiam estar interessados em aprender, e durante a conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes. Se eles precisam de esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma afirmação, ou têm algo a acrescentar, podem interromper ou replicar. Não gozamos dessa troca de feedbacks quando lançamos ao vento um texto. Os destinatários são invisíveis e imperscrutáveis, e temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver suas reações. No momento em que escrevemos, o leitor existe somente em nossa imaginação. Escrever é, antes de tudo, um ato de faz de conta. Temos de nos imaginar em algum tipo de conversa, ou correspondência, ou discurso, ou solilóquio, e colocar palavras na boca do pequeno avatar que nos representa nesse mundo simulado. Adaptado de Steven Pinker, Guia de Escrita.
O texto, pela sua estrutura e linguagem, pode ser caracterizado corretamente como: a) uma descrição sobre um objeto definido, caracterizado detalhadamente. b) um texto informativo com teor de divulgação científica. c) uma narração com o desenvolvimento de um enredo. d) um tratado argumentativo que defende um ponto de vista político. e) um texto de teor pessoal com forte presença de índices de subjetividade. 03. (USF SP) É notório que José de Alencar, Machado de Assis e João Guimarães Rosa são alguns dos expoentes da literatura brasileira. A respeito da obra, do estilo e das características dos autores, é correto afirmar que a) embora os espaços trabalhados por Assis e Rosa divirjam, o viés analítico-psicológico é uma constante na obra de ambos, que, inspirados pelas teorias de Sigmund Freud, desnudam o interior dos personagens, explicitando o binômio aparência X essência. Observa-se, majoritariamente, esse aspecto nas personagens femininas das obras lidas.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (IBMEC SP) Às 15h de uma segunda-feira, o campinho de futebol sob o viaduto de Vila Esperança está lotado de jovens descalços disputando o clássico Dois Poste contra Santa Cruz. Ninguém tem emprego. Xambito é um deles. Xambito precisa pagar pensão para seu filho de três anos, mas não quer voltar para a “vida errada”, como diz. “Essa vida errada aí, biqueira [ponto de vendas de drogas], tráfico, só tem dois caminhos: cadeia ou morte; não quero nenhum desses dois, quero ver meu filho crescer, botar ele pra jogar bola, pra estudar”, diz Xambito, que anda pela favela com uma caixinha de som tocando o sertanejo Felipe Araújo. Ele está correndo atrás de um “serviço fichado” (registrado). Já foi várias vezes aos pátios das fábricas em Cubatão, mas diz que aparecem dez vagas para 500 pessoas. “Só com ajuda de Deus para ser chamado, é muita gente desempregada.” (http://arte.folha.uol.com.br/mundo/2017/um-mundode-muros/brasil/excluidos/)
No texto, a função da linguagem predominante é a a) apelativa, considerando-se a intenção de persuadir o público leitor, fazendo-o acreditar que muitas pessoas vivam sem renda. b) referencial, considerando-se a intenção de analisar e expor ao público leitor a condição de vida dos menos favorecidos.
c) emotiva, considerando-se a ênfase nas condições de vida conturbadas das pessoas com o fim de comover o público leitor. d) emotiva, considerando-se a descrição de um contexto de vida particular para expor a questão das drogas na sociedade. e) referencial, considerando-se que expõe de forma pouco idealizada a rotina de jovens que preferem o futebol ao trabalho formal. 05. (UniCesumar PR) A descrição é um recurso utilizado por escritores pertencentes às diversas estéticas literárias, como Romantismo, Realismo ou Modernismo, provocando efeitos diversos. Em quais dos seguintes fragmentos a descrição sugere uma imagem idealizada? a) “Aos lados da cadeira de Jacinto pendiam gordos tubos acústicos, pôr onde ele decerto soprava as suas ordens através do 202. Dos pés da mesa cordões túmidos e moles, coleando sobre o tapete, corriam para os recantos de sombra à maneira de cobras assustadas. Sobre uma banquinha, e refletida no seu verniz como na água dum poço, pousava uma Máquina de escrever; e adiante era uma imensa Máquina de calcular, com fileiras de buracos de onde espreitavam, esperando, números rígidos e de ferro.” (A cidade e as serras). b) “O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu?” onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras água s.” (Iracema). c) “A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.” (Memórias Póstumas de Brás Cubas). d) “E, na primeira fila, apertadas contra o balcãozinho, bem iluminadas pelas candeias de meia laranja, as duas mulheres-à-toa estavam achando em tudo um espírito enorme, porque eram só duas e pois muito disputadas, todo o mundo com elas querendo ficar. […] e só a outra servia. Mas, perto, encostado nela outra, um capiau de cara romântica subia todo no sem-jeito; eles estavam se gostando, […]”(A hora e a vez de Augusto Matraga, In: Sagarana). e) “O burrinho permanecia na coberta, teso, sonolento e perpendicular ao cocho, apesar de estar o cocho de todo vazio. Apenas, quando ele cabeceava, soprava no ar um resto de poeira de farelo. Então, dilatava ainda mais as crateras das ventas, e projetava o beiço de cima, como um focinho de anta, e depois o de baixo, muito flácido, com finas falripas, deixadas, na pele barbeada de fresco. E, como os dois cavos sobre as órbitas eram bem um par de óculos puxado para a testa, Sete-de- Ouros parecia ainda mais velho.” (O burrinho pedrês, In: Sagarana.). 723
C19 Tipologia descritiva
b) Alencar reestrutura a prosa romântica local com base na abordagem linguística. Consciente de seu papel como elemento desencadeador de uma consciência nacional, o autor refuta as tentativas de um “abrasileiramento linguístico”, defendendo a pureza da língua lusitana, segundo o autor, a língua representativa do país que deve, por isso, ser respeitada e mantida. c) Rosa, em meados do século XX, e Alencar, cerca de cem anos antes, provocam uma reflexão com base no estilo de escrita de cada um: Alencar, por defender a ideia de a nacionalidade apoiar-se primeiramente sobre a língua, que só pode ser modificada pelo povo; Rosa, por inovar a linguagem, com base na apropriação da oralidade, de hibridismos, de estrangeirismos e de regionalismos. d) embora se situem em estéticas literárias distintas, Alencar e Assis apresentam características comuns, podendo-se considerar Alencar um precursor do Realismo no Brasil. São elementos comuns nas obras desses autores a destruição da linearidade narrativa, a análise psicológica, a ausência de maniqueísmo, o pessimismo, o humor ácido e a síntese entre os aspectos particular, local e universal. e) a relevância da obra alencariana se dá pelo diálogo temático que estabelece com Rosa e Assis. No regionalismo, a descrição dos espaços físicos – em especial o tratamento dado ao sertão mineiro – é retomada por Guimarães Rosa em seus contos. Na abordagem urbana, alguns aspectos de sua obra – como o casamento por interesse e a fragilidades das relações humanas – serão ponto de partida para as obras machadianas.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C20
ASSUNTOS ABORDADOS n Tipologia injuntiva n Recursos Linguísticos n Exemplos
TIPOLOGIA INJUNTIVA Os textos da tipologia injuntiva também são conhecidos como textos instrucionais. A principal característica dos textos injuntivos é a explicação dos procedimentos de uma tarefa e do método para a concretização de uma dada atividade para que o leitor possa executá-la. Uma receita de bolo, uma bula de remédio, um manual de instruções, um edital e até em propagandas visam, sobretudo, instruir e explicar o modo de realização de um trabalho ou a utilização correta de ferramentas e instrumentos, sem a finalidade de convencer o leitor por meio de estratégias argumentativas.
Recursos Linguísticos O tipo de linguagem empregada nos textos da tipologia injuntiva é sempre clara e objetiva. O uso de verbos no imperativo, se caracteriza como um dos recursos linguísticos mais presentes e relevantes para esse tipo de texto. Isso porque, a esse modo verbal é atribuída a função de modificação da ação de um sujeito. Veja os exemplos a seguir: n n n
Na receita de bolo: “bata três claras de ovo e reserve as gemas”; Na bula de remédio: “tome três comprimidos por dia, de oito em oito horas”; No manual de instruções: “aperte os parafusos com cuidado”;
Exemplos Leia a seguir exemplos de textos da tipologia injuntiva: Manual de Instruções Instalação: Prefira sempre os serviços da Rede de Assistência Técnica Brastemp para realizar desde a instalação até a manutenção de seus produtos com tranquilidade e segurança. 1° passo: Veja se a tomada onde o produto será instalado tem o novo padrão plugue, segundo o INMETRO. Fonte: Shutterstock.com
2° passo: Verifique se a tensão da rede elétrica no local de instalação é a mesma indicada na etiqueta do plugue da sua lavadora. 3° passo: Nunca altere ou use o cabo de força de maneira diferente da recomendada. Se o cabo de força estiver danificado, chame a Rede de Serviços Brastemp para substituí-lo. 4° passo: Verifique se o local de instalação possui as condições adequadas indicadas no Manual do Consumidor: - A pressão da água para abastecimento deve corresponder a um nível de 2 a 80 m acima do nível da torneira; - Recomenda-se que haja uma torneira exclusiva para a correta instalação da mangueira de entrada; 724
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
- É obrigatória a utilização de uma torneira com rosca ¾ de polegada para a instalação da mangueira de entrada de água, a não utilização dela pode gerar vazamentos; - A mangueira de saída deve ser instalada no tanque (utilizando a curva plástica) ou em um cano exclusivo para o escoamento, com diâmetro mínimo de 5 cm. O final da mangueira deve estar a uma altura de 0,85 a 1,20 m para o correto funcionamento da Lavadora; Caso o local de instalação não tenha as condições adequadas, providencie as modificações, consultando um profissional de sua confiança. (Manual de Instruções da Lavadora Brastemp Ative Automática 9 kg)
Receita Massa de Panqueca Simples Ingredientes: 1 ovo; 1 xícara de farinha de trigo; 1 xícara de leite; 1 pitada de sal; 1 colher de sopa de óleo. Modo de Preparo:
C20 Tipologia Fonte: Shutterstock.com
injuntiva
Bata todos os ingredientes no liquidificador. A seguir, aqueça uma frigideira untada com um fio de óleo em fogo baixo. Coloque um pouco da massa na frigideira não muito quente e esparrame de modo a cobrir todo o fundo e ficar só uma camada fina de massa. Deixe igualar os dois lados, até que a massa fique levemente dourada. Retire com a espátula e sirva com o recheio de sua preferência.
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de
Português
ibiliúde/ der a ades odusico,
Exercícios de Fixação 01. (Unifor CE) Vai namorar? O vinho é uma bebida amiga do amor. Num jantar a dois, seja num restaurante, seja em casa, é preciso fazer as escolhas certas, e a primeira ideia que vem à cabeça é o champanhe ou espumante. Perfeito! Mas existem outras sugestões também sedutoras. É só pensar um pouco: pratos pesados, como carnes vermelhas e molhos fortes, definitivamente não combinam com namoro. Ainda bem, pois assim estão descartados todos os vinhos encorpados e tânicos (aqueles que amarram a boca – já pensou que desastre?). Sendo assim, ficou bem mais fácil escolher o vinho.
nam
Suzamara Santos. Pequeno livro do vinho, guia para toda hora. Campinas, SP: Verus Editora, 2006, p. 74
Os tipos textuais se definem pelas escolhas lexicais, os aspectos sintáticos, o emprego de tempos verbais, pela sua natureza linguística intrínseca de sua composição, portanto. Levando em consideração as características do texto acima e o suporte em que ele foi veiculado, pode-se afirmar que a) trata-se de um texto descritivo, pois orienta um comportamento. b) o tipo textual predominante é o narrativo, dadas as ações de agentes no tempo e no espaço. c) o texto é dissertativo-argumentativo, pois o objetivo principal é convencer, persuadir. d) o texto é expositivo, pois apresenta conceitos e informações. e) trata-se de um texto injuntivo, pois está centrado no leitor e as formas verbais incitam à ação. 02. (Enem MEC) Doutor dos sentimentos
C20 Tipologia injuntiva
Veja quem é e o que pensa o português António Damásio, um dos maiores nomes da neurociência atual, sempre em busca de desvendar os mistérios do cérebro, das emoções e da consciência Ele é baixo, usa óculos, tem cabelos brancos penteados para trás e costuma vestir terno e gravata. A surpresa vem quando começa a falar. António Damásio não confirma em nada o clichê que se tem de cientista. Preocupado em ser o mais didático possível, tenta, pacientemente, com certa graça e até ironia, sempre que cabível, traduzir para os leigos estudos complexos sobre o cérebro. Português, Damásio é um dos principais expoentes da neurociência atual. Diferentemente de outros neurocientistas, que acham que apenas a ciência tem respostas à compreensão da mente, Damásio considera que muitas ideias não provêm necessariamente daí. Para ele, um substrato imprescindível para entender a mente, a consciência, os sentimentos e as emoções advém da vida intuitiva, artística e intelectual. Fora dos
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meios científicos, o nome de Damásio começou a ser celebrado na década de 1990, quando lançou seu primeiro livro, uma obra que fala de emoção, razão e do cérebro humano. TREFAUT, M. P. Disponível em: http://revistaplaneta.terra.com.br. Acesso em: 2 set. 2014 (adaptado).
Na organização do texto, a sequência que atende à função sociocomunicativa de apresentar objetivamente o cientista António Damásio é a a) descritiva, pois delineia um perfil do professor. b) injuntiva, pois faz um convite à leitura de sua obra. c) argumentativa, pois defende o seu comportamento incomum. d) narrativa, pois são contados fatos relevantes ocorridos em sua vida. e) expositiva, pois traz as impressões da autora a respeito de seu trabalho. 03. (IFPE) DE ONDE VEM A EXPRESSÃO “SERÁ O BENEDITO”? De Minas, uai. Em 1933, Getúlio Vargas estava indicando novos governadores, e chefes políticos mineiros temiam que o presidente nomeasse alguém indesejado. Para não desagradar seus apoiadores, dizia-se que o escolhido de Getúlio seria Benedito Valadares, jornalista, político local e candidato neutro. Muitos, surpresos com a provável escolha, que acabou acontecendo, perguntavam-se: “Será o Benedito?”. Assim, a questão ficou conhecida por expressar contrariedade, surpresa, desalento e perplexidade frente a acontecimentos inusitados. MARQUES, E. De onde vem a expressão “Será o Benedito?”. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blog/oraculo/de-onde-vem-aexpressao-sera-o-benedito/>. Acesso em: 09 maio 2017.
Os gêneros textuais apresentam finalidade comunicativa e organização recorrentes. Podemos afirmar que o texto consiste em um(a) a) crônica, já que parte da narração e da descrição de um fato para explicar o significado de uma palavra ou expressão. b) artigo de opinião, já que o autor se utiliza de estratégias argumentativas para explicar o sentido de uma expressão. c) notícia, uma vez que a tipologia narrativa é utilizada para explicar o sentido de uma expressão por meio de uma história real. d) verbete de dicionário, pois apresenta o conceito ou significado de uma palavra ou expressão através da tipologia injuntiva. e) texto informativo, pois se utiliza principalmente da tipologia expositiva para explicar o sentido de uma palavra ou expressão
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares 01. (Uncisal) Brazuca Gabriel O Pensador
[…] Sem reclamar pra não levar cartão vermelho Zé Batalha sob a mira da metralha de joelhos Tentando se explicar com um revólver na nuca: Eu sou trabalhador, sou irmão do Brazuca! Ele reza, prende a respiração E lá na copa, pênalti a favor da seleção Bola no lugar, Brazuca vai bater Dedo no gatilho, Zé Batalha vai morrer Juiz apitou... tudo como tinha que ser: Tá lá mais um gol e o Brasil é campeão Tá lá mais um corpo estendido no chão [...] O país ficou feliz depois daquele gol Todo mundo satisfeito, todo mundo se abraçou Muita gente até chorou com a comemoração Orgulho de viver nesse país campeão E na favela, no dia seguinte, ninguém trabalha É o dia de enterrar o que sobrou do Zé Batalha Mas não tem ninguém pra carregar o corpo Nem pra fazer uma oração pelo morto Tá todo mundo com a bandeira na mão esperando a seleção no aeroporto [...]
Paulo Zanettini escreveu um artigo no Jornal da Tarde, de São Paulo, intitulado “Indiana Jones deve morrer!”. Para ele, assim como para outros arqueólogos profissionais, envolvidos com um trabalho árduo, sério e distante das peripécias das telas, essa imagem aventureira é incômoda. O fato é que o arqueólogo, à diferença do historiador, do geógrafo ou de outros estudiosos, possui uma imagem muito mais atraente, inspiradora não só de filmes, mas também de romances e livros os mais variados. Bem, para usar uma expressão de Eça de Queiroz, “sob o manto diáfano da fantasia” escondem-se as histórias reais que fundamentaram tais percepções. A arqueologia surgiu no bojo do Imperialismo do século XIX, como um subproduto da expansão das potências coloniais europeias e dos Estados Unidos, que procuravam enriquecer explorando outros territórios. Alguns dos primeiros arqueólogos de fato foram aventureiros, responsáveis, e não em pequena medida, pela fama que se propagou em torno da profissão. Adaptado de Pedro Paulo Funari, Arqueologia.
Considerando suas reflexões feitas na questão anterior, é possível classificar o texto lido como a) narrativo. b) descritivo. c) injuntivo. d) informativo. e) diálogo. 03. (Unic MT)
A respeito da tipologia textual e da linguagem utilizadas nesse fragmento, é correto afirmar que se trata de um texto a) predominantemente narrativo, cuja variante linguística ocorre no nível sintático. b) eminentemente descritivo, com variedade linguística informal. c) predominantemente narrativo, com marcas de linguagem coloquial. d) injuntivo, devido ao uso da linguagem conativa. e) expositivo, com predomínio de linguagem conotativa. 02. (Mackenzie SP) A arqueologia não pode ser desvencilhada de seu caráter aventureiro e romântico, cuja melhor imagem talvez seja, desde há alguns anos, as saborosas aventuras do arqueólogo Indiana Jones. Pois bem, quando do auge do sucesso de Indiana Jones, o arqueólogo brasileiro
HANSENÍASE e... Disponível em:<http://sbdpi.org.br/wp-content/uploads/2013/03/sbd3.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2017.
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Disponível em: <https://www.letras.mus.br/gabriel-pensador/ 65578/>. Aces-so em: 30 out. 2017
Português
A análise dessa campanha de combate às verminoses permite afirmar, corretamente, que se trata de um texto 01. narrativo, pela referência a doenças que estão relacionadas com problemas que ocorrem em determinado tempo e lugar, envolvendo a atuação de diferentes instituições e grupos sociais. 02. dissertativo-expositivo, por apresentar informações sobre o assunto de que trata, tendo em vista informar o público sobre as verminoses e hanseníase. 03. dissertativo-argumentativo, em virtude da clara defesa de ideias relacionadas com a proteção contra as doenças citadas, persuadindo o interlocutor, para que ele adote as medidas indicadas a fim de prevenir-se. 04. descritivo, uma vez que retrata a hanseníase e as situações que levam a sua transmissão, recorrendo ao emprego de adjetivos pela sua função caracterizadora, como “esbranquiçadas”, “avermelhadas”, “dormentes” e outros. 05. injuntivo, pela utilização de uma linguagem objetiva e simples, voltada para a realização de ações que têm a finalidade de combater as doenças citadas e que se traduzem pelos comandos dados por meio de formas verbais infinitivas. 04. (PUC GO) um metro de grito (máquinas líquidas) Leiam-se índices, mil olhos de lince, entre meus filmes, leonardos da vinci. Abri-vos, arcas, arquivos, súmulas de equívocos, fechados, para que servem os livros? Livros de vidro, discos, issos, aquilos, coisas que eu vendo a metro, eles me compram aos quilos. Líquidas lâminas, linhas paralelas, quanto me dão por minhas ideias?
C20 Tipologia injuntiva
(LEMINSKI , Paulo. Toda poesia. 12. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 191.)
Na primeira estrofe do poema de Paulo Leminski (texto), há a presença da tipologia textual injuntiva. Essa tipologia se manifesta, principalmente, (marque a resposta correta): a) pela forma imperativa do verbo “abrir”, em que o enunciador convoca as arcas, arquivos, súmulas de equívocos a se abrirem.
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b) pelo tempo presente do verbo “ler” e pela ambiguidade temporal do verbo “abrir”, que tanto parece estar no presente quanto parece estar no passado. c) pela formulação de um questionamento no final dessa estrofe do qual se presume uma resposta de um interlocutor particular. d) pelo contraponto entre a terceira pessoa manifesta pelo pronome “se” e a primeira pessoa manifesta pelo pronome “meus”. 05. (PUC GO) 4 [...] Aos domingos, quando Zana me pedia para comprar miúdos de boi no porto da Catraia, eu folgava um pouco, passeava ao léu pela cidade, atravessava as pontes metálicas, perambulava nas áreas margeadas por igarapés, os bairros que se expandiam àquela época, cercando o centro de Manaus. Via um outro mundo naqueles recantos, a cidade que não vemos, ou não queremos ver. Um mundo escondido, ocultado, cheio de seres que improvisavam tudo para sobreviver, alguns vegetando, feito a cachorrada esquálida que rondava os pilares das palafitas. Via mulheres cujos rostos e gestos lembravam os de minha mãe, via crianças que um dia seriam levadas para o orfanato que Domingas odiava. Depois caminhava pelas praças do centro, ia passear pelos becos e ruelas do bairro da Aparecida e apreciar a travessia das canoas no porto da Catraia. O porto já estava animado àquela hora da manhã. Vendia-se tudo na beira do igarapé de São Raimundo: frutas, peixe, maxixe, quiabo, brinquedos de latão. O edifício antigo da Cervejaria Alemã cintilava na Colina, lá no outro lado do igarapé. Imenso, todo branco, atraía o meu olhar e parecia achatar os casebres que o cercavam. [...]. Mirava o rio. A imensidão escura e levemente ondulada me aliviava, me devolvia por um momento a liberdade tolhida. Eu respirava só de olhar para o rio. E era muito, era quase tudo nas tardes de folga. Às vezes Halim me dava uns trocados e eu fazia uma festa. Entrava num cinema, ouvia a gritaria da plateia, ficava zonzo de ver tantas cenas movimentadas, tanta luz na escuridão. [...]. (HATOUM, Milton. Dois irmãos. 19. reimpr. São Paulo: Companhiadas Letras, 2015. p. 59-60.)
Assinale a alternativa que indica corretamente a sequência tipológica que predomina no texto: a) Descritiva. Verbos de estado e no pretérito imperfeito, associados a enumerações e a adjetivações, mostram cenas de Manaus sob o ponto de vista do enunciador do texto. b) Narrativa. Verbos de ação, associados a marcadores temporais, são responsáveis por mostrar o percurso feito pelo narrador na cidade e os conflitos por ele ali vividos. c) Dissertativo-argumentativa. O enunciador utiliza informações, fatos e opiniões para convencer o interlocutor de que a cidade que não se vê também deve ser considerada importante. d) Injuntivo-instrucional. O enunciador se vale do apelo para instruir o interlocutor sobre os caminhos possíveis para se conhecer a cidade de Manaus que não se vê..
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PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (PUC GO) A mulher que comeu o amante Minueto em dó menor
[...] Era questão de ponto de vista. Podia matar sumariamente que ninguém saberia jamais. Mas ele já se viciara com a justiça. Precisava achar uma desculpa, um pé qualquer para justificar seu crime e começou a nutrir um ódio feroz pelo velho. Foi Camélia que propôs um dia: – Bamo matá o cujo? De tarde, o velho estava agachado, santamente despreocupado, cochilando na porta do rancho, quando o primo deu um pulo em cima dele, e numa mão de aloite desigual, sojigou o bruto, amarrou-lhe as mãos e peou-o. O velho abriu os olhos inocente e perguntou que brinquedo de cavalo que era aquele. — Que nenhum brinquedo, que nada, seu cachorro! ocê qué me matá, mais in antes de ocê me jantá eu te armoço, porqueira. Vou te tacá ocê pras piranhas comê, viu! Januário pediu explicação: – apois se é pra móde a muié ocê num carece de xujá sua arma. Eu seio que ocês tão viveno junto e num incomodo ocês, mas deixa a gente morrê quando Deus fô servido. – Depois fez uma careta medonha e seus olhos murchos, cansados, encheram-se de lágrimas, que corriam pela barba branca e entravam na boca contraída. O moço, porém, falava com uma raiva convicta, firme, para convencer a si mesmo da necessidade do ato: — Coisa ruim, cachorro, farso. A covardia, a fraqueza do velho davam-lhe força, aumentavam a sua barbaridade. E foi daí que ele carregou Januário e o atirou ao poço, entre os garranchos e as folhas podres. Uma lágrima ainda saltou e caiu na boca de Camélia que estava carrancuda e quieta atrás do primo. Ela teve nojo, quis cuspir fora, mas estava com tanta saudade de comer sal que resolveu engulir. O corpo de Januário deu uns corcovos elegantes, uns arrancos ágeis; depois uns passos engraçados de cururu ou de recortado e se confundiu com o sangue, com os tacos de porcaria. [...] (ÉLIS, Bernardo. A mulher que comeu o amante. In: ______. Melhores contos. 4. ed. São Paulo: Global, 2015. p. 20-21.)
Assinale a alternativa correta no que diz respeito à linguagem, ao discurso narrativo e ao ponto de vista das personagens no conto “A mulher que comeu o amante”, de Bernardo Élis, de que o texto é fragmento: a) Embora o narrador pareça isento de julgamentos morais, estes aparecem à revelia de seu discurso.
b) A linguagem das personagens se confunde com o discurso do narrador na maior parte da narração. c) Embora haja crueldade no assassinato de Januário, o narrador mostra-se cúmplice do crime. d) O espaço narrativo das personagens reforça o caráter de imoralidade e barbaridade de suas ações. 02. (IBMEC SP)
Disponível em: http://www.bocamaldita.com/wp-content/ uploads/2015/06/NaniIdeologias.jpg. Acesso em 02/09/2015
Nessa charge, o recurso utilizado para produzir humor é a a) linguagem nonsense, apresentando sentidos inconsistentes para as palavras “esquerda” e “direita”. b) metaforização do termo “direita”, indicando a inquietação existencial do personagem. c) polissemia das palavras “esquerda” e “direita”, com acepções associadas a diferentes campos semânticos. d) metalinguagem, traduzindo e revelando os sentidos implícitos do termo “esquerda”. e) repetição do termo “direita” como forma de denunciar a opressão política. 03. (Uniderp MS) Bioética: a mudança da postura ética O Juramento de Hipócrates é uma preciosidade do 2 pensamento humano voltado para o bem do próximo. 3 Nestes 25 séculos, em que vem sendo a base da postura 4 ética dos médicos, porém, aconteceram, além da 5 evolução acentuada do conhecimento médico e humano 6 em geral, importantes mudanças sociais, que afetaram 7 profundamente a relação do médico com seu paciente, 8 exigindo a adequação de sua conduta moral aos novos 9 padrões adotados pela sociedade. [...]. Ele reflete o 10 espírito da época em que foi escrito, pois os gregos antigos 11 deram grandes contribuições à evolução humana, porém 12 as ideias sobre os direitos de todos os homens e a luta 13 pela sua implantação na sociedade são bem posteriores. 1
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A Revolução Francesa é o marco histórico do seu efetivo 15 desencadeamento. Nela os cidadãos passam a pugnar 16 pela igualdade de direitos de todos os homens perante 17 a lei, pela liberdade para decidir o que é melhor para si e 18 para todos e pela união de todos para o bem comum. 19 Essa revolução continua em andamento e nas últimas 20 décadas vem atingindo a medicina de maneira cada vez 21 mais intensa. Suas ideias foram sendo estruturadas em 22 um novo corpo de conhecimentos, dando origem a uma 23 nova disciplina: a bioética. 24 Esta denominação é atribuída ao oncologista 25 norte-americano Van Rensselaer Potter, que a utilizou 26 pela primeira vez no livro Bioethics: bridge to the future. 27 Seu objetivo era promover um novo diálogo entre ciência 28 e humanismo que pareciam incapazes de comunicar-se. 29 Preocupado com a sobrevivência ecológica do planeta e 30 com a democratização do conhecimento científico, 31 aspirava a produzir uma disciplina que combinasse o 32 conhecimento biológico (bio) com o do sistema de 33 valores humanos (ética). [...] O importante da proposta 34 futurista de Potter é a ideia de que a constituição de 35 uma ética aplicada às situações de vida seria o caminho 36 para a sobrevivência da espécie humana. E, mais: para 37 essa ciência da sobrevivência não seria preciso um 38 conhecimento rigoroso da técnica, mas sim respeito aos 39 valores humanos. 40 Esta proposta de associar as ciências da vida e a 41 ética (visando ao bem-estar dos seres humanos e dos 42 animais e a salvaguarda do meio ambiente) é o que se 43 mantém hoje como o espírito da bioética. 44 O nascimento da bioética foi precedido de 45 importantes transformações ocorridas no cenário social, 45 político e tecnológico entre as décadas de 1960 e 1970. 46 Por um lado, um grande desenvolvimento tecnológico 47 fez surgir dilemas morais inesperados relacionados à 48 prática biomédica (morte encefálica, doação de órgãos 50 para transplante, bebê de proveta, descarte de embriões 51 etc.). Por outro, os anos 1960 foram também a era da 52 conquista dos direitos civis, o que fortaleceu o 53 ressurgimento de movimentos sociais organizados, 54 promovendo, com isso, um revigoramento dos debates 55 acerca da ética normativa e aplicada. [...] 56 Jonsen pontua três acontecimentos como tendo 57 papel particularmente importante na consolidação da 58 disciplina. O primeiro foi o artigo publicado na revista Life, 59 em 1962, que contou a história do Comitê de Seattle, o 60 qual, de forma inusitada, passou o processo de decisão 61 médica para o domínio público, ao delegar os critérios 62 de seleção de atendimento para um pequeno grupo de 63 pessoas, todas leigas em medicina. O segundo evento 64 foi o artigo de Beecher, no New England Journal of65Medicine, em 1966, no qual, ao analisar pesquisas 66 científicas em seres humanos, publicadas em periódicos 67 de grande prestígio internacional, mostrou que cerca de 68 12% dos artigos médicos continham graves 69 transgressões à ética. O terceiro evento foi o primeiro 70 transplante cardíaco, em que a principal pergunta 71 era: — Como Barnard
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podia garantir que o doador estava 72 realmente morto no momento do transplante? Esse fato 73 lançou questões de difícil resposta, entre elas: —74 Quando alguém deve ser considerado morto? Se o 75 cérebro morrer, morre também a pessoa? [...] 76 A bioética, em nossa opinião, deve ser vista não 77 como uma derrubada da ética médica clássica (tanto 78 que ela adotou os seus princípios básicos, a beneficência 79 e a não maleficência), mas como a sua adaptação aos 80 novos tempos, com a consequente mudança de postura 81 do médico, para dar uma melhor resposta aos desafios 82 éticos surgidos com as mudanças sociais e a evolução 83 do conhecimento e da tecnologia. MUÑOZ, Daniel Romero. Bioética: a mudança da postura ética. Rev. Bras. Otorrinolaringol. v.70 n.5 São Paulo Set./Out. 2004. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 72992004000500001>. Acesso em: 25 out. 2016.
Sobre a natureza do texto, é correto afirmar que ele constitui 01. uma declaração dos princípios a serem observados no exercício das profissões que lidam com a vida. 02. uma exposição sobre os fatos e circunstâncias que, historicamente, deram origem ao conceito de bioética. 03. um conjunto argumentos do autor na defesa do juramento de Hipócrates e da tradição que ele representa. 04. uma descrição dos principais problemas que a bioética vem enfrentando com a evolução da ciência e tecnologia. 05. um conjunto de assertivas sobre a necessidade urgente de superação dos princípios da ética médica clássica. 04. (Uerj RJ) A EDUCAÇÃO PELA SEDA Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. Rosa Amanda Strausz Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
O conto contrasta dois tipos de texto em sua estrutura. Enquanto o segundo parágrafo se configura como narrativo, o primeiro parágrafo se aproxima da seguinte tipologia: a) injuntivo b) descritivo c) dramático d) argumentativo 05. (Unemat MT) Neurociência Paraplégico volta a andar após cirurgia revolucionária Graças a um transplante de células da cavidade nasal, o búlgaro Darek Fidyka, de 40 anos, recuperou um rompimento total dos nervos da coluna vertebral. Feito é comparado à chegada do homem à Lua Um homem paraplégico voltou a andar graças a um transplante de células nervosas realizado na Polônia, em uma operação sem precedentes. Derek Fidyka, um búlgaro de 40 anos, é a
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
(Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/ paraplegicovolta- a-andar-apos-cirurgia-revolucionaria. Acesso em 21/10/2014)
Ainda em relação ao texto “Paraplégico volta a andar após cirurgia revolucionária”, a utilização de discurso direto, a abundância de sequenciadores temporais e o predomínio de verbos no pretérito contribuem para que o texto seja classificado na tipologia a) Descritiva. b) Argumentativa. c) Expositiva. d) Injuntiva. e) Narrativa.
06. (UEG GO) Sobre a descrição Acho que o cenário e a textura são muito mais importantes para que o leitor se sinta dentro da 2 história do que qualquer descrição física dos personagens. Também não acho que a descrição física deva 3 ser um atalho para o caráter. Então, me poupem, por favor, dos “astutos olhos azuis” e do “resoluto queixo 4 proeminente” do herói, e também das “arrogantes maçãs do rosto” da heroína. Esse tipo de coisa é 5 técnica ruim e escrita preguiçosa, o equivalente a usar uma série de advérbios cansativos na narração. 6 Para mim, a boa descrição consiste em apenas alguns detalhes bem escolhidos que vão falar por 7 todo o resto. Na maioria dos casos, esses detalhes serão os primeiros a lhe ocorrer. E certamente vão ser 8 o bastante para começar. Se depois você decidir mudar, acrescentar ou excluir alguma coisa, faça o que 9 tiver que fazer – é para isso que serve a reescrita. Eu, porém, acho que você vai perceber que, na maioria 10 dos casos, os primeiros detalhes visualizados serão os melhores e mais verdadeiros. Não se esqueça (e 11 suas leituras vão comprovar minha afirmação repetidas vezes, caso você comece a duvidar) de que é tão 12 fácil descrever demais quanto descrever de menos. Talvez seja até mais fácil. 13 Um de meus restaurantes favoritos em Nova Iorque é o Palm Too, na Segunda Avenida. Se eu 14 decidisse criar uma cena naquele lugar, com certeza estaria escrevendo sobre o que conheço, pois já 15 estive lá em várias ocasiões. Antes de começar a escrever, tiro um momento para buscar uma imagem do 16 lugar, desenhando com a memória e preenchendo o olhar de minha mente, que fica cada vez melhor com 17 o uso. Chamo de olhar mental, mas o que eu realmente quero fazer é abrir todos os meus sentidos. Essa 18 busca na memória será breve, porém intensa, um tipo de evocação hipnótica. E, como acontece com a 19 hipnose de verdade, quanto mais vezes você tentar, mais fácil será conseguir. 1
KING, Stephen. Sobre a escrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. p.151
Considerando-se o aspecto estilístico do texto, verifica-se que ele está escrito em um estilo mais próximo da linguagem a) científica, tendo em vista a ocorrência de termos técnicos, tais como “cenário”, “textura”, além de um extenso vocabulário do campo da linguística. b) erudita, o que fica patente pelo uso dos vocábulos “astutos”, “resoluto”, “proeminente”, algo feito para se mostrar um vocabulário rico e variado na escrita. c) jornalística, que obedece à norma-padrão da língua e usa pronomes de primeira e segunda pessoas do discurso, típicas do jornalismo informativo atual. d) coloquial, o que pode ser comprovado pelo uso das formas “Acho que”, “me poupem”, além do uso de locuções formadas pelo verbo ir + infinitivo para indicar futuro. e) técnica, tendo em vista que há vários termos do campo gramatical, tais como “descrição”, “advérbios”, restringindo seus leitores a um determinado grupo de especialistas. 731
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primeira pessoa do mundo a se recuperar de um rompimento total dos nervos da coluna vertebral. Ele recebeu um transplante de células de sua cavidade nasal para a medula espinhal e, após reabilitação de um ano, ele pode caminhar com o auxílio de um andador – Fidyka também recuperou algumas funções da bexiga e do intestino. “Para mim, isto é ainda mais impressionante do que um homem caminhando na Lua”, afirmou Geoffrey Raisman, professor do Instituto de Neurologia do University College de Londres (UCL), na Inglaterra, e um dos autores do estudo publicado na revista Cell Transplantation. [...] A cirurgia foi realizada por uma equipe médica polonesa, coordenada pelo neurocirurgião Pawel Tabakow, da Universidade de Wroclaw, na Polônia, um dos maiores especialistas em lesões medulares do mundo. Os médicos utilizaram células nervosas do nariz do paciente a partir das quais se desenvolveram os tecidos seccionados – o complexo circuito responsável pelo olfato é a única parte do sistema nervoso que se regenera durante toda a vida e foi essa característica que os cientistas procuraram reproduzir na lesão de Fidyka. As células do próprio paciente não seriam rejeitadas e o tecido medular poderia ser reparado. A técnica de transplante, descoberta na UCL, apresentou bons resultados em laboratório, mas nunca havia sido testada com sucesso em um ser humano. Na primeira das duas operações, os cirurgiões removeram os bulbos olfativos do paciente e fizeram as células crescer em cultura. Duas semanas depois, foi feito o transplante de medula por meio de microinjeções. Fidyka manteve seu programa de condicionamento – cinco horas de exercícios durante os cinco dias da semana – e percebeu que a cirurgia havia sido bem sucedida quando, após três meses, sua coxa esquerda começou a desenvolver músculos. Seis meses depois, deu seus primeiros passos com o apoio de fisioterapeutas. Agora, após dois anos, caminha apenas com o andador. De acordo com os cientistas, exames mostraram que a lacuna na medula espinhal do paciente se fechou após o tratamento. “Nós acreditamos que o procedimento é uma descoberta capital que, se for bem desenvolvida, constituirá uma mudança histórica para as pessoas que sofrem de ferimentos na coluna cerebral”, declarou Raisman.
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PORTUGUÊS Por falar nisso Ao longo deste ano, nós pudemos estudar diversos gêneros textuais, dentre eles, alguns com caráter mais narrativo e descritivo, os quais são utilizados para contar histórias, relatar acontecimentos, e outros com caráter mais argumentativo, cujos objetivos são persuadir ou dissuadir o leitor. Nesse sentido, a formação de vocês, estudantes, foi propositiva para a realização de vários exames de ingresso em Universidades Federais, que, exceto o Enem, que só exige do candidato a proficiência escrita para a dissertação argumentativa, podem exigir conhecimentos em relação à estrutura, ao conteúdo e à elaboração de textos de outros gêneros textuais. Desse modo, estudamos no decorrer do ano como fazer cartas, editoriais, notícias, contos, crônicas dentre vários outros gêneros textuais, a fim auxiliá-los a interpretar e compreender bem a leitura de outros textos. Assim, neste final de ano, atente-se para os últimos gêneros textuais que estudaremos. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
D17 D18 D19 D20
Relato pessoal .............................................................................. 734 Diários ........................................................................................... 740 Relatório ........................................................................................ 746 Textos injuntivos ........................................................................... 751
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PORTUGUÊS
MÓDULO D17
ASSUNTOS ABORDADOS n Relato pessoal n Características n Pontos importantes n Possível estrutura
RELATO PESSOAL O relato pessoal é um gênero textual que, assim como textos da tipologia narrativa, apresenta e relata a narração de um acontecimento marcante ou de um fato interessante que afeta a vida do narrador do relato. Textos caracterizados como relatos apresentam também forte carga de emoção, trazendo os sentimentos que são transmitidos pelo narrador. No relato pessoal, o narrador é sempre o protagonista da história. Como característica da narração, o relato apresenta tempo e espaço bem definidos. Entretanto, esse tipo de gênero textual também pode ser descritivo, com a apresentação do local, do tempo, das personagens e dos objetos. A linguagem empregada nos relatos pessoais, como o próprio nome já sugere, é comumente mais informal, devido à pessoalidade desse tipo de texto. No entanto, a depender do grau de intimidade entre os interlocutores, isto é, o autor do texto e o(s) leitor(es), assim como a finalidade social que o texto propõe abarcar, a linguagem pode ser mais ou menos formal. Por fim, o relato pessoal, exercendo a sua função comunicativa, pode ser divulgado por diversos meios de comunicação, como jornais, revistas, livros, blogs e outras redes sociais. Os relatos pessoais também podem ser nas modalidades escrita ou oral. Ao longo deste módulo nosso foco recairá sobre os relatos pessoais escritos, que podem ser exigidos em diversos exames vestibulares.
Características As características principais de relatos pessoais são: n n n
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Textos narrados em primeira pessoa do singular; Presença de verbos no presente do indicativo (descrição) e no pretérito perfeito (narração); Caráter subjetivo, devido ao protagonismo do narrador; Relato de experiências pessoais relevantes para o narrador e o leitor.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Pontos importantes O relato pessoal não possui uma estrutura fixa. Assim sendo, para escrever um relato pessoal é essencial que estejamos atentos para pontos importantes: n n n n n n
Quem? > narrador do relato O quê? > fato narrado Quando? > tempo e circunstâncias Onde? > local onde ocorreu a experiência Como? > a maneira como o fato ocorreu Por quê? > a causas principais para a experiência
Possível estrutura
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Título: embora o título não seja necessário em todos os relatos, a depender, é claro, das exigências do exame vestibular, há alguns indicados com um título referente ao tema que será abordado. Tema: é importante primeiramente escolher o tema, ou seja, o assunto que será abordado no relato pessoal. Dentre os temas, que podem já de início serem escolhidos pela banca examinadora, estão: um evento que ocorreu, por exemplo: uma fase da vida do narrador, uma conquista, uma superação ou até mesmo uma história triste que envolva os sentimentos do narrador. Introdução: nessa parte é possível encontrar o local, tempo e personagens que fazem parte da narrativa. Trata-se de um pequeno trecho em que aparecem as principais ideias que se quer relatar. Contexto: é o momento de descrição das cenas do relato. Observe em que contexto se passa o relato que será narrado. Fique atento quanto à utilização dos tempos verbais no presente do indicativo e no pretérito perfeito, como também, ao espaço onde ocorrem os fatos. Personagens: fique atento no seu relato e observe quais são as pessoas envolvidas e de qual maneira devemos mencioná-las no texto.Descreva a personalidade delas, as ações e as principais motivações. Desfecho: depois de apresentar a sequência de fatos, é extremamente importante pensar em uma conclusão para o seu relato. Assim, escreva o motivo de ter escrito um relato ou, também, por que razão o relato precisa ser lido pelos seus leitores.
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Unemat MT)
INTRODUÇÃO Há muito tempo, o Brasil pertencia a Portugal. Naquela época, os países europeus mais ricos conquistavam colônias para plantar, criar gado e procurar ouro. Quem fazia todo esse trabalho eram os escravos. Por isso, o Brasil recebeu muitos homens e mulheres que foram capturados em diversos lugares da África e escravizados. Eles eram bantos, iorubás, jejês, minas, malês, entre outros. Todos esses povos tinham sociedades bem organizadas, culturas ricas, tradições bonitas. No entanto, muitos não tinham escrita. Por isso, a história de seus povos, os segredos da sua religião, os modos de fazer as coisas eram contados pelos mais velhos para os mais novos. Os africanos que vieram para o Brasil lembravam-se de muitas dessas histórias. Então eles contaram para os filhos como o seu povo tinha surgido: falaram de seus deuses, de seus mistérios, de sua sabedoria. Voltaram a cultuar seus orixás, inquices, voduns. E as velhas lendas continuaram a ser narradas. As seis histórias deste livro são uma amostra da sabedoria que o Brasil recebeu da África. Elas falam da criação do mundo e de alguns deuses afro-brasileiros.
LODY, Raul. Seis pequenos contos africanos sobre a criação do mundo e do homem. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2011. p. 5.
Levando em conta o texto acima, podemos dizer que esse texto: a) Constitui a parte inicial de uma obra e a leitura da introdução não é essencial para o entendimento da temática desenvolvida. b) Apresenta de forma breve o princípio da coerência de sentido da obra, relacionando a estrutura composicional e a temática desenvolvida por ela. c) Registra o significado global da obra como resultado de uma combinação de estrutura e tema geradores de sentido. d) Define o sentido de cada parte da obra como constituinte de um todo significativo. e) Constitui o sentido de quebra de expectativa de leitura da obra. 02. (PUC Campinas SP) Plebiscito
D17 Relato pessoal
A cena passa-se em 1890. A família está toda reunida na sala de jantar. O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade. Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário-belga. Os pequenos são dous, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.
736
Silêncio. De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta: – Papai, que é plebiscito? O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme. O pequeno insiste: – Papai? Pausa: Papai? Dona Bernardina intervém: – Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal. O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos. – Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer 12 anos e não sabes ainda o que é plebiscito? – Se soubesse não perguntava. (AZEVEDO, Artur. In: Mar de histórias: antologia do conto mundial: caminhos cruzados, v. 6. Org. Aurélio Buarque de Holanda e Paulo Rónai, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. p. 199-200)
Afirma-se com correção sobre o acima apresentado: a) A ambientação, que se limita à linha inicial, comprova que o texto foi escrito para ser representado, isto é, comprova que o fragmento transcrito faz parte de uma peça teatral. b) O leitor, nesse texto, em que não se tem acesso aos pensamentos das personagens, inteira-se das informações exclusivamente por meio do diálogo entre elas. c) A presença de alguém que conta uma história, nesse texto, está limitada à indicação das personagens, do cenário e da época da ação, dados necessários à compreensão do que vem depois. d) As falas das personagens são mediadas por intervenções que devem ser atribuídas a uma testemunha da cena, embora essa personagem não manifeste intimidade com a família, de que é prova o tratamento distanciado notado em O senhor Rodrigues, Dona Bernardina. e) A frase De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta consiste na introdução do diálogo pela mesma voz que se faz presente nas linhas iniciais do texto. 03. (Unesp SP) Considere os fragmentos de um livro do búlgaro Tzvetan Todorov (1939-), linguista e teórico da literatura. A literatura em perigo A análise das obras feita na escola não deveria mais ter por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando, então, os textos são apresentados como uma aplicação da língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
(Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)
Que melhor introdução à compreensão das paixões e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios? Com base no fato de que a palavra “imersão”, usada na expressão uma imersão na obra, caracteriza uma metáfora, indique a alternativa que elimina essa metáfora sem perda relevante de sentido: a) uma imitação da obra. b) uma paráfrase da obra. c) uma censura da obra. d) uma transformação da obra. e) uma leitura da obra. 04. (Enem MEC) TEXTO I Convivemos com o modelo de pirâmide social, no qual uma grande base de excluídos sustenta alguns poucos privilegiados situados no topo da pirâmide socioeconômica, modelo esse que se repete, ipsis litteris, no caso do acesso ao chamado mundo da cibercultura. E, mesmo com todas as políticas públicas de implantação de telecentros, infocentros, pontos de cultura e programas de introdução de computadores nas escolas, ainda percebemos que os conectados, no Brasil, são, em grande maioria, os que estão nas camadas mais altas da sociedade. PRETTO, N. L.; SILVEIRA, S. A. (Org.) Além das redes de colaboração: internet,diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: Edufba, 2008 (fragmento).
TEXTO II
CARUSO, F.; SILVEIRA, C. Quadrinhos para a cidadania. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, jan.-mar. 2009.
Os dois textos apresentam pontos de vista críticos sobre os usos sociais que são feitos dos sistemas de comunicação e informação. Em ambos, problematiza-se a a) distância existente entre o avanço das tecnologias da informação e comunicação e o efetivo acesso de todas as classes sociais a esse aporte tecnológico. b) política de introdução de computadores nas escolas e a restrição de apoio financeiro a determinadas regiões do Brasil. c) carência de laboratórios de informática e a falta de acesso à rede mundial de computadores nas escolas públicas. d) falta de formação dos alunos para o acesso ao mundo digital e o uso inapropriado dos equipamentos. e) quantidade insuficiente de professores para trabalhar com as tecnologias da informação e ensiná-las aos alunos. 737
D17 Relato pessoal
esse sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano, o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler: “O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.” Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente dado pela própria existência humana. Todas as grandes obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão dessa dimensão. O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos” são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si mesmos. (...) (...) (...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a compreende se tornará não um especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios? E, de imediato: que melhor preparação pode haver para todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais preparatórios para concurso que hoje determinam o seu destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas, tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da vida dos povos quanto da de seus indivíduos. Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja, ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras que ajudam a viver melhor.
Português
Exercícios Complementares 01. (EBMSP BA) Como vivemos numa sociedade capitalista de consumo, onde prevalece o interesse da díade produtor/ consumidor, estamos em face de uma situação efetivamente complexa quando o assunto é mídia, saúde e doença. Com efeito, verificamos, por um lado, que saúde aparece como coletiva quando e porque é informação sobre saúde e doença publicizada pela mídia. Por outro lado, essa informação, que é coletiva porque é veiculada pela mídia, num contexto socioeconômico como o nosso, torna-se privada na recepção, na decodificação, não apenas porque cada pessoa decodifica a mensagem a seu modo – o que é natural, desejável e democrático – mas também – o que não é natural, nem desejável, nem democrático – porque o conteúdo da mensagem é de natureza privada: os remédios que cada consumidor individual precisa tomar, os tratamentos que precisa seguir. LEFÈVRE, Fernando. A saúde como fato coletivo. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/sausoc/v8n2/05. pdf>. Acesso em: 7 mar. 2017.
A análise dos aspectos coesivos do texto está correta em a) O conectivo “Como”, em “Como vivemos numa socieda-
expressões ordenamento jurídico ou ordem jurídica. Com isso, transmite-se a ideia de que as normas jurídicas constituem um sistema harmônico, um conjunto ordenado e hierarquizado de leis. COSTA, Alexandre Araújo. O conceito de direito. Disponível em:<http://www. arcos.org.br/livros/introducao-ao-direito>. Acesso em: 12 set. 2016.
O texto faz referência a um discurso considerado senso comum, que não é necessariamente o posicionamento ideológico do articulista, mas que se caracteriza pela indeterminação do termo agente do processo verbal. Esse recurso linguístico se explicita no seguinte fragmento: a) “O senso comum dos juristas faz uma estreita ligação entre direito e Estado”. b) “o direito é ‘o conjunto de normas de conduta obrigatórias estabelecidas ou autorizadas pelo próprio Estado e garantidas pelo seu poder’ ”. c) “Para acentuar o fato de que o direito não é um conjunto desorganizado de normas”.
de capitalista de consumo” traz, implícita, uma compa-
d) “os juristas referem-se frequentemente ao direito utili-
ração, para iniciar o desenvolvimento das informações
zando as expressões ordenamento jurídico ou ordem ju-
sobre o tema principal. b) O pronome relativo “onde”, em “onde prevalece o interesse da díade produtor/consumidor”, retoma, no texto, o termo “consumo”, introduzindo uma característica considerada essencial nesse aspecto. c) A expressão “por um lado” se opõe a “Por outro lado”, desenvolvendo um paradoxo, mediante a introdução de posicionamentos que são inconciliáveis, segundo o articulista. d) O conectivo “e”, em “quando e porque é informação sobre saúde e doença publicizada pela mídia.”, soma, de forma concomitante, dois argumentos, que trazem as ideias de tempo e explicação. e) O termo “mas”, em “mas também – o que não é natural, nem desejável, nem democrático – porque o conteúdo da mensagem é de natureza privada”, introduz uma contestação ao que foi dito anteriormente. 02. (FBD BA)
D17 Relato pessoal
juristas referem-se frequentemente ao direito utilizando as
rídica”. e) “transmite-se a ideia de que as normas jurídicas constituem um sistema harmônico”. 03. (CEFET MG) Definição do amor Mandai-me, Senhores, hoje que em breves rasgos descreva do Amor a ilustre prosápia, E de Cupido as proezas. Dizem que de clara escuma, dizem que do mar nascera, que pegam debaixo d’água as armas que o Amor carrega. [...] O arco talvez de pipa,
O senso comum dos juristas faz uma estreita ligação entre
A seta talvez esteira,
direito e Estado, entendendo que o direito é “o conjunto
Despido como um maroto,
de normas de conduta obrigatórias estabelecidas ou auto-
Cego como uma toupeira.
rizadas pelo próprio Estado e garantidas pelo seu poder”. Para acentuar o fato de que o direito não é um conjunto desorganizado de normas, mas um sistema ordenado, os
738
[...]
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
E isto é o Amor? É um corno.
A palavra “pois”, empregada no início do segundo parágrafo do
Isto é o Cupido? Má peça.
texto, pode ter diferentes sentidos, dependendo do contexto. No texto em análise, “pois” indica (assinale a resposta correta):
[...]
a) a introdução de uma nova ideia na sequência do texto, ao mesmo tempo em que se retoma parcialmente o conteú-
O amor é finalmente Um embaraço de pernas, Uma união de barrigas,
do do que está no primeiro parágrafo a fim de que o texto progrida. b) a introdução de uma explicação sobre a falta de fé do perso-
Um breve tremor de artérias
nagem, que completa a ideia apresentada no primeiro pará-
Uma confusão de bocas,
grafo do texto.
Uma batalha de veias,
c) a apresentação de uma causa para a falta de fé do persona-
Um reboliço de ancas,
gem e o reforço de sua opção de crença, já que é religioso
Quem diz outra coisa é besta. Gregório de Matos: Poemas escolhidos (Seleção, prefácio e notas deJosé Miguel Wisnik). São Paulo: Cia das Letras, 2010, p. 301-312 (fragmento).
O termo grego “retórica” significa, literalmente, a arte de falar bem. Ele tem sido utilizado desde o Período Clássico para tratar da organização do discurso e do uso da linguagem para fins persuasivos. Dentre as estratégias retóricas utilizadas por Gregório
sem religião e vive uma paz interior. d) a apresentação de uma nova fase para o modo de crer do narrador, já que a aparição da velha reformulou seu modo de pensar. 05. (UFJF MG) Importância da atividade física
de Matos, distingue-se a
Mas o que é atividade física? De acordo com Marcello Mont-
a) presença de argumentos contrários ao senso-comum.
ti, atividade física é definida como um conjunto de ações que
b) construção de diálogos com diferentes interlocutores.
um indivíduo ou grupo de pessoas pratica envolvendo gasto de
c) apresentação dos argumentos principais na introdução.
energia e alterações do organismo, por meio de exercícios que
d) menção a deuses gregos para confirmação dos argumentos.
envolvam movimentos corporais, com aplicação de uma ou mais aptidões físicas, além de atividades mentais e sociais, de
04. (PUC GO) A velha engolida pela pedra Não sou homem de igreja. Não creio e isso me dá uma tristeza. Porque, afinal, tenho em mim a religiosidade exigível a qualquer crente. Sou religioso sem religião. Sofro, afinal, a doença da poesia: sonho lugares em que nunca estive, acredito só no que não se pode provar. E, mesmo se eu hoje rezasse, não saberia o que pedir a Deus. Esse é o meu medo: só os loucos não sabem o que pedir a Deus. Ou não se dará o caso de Deus ter perdido fé nos homens? Enfim, meu gosto de visitar as igrejas vem apenas da tranquilitude desses lugarinhos côncavos, cheios de sombras sossegadas. Lá eu sei respirar. Fora fica o mundo e suas desacudidas misérias. Pois numa dessas visitas me aconteceu o que não posso evitar de relembrar. A igrejinha era de pedra crua, dessa pedra
modo que terá como resultados os benefícios à saúde. No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia do que gastava há 100 anos, o que explica por que o sedentarismo afetaria aproximadamente 70% da população brasileira, mais do que a obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o diabetes e o colesterol alto. O estilo de vida atual pode ser responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral, as principais causas de morte em nosso país. Assim, vemos como a atividade física é assunto de saúde pública. Copyright © 2005 Bibliomed, Inc. 28 de Julho de 2005. Texto modificado. Disponível em: <http://www.boasaude.com.br/ artigos-de-saude/4772/-1/importancia-da-atividade-fisica.html>. Acesso em: 26/out/2016.
Na Introdução do texto, é dito que “No Brasil, o sedentarismo é
apreciava as figuras dos santos, madeiras com alma de se crer.
um problema que vem assumindo grande importância”. Pode-
Foi quando escutei uns bichanos. Primeiro duvidei. Eram sons
se falar sobre a locução verbal que:
que não se traduziam em nada de terrestre. Estaria eu a ser
a) seu verbo auxiliar está no presente do indicativo.
chamado por forças do além? Estremeci. Quem está preparado
b) sua conjugação refere-se ao momento passado.
para dialogar com a eternidade? Os sibilos prosseguiam e, en-
c) seu verbo principal está no futuro do pretérito.
tão, me discerni: era uma velha que me chamava [...]:
d) seu complemento é “um problema”.
(COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. 5. reimpr. São Paulo:Companhia das Letras, 2016. p.121-124.)
D17 Relato pessoal
tão idosa como a terra. Nem parecia obra de humano traço. Eu
e) seu sujeito é “o sedentarismo”.
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FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D18
ASSUNTOS ABORDADOS n Diários n Linguagem empregada n Tipos de diário n Características principais n Estrutura
DIÁRIOS Os textos do gênero textual diário são, de modo geral, textos pessoais, dentro dos quais o autor expõe experiências, opiniões, desejos e sentimentos, como também, acontecimento e fatos do cotidiano. Embora muitos prefiram compartilhar suas experiências diárias em redes sociais e o diário físico tenha caído em descrédito, muitos ainda preferem expor seus sentimentos em cadernos de anotações, com caneta e papel. Trata-se, pois, do diário manuscrito. Em tempos de redes sociais, com a comunicação virtual, muitos blogs têm se assemelhado a diários, uma vez que possuem as mesmas características e finalidades. Nesse caso, são chamados de diários virtuais. A palavra diário deriva do latim diarium, que, relacionada à palavra “dia”, significa aquilo que se faz todos os dias, ou seja, cotidianamente. Assim sendo, os diários também podem ser chamados de agendas, já que propõem um diálogo mais intimista entre o escritor e suas emoções. De modo geral, os diários não visam a um público leitor, já que são escritos para serem lidos pelas próprias pessoas autoras do diário ou por amigos mais íntimos, principalmente, porque diários reúnem diversos segredos, particulares ou intimidades do autor .
Linguagem empregada Nesse gênero textual, o protagonista e o leitor do diário, muitas vezes, são confundidos por se tratar da mesma pessoa. Quanto às características da linguagem empregada, é comum nos diários a utilização de expressões que caracterizem uma linguagem informal, coloquial, de maneira despreocupada e intimista. Há também a presença de expressões populares e gírias, as quais podem evidenciar traços de oralidade.
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Nesse sentido, como os blogs têm valido de maneira importante para a descrição de fatos diários, é comum ver nesses sites como realmente o tom empregado é mais coloquial e descontraído. No entanto, dependendo do público-alvo a quem é destinado esses textos, a linguagem empregada pode assumir um tom mais formal.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Tipos de diário Dentre os tipos de diários existentes, os mais comuns são os diários pessoais, que relatam as experiências da vida cotidiana do próprio autor/narrador do diário. Todavia, há também diários de viagem, que relatam os ocorridos em determinados passeios que marcaram a pessoa que o escreveu. Ademais, há ainda os diários de ficção, que, na verdade, são textos literários escritos segundo a proposição confessional e a estrutura dos diários pessoais. Além disso, vale ficar atento ao fato de que os diários também podem ser importantes documentos históricos de testemunho que mostram épocas marcantes para a história da humanidade. Um dos exemplos mais famosos desse tipo de diário, é o Diário de Anne Frank, no qual a autora, que é judia, ainda na fase da adolescência, discorre relatos sobre os dias em que passou escondida na Holanda, no processo histórico de perseguição dos judeus, durante o holocausto na Segunda Guerra Mundial.
Características principais As características principais dos diários são: n n n n n n n n n n n n
Presença de relatos pessoais; Veracidade das histórias relatadas; Registro de acontecimentos; Escritos em primeira pessoa do singular; Registros em ordem cronológica; Caráter intimista e confidente; Subjetividade e espontaneidade; Escrita com tom confessional; Vocabulário simples; Presença de vocativo; Linguagem informal; Textos assinados.
Estrutura
D18 Diários
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Os diários não apresentam uma estrutura fixa, no entanto, os textos dos diários podem ser estruturados da seguinte maneira:
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Português
n Data e Local: são indicadas no início do texto o local e a data
em que foi escrito, como numa carta.
n Vocativo: geralmente é incluído no começo do texto como:
“querido diário”, “querido amigo diário”. Em alguns casos, as pessoas preferem inventar um nome fictício para ele, como se fosse um amigo íntimo.
n Corpo de texto: trata-se do momento de desenvolvimento dos
relatos diários, as ideias, sensações do autor. O corpo de texto é, normalmente, organizado com introdução, desenvolvimento e conclusão.
n Assinatura: normalmente, os diários são assinados a cada dia.
No entanto, em muitos vestibulares exige-se a ausência de assinatura, para não haver identificação.
Exemplo Passo fundo, 31 de outubro de 1997. Querido Diário, Hoje já acordei com uma sensação estranha. Talvez por ser o “dia das bruxas”. Como habitual, fui à escola e logo pude entender que algo inusitado iria acontecer. Tivemos duas aulas vagas, pois o professor de geografia ficou doente. Na sala de aula, a Ana e a Célia ficaram dando risadinhas e olhando pra mim. Depois veio o Hugo e me disse que eu tinha um chiclete no cabelo. A minha questão foi: Quem colocou ele ali? E porque ao invés de me falarem ficaram rindo da minha cara? Fiquei muito chateada com a atitude delas e
de outras pessoas que passavam bilhetinho enquanto aproveitavam para olhar pra minha cabeça. No recreio, não tive coragem de falar com elas e fiquei no meu canto, lendo a matéria de história e aproveitando responder as questões que o prof. passou na aula passada. Quando cheguei em casa, almocei e fiquei enfiada no quarto o dia inteiro pensando que não quero mais voltar pra escola. Nem fome eu tive! Depois de tanto pensar, resolvi enfrentar o problema e escrevi uma carta pra Ana e pra Célia. Acho que ficou bem legal, ainda que no texto eu não reprovei a atitude delas. Pelo contrário, convidei elas para serem minhas amigas. Gosto delas, mas não gosto de injustiças, de caçoar dos outros. Acho muito feio rir de um defeito ou da desgraça alheia. Eu sei: tenho um coração mole!!! Tomara que amanhã isso não aconteça. Sobre isso, estive pensando qual profissão gostaria de ter no futuro e não cheguei numa conclusão concreta. Uma coisa eu sei: quero ajudar as pessoas e fazer diferença no mundo. Tenho fé nisso!!! Termino esse dia com a frase de um autor que gosto muito do Drummond: “Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos.” Boa noite! Helena. Texto extraído do site: https://www.todamateria.com.br/genero-textual-diario/
D18 Diários
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC) Romanos usavam redes sociais há dois mil anos, diz livro Ao tuitar ou comentar embaixo do post de um de seus vários amigos no Facebook, você provavelmente se sente privilegiado por viver em um tempo na história em que é possível alcançar de forma imediata uma vasta rede de contatos por meio de um simples clique no botão “enviar”. Você talvez também reflita sobre como as gerações passadas puderam viver sem mídias sociais, desprovidas da capacidade de verem e serem vistas, de receber, gerar e interagir com uma imensa carga de informações. Mas o que você talvez não saiba é que os seres humanos usam ferramentas de interação social há mais de dois mil anos. É o que afirma Tom Standage, autor do livro Writing on the Wall – Social Media, The first 2 000 Years (Escrevendo no mural – mídias sociais, os primeiros 2 mil anos, em tradução livre). Segundo Standage, Marco Túlio Cícero, filósofo e político romano, teria sido, junto com outros membros da elite romana, precursor do uso de redes sociais. O autor relata como
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Cícero usava um escravo, que posteriormente tornou-se seu escriba, para redigir mensagens em rolos de papiro que eram enviados a uma espécie de rede de contatos. Estas pessoas, por sua vez, copiavam seu texto, acrescentavam seus próprios comentários e repassavam adiante. “Hoje temos computadores e banda larga, mas os romanos tinham escravos e escribas que transmitiam suas mensagens”, disse Standage à BBC Brasil. “Membros da elite romana escreviam entre si constantemente, comentando sobre as últimas movimentações políticas e expressando opiniões.” Além do papiro, outra plataforma comumente utilizada pelos romanos era uma tábua de cera do tamanho e da forma de um tablet moderno, em que escreviam recados, perguntas ou transmitiam os principais pontos da actadiurna, um “jornal” exposto diariamente no Fórum de Roma. Essa tábua, o “iPad da Roma Antiga”, era levada por um mensageiro até o destinatário, que respondia embaixo da mensagem. NIDECKER. F. Disponível em: www.bbc.co.uk.Acesso em: 7 nov. 2013 (adaptado).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
02. (PUC RS) Leia o trecho do diário de viagem de Mário de Andrade, retirado de O turista aprendiz. “Durante esta viagem pela Amazônia, muito resolvido a... escrever um livro modernista, provavelmente mais resolvido a escrever que a viajar, tomei muitas notas como vai se ver. Notas rápidas, telegráficas muitas vezes. Algumas porém se alongaram mais pacientemente, sugeridas pelos descansos forçados do vaticano de fundo chato, vencendo difícil a torrente do rio. Mas quase tudo anotado sem nenhuma intenção da obra-dearte, reservada pra elaborações futuras, nem com a menor intenção de dar a conhecer aos outros a terra viajada. E a elaboração definitiva nunca realizei. Fiz algumas tentativas, fiz. Mas parava
03. (Enem MEC) Querido diário Hoje topei com alguns conhecidos meus Me dão bom-dia, cheios de carinho Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus Eles têm pena de eu viver sozinho [...] Hoje o inimigo veio me espreitar Armou tocaia lá na curva do rio Trouxe um porrete a mó de me quebrar Mas eu não quebro porque sou macio, viu HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento).
Uma característica do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico Buarque é o(a) a) diálogo com interlocutores próximos. b) recorrência de verbos no infinitivo. c) predominância de tom poético. d) uso de rimas na composição. e) narrativa autorreflexiva. 04. (Enem MEC)
logo no princípio, nem sabia bem porque, desagradado. Decer-
Blog é concebido como um espaço onde o blogueiro é livre
to já devia me desgostar naquele tempo o personalismo do que
para expressar e discutir o que quiser na atividade da sua es-
anotava. Se gostei e gozei muito pelo Amazonas, a verdade é que
crita, com a escolha de imagens e sons que compõem o todo
vivi metido comigo por todo esse caminho largo de água.”
do texto veiculado pela internet, por meio dos posts. Assim,
Com base no excerto e em seu contexto, preencha os parênte-
essa ferramenta deixa de ter como única função a exposição
ses com V para verdadeiro ou F para falso.
de vida e/ou rotina de alguém — como em um diário pessoal
( ) O diário de viagem é uma modalidade de narrativa que
—, função para qual serviu inicialmente e que o popularizou,
relata não só os acontecimentos transcorridos durante o
permitindo também que seja um espaço para a discussão de
percurso, mas também os sentimentos do sujeito viajante.
ideias, trocas e divulgação de informações
( ) As anotações do diário acompanhavam a rotina do barco:
A produção dos blogs requer uma relação de troca, que acaba
às vezes eram breves, outras mais longas em função das
unindo pessoas em torno de um ponto de interesse comum.
paradas e do movimento da embarcação nas águas do rio.
A força dos blogs está em possibilitar que qualquer pessoa,
( ) O narrador se assume como um tipo especial de viajante
sem nenhum conhecimento técnico, publique suas ideias e
porque não se integra à paisagem e ao ambiente da Ama-
opiniões na web e que milhões de outras pessoas publiquem
zônia, uma vez que a viagem que empreende é de ordem
comentários sobre o que foi escrito, criando um grande debate
subjetiva.
aberto a todos.
( ) Mário de Andrade se identifica como um turista aprendiz porque fez muitas anotações, escreveu um livro sobre a
LOPES, B. O. A linguagem dos blogs e as redes sociais. Disponível em: www.fateczl. edu.br. Acesso em: 29 abr. 2013 (adaptado).
viagem, corrigiu os originais e experimentou um persona-
De acordo com o texto, o blog ultrapassou sua função inicial e
lismo exacerbado.
vem se destacando como
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de
a) estratégia para estimular relações de amizade.
cima para baixo, é:
b) espaço para exposição de opiniões e circulação de ideias.
a) V – V – V – F
c) gênero discursivo substituto dos tradicionais diários pessoais.
b) V – F – V – F
d) ferramenta para aperfeiçoamento da comunicação virtual
c) V – F – F – F d) F – V – F – V e) F – F – V – V
escrita. e) recurso para incentivar a ajuda mútua e a divulgação da rotina diária.
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D18 Diários
Na reportagem, há uma comparação entre tecnologias de comunicação antigas e atuais. Quanto ao gênero mensagem, identifica-se como característica que perdura ao longo dos tempos o(a) a) imediatismo das respostas. b) compartilhamento de informações. c) interferência direta de outros no texto original. d) recorrência de seu uso entre membros da elite. e) perfil social dos envolvidos na troca comunicativa.
Português
Exercícios Complementares 01. (Fatec SP) Memorial de Aires é o último romance escrito por Machado de Assis, tendo sido publicado em 1908, ano da morte do autor. Obra de caráter autobiográfico, apresenta-se como diversas entradas em uma espécie de diário, em que a relação com a velhice, as dificuldades dos relacionamentos amorosos e a futilidade da elite brasileira no final do século XIX são retratadas por meio de uma série de episódios que se intercalam. O trecho a seguir foi retirado do prefácio Advertência, que introduz a obra. Quem me leu Esaú e Jacó talvez reconheça estas palavras do prefácio: “Nos lazeres do ofício escrevia o Memorial, que, apesar das páginas mortas ou escuras, apenas daria (e talvez dê) para matar o tempo da barca de Petrópolis”. Referia-me ao Conselheiro Aires. Tratando-se agora de imprimir o Memorial, achou-se que a parte relativa a uns dois anos (1888-1889), se for decotada de algumas circunstâncias, anedotas, descrições e reflexões, — pode dar uma narração seguida, que talvez interesse, apesar da forma de diário que tem. Não houve pachorra de a redigir à maneira daquela outra, — nem pachorra, nem habilidade. Vai como estava, mas desbastada e estreita, conservando só o que liga o mesmo assunto. O resto aparecerá um dia, se aparecer algum dia. ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. In:______. Obra completa. Rio de Ja-neiro: Nova Aguilar, 1986. p. 1096.
D18 Diários
Com base na leitura dos textos e nas obras de Machado de Assis, é correto afirmar que a) Memorial de Aires e O Alienista são obras de crítica social, mas não trazem a visão irônica da sociedade que é comum à produção machadiana. b) Quincas Borba e Memorial de Aires narram a trajetória de protagonistas que, apesar das imposições sociais, conseguem atingir seus objetivos. c) Memórias Póstumas de Brás Cubas e Memorial de Aires apresentam um narrador em terceira pessoa que relata os fatos tendo limitado conhecimento da história e dos detalhes da trama. d) Iaiá Garcia e Memorial de Aires apresentam características claramente identificadas com o movimento Realista, compondo, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, a chamada Trilogia Realista. e) Dom Casmurro e Memorial de Aires seguem a tradição do romance psicológico, debruçando-se nos motivos íntimos por trás das escolhas e das ações e reações das personagens. 02. (Fatec SP) 13 de maio Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a li-
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bertação dos escravos. ...Nas prisões os negros eram os bodes espiatorios. [....] Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. ...Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada: – Viva a mamãe! A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim: – “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude ir catar papel. Agradeço. Carolina.” ...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome! 29 de maio [....] ...Há de existir alguem que lendo o que eu escrevo dirá...isto é mentira! Mas, as miserias são reais. MARIA DE JESUS, Carolina. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2017. Adaptado.
O texto foi retirado do livro Quarto de Despejo, diário escrito por Carolina Maria de Jesus, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1950. A edição reproduz fielmente os manuscritos originais. Analisando a linguagem apresentada no trecho, conclui-se corretamente que a) a autora não apresenta reflexão crítica sobre suas experiências por desconhecer a variedade culta do português. b) o fato de a autora não utilizar a variedade culta se deve ao gênero do texto, uma vez que diários não são escritos visando à publicação. c) os problemas de ortografia, como em “espiatorio”, e de concordância, como em “quando eles vê”, ocorrem por predominar no texto o sentido denotativo.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
03. (UFRGS) Sobre o livro Quarto de despejo , de Carolina Maria de Jesus, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações. ( ) A história, estruturada em forma de diário, abarca cinco anos da vida de Carolina, que, segundo a narradora, suporta sua rotina de fome e violência através da escrita. ( ) A autora produz uma narrativa de grande potência, apesar dos desvios gramaticais presentes no texto. ( ) A narradora reflete sobre desigualdade social e racismo. A força do texto está no depoimento de quem sente essas mazelas no corpo e ainda assim se apresenta como voz vigorosa e propositiva. ( ) O livro, relato atípico na tradição literária brasileira, nunca obteve sucesso editorial, permanecendo esquecido até os dias de hoje. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) F – V – F – F. b) V – F – V – V. c) V – F – F – V. d) V – V – V – F. e) F – V – V – V. 04. (ACAFE SC) Sobre a obra Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, todas as alternativas estão corretas, exceto a: a) Mesclando a oralidade da gíria com o português formal, os 13 capítulos da obra empolgam pela linguagem ágil e narrativa naturalmente realista. Não por acaso, o livro despertou o interesse de produtores de cinema e de editores estrangeiros, interessados em explorar aspectos sociais inerentes à vida nas favelas. b) A protagonista relata seu “desgosto por ser mulher”, e diante das rivalidades e disputas entre as mulheres da favela (incluindo a narradora), ela afirma que gostaria de ter nascido homem e que isso tornaria sua vida mais fácil. c) Os textos que deram origem ao livro foram escritos entre 1955 e 1960 por uma moradora da favela que se expandia às margens do rio Tietê, no bairro do Canindé, e selecionados pelo repórter Audálio Dantas. d) Carolina em seu diário contrasta a ideologia desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, então presidente da república, com sua condição de vida na favela, o que a impede de nutrir simpatias por: “[...] o que o senhor Juscelino tem de aproveitável é a voz. Parece um sabiá [...] residindo na gaio-
la de ouro que é o Catete. Cuidado sabiá, para não perder esta gaiola, porque os gatos, quando estão com fome, contemplam as aves nas gaiolas. E os favelados são os gatos. Têm fome.” 05. (UFU MG) Leia os trechos do diário abaixo. A seguir, numere-os de 1 a 5, de modo a organizar o texto com coesão e coerência. Em seguida, assinale a alternativa correta. ( ) Tomara que amanhã isso não aconteça. Sobre isso, estive pensando qual profissão gostaria de ter no futuro e não cheguei numa conclusão concreta. Uma coisa eu sei: quero ajudar as pessoas e fazer diferença no mundo. Tenho fé nisso!!! Termino esse dia com a frase de um autor que gosto muito, do Drummond: “Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos. Boa noite! Helena ( ) No recreio, não tive coragem de falar com elas e fiquei no meu canto, lendo a matéria de história e aproveitando para responder as questões que o prof. passou na aula passada. Quando cheguei em casa, almocei e fiquei enfiada no quarto o dia inteiro pensando que não quero mais voltar pra escola. Nem fome eu tive! ( ) Na sala de aula, a Ana e a Célia ficaram dando risadinhas e olhando pra mim. Depois veio o Hugo e me disse que eu tinha um chiclete no cabelo. A minha questão foi: Quem colocou ele ali? E porque ao invés de me falarem ficaram rindo da minha cara? Fiquei muito chateada com a atitude delas e de outras pessoas que passavam bilhetinho enquanto aproveitavam para olhar pra minha cabeça. Ainda bem que bateu o sinal para o intervalo. ( ) Depois de tanto pensar, resolvi enfrentar o problema e escrevi uma carta pra Ana e pra Célia. Acho que ficou bem legal, ainda que no texto eu não reprovei a atitude delas. Pelo contrário, convidei elas para serem minhas amigas. Gosto delas, mas não gosto de injustiças, de caçoar dos outros. Acho muito feio rir de um defeito ou da desgraça alheia. Eu sei: tenho um coração mole!!!. ( ) Londrina, 05 de julho de 2013. Querido Diário, hoje já acordei com uma sensação estranha. Talvez por ser o “dia das bruxas”. Como habitual, fui à escola e logo pude entender que algo inusitado iria acontecer. Tivemos duas aulas vagas, pois o professor de geografia ficou doente. Ficamos de boa na sala. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/genero-textual-diario>. Acesso em: 03 mai. 2017. (Adaptado).
A sequência correta, de cima para baixo, é: a) 5, 4, 2, 3,1 b) 5, 2, 3, 4,1 c) 5, 4, 3, 2,1 d) 5, 3, 2, 4,1
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d) o texto é predominantemente conotativo, o que se nota por expressões como “hoje amanheceu chovendo” e “a chuva passou”. e) o texto aborda, de forma crítica e empregando linguagem informal, temas relevantes à sociedade, como fome e pobreza.
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FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D19
ASSUNTOS ABORDADOS n Relatório n Tipos de relatório n Estrutura
RELATÓRIO O gênero textual relatório é um texto que contém relatos sobre algo ocorrido, em que houve a participação do autor do relatório. No entanto, ele se difere do gênero textual relato pessoal, já estudado em aulas anteriores, pelo fato de poder ser desenvolvido nas modalidades escrita ou oral, visto que ele apresenta um total de informações bastante detalhadas sobre diversos temas O relatório é, principalmente, um texto da tipologia expositiva e descritiva. Todavia, há também relatórios que possuem um viés mais crítico, isto é, com a presença de argumentos, contra-argumentos e considerações pessoais de todo tipo. Os relatórios são, sobretudo, redações de caráter exclusivamente técnico, de extrema importância para se realizar o registro de atividades das mais diversas, sejam elas no ambiente escolar, em Universidade, ou até mesmo, no trabalho. Como exemplos, podemos citar: participações em eventos, visitas a organizações culturais, atividades em grupo no ambiente acadêmico ou no trabalho, relato de experiências profissionais, detalhamento de uma pesquisa, considerações críticas a respeito de livros literários ou filmes, dentre muitos outros.
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Em relação à linguagem presente nos relatórios, ela é sobremaneira formal, já que se trata de um texto bastante técnico e informativo. Desse modo, o autor deve utilizar a norma-padrão da língua portuguesa, além de precisar ficar atento à coerência e à coesão textual.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Tipos de relatório Os relatórios, a depender da finalidade do texto, podem ser classificados em vários tipos: n Relatório Escolar: são, sobretudo, textos escolares, nos quais o aluno deve relatar acerca
de atividades propostas pelo professor ou eventos que tenham ocorrido na escola.
n Relatório Científico: são textos escritos no ambiente universitário, logo após o término de
uma pesquisa acadêmica. De modo geral, trata-se de textos produzidos por estudante de ensino superior. Há, dentro desse tipo de relatório, diversos subtipos, como: o relatório de estágio, relatório de finalização de curso, relatório de participação em eventos, dentre outros.
n Relatório Administrativo: trata-se de textos que são produzidos diária, semanal ou men-
salmente, cujo objetivo é realizar o registro de atividades da empresa. São, essencialmente, produzidos pelos empregados do setor administrativo. Há dentro desse tipo, o subtipo: relatório de contas, por exemplo.
Além disso, eles podem ser assim classificados: n Relatório Crítico: trata-se de uma modalidade de relatório em que o autor revela seu
posicionamento e sua apreciação no corpo do texto, realmente, criticando o que está sendo relatado.
n Relatório de Síntese: são relatórios cujo objetivo, como o próprio nome já evidencia, é
fazer uma síntese, isto é, um resumo da situação relatada.
n Relatório de Formação: a partir do desenvolvimento de uma pesquisa ou de um projeto,
são escritos relatórios para informar aos coordenadores do projeto o desenvolvimento do trabalho.
Estrutura Cada tipo de relatório exige uma estrutura específica, mas, de modo geral, eles costumam ter um determinado padrão. Veja a seguir:
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Capa: na capa, devem conter: o título do trabalho, o nome dos integrantes do trabalho, o nome do professor orientador, da instituição, além, é claro, da data e do local. Índice: também conhecido por sumário, o índice, quando se trata de trabalhos mais longos, apresenta os subtítulos e as seções do trabalho, com a localização de cada página. Título: trata-se do nome de efeito e divulgação do trabalho. Introdução: nesse momento deve haver o local em que foi realizado o trabalho, a disciplina à qual pertence o relatório, além dos objetivos gerais e específicos e as justificativas circunstanciais que motivaram a escrita desse relatório. Desenvolvimento: é a maior parte do relatório. Trata-se do detalhamento das etapas do projeto de pesquisa. Nessa seção, pode haver: gráficos, tabelas, fotos, trechos de documentos, dentre outros. Conclusão: por fim, na conclusão, há um resumo ou síntese do que foi descrito no decorrer do trabalho. Trata-se da retomada das ideias exposta no trabalho todo, como os resultados obtidos em comparação com os resultados esperados.
D19 Relatório
n
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Português
Exercícios de Fixação 01. (UFPel RS) Leia o fragmento do texto de Martha Medeiros a seguir.
Outros estrangeirismos
D19 Relatório
(...)“A absorção de palavras estrangeiras é algo natural em qualquer cultura, não há motivo para organizar uma resistência. Claro que há certos exageros, principalmente no jargão empresarial, mas isso é questão de gosto: na minha opinião, de mau gosto. Me parece mais elegante apresentar um orçamento do que um budget, fazer uma reunião do que fazer um meeting e apresentar um relatório em vez de um paper, mas há quem se sinta um profissional mais competente falando assim. Afetação, só isso. De forma alguma coloca em risco nossa língua mãe. Utilizar palavras em inglês, vez que outra, é apenas uma rendição ao que se consagrou como universal. Não mata ninguém. E não deixa de ser didático, afinal, o turismo tem aumentado no mundo e é bom que se saibam algumas palavras-chaves. De minha parte, acho preferível fazer um happy hour do que ter uma hora felis com os amigos, fazer um checkin no aeroporto do que uma xecagem, executar downloads do que baichar músicas. O uso eventual do inglês (ou do francês, do italiano, do latim) não compromete em nada o nosso idioma.”(...) Das afirmações abaixo, a respeito dos textos dos cronistas gaúchos Veríssimo e Martha Medeiros, I. Os textos têm em comum o mesmo assunto – estrangeirismos. II. Os dois textos mostram que algumas pessoas usam estrangeirismos com forma de status. III. Apenas o texto de Martha Medeiros tem características que o diferenciam de um conto ou de uma carta. IV. Os equívocos ortográficos que aparecem no último parágrafo do texto “Outros estrangeirismos” (felis, xecagem, baichar...) demonstram o desconhecimento da autora em relação à língua portuguesa. Estão corretas a) apenas a IV. b) apenas a I e a II. c) apenas a II e a III. d) apenas a III e a IV. e) apenas a II. f) I.R. 02. (Ibmec SP ) Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) negaram nesta quinta-feira (14) cinco recursos que questionavam o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff
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– da validade do relatório de Jovair Arantes aprovado na Comissão Especial da Câmara na segunda-feira (11) à forma como será realizada a votação no plenário da Casa, no domingo (17). O STF começou a sessão extraordinária analisando uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) pedida pelo PCdoB sobre o rito de votação do processo definido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O PCdoB solicitava a adoção da chamada de deputados para votação em ordem alfabética, tal como ocorreu no processo de impeachment de Collor em 1992. O Plenário decidiu indeferir a liminar por 6 a 4, considerando que a votação intercalada entre deputados, um do Norte e um do Sul, não é inconstitucional. Votaram pelo indeferimento da liminar os ministros Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Celso de Mello. (...) Disponível em: <http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/04/stf-nega-liminar-e-mantem-votacao-de-impeachment-da-forma-como-cunha-definiu. html>. Acesso em 15.04.16.
O fragmento transcrito, embora faça parte de texto jornalístico, utiliza, por causa do assunto tratado, termos técnicos específicos do Direito, como ocorre em a) “a votação no plenário” b) “sessão extraordinária” c) “presidente da Câmara dos Deputados” d) “adoção da chamada de deputados” e) “decidiu indeferir a liminar” 03. (Enem MEC) A carreira nas alturas A água está no joelho dos profissionais do mercado. As fragilidades na formação da Língua Portuguesa têm alimentado um campo de reciclagem em Português nas escolas de idiomas e nos cursos de graduação para pessoas oriundas do mundo dos negócios. O que antes era restrito a profissionais de educação e comunicação, agora já faz parte da rotina de profissionais de várias áreas. Para eles, a Língua Portuguesa começa a ser assimilada como uma ferramenta para desempenho estável. Sem ela, o conhecimento técnico fica restrito à própria pessoa, que não sabe comunicá-lo. “Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia, muitos profissionais precisam escrever relatório, carta, comunicado, circular. Na linguagem oral, todos têm de expressar-se de forma convincente nas reuniões, para ganhar respeito e credibilidade. Isso vale para todos os cargos da hierarquia profissional” – explica uma professora de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. NATALI, A. Revista Língua, n. 63, jan. 2011 (adaptado).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Nos usos cotidianos da língua, algumas expressões podem assumir diferentes sentidos. No texto, a expressão “a água está no joelho” remete à a) exigência de aprofundamento em conhecimentos técnicos. b) demanda por formação profissional de professores e advogados. c) procura por escolas de idiomas para o aprendizado de línguas. d) melhoria do desempenho profissional nas várias áreas do conhecimento. e) necessidade imediata de aperfeiçoamento das habilidade comunicativas. 04. (UEG GO) A democratização do conhecimento Em 1988, a Folha divulgou a então denominada “lista improdutiva da USP”, relacionada à produção científica das universidades. A celeuma provocada pela lista contribuiu para a criação de um programa de avaliação das universidades brasileiras, mostrando que elas precisam prestar contas de sua produção científica. Em março de 1990, controversa medida provisória determinava a extinção da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do MEC), que fracassou devido à mobilização da comunidade científica. Esses são alguns dos muitos avanços e percalços da educação brasileira tratados no livro O MEC pós-constituição, do professor Célio da Cunha e colaboradores, editado pela Liber Livro Editora em colaboração com a Unesco e a Universidade Católica de Brasília. Célio da Cunha acumula conhecimento e experiência da área em funções na Unesco, CNPq (Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico) e universidades de Brasília e Federal de Mato Grosso há mais de 40 anos. Ele alerta para o fato de que a educação nacional precisa se situar acima de conflitos ideológicos e interesses partidários ou de grupos, visando ao futuro das novas gerações. A obra está dividida em onze capítulos nas suas 527 páginas e aborda temas de educação desde os eventos do famoso “Manifesto dos Pioneiros de 1932” à Constituição de 1988 e às gestões no MEC de 1988 a 2015. É destinada a pesquisadores da área de Educação e demais interessados em entender certos aspectos do sistema educacional brasileiro. ABRAMCZYK, Julio. Folha de S. Paulo, sábado, 5 mar. 2016, Ciência + Saúde, p. B9. (Adaptado).
De acordo com o texto, Célio da Cunha defende a seguinte tese a respeito da educação brasileira: a) A produção científica das universidades brasileiras precisa ser estimulada, reconhecida e amplamente divulgada em âmbito internacional. b) A divulgação de listas de ranking da produção científica das universidades é um instrumento importante para se verificar a qualidade do ensino. c) A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) é um órgão importante para o avanço do ensino superior no Brasil. d) As universidades brasileiras precisam prestar contas de sua produção científica em relatórios anuais, a fim de justificar sua relevância social. e) É necessário que a educação brasileira esteja voltada para o futuro das novas gerações e desvinculada de compromissos ideológicos particulares.
01. (UEG GO) O mundo como pode ser: uma outra globalização Podemos pensar na construção de um outro mundo a partir de uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir uma globalização perversa. Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos. Parece que as condições históricas do fim do século XX apontavam para esta última possibilidade. Tais novas condições tanto se dão no plano empírico quanto no plano teórico. Considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova
história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças ao progresso da informação, a “mistura” de filosofia, em detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite um ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas, de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (A rebelião das massas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude de sua aglomeração exponencial e de sua diversificação. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança.
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Exercícios Complementares
Português
É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A população, aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra, constitui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema técnico atual. No plano teórico, o que verificamos é a possibilidade de produção de um novo discurso, de uma nova metanarrativa, um grande relato. Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na história do homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. A universalidade deixa de ser apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência ordinária de cada pessoa. De tal modo, em mundo datado como o nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma história concreta. É isso, também, que permite conhecer as possibilidade existentes e escrever uma nova história. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 13. ed. São Paulo: Record, 2006. p. 20-21. (Adaptado).
D19 Relatório
O processo argumentativo do texto é construído a partir do seguinte procedimento: a) são expostas, de forma detalhada, duas consequências econômicas de um determinado modelo de organização de produção. b) relata-se o conjunto de ações desenvolvidas por uma instituição pública como fundamento e justificativa de um projeto de lei. c) elabora-se um quadro comparativo, no qual se apresentam a aproximação e os contrastes de dois tipos de pesquisa social. d) faz-se a explanação dos dados de um relatório técnico-científico de uma pesquisa desenvolvida por dois cientistas sociais. e) são apresentadas, de forma paralela, duas dimensões teórico-conceituais como argumentos em defesa de uma tese. 02. (UEPG PR) Relatório sugere que a França libere véu na escola Permitir que as alunas muçulmanas usem os véus típicos e promover o ensino de línguas árabes e africanas nas escolas francesas. Essas são algumas das recomendações de um relatório encomendado pelo primeiro-ministro da França, Jean-Marc Ayrault, como parte do programa de revisão das políticas públicas de integração de imigrantes. O documento sugere que o governo francês deva revisar medidas implementadas nas últimas décadas – pautadas na justificativa do ensino laico – para integrar efetivamente sua população imigrante. Entre elas, a proibição do uso do véu e de outros elementos religiosos nas escolas. O relatório demanda ainda que a França reconheça sua dimensão e identidade árabe, reformule seu currículo de história, crie um dia especial para homenagear as culturas imigrantes e defina como crime o “assédio racial”. À imprensa, Ayrault afirmou que não há planos para derrubar a proibição do véu e que o pedido do relatório não faz parte de suas conclusões políticas de governo. Adaptado de: Revista Carta na Escola, fevereiro/2014, no 83, Editora Confiança, Coluna Mosaico, página 9.
Com relação ao conteúdo do texto, assinale o que for correto. 750
01. A proibição do uso do véu é uma das medidas para permitir a integração dos imigrantes. 02. Essa revisão da política de integração francesa está amparada na necessidade de ofertar uma escola em que todas as manifestações dos credos religiosos e da fé sejam respeitados. 04. Nas últimas décadas, a França tem reconhecido a sua identidade árabe, promovendo a inclusão dessa língua nas escolas francesas. 08. O documento solicitado pelo primeiro-ministro da França é parte do plano para rever as políticas de imigração. 16. No relatório encomendado pelo primeiro-ministro, apenas duas propostas de mudança são sugeridas como forma de melhor acolher os árabes e africanos na França. GAB. 10
03. (USF SP) A enzima comedora de plástico que pode revolucionar processo de reciclagem Cientistas britânicos aperfeiçoaram uma enzima natural que pode digerir alguns dos plásticos mais poluentes do mundo O tipo PET, mais comum em garrafas plásticas, leva centenas de anos para se decompor no meio ambiente. A enzima modificada, conhecida como PETase, pode começar a desintegrar o mesmo material em apenas alguns dias. Isso poderia revolucionar o processo de reciclagem, permitindo que os plásticos sejam reutilizados de forma mais eficaz. O Reino Unido usa cerca de 13 bilhões de garrafas plásticas por ano, das quais três bilhões não são recicladas. Originalmente descoberta no Japão, a enzima é produzida por uma bactéria que come o PET. A Ideonella sakaiensis usa o plástico como sua principal fonte de energia. Pesquisadores relataram em 2016 que encontraram a cepa vivendo em sedimentos em um local de reciclagem de garrafas na cidade portuária de Sakai, no sul do Japão. “O PET passou a existir em grandes quantidades nos últimos 50 anos, então não se trata de uma escala de tempo muito longa para uma bactéria evoluir para comer algo criado pelo homem”, diz o professor John McGeehan, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, que participou do estudo. Poliésteres, o grupo de plásticos a que o PET (também chamado polietileno tereftalato) pertence, existem na natureza. “Eles protegem as folhas das plantas”, explica McGeehan. “As bactérias estão evoluindo há milhões de anos para comê-los”. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2018/04/a-en-zima-comedora-de-plastico-que-pode-revolucionarprocesso-de-reciclagem.shtml>.
Pelas características de composição, linguagem e contexto de circulação, o texto anterior pode ser adequadamente classificado como a) editorial. b) relato de experiência. c) notícia. d) relatório técnico. e) artigo de opinião.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D20
TEXTOS INJUNTIVOS Os textos da tipologia injuntiva, assim como estudamos na frente C, são textos de caráter instrucional e prescritivo, cujo principal objetivo é a instrução do leitor. Esses textos não só fornecem uma informação detalhada para a realização de um procedimento, como também, eles incitam à ação, guiando de modo preciso o leitor.
ASSUNTOS ABORDADOS n Textos injuntivos n Características n Tipos de texto
Diferentemente dos textos injuntivos, os textos prescritivos têm por finalidade levar o leitor a cumprir, obrigatoriamente, determinada instrução, como por exemplo, o uso dos medicamentos receitados por um médico. Já os textos injuntivos, por sua vez, visam informar, auxiliar recomendar, propor e aconselhar o leitor a cumprir determinadas instruções.
Características n n n n n n
Instrução do leitor acerca de um procedimento; Exigência de que o leitor proceda de uma determinada forma; Não permissão para a liberdade de atuação ao leitor; Apresentação de um caráter coercitivo; Utilização de linguagem objetiva e simples; Utilização predominantemente de verbos no infinitivo, imperativo ou presente do indicativo com indeterminação do sujeito.
Tipos de texto Há diversos tipos de textos injuntivos, são eles: n n n n
Instruções de uso Instruções de montagem Regras de utilização Leis 751
este
ado:
Português
ou
03
mina-
oral.
uito,
n
tidos
n
pelo
n
ação.
n
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Receitas de culinária Guias Regras de trânsito Obrigações a cumprir
Exemplo TÍTULO II DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS CAPÍTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
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D20 Textos injuntivos
(Fragmento da Constituição Federal)
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
Prima Julieta Prima Julieta irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz Virgílio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos: voz de pessoa da alta sociedade. MENDES, M. A idade do serrote. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968.
Entre os elementos constitutivos dos gêneros, está o modo como se organiza a própria composição textual, tendo-se em vista o objetivo de seu autor: narrar, descrever, argumentar, explicar, instruir. No trecho, reconhece-se uma sequência textual a) explicativa, em que se expõem informações objetivas referentes à prima Julieta. b) instrucional, em que se ensina o comportamento feminino, inspirado em prima Julieta. c) narrativa, em que se contam fatos que, no decorrer do tempo, envolvem prima Julieta. d) descritiva, em que se constrói a imagem de prima Julieta a partir do que os sentidos do enunciador captam. e) argumentativa, em que se defende a opinião do enunciador sobre prima Julieta, buscando-se a adesão do leitor a essas ideias. 02. (Unifor CE) __ Guilhermina entrou para nossa família quase que instantaneamente. Além de educada, gentil e suave em suas maneiras, ela possuía uma espécie de segurança interna que irradiava de todo o seu ser. Quando dizia alguma coisa, por simples que fosse suas palavras tinham o som da verdade. Quando olhava as pessoas, olhava direto nos seus olhos. Parecia adivinhar o que procurávamos dissimular, nós com nosso sangue cansado, nossas guilhotinas e oito séculos de jogos de salão. Quando falava de seu país, mostrava as paisagens e nós víamos os detalhes, quase como se estivéssemos lá. Não tenho a menor ideia se as descrições correspondiam ou não à realidade – e pode ser até que fossem inventadas. Para nós, eram a realidade. Por isso, apesar de muito jovem, colocou nossa família e nossos amigos no bolso sem grande esforço. [...] __ Tinha jeito para contar histórias, isso Guilhermina tinha. E era linda. Era linda quando nos contava suas histórias, quando costurava nossas roupas e quando deslizava em sua canoa, com seus cabelos ruivos ao vento e seu vestido de rendas brancas arregaçado até os joelhos... É assim que
sempre me recordo dela, voando em sua imaginação ou cortando o espaço suavemente à nossa frente. [...] __ Guilhermina tinha lido uma biblioteca, ela foi dos Contos da Carochinha aos Clássicos de Flaubert. (Adaptado do livro RIBEIRO, Edgard Telles. O Criado-Mudo. 2.ed. São Paulo. Brasiliense, 1996.)
A origem da literatura é “o ensinamento dos deuses”; sua natureza consiste em ser uma narrativa dotada de especial poder de encantamento, sua função é reconstituir as ações dos heróis. A literatura nos permite inferir a relação da obra literária com o mundo por suas possibilidades de interpretação que podem se modificar dependendo da leitura e dos leitores nas mais diferentes épocas. E isso feito de tal forma que seja possível dividir estes dois conceitos finais de natureza e função em seus desdobramentos. Assim, a única opção que NÃO faz parte das funções da literatura é: a) Estética b) Lúdica c) Cognitiva d) Catártica e) Instrucional 03. (UEL PR) As condições de bem-estar e de comodidade nos grandes centros urbanos são reconhecidamente precárias por causa, sobretudo, da densa concentração de habitantes num espaço que não foi planejado para alojá-los. Com isso, praticamente todos os pólos das estruturas urbanas ficam afetados: o trânsito é lento; os transportes coletivos, insuficientes; os estabelecimentos de prestação de serviços, ineficazes. Um exemplo disso é São Paulo, às sete da noite. O trânsito caminha lento e nervoso. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam. Nos bares, bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta de mesas. Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios. De repente, uma escuridão total cai sobre todos como uma espessa lona opaca de um grande circo. Os veículos acendem os faróis altos, insuficientes para substituir a iluminação anterior. Em pouco tempo, as ruas ficam desertas, o medo paira no ar... Com base nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que o texto é predominantemente a) injuntivo, pois apresenta inicialmente um argumento baseado no consenso e máximas aceitas como verdadeiras. b) narrativo, uma vez que busca fazer um relato a respeito da vida na grande capital, São Paulo. c) dissertativo, pois expõe ideias gerais, seguidas da apresentação de argumentos que as comprovam. d) preditivo, pois é desenvolvido para permitir que o leitor preveja sobre o que tratará o texto. e) descritivo, pois recria o ambiente, ou seja, o espaço, apresentando as suas características.
753
D20 Textos injuntivos
01. (Enem MEC)
Português
Exercícios Complementares 01. (UEMG)
decer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas Recado ao senhor 903
árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e Rubem Braga
Vizinho – Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossí-
o amor e a paz. Assinale a alternativa em que foram apontadas CORRETAMENTE características da linguagem e possíveis tipos textuais constantes neste texto de Rubem Braga. a) Marcas frequentes do vocabulário formal e informal - tipos: descritivo, injuntivo e dissertativo b) Linguagem tipicamente própria da oralidade- tipos: argumentativo, descritivo e injuntivo c) Predominância de marcas da linguagem formal e literária - tipos: narrativo, argumentativo/opinativo d) Marcas predominantes de linguagem técnica e informal tipos: argumentativo, dissertativo, narrativo
vel repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o
D20 Textos injuntivos
1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor
02. (UFCG PB) A genética da paixão
sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois nú-
(...)
meros empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me
1
limito, a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo
um papel decisivo na escolha de nossos parceiros amorosos.
Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e
A antropóloga e pesquisadora americana Helen Fisher, da
embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números
Universidade Rutgers, de Nova Jersey, considerada uma das
são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlân-
5maiores autoridades em comportamento amoroso, avaliza
tico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários
essa teoria e está prestes a lançar um livro sobre ela. Helen
civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor
relaciona as características de comportamento à predomi-
Quanto mais se estudam os genes, mais se atribuem a eles
da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente ado-
nância de determinados tipos de hormônios e neurotrans-
tar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um compor-
missores no organismo. A produção dessas 10substâncias é
tamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha
controlada pelo sistema endócrino, que funciona de acordo
casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às
com o perfil genético de cada ser humano. Ela sustenta que
21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois
há, basicamente, quatro tipos de personalidade. Indivíduos
às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até
com predominância de dopamina seriam os exploradores;
o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa
de serotonina, os construtores; de 15estrógeno, os negocia-
vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só
dores; e de testosterona, os diretores. “Todos nós somos
pode ser tolerável quando um número não incomoda outro
uma combinação dos quatro tipos, mas um deles se expres-
número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus
sa com mais destaque em nossa personalidade”, disse Helen
algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
a VEJA. Para chegar a esses quatro perfis humanos, a psicó-
... Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e ou-
loga submeteu um questionário 20baseado em sua teoria a
tro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e
assinantes da agência americana de namoro pela internet
dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música
Chemistry.com. Após avaliar 20.000 respostas, ela concluiu
em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra,
que os negociadores, com altos níveis de estrógeno, se sen-
vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui es-
tem mais atraídos pelos diretores, ricos em testosterona. Já
tamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é
os exploradores e construtores sentem 25mais desejo por
curta e a lua é bela.”
pessoas do seu próprio grupo. (....)
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agra-
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Lima, R. Abreu .www.revistaveja.com.br, 21/05/08.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Quanto ao gênero do texto pode-se afirmar que a) por ser um artigo de opinião, há apenas sequências tipológicas argumentativas. b) por se tratar de uma reportagem, a autora utilizou-se de sequências expositivas e narrativas. c) por ser uma notícia, há a predominância de sequências narrativas e injuntivas. d) é uma reportagem, por predominar sequências argumentativas e injuntivas. e) é um artigo de opinião, por apresentar sequências expositivas. 03. (Enem MEC)
e) persuasiva, com o propósito de convencer o interlocutor a combater a dengue; e dialogal, pois há a interação oral entre os personagens. 04. (UFPE) Nasce um escritor O primeiro dever passado pelo novo professor de português foi uma descrição tendo o mar como tema. A classe se inspirou, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados. Prisioneiro no internato, eu vivia na saudade das praias do Pontal onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema de minha descrição. Padre Cabral levara os deveres para corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos. Passei a ser uma personalidade, segundo os cânones do colégio, ao lado dos futebolistas, dos campeões de matemática, dos que obtinham medalhas. Fui admitido numa espécie de Círculo Literário onde brilhavam alunos mais velhos. Nem assim deixei de me sentir prisioneiro. Houve, porém, sensível mudança na limitada vida do aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em minhas mãos livros de sua estante. Primeiro “As Viagens de Gulliver”, depois clássicos portugueses, traduções de ficcionistas ingleses e franceses. Recordo com carinho a figura do jesuíta português, erudito e amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo por me haver dado o amor aos livros, por me haver revelado o mundo da criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois
lhas linguísticas que o compõem. O texto da campanha publicitária e o da charge apresentam, respectivamente, composição
anos de internato, a fazer mais leve a minha prisão, minha primeira prisão. (Jorge Amado. O menino Grapiúna. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 117-120. Adaptado).
textual pautada por uma estratégia a) expositiva, porque informa determinado assunto de modo
Uma análise da forma como o texto está construído nos faz re-
isento; e interativa, porque apresenta intercâmbio verbal
conhecê-lo como um texto predominantemente:
entre dois personagens.
a) descritivo, pelo qual se atribui qualidade aos lugares e às
b) descritiva, pois descreve ações necessárias ao combate à dengue; e narrativa, pois um dos personagens conta um fato, um acontecimento. c) injuntiva, uma vez que, por meio do cartaz, diz como se deve combater a dengue; e dialogal, porque estabelece uma interação oral. d) narrativa, visto que apresenta relato de ações a serem realizadas; e descritiva, pois um dos personagens descreve a ação realizada.
pessoas que compõem a cena. b) expositivo, em que alguns fenômenos são identificados, definidos e exemplificados. c) instrucional, que incita à ação, a um modo de operar; daí a força imperativa dos verbos. d) narrativo, organizado em sequências temporais e com indicação circunstancial de lugar. e) dissertativo, com predominância de um tom crítico e taxativamente persuasivo. 755
D20 Textos injuntivos
Todo texto apresenta uma intenção, da qual derivam as esco-
FRENTE
D
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (PUC RS)
candidatos ao acesso à mídia. 47Se a propaganda fosse paga, ou
Tão paradoxal quanto o título deste editorial é o 02tema por
dependesse apenas 48do interesse jornalístico, o poder econô-
ele abordado: o horário político obrigatório – ou gratuito, de
mico poderia 49prevalecer e os candidatos menos conhecidos
acordo com a denominação do Tribunal Regional Eleitoral.
talvez 50não tivessem oportunidade de se apresentar ao 51públi-
Em primeiro lugar, não é gratuito, 05a não ser para candidatos,
co. Agora, mesmo com todas as deformações, o 52horário elei-
partidos e coligações, que nada pagam pelo acesso aos meios
toral possibilita este contato entre o 53eleitor e os pretendentes
de comunicação. A sociedade paga. As empresas de mídia re-
a mandatos eletivos.
01
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07
cebem 08compensação fiscal pelos espaços que dispensam 09à propaganda eleitoral. A polêmica, porém, é outra: tem senti10
do impor ao público uma programação 11geralmente demagógica e de má qualidade, que 12é rejeitada por parcela expressiva de espectadores e 13reduz a audiência dos programas de rádio e televisão? No Brasil, onde o voto também é obrigatório, faz 15sentido.
14
Pesquisa divulgada pelo Datafolha no mês 16passado, após consulta a 10.905 eleitores em 379 17municípios do país, mostrou que 65% dos entrevistados 18utilizam a TV como mídia preferida para obter informações 19sobre partidos e candidatos. Os jornais aparecem 20em segundo lugar, com 12% da preferência, restando para o rádio e a internet o terceiro lugar, com 227%.
21
Apenas 6% dos inquiridos disseram que se preparam 23para o voto com informações colhidas em conversas 24com amigos e familiares. Então, é inquestionável o valor da mídia eletrônica 26na orien-
25
tação do eleitorado. Ainda assim, não deixa 27de ser uma imposição incômoda para a maioria da 28população. Pesquisa en-
Jornal Zero Hora, 22/08/2010 (editorial)
Analisando-se o gênero, o conteúdo e o processo de composição do texto, conclui-se que a única afirmação FALSA é: a) Apresenta a questão conflitante, o ponto de vista a ser defendido, a discussão mediante argumentos e contra-argumentos e a conclusão. b) Baseia-se em ideias e argumentos, marcando a posição do jornal diante de fatos importantes do momento. c) Tem como objetivo principal apresentar informação de forma clara e isenta, ordenada em três partes essenciais: introdução, desenvolvimento, conclusão. d) Ao citar contra-argumentos, dá a impressão de ceder à tese contrária, para depois refutá-la mediante argumento mais forte. e) Apoia-se em recursos próprios da argumentação, como dados estatísticos e questionamento direto, além de nexos lógicos para encadear ideias. 02. (UFT TO)
comendada ao Ibope pela Associação Brasileira de Agências 29
de Propaganda mostra 30que o brasileiro não simpatiza com a propaganda 31eleitoral compulsória: 76% dos consultados informaram 32que “não gostam nada” ou “não gostam muito”. Apenas 11% assinalaram “gostar” ou “gostar muito”.
33
Além de impositivo, o horário eleitoral gera outras 35defor-
34
mações, como a formação de alianças partidárias 36espúrias com o único propósito de ampliar o 37tempo de exposição de candidatos e siglas, com total 38prejuízo para os conteúdos programáticos e para 39a coerência ideológica. Também o tempo exíguo dispensado 40aos candidatos às eleições proporcionais mal 41permite que digam o nome, o número e, em certos 42casos, alguma gracinha, que só serve para ridicularizar 43o debate eleitoral. Ainda assim, existe pelo menos um fator insuperável 45a justi-
44
ficar a manutenção desta programação: 46o direito de todos os 756
Fonte: ALPINO, Alberto. Jornal Correio Popular. Disponível em: <http://leituraensino.blogspot.com.br/search/label/consumidor>. Acesso em: 30 Jul. 2014.
Assinale a assertiva CORRETA em relação à interpretação do texto. a) O texto demonstra a necessidade da leitura do horóscopo diariamente. b) O texto ratifica que é preciso haver a presença de uma marca de mercadoria dentro do horóscopo, atribuindo credibilidade ao texto, assim como ocorre com a personagem da tirinha.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
c) O texto evidencia uma crítica à presença de uma marca de mercadoria (alimento) dentro do horóscopo, fenômeno que vem aumentando cada vez mais na mídia. d) O texto descreve a importância dada pela personagem da tirinha à presença da marca dentro de seu horóscopo. e) A presença de marcas de mercadorias, atualmente, é obrigatória nas mídias, como ocorre nas telenovelas que explicitam nomes de bancos, de carros e de produtos de beleza, por exemplo.
De acordo com o relatório, verifica-se que, em sua velhice, o autor faz a) emissão de relatórios sobre as aves urbanas. b) retificação de um ponto de vista em relação aos idosos. c) omissão de juízos de valor em relação à aposentadoria. d) ratificação de um raciocínio em relação à autossuficiência. 04. (UnB DF) [...]
03. (FCM MG)
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O IDOSO E O MUNDO ACABADO
de espadas
Quando jovem, e até mesmo adulto, em plena maturidade, autossuficiente, eu tinha uma certa compaixão pelos velhos, pois os considerava com a vida acabada. Agora, sendo um velho,
esta 4
que havia cometido.
lâminas cursivas
Talvez eu tenha sido levado a errar devido à nossa cultura, que população de idosos não era significativa, não se encontrava
7
dragões
Senti pessoalmente como o idoso era tratado em nosso país: fui aposentado compulsoriamente.
10
fessor Emérito. É um grande privilégio; em lugar de ser aporito veste uma beca. Como um velho amigo dizia: “O Professor
passar 13
por entre lianas sem desenreda-las
Emérito é um eunuco acadêmico; tem a voz, mas não tem o voto nos colegiados da universidade.”
com uma haste de bambu
Para alguns professores, é concedido o honroso título de Prosentado como um professor vestindo pijama, o Professor Emé-
a lua entre dois
organizada como nos dias de hoje. aos setenta anos de idade, em plena produtividade acadêmica,
escrita delirante
possuindo uma idade avançada, vim a descobrir o grande erro
pouco valoriza o idoso, e mais, era uma época em que a nossa
uma dança
Haroldo de Campos. Signância quase céu. Melhores poemas de Haroldo de Cam-
Antes de a aposentadoria chegar, comecei a planejar atividaa minha memória, escrevendo crônicas; já publiquei um livro, Diário Reinventado, e já estou com outro em impressão. As leituras de Guimarães Rosa e a vivência em uma fazenda nas proximidades de Cordisburgo, durante cerca de 30 anos, levaram-me a observar os pássaros do cerrado, cotejando-os com
Tendo como base o trecho apresentado acima, extraído de um poema de Haroldo de Campos, julgue os itens ou faça o que se pede se o item for do tipo D. ( ) Das associações presentes no fragmento do poema, depreende-se que a “escrita delirante”, ou seja, a produção
aqueles citados pelo encantado vizinho Dr. Rosa. Agora observo os pássaros de rua, e estou preocupado com as dificuldades que têm para sobreviverem. Trata-se de uma fauna totalmente
de um poema, requer minucioso cuidado. ( ) Considerados sob o ponto de vista de propriedades gerais dos infinitivos, os versos “passar/por entre lianas/sem
desprotegida. Vivem de teimosos.
desenredá-las” (v.12-14) conservam analogia com sen-
Não tenho dúvidas de que, como idoso ido em anos, não perdi
tenças de texto de gênero instrucional, em que a estru-
a capacidade de aprender. Eu não me sinto um idoso acabado,
tura “sem desenredá-las” representaria, no nível semân-
volto a insistir. Aquele infeliz julgamento de 50 anos passados está permanentemente na minha consciência. Foi preciso ter vivido todos estes longos anos para reformular os meus pre-
tico, uma condição para a realização da ação ai indicada. ( ) Os versos “uma dança/de espadas” (v.1-2) antecipam a relação de predicação entre esse termo e o dos versos
conceitos, sustentados por uma autossuficiência inexplicável. (CISALPINO, Eduardo Osório. Percursos. B.H.: Editora do Autor, 2014, p.109.
“esta/escrita/delirante” (v.3-5). ( ) No trecho “passar/por entre lianas” (v.12-13), “por” indica movimento, e “entre”, a ideia de limite.
Texto adaptado.) CCCC
757
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
des que preencheriam o meu dia a dia. Comecei explorando
pos. Seleção de Inês Oseki Dépré. 3.ª ed. São Paulo: Global, 2000, p. 82.
Português
05. (UESPI)
Essa pluralidade de resposta nos faz pensar que o modo pelo O que é escrita?
qual concebemos a escrita não se encontra dissociado do
Se houve um tempo em que era comum a existência de co-
modo pelo qual entendemos a linguagem, o texto e o sujei-
munidades ágrafas, se houve um tempo em que a escrita
to que escreve. Em outras palavras, subjaz uma concepção de
era de difícil acesso ou uma atividade destinada a poucos
linguagem, de texto e de sujeito escritor ao modo pelo qual
privilegiados, na atualidade, a escrita faz parte da nossa vida
entendemos, praticamos e ensinamos a escrita, ainda que não tenhamos consciência disso.
cotidiana, seja porque somos constantemente solicitados a produzir textos escritos (bilhete, e-mail, listas de compras etc.), seja porque somos solicitados a ler textos escritos em
(Ingedore Villaça Koch. Vanda Maria Elias. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Editora Contexto, 2009. p. 31-32. Adaptado.)
diversas situações do dia a dia (placas, letreiros, anúncios,
O texto, para ser globalmente compreendido com sucesso re-
embalagens, e-mail, etc., etc.).
quer que o reconheçamos como um texto: a) descritivo, com a explicitação dos detalhes de um dado objeto.
Alguém afirmou que “hoje a escrita não é mais domínio exclusivo dos escrivães e dos eruditos. [...] A prática da escrita, de
b) narrativo, com cenários, personagens, eventos, conflitos e desfecho.
fato, se generalizou: além dos trabalhos escolares ou eruditos,
c) expositivo, com a análise e a síntese de elementos conceituais.
é utilizada para o trabalho, a comunicação, a gestão da vida
d) dissertativo, à volta de uma ideia, argumentos e contra-ar-
pessoal e doméstica”.
gumentos. e) instrucional, com apresentação de prescrições e ações orde-
Que a escrita é onipresente em nossa vida já o sabemos. Mas, afinal, “o que é escrita?” Responder a essa questão é uma tarefa difícil porque a atividade de escrita envolve aspectos de natureza variada (linguística, cognitiva, pragmática, sócio-histórica e cultural). Como é de nosso conhecimento, há muitos estudos sobre a escrita, sob diversas perspectivas, que nos propiciam diferentes modos de responder a questão em foco. Basta pensarmos, por exemplo, nas investigações existentes, segundo as quais a escrita ao longo do tempo foi e vem-se constituindo como um produto sócio-histórico-cultural, em diferentes suportes (livros, jornais, revistas) e demandando diferentes modos de leitura. Basta pensarmos no modo pelo qual ocorre o processo de aquisição da escrita. Basta pensarmos no modo pelo qual a escrita é concebida como uma atividade cuja realização demanda a ativação de conhecimento e o uso de várias estratégias no curso mesmo da produção do texto.
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
Apesar da complexidade que envolve a questão não é raro, quer em sala de aula, quer em outras situações do dia a dia, nos depararmos com definições de escrita, tais como: “escrita é inspiração”; “escrita é uma atividade para alguns poucos privilegiados (aqueles que nascem com esse dom e se transformam em escritores renomados)”; “escrita é expressão do pensamento” no papel ou em outro suporte; “escrita é domínio de regras da língua”; “escrita é trabalho” que requer a utilização de diversas estratégias da parte do produtor.
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nadas em sequência. 06. (Enem MEC) Blog é concebido como um espaço onde o blogueiro é livre para expressar e discutir o que quiser na atividade da sua escrita, com a escolha de imagens e sons que compõem o todo do texto veiculado pela internet, por meio dos posts. Assim, essa ferramenta deixa de ter como única função a exposição de vida e/ou rotina de alguém — como em um diário pessoal —, função para qual serviu inicialmente e que o popularizou, permitindo também que seja um espaço para a discussão de ideias, trocas e divulgação de informações A produção dos blogs requer uma relação de troca, que acaba unindo pessoas em torno de um ponto de interesse comum. A força dos blogs está em possibilitar que qualquer pessoa, sem nenhum conhecimento técnico, publique suas ideias e opiniões na web e que milhões de outras pessoas publiquem comentários sobre o que foi escrito, criando um grande debate aberto a todos. LOPES, B. O. A linguagem dos blogs e as redes sociais. Disponível em: www.fateczl.edu.br. Acesso em: 29 abr. 2013 (adaptado).
De acordo com o texto, o blog ultrapassou sua função inicial e vem se destacando como a) estratégia para estimular relações de amizade. b) espaço para exposição de opiniões e circulação de ideias. c) gênero discursivo substituto dos tradicionais diários pessoais. d) ferramenta para aperfeiçoamento da comunicação virtual escrita. e) recurso para incentivar a ajuda mútua e a divulgação da rotina diária.