Murilo Amaral Shyrley Bernadelli
FRENTE
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PORTUGUÊS Por falar nisso O estudo de uma língua pode ser dividido em diversas áreas de conhecimento, em níveis de complexidade do entendimento sistemático de um componente linguístico. Geralmente, no ensino de Língua Portuguesa, costuma-se dividi-la nos seguintes níveis: fonológico, morfológico, sintático, textual e discursivo. Nesse sentido, vê-se uma progressão das unidades menores às unidades maiores da língua, isto é: do fonema, do morfema e do sintagma ao texto e ao discurso. Nas aulas a seguir, dedicaremos nossa atenção à análise sintática. Esse assunto já foi abordado anteriormente, porém, agora, nós aprofundaremos nesse tema e focaremos nosso estudo em uma categoria gramatical muito rica da língua portuguesa: os verbos. Os verbos têm uma participação fundamental no processo de análise dos sintagmas, portanto, mãos à obra! Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
A01 A02 A03 A04
Tipos de predicado e transitividade verbal .................................. 664 Complementos verbais especiais ................................................. 673 Pronomes oblíquos como complementos verbais ....................... 679 Vozes verbais................................................................................. 683
FRENTE
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PORTUGUÊS
MÓDULO A01
ASSUNTOS ABORDADOS n Tipos de predicado e transitivi-
dade verbal
n Tipos de predicado n Transitividade verbal n Valência verbal
TIPOS DE PREDICADO E TRANSITIVIDADE VERBAL O estudo da análise sintática corresponde à organização das palavras na frase, de maneira que possamos fragmentar um período e atribuir funções às partes que o compõem. Nesse sentido, os termos presentes em uma dada oração podem ser classificados como: n n n
Termos essenciais da oração: sujeito e predicado. Termos integrantes da oração: objeto direto e indireto, complemento nominal e agente da passiva. Termos acessórios da oração: adjunto adverbial e adjunto adnominal.
Na série anterior, nós fizemos um estudo detalhado acerca do sujeito, isto é, analisamos o sintagma nominal que é o referente imediato da informação expressa pelo verbo. Agora, nosso estudo recai sobre o sintagma verbal da oração, portanto é muito importante que nos atentemos para o valor do verbo no processo de análise do predicado e da transitividade. Leia a oração abaixo: Olívia e Hércules caminharam pela praia ao pôr do sol. Nós podemos fragmentar esse período em duas partes: n n
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Sujeito: Olívia e Hércules Predicado: caminharam pela praia ao pôr do sol.
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Tipos de predicado O predicado de uma oração pode ser classificado de acordo com o seu núcleo, com a palavra central, a palavra mais importante para a expressão da informação. Assim, o predicado pode ser classificado da seguinte maneira: Predicado verbal Como o próprio nome diz, o núcleo desse predicado é o verbo. Mas atenção! Os verbos que podem ser núcleos do predicado verbal são aqueles que denotam uma ação dentro da oração. Leia as frases a seguir: n n n
Os sambistas tocaram e cantaram durante toda a madrugada. A menina acordou com um sorriso no rosto. As flores murcharão até o fim do verão.
Predicado nominal Nesse tipo de predicado, o núcleo é um nome (substantivo ou adjetivo). Mas atenção! Não se engane! Isso não significa que em predicados nominais o verbo seja ausente. O verbo presente em um predicado verbal não denota ação. Ele denota um estado. Tais verbos são chamados verbos de ligação. Leias as frases a seguir: n n n
João Victor é um aluno muito estudioso. A caneca permaneceu cheia de café. As flores estarão murchas até o fim do verão.
Leia com atenção estes dois enunciados: As flores murcharão até o fim do verão. As flores estarão murchas até o fim do verão.
A01 Tipos de predicado e transitividade verbal
Ao comparar esses dois predicados, podemos observar que o primeiro é um predicado verbal e o segundo é um predicado nominal. Mas por que isso acontece? Apesar de ambos conterem um verbo, a palavra que carrega a essência da informação é diferente em cada um. No primeiro enunciado, o verbo “murcharão” é o centro do predicado; no segundo, o adjetivo “murchas” é o núcleo. Note que o verbo “estar” apenas conecta o adjetivo ao sujeito da frase. Trata-se, pois, de um verbo de ligação.
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Português
Predicado verbo-nominal O predicado verbo-nominal tem como núcleos um verbo que denota ação e um nome. Normalmente, esse nome qualifica a execução da ação verbal. Veja: n
Os estudantes chegaram atrasados para a aula.
Nesse enunciado, há dois núcleos: o verbo “chegaram” e o nome “atrasados”. Você pode notar que o nome, sendo também núcleo desse predicado, caracteriza como os estudantes chegaram à sala de aula.
Transitividade verbal A transitividade verbal é uma área de estudo dos verbos que analisa o tipo de complemento que cada verbo ou locução verbal pode receber. Portanto, o estudo transitividade verbal está intimamente ligado à classificação dos termos que complementam o sentido de um verbo. Eles recebem a seguinte classificação: n n n n n
Verbo intransitivo (VI) Verbo transitivo direto (VTD) Verbo transitivo indireto (VTI) Verbo transitivo direto e indireto (VTDI) Verbo de ligação (VL)
Verbo intransitivo (VI) Os verbos intransitivos são verbos que não aceitam como complemento um objeto. Seu sentido pode ser expresso sem complemento nenhum, ou ainda, pode ser complementado por um adjunto adverbial. Observe as frases seguintes: n n n
Raul Seixas morreu em agosto. Eu ainda moro com meus pais. O bebê chorou a noite copiosamente.
A01 Tipos de predicado e transitividade verbal
Veja que, nesses enunciados, a ação verbal não vai além do verbo. A única complementação que um verbo intransitivo pode aceitar é um adjunto adverbial, um componente dentro do período que denota uma circunstância para o verbo. Desse modo, em relação às frases acima, as circunstâncias denotadas pelos adjuntos adverbiais que complementam os três verbos são, respectivamente, adjunto adverbial de tempo, adjunto adverbial de companhia e adjunto adverbial de modo.
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Verbo transitivo direto (VTD) Os verbos transitivos, como dito anteriormente, podem aceitar, como complemento, um objeto. Diferente do adjunto adverbial, o objeto não carrega somente uma circunstância para o valor do verbo. Ele é, realmente, uma peça fundamental para a construção do sentido do próprio verbo. Veja: n n n
Beatrice comeu o último pedaço de bolo. Menino bagunceiro, organize direito o seu quarto. A mãe chorou lágrimas de alegria com a volta de seu filho.
Note que, nas frases anteriores, os termos sublinhados são os objetos, pois são termos da oração que complementam o sentido do verbo. Eles são o resultado da ação verbal. Ademais, trata-se de objetos diretos, ou seja, um objeto que não é regido por preposição. Verbo transitivo indireto (VTI) Os verbos transitivos indiretos necessitam de um objeto indireto para complementar seu sentido. Diferentemente dos objetos diretos, os objetos indiretos são antecedidos por preposição. Veja as frases abaixo: n n n
Valéria gostou da festa surpresa. O empresário referiu-se às despesas do mês de abril. O garoto apaixonado só pensa na amada.
Note que no início do objeto indireto (parte sublinhada) há sempre uma preposição (parte negritada). Perceba que tais verbos precisam de uma preposição específica para ligar-se ao seu objeto. Verbo transitivo direto e indireto (VTDI) Os verbos transitivos direto e indireto precisam de dois objetos (um objeto direto e um objeto indireto) para complementarem seu sentido. Veja os exemplos: n n n
Eu dei este presente para minha mãe. Em dias chuvosos, Joaquim prefere um chá quente a um suco de frutas. Arthur confiou a chave de seu apartamento ao vizinho.
A01 Tipos de predicado e transitividade verbal
Perceba que dois objetos (um sem preposição e outro com preposição) são necessários para complementarem a execução da ação expressa pelo verbo.
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Verbo de ligação Os verbos de ligação, como pudemos ver ao estudar o predicado nominal, não executam uma ação. Eles representam um estado. Em geral, os verbos de ligação são: ser, estar, permanecer, ficar, parecer, continuar, viver, virar etc. Veja as frases as seguir: n n n n n
Os jogadores ficaram irritados com a expulsão do atacante. Sua prima está chateada comigo? Muito prazer, meu nome é Antônio. Marcos vive triste. Aninha virou freira.
Valência verbal O que confunde muitos estudantes no processo de análise da transitividade dos verbos é o fato de que um verbo pode ter mais de uma transitividade. Tudo depende da frase em que ele se encontra. Por isso, mais importante que entender os tipos de transitividade, é saber que os verbos possuem valências, isto é, eles podem ser transitivos em uma oração e intransitivos em outra ou até de ligação. E somente dentro de um enunciado você pode analisar a transitividade verbal. Veja a seguir os exemplos: n n
Joana está feliz com o carro novo. (VL) Joana está na casa de seu pai. (VI)
A01 Tipos de predicado e transitividade verbal
Na primeira ocorrência, o verbo “estar” é de ligação, pois ele conecta o sujeito da oração ao adjetivo que o caracteriza. Já na segunda, o verbo “estar” é intransitivo cuja circunstância é dada por um adjunto adverbial de lugar.
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Exercícios de Fixação
ESTOJO ESCOLAR 1 Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrônicas. 2 Bastava telefonar e eu receberia um notebook capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma usina nuclear, 3 uma estação espacial. 4 Minhas necessidades são mais modestas: tenho um PC mastodôntico, contemporâneo das cavernas 5 da informática. E um notebook da mesma época que começa a me deixar na mão. Como pretendo viajar 6 esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras anunciavam como o top do top em matéria de 7 computador portátil. 8 No sábado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de instruções para ser 9 aberto. Depois de mil operações sofisticadas para minhas limitações, retirei das entranhas de isopor o novo 10 notebook e coloquei-o em cima da mesa. De repente, como vem acontecendo nos últimos tempos, houve um 11 corte na memória. Tinha cinco anos e ia para o Jardim de Infância. E vi diante de mim o meu primeiro 12 estojo escolar. 13 Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do corpo principal. 14 Dentro, arrumados em divisões, havia lápis coloridos, um apontador, uma lapiseira cromada, uma régua de 15 20 cm e uma borracha para apagar meus erros. 16 Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me tonteava de prazer. Fechei 17 o estojo para proteger aquele cheiro, que ele ficasse ali para sempre, prometi-me economizá-lo. Com 18 avareza, só o cheirava em momentos especiais. 19 Na tampa que protegia estojo e cheiro, havia estampado um ramo de rosas vermelhas que se 20 destacavam do fundo creme. Amei aquele ramalhete – olhava aquelas rosas e achava que nada no mundo 21 podia ser mais bonito. 22 O notebook que agora abro é negro, não tem nenhuma rosa na tampa. E, em matéria de cheiro, é 23 abominável. Cheira a telefone celular, a cabine de avião, ao aparelho de ultrassonografia onde outro dia uma 24 moça veio ver como sou por dentro. 25 Piorei de estojo e de vida. (Carlos Heitor Cony. O harém das bananeiras, p. 244-245. Adaptado.)
Leia o trecho que se segue: “[...] recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de instruções para ser aberto.” (Refs. 8-9) De acordo com a estruturação desse trecho, orientando-se pelo contexto em que se insere, pode-se afirmar, EXCETO a) O “que” aí expresso é um pronome relativo. b) A palavra “para” estabelece uma relação de finalidade.
c) O verbo “receber” vem seguido por objeto direto. d) O “de”, em “manual de instruções”, inicia uma transitividade indireta. 02. (Espcex SP) Assinale a oração em que o termo ou expressão grifados exercem a função de objeto indireto. a) Cumprimentei-as respeitosamente. b) Perderam-na para sempre. c) Amava mais a ele que aos outros. d) Eu culpo a tudo e a todos. e) Obedeceu-lhe prontamente. 03. (UFTM MG) Horóscopo Áries – Não subestime a sua incapacidade Touro – Fique tranquilo em relação à sua própria infelicidade Gêmeos – Uma semana vem, outra semana vai Câncer – Alguém telefonará e você atenderá e depois desligará Leão – A solução dos seus problemas só lhe dará tranquilidade Virgem – Nem que a tristeza lhe consuma, não morra, não esmoreça, sob hipótese nenhuma É ganhando que se ganha É empatando que se empata É perdendo que se perde É nascendo que se nasce É morrendo que se morre É vivendo que se “veve” Libra – A lua em Saturno quer dizer alguma coisa Escorpião – Não seja impertinente, você terá nas mãos os dez dedos de sempre Sagitário – Uma pessoa idosa não fará nenhuma diferença Capricórnio – No entanto, aquele alguém, que goza de saúde, poderá pegar uma doença Aquário – No mais será tudo igual, pois o período propicia Peixes – E tudo se encaminha para um fim de semana com apenas dois dias. (www.vagalume.com.br)
Assinale a alternativa em que o pronome em destaque está empregado de acordo com o uso coloquial da língua. a) só lhe dará tranquilidade. b) Nem que a tristeza lhe consuma. c) No entanto, aquele alguém, que goza de saúde. d) No mais será tudo igual. e) Não subestime a sua incapacidade.
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01. (Unimontes MG)
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04. (Uerj RJ) O comprador de fazendas O acaso deu a Trancoso uma sorte de cinquenta contos na loteria. Não se riam. Por que motivo não havia Trancoso de ser o escolhido, se a sorte é cega e ele tinha no bolso um bilhete? Ganhou os cinquenta contos, dinheiro que para um pé-atrás daquela marca era significativo de grande riqueza. 5 De posse do bolo, após semanas de tonteira deliberou afazendar-se. Queria tapar a boca ao mundo realizando uma coisa jamais passada pela sua cabeça: comprar fazenda. Correu em revista quantas visitara durante os anos de malandragem, propendendo, afinal, para a Espiga. Ia nisso, sobretudo, a lembrança da menina, dos bolinhos da velha e a ideia de meter na administração ao sogro, de jeito a folgar-se uma vida vadia de regalos, embalada pelo amor de 10Zilda e os requintes culinários da sogra. Escreveu, pois, a Moreira anunciando-lhe a volta, a fim de fechar-se o negócio. Ai, ai, ai! Quando tal carta penetrou na Espiga houve rugidos de cólera, entremeio a bufos de vingança. – É agora! – berrou o velho. – O ladrão gostou da pândega e quer repetir a dose. Mas desta feita 15curo-lhe a balda*1, ora se curo! – concluiu, esfregando as mãos no antegozo da vingança. No murcho coração da pálida Zilda, entretanto, bateu um raio de esperança. A noite de sua alma alvorejou ao luar de um “Quem sabe?” Não se atreveu, todavia, a arrostar*2 a cólera do pai e do irmão, concertados ambos num tremendo ajuste de contas. Confiou no milagre. Acendeu outra velinha a Santo Antônio... 20 O grande dia chegou. Trancoso rompeu à tarde pela fazenda, caracolando o rosilho*3. Desceu Moreira a esperá-lo embaixo da escada, de mãos às costas. Antes de sofrear*4 as rédeas, já o amável pretendente abria-se em exclamações. – Ora viva, caro Moreira! Chegou enfim o grande dia. Desta vez, compro-lhe a fazenda. Moreira tremia. Esperou que o biltre*5 apeasse e mal Trancoso, lançando as rédeas, dirigiu-se-lhe 25de braços abertos, todo risos, o velho saca de sob o paletó um rabo de tatu e rompe-lhe para cima com ímpeto de queixada*6. – Queres fazenda, grandissíssimo tranca*7? Toma, toma fazenda, ladrão! – e lepte, lepte, finca-lhe rijas rabadas coléricas. O pobre rapaz, tonteando pelo imprevisto da agressão, corre ao cavalo e monta às cegas, de passo 30que Zico lhe sacode no lombo nova série de lambadas de agravadíssimo ex-quase-cunhado. Dona Isaura atiça-lhe os cães: – Pega, Brinquinho! Ferra, Joli! O mal azarado comprador de fazendas, acuado como raposa em terreiro, dá de esporas e foge à toda, sob uma chuva de
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insultos e pedras. Ao cruzar a porteira inda teve ouvidos para distinguir 35na grita os desaforos esganiçados da velha: – Comedor de bolinhos! Papa-manteiga! Toma! Em outra não hás de cair, ladrão de ovo e cará!... E Zilda? Atrás da vidraça, com os olhos pisados do muito chorar, a triste menina viu desaparecer para sempre, envolto em uma nuvem de pó, o cavaleiro gentil dos seus dourados sonhos. 40 Moreira, o caipora*8, perdia assim naquele dia o único negócio bom que durante a vida inteira lhe deparara a Fortuna: o duplo descarte – da filha e da Espiga... MONTEIRO LOBATO Urupês. São Paulo: Globo, 2007.
Vocabulário: *1 balda - defeito habitual, mania *2 arrostar - encarar sem medo *3 rosilho - cavalo de pelo avermelhado *4 sofrear - conter *5 biltre - homem vil, infame *6 queixada - espécie de porco-do-mato *7 tranca - indivíduo ordinário, de mau caráter *8 caipora - indivíduo azarado Observe a oração: Desta vez, compro-lhe a fazenda. (ref. 20) Classifique sintaticamente o pronome pessoal. Em seguida, reescreva a oração, substituindo-o por outra palavra de igual indireto valor, mantendo o sentido original. Objeto Desta vez, compro a sua fazenda. 05. (Fatec SP) A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, voltou a elogiar a atuação do governo brasileiro para o enfrentamento ao vírus Zika. Durante entrevista coletiva, após visitar as instalações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, Chan ressaltou a articulação dos três níveis governamentais com a sociedade civil, que será essencial para o combate eficiente e rápido ao mosquito Aedes aegypti. Em relação ao crescimento inusitado de casos de microcefalia constatados no Brasil, Margaret Chan disse que as evidências coletadas pelas autoridades brasileiras apontam o vírus Zika como causa. “Até que possamos provar o contrário, temos afirmado que o vírus Zika é o culpado”, afirmou a diretora-geral da OMS. <http://tinyurl.com/zdl6zls> Acesso em: 08.03.2016. Adaptado.
No trecho “após visitar as instalações”, o verbo visitar exige como complemento um a) objeto direto, pois não necessita de preposição. b) objeto direto, pois requer um objeto abstrato. c) objeto direto e indireto, pois precisa de flexibilidade. d) objeto indireto, pois exige preposição. e) objeto indireto, pois exige conjunção.
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Exercícios Complementares
“Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem anos, cujo teor constitui um marco histórico da civilização. Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955). Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser “internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”. O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três características básicas: era finito, sem fronteiras e estático – o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes. Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana. Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matéria. Com a introdução da relatividade geral, a teoria da gravitação do físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso específico da primeira, para situações em que massas são bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos é muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s). Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar. Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera. Seguiu debilitado até o final daquela década.
Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a historiadora da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de “cosmologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra. Fara dá a entender que várias áreas da ciência, naquele início de século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipóteses em outros campos do conhecimento. (Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.)
Em “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” (1º parágrafo), o termo destacado exerce a mesma função sintática do trecho destacado em: a) “[...] o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.” (4º parágrafo) b) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes [...].” (10º parágrafo) c) “[...] o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes [...].” (5º parágrafo) d) “Seguiu debilitado até o final daquela década.” (9º parágrafo) e) “Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta.” (10º parágrafo) 02. (Unifor CE) No princípio era a linguagem... E a linguagem armou tenda entre nós. (Jó, 1.1-14)
Com base no texto acima, o termo “tenda” funciona como a) sujeito. b) objeto indireto. c) objeto direto. d) predicativo. e) aposto. 03. (Unifesp SP) Leia o excerto da crônica “Mineirinho”, de Clarice Lispector (1925-1977), publicada na revista Senhor em 1962. É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora¹. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho² do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o
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A01 Tipos de predicado e transitividade verbal
01. (Unesp SP) Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira.
Português
A01 Tipos de predicado e transitividade verbal
mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”. Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim. Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro. Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. (Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.)
facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada. 2 Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. 1
“Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem.” (4° parágrafo)
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Os termos “a esse” e “nos” constituem, respectivamente, a) objeto indireto e objeto direto. b) objeto indireto e objeto indireto. c) objeto direto preposicionado e objeto direto. d) objeto direto preposicionado e objeto indireto. e) objeto direto e objeto indireto. 04. (Unifor CE) Mas não desisto da rosa Que plantei no meu jardim Nem da poesia ou da prosa Que trago dentro de mim. (João Soares Lôbo)
De acordo com o texto, assinale a alternativa correta. a) Os dois “quês” que aparecem no quarteto são conjunção. b) “da rosa” é objeto indireto. c) “no meu jardim” é objeto direto. d) Cada “que” é um sujeito. e) “Dentro de mim” é adjunto adnominal. 05. (IF RS) Frases que fisgam e aberturas sedutoras ou por que os romances têm as primeiras páginas Já observou as pessoas na livraria? Elas pegam o livro de uma estante, leem a capa, depois a quarta capa, depois as páginas de elogios (aquelas poucas só com elogios solicitados), e então... o quê? Você sabe essa. Dificilmente vi alguém pular para o meio do capítulo vinte e três. Portanto, é melhor que aquela página diga a que veio. Caso contrário, o livro volta para a estante. Você não pode ler todos eles. Precisamos das primeiras páginas – e os romancistas também precisam. Desde o cabeçalho, o romance começa a exercer sua magia sobre os leitores. Talvez mais notavelmente, os leitores também começam a exercer a magia deles sobre o romance. O começo de um romance é de modo diferente a negociação de um contrato social um convite para dançar uma lista de regras do jogo e uma sedução bastante complexa. Eu sei eu sei – sedução? Parece extremo não é? Mas é isso o que acontece no começo de um romance. Estão nos pedindo para comprometer uma boa parte do nosso tempo e energia em uma iniciativa com muito pouca garantia quanto ao que ela tem pra nós. É aí que entra a sedução. E ela quer nos dizer o que acha importante, tanto que mal pode esperar pra começar. Talvez mais importante, quer que fiquemos envolvidos. Quando acabar, podemos nos sentir cortejados, adorados, apreciados, ou abusados, mas será sempre um caso para lembrar. A abertura de um romance é um convite para entrar e jogar. [...] (adaptado) FOSTER, Thomas C. Para ler romances como um especialista. Trad. de Maria José Silveira. São Paulo: Lua de Papel, 2011. p. 13.
Na oração “Precisamos das primeiras páginas.”, o trecho grifado em negrito é a) objeto direto. d) predicativo do sujeito. b) objeto indireto. e) predicado. c) sujeito.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A02
COMPLEMENTOS VERBAIS ESPECIAIS Na aula anterior, ao estudar a transitividade verbal, nós vimos que a principal diferença entre os complementos verbais é a preposição ausente no objeto direto e presente no objeto indireto. No entanto, esse critério, apesar de definitivo, deve ser analisado com cuidado, pois nem sempre um objeto iniciado por preposição será um objeto indireto. Existem certos objetos diretos que podem vir antecedidos por preposição.
ASSUNTOS ABORDADOS n Complementos verbais especiais n Objeto direto preposicionado n Objeto pleonástico
Objeto direto preposicionado Representar uma parte do todo Em algumas frases, é comum acrescentar-se a preposição “de” antes de um objeto direto para representar uma parte do todo. Veja: n
O menino comeu do bolo.
Nesse enunciado, “do bolo”, apesar de estar preposicionado, é um objeto direto. Logo, o verbo “comeu” é classificado como verbo transitivo direto. A preposição foi usada para indicar que o menino não comeu o bolo inteiro, e sim, um pedaço desse bolo. Desfazer uma ambiguidade Os termos de uma oração, de maneira geral, são distribuídos na ordem direta, isto é, sujeito + verbo + objeto. Porém, não é raro encontrar algumas frases em que essa ordem se inverta, como: verbo + sujeito + objeto. Nesse sentido, quando a oração está na ordem inversa, é possível dispor uma preposição no objeto direto para que ele não possa se confundir com o sujeito. Veja: n
Matou ao leão o caçador.
Se não houvesse a preposição, não ficaria claro quem matou e quem foi morto. Com a preposição antes de leão, podemos concluir que este é o objeto direto preposicionado e que o sujeito da oração é o caçador, quem matou o leão.
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Fazer uma reverência Na linguagem bíblica, é comum usar uma preposição antes do objeto direto para referir-se a entidades simbólicas, em sinal de respeito. Trata-se de um recurso estilístico bastante utilizado. Veja: Amar a Deus sobre todas as coisas.
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Pronome pessoal oblíquo tônico Os pronomes oblíquos dividem-se em tônicos e átonos. Os pronomes tônicos sempre vêm regidos por preposição, mesmo que eles estejam substituindo um objeto direto na frase. Veja: O rapaz não viu a mim nem a ti.
n
Objeto pleonástico Com o objetivo de chamar atenção para o objeto direto que precede o verbo, é comum repeti-lo. Na estrutura de um objeto pleonástico, sempre entra um pronome pessoal oblíquo átono. Veja: n Os templos do Japão, o monge observava-os calmamente. n A mim, ensinou-me tudo. n Encontrou-nos a nós.
!
ATENÇÃO!
Pleonasmo é uma figura de linguagem referente à superabundância de palavras para enunciar uma ideia. Trata-se de uma reiteração.
A02 Complementos verbais especiais
Exemplo: José ouviu com seus ouvidos os barulhos da construção.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (FGV SP)
De qualquer forma, elas já não se sentem nem são consideradas um refugo, uma excrescência, aquelas a quem nin-
Outra queda mais funda lhe revela O aço feroz, e o horror de outra ruína; Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina, Mais do que a vida, o orgulho de ser bela! Fios de prata... Rugas. O desgosto Enche-a de sombras, como a sufocá-la. Numa noite que aí vem... E no seu rosto Uma lágrima trêmula resvala, Trêmula, a cintilar, – como, ao sol posto, Uma primeira estrela em céu de opala. Olavo Bilac. Poesias. São Paulo: Martin Claret, 2004
Pode-se observar que, no poema, o pronome se do primeiro verso funciona como: a) Índice de indeterminação do sujeito. b) Objeto do verbo ver. c) Pronome recíproco. d) Palavra expletiva. e) Sujeito do verbo ver. 02. (Unifor CE) Da Bahia para o Sul, pouca gente saberá o que é vitalina e o que é caritó. Caritó é a pequena prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem, fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo, o cachimbo. Vitalina, conforme popularizou a cantiga, é a solteirona, a moça-velha que se enfeita − bota pó e tira pó − mas não encontra marido. E assim, a vitalina que ficou no caritó é como quem diz que ficou na prateleira, sem uso, esquecida, guardada intacta. As cidades grandes já hoje quase desconhecem essa relíquia da civilização cristã, que é a solteirona, a donzela profissional. Porque se hoje, como sempre, continuam a existir as mulheres que não casam, elas agora vão para toda parte, menos para o caritó. Para as repartições e os escritórios e os balcões de loja, para as bancas de professora e, até mesmo, Deus que me perdoe, para esses amores melancólicos e irregulares com um homem que tem outros compromissos, e que não lhes pode dar senão algumas poucas horas, de espaço a espaço, e assim mesmo fugitivas e escondidas.
guém quis e que não têm um lugar seu em parte nenhuma. Pela província, contudo, é diferente. Na província os preconceitos ainda são poderosos, ainda mantêm presa a mulher que não tem homem de seu (o “homem do uso”, como se chama às vezes ao marido...) e assim, na província, a instituição da titia ainda funciona com bastante esplendor. E o curioso é que raramente são as moças feias, as imprestáveis, as geniosas, que ficam no caritó. Às vezes elas são bonitas e prendadas, e até mesmo arranjadas, com alguma renda ou propriedade, e contudo o elusivo marido não apareceu. Talvez porque elas se revelaram menos agressivas, ou mais ineptas, ou menos ajudadas da família na caçada matrimonial? [...] Falta de homem? Bem, é um dos motivos. Na província, os homens emigram muito. E para onde emigram, casam. Depois, também contribui para a existência das solteironas a reclusão mourisca que muito pai ainda costuma impor às filhas moças. Cobra que não anda não engole sapo. Ai, por estas províncias além ainda existe muito pai carrança que só deixa a filha sair para ver a Deus ou aos parentes, e assim mesmo muito bem acompanhada. Reclusas, as meninas vão ficando tímidas e dentro em pouco já são elas próprias que se escondem com cerimônia dos estranhos. Depois - parece incrível − mas o egoísmo das mães também contribui. Uma filha moça, no interior, não é, como na China, uma praga dos deuses. É, ao contrário, uma auxiliar barata e preciosa, a ama-seca dos irmãos menores, a professora, a costureira, o “descanso” da mãe. E então as mães, para não perderem a ajudante insubstituível, se associam aos pais no zelo exagerado, traindo a solidariedade do sexo por outra mais imperiosa, a solidariedade na exploração. [...] (Rachel de Queiroz. Obra Reunida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989, v. 4. p.23-25)
... onde as mulheres escondem, fora do alcance das crianças, o carretel de linha ... (1o parágrafo) O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o do grifado acima está na frase: a) Caritó é a pequena prateleira no alto da parede ... b) ... que ficou na prateleira ... c) ... elas agora vão para toda parte ... d) Às vezes elas são bonitas e prendadas ... e) ... para não perderem a ajudante insubstituível ...
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A02 Complementos verbais especiais
Vê-se no espelho; e vê, pela janela, A dolorosa angústia vespertina: Pálido morre o sol... Mas, ai! Termina Outra tarde mais triste, dentro dela;
Português
03. (UEL PR)
seu rosto, não há mais problema 3particular. É como se a casa
XXXVII Porém já cinco sóis eram passados Que dali nos partíramos, cortando Os mares nunca de outrem navegados, Prosperamente os ventos assoprando, Quando ua noite, estando descuidados Na cortadora proa vigiando, Ua nuvem, que os ares escurece, Sobre nossas cabeças aparece. XXXVIII
do vizinho deixasse de existir – moramos, todos, sob o 4mesmo teto e o que atinge uma 5pessoa afeta as demais. Foi assim que o atentado de 11 de setembro feriu o coração 6da humanidade. E cada bomba que explode no Iraque reforça a tese de que estamos 7ameaçados pela violência global. Para tentar neutralizá-la, é preciso entender o que se passa. “O começo do 9caos, o princípio da desordem no mundo é a falta de compreensão sobre o 10diferente”, afirma a filóso-
8
fa Anita Novinsky, chefe do Laboratório de Estudos sobre a 11
Intolerância da Universidade de São Paulo. “Se existe uma
esperança para pacificar 12as relações humanas, ela se chama tolerância.” Anita assegura que as ações econômicas que levaram o
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Tão temerosa vinha e carregada, Que pôs nos corações um grande medo. Bramindo, o negro mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo - “Ó Potestade – disse – sublimada, Que ameaço divino ou que segredo Este clima e este mar nos apresenta, Que mor cousa parece que tormenta?” (CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. 4ª. ed. Porto: Editorial Domingos Barreira, s.d. p. 332.)
Com base no segundo verso da estrofe XXXVIII, considere as afirmativas a seguir. I.
O “que” substitui “nuvem”, termo presente no penúltimo verso da estrofe anterior.
II.
O “que” é um conectivo com valor de consequência das situações apresentadas no verso anterior.
III.
A expressão “um grande medo” é complemento da forma verbal “pôs”.
IV.
O agente da forma verbal “pôs” é “nuvem”, termo omitido neste verso.
Estão corretas apenas as afirmativas a) I e II. b) I e III.
A02 Complementos verbais especiais
d) I, II e IV. e) II, III e IV. 04. (FURG RS) CONVIVER COM A DIFERENÇA: O GRANDE DESAFIO DO SÉCULO 21 (NA VIDA PRIVADA, NO TRABALHO E NA SOCIEDADE) Patrícia Zaidan (Adaptado da Revista Cláudia, julho de 2005)
No mundo tecnológico de hoje, que permite que um vietnamita se comunique 2com um boliviano ouvindo sua voz e vendo
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também decretaram a perda da
originalidade. Ao padronizar mercados, meios e 15modos de produção, a globalização interfere – muitas vezes de forma desastrosa – na 16dinâmica das cidades, das famílias e faz pairar o sentimento de que o diferente deve 17ser excluído. Isso pode significar um tiro no pé. 18 Para haver desenvolvimento sustentável, o planeta tem de preservar a 19diversidade biológica; para realizar justiça social, deve aceitar a multiplicidade étnica, cultural e religiosa; para respirar democracia, necessita acatar a diversidade política. Em resumo: o homem precisa respeitar o homem. Observando as relações entre os termos, assinale a alternativa em que as expressões destacadas têm a mesma função: a) a tese (ref. 5) e neutralizá- la (ref. 7). b) de compreensão (ref. 8) e de 11 de setembro (ref. 4). c) da originalidade (ref. 12) e da humanidade (refs 4-5). d) o homem (ref. 18) e o homem (ref. 19). e) no Iraque (ref. 5) e sustentável (ref. 16). 05. (UFAM) Assinale a opção em que consta afirmativa falsa sobre a análise sintática do terceto abaixo, extraído do soneto “Versos íntimos”, de Augusto dos Anjos. Toma um fósforo. Acende o teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
c) III e IV.
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planeta à modernidade
A mão que afaga é a mesma que apedreja. a) No segundo verso, beijo é o sujeito. b) No segundo verso, véspera do escarro é o objeto direto. c) No terceiro verso, há duas orações adjetivas restritivas, porém não coordenadas entre si. O sujeito de ambas é o pronome relativo que. d) No segundo verso, amigo é o vocativo. e) No verso inicial do terceto, há dois períodos simples. Em ambos o verbo está no imperativo e tem por sujeito o pronome tu.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
02. (FGV SP) Leia o trecho inicial de Oração aos Moços, de Rui Barbosa. Depois, responda às questões que a ele se referem. Senhores: Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao Direito viessem receber no templo do seu ensino em S. Paulo o selo de uma grande bênção, associando-se hoje com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos, em que o ides esposar. Em verdade vos digo, jovens amigos meus, que o coincidir desta existência declinante com essas carreiras nascentes agora, o seu coincidir num ponto de intersecção tão magnificamente celebrado, era mais do que eu mereceria; e, negando-me a divina bondade um momento de tamanha ventura, não me negou senão o a que eu não devia ter tido a inconsciência de aspirar. Mas, recusando-me o privilégio de um dia tão grande, ainda me consentiu o encanto de vos falar, de conversar convosco, presente entre vós em espírito; o que é, também, estar presente em verdade. Assim que não me ides ouvir de longe, como a quem se sente arredado por centenas de quilômetros, mas de ao pé, de em meio a vós, como a quem está debaixo do mesmo teto, e à beira do mesmo lar, em colóquio de irmãos, ou junto dos mesmos altares, sob os mesmos campanários, elevando ao Criador as mesmas orações, e professando o mesmo credo. Direis que isto de me achar assistindo, assim, entre os de quem me vejo separado por distância tão vasta, seria dar-se, ou supor que se está dando, no meio de nós, um verdadeiro milagre? Será. Milagre do maior dos taumaturgos. Milagre de quem respira entre milagres. Milagre de um santo, que cada qual tem no sacrário do seu peito. Milagre do coração, que os sabe chover sobre a criatura humana, como o firmamento chove nos campos mais áridos (...) http://www.casaruibarbosa.gov.br/2 de abril de 2008.
A propósito do encontro o a, na penúltima linha do segundo parágrafo, pode-se dizer que a) o primeiro termo (o) é um artigo e o segundo (a) é uma preposição. b) o primeiro termo (o) é o objeto do verbo negar e o segundo (a) é preposição exigida pelo verbo aspirar.
c) tanto o primeiro quanto o segundo termos são artigos. d) os dois termos destacados são pronomes. e) o primeiro termo (o) é o objeto do verbo negar e o segundo (a) é objeto pleonástico. 03. (Unifor CE) Na medida em que se torna globalmente mais escassa, a água doce deixa de ser considerada um bem público. De acordo com o poder dos diferentes grupos, ela se torna propriedade cada vez mais privada e menos comum, gerando um grave conflito ecológico distributivo. No caso do Brasil, a complexa e pouco aprofundada polêmica sobre a transposição das águas do rio São Francisco é um importante ensaio inicial sobre essa questão. Os severos estragos que a poluição por resíduos químicos e o aquecimento planetário estão fazendo nos estoques mundiais de água doce os colocam como prioridade na discussão estratégica sobre poder – e podem abrir imensas oportunidades para a América do Sul. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), já há mais de um bilhão de pessoas no planeta com severa carência de água potável, e vários cenários internacionais consideram que a disputa pelo acesso a ela poderá conduzir a inúmeros conflitos regionais. Na Europa, enquanto bilhões de euros são gastos na despoluição de seus rios, cresce o mercado de importação desse líquido vital. A água doce não poluída de superfície já não é suficiente para atender à população dos EUA. Mais grave ainda é a situação das águas subterrâneas, envenenadas progressivamente por produtos químicos e bactérias, na marcha da industrialização. A redução da disponibilidade de água já está gerando pesadas disputas naquele país. Os consumidores consideram-na um bem público essencial à saúde e à vida; já os fornecedores negam qualquer relação entre acesso à água potável e temas como direitos humanos e questões sociais. Em busca de novas possíveis fontes de água, a atenção dos norte-americanos volta-se para o sul do continente. Alguns especialistas detectam estar-se moldando uma nova Doutrina Monroe ambiental, em que os recursos naturais do hemisfério devem levar em conta as prioridades dos EUA. O México, com situação ainda tranquila, pode vir a ser o primeiro a ser pressionado. Esse quadro crítico, no entanto, se inverte na América do Sul, onde a água doce ainda é abundante. Com 12% da população mundial, possuímos 47% das reservas de água globais, e boa parte delas se encontra submersa. Às grandes bacias do Amazonas, do Orenoco e do Prata, mais inúmeros rios, lagos e estuários, se somam aquíferos de grande porte, entre eles o Guarani – o terceiro maior do mundo – espalhado pelos territórios do Brasil, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina. Muitos estudiosos acreditam que quem controlar os recursos ambientais da tríplice fronteira − em que se inclui aquele
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A02 Complementos verbais especiais
01. (Ufam AM) Assinale a opção em que o pronome que exerce a função sintática de objeto direto. a) Nosso amigo vendeu bem todos os quadros a óleo que pintou. b) Amemos, jovens, a terra que nos viu nascer. c) Gostei de descobrir em ti a pessoa solidária que és. d) Inocente que era, como ficou claro, foi logo liberado. e) Somos o que somos, não aquilo que pensamos ser.
Português
aquífero –, terá a seu dispor matérias-primas essenciais para a manutenção da vida e para a sustentabilidade de processos produtivos geradores de desenvolvimento econômico e social em amplas áreas do Cone Sul. (Adaptado de Gilberto Dupas. O Estado de S. Paulo, A2, 19 de janeiro de 2008)
... gerando um grave conflito ecológico distributivo. (1º parágrafo) O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o do grifado acima está na frase: a) ... que a disputa pelo acesso a ela poderá conduzir a inúmeros conflitos regionais. b) ... cresce o mercado de importação desse líquido vital. c) ... para atender à população dos EUA. d) ... onde a água doce ainda é abundante. e) ... que quem controlar os recursos ambientais da tríplice fronteira ... 04. (UFMS) Leia o poema abaixo, de Manuel Bandeira. O Bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. O substantivo bicho aparece três vezes nos versos do poema, exercendo, na ordem, as seguintes funções sintáticas:
A02 Complementos verbais especiais
a) complemento verbal, sujeito, aposto. b) objeto indireto, sujeito, sujeito. c) complemento nominal, agente da passiva, sujeito. d) objeto direto, sujeito, sujeito. e) objeto indireto, sujeito, aposto. 05. (Unifor CE) Michael C. Corballis, professor de psicologia e ciências cognitivas da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, afirma que o ser humano começou a falar com as mãos. Se sua hipótese estiver correta, nossos antepassados se faziam entender por meio de um misto de gestos e grunhidos e só muito gradualmente desenvolveram uma fala articulada. “Evidências que apontam para a ideia de que a linguagem se originou nos gestos estão se acumulando recentemente”, afirma ele. Tais evidências vêm das mais diversas áreas, como a linguística, a biologia molecular, a primatologia e a neurociência. Em cada um desses campos de estudo, há um vespeiro teórico armado para o pesquisador cutucar. A polêmica começa pela
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própria natureza da linguagem. Para muitos linguistas, como Chomsky, a linguagem é uma propriedade exclusiva e inata do ser humano, e será inútil tentar qualquer analogia com as formas de comunicação de outras espécies animais. Acredita-se que a grande expansão do gênero humano da África para o resto do mundo começou há 50 mil anos. Há evidências fósseis de migrações anteriores, porém esses primeiros aventureiros parecem ter sumido sem deixar descendentes. Há 40 mil anos teria acontecido uma espécie de explosão evolutiva. O homem teria começado a fabricar utensílios sofisticados. Surgem também mostras de pensamento simbólico – pinturas nas cavernas, por exemplo. Corballis crê que esse progresso foi propiciado pela fala. Uma vez que estavam livres das funções de comunicação, as mãos puderam caprichar na manufatura de objetos. A fala permitiu, ainda, que os conhecimentos acumulados fossem transmitidos a seus descendentes, oferecendo ao homo sapiens vantagens tecnológicas sobre outros hominídeos. A linguagem não seria o passo final de uma tendência evolutiva, mas sim uma invenção que o homem foi aprimorando ao longo de sucessivas gerações, tal como ocorreria mais tarde com a escrita. Segundo ele, a linguagem em si é muito complexa para ter emergido somente nos últimos cem mil anos. Portanto, devem ter existido formas de linguagem que não dependiam puramente da vocalização, e é difícil pensar em outras modalidades, além dos gestos manuais e faciais. Não seria exato dizer que a linguagem falada substituiu a gestual; ela apenas se tornou predominante. Além disso, os gestos não desapareceram por completo. Continuamos a gesticular enquanto falamos – e o engraçado é que o fazemos até ao telefone, apesar de nosso interlocutor não nos enxergar. (Adaptado de Jerônimo Teixeira e Rodrigo Maroja. Superinteressante, novembro 2002, p. 75-77)
... e só muito gradualmente desenvolveram uma fala articulada. (1º parágrafo) A única expressão do texto que NÃO reproduz a mesma classificação das palavras da expressão grifada acima é a) o ser humano. b) a biologia molecular. c) uma propriedade exclusiva. d) pela própria natureza. e) uma tendência evolutiva. 06. (UFAM) Assinale a opção em que o pronome se aparece na frase com a função de objeto direto de verbo reflexivo recíproco. a) Quem se imola em praça pública é monge budista. b) Os vaidosos deslustrados se atribuem importância que não têm. c) Os dois jovens se davam demonstrações de profundo afeto. d) No início dos debates, os adversários cumprimentaram-se apenas formalmente. e) O velho se arrependia amargamente de sua passada vida viciosa.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A03
PRONOMES OBLÍQUOS COMO COMPLEMENTOS VERBAIS Os objetos de um verbo podem ser substituídos por um pronome pessoal oblíquo. Para entender como se dá tal processo de substituição, precisamos, antes, relembrar quais são os pronomes pessoais oblíquos.
ASSUNTOS ABORDADOS n Pronomes oblíquos como com-
plementos verbais
n Pronomes oblíquos como objetos n Emprego dos pronomes oblíquos átonos
Pronomes pessoais oblíquos tônicos Os pronomes oblíquos tônicos são sempre acompanhados por preposição. São estes: n n n n n n
1ª pessoa do singular: mim, comigo 2ª pessoa do singular: ti, contigo 3ª pessoa do singular: si, consigo 1ª pessoa do plural: nós, conosco 2ª pessoa do plural: vós, convosco 3ª pessoa do plural: si, consigo
Pronome pessoais oblíquos átonos Os pronomes oblíquos átonos não são acompanhados por preposição. São estes: n n n n n n
1ª pessoa do singular: me 2ª pessoa do singular: te 3ª pessoa do singular: se, o, a, lhe 1ª pessoa do plural: nos 2ª pessoa do plural: vos 3ª pessoa do plural: se, os, as, lhes
Pronomes oblíquos como objetos Leia os enunciados a seguir e perceba como foi feita a substituição do objeto pelo pronome pessoal oblíquo: n
Ontem no parque, Carlos quebrou sua perna. Ontem no parque, Carlos quebrou-a.
n
Osvaldinho deu uma gravata para seu pai. Osvaldinho lhe deu uma gravata.
Essa operação de substituição é bastante útil para escrever um texto, pois assim você pode evitar repetições desnecessárias. Atente-se, portanto, para o uso adequado desses pronomes, uma vez que na modalidade escrita, seu uso é diferente da variante popular.
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Português
Emprego dos pronomes oblíquos átonos
n
Getúlio abriu o pote de sorvete. Getúlio abriu-o.
n
Angélica divulgou a nova campanha sobre o uso consciente da água.
me / te / se / nos / vos Os pronomes oblíquos “me, te, se, nos, vos” podem ser usados tanto como substitutos do objeto direto, quanto do objeto indireto de um verbo. Veja:
Angélica divulgou-a. Verbos terminados em r / s / z Quando o verbo termina em “r, s ou z” você, ao posicionar encliticamente o pronome oblíquo átono, deve retirar essa última letra e usar as formas “lo, la, los e las”. Veja:
n
Entregou seu coração a mim. (a mim = objeto indireto) Entregou-me seu coração.
n
Quero rever a ti. (a ti = objeto direto) Quero rever-te.
n
Preciso comprar o livro. Preciso comprá-lo.
n
Ernesto convidou a nós para a festa. (a nós = objeto direto) Ernesto convidou-nos para a festa.
n
Fiz as tarefas. Fi-las.
n
Trouxemos a bola.
!
Trouxemo-la.
ATENÇÃO!
Os pronomes oblíquos átonos também podem ser usados como pronomes possessivos. Veja: n Alguém me roubou a carteira. (minha carteira) n Beijei-lhe o rosto. (rosto dela/ dele)
Verbos terminados em m / ão / õe Quando o verbo termina em “m, ão ou õe” você, ao posicionar encliticamente o pronome oblíquo átono, deve usar as formas “no, na, nos e nas”. Veja: n
Ele compõe as músicas. Ele compõe-nas.
n
Tragam o paciente. Tragam-no.
n
Dão comida aos pobres. Dão-na aos pobres.
o / a / os / as
A03 Pronomes oblíquos como complementos verbais
Os pronomes oblíquos “o, a, os, as” só podem ser usados para substituir o objeto direto de um verbo. Veja:
680
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
lhe / lhes Os pronomes “lhe e lhes” só podem ser usados como substitutos do objeto indireto do verbo, desde que esse objeto seja pessoa e regido pela preposição “a”. Veja: n
Agradeci à professora pela ajuda recebida. Agradeci-lhe pela ajuda recebida.
n
Você deve obedecer às leis de trânsito. Você deve obedecer a elas. (adequado) Você deve obedecer-lhes. (inadequado, pois “leis de trânsito” não refere a uma pessoa)
Exercícios de Fixação
1. Vá depressa, que o Chefe quer falar ________. 2. Leva ________o guarda-chuva, que o tempo está nublado. 3. Informaram -________ que amanhã não haverá expediente. 4. Felizmente, poucos são os que se aborrecem perante _________. As lacunas das frases acima devem ser completadas, respectivamente, pelos pronomes: a) contigo - consigo - no - ti e mim. b) com você - contigo - lhe - ela e mim. c) contigo - contigo - lhe - você e eu. d) consigo - contigo - lhe - mim e tu e) consigo - com você - no - ti e você 02. O seguinte período apresenta algumas lacunas: “Ela ficou em casa ............... dois, para conversar ............... sobre o livro, mas disse ao meu irmão que era difícil para ............... ler aquele livro sozinho, porque as letras eram pequenas demais para ............... ler, sem forçar meus olhos hipermetropes.” Os pronomes de 1ª pessoa que completam adequadamente as lacunas são, respectivamente: a) conosco – conosco – mim – mim b) conosco – conosco – eu – eu c) com nós – conosco – eu – mim d) conosco – com nós – eu – eu e) com nós – conosco – mim – eu 03. Observe os fragmentos:
I. “... custou-lhe a história uma forte reprimenda...” II. “... o amor e o ciúme lhe ocupavam a alma...” O “lhe”, pronome pessoal do caso oblíquo átono, pode exercer diferentes funções sintáticas. Depois de analisar os trechos acima, assinale a alternativa que indica a função exercida por esse pronome em cada um dos fragmentos, respectivamente: a) objeto indireto - objeto indireto b) complemento nominal - adjunto adnominal c) adjunto adnominal - adjunto adnominal d) objeto indireto - adjunto adnominal e) objeto indireto - complemento nominal 04. Ao se discutirem as ideias expostas na assembleia, chegou-se à seguinte conclusão: pôr em confronto ESSAS IDEIAS com outras menos polêmicas seria avaliar melhor o peso DESSAS IDEIAS, à luz do princípio geral que vem regendo AS MESMAS IDEIAS. a) Transcreva o texto, substituindo as expressões destacadas por PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS ÁTONOS que lhes sejam correspondentes. Faça as alterações necessárias. 05. A substituição do termo em negrito não se fez adequadamente em: a) Acharam os livros muito interessantes. Acharam-los muito interessantes. b) Fizemos o trabalho como você orientou. Fizemo-lo como você orientou. c) Daremos a ele todas as oportunidades. Dar-lhe-emos todas as oportunidades. d) Refiz a lição que estava errada. Refi-la, que estava errada. e) Enviamos cartas a vocês. Enviamos-lhes cartas.
Questão 04. Ao se discutirem as ideias expostas na assembleia, chegou-se à seguinte conclusão: pô-LAS em confronto com outras menos polêmicas seria avaliar-LHES melhor o peso, à luz do princípio geral que vem regendo-AS (ou “que AS vem regendo”).
681
A03 Pronomes oblíquos como complementos verbais
01. Leia com atenção as frases a seguir:
Português
Exercícios Complementares 01. Marque a alternativa em que o pronome lhe é empregado
05. Julgue as afirmações a seguir. Use V para assinalar os itens
com o valor semântico de pronome possessivo.
verdadeiros e F para os itens falsos.
a) Tudo de repente (...) lhe pareceu lúgubre.
( ) Substituindo o pronome lhe por dele na oração Ousou
b) Os seus deveres (...) eram-lhe pesados como fardos injustos.
F-V-F
o escrevente namorar-lhe a filha, as duas formas pronominais funcionam como objeto indireto.
c) A realidade tornava-se-lhe odiosa.
( ) Na maioria das variedades do português falado no Bra-
d) Veio-lhe o nojo das engarrafadas dos emplastros.
sil, empregam-se as formas de tratamento você/vocês
e) (...) dous lábios de fogo que, num beijo, lhe chupas-
para designar o interlocutor do discurso ao invés das
sem a alma.
formas tu/vós. ( ) Quando se usa você/vocês no lugar de tu/vós, o verbo,
Texto para as próximas duas questões:
os pronomes oblíquos e possessivos continuam na se-
“Que me enganei ora o vejo:
gunda pessoa.
Nadam-te os olhos em pranto Arfa-te o peito, e no entanto
06. Leia as frases a seguir:
Nem me podes encarar.” (Gonçalves Dias)
02. Em um dos versos acima, um pronome substitui toda uma
“... tu vais encher os cofres ... derrubada debaixo da fronde ... dando de comer aos pássaros”
oração. Aponte-o:
Substituindo corretamente as formas substantivas pelos
a) que
pronomes pessoais correspondentes, obtém-se:
b) me
a) encher-lhes – debaixo dela – dando-os de comer
c) o
b) encher-lhes – debaixo a ela – dando-lhes de comer
d) te
c) enchê-los – debaixo dela – dando-lhes de comer
03. Em um dos versos acima, um pronome pessoal oblíquo está substituindo um pronome possessivo. Aponte-o:
d) enchê-los – debaixo a ela – dando-os de comer e) encher-los – debaixo dela – dando de comê-los 07. Nos quadrinhos, acontece um erro quanto à norma culta da
a) te
Língua. Identifique-o:
b) me c) o d) que 04. Incontestável representante do bom gosto, a escritora e colunista Danuza Leão não tem vergonha de aplaudir o Show A03 Pronomes oblíquos como complementos verbais
do Milhão. (...) Da mesma franqueza de Danuza comunga o publicitário Roberto Justus. “A atração educa quem não teve acesso àquelas informações e diverte quem quer testar seus conhecimentos.” Telejornal. O Estado de S. Paulo. 03/09/2000, p. T8-T9.
a) Falta vírgula depois do vocativo.
Seguindo as convenções da norma culta, a oração destacada
lar com a 3ª pessoa do singular.
no texto pode ser substituída por: a) Quem não teve-lhe acesso. b) Quem não as teve acesso. c) Quem não teve-as acesso. d) Quem não teve acesso a elas. e) Quem não teve-lhes acesso.
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b) A personagem mistura, na sua fala, a 2ª pessoa do singuc) Há erro de grafia ao reproduzir as falas coloquiais das personagens. Exemplos: Tô, pra. d) Os substantivos próprios estão com letra maiúscula. e) Há pontos de exclamação e interrogação demais nos trechos.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A04
VOZES VERBAIS As vozes verbais são a forma como os verbos se apresentam na oração a fim de determinar se o sujeito pratica ou recebe a ação. Em outras palavras, as vozes verbais indicam a relação entre o sujeito e a ação expressa pelo verbo. Na Língua Portuguesa, existem três tipos de vozes verbais: n n n
Voz ativa; Voz passiva; Voz reflexiva.
O estudo das vozes verbais trata do papel do sujeito dentro da oração em relação à ação verbal, ou seja, se o sujeito realiza a ação (voz ativa), se o sujeito sofre a ação (voz passiva) ou se ele a realiza e a sofre ao mesmo tempo (voz reflexiva).
ASSUNTOS ABORDADOS n Vozes verbais n Voz ativa n Voz passiva n Voz reflexiva n Transformação da voz ativa em voz passiva n Voz passiva analítica e voz passiva sintética n Funções do pronome “se”
Voz ativa Como dito, com o verbo na voz ativa, podemos concluir que o sujeito da oração realiza a ação verbal. Veja, a seguir, alguns exemplos de frases na voz ativa: n n n
Eu comprei roupas novas no shopping. Os alunos confiam em seus professores. A criança chorou a noite inteira.
Voz passiva Com o verbo na voz passiva, como dissemos, o sujeito da oração sofre a ação verbal. Veja, a seguir, alguns exemplos de frases na voz passiva: n n n
Roupas novas foram compradas no shopping por mim. A inflação foi contida pelos governantes. O salário mínimo foi diminuído mais uma vez.
Voz reflexiva O sujeito da oração cujo verbo está na voz reflexiva, como mencionado anteriormente, realiza e sofre a ação verbal. Veja, a seguir, alguns exemplos de frases na voz reflexiva: n n n
Juliana cortou-se com a tesoura. Carlos Eduardo lavou-se antes de jantar. Miranda viu-se no espelho.
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Português
Transformação da voz ativa em voz passiva O processo de transformação da voz ativa em voz passiva é bastante útil no momento de se escrever um texto, pois, nesse caso, você pode escolher qual ente será o foco da informação. Se quiser escrever uma frase com foco no agente, você pode usar a voz ativa; se quiser escrever uma frase com foco no paciente, você pode usar a voz passiva. Atente-se, portanto, para o processo de transformação. Quando uma oração contém um verbo construído com objeto direto, ela pode assumir a forma passiva, mediante as seguintes transformações: 1) O objeto direto passa a ser sujeito da passiva. 2) O verbo passa para a forma passiva analítica do mesmo tempo e modo. 3) O sujeito converte-se em agente da passiva. Veja o exemplo abaixo: Eu comprei roupas novas no shopping. Sujeito agente da oração: Eu Tempo e modo verbal: pretérito perfeito (comprei) Objeto direto: roupas novas Adjunto adverbial de lugar: no shopping. Para realizar a transformação da voz verbal, é necessário converter o sujeito agente em agente da passiva, com auxílio da preposição “por”. Deve-se também construir uma locução verbal com o verbo ser flexionado, mais o particípio do verbo da oração e converter o objeto direto em sujeito paciente. Atenção! Lembre-se de que o verbo sempre concorda com o sujeito. Roupas novas foram compradas no shopping por mim. Sujeito paciente da oração: Roupas novas Tempo e modo verbal: pretérito perfeito (foram compradas) Agente da passiva: por mim Adjunto adverbial de lugar: no shopping
Voz passiva analítica e voz passiva sintética Na voz passiva analítica, é preciso construir uma locução verbal com o verbo “ser”. O agente da passiva pode ser expresso no enunciado. Já na voz passiva sintética, não há uma locução verbal, apenas o verbo flexionado com o pronome apassivador “se”. Veja: n
Roupas novas foram compradas no shopping por mim. Compraram-se roupas novas no shopping.
A04 Vozes verbais
n
A inflação foi contida. Conteve-se a inflação.
n
O salário mínimo foi diminuído mais uma vez. Diminuiu-se o salário mínimo mais uma vez.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Funções do pronome “se” Ao longo do curso, nós já estudamos diversos usos para a partícula “se” em nossa língua. Eis dois desses casos: n n
Pronome apassivador Índice de indeterminação do sujeito
É muito importante saber diferenciar cada uma dessas nomenclaturas, pois elas são fundamentais para se realizar a concordância do verbo com o sujeito. Veja: Pronome apassivador A partícula apassivadora “se” só pode ser usada na voz passiva sintética junto de um verbo transitivo direto. Logo, nesse caso, haverá concordância entre o verbo da oração e o sujeito. Observe: n n
Abandonaram-se os gatos na rua. Vestiram-se as crianças para a festa.
Índice de indeterminação do sujeito O índice de indeterminação do sujeito pode ser usado junto de um verbo transitivo indireto, de um verbo intransitivo ou de um verbo de ligação. Nesse caso, como o sujeito foi indeterminado (o verbo permanecerá sempre na 3ª pessoa do singular), não há concordância. Observe: n n n
Trata-se dos produtos comercializados. Comeu-se bem no jantar do prefeito. Na infância, ficava-se feliz por qualquer motivo. Exercícios de Fixação
a) Qualquer cidadão pode comprovar tudo isso. b) Tudo pode comprovar-se. c) Qualquer cidadão se pode comprovar tudo isso. d) Pode comprovar-se tudo isso. e) Qualquer cidadão pode ter tudo isso comprovado. 02. (Puc PR) Assinale o período em que a colocação do pronome átono pode ser alterada. a) Passe-me o livro, por favor! b) Foi este o artigo que vocês leram e me recomendaram? c) A criancinha veio, mal se equilibrando nos pezinhos. d) Ter-se-ão retirado, quando você chegar. e) Não lhe quero falar sobre o caso. 03. (Fuvest SP) “Os meninos de rua que procuram emprego são repelidos pela população.” I)
Reescreva a frase, alterando-lhe o sentido apenas com o emprego de vírgulas.
II)
Explique a alteração de sentido ocorrida.
04. É exemplo de construção na voz passiva o segmento destacado na seguinte frase: a) Ainda ontem fui tomado de risos ao ler um trechinho de crônica. b) A Solange toma especial cuidado com a escolha dos vocábulos. c) Glorinha e sua filha não partilham do mesmo gosto pelo requinte verbal. d) O enrubescimento da mãe revelou seu desconforto diante da observação da filha. e) Lembro-me de uma visita que recebemos em casa, há muito tempo. 05. (UFV MG) Todas as frases estão corretas quanto à colocação dos pronomes oblíquos átonos, exceto: a) Logo que me formar, colocar-me-ei à disposição da empresa. b) No portão de entrada da cidade lia-se, em letras garrafais, numa placa de bronze: ESTRANHOS, AFASTEM-SE! c) Se o tivesse encontrado, eu lhe teria dito tudo. d) Em se tratando de caso urgente, nada o retinha em casa. e) Os alunos tinham preparado-se para a grande prova.
Questão 03. Os meninos de rua, que procuram emprego, são repelidos pela população. As vírgulas fazem com que a oração se transforme em oração subordinada adjetiva explicativa. Sem vírgulas, estávamos diante de uma oração subordinada adjetiva restritiva.
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A04 Vozes verbais
01. “Tudo isso pode ser comprovado por qualquer cidadão”. A forma ativa dessa mesma frase é:
Português
Exercícios Complementares 01. (UPM SP) Assinale a alternativa em que há agente da passiva.
gria, no Festival da TV Record, logo houve quem percebesse
a) Nós seremos julgados pelos nossos atos.
que as duas canções eram influenciadas pela narrativa cine-
b) Olha esta terra toda que se habita dessa gente sem lei,
matográfica ...
quase infinita. c) Agradeço-lhe pelo livro.
Transpondo-se a primeira das frases em itálico acima para a
d) Ouvi a notícia pelo rádio.
voz passiva e a segunda para a voz ativa, as formas verbais
e) Por mim, você pode ficar.
resultantes serão, respectivamente:
02. Transpondo-se para a voz passiva a construção “Os ateus
a) se apresentaram − influencia. b) foi apresentado − se influenciaram.
despertariam a ira de qualquer fanático”, a forma verbal
c) eram apresentadas − influenciou.
obtida será:
d) foram apresentadas − influenciava.
a) seria despertada.
e) são apresentadas − influenciou.
b) teria sido despertada. c) despertar-se-á. d) fora despertada. e) teriam despertado. 03. (Fundação Carlos Chagas) Transpondo para a voz passiva a
06. (Puc SP) “O homem está imerso num mundo ao qual percebe ...” A palavra em negrito é: a) objeto direto preposicionado b) objeto indireto c) adjunto adverbial
oração “O faro dos cães guiava os caçadores”, obtém-se a
d) agente da passiva
forma verbal:
e) adjunto adnominal
a) guiava-se b) ia guiando c) guiavam d) eram guiados e) foram guiados 04. (Eng. Itajubá MG) Transforme as frases a e b segundo o seguinte modelo: – Foi socorrido por amigos. – Amigos socorreram-no.
07. Em: Tinha grande amor à humanidade / As ruas foram lavadas pela chuva / Ele é rico em virtudes. Os termos destacados são, respectivamente: a) complemento nominal, agente da passiva, complemento nominal b) objeto indireto, agente da passiva, objeto indireto c) complemento nominal, objeto indireto, complemento nominal d) objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva
Foste ajudado por muitos. Fomos aconselhados por mestres. a) 1) Muitos ajudaram-te. 2) Mestres aconselharam-vos. b) 1) Muitos ajudaram-te. 2) Mestres aconselharam-nos. c) 1) Muitos ajudaram-lhe. 2) Mestres aconselharam-nos. A04 Vozes verbais
d) 1) Muitos ajudaram-lhe. 2) Mestres aconselharam-vos. 05. Em outubro de 1967, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso apresentaram as canções Domingo no parque e Alegria, Ale-
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e) complemento nominal, complemento nominal, complemento nominal. 08. (Mackenzie SP) Transpondo-se para a voz passiva analítica a oração. O menino ia assinalando as respostas numa folha, obtém-se a forma verbal: a) Foram assinaladas. b) Tinham sido assinaladas. c) Iam sendo assinaladas. d) Eram assinaladas. e) Seriam assinaladas.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Ibmec SP) O NAVIO NEGREIRO Castro Alves (fragmento)
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!...” Assinale a alternativa onde a função sintática do termo destacado está errada. a) “... suspendendo às tetas...” – objeto indireto b) “Rega o sangue das mães” – adjunto adnominal c) “ Um de raiva delira” – adjunto adverbial de causa d) “E ri-se a orquestra irônica...” – sujeito e) “Fazei-os mais dançar!...” – objeto direto 02. (Udesc SC) Capítulo XIII Os reposteiros, as tapeçarias, os divãs, tudo enfim quanto constituía a mobília do palácio demonstrava a magnificência inexcedível de um príncipe das lendas hindus.
1
Lá fora, nos jardins, reinava a mesma pompa, realçada pela mão da Natureza, perfumada por mil odores diversos, alcatifada de verdes alfombras, banhada pelo rio, 5 refrescada por inúmeras fontes de mármore branco, junto às quais um milheiro de escravos trabalhava sem cessar. Fomos conduzidos ao divã das audiências por um dos auxiliares do vizir Ibraim Maluf. Avistamos, ao chegar, o poderoso monarca sentado em riquíssimo trono de marfim 10e veludo. Perturbou-me, de certo modo, a beleza estonteante do grande salão. Todas as suas paredes eram adornadas com inscrições admiráveis feitas pela arte caprichosa de um calígrafo genial. As legendas apareciam, em relevo, sobre fundo azul claro em letras pretas e vermelhas. Notei que eram versos dos mais brilhantes poetas de nossa terra! Jarras de flores por toda a parte, flores desfolhadas sobre coxins, sobre alcatifas, ou em 15 salvas de ouro e prata primorosamente cinzeladas. Malba Tahan, em O homem que calculava, p. 69 e 70.
Assinale a alternativa incorreta. a) Os termos “pela mão da Natureza” (ref. 1), “pelo rio” (ref. 1) e “por inúmeras fontes” (ref. 5) são sintaticamente classificados como objetos indiretos. b) Em “alcatifada de verdes alfombras” (ref. 1), pode-se substituir a palavra destacada por atapetada, que se mantém o sentido do período. c) No período “Avistamos, ao chegar, o poderoso monarca sentado em riquíssimo trono de marfim e veludo” (ref. 5 e 10), a oração destacada está entre vírgulas por ser uma oração reduzida do infinitivo. d) Da leitura do excerto, pode-se inferir que o grande salão onde eles seriam recepcionados tinha em suas paredes versos desenhados a mão, não escritos por um poeta, mas sim, por um calígrafo. e) O uso da hipérbole “mil odores diversos” (ref. 1) e da linguagem adjetivada no excerto ratificam o encantamento do narrador em relação ao palácio. 03. (Puc RS) 1Para se passar de uma situação menos humana 2para uma situação mais humana, quer na vida nacional, 3quer na vida internacional, é longo o caminho a 4percorrer, e nele se há de avançar por fases. (...) 5 Jamais haverá paz sem uma disponibilidade para 6o diálogo sincero e contínuo. A verdade desenvolve-se, 7também ela, no diálogo e, por outro lado, fortifica 8este meio indispensável para a paz. A verdade também 9não tem receio dos entendi687
Português
mentos honestos, 10porque traz consigo as luzes que permitem comprometer-11se neles, sem ter de sacrificar convicções – e 12 valores essenciais. A verdade aproxima de si os espíritos; 13faz ver aquilo que já une as partes até então 14opostas umas às outras; faz retroceder as desconfianças 15de ontem e prepara terreno para novos progressos 16na justiça e na fraternidade, na coabitação 17pacífica de todos os homens. (...) 18 Sim, eu tenho para mim esta convicção: a verdade 19fortifica a paz a partir de dentro. E um clima de 20sinceridade maior há de permitir mobilizar as energias 21humanas para a única causa que é digna delas: 22o pleno respeito da verdade sobre a natureza e o destino 23do homem, fonte da verdadeira paz na justiça e 24na amizade. http://vatican.va.holy_father/john_paul_ii/messages/peace/ documents/ (acessado em 26/4/2006)
galhães (autor de uma biografia seminal de Carlos Marighella) contribuem para entender a vida dos personagens e também, talvez sobretudo, para compreender o período em que viveram e criaram. O objetivo deles é mostrar os homens em sua inteireza, porque só biografias amplas, nuançadas, podem explicar a complexidade dos indivíduos. Mas nenhuma delas denigre a imagem dos biografados. Pelo contrário, eles ficam até “maiores”. As biografias autorizadas costumam ser menos biografias e mais hagiografias. Como se sabe, lugar de santo é na igreja, não nas livrarias ou nas estantes (e computadores) dos leitores. O que Chico, Caetano e Gilberto Gil têm a esconder? Roberto Carlos ao menos tem uma perna mecânica. Além do trauma. Texto 2 Folha de S.Paulo, 20 out. 2013
As expressões do texto equivalentes quanto ao sentido e ao papel sintático que desempenham nas frases são a) se (linha 01) se (linha 07) b) para (linha 01) para (linha 18) c) a (linha 03) a (linha 18) d) paz (linha 05) paz (linha 19) e) diálogo (linha 06) diálogo (linha 07) Texto 3 Revista Veja, 21 out. 2013
04. (Fac. Direito de Franca SP)
Página infeliz da nossa história
Texto 1 Jornal Opção
Jerônimo Teixeira Goiânia, de 20 a 26 de outubro de 2013. Adaptado.
Chico Buarque e Caetano Veloso rejeitam biografias não autorizadas. O que têm a esconder dos leitores? Euler de França Belém
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
Chico Buarque e Caetano Veloso são artistas talentosos, às vezes até apresentados como intelectuais. O segundo, sobretudo, escreve artigos e concede entrevistas em que debate com intelectuais gabaritados, como Roberto Schwarz. Chico escreve romances inspirados no nouveau roman e, como Caetano, é um compositor do primeiro time. Porém, quando se unem numa campanha contra as biografias não autorizadas, mostram que não diferem dos políticos autoritários que, há pouco tempo, censuravam livros e músicas. É certo que há biógrafos e biógrafos. Alguns especializam-se em escarafunchar a lama e nada acrescentam de enriquecedor para a cultura. Mas tais “pesquisadores” logo são esquecidos e seus livros são ridicularizados pelos leitores. Caem logo na lata de lixo da falta de seriedade. A posição de Chico e Caetano — que lideram outros artistas e copiam Roberto Carlos (quem diria!) — prejudica muito os biógrafos sérios, como Fernando Morais, Ruy Castro, Lira Neto e Mário Magalhães. As biografias escritas por Morais (autor da excelente “Chatô: O Rei do Brasil”), Ruy Castro (escreveu biografias de Nelson Rodrigues, Garrincha, Carmen Miranda), Lira Neto (biógrafo exemplar de Castello Branco, José de Alencar e Getúlio Vargas) e Ma688
São apenas três os tipos de biografias. Existem as autorizadas e as não autorizadas, ambas, a despeito de sua qualidade, úteis à sociedade. O terceiro tipo é um tiro no pé das democracias, é a biografia censurada. Pois é justamente esse o tipo de biografia que nossos ídolos querem ver prevalecer no Brasil. Nossos ídolos não são mais os mesmos. Eles passaram a semana inteira tentando, em vão, explicar que acham sensato o biografado censurar sua biografia, mas que isso não significa a morte da liberdade, justamente a causa que os tomou célebres, admirados, amados e, claro, biografáveis! Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil enfiaram-se em um labirinto retórico de dar dó. A cada nova justificativa, desciam mais um degrau do autoritarismo. A cada falsidade desmascarada, desciam um ponto na escala da admiração que conquistaram no coração dos brasileiros. [...] Está em jogo neste debate, um princípio inegociável da democracia: a liberdade de expressão. Embora seja vital para todo e qualquer cidadão, a liberdade de expressão deveria ser especialmente cara a quem tem na arte o seu ofício, e talvez ainda mais aos músicos da geração que nos anos 60 e 70, sofreu com a censura do regime militar. No entanto, foram estes que se mobilizaram para solapar esse fundamento do Estado de direito. No grupo ridiculamente chamado Procure Saber, capitaneado pela hábil empresária Paula Lavigne, estão Chico, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento, Erasmo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
05. (ITA SP) Leia, a seguir, o texto em que Millôr Fernandes parodia Manuel Bandeira: Que Manuel Bandeira me perdoe, mas VOU-ME EMBORA DE PASÁRGADA Vou-me embora de Pasárgada Sou inimigo do Rei Não tenho nada que eu quero Não tenho e nunca terei Vou-me embora de Pasárgada Aqui eu não sou feliz A existência é tão dura As elites tão senis Que Joana, a louca da Espanha, Ainda é mais coerente do que os donos do país. (FERNANDES, Millôr. Mais! Folha de S.Paulo, mar. 2001.)
Os três últimos versos de Millôr Fernandes exprimem a) a inconsequência dos governantes. b) a má vontade dos políticos. c) a ignorância do povo. d) a pobreza de espírito das elites. e) a loucura das mulheres no governo. 06. (Puc Campinas SP) Agachado atrás dum muro, José Lírio preparava-se para a última corrida. Quantos passos dali até à igreja? Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. “Tenente Liroca - dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos - suba pro alto do campanário e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se alguém aparecer pra tirar água do poço, faça fogo sem piedade.” [...] Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revolução porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas não se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora − um medo que lhe vinha de baixo, das tripas, e lhe subia pelo estômago até a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braços, a vontade. Medo é doença; medo é febre. (VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento. In: O Continente, parte 1. São Paulo: Círculo do livro, 1997. p. 9)
Os pronomes átonos que funcionam como objeto indireto podem ser usados com sentido possessivo, principalmente quando se aplicam a partes do corpo de uma pessoa ou a objetos de seu uso particular. O comentário acima pode ser exemplificado com o que ocorre na frase a) um medo que [...] lhe subia pelo estômago até a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braços, a vontade. b) “Tenente Liroca − dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos ...” c) Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. d) Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo. e) Agachado atrás dum muro, José Lírio preparava-se para a última corrida. 07. (Cescem SP) Assinale a análise correta do termo destacado: “A terra era povoada de selvagens.” a) objeto direto b) objeto indireto c) agente da passiva d) complemento nominal e) adjunto adverbial
Questão 05. Gab: D ou A. “Os donos do país” são as “elites”, ou parte delas, que são objeto da observação anterior do humorista (“as elites tão senis”). A “incoerência” dos “donos do país” pode ser associada à “pobreza de espírito” mencionada na alternativa d. As demais alternativas não são aceitáveis porque não é correto associar “donos do país” nem aos “governantes” e aos “políticos” (a e b), que, muitas vezes, não são mais do que representantes dos tais donos, nem muito menos ao “povo” (c), que se situa no polo oposto ao das elites, ou à “loucura das mulheres no governo” (e), pelo fato de ser mulher e rainha a personagem louca mencionada nos versos da paródia de Millôr Fernandes (assim como no original de Manuel Bandeira). A alternativa a é a que mais se presta a confusão, dado que a falta de coerência pode ser descrita como “inconsequência”. Ocorre, porém, que a identificação de “donos do país” com “governantes” nem encontra apoio no texto, nem, necessariamente, nos fatos (o famoso livro de Raymundo Faoro, de título semelhante, é uma demonstração disso). Não obstante, é de temer que, num teste impreciso como este (como se poderia determinar a que grupo de fato se refere a expressão “donos do país”?), a Banca Examinadora tenha considerado a alternativa a como correta.
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FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
Carlos e Roberto Carlos. De início, o grupo organizou-se para pedir mudanças na legislação sobre direitos autorais. Mas, no encontro que a trupe teve com a presidente para falar desse tema, Roberto Carlos aproveitou para adiantar sua preocupação maior: a manutenção dos dispositivos do Código Civil que permitem o veto a biografias não autorizadas. Esses pontos da lei estão sendo contestados, no Supremo Tribunal Federal, por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pela Associação Nacional de Editores de Livros. [...] As biografias são, desde a Antiguidade, fontes de informação preciosas — saberíamos menos sobre Alexandre, o Grande, ou Júlio César sem as Vidas Paralelas, de Plutarco —, mas não são apenas coleções aleatórias de fatos: elas oferecem uma interpretação do personagem e de seu tempo. “Nenhuma biografia é definitiva. Na França, deve estar na casa do milhão o número de biografias de Napoleão e a cada uma delas se renova a percepção sobre o personagem”, diz a historiadora Mary Del Priore. É difícil e doloroso caracterizar Caetano, Gil, Chico e companhia como censores. Não combina com eles e suas obras. Talvez essa recaída no obscurantismo seja apenas uma página infeliz da nossa história. Indique o referente dos elementos destacados no texto 1, na ordem em que aparecem. a) Artigos; biógrafos sérios; biógrafos sem caráter; indivíduos biografados. b) Intelectuais; biógrafos inescrupulosos; biógrafos competentes; indivíduos. c) Artigos; biógrafos sérios; biógrafos fraudadores; artistas anônimos. d) Artistas talentosos; biógrafos sem caráter; biógrafos sérios; sujeitos biografados. e) Artigos e entrevistas; biógrafos inescrupulosos; biógrafos sérios; biografados.
FRENTE
B
“Aurora”, 1910, por Odilon Redon, principal pintor simbolista francês.
Fonte: Wikimedia Commons
PORTUGUÊS Por falar nisso O Parnasianismo e o Simbolismo são movimentos contemporâneos ao Realismo / Naturalismo, porém característicos apenas da poesia. Em Portugal, foi pouco significativa a sua expressão, mas no Brasil houve muitos adeptos. A exemplo de muitos dos movimentos culturais, o Parnasianismo teve sua inspiração na França, em uma antologia poética intitulada Le Parnasse Contemporain (O Parnaso Contemporâneo), a estética da “arte pela arte”, ou da “arte sobre a arte”, publicada em 1866. No Brasil do século XIX, enquanto na prosa vigoravam o Realismo e o Naturalismo, duas tendências que expressavam diferentes concepções poéticas na poesia eram desenvolvidas: o Parnasianismo e o Simbolismo. Essas duas escolas literárias têm ideologias opostas, mas compartilham a preocupação com a linguagem e apresentam refinamento formal. Enquanto o Simbolismo reage ao materialismo e ao cientificismo, o Parnasianismo defende o princípio da “arte pela arte”. Os parnasianos acreditavam que não era meta da poesia retratar os problemas sociais e humanos, mas alcançar a perfeição estética. Ao contrário do Realismo e do Naturalismo, que se ocupavam da crítica da realidade, da observação e do exame psicológico, cujo homem é um objeto a ser cientificamente estudado, o Parnasianismo e o Simbolismo representavam, na poesia, um retorno ao clássico, com todos os seus ingredientes: o princípio do belo na arte e a busca do equilíbrio e da perfeição formal. O Parnasianismo já vinha sendo difundido no Brasil desde 1870, mas essa nova estética manifesta-se em 1878, nos jornais cariocas. Um ataque à poesia romântica gerou uma polêmica em versos que ficou conhecida como a Batalha do Parnaso. Entretanto, considerase como marco inicial do Parnasianismo no País o ano de 1882, com a publicação do livro de poesias Fanfarras, de Teófilo Dias, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna, em 1922. Por outro lado, o ano de 1893 marca o início do Simbolismo, com a publicação de dois livros de Cruz e Sousa: Missal (poemas e prosa) e Broquéis (versos). Esse poeta é considerado o maior representante do Simbolismo no Brasil, ao lado de Alphonsus de Guimaraens. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
B01 B02 B03 B04
Parnasianismo I ............................................................................ 692 Parnasianismo II ............................................................................ 705 Simbolismo I.................................................................................. 714 Simbolismo II................................................................................. 723
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B01
ASSUNTOS ABORDADOS n Parnasianismo I n Olavo Bilac n Raimundo Correia
PARNASIANISMO I Conforme citado anteriormente, o Parnasianismo surgiu como um movimento da poesia defendendo a “arte pela arte”, no final dos anos 1870 e continuando na primeira parte do século XX, como uma resposta ao Romantismo. Assim, a poética parnasiana, em uma postura antirromântica, baseava-se no binômio objetividade temática/culto da forma: a objetividade temática surge como negação ao sentimentalismo romântico. Em lugar da simplicidade da linguagem, do emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiro, do sentimentalismo e da valorização da paisagem nacional, os poetas parnasianos defendiam uma poesia de elevado nível vocabular, objetiva e racionalista, priorizando o aspecto formal por meio dos versos bem ritmados, dos efeitos plásticos e sonoros, e temas universais. O Parnasianismo trouxe a busca do equilíbrio, valorizando o cuidado formal e expressões mais contidas, o princípio do belo na arte, tendo como objetivo principal não o fato de tratar dos problemas sociais e humanos, mas alcançar a perfeição em sua construção. Esse fazer poético adquiriu um sentido mais rigoroso de trabalho intelectual: o cuidado com a linguagem, a preocupação com a forma, a lapidação e o refinamento do texto carregado de descrições objetivas e impessoais. Nesse sentido, a retomada do racionalismo e das formas perfeitas da Antiguidade Clássica fazia surgir uma poesia filosófica e de meditação, porém artificial. O Parnasianismo representava, então, um retorno ao clássico. Essa postura parnasiana pode ser percebida nos versos de Olavo Bilac, em “Profissão de fé”. O poeta acentua a importância das palavras precisas, do cuidado com as frases e realça o polimento dos versos, para que o poema se torne uma espécie de objeto precioso, semelhante a uma joia rara. O traço mais peculiar da poética parnasiana presente no poema “Profissão de fé”, é o culto excessivo pela forma perfeita, por meio da utilização de rimas ricas, raras e perfeitas, vocabulário extremamente refinado e complexo, fazendo da poesia uma atividade da elite intelectual brasileira.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Profissão de fé
Que ofício tal... nem há notícia De outro qualquer.
Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Assim procedo. Minha pena Segue esta norma,
Faz de uma flor.
Por te servir, Deusa serena, Imito-o. E, pois nem de Carrara A pedra firo:
Serena Forma! [...]
O alvo cristal, a pedra rara,
Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A ideia veste: Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito: E que o lavor do verso, acaso, Por tão sutil, Possa o lavor lembrar de um vaso De Bezerril. E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento, A trabalhar, longe de tudo O pensamento. Porque o escrever – tanta perícia, Tanta requer,
Devido à concepção de arte pela arte, o poeta parnasiano distancia-se da realidade. Percebemos esse distanciamento nos versos: “O olhar atento, A trabalhar, longe de tudo O pensamento”. Pela leitura, já podemos observar que o tema é a exaltação do valor poético. A linguagem é muito apurada, revelando a perfeição formal buscada pelo poeta nos versos: “Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:” É possível perceber ainda que nesses versos o eu poético faz uma série de analogias entre a arte de escrever e o trabalho do ourives, quando estabelece a correspondência entre os termos: rima/rubim; poeta/ourives; pena/cinzel; papel/prata firme; oficina/ escritor. O eu lírico inveja o ourives devido à forma como ele trabalha. Observe nos versos: “Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo Faz de uma flor”. Para o poeta parnasiano, o fazer poético e o ato de escrever equivalem ao trabalho artesanal de um ourives. Esse trabalho artesanal a que o poeta atribui às palavras é, para o autor, perseverante, delicado e cheio de dedicação e minuciosidade. Ambos se preocupam com a perfeição formal. Tal perfeição pode ser observada nos versos a seguir, comprovando o culto excessivo à forma. Percebe-se também, nesse trecho, a utilização da sequência de rimas ABAB. É importante observar a modificação que o autor faz na palavra “rubi” transformando-a em “rubim” conseguindo, assim, a rima perfeita. 693
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O ônix prefiro.
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“Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim”. Já sabemos que a inspiração parnasiana brasileira veio da França, do Parnaso Contemporâneo, publicada em 1866. Essa corrente pretendeu combater o excesso de sentimentalismo presente na poesia romântica e criar algo mais próximo da “ciência”.
Características principais da produção artística parnasiana n
n n
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Lema: “Arte pela arte”. A arte deveria constituir um fim em si mesma, não ser reflexo dos sentimentos do artista ou representar preocupações com problemas sociais. Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em si e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético. Retorno ao Classicismo, porém, dando mais importância à descrição que à análise. Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas. Preferência por temas descritivos. Uso e valorização da descrição das cenas e objetos. Enfoque sensual e erótico da mulher, valorizando a descrição física. Frequente alusão aos elementos da mitologia greco-romana. Utilização de linguagem rebuscada, evitando a linguagem coloquial. Rigidez formal, respeito à métrica e às rimas. Poesia mais preocupada com a técnica, com a forma. O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical nos versos de suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas. Impessoalidade - a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos. O artista não devia envolver-se emocionalmente com o objeto. Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto. Purismo (preocupação com o apuro da linguagem e correção gramatical). Vocabulário erudito, envolvendo utilização de palavras incomuns no linguajar cotidiano. Exotismo, com exploração de temas mais extravagantes. Objetividade no tratamento dos temas abordados. O parnasiano deixa de lado o subjetivismo e a emoção. Preferência pelos sonetos, com versos alexandrinos (dozes sílabas) e não com decassílabos como nos clássicos.
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SAIBA MAIS O monte Parnaso ou Parnasso (em grego: ΄Ορος Παρνασσός, transl. Óros Parnassós) é uma montanha de pedra caliça situada no centro da Grécia, cujo cume está a 2 457 metros de altitude, sobre a antiga cidade de Delfos (Δελφοί), ao norte do golfo de Corinto. Segundo a antiga mitologia grega, era uma das residências do deus Apolo (deus da luz e das artes) e de suas nove musas (entidades mitológicas ligadas às artes). Conforme diz a lenda, esse era o lugar onde reuniam-se os poetas, os quais estavam à margem das grandes transformações do final do século XIX e início do XX. Templo de Apolo (século IV a.C.) no Santuário de Apolo, em Delfos, Grécia
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Olavo Bilac, em sua produção, mostrou nuances de sensualidade e patriotismo. VIA LÁCTEA Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e entender estrelas” Nesse soneto, Bilac defende a importância de expressar os sentimentos. A presença do “EU” evidencia a função emotiva. Quanto à estrutura do texto, observamos a imitação do modelo clássico: o poema é um soneto italiano em versos decassílabos heroicos, em que a sexta e décima sílabas são tônicas. São marcas da poesia parnasiana o preciosismo verbal/vocábulos selecionados e o uso de hipérbato - inversão dos termos da oração: E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. O soneto é tipicamente parnasiano. Não revela nenhum conflito social para agradar ao seu público. Ele mostra um discurso alheio às questões de seu tempo, como a crise que provocou a Abolição e a República ou a urbanização do Rio de Janeiro. Em vez disso, ele contempla o céu noturno. A Via Láctea. No segundo quarteto, o poeta compara a nebulosa a que pertence o nosso sistema (“Via-Láctea”) à vestimenta dos santos em procissão, como se o céu protegesse o poeta. Assim, fica realçada a proximidade entre ele e as estrelas. E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. B01 Parnasianismo I
No último terceto, o autor termina o soneto revelando o segredo para ouvir as estrelas: simplesmente amar. E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e entender estrelas” 695
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Como poeta, Bilac soube, com maestria, aproveitar o que o Parnasianismo tinha de inovador no trabalho com a forma, sem abrir mão da sensibilidade para identificar as imagens e os temas que respondiam aos anseios de um público acostumado aos exageros e ao sentimentalismo romântico. A popularidade do autor está associada à grande capacidade de trabalhar as palavras e criar versos inesquecíveis. O soneto bilaquiano “A um poeta”, que analisaremos a seguir, apresenta várias alegorias para expressar as concepções de Arte e do fazer poético. Cabe ao poeta escrever seu verso, assim como um escultor ou um ourives trabalha com suas pedras, buscando os relevos, os contornos e a perfeição. A diferença aqui é que o sujeito que agora “lima” o verso não é o ourives, nem o escultor, e sim o monge beneditino em seu claustro. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! O monge representa a perseverança e a paciência, assim como a pureza, o equilíbrio e a razão. Pureza, equilíbrio e racionalidade que se materializam na forma de soneto. O eu poético diz que, quando está escrevendo seus versos, deve encontrar um lugar tão sossegado e silencioso como um mosteiro. O turbilhão da rua perturba o momento da criação, pois aquele é estéril. Para atingir a forma perfeita, é preciso trabalhar bem com o objeto da poesia, que no caso, é a palavra.
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A ideia de moldar, perfeitamente, a forma, estende-se no segundo quarteto. Todavia, o sujeito lírico adverte que o resultado final, isto é, a conclusão do poema, deve esconder todo o esforço que o poeta concentrou na construção dos versos. Nesse sentido, o eu lírico compara a forma perfeita a de um templo grego. Desse modo, aí está a ligação com os clássicos que aparece não somente na estrutura do
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texto (a forma de um soneto), mas também, explicitamente em um dos versos. A um poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício. Porque a beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. (Apud Alceu Amoroso Lima, org. Olavo Bilac; poesia. Rio de Janeiro, Agir, 1980)
Esse soneto pode ser considerado uma receita para o parnasiano, pois ele vê o texto como um fim em si mesmo (“arte pela arte”). Ele não se envolve com o mundo exterior. A palavra e a forma devem ser trabalhadas com muito cuidado e atenção. Veja os versos: Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve.
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O poeta diz isso porque o mundo exterior não serve para a arte, ele é “estéril”, não cria. Em: Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! O autor valoriza o trabalho artístico, desprezando aquilo que parece ser apenas inspiração. Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. A segunda estrofe junta-se ao último verso da primeira, pois apesar de tanto esforço, a obra deve resultar leve e bela e, sobretudo, sem subjetividade. Aqui, na última estrofe, temos o lema do Parnasianismo: “arte pela arte” Porque a beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. Uma arte pura seria aquela em que o subjetivismo não estivesse presente. O que vale mesmo é apenas a beleza. Já na terceira estrofe: Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício. O poeta refere-se a edifício e andaimes. Edifício seria o poema, enquanto os andaimes seriam os meios de construí-lo. Quanto aos aspectos formais, o soneto é construído em decassílabos, com rimas interpoladas (a b b a, a b b a, c d c, d c d). No segundo quarteto, a ideia de moldar perfeitamente a forma permanece. No entanto, o eu poemático agora chama atenção para o resultado final, para a conclusão do poema: todo o esforço que o poeta empregou na construção dos versos deve ser escondido. Assim, o eu lírico compara a forma perfeita a de um templo grego, existindo aí uma ligação com os clássicos, desde a estrutura do texto (soneto), mas também claramente nos versos.
Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício. Finalmente, o último verso sintetiza, de modo admirável, o ideal parnasiano de perfeição formal, conjugando elementos clássicos de equilíbrio e harmonia Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918) foi contista, jornalista e um dois maiores representantes do Parnasianismo no Brasil. Começou a publicar seus versos aos 18 anos, na Gazeta Acadêmica da Faculdade de Medicina. Patriota que era, compôs a letra do Hino à Bandeira. Foi um dos principais representantes do Movimento Parnasiano que valorizou o cuidado formal do poema, em busca de palavras raras, rimas ricas e rigidez das regras da composição poética. O jovem Bilac era frequentador da vida boêmia e das rodas literárias. Dedicou-se à poesia e ao jornalismo e era fervoroso ativista nas questões políticas da época, militando em favor da Abolição e da República. Tornou-se inimigo feroz de Marechal Floriano Peixoto, a quem dedicou versos satíricos. Bilac foi a estrela maior do parnasianismo brasileiro, com sua enorme capacidade de trabalhar as palavras e criar versos inesquecíveis. Tornou-se um mestre na arte de escrever sonetos. Em 1907, no auge da popularidade, é eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, em um concurso promovido pela revista Fon-Fon. Nos saraus e salões literários típicos da época, seus sonetos eram exaustivamente declarados. Segundo o poeta Manuel Bandeira, isso ocorreu em virtude da fluência de Bilac na linguagem e na métrica, além de sua sensualidade sempre à flor da pele. Para Bandeira, esse conjunto tornava-o muito acessível ao grande público. Embora fosse parnasiano de alma, possuía uma sensibilidade próxima ao subjetivismo romântico. Bilac formou, junto com Raimundo Correia e Alberto de Oliveira, a famosa “Tríade Parnasiana”, inspirada na mitologia greco-romana. Assunto para nossas próximas aulas.
Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa
O primeiro terceto evidencia o ato de criação, comparado a um extremo sofrimento. A forma é o que há de mais importante. Em uma construção, não devem aparecer marcas do andaime: a forma perfeita deve ser leve, natural - as dificuldades de sua construção não podem ser vistas.
Fonte: Wikimedia commens
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Figura 01 - Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac - a Tríade Parnasiana
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De tal modo, que a imagem fique nua,
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Fonte: Wikimedia Commons
Obras de Olavo Bilac Poesias, 1888 Via Láctea, 1888 Sarças de Fogo, 1888 Crônicas e Novelas, 1894 O Caçador de Esmeraldas, poesia, 1902 As Viagens, poesia, 1902 Alma Inquieta, poesia, 1902 Poesias Infantis, 1904 Crítica e Fantasia, 1904 Tratado de Versificação, 1905 Conferências Literárias, 1906 Ironia e Piedade, crônicas, 1916 A Defesa Nacional, 1917 Tarde, poesia, 1919 (publicação póstuma)
Raimundo Correia Raimundo Correia, chamado de “Poeta das Pombas”, embora tenha concebido a ideia da perfeição formal ao lado de Bilac, não se sujeitou totalmente ao culto da forma. Seus sonetos exploram a força das imagens sugestivas. A figura das pombas, por exemplo, é uma metáfora sempre presente em sua obra. A ave representa a esperança e a fé que “voam” para distante dos corações sob a ação do tempo. Correia teve sua maior influência no filósofo alemão Schopenhauer, de quem herdou um pessimismo profundo e resignado. Autor de uma poesia filosofante, de meditação, seus versos são marcados pela desilusão, forte pessimismo e por observações acerca da transitoriedade da vida, como também reflexões de cunho moral e social, podendo apresentar, também, temas greco-romanos. Posteriormente, o poeta estreou como romântico. A obra Primeiros Sonhos traz influência de Gonçalves Dias e Castro Alves. As características parnasianas aparecem na obra Sinfonias, que traz a formação da Tríade ou Trindade Parnasiana, com Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, conforme mencionado anteriormente.
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Raimundo da Mota Azevedo Correia nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo de um vapor ancorado na baía de Mogúncia, em Costas do Maranhão, e morreu em Paris, em 1911, para onde foi em busca de tratamento. Embora fosse parnasiano, o melhor de sua obra está nos textos em que traduziu o mais profundo desencanto. Em alguns poemas, dá vazão à sua sensibilidade. Na verdade, o poeta ainda é um caso controvertido no contexto da crítica literária: extremamente apreciado por alguns críticos, inclusive o modernista Mário de Andrade, mas tido também por outros, como um parnasiano criador de uma filosofia de cores existenciais que beira o clichê. Correia foi capaz de produzir uma obra que escapa aos lugares comuns da temática parnasiana. Segundo Massaud Moisés, “o poeta alcança, talvez mais do que os outros parnasianos entre nós, o perfeito enlace entre a forma, correta sem ser marmórea, e o conteúdo, pessoal (romântico, no mais amplo sentido) sem perder-se em sentimentalidades piegas.” (MOISÉS, 1984.p.191) 698
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Ao escrever o soneto “As pombas”, tomou como base elementos ligados à natureza, à juventude, e até mesmo à própria liberdade. A excelência dos versos está intimamente relacionada à capacidade do poeta de pintar a natureza em tons fortes, criando imagens de grande força poética. As pombas Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais... CORREIA, Raimundo. In: BANDEIRA, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros: fase parnasiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.p.154.
No texto que você acabou de ler, a revoada das aves é apresentada como uma cena do amanhecer. A publicação sugere que a capacidade de sonhar é própria da juventude e que a perdemos no início da nossa mocidade. Ao ler o soneto, percebemos que o poeta, com certo pessimismo, estabelece algumas comparações. Ele compara o revoar das pombas aos nossos sonhos. As primeiras partem, mas retornam sempre no cair da tarde Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
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De pombas vão-se dos pombais,
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Os sonhos voam dos corações humanos quando chega a adolescência. A diferença é que as pombas voltam aos pombais, mas os sonhos não voltam aos corações. Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada/Sopra, Nesses versos, a madrugada seria o início da vida e a tarde seria a maturidade. No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, Nesse trecho, ele faz referência à época da vida humana em que “as asas soltam”. Na fase da adolescência, a pessoa começa a descobrir os caminhos.... Leiamos mais um soneto de Raimundo Correia em que o eu poético trata da diferença entre o que os seres humanos realmente sentem e o que mostram ao mundo. Mal Secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N´alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo,
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Como invisível chaga cancerosa!
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Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja a ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! (CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: Alhambra, 1995.)
Ao ler o soneto, podemos perceber um pessimismo evidente quanto à condição humana. Há uma referência ao sentimento de tristeza, da dor moral que se esconde atrás da “máscara da face”, pois ninguém está imune à infelicidade. Nos dois quartetos, o eu lírico apresenta os sentimentos que as pessoas “escondem” dos demais: a raiva, as dores que têm dentro da alma, os sentimentos que causam sofrimento, corrói o coração e faz a alma chorar. O soneto pressupõe uma hipótese de que muitas pessoas simulam a felicidade ou fingem ser felizes. Se pudéssemos ver além das aparências, enxergar a essência das pessoas, aqueles que nos causam inveja despertar-nos-iam o sentimento de piedade e compaixão. Podemos perceber, pela leitura das duas últimas estrofes, que a maior parte das pessoas vive de aparências e a única alegria é parecer feliz aos olhos dos outros. Nestes versos, o eu lírico faz referência ao riso estampado no rosto das pessoas para disfarçar a dor que sentem. Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanto à métrica, Raimundo Correia opta por versos decassílabos, muito utilizados pelos parnasianos. O poeta utiliza-se de rima do tipo ABAB nos dois quartetos e do tipo CCD nos dois tercetos, como também recursos sonoros e visuais: o ritmo marcado pela sonoridade, sobretudo, nas palavras tônicas e, nas rimas, a marca do tom consistente e forte. Correia consegue, por meio desse recurso, transmitir sua oposição semântica fundamental dentro do poema, entre o íntimo do ser humano e sua aparência, com as máscaras que, muitas vezes, ocultam os sentimentos reais.
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Exercícios de Fixação 01. (Unifor CE) Via Láctea Olavo Bilac
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” e eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto
d) O movimento parnasiano tem suas raízes na França, com a publicação, em 1866, da antologia poética O Parnaso Contemporâneo. e) Quanto à mulher, a poesia parnasiana a vê sob o prisma da sensualidade e do erotismo, privilegiando a descrição de seus aspectos físicos. 03. (UCS RS) O excerto a seguir faz parte do soneto “A um poeta”, escrito por Olavo Bilac, um dos expoentes do Parnasianismo no Brasil.
A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Longe do estéril turbilhão da rua,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Beneditino escreve! No aconchego
Direis agora: “tresloucado amigo!
Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas”. BILAC, Olavo. Poesias. Organização e prefácio Ivan Teixeira. São Paulo: Martins Fontes. 1996.p.53
Em relação à poesia Via Láctea de Olavo Bilac, pode-se afirmar que a) traz como temática a beleza física da mulher com linguagem descritiva. b) exprime as tendências conservadoras do início do século XX. c) apresenta como tema o sentimento amoroso, o amor sensual. d) descreve objetos com vocabulário precioso. e) representa uma visão melancólica do mundo. 02. (UFRR) Assinale a afirmação INCORRETA acerca do movimento literário parnasiano. a) Foi o livro Poesias, de Olavo Bilac, publicado em 1882, que marcou o início do Parnasianismo brasileiro. b) Enquanto a poesia romântica dava maior valor à inspira-
Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço: e trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua Rica mas sóbria, como um templo grego […] Fonte: BILAC, Olavo. A um poeta. In: Tarde. Disponível em: <http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article. php?storyid=504>. Acesso em: 20 set. 14.
O poema tematiza, de modo central, algumas características da estética parnasiana, quais sejam: a) a impessoalidade e a objetividade no tratamento da realidade. b) o emprego de linguagem rebuscada e a preferência por formas fixas. c) a exploração da mitologia grega e da cultura clássica, que se manifestam na comparação da arte a um templo grego (segunda estrofe). d) a valorização da estética e a busca da perfeição formal, exprimindo o fazer poético no verso Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua! e) a valorização da subjetividade e da emoção, em oposição ao racionalismo. 04. (UCS RS) Os excertos abaixo fazem parte do soneto “Velhas árvores”, de Olavo Bilac. Leia-os com atenção.
ção do que ao acabamento formal, o Parnasianismo atriVelhas árvores
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buiu grande valor à estética do texto. c) Em virtude da preocupação com a forma do poema - que se refletia na precisão das palavras, na riqueza das rimas e no respeito pelas regras de composição poética - o trabalho do poeta parnasiano comumente é comparado ao de um ourives ou escultor.
Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas...
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O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas Vivem, livres de fomes e fadigas; E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. [...] Fonte: Velhas árvores. In: BILAC, Olavo. Antologia: Poesias. Coleção a obra-prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2002. Alma Inquieta. Disponível em: <http://www.bibvirt. futuro.usp.br>. Acesso em: 13 fev. 15.
Olavo Bilac integrou a tríade parnasiana e, no soneto lido, a filiação ao Parnasianismo explicita-se, marcadamente, na a) oposição entre desejos humanos e lei divina, manifesta na visão da árvore velha. b) manifestação idealizando o envelhecimento humano. c) preocupação em criticar os problemas sociais e sublinhar valores positivos, representados na força da árvore velha. d) busca de uma estética nacionalista que valoriza elementos da natureza brasileira. e) preocupação com o rigor formal, expressa na rima nos quartetos do soneto.
que se verifica naquele momento. e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado. 06. (Puc RS) Leia o poema A cavalgada, de Raimundo Correia. A lua banha a solitária estrada... Silêncio!... Mas além, confuso e brando, O som longínquo vem-se aproximando Do galopar de estranha cavalgada. São fidalgos que voltam da caçada; Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando, E as trompas a soar vão agitando O remanso da noite embalsamada...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
A pátria
Perde-se após no centro da montanha...
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este! Olha que céu! que mar! que rios! que florestas! A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, É um seio de mãe a transbordar carinhos. Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos, Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! Vê que grande extensão de matas, onde impera, Fecunda e luminosa, a eterna primavera! Boa terra! jamais negou a quem trabalha O pão que mata a fome, o teto que agasalha... Quem com o seu suor a fecunda e umedece, Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! Criança! não verás país nenhum como este: Imita na grandeza a terra em que nasceste! BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.
Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza. b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo.
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também aos ícones nacionais. d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza
E o bosque estala, move-se, estremece...
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c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados
E o silêncio outra vez soturno desce, E límpida, sem mácula, alvacenta A lua a estrada solitária banha... O texto do crítico Sergius Gonzaga refere-se a características da obra de Raimundo Correia, também perceptíveis no poema da questão. “Raimundo Correia é um dos poetas mais ligados aos padrões do movimento __________. Alguns críticos valorizam nele o __________, muitas vezes acrescido de uma __________ que __________”. (GONZAGA, Sergius. Curso de Literatura Brasileira. Adaptado.)
A alternativa que completa as lacunas do excerto adequadamente é: a) simbolista – grande potencial para a construção de imagens – euforia – dá vida ao culto à forma b) parnasiano – sentimentalismo nos conflitos humanos – subjetividade – subverte o mero culto à forma c) romântico – pendor à idealização da natureza – força – espiritualiza o humano d) simbolista – poder sugestivo da construção simbólica – musicalidade – valoriza a forma e o conteúdo e) parnasiano – sentido plástico de suas descrições da natureza – melancolia – humaniza a paisagem
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Exercícios Complementares
02. (Unifesp SP) Essa poesia não logrou estabelecer-se em Portugal. De origem francesa, suas primeiras manifestações datam de 1866, quando um editor parisiense publica uma coletânea de poemas; em 1871 e 1876, saem outras duas coletâneas. Os poetas desse movimento literário pregam o princípio da Arte pela Arte, isto é, defendem uma arte que não sirva a nada e a ninguém, uma arte inútil, uma arte voltada para si própria. A Arte procuraria a Beleza e a Verdade que existiriam nos seres concretos, e não no sentimento do artista. Por isso, o belo se confundiria com a forma que o reveste, e não com algo que existiria dentro dele. Daí vem que esses poetas sejam formalistas e preguem o cuidado da forma artística como exigência preliminar. Para consegui-lo, defendem uma atitude de impassibilidade diante das coisas: não se emocionar jamais; antes, impessoalizar-se tanto quanto possível pela descrição dos objetos, via de regra inertes ou obedientes aos movimentos próprios da Natureza (o fluxo e refluxo das ondas do mar, o voo dos pássaros, etc.). Esteticistas, anseiam uma arte universalista. Em Portugal, tentou-se introduzir esse movimento; certamente, impregnou alguns poetas, exerceu influência, mas não passou de prurido, que pouco alterou o ritmo literário do tempo. Na verdade, o modo fortuito como alguns se deixaram contaminar da nova moda poética revelava apenas veleidade francófila, em decorrência de razões de gosto pessoal ou de grupos restritos: faltou-lhes intuito comum. (Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1999. Adaptado.)
As informações apresentadas no texto referem-se à literatura a) simbolista, cuja busca pelo Belo implicou a liberdade na expressão dos sentimentos. O texto deixa claro que essa literatura alcançou notável aceitação entre os poetas da época. b) simbolista, cuja preocupação com a expressão do sentimento filia-se à tradição poética do Renascimento. O texto deixa claro que essa literatura teve um desenvolvimento tímido na cena literária portuguesa. c) parnasiana, cuja preocupação com a objetividade a opõe ao subjetivismo romântico. O texto deixa claro que essa literatura não se impôs na cena literária portuguesa. d) parnasiana, cuja liberdade de expressão e cujo compromisso social permitem fundamentar a Arte pela Arte. O texto deixa claro que essa literatura teve pouco espaço na cena literária portuguesa. e) realista, cuja influência da tradição clássica é fundamental para se chegar à perfeição. O texto deixa claro que essa literatura teve uma disseminação irregular na cena literária portuguesa. 03. (Ibmec SP) I Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via Que, aos raios do luar iluminada, Entre as estrelas trêmulas subia Uma infinita e cintilante escada. E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada Degrau, que o ouro mais límpido vestia, Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada, Ressoante de súplicas, feria... Tu, mãe sagrada! vós também, formosas Ilusões! sonhos meus! Íeis por ela Como um bando de sombras vaporosas. E, ó meu amor! eu te buscava, quando Vi que no alto surgias, calma e bela, O olhar celeste para o meu baixando... (Olavo Bilac, Via-Láctea)
Embora seja identificado como o principal poeta parnasiano brasileiro, Olavo Bilac, nesse soneto, explora um aspecto do Romantismo, o qual está explicitado na seguinte alternativa: a) objetividade e racionalismo do eu lírico. b) subjetividade numa atmosfera onírica. c) forte presença de elementos descritivos. d) liberdade de criação e de expressão. e) valorização da simplicidade, bucolismo.
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B01 Parnasianismo I
01. (Uncisal AL) Acerca do movimento denominado Parnasianismo, pode-se dizer que a) valorizava extremamente os aspectos formais do texto literário e retomava valores legados pela antiguidade greco-latina, assim como fizeram outros movimentos que o antecederam, como o Classicismo e o Arcadismo. b) os seus autores, entre os quais estavam Manuel Bandeira e Olavo Bilac, adotavam pseudônimos latinos e celebravam a vida simples do campo, o que ficou conhecido como bucolismo e pastoralismo. c) questionava radicalmente as formas consagradas de elaboração poética e defendia a liberdade de criação artística, como se percebe nos manifestos escritos por seu principal autor, o paulistano Oswald de Andrade. d) começou após a proclamação da Independência e teve como nomes mais destacados Álvares de Azevedo e Gonçalves Dias, que visavam criar uma arte genuinamente brasileira. e) tem como proposta principal a noção de “arte pela arte”, segundo a qual a poesia deve denunciar os problemas brasileiros, a fim de promover a transformação da realidade.
Português
04. (Ibmec SP) Acho que nunca falei do meu amigo parnasiano. Era poeta e jovem, hoje é mais poeta do que jovem. Fazia umas brincadeiras com a linguagem dos poetas parnasianos, transplantando-a para banalidades de hoje. (...) Não sei dizer quando esse amigo começou com a brincadeira. Talvez na faculdade de direito, e além do talvez não avanço. Uma noite, farreado, acabado e sem pouso, ele chegou a um daqueles hotéis de má fama que havia na Avenida Ipiranga, de escadaria longa, íngreme, estreita e desanimadora, e chamou lá de baixo: — Estalajadeiro! Estalajadeiro! Era já o parnasiano divertindo-se dentro dele. Um homem surgiu lá em cima, com má vontade. E o poeta, já possuído pela molecagem parnasiana, exclamou, teatral: — Bom estalajadeiro! Tendes um catre para o meu repouso? Recebeu de troco palavrões bocagianos. (Ivan Angelo, Veja SP, 02/05/2012)
Considere estas afirmações: I. O adjetivo “parnasiano”, atribuído ao amigo do narrador do texto, se deve à utilização de palavras pomposas, rebuscadas. II. No último período, o termo “bocagianos” faz referência aos versos satíricos de Manuel Du Bocage, o mais importante autor do Parnasianismo lusitano. III. Depreende-se, da leitura do texto, que os poetas parnasianos valorizavam o plano da expressão, em detrimento do plano do conteúdo. Está correto o que se afirma em a) I, apenas. d) I e III, apenas. b) I e II, apenas. e) I, II e III. c) II e III, apenas. 05. (FGV SP) Vila Rica O ouro fulvo* do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos* de ouro, as minas, que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre: E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelus plange ao longe em doloroso dobre, O último ouro de sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Como uma procissão espectral que se move... Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
B01 Parnasianismo I
a) decadência. b) opulência. c) indiferença. d) aversão. e) euforia. Texto comum às questões 06, 07 e 08 Torce, aprimora, alteia1, lima A frase: e, enfim No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim2. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives3, saia da oficina Sem um defeito
(Olavo Bilac)
Vocabulário: 1 alteia: torna mais alto, mais sublime 2 rubim: o mesmo que rubi, pedra preciosa de cor vermelha 3 ourives: que trabalha com ouro 06. (ESPM SP) Dentre as passagens abaixo, assinale aquela que coincide com a ideia do poema de Olavo Bilac: a) “Assim eu quereria o meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais” (Manuel Bandeira). b) “Mundo mundo vasto mundo, / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução.” (C.Drummond de Andrade). c) “Musa!...dá-me o hemistíquio (metade de um verso) de ouro, a imagem atrativa. / A rima / a estrofe limpa e viva.” d) “Oh, se me creste, gente ímpia, / Rasga meus versos, crê na eternidade!” (Bocage). e) “...eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor...” (Machado de Assis). 07. (ESPM SP) No Parnasianismo, a atividade poética é comparada ao trabalho do ourives, porque, para o autor: a) a poesia é preciosa como um rubim. b) na poesia não pode faltar a rima. c) o poeta não se assemelha ao trabalhador artesanal. d) o poeta é como um lapidador. e) o poeta se identifica com a natureza.
Agora, para além do cerro, o céu parece Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu... A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Olavo Bilac
*Glossário: “fulvo”: de cor alaranjada. “laivos”: marcas; manchas; desenhos estreitos e coloridos nas pedras; restos ou vestígios. 704
Tendo em vista as imagens usadas pelo poeta na descrição de Vila Rica, pode-se afirmar corretamente que, nela, é dominante a ideia de
08. (ESPM SP) Ainda sobre o poema acima, pode-se deduzir que o ideal da forma literária é: a) a aliteração. b) a perfeição formal. c) o verso livre. d) o refrão (ou estribilho). e) o verso branco.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B02
PARNASIANISMO II Vimos, na aula anterior, que os mais importantes escritores do Parnasianismo brasileiro foram aqueles que formaram a chamada “Tríade Parnasiana”, composta por Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Esses poetas foram os que mais, fielmente, seguiram os princípios do movimento, buscando o sentido para a existência humana por meio da perfeição estética e da preocupação na “Arte pela Arte”.
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Os autores parnasianos traziam em suas poesias as preocupações com os aspectos formais, vocabulário raro e preciso, impassibilidade, com descrições objetivas de objetos, cenas e coisas, sem se preocupar em descrever o homem, sem transcendências e sentimentalismos, apesar de ter sido considerada por muitos críticos uma obra artificial e de um tom desagradável. Os parnasianos eram contra certos princípios românticos. Em lugar da simplicidade da linguagem, do emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiro, do sentimentalismo e da valorização da paisagem nacional, eles defendiam uma poesia de elevado nível vocabular, objetiva e racionalista, priorizando o aspecto formal, por meio de versos bem ritmados, dos efeitos plásticos e sonoros e a presença de temas universais. Apesar de ter sido um estilo que, muitas vezes, abusou da linguagem ornamentada e artificial, o Parnasianismo vigorou durante muito tempo, desaparecendo após a década de 1920.
Figura 01 - Le Parnasse, Andrea Mantegna
ASSUNTOS ABORDADOS n Parnasianismo II n Alberto de Oliveira n Vicente de Carvalho n Francisca Júlia
SAIBA MAIS Arte pela arte é um sistema de crenças que defende a autonomia da arte, desligando-a de razões funcionais, pedagógicas ou morais e privilegiando apenas a Estética. A origem desse conceito remonta a Aristóteles, mas só foi desenvolvido e consolidado em meados do século XVIII.
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Português
Considerado o mais perfeito dos parnasianos, o mais disciplinado e com mais apego às regras e às características específicas do estilo, Alberto de Oliveira estreou com a obra Canções Românticas (1878), livro romântico que antecipa sua adesão ao movimento. Mas foi a partir do segundo livro, Meridionais (1884), que o autor dedicou-se inteiramente ao culto à forma. Ele é considerado, entre os parnasianos, um mestre dessa estética e da arte de compor poeticamente quadros, cenas, retratos em que predomina uma combinação entre a perfeição da forma e a descrição. Em seus poemas, podemos destacar a perfeição formal, a métrica rígida e linguagem extremamente trabalhada, beirando o rebuscamento. Como exemplo, podemos citar “Vaso Chinês” e “A Estátua”. Vaso Chinês Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura Quem o sabe? - de um velho mandarim Também lá estava a singular figura; Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa. (Apud Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos).
No soneto lido, podemos perceber que não há comprometimento com problemas do mundo exterior. Há uma descrição rigorosamente objetiva do vaso. O assunto são as pinturas que decoram um vaso chinês e a interpretação que o poeta lhe dá. Um texto exemplar da poesia parnasiana, com todas as características do movimento: n n n n n B02 Parnasianismo II
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a plasticidade, com seus efeitos poesia-pintura, presente em todo poema; as rimas ricas; impassibilidade (não há sentimentalismo excessivo); precisão vocabular e sua correção gramatical; ênfase no sensorial e suas sinestesias; as inversões sintáticas (hipérbato).
Há um detalhe importante nesta primeira estrofe: o fato de o eu poético ter visto o vaso pela primeira vez “entre um leque e o começo de um bordado”. Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o Casualmente, uma vez, de um perfumado 706
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Nos versos a seguir, há uma referência aos sentimentos. O artista está apaixonado e feliz ao pintar o vaso. Fino artista chinês, enamorado Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio. Trata-se de uma descrição do vaso em que o artista coloca “seu coração doentio” e o resultado é uma arte bela e que impressiona. Em relação à métrica, esse soneto é decassílabo, ou seja, é constituído de dez sílabas poéticas, representando uma das principais características do Parnasianismo, como vimos na aula anterior. No caso do “Vaso Chinês”, o esquema de rimas é a b a b, a b a b, c d c, e d e. Podemos notar também que, nesse poema, não há juízos de valor a respeito do cotidiano ou da realidade. Assim como os demais autores, Alberto de Oliveira, o mestre do parnasianismo, aliena-se propositadamente para fazer a poesia da arte pela arte, primor da forma. E não abre mão de uma das suas maiores preocupações enquanto parnasiano: a precisão das palavras, resultado de um intenso trabalho de adequação à forma e ao conteúdo de estruturas como o soneto. Vaso Grego Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que o suspendia Então, e, ora repleta ora esvasada, A taça amiga aos dedos seus tinia, Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas, o lavor da taça admira, Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, B02 Parnasianismo II
Qual se essa voz de Anacreonte fosse. (In: Antonio Candido e José A. Castelo. Presença da literatura brasileira – Das origens ao Romantismo, cit., p.228.)
O título do soneto é “Vaso Grego”, no entanto, inicia-se com um pronome demonstrativo feminino. O autor utiliza “Esta” fazendo alusão à taça grega, que é uma metáfora da poesia. 707
Português
Esta de áureos relevos... Portanto, Alberto de Oliveira é um dos poetas que mais revela as características parnasianas, como podemos observar: Vocabulário culto - no parnasianismo a poesia deve ser perfeita do ponto de vista estético Ex.: “canora”, “ora repleta, ora esvazada”, em lugar de “ora cheia, ora vazia”. Rimas esteticamente ricas e raras Ex.: “dia” (substantivo) com “servia” (verbo), “admira” (verbo) com “lira” (substantivo). Referência à mitologia greco-romana- Olimpo. Versos em ordem indireta - qualquer exemplo em que o verbo anteceda o sujeito (praticamente todo o poema está na ordem indireta). Descritivismo - “brilhante copa”; “toda de roxa pétalas colmada”. Por meio da metonímia entre poesia e musa, percebe-se que a taça se humaniza e simboliza a poesia do poeta, pois se exprime, com voz “canora e doce” quando tocada pelo poeta. Podemos perceber também, no soneto, várias ocorrências em que o adjetivo aparece antes do substantivo, o que indica requinte formal. Ex.: “áureos relevos”; “divas mãos”; “brilhante copa”; “novo deus”; “roxas pétalas”; “bordas finas”; “encantada música”.
Fonte: Wikimedia Commons
Quanto aos aspectos formais, o poema é construído em decassílabos, com rimas: ABAB, BABA, CDE e CDE. Principais obras: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895), Poesias (1900), Céu, Terra e Mar (1914), O Culto da Forma na Poesia Brasileira (1916).
Alberto de Oliveira
B02 Parnasianismo II
Antônio Mariano Alberto de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro, em 1857. Formou-se em farmácia, foi professor de Português e Literatura na Escola Normal e na Escola Dramática. Foi funcionário público e poeta. Seu livro de estreia foi publicado em 1877, sob o título de Canções Românticas, elaborado nos moldes do Romantismo, como indica o próprio título. Todavia, seu talento e potencial futuro como elemento de transição ao Parnasianismo foram observados pelo escritor e crítico Machado de Assis, em ensaio de 1879, no qual demarca atributos e características da “nova geração”, influenciada pelo antirromantismo francês, representado por poetas como Banville e Gautier. Alberto de Oliveira faleceu em Niterói (RJ), em 19 de janeiro de 1937. Dentre as várias obras deixadas pelo autor, podem ser mencionadas algumas das mais importantes: Canções Românticas (1878), Meridionais (1884), Sonetos e Poemas (1885) Versos e Rimas (1895), entre outras.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924) foi um poeta brasileiro do final do século XIX e começo do XX. Atuou também como político (deputado), magistrado, advogado e jornalista. É considerado um dos grandes nomes do Parnasianismo na Literatura Brasileira, além de um grande defensor do Abolicionismo e do regime de governo republicano. Seu livro Rosa, rosa de amor o consagrou como poeta parnasiano. Seus versos apresentam temas como o amor, a morte, a natureza e, em especial, o mar.
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Vicente de Carvalho
Segundo Massaud Moisés, “o culto a Camões, modelo de poesia lírica e de soneto de recorte preciso e discursivo, o gosto do lirismo tradicional, a projeção para o mar e os temas histórico-poéticos - tudo isto denuncia”, em Vicente de Carvalho, “um poeta formalmente apegado ao ideário parnasiano”. Ao mesmo tempo, contudo, seus versos demonstram melancolia, emotividade, certa ironia, sugerindo alguma influência do Simbolismo. Mas, na verdade, Vicente de Carvalho foi, na opinião de Massaud Moisés, “um romântico autêntico”, que nem o formalismo parnasiano nem o transcendentalismo simbolista haviam conseguido mudar. Devido à obsessão que tinha de falar do mar, ganhou o apelido de “Poeta do Mar”, elemento ao qual se apegará para transmitir os mais diferentes sentimentos. Talvez isso seja resquícios das lembranças da infância, pois nascera em Santos (SP). Republicano combativo, ele desempenhou papel importante no jornalismo: em 1889, era redator do Diário de Santos, fundando, no mesmo ano, o Diário da Manhã (na mesma cidade). Até 1913, escreveu para O Estado de S. Paulo. No fim da vida, cansou-se da profissão, mas continuou em contato com seus leitores, através dos poemas que publicava na revista A Cigarra. Principais características de seu estilo literário n n n
Textos marcados pela simplicidade de expressão. Presença, principalmente em seus poemas, de sentimentos humanos (raiva, revolta, amor, ternura etc.). Presença, em suas obras, de clareza e sinceridade.
Obras principais n n n n n n n
Ardentias (poesias, 1885) Relicário (versos, 1888) Rosa, rosa de amor (versos, 1901) Poemas e canções (prefácio de Euclides da Cunha, 1908) Versos da mocidade (1909) Páginas soltas (1911) A voz dos sinos (1916)
Velho Tema B02 Parnasianismo II
Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda.
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Português
O eterno sonho da alma desterrada
Aos ouvidos lhe soa um rumor brando
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
De folhas... Pouco a pouco, um leve sono
É uma hora feliz, sempre adiada
Lhe vai as grandes pálpebras cerrando...
E que não chega nunca em toda a vida.
Árvore milagrosa que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim: mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos. Poema extraído do livro Poemas e canções, Ed. Saraiva - São Paulo, 1965.
Nessa obra, Carvalho discute sobre a existência da felicidade. Em seus poemas, ele utiliza uma linguagem simples e repleta de imagens. Além disso, podemos perceber seu realismo e objetividade pelo título do texto: “Velho tema”. Na sua simplicidade, fala de um tema tão antigo, abrangente, inatingível, como podemos ver nestes versos da última estrofe. Existe, sim: mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos. Em uma leitura atenta do soneto, é possível entender os motivos pelos quais muitas pessoas dizem não encontrar a felicidade. Carvalho tem a resposta: Se as pessoas procurarem a felicidade dentro de si mesmas, e não transferirem essa responsabilidade para os outros, então a terão encontrado.
Francisca Júlia Francisca Júlia foi uma poetisa brasileira, estreando com o livro Mármores (1895), que logo a colocou em posição de igualdade com os demais poetas parnasianos. Demonstrou desde muito cedo timbres parnasianos, mas com influência e tendências modernistas. A florista Suspensa ao braço a grávida corbelha, Segue a passo, tranquila... O sol faísca...
B02 Parnasianismo II
Os seus carmíneos lábios de mourisca Se abrem, sorrindo, numa flor vermelha. Deita à sombra de uma árvore. Uma abelha Zumbe em torno ao cabaz... Uma ave, arisca, O pó do chão, pertinho dela, cisca, Olhando-a, às vezes, trêmula, de esguelha... 710
Cai-lhe de um pé o rústico tamanco... E assim descalça, mostra, em abandono, O vultinho de um pé macio e branco. Sua característica principal é a impassibilidade. Contudo, ela evidencia a cor, o relevo e o movimento das formas externas. Seus sonetos estão entre os mais bem acabados de sua época. Convivendo em um universo inteiramente dominado por poetas homens, Francisca Júlia provou sua capacidade de fazer poesia de qualidade. Criou versos perfeitos, fato pelo qual obteve o respeito da chamada “Trindade Parnasiana” (Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira, que foram seus admiradores e fiéis incentivadores). Certa feita, em uma crítica emocionada, Olavo Bilac destacou: “Em Francisca Júlia surpreendeu-me o respeito da língua portuguesa, - não que ela transporte para a sua estrofe brasileira a dura construção clássica: mas a língua doce de Camões, trabalhada pela pena meridional, - que traz para a arte escrita todas as suas delicadezas de mulher, toda a sua faceirice de moça, nada perde da sua pureza fidalga de linhas. O português de Francisca Julia é o mesmo antigo português, remoçado por um banho maravilhoso de novidade e frescura”. Francisca Júlia da Silva Munster, professora, pianista e crítica literária, nasceu na antiga Vila de Xiririca, hoje Eldorado, no vale do Ribeira, São Paulo. Poeta do impassível, valendo-se de uma linguagem e de figuras mitológicas e históricas próprias de um gosto parnasiano, encantou os seus contemporâneos. Começou bem jovem sua carreira literária escrevendo sonetos para o Estado de S. Paulo, em 1891. O livro da infância, coletânea de pequenos textos narrativos em prosa e verso, escrito em 1899, foi prefaciado pelo seu irmão Júlio César da Silva e publicado pelo Governo de São Paulo. Principais obras: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfinges (1903), Alma Infantil (1912).
Fonte: Wikimedia Commons
Essa felicidade que supomos,
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 02. a) Olavo Bilac foi um poeta parnasiano, como nos mostra o caráter descritivo do fragmento acima, a preocupação com a beleza plástica, com a forma trabalhada, exótica. b) Profissão de fé, Última flor do Lácio e O caçador de esmeraldas.
Exercícios de Fixação 01. (Unesp SP) Considere o poema do parnasiano brasileiro Júlio César da Silva (1872-1936): Arte suprema Tal como Pigmalião, a minha ideia Visto na pedra: talho-a, domo-a, bato-a; E ante os meus olhos e a vaidade fátua Surge, formosa e nua, Galateia. Mais um retoque, uns golpes... e remato-a; Digo-lhe: “Fala!”, ao ver em cada veia Sangue rubro, que a cora e aformoseia... E a estátua não falou, porque era estátua. Bem haja o verso, em cuja enorme escala Falam todas as vozes do universo, E ao qual também arte nenhuma iguala:
02. (Fuvest SP) Leia com atenção: Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso, O palácio imperial se pórfiro luzente E mármor da Lacônia. O teto caprichoso Mostra, em prata incrustado, o nácar do Oriente. O texto acima é a primeira estrofe do soneto “A Sesta de Nero”, de Olavo Bilac. a) A que “escola literária” ou estilo de época pertence autor? Justifique a resposta com elementos de texto. b) Cite outro poema do autor. 03. (Cefet PA) Leia os versos: Esta, de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhantes copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
(Júlio César da Silva. Arte de amar. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.)
O poema de Júlio César da Silva faz referência ao mito grego de Pigmalião, um escultor da ilha de Chipre que obteve da deusa Vênus a graça de transformar em uma mulher de verdade a belíssima estátua que havia esculpido. Esse aproveitamento do mito, todavia, tem um encaminhamento diferente no soneto. Aponte a alternativa que melhor descreve como o mito foi aproveitado no poema. a) O poema se serve do mito para apresentar uma defesa da poesia como arte superior em capacidade de comunicação e expressão à escultura e às demais artes. b) O eu-poemático aproveita o mito para demonstrar que a escultura, como arte visual, apresenta possibilidades expressivas que a poesia jamais poderá atingir. c) O desenvolvimento do poema conduz a uma exaltação da correspondência entre as artes, demonstrando que todas apresentam grande força expressiva. d) O mito de Pigmalião é usado para realçar o grande poder da arte da escultura, como também da poesia, que pode imitar a escultura. e) A lenda de Pigmalião e Galateia é utilizada para dividir o poema em duas partes, com a primeira associando Pigmalião à escultura e a segunda associando Galateia à poesia.
Era o poeta de Teos que a suspendia. Então e, ora repleta ora esvaziada, A taça amiga aos dedos seus tinia Todas de roxas pétalas colmada. (Alberto de Oliveira)
Assinale a alternativa que contém características parnasianas presentes no poema: a) busca de inspiração na Grécia Clássica, com nostalgia e subjetivismo; b) versos impecáveis, misturando mitologia clássica com sentimentalismo amoroso; c) revalorização das ideias iluministas e descrição do passado. d) descrição minuciosa de um objeto e busca de um tema ligado à Grécia antiga. e) vocabulário preciosista, de forte ardor sensual. 04. (FGV SP) Assinale a alternativa correta a respeito do Parnasianismo: a) A inspiração é mais importante que a técnica. b) Culto da forma: rigor quanto às regras de versificação, ao ritmo, às rimas ricas ou raras. c) O nome do movimento vem de um poema de Raimundo Correia. d) Sua poesia é marcada pelo sentimentalismo. e) No Brasil, o Parnasianismo conviveu com o Barroco. Questão 03. Gab. “D” A estética parnasiana apresentava grande preocupação com a técnica no momento de composição do poema. Além disso, considerava todo tema ligado à Grécia antiga como fonte valiosa de inspiração.
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B02 Parnasianismo II
Quer mesquinho e sem cor, quer amplo e terso, Em vão não é que eu digo ao verso: “Fala!” E ele fala-me sempre, porque é verso.
Português
05. Os poetas parnasianos traziam em suas poesias as preocupações com os aspectos formais, vocabulário raro e preciso,
Houveres acaso, meu bem, de chegar,
impassibilidade, com descrições objetivas de objetos, cenas e
Verás de repente que aspecto risonho
coisas, sem se preocupar em descrever o homem, sem trans-
Que torna o meu sonho,
cendências e sentimentalismos. Sobre a poesia parnasiana, assinale o que for correto. 01. Acima de todas as características do Parnasianismo, ressalta o primado da emoção e a aparente rejeição do racionalismo. 02. A poesia parnasiana é um ritual mágico, uma combinação alquímica de palavras de outras dimensões de existência,
07. (Mackenzie SP) “Praticam uma poesia predominantemente descritiva, interessada em representar plasticamente paisagens e ambientes, reduzindo o mais possível o envolvimento emotivo do poeta com os temas tratados. Por outro lado, há uma supervalorização da chamada forma
04. A ênfase formalista do estilo parnasiano levou-o a desprezar o assunto em função da supervalorização da técnica e,
Assinale a alternativa em que encontra o nome do movimento
portanto, a separar o sujeito criador de seu objeto criado.
literário a que se refere o trecho citado.
08. A ênfase na característica formal induz a associação mais
a) Parnasianismo.
analógica do que lógica entre as palavras e permite a cria-
b) Romantismo.
ção do poema-prosa.
c) Modernismo.
16. O fazer artístico fundamenta-se na “transpiração”, ou seja, no cuidado com a linguagem, a forma, a lapidação e o refinamento do texto. 06. (Uncisal AL) Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto
d) Simbolismo. e) Arcadismo. 08. (UFPE) É incorreto afirmar que, no Parnasianismo: a) a natureza é apresentada objetivamente;
de Oliveira são representantes de uma mesma escola literária. Assinale a alternativa cujos versos exemplificam as
b) a disposição dos elementos naturais (árvores, estrelas, céu,
características dessa escola.
c) a valorização dos elementos naturais torna-se mais impor-
a) A noite caiu na minh’alma, fiquei triste sem querer. Uma sombra veio vindo, veio vindo, me abraçou. Era a sombra de meu bem que morreu há tanto tempo. b) Dorme.
rios) é importante por obedecer a uma ordenação lógica; tante que a valorização da forma do poema; d) a natureza despe-se da exagerada carga emocional com que foi explorada em outros períodos literários; e) as inúmeras descrições da natureza são feitas dentro do mito da objetividade absoluta, porém os melhores textos estão permeados de conotações subjetivas. 09. (FMTM MG) “Admitida esta necessidade, não admitamos confusões entre os que se resignam ao poetar espontâneo e os
Dorme o tempo que não podias dormir.
que ambicionam ao sacerdócio do poeta artístico. Não tragam
Dorme não só tu,
os aprendizes para a oficina da joalheria um material indigno,
Prepara-te para dormir teu corpo e teu amor contigo.
vocação errada, incapacidade, pechisbeque e miçangas, em vez
c) Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade Solto para onde estás, e fico de ti perto! Como, depois do sonho, é triste a realidade! Como tudo, sem ti, fica depois deserto! B02 Parnasianismo II
Se o vens bafejar!
poética, onde há busca constante de perfeição técnica nas rimas, vocabulário selecionado”.
uma simbiose do som e do sentido.
d) Pálida, à luz da lâmpada sombria,
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e) Nas horas da noite, se junto a meu leito
de ouro e pérolas, preguiça em vez de paciência, negligência em vez de vontade e gosto.” O excerto acima representa um fragmento do programa estético do a) Arcadismo. b) romantismo.
Sobre o leito de flores reclinada,
c) Parnasianismo.
Como a lua por noite embalsamada.
d) Simbolismo.
Entre as nuvens do amor ela dormia!
e) Modernismo.
Questão 08 Na estética parnasiana, a valorização dos elementos naturais da paisagem nacional apenas serviam para ocultar as verdadeiras qualidades da poesia que, segundo seus principais escritores, consistiam no culto à forma, além de uma temática universalizante.
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Exercícios Complementares
02. (Puc RS) “Tu, artista, com zelo, Esmerilha e investiga! Níssia, o melhor modelo Vivo, oferece, da beleza antiga. Para esculpi-la, em vão, árduos, no meio De esbraseada arena, Batem-se, quebram-se em fatal torneio, Pincel, lápis, buril, cinzel e pena.”[...] O trecho evidencia tendências ___________ , na medida em que ______________ o rigor formal e utiliza-se de imagens _____________. a) românticas - neutraliza - abstratas b) simbolistas - valoriza - concretas c) parnasianas - exalta - mitológicas d) simbolistas - busca - cotidianas e) parnasianas - evita - prosaicas 03. (Mackenzie SP) Não caracteriza a estética parnasiana: a) A oposição aos românticos e distanciamento das preocupações sociais dos realistas. b) A objetividade, advinda do espírito cientificista, e o culto da forma. c) A obsessão pelo adorno e contenção lírica. d) A perfeição formal na rima, no ritmo, no metro e volta aos motivos clássicos. e) A exaltação do “eu” e fuga da realidade presente. 04. Marque a afirmativa correta: a) O Parnasianismo caracterizou-se, no Brasil, pela busca da perfeição formal na poesia. b) O Parnasianismo determinou o surgimento de obras de tom marcadamente coloquial. c) O Parnasianismo, por seus poetas, preconizava o uso do verso livre.
d) O Parnasianismo brasileiro deu ênfase ao experimentalismo formal. e) O Parnasianismo foi o responsável pela afirmação de uma poesia de caráter sugestivo e musical. 05. (Ufam AM) Todas as características de estilo abaixo relacionadas pertencem ao Parnasianismo, exceto a) Lítero-musical quanto à parte formal. b) A reserva nas efusões pessoais. c) A procura de rimas ricas. d) A imaginação criadora. e) O uso de descrições. 06. (Fuvest SP) “Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito.” A concepção de poema como peça de ourivesaria, como objeto estético harmonioso e perfeito, expressa nos versos acima, é característica fundamental do: a) Romantismo b) Trovadorismo c) Movimento Antropofágico d) Arcadismo e) Parnasianismo. 07. (UFES) O ideal parnasiano do culto da “arte pela arte” significa que o objetivo do poeta é criar obras que expressem a) um conteúdo social, de interesse universal. b) a noção do progresso da sua época. c) uma mensagem educativa, de natureza moral. d) uma lição de cunho religioso. e) Belo, criado pelo perfeito uso dos recursos estilísticos. 08. (Centenc BA) Todos os itens apresentam características do Parnasianismo, exceto a) prevalência de formas fixas de composição poética. b) anseio de liberdade criadora. c) preocupação com a perfeição formal. d) gosto pela precisão descritiva. e) ideal de objetividade no tratamento dos temas. 09. (Fesp SP) A designação “arte pela arte” aplica-se a que tipo de tendência? a) Conceptista b) Cultista c) Parnasiana d) Simbolista e) Modernista
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B02 Parnasianismo II
01. (Unifesp SP) No Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Oswald de Andrade faz o seguinte comentário sobre os poetas parnasianos: “Só não se inventou uma máquina de fazer versos- já havia o poeta parnasiano.” O que o poeta modernista está criticando nos parnasianos é a) a demasiada liberdade no ato da criação, que os torna máquinas poéticas. b) o abandono da Arte pela arte, com a criação objetiva e anticonvencional. c) a preocupação com a perfeição formal e com o subjetivismo. d) o formalismo e a impessoalidade comuns em seus textos. e) o exagero na expressão das emoções, apesar da criação poética mecânica.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B03
ASSUNTOS ABORDADOS n Simbolismo I n Cruz e Sousa
SIMBOLISMO I No fim do século XIX, a Europa enfrentou grandes inquietações e indefinições, depois da euforia da Segunda Revolução Industrial, quando se impulsionou a construção de ferrovias. A economia mundial entrou em crise em função do aumento da concorrência e da falta de mercado consumidor. Diante dessa crise, as empresas pequenas não conseguiam sobreviver. Então eram encampadas pelas grandes, dando início ao chamado cartel (quando grandes empresas monopolizam a comercialização de produtos), surgindo assim os primeiros trustes. O processo industrial foi impulsionado pela unificação da Alemanha, em 1870, e da Itália, no ano seguinte. A partir de 1870, a competição econômica e militar entre as grandes potências ocidentais, juntamente com o avanço do movimento operário, tornaram inevitável a crise social. E essa crise deu origem às duas guerras mundiais que abalaram o século XX.
A arte passou a representar o subjetivismo e o inconsciente, buscando a unidade do ser. A projeção foi de frustração, medo e desilusão. O Simbolismo passou a ser a rejeição ao mecanicismo por meio do sonho, da tendência cósmica e do absoluto, abrangendo a camada da sociedade que estava à margem do processo do avanço tecnológico e científico promovido pelo capitalismo. Figura 01 - La rue de Buci, por Eugène Atget
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Fonte: Wikimedia Commons
Com a evolução da tecnologia, da ciência e do capitalismo o mundo caminha sob a direção dos interesses materiais. A exploração da mão de obra é um dos meios de se conseguir grandes lucros e enquanto os empreendedores capitalistas enriqueciam, a classe trabalhadora, não melhorou suas condições de vida. Em consequência dessa diferença social, surgiram os partidos socialistas, reivindicando reformas sociais. A despeito de tanta luta, o trabalhador não conseguiu realizar-se financeiramente. A esperança cedeu lugar ao desânimo e à frustração que, por sua vez, levou o homem à busca do misticismo e do lado espiritual. Também esse foi o momento em que cresceram os fatores que desencadearam a Primeira Guerra Mundial.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
No Brasil, o Simbolismo representou um movimento à margem da elite cultural e política. A Revolução Federalista, a Revolta da Armada, bem como todos os movimentos de oposição contra o governo de Floriano Peixoto, marcaram-no de maneira significativa. O estado político que se alicerçou no País, repleto de frustrações, ausência de perspectiva, e a insistente desconfiança no futuro do cotidiano do povo brasileiro, pode justificar a formação de uma estética pessimista e hostil à sociedade materialista. Na verdade, no final do século XIX e início do século XX, houve três tendências estéticas que coexistiram no Brasil: o Realismo e suas manifestações (romance realista, romance naturalista e poesia parnasiana), o Simbolismo situado à margem da literatura acadêmica da época e o Pré-Modernismo, com o surgimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira, com o advento da Semana de Arte Moderna em 1922, momento em que surgiu uma nova fase artística brasileira. O movimento simbolista é de origem francesa e seu marco é a obra As flores do mal (1857), do poeta Charles Baudelaire. No Brasil, o Simbolismo teve início em 1893 com a publicação de duas obras: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (versos) ambas de autoria de Cruz e Sousa, nosso melhor poeta simbolista. Vimos, na aula anterior, que apesar de ter sido um estilo que, muitas vezes, abusou da linguagem ornamentada e artificial, o Parnasianismo vigorou durante muito tempo, desaparecendo após a década de 1920. Nas palavras de Alfredo Bosi:
Os poetas dessa época valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de subjetivismo. A morte é vista como uma espécie de libertação. A linguagem simbolista envolve, sobretudo, os aspectos místicos, espirituais, intuitivos e transcendentais, caracterizando-se como abstrata e sugestiva. Os escritores buscavam compreender diversos aspectos da alma humana, compondo obras que exaltassem a realidade subjetiva. Podemos resumir, assim, as características do Simbolismo: n n
n
n n n n n n n
Preferência por temas que tratam da morte, de Deus e do destino; Universo onírico e transcendental - abordagem espiritualista da mulher, envolvendo-a em um cenário de sonho; Valorização da espiritualidade humana, fazendo alusões a elementos que lembrem rituais religiosos (cânticos, altares, anjos, salmos, incenso etc.); Emprego de palavras ricas em sugestões: o objetivo não é descrever, é sugerir; Linguagem fluida e musical, aproximando poesia e música; Misticismo, religiosidade e sublimação; Combinações sonoras e sensoriais, empregando a metáfora, a sinestesia, a aliteração e os paradoxos; Oposição ao racionalismo, materialismo e cientificismo; Negação dos valores do Realismo e Naturalismo; Musicalidade (“La musique avant tout chose”).
Os principais nomes do simbolismo no Brasil foram Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. Esses dois poetas foram considerados mestres e influenciaram profundamente os mais jovens. Cruz e Sousa deu início à criação literária, influenciado pelos parnasianos, mas logo seguiu seu caminho como simbolista, criando temas mais característicos dessa estética. A vida material é o cárcere e a morte é a libertação para o poeta simbolista.
[...] O Parnasianismo é o estilo das camadas dirigentes, da burocracia culta e semiculta, das profissões liberais habituadas a conceber a poesia como “linguagem ornada”, segundo padrões já consagrados que garantam o bom gosto da imitação. [...]
Os autores desse movimento, influenciados pelo desejo de investigar o desconhecido, buscam no poder dos símbolos a possiblidade de traçar analogias a partir deles, para estabelecer as relações entre o mundo visível e o mundo das essências. Por esse motivo são chamados de simbolistas.
Nesse sentido, o Simbolismo no Brasil não conseguiu entrar em ambientes literários mais amplos.
Essa arte tinha por objetivo aguçar os sentidos humanos e, assim, perceber a realidade sem o auxílio da razão.
É evidente nas obras simbolistas a fuga da realidade, característica manifestada por uma linguagem expressiva, imprecisa e vaga. Assim, o movimento nega a lógica e a razão que, anteriormente, foi bem explorada por artistas realistas, naturalistas e parnasianos.
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto abaixo, essa percepção aparece na frustração amorosa, canalizada para as atividades intelectuais. 715
B03 Simbolismo I
O Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época. Esse movimento representou a reação artística à onda de materialismo e cientificismo marcante na Europa. Além disso, rejeitou as chamadas soluções racionalistas, mecânicas e empíricas, reveladas pela ciência da época. Assim, os autores buscavam resgatar a interação entre o homem e o sagrado.
Português
Vida obscura Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres, Embriagado, tonto dos prazeres, O mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste num silêncio escuro A vida presa a trágicos deveres E chegaste ao saber de altos saberes Tornando-te mais simples e mais puro. Ninguém te viu o sentimento inquieto, Magoado, oculto e aterrador, secreto, Que o coração te apunhalou no mundo. Mas eu que sempre te segui os passos Sei que cruz infernal prendeu-te os braços E o teu suspiro como foi profundo! SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.
A sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada traduz-se em sofrimento tácito, ou seja, em silêncio, diante dos limites impostos pela discriminação ao negro. Na obra, é evidente o sofrimento do negro, que viveu “a vida presa a trágicos deveres” em “silêncio escuro”. No segundo verso da primeira quadra “Ó ser humilde entre os humildes seres,” seria o máximo da humildade (pode ser uma referência ao negro). Quando o eu poemático diz “O mundo embriagado, tonto dos prazeres”, ele se refere a um mundo que vive em busca de caminhos ilusórios, sem considerar a realidade humana. Além disso, podemos perceber, no soneto, algo que nos remete à diferença entre essência e aparência no verso “Ninguém te viu o sentimento inquieto,”. Ele se refere aos sofrimentos e às dores ocultas. Sabemos que Cruz e Sousa era filho de negros escravos libertados. Vítima de preconceito racial, nem pôde assumir um cargo público. Podemos inferir que o poeta esteja falando de si mesmo e encontramos dados de sua vida expressos nos versos, por meio de metáforas:
O mundo para ti foi negro e duro.
}com relação à cor.
Que o coração te apunhalou no mundo. com relação a acontecimentos infelizes. A vida presa a trágicos deveres.
B03 Simbolismo I
E chegaste ao saber de altos saberes com relação ao crescimento espiritual. Tornando- te mais simples e mais puro. Após uma vida tão atribulada, a morte aparece como descanso, libertação e transmite a sensação de alívio. Isso é evidente no último verso do soneto E o teu suspiro como foi profundo! 716
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Leiamos o poema Antífona. Antífona é uma espécie de síntese da obra de Cruz e Sousa, especialmente das poesias que compõem o livro Broquéis. Neste poema, vamos perceber várias características do autor: a religiosidade, a morte, a sondagem de mistério e o mundo dos sonhos. Antífona Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Formas do Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas...
Infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios. Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, todas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem. Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rima clara e ardente... Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente, luminosamente. Forças originais, essência, graça De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas... Cristais diluídos de clarões álacres, Desejos, vibrações, ânsias, alentos, Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Os mais estranhos estremecimentos...
Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte...
B03 Simbolismo I
Para os simbolistas, a arte deveria comunicar as experiências emocionais ocasionadas do contato com o mundo irracional, misterioso, inconsciente, trazendo um afastamento da realidade objetiva e propiciando algum conforto ou esperança para as desilusões humanas.
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Português
O poeta tem uma fixação pelo branco e inicia o poema enfatizando as formas alvas, brancas, as formas do amor. Tais palavras remetem-nos ao termo Simbolismo, relacionando aos signos: icônico, semiótico, símbolo e pensamento por imagem. Outro ponto marcante é que Cruz e Sousa brinca com as palavras, induzindo-nos a imaginá-las em nossa mente, a partir da significação no contexto em que estão inseridas. Em relação ao tema, são apresentadas características relacionadas à morte, à transcendência espiritual, à integração cósmica, ao mistério, ao sagrado, ao conflito entre matéria e espírito, à escravidão, à atenção especial por brilhos e pela cor branca, à angústia e à sublimação sexual. No plano da expressividade, predominam as sinestesias, as imagens surpreendentes e a sonoridade das palavras (que expressam desejos). A musicalidade é presença constante na vida do poeta, o qual tentava aproximar a poesia da música, dando ênfase aos fonemas, trabalhando com as sinestesias e outras figuras. Podemos verificar a presença de aliteração e assonância já na primeira quadra: Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Temos, nessa primeira estrofe, a aliteração do s, depois a sequência de assonância. Primeiro do a, depois do e, em seguida do i, depois do o, finalizando com a. A gradação das vogais em a, e, i, o dá intensidade emocional à estrofe. A assonância da letra a ratifica a sensação de claridade. Na terceira estrofe, o eu poemático descreve um momento do dia - “Horas do Ocaso”, ou seja, do pôr do sol - que é caracterizado de maneira sinestésica quando ele diz “Harmonia da Cor e do Perfume...”; Dor da Luz resume...” Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... São os aspectos cromáticos e expressões que sugerem sensações visuais, auditivas e táteis. Apesar de o poeta tentar espiritualizar o desejo carnal com as palavras: essência, delicadezas, cristais diluídos - nas mesmas estrofes 7, 8 e 9 - embora leve ou apenas uma sugestão, há referência ao sexo em: “o pólen fecunde e inflame”, “graça de carne de mulher”, “desejos”, “vibrações”, “estremecimento”. Ainda com relação à forma, há a predominância de substantivos, utilização de letras maiúsculas, com a finalidade de dar um valor absoluto a alguns termos. As iniciais maiúsculas indicam ideias universais, absolutas, distantes do mundo concreto, sensível. Além do uso das maiúsculas, essas palavras aparecem no singular porque são únicas. Observe que quando o poeta se refere ao verso ideal, à estrofe ideal, ele usa maiúscula.
B03 Simbolismo I
Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, todas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem. Mas, quando ele se refere à realização material dos versos, que pertencem ao mundo sensível, emprega a palavra no plural e a inicial minúscula. Da alma do Verso, pelos versos cantem. 718
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
Silêncios Largos Silêncios interpretativos, Adoçados por funda nostalgia, Balada de consolo e simpatia Que os sentimentos meus torna cativos; Harmonia de doces lenitivos, Sombra, segredo, lágrima, harmonia Da alma serena, da alma fugidia Nos seus vagos espasmos sugestivos. Ó Silêncios! ó cândidos desmaios, Vácuos fecundos de celestes raios De sonhos, no mais límpido cortejo... Eu vos sinto os mistérios insondáveis Como de estranhos anjos inefáveis O glorioso esplendor de um grande beijo! (Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.)
A análise do soneto revela como tema e recursos poéticos, respectivamente, a) a aura de mistério e de transcendentalidade suaviza o sofrimento do eu lírico; rimas alternadas e sinestesias se evidenciam nos versos de redondilha maior. b) o esforço de superação do sofrimento coexiste com o esgotamento das forças do eu lírico; assonâncias e metonímias reforçam os contrastes das rimas alternadas em versos livres. c) a religiosidade como forma de superação do sofrimento humano; metáforas e antíteses reforçam o negativismo da desagregação existencial nos versos livres. d) a apresentação da condição existencial do eu lírico, marcada pelo sofrimento, em uma abordagem transcendente; assonâncias e aliterações reforçam a sonoridade nos versos decassílabos. e) o apelo à subjetividade e à espiritualidade denota a conciliação entre o eu lírico e o mundo; metáforas e sinestesias reforçam o sentido de transcendentalidade nos versos de doze sílabas. 02. (Puc RS) Leia o poema “O mar”, de Cruz e Sousa. Que nostalgia vem das tuas vagas, Ó velho mar, ó lutador oceano! Tu de saudades íntimas alagas O mais profundo coração humano.
Sim! Do teu choro enorme e soberano, Do teu gemer nas desoladas plagas, Sai o quer que é, rude sultão ufano, Que abre nos peitos verdadeiras chagas. Ó mar! ó mar! embora esse eletrismo, Tu tens em ti o gérmen do lirismo, És um poeta lírico demais. E eu para rir com bom humor das tuas Nevroses colossais, bastam-me as luas Quando fazem luzir os seus metais. Com base no poema e em seu contexto, preencha os parênteses com V para verdadeiro e F para falso. ( ) A obsessão pelo branco, uma das características de Cruz e Sousa, aparece de forma intensa neste poema. ( ) O soneto, através do uso da personificação, estabelece uma relação de correspondência entre o mar e o poeta. ( ) O mar surge, no poema, como um elemento catalizador de memórias e de inspiração. ( ) O soneto expressa forte musicalidade, revelada no cuidado com a linguagem, embora seja composto de versos brancos. O correto preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) F – V – V – V b) F – V – V – F c) F – V – F – F d) V – F – V – V e) V – F – F – V 03. (UFAM) Leia agora o poema “Anoitecer”, de Raimundo Correia: Esbraseia o Ocidente na agonia O Sol... Aves em bandos destacados, Por céus de oiro e de púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia...
B03 Simbolismo I
01. (Unifesp SP) Leia o soneto de Cruz e Sousa.
Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua...
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Português
A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. Sobre o poema, afirma-se: I. Não se observa nele a preocupação parnasiana de trabalhar com rimas ricas, pois em todo o texto só há duas delas. II. É característica parnasiana a ausência do eu lírico, que está do lado “de fora” do quadro que descreve. III. Observa-se um encadeamento (“enjambement”) entre o primeiro e segundo versos da primeira estrofe. IV. Também entre o primeiro e o segundo versos da primeira estrofe observa-se a existência de um hipérbato. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas b) Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas c) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas d) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas e) Todas as afirmativas estão corretas 04. (UEM PR) Assinale o que for correto sobre o poema abaixo e sobre seu autor, Cruz e Souza. “Beleza morta” De leve, louro e enlanguescido helianto Tens a flórea dolência contristada... Há no teu riso amargo certo encanto De antiga formosura destronada. No corpo, de um letárgico quebranto Corpo de essência fina, delicada, Sente-se ainda o harmonioso canto Da carne virginal, clara e rosada. Sente-se o errante, as harmonias Quase apagadas, vagas, fugidias E uns restos de clarão de Estrela acesa... Como que ainda os derradeiros haustos De opulências, de pompas e de faustos, As relíquias saudosas da beleza. (CRUZ E SOUSA, J. Poesias completas. São Paulo: Ediouro, 1997, p. 40)
B03 Simbolismo I
Vocabulário Helianto: girassol Hausto: aspiração, trago, gole. 01. O primeiro verso do poema já apresenta uma característica formal marcante do Simbolismo, escola da qual Cruz e Sousa faz parte: o uso de aliterações, recurso que intensifica o potencial melódico da linguagem. 720
02. No primeiro terceto, as referências ao vago e ao fugidio relacionam-se com a proposta literária do Simbolismo, que opta pelo sugestivo e pelo intuitivo em detrimento de uma representação objetiva e direta da realidade. 04. Reagindo aos ditames formais do Parnasianismo contemporâneo, a lírica de Cruz e Sousa apresenta, em diversas ocasiões, poemas em versos nos quais a métrica irregular antecipa o Modernismo vindouro. A ode “Beleza morta” é um exemplo de tal procedimento. 08. O reconhecimento imediato do valor artístico da obra de Cruz e Sousa, que se mostrou semelhante, no fim do século XIX, àquele experimentado pela de Olavo Bilac, contrasta com a crítica generalizada que essa obra sofreu no início do século seguinte, sobretudo por parte de Manuel Bandeira em seu primeiro livro publicado, Cinza das horas. 16. A utilização de termos preciosos e vocábulos incomuns por parte dos autores simbolistas, tal como se percebe no poema “Beleza morta”, é fruto da recuperação de um dos procedimentos mais marcantes do Barroco: o conceptismo, no qual se verifica uma elaboração rebuscada da linguagem. 05. (Enem MEC) Vida obscura Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, ó ser humilde entre os humildes seres, embriagado, tonto de prazeres, o mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste no silêncio escuro a vida presa a trágicos deveres e chegaste ao saber de altos saberes tornando-te mais simples e mais puro. Ninguém te viu o sentimento inquieto, magoado, oculto e aterrador, secreto, que o coração te apunhalou no mundo, Mas eu que sempre te segui os passos sei que cruz infernal prendeu-te os braços e o teu suspiro como foi profundo! SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação. b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social. c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes. d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais. e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
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Exercícios Complementares
Violões que Choram... Cruz e Sousa
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, bocas murmurejantes de lamento. Noites de além, remotas, que eu recordo, noites de solidão, noites remotas que nos azuis da Fantasia bordo, vou constelando de visões ignotas. Sutis palpitações à luz da lua, anseio dos momentos mais saudosos, quando lá choram na deserta rua as cordas vivas dos violões chorosos. [...] a) tendência à morbidez. b) lirismo sentimental e intimista. c) precisão vocabular e economia verbal. d) depuração formal e destaque para a sensualidade feminina. e) registro da realidade através da percepção sensorial do poeta. 02. (IF GO) Leia o seguinte poema de Cruz e Sousa. Vida obscura Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres. Embriagado, tonto dos prazeres, O mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste num silêncio escuro A vida presa a trágicos deveres E chegaste ao saber de altos saberes Tornando-te mais simples e mais puro. Ninguém Te viu o sentimento inquieto, Magoado, oculto e aterrador, secreto, Que o coração te apunhalou no mundo. Mas eu que sempre te segui os passos Sei que cruz infernal prendeu-te os braços E o teu suspiro como foi profundo! SOUSA, João da Cruz e. Vida obscura. In: MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. 21 ed. São Paulo: Cultrix, 2000. p. 314.
No final do século XIX, a arte simbolista surgiu, como uma proposta voltada para a hegemonia do sujeito e contrária à supremacia do materialismo. Sabendo disso, assinale a alternativa que apresenta elementos simbolistas presentes no texto. a) Linguagem precisa / descrição objetiva / utilização de assonâncias e aliterações. b) Cruzamento de sensações (sinestesia) / conflito entre matéria e espírito / racionalismo. c) Subjetivismo / emprego de iniciais maiúsculas para atribuir um valor absoluto a determinados termos / materialismo. d) Angústia / linguagem figurada (“silêncio escuro”; “cruz”) / integração cósmica: tema da redenção pelo sofrimento. e) Transcendência espiritual / Linguagem vaga, que busca sugerir em vez de nomear / impessoalidade. 03. (UESC BA) Ah! lilásis de Ângelus harmoniosos, Neblinas vesperais, crepusculares, Guslas gementes, bandolins saudosos, Plangências magoadíssimas dos ares... Serenidades etereais d‘incensos, De salmos evangélicos, sagrados, Saltérios, harpas dos Azuis imensos, Névoas de céus espiritualizados. [...] É nas horas dos Ângelus, nas horas Do claro-escuro emocional aéreo, Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras Ondulações e brumas do Mistério. [...] Apareces por sonhos neblinantes Com requintes de graça e nervosismos, fulgores flavos de festins flamantes, como a Estrela Polar dos Simbolismos. CRUZ e SOUSA, João da. Broquéis. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 90.
Marque V ou F, conforme sejam as afirmativas verdadeiras ou falsas. Os versos de Cruz e Sousa traduzem a estética simbolista, pois apresentam ( ) descrição sintética do mundo imediato. ( ) uso de recursos estilísticos criando imagens sensoriais. ( ) enfoque de uma realidade transfigurada pelo transcendente. ( ) apreensão de um dado da realidade sugestivamente ambígua. ( ) imagens poéticas que tematizam o amor em sua dimensão física.
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B03 Simbolismo I
01. (ITA SP) O poema abaixo traz a seguinte característica da escola literária em que se insere:
Português
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a 01. F V V V F 02. V F F V F 03. V F V V F 04. V F V F F 05. V F V F V 04. (ITA SP) Leia os seguintes versos: Mais claro e fino do que as finas pratas O som da tua voz deliciava... Na dolência velada das sonatas Como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas Em lânguida espiral que iluminava, Brancas sonoridades de cascatas... Tanta harmonia melancolizava. (SOUZA, Cruz e. “Cristais”, in Obras completas. (Org. Andrade Murici). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 86.)
Assinale a alternativa que reúne as características simbolistas presentes no texto: a) Sinestesia, aliteração, sugestão. b) Clareza, perfeição formal, objetividade. c) Aliteração, objetividade, ritmo constante. d) Perfeição formal, clareza, sinestesia. e) Perfeição formal, objetividade, sinestesia.
Texto I Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava… Na dolência velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em lânguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas… Tanta harmonia melancolizava. Cruz e Sousa
Observação – volatas: progressão de notas musicais dolência: sofrimento Texto II Antes de tudo, a Música. Preza Portanto o Ímpar. Só cabe usar O que é mais vago e solúvel no ar, Sem nada em si que pousa ou que pesa.
B03 Simbolismo I
06. (Mackenzie SP) A leitura do texto I confirma que: a) o eu lírico expressa sua particular percepção do som inebriante de uma orquestra de vozes harmoniosas, como prova o uso da expressão dolência velada das sonatas (v.3). b) o poeta expressa subjetivamente a impressão que lhe causava o som da voz do interlocutor, conforme se pode compreender da leitura do verso 2. c) o autor descreve com metáforas sombrias o cantar melancólico de sua musa, por isso afirma, no verso 8, que Tanta harmonia melancolizava. d) o eu lírico tem uma visão idealizada da falecida amada; daí o uso do verbo no passado imperfeito (deliciava, perfumava etc.). e) o autor narra o envolvimento amoroso que marcou sua vida – som da tua voz deliciava…(v.2) – e, ao mesmo tempo, lamenta, no verso 8, a perda da mulher amada. 07. (Mackenzie SP) A proposta estética expressa no texto II realiza-se em I por meio dos seguintes expedientes estilísticos, EXCETO: a) recorrência de sons vocálicos e consonantais. b) metáforas que sugerem volatilidade. c) léxico requintado. d) sinestesias. e) rupturas sintáticas.
Textos comuns às questões 06, 07 e 08
Verlaine (Trad. de Augusto de Campos)
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05. (Mackenzie SP) Considerados os seus principais traços estilísticos, o texto I exemplifica a) uma tendência estética da primeira metade do século XIX que valoriza a assimetria da forma e a temática espiritualista. b) aspectos importantes da arte parnasiana: o apuro formal preconizado pelo ideal da arte pela arte e a impassibilidade. c) o modo pelo qual a literatura do final do século XIX reaproveita, de modo original, uma forma poética da tradição. d) a estética clássico-renascentista, em que se destaca a regularidade métrica e a contenção emotiva. e) preceitos estéticos que caracterizaram o Modernismo brasileiro, em especial a musicalidade e a valorização da percepção sensorial.
08. (Espcex SP) Assinale a alternativa correta, quanto à Literatura Brasileira. a) No final do séc. XIX e início do séc. XX, três tendências literárias caminhavam paralelas: o Romantismo, o Simbolismo e o Pré-Modernismo. b) Em Os Lusíadas, o herói Bartolomeu Dias canta as glórias daqueles que conquistaram as Índias e edificaram o Império Português no Oriente. c) No romance naturalista, o narrador não interfere na ação nem faz um julgamento das personagens: ele se limita a uma descrição objetiva da realidade. d) O Simbolismo, por ser um movimento antilógico e antirracional, valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. e) Os escritores brasileiros do Arcadismo se rebelaram contra as rígidas normas da tradição clássica e apresentaram em
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B04
SIMBOLISMO II Já vimos, na abertura do capítulo anterior, que depois da Segunda Revolução Industrial, a economia mundial entra em crise, em virtude do aumento da concorrência e da falta de mercado consumidor. Agora o mundo tem seu olhar voltado para os interesses materiais com a presença do capitalismo, da evolução da ciência e da tecnologia. Tudo isso refletindo com muita intensidade na literatura e nas artes.
ASSUNTOS ABORDADOS n Simbolismo II n Alphonsus de Guimaraens
Os artistas retomaram o sentimentalismo subjetivo tanto praticado pelos românticos, buscando apreender valores transcendentais. Esses preceitos eram embasados nas ideias de Sigmund Freud, opondo-se à supremacia da razão, à realidade objetiva, à tecnologia e ao materialismo, que vinham sendo defendidos a partir da Segunda Revolução Industrial. Como vimos no módulo anterior, os simbolistas procuravam, no seu “eu” mais profundo, uma resposta para as inquietações e ansiedades, tentando solucionar todo aquele sentimento de angústia, numa visão extremamente pessimista do mundo. Os artistas desse período, estimulados pelo desejo de buscar o desconhecido, exploram o poder dos símbolos e a probabilidade de traçar analogias a partir deles para estabelecer relações entre o mundo visível e o mundo das essências. Por esse motivo, são chamados de simbolistas. Além disso, o predomínio de uma emoção carregada de frustrações e tristezas supera o cientificismo e o objetivismo do período anterior. Predominantemente poética, a obra de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) o consagrou como um dos principais autores simbolistas do Brasil. Ele deixou uma poesia reflexiva e melancólica sobre a morte, a fugacidade da vida e os amores perdidos. Foi, também, essencialmente, um poeta místico de obra profundamente embasada na espiritualidade humana. Misticismo, morte, religiosidade, culto ao amor- tons que marcaram sua vida e que são facilmente encontrados nos textos de estruturas clássicas e de teor religioso. Nas palavras do crítico literário Alceu Amoroso Lima: Alphonsus foi o grande poeta da ausência, da distância, do além. Via com os olhos da fantasia, ouvia os sons irreais, respirava perfumes de flores inexistentes, cantava figuras que tinham com a realidade concreta o mínimo de contato real. Alceu Amoroso. In: TELLES, Gilberto Mendonça (Org.) O pensamento estético de Alceu Amoroso Lima. Rio de Janeiro: Educam/Paulinas, 2001. V. 1, p. 526.
Como vimos, as características marcantes de suas obras são a espiritualidade, o sonho e o mistério, além da atmosfera de religiosidade católica. Assim, o tom místico imprime em seus textos um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Sua poesia é quase toda voltada para o tema da morte da mulher amada. Veja no poema Ismália, em que o poeta expressa a dualidade entre corpo e alma. Ele revela a imagem de todo homem preso ao desejo de unir matéria e espírito, porém frustrado pela consciência da distância intransponível que o separa de seu objetivo. O autor consegue, valendo-se da loucura de Ismália, realizar a transcendência espiritual, proposta pelo movimento simbolista. Vejamos! 723
Português
Ismália
SAIBA MAIS
Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu,
IMPRESSIONISMO Na pintura, o Impressionismo foi o caminho encontrado para uma manifestação mais pessoal, que se ausenta das preocupações sociais realistas. Pintores e escultores como: Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Vincent Willem, Van Gogh e o pintor pós-impressionista francês, Paul Cézanne, traçaram quadros cujos contornos eram menos nítidos que os das obras realistas. O Impressionismo também ecoou no Brasil e seu representante máximo foi Eliseu Visconti, o qual teve contato com a obra dos impressionistas e soube transformar as características do movimento, conforme a cor e a atmosfera luminosa do País. A música impressionista é marcada por sua atmosfera etérea e sensual e pelas composições com formas mais curtas. Os compositores desse movimento exploravam novos rumos: a experiência das escalas foi uma de suas características mais marcantes. Claude Debussy e Maurice Ravel são considerados os maiores compositores impressionistas.
Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Fonte: Wikimedia commons
Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...
B04 Simbolismo II
MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1973. p. 318- 324.
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Mulheres no Jardim, Claude Monet
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
O poema Ismália, por muitos críticos e estudiosos da literatura, como o exemplo máximo do movimento simbolista brasileiro, já que resume seus aspectos mais definidos, como o implícito, a espera, a intuição, a musicalidade e o transcendentalismo. Ismália pode significar a própria figura do poeta: sonhador, imaginativo e inofensivo. Composto por cinco estrofes com quatro versos cada, com rimas alternadas, o poema exprime-se pelo dual entre o plano físico (o corpo) e o espiritual (a alma). Dominada pela loucura, Ismália penetra em um mundo de sonhos, para além do real. Nesse delírio, ela atravessa a fronteira da vida para a morte. A loucura leva a moça a debruçar-se mais para fora da janela, vendo a lua do céu e a lua do mar, como se estivesse entre duas escolhas. Sonho e loucura perdem-se em significado: um está inserido no outro. A personagem enlouquece e suicida-se. Com nuances angelicais, sua alma eleva-se sutilmente para o céu e com a candura de uma pétala de uma flor, seu corpo foi descansar no fundo do mar. Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. Ismália se perdeu em sua loucura. A torre expressa a espera da donzela pelo amado ou pela mudança de vida, simbolizando também o medo. E, por sua altura, a loucura se torna suscetível – o solo firme não é mais a referência. Ela nos remete, ainda, ao caráter bélico, na defesa de um espaço ou região, pois de uma torre observam-se os inimigos ao longe. Esse objeto também remete-nos a um dos arcanos do tarô e pode significar os alicerces que nos sustentam: que estão frágeis, prestes a desabar, ruindo, ou prestes a ruir. Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...
B04 Simbolismo II
As antíteses entre “céu” e “mar”, “subir” e “descer”, “torre” e “lua”, “perto” e “longe”, “alma” e “corpo” permitem-nos afirmar que estamos diante de um texto dualista, com muitos contrastes nas ideias e obscuridade em sua linguagem. Têm-se o imaginário e o real em um duelo acirrado, disputando a vida e a morte. Observe os verbos no passado: “enlouqueceu”, “pôs-se”, “viu”, “perdeu”, “banhou-se”, “queria”, “estava”, “pendeu”, “deu”, “ruflaram”, “subiu”, “desceu”. O tempo verbal dá a entender que o futuro já não é mais possível. Ismália não enxerga o porvir promissor. A falta de sentido para a vida provoca a ausência de planos e de sonhos. A saída para a moça é a morte. 725
Português
Pôs-se na torre a sonhar.../Queria descer ao mar.../ Estava longe do mar.../ Seu corpo desceu ao mar... As reticências no final dos versos levam-nos à interpretação da espera. Enquanto Ismália sonha na torre e pensa sobre a lua, ela aguarda o sugestivo final fúnebre. Além disso, essa forma de pontuação dá a sensação de monotonia, ou mesmo de melancolia, ou de uma desmotivação por viver, já que a existência é enfadonha e sem perspectivas. As reticências servem ainda para manter o mistério no qual está envolto a loucura de Ismália. Viu uma lua no céu,/ Viu outra lua no mar. A lua, enquanto símbolo que perpassa o poema, é o elemento principal da poesia e aparece cercada de metáforas e ambiguidades, que possibilitam várias interpretações. Ela representa o poder mágico, o misticismo e a feminilidade, a sexualidade e o romance, podendo ser comparada à torre, um dos arcanos do tarô, representando, ainda, poder instintivo, sonhos e ilusão. Somado a isso, há a relação de força que a lua exerce sobre o mar, que é comprovadamente científica: a Terra atrai a Lua, fazendo-a girar ao seu redor e dependendo dessa força de gravidade, perante a lua, o movimento das marés se modifica. Podemos observar essa atração, entre a lua e o mar, aplicada ao poema lido, em relação à representatividade que esses dois símbolos provocam em Ismália – ela almeja a lua do céu e o reflexo dessa lua no mar.
A sacrificada vida do poeta simbolista do amor, da morte e do luar Afonso Henrique da Costa Guimarães (Alphonsus de Guimaraens) nasceu em Ouro Preto (MG), em 1870, e faleceu em 15 de julho de 1921, em Mariana, no interior do Estado. A obra do autor tem como características o triângulo: Misticismo, Amor e Morte. Dessa forma, é considerado pela crítica literária o poeta mais místico da Literatura Brasileira. Alheio aos sintomas da crise civilizacional, Alphonsus de Guimaraens é considerado o escritor cujas poesias centram-se mais na subjetividade que nas questões de ordem social. Seus textos são intensamente marcados com a presença de Constança, sua prima, a quem amava e estava com apenas dezessete anos, vindo a falecer às vésperas do casamento. Em cada poesia, é revivida a morte de sua noiva. Todos os outros temas que explorou, como religião, natureza e arte, de alguma forma, se relacionam com o tema da morte. Podem ser encontradas, com facilidade, referências às cores roxa e negra, ao corpo morto, ao féretro etc. Fonte: Wikimedia Commons
A perda da mulher amada afetou sua escrita de forma tão intensa que em toda a sua obra encontram-se marcas do sofrimento por tê-la perdido. Principais Obras Sentenário das Dores de Nossa Senhora (1899)
B04 Simbolismo II
Câmara Ardente (1899) Dona Mística (1899) Kyriale (1902) Pauvre Lyre (1921) Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923) Figura 01 - Alphonsus de Guimaraens
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Mendigos (1920)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
GUIMARAENS, A. “Soneto do Aroma”. Disponível em: <http://www. elsonfroes.com.br/ sonetario/ guimaraens.htm>. Acesso em 16/04/2016.
Na poesia simbolista, a emoção estética é despertada a partir de uma linguagem que sintetiza múltiplas sensações. Para atingir esse propósito, Alphonsus de Guimaraens, nos versos acima, recorre ao emprego da a) sinestesia. b) aliteração. c) perífrase. d) personificação. e) hipérbole. 02. (Uespi PI) Analise o fragmento do poema abaixo e os comentários que são feitos a seguir. Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas! Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incenso de turíbulos da aras... 1. Pelas características de sugestão e enigma, o poema se inscreve na escola simbolista. 2. O poema se opõe às escolas naturalista e parnasiana, valorizando uma realidade subjetiva, metafísica e espiritual. 3. O poema tem em comum com os textos parnasianos o apuro formal, a presença da métrica e da rima. Está(ão) correta(s): a) 1 apenas b) 2 apenas c) 1 e 2 apenas d) 2 e 3 apenas e) 1, 2 e 3 03. (UFRRJ) Leia o fragmento a seguir do poema “Evocações” de Alphonsus de Guimaraens: “Na primavera que era a derradeira, Mãos estendidas a pedir esmola Da estrada fui postar-me à beira. Brilhava o sol e o arco-íris era a estola Maravilhosamente no ar suspensa” Como se sabe, Alphonsus de Guimaraens é tido como um dos mais importantes representantes do Simbolismo no
Brasil. No fragmento acima, pode-se destacar a seguinte característica da escola à qual pertence: a) bucolismo, que se caracteriza pela participação ativa da natureza nas ações narradas. b) intensa movimentação e alta tensão dramática. c) concretismo e realismo nas descrições. d) foco no instante, na cena particular e na impressão que causa. e) tom poético melancólico, apresentando a natureza como cúmplice na tristeza. 04. (UFPA) Leia o poema “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens. Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1973. p. 318- 324.
Considerando que Alphonsus de Guimaraens é um dos principais representantes do Simbolismo brasileiro, é verdadeiro afirmar que, no poema transcrito, a) os versos privilegiam as lembranças, a imaginação, de onde emergem os fantasmas da infância perdida do poeta. b) o poeta consegue, valendo-se da loucura de Ismália, realizar a transcendência espiritual, proposta pelo movimento simbolista.
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B04 Simbolismo II
01. (Ibmec SP) Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce... Oh sonora audição colorida do aroma!
Português
c) o metro, exigido pela poesia tradicional, perde a importância
V.
Trata-se do resultado de um desenvolvimento que se iniciou com o Romantismo, isto é, com a descoberta da metáfora como célula germinal da poesia.
e o rigor; a linguagem é simples e as imagens refletem fielmente a realidade. uma espécie de realismo exacerbado, próprio do movimen-
Sendo inexplicável e misteriosa a vida, era natural que o Simbolismo a representasse de maneira imprecisa, vaga,
to naturalista.
ilógica e obscura.
d) o tema do amor de Ismália e o da sua morte fundem-se em
e) a religiosidade exerce sobre o poeta uma força sobrenatural, o que o leva a valorizar o sentimento místico e a sufocar os desejos reprimidos da adolescência.
Estão corretas as afirmações: a) apenas I, II, III e IV. b) apenas I, II, IV e V.
Apresenta interesse maior pelo particular e individual do
c) apenas I, III, V e VI. d) apenas II, III, V e VI.
que pelo geral ou universal.
e) todas estão corretas.
05. (Cefet PR) São características do Simbolismo: I)
VI.
II)
Põe ênfase na imaginação e fantasia.
III)
Despreza a natureza em prol do sobrenatural.
IV)
Na narrativa, manifesta pouco interesse pelo enredo e ação.
V)
O interesse recai sobre o espírito íntimo das pessoas.
VI)
Procura selecionar elementos que apresentam a essência em vez da realidade.
VII) Busca fugir da realidade e da sociedade contemporânea.
08. (Enem MEC) Cárcere das almas Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza.
Estão corretas as afirmativas: a) I, III, IV, V e VI apenas. b) I, II, V, VI e VII apenas. c) I, II, III, IV e VII apenas. d) III, IV, V, VI e VII apenas.
Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
e) todas estão corretas. 06. (UFMA) O Simbolismo prima pelo subjetivismo, busca a sublimação e valoriza o inconsciente / subconsciente, daí o
Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
desenvolvimento de uma linguagem específica e tem como características: a) musicalidade, sugestão, linguagem simbólica b) linguagem simbólica, humanitismo, sugestão
Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?!
c) sugestão, musicalidade, culto da forma d) humanitismo, linguagem simbólica, denuncia e) culto da forma, sugestão, humanitismo 07. (Cefet PR) Sobre o Simbolismo, é correto afirmar: I.
Mergulha no inconsciente, ali buscando imagens que se coadunam com o onírico, o irracional e o transcendente.
II.
É vago e indistinto, porém sua poesia atinge os pináculos da expressão objetiva, de onde se explicam as inúmeras referências à cor branca.
III.
Tem, na própria materialidade sonora da palavra, o ane-
B04 Simbolismo II
lo de aproximar-se da música, de onde justificarem-se os inúmeros recursos fônicos de que faz uso. IV.
O maior poeta simbolista brasileiro é Cruz e Souza, e as inúmeras referências à cor branca encontradas em sua poesia se explicam pela rejeição inconsciente à própria herança genética de seus antepassados.
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CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura/ Fundação Banco do Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos. b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista. c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais. d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras. e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares 01. (Enem MEC)
III.
(...) Chorai, arcadas Do violoncelo! Convulsionadas Pontes aladas De pesadelo... (...) De que esvoaçam, Brancos, os arcos... Por baixo passam, Se despedaçam, No rio, os barcos. PESSANHA, Camilo. Violoncelo. In: GOMES, Á. C. O Simbolismo, São Paulo: Editora Ática, 1994, p.45.
Os poetas simbolistas valorizaram as possibilidades expressivas da língua e sua musicalidade. Aprofundaram a expressão individual até o nível do subconsciente. Desse esforço resultou, quase sempre, uma visão desencantada e pessimista do mundo. Nas estrofes destacadas do poema Violoncelo, as características do Simbolismo revelam-se na a) expressão do sofrimento diante da brevidade da vida. b) combinação das rimas que funde estados de alma opostos. c) pureza da alma feminina, representada pelo ritmo musical do poema. d) relação entre sonoridade e sentimento explorada nos versos musicais. e) temática do texto, retomada da vertente sentimentalista do Romantismo. 02. (Cefet PR) Leia a seguinte estrofe, do poema simbolista, Violões que Choram, de Cruz e Sousa, e depois responda ao que se pede. Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Com base nessa estrofe, pode-se afirmar que: I. privilegia o estrato semântico, no encalço de um significado difuso, impreciso, de onde não se tem certeza de quase nada. II. sendo o Simbolismo caracterizado por uma poesia que confere ao significado a suprema importância que sempre lhe é devida, tem–se que as repetições dos fonemas iniciais nos vocábulos dessa estrofe apontam para o caráter volátil dos substantivos e adjetivos.
nessa estrofe o poeta privilegia o estrato fônico e, buscando aproximar-se da sonoridade dos “Violões que Choram”, deixa o estrato semântico, i.e., os significados, em segundo plano. IV. trata-se de uma poesia metafísica e espiritualista e o excesso de “VV” e “SS” remetem ao som e à imagem do vento, desde há muito associado ao ar e ao espírito, como comprova a etimologia “inspiritus”, que originou tanto “espírito” quanto “inspirar”. V. o poeta não privilegia o estrato semântico, preocupando-se mais em criar, mediante a exploração da sonoridade das palavras, a imagem dos violões que choram, sendo estes metonímia para os tocadores de violão. Estão corretas somente: a) I, II e V. b) II, IV e V. c) II, III e IV. d) III e V. e) I e IV. Texto comum às questões 03 e 04 Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... (Alphonsus de Guimaraens)
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Violoncelo
Português Questão 03. [C] Enquanto que em “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens, se percebe a insanidade da figura feminina, dividida entre a realidade e o sonho, absolutamente incapaz de se harmonizar com o mundo que a rodeia, em “Mãos Dadas”, de Carlos Drummond de Andrade, o eu lírico rejeita o pessimismo decadentista e o escapismo romântico (“Não serei o poeta de um mundo caduco./ Também não cantarei o mundo futuro.”) para se preocupar com os problemas do presente e dar prioridade aos temas sociais (“Estou preso à vida e olho meus companheiros”).
03. (Insper SP) Relacione o poema Ismália a estes versos de Carlos Drummond de Andrade: Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considere a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
É correto afirmar que a) ambos colocam em destaque o tema da loucura. b) apenas os versos de Drummond apresentam a ideia do esvaziamento do “eu”. c) os poemas se opõem, já que Drummond propõe uma poesia ligada à realidade. d) ambos retratam a angústia dos seres incompreendidos pelos seus companheiros. e) apenas em Ismália é possível identificar o desejo de um futuro melhor. 04. (Insper SP) Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações que seguem. ( ) Os temas centrais desse poema, bem marcados nas duas primeiras estrofes, são o amor e a saudade. ( ) Um dos mais significativos poemas simbolistas, Ismália aborda a dualidade entre corpo e alma. ( ) A partir de um jogo intertextual, o poema de Alphonsus de Guimaraens parodia o drama de Narciso diante do espelho. A sequência correta é: a) F, V, F. b) V, V, F. c) V, F, F. d) F, F, V. e) V, F, V. 05. (Ufop MG) Leia atentamente o poema de Alphonsus de Guimaraens: Como se moço e não bem velho eu fosse
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Como se moço e não bem velho eu fosse Uma nova ilusão veio animar-me: Na minh’alma floriu um novo carme, O meu ser para o céu alcandorou-se. Ouvi gritos em mim como um alarme. E o meu olhar, outrora suave e doce, Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se Todo em raios que vinham desolar-me. 730
Vi-me no cimo eterno da montanha, Tentando unir ao peito a luz dos círios Que brilhavam na paz da noite estranha.
Acordei do áureo sonho em sobressalto: Do céu tombei ao caos dos meus martírios, Sem saber para que subi tão alto... GUIMARAENS, Alphonsus de. Melhores poemas de Alphonsus de Guimaraens. 4.ed. São Paulo: Global, 2001, p.118.
Sobre o poema é correto afirmar: a) O eu lírico manifesta um rejuvenescimento diante das promessas existentes na vida comum. b) A temática revela a perda da ilusão e o sentimento de amargura trazidos pela velhice. c) Os versos reconhecidamente simbolistas traduzem, no entanto, uma visão de mundo objetiva. d) É uma composição de forma fixa, tipo de poema predominante na antologia Melhores poemas de Alphonsus de Guimaraens. 06. (UEG GO) ÚLTIMOS VERSOS Na tristeza do céu, na tristeza do mar, eu vi a lua cintilar. Como seguia tranquilamente por entre nuvens divinais! Seguia tranquilamente como se fora a minh’Alma, silente, calma, cheia de ais. A abóboda celeste, que se reveste de astros tão belos, era um país repleto de castelos. E a alva lua, formosa castelã, seguia envolta num sudário alvíssimo de lã, como se fosse a mais que pura Virgem Maria... Lua serena, tão suave e doce, do meu eterno cismar, anda dentro de ti a mágoa imensa do meu olhar! GUIMARAENS, Alphonsus de. Melhores poemas. Seleção de Alphonsus de Guimaraens Filho. São Paulo: Global, 2001, p. 161.
Entre as características poéticas de Alphonsus de Guimaraens, predomina no poema acima a) o diálogo com amada. b) o poema-profanação. c) as imagens de morte. d) o poema-oração.
Questão 04. [A] São inadequadas a primeira e a última afirmações, pois o tema central do poema é a dualidade corpórea e espiritual, expressa nas antíteses “céu” X “mar”, “subir” X “descer”, “perto” X “longe” e não o fascínio pela própria imagem a que remete o drama de Narciso. Assim, é correta a opção [A]: F, V, F.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Puc Campinas SP) Antes mesmo do indianismo e do regionalismo, a ficção brasileira, desde os anos de 1840, se orientou para outra vertente de identificação nacional através da literatura: a descrição da vida nas cidades grandes, sobretudo o Rio de Janeiro e áreas de influência, o que sobrepunha à diversidade do pitoresco regional uma visão unificadora. Se por um lado isto favoreceu a imitação mecânica da Europa, e portanto uma certa alienação, de outro contribuiu para dissolver as forças centrífugas, estendendo sobre o País uma espécie de linguagem culta comum a todos e a todos dirigida (...), que contrabalança o particular de cada zona. (Antonio Candido. A educação pela noite. São Paulo: Ática, 1987. p. 203)
A influência exercida pelos costumes, valores e hábitos europeus no Brasil teve grande expressão durante o período conhecido como Belle Époque. Entre as características desse período, pode-se destacar a) a intensa difusão, em cidades como Paris e Viena, dos valores e hábitos da alta burguesia, como o culto ao lazer, às artes e ao entretenimento, favorecidos pela vida urbana e pela infraestrutura existente nessas capitais. b) a celebração do pacifismo, do hedonismo e do “estilo de bem viver”, após o dramático período vivido pelas sociedades europeias durante a Primeira Guerra Mundial. c) a retomada do classicismo, principal influência do Art Nouveau, uma vez que o “culto ao belo” e a busca da perfeição na reprodução da realidade orientaram o gosto e a estética predominantes nos grandes centros culturais europeus. d) a expansão da cultura de massas, na França e na Inglaterra, graças à difusão do rádio e do cinema, permitindo que o gosto popular fosse incorporado pela alta burguesia, não mais preocupada em se diferenciar do proletariado. e) o período de prosperidade econômica, na capital francesa, decorrente da administração moderna e reformista exercida pela Comuna de Paris logo após a Guerra Franco-Prussiana, que possibilitou uma fase de efervescência cultural. 02. (UFRR) Já disse que eu estava com 39 anos e era um homem alto, meio curvado e estava usando uma barbicha e um bigode pontudo. Usava também óculos de aros dourados e redondos e meu nariz era afilado. Sou do tipo mediterrâneo e minha pele estava queimada pelo sol. Era um homem atraente e, naquele momento, notei que Trucco me olhava incrédulo. – Obrigado por me salvar do assalto – disse Trucco um tanto inseguro com a minha figura semidespida que, convenhamos, não devia ser um primor de elegância. Eu respondi que ele
não me devia agradecimentos que tudo não passara de uma série de equívocos, aliás, o corolário da minha existência. Disse a ele que quem estava sendo assaltado era eu por um marido armado de terçado, e ele me disse seu nome (dele): Luiz Trucco, o cônsul-geral da Bolívia. Respondi estendendo a minha mão e informando que eu era um jornalista e me chamava Galvez, Luiz Galvez. Trucco tornou a agradecer e insistiu que eu o havia livrado de um vexame, coisa da qual não consegui me furtar. Perguntou se eu aceitaria uma bebida e entramos no animado cabaré. Era o Cabaré Juno e Flora e oferecia como atração os encantos de “Lili, Invencível Armada”, grande dançarina e diseuse cubana, contorcionista da metrificação parnasiana e dos ritmos tropicais. SOUZA, Márcio. Galvez: Imperador do Acre. 18 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 18-19.
No último período do texto, o narrador define “Lili, invencível armada” como “contorcionista da metrificação parnasiana”. Considerando-se as características do Parnasianismo, pode-se afirmar que a) os movimentos da dançarina, assim como o Parnasianismo, imprimem valorização da estética e busca da perfeição; b) há excessivo subjetivismo nos movimentos da dançarina, assim como na descrição da realidade pelo Parnasianismo; c) a estética parnasiana aproxima-se dos movimentos de dança de Lili pois ambos se baseiam na hipervalorização dos sentimentos e das emoções; d) a dança de Lili expressa sua liberdade de criação, assim como o poeta parnasiano era livre para expressar sua individualidade; e) a estética da dança era fruto da espontaneidade, da emotividade da bailarina, como os poemas dos parnasianos. 03. (UFPA) À subjetividade romântica os parnasianos contrapuseram a impessoalidade objetiva; Bilac, parnasiano por excelência, por vezes foge do rigorismo objetivista de sua escola como, por exemplo, nos versos em que o eu do poeta se manifesta claramente. É o que se vê em: a) “Fernão Dias Paes Leme agoniza. Um lamento/ Chora largo, a rolar na longa voz do vento.” b) “Para! Uma terra nova ao teu olhar fulgura!/ Detém-te! Aqui, de encontro a verdejantes plagas” c) “E eu, solitário, solto a face, e tremo,/ Vendo o teu vulto que desaparece.” d) “Chega do baile. Descansa/ Move a ebúrnea ventarola.” e) “E ei-la, a morte! E ei-lo, o fim! A palidez aumenta; Fernão Dias se esvai, numa síncope lenta.” 731
Português
04. (Puc RS) “Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.” A poesia que se concentra na reprodução de objetos decorativos, como exemplifica a estrofe de Alberto de Oliveira, assinala a tônica da a) espiritualização da vida b) visão do real. c) arte pela arte. d) moral das coisas. e) nota do intimismo. 05. (Puc Campinas SP) O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre; E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelo plange ao longe em doloroso dobre. O último ouro do sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema-unção. Podemos reconhecer nas estrofes acima, de Olavo Bilac, as seguintes características do estilo de época que marcou sua poesia: a) Interesse pela descrição pormenorizada da paisagem, numa linguagem que procura impressionar os sentidos. b) Uso do vocabulário próprio para acentuar o mistério, a realidade oculta das coisas, que deve ser sugerida por meio de símbolos. c) Valorização do passado histórico, em busca da definição da nacionalidade brasileira. d) Utilização exagerada de hipérboles, perífrases e antíteses, no desejo de não nomear diretamente as coisas, mas de fazer alusão a elas. e) Busca de imagens naturais e vocabulário simples, predileção pelo verso branco e negação de inversões sintáticas.
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
06. (Enem MEC) Vida obscura Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro ó ser humilde entre os humildes seres, embriagado, tonto de prazeres, o mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste no silêncio escuro a vida presa a trágicos deveres e chegaste ao saber de altos saberestornando-te mais simples e mais puro. Ninguém te viu o sofrimento inquieto, magoado, oculto e aterrador, secreto, 732
que o coração te apunhalou no mundo, Mas eu que sempre te segui os passos sei que a cruz infernal prendeu-te os braços e o teu suspiro como foi profundo! (SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961)
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Souza transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação. b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social. c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes. d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais. e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã. 07. (Enem MEC) Cárcere das almas Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! (CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.)
Os elementos formais e temáticos relacionados com o contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são: a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos. b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista. c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais. d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras. e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Acrobata da Dor Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta. Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado Salta, gavroche, salta clown, varado pelo estertor dessa agonia lenta... Pedem-te bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa, nessas macabras piruetas d’aço... E embora caias sobre o chão, fremente, afogado em teu sangue estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço. (João da Cruz e Sousa. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Aguilar, 1961.)
O Simbolismo se caracterizou, entre outros aspectos, pela exploração dos sons da língua para estabelecer nos poemas uma musicalidade característica, por meio de diferentes processos de repetição de sons ao longo dos versos e em estrofes inteiras. Na primeira estrofe do soneto, de Cruz e Sousa, nota-se esse procedimento de repetição, especialmente no I. primeiro verso. II. segundo verso. III. terceiro verso. IV. quarto verso. a) I e II. b) I e III. c) I e IV. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 09. (Ibmec SP) Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... (Alphonsus de Guimaraens)
Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações que seguem. ( ) Os temas centrais desse poema, bem marcados nas duas primeiras estrofes, são o amor e a saudade. ( ) Um dos mais significativos poemas simbolistas, Ismália aborda a dualidade entre corpo e alma. ( ) A partir de um jogo intertextual, o poema de Alphonsus de Guimaraens parodia o drama de Narciso diante do espelho. A sequência correta é: a) F, V, F. b) V, V, F. c) V, F, F. d) F, F, V. e) V, F, V. 10. (Puc RS) “Ninguém anda com Deus mais do que eu ando, Ninguém segue os seus passos como eu sigo, Não bendigo a ninguém e nem maldigo: tudo é morte num peito miserando. Vejo o sol, vejo a luz e todo bando Das estrelas no olímpico jazigo. A misteriosa mão de Deus o trigo Que ela plantou aos poucos vai ceifando.” Um dos temas marcantes da poesia simbolista de Alphonsus de Guimaraens é a ______________ profunda e pessoal, como ilustram as estrofes acima. a) delicadeza. b) melancolia. c) religiosidade. d) ternura. e) evasão. 733
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
08. (Unesp SP) Considere o soneto Acrobata da dor, do poeta simbolista brasileiro Cruz e Sousa (1861-1898):
FRENTE
C
PORTUGUÊS Por falar nisso A Linguística Moderna constitui-se no início do século XX com o linguista suíço Ferdinand de Saussure, do qual emergiu a corrente estruturalista de estudo da língua. O estruturalismo analisa a linguagem no nível da palavra e da frase, sobretudo, os elos sintáticos estabelecidos entre os termos de uma oração. No entanto, a partir da década de 1960, novos estudiosos redirecionam o foco da Linguística Moderna, e assim iniciouse uma nova corrente: a Linguística do Texto, cujo objetivo é descrever os fenômenos sintático-semânticos entre enunciados ou sequência de enunciados. Trata-se de uma análise transfrásica, isto é, uma análise que vai além da frase, uma vez que um texto não é uma sequência de frases isoladas, mas uma unidade linguística com propriedades estruturais específicas. Entre os estudiosos da Linguística do Texto, destacam-se Beaugrande e Dressler, os quais apontaram como critérios de textualidade: a coesão e a coerência, a informatividade, a situacionalidade, a intertextualidade, a intencionalidade e a aceitabilidade. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
C01 C02 C03 C04
Texto e contexto............................................................................ 736 Intertextualidade .......................................................................... 742 Coesão e coerência I ..................................................................... 750 Coesão e coerência II .................................................................... 757
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C01
ASSUNTOS ABORDADOS n Texto e contexto n Linguagem formal e informal
TEXTO E CONTEXTO Todo texto funciona como uma expressão de um conjunto linguístico em um ato de comunicação unificado em um complexo universo de ações humanas. O texto é muito mais que a simples soma das frases que o compõe: a diferença entre frase e texto não é somente de ordem quantitativa, mas também de ordem qualitativa. Ademais, ele não funciona isolado, já que possui uma interpretação extensional do mundo, em que é necessária a análise de elementos contextuais e cotextuais. n n
Contexto: elemento externo ao texto, corresponde ao lugar do texto no mundo dos leitores e suas interpretações. Cotexto: elemento interno ao texto, corresponde aos elos semânticos (sentido) dentro do próprio texto.
Fonte: Wikimedia commons
No momento de interpretar e produzir um texto, é muito importante atentar-se para o contexto em que está imerso cada texto, uma vez que ele é determinante para o sentido empregado em cada palavra e frase. Veja, a seguir, uma tirinha da Mafalda.
O último quadrinho da tira sobrepõe dois sentidos à expressão: “abrir a boca para não dizer nada” e é essa sobreposição polissêmica que confere o humor da tira. Para entender como a Mafalda articulou esses dois sentidos, é preciso que você, como leitor, compreenda o contexto dentro do qual o texto surgiu. “Abrir a boca para não dizer nada” pode significar, literalmente, ficar com a boca aberta e não falar nada, como quando vamos ao dentista. No entanto, essa expressão também pode se enquadrar àquelas pessoas que, apesar de realmente falarem, não dizem nada de interessante ou relevante, muitas vezes proliferando um discurso inócuo (nocivo) ao ouvinte. Ademais, quando Mafalda diz que esse consultório não é nada original, ela reafirma que no mundo é bastante comum as pessoas dizerem coisas irrelevantes.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Linguagem formal e informal Existem várias “línguas portuguesas” dentro da própria Língua Portuguesa. Uma língua não funciona como um sistema fechado e inalterado. Ela é um processo de interação por meio de signos linguísticos que se ramificam em variedades que se colocam e são utilizadas de acordo com o contexto de enunciação. Daí a explicação de haver variedades linguísticas, que estão articuladas em relação à pessoa que produz o texto e à pessoa que o recebe. Os principais tipos de variedade podem ser subdivididos em dois grandes grupos: a linguagem formal e a linguagem informal. Linguagem formal
Essa designação, porém, é falha e está em desuso. A palavra culta é uma palavra de origem latina (colere), que originou palavras como cultura e cultivar. Nesse sentido, dizer que a variedade que segue à risca as normas gramaticais é a norma culta, implica dizer que a variedade popular seja a não culta, ou seja, que a variedade linguística popular ou coloquial está ausente de cultura. Isso é totalmente equivocado, elitista e preconceituoso. Em razão disso, muitos preferem utilizar norma-padrão da língua portuguesa ou norma estatal, uma vez que a linguagem formal é, preferencialmente, a variante dos documentos oficiais, como leis, artigos acadêmicos, exames e concursos e até a prova do Enem.
Contexto de uso: n n n n n
Em discursos públicos ou políticos; Em conferências, palestras, seminários; Em exames e concursos públicos; Em reuniões de trabalho e entrevista de emprego; Em documentos oficiais, cartas, requerimentos; Em jornais e revistas.
Principais características: n n n n
Utilização rigorosa das normas gramaticais; Pronúncia clara e correta das palavras; Utilização de vocabulário rico e diversificado; Registro cuidadoso, prestigiado, complexo e erudito.
A linguagem formal tem seu lugar tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral. Seu uso será definido pelo grau de distância entre os interlocutores (quando não há familiaridade entre eles) e a situação de produção (quando requer maior seriedade). Norma da língua A linguagem formal segue à risca as normas da língua: concordância e regência verbo-nominais adequadas, acentuação ou pronúncia correta das palavras, uso de conectivos, entre outros. Essa norma da língua foi reconhecida, por muito tempo, como a norma culta.
Linguagem informal Contexto e uso: n n n n n
Conversas cotidianas entre amigos, familiares; Mensagens de celular; Programas de televisão como novelas, filmes, séries; Programas de humor e infantis; Tirinhas, quadrinhos, cartum, charge.
Principais características: n n n n n n
Despreocupação relativamente com o uso de normas gramaticais; Utilização de vocabulário simples, expressões populares e coloquialismos; Utilização de gírias, palavrões, palavras inventadas, onomatopeias; Uso de palavras abreviadas ou contraídas; Sujeita a variações regionais, culturais e sociais; Registro espontâneo.
A linguagem informal tem seu lugar tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral. Seu uso será definido pelo grau de proximidade entre os interlocutores (quando há familiaridade entre eles) e a situação de produção (quando requer menor seriedade).
C01 Texto e contexto
n
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Português
Exercícios de Fixação 01. (UEFS BA) Leia o texto de Jandira Masur. Tudo que exige a separação em duas categorias envolve o problema do limite, do divisor de águas. Muitas vezes isso é resolvido através de convenções arbitrariamente estabelecidas. É o caso do limite de 18 anos, que separa o menor do maior de idade. É claro que todo divisor estabelecido através de convenções implica situações bizarras: com um dia a menos de 18 anos não posso assistir a um filme que 24 horas depois já me será permitido. Outros tipos de situações não necessitam de divisores arbitrários, como é o caso da gravidez. Não se fica um pouco grávida: ou se está ou não se está. Ninguém se pergunta: estarei ficando grávida? No alcoolismo, o limite entre o ser e o não ser alcoólatra não pode ser arbitrariamente definido como no caso da maioridade. Ele, o limite, também não é claro e óbvio como ocorre no caso da gravidez. Logo, a pergunta que as pessoas se fazem, sobre se elas ou outros estão bebendo demais e, portanto, se tornando alcoólatras, é pertinente e não tem uma resposta fácil. A situação é semelhante ao que ocorre quando se observa uma gradação de cores que varia do rosa ao vermelho. Quando, exatamente em que ponto é que o rosa se transforma em vermelho? Distinguir entre o rosa inicial e o vermelho final não nos causa problemas. O difícil é distinguir o momento em que o rosa não é mais rosa. Este é o problema que ocorre quando pensamos se alguém bebe normalmente ou é alcoólatra. Claro que os polos não nos confundem. É fácil dizer que uma pessoa que bebe muito, que perdeu o emprego em função de não poder trabalhar adequadamente por estar sempre embriagado, que tem problemas sérios de relacionamento com seus amigos e/ou familiares que se ressentem da forma pela qual esta pessoa vem bebendo, e que apresenta doenças devidas ao álcool, é um alcoólatra. O problema reside exatamente em definir aqueles que não mostram esses sinais óbvios, ou seja, os que estão em um ponto intermediário entre o rosa e o vermelho. (O que é alcoolismo, 1991. Adaptado.)
Segundo o texto, estabelecer a distinção entre uma pessoa que bebe normalmente e um alcoólatra C01 Texto e contexto
a) é fácil, porque são evidentes os sinais de embriaguez e as consequências negativas do álcool na vida do alcoólatra. b) é difícil para os casos menos extremos de alcoolismo, em que os sintomas são discretos, ambíguos ou pouco evidentes.
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c) é difícil, pela impossibilidade de se determinar o momento em que se deve interferir na vida privada dos indivíduos. d) é fácil para os casos de altíssimo consumo de álcool, mas difícil no polo oposto da escala de consumo. e) é difícil, porque o alcoolismo é algo que acontece aos poucos, por um acúmulo, e só se torna identificável quando o problema já está avançado. 02. (UEFS BA) Leia o texto de John Gray. Atualmente, a maior parte das pessoas pensa que pertence a uma espécie que pode ser senhora de seu destino. Isso é fé, não ciência. Não falamos de um tempo em que as baleias ou os gorilas serão senhores de seus destinos. Por que então os humanos? Não precisamos de Darwin para perceber que nos parecemos com os outros animais. Basta observar um pouco nossas vidas para sermos levados à mesma conclusão. No entanto, como a ciência tem hoje uma autoridade com a qual a experiência comum não pode rivalizar, observemos o ensinamento de Darwin de que as espécies são apenas aglomerados de genes interagindo aleatoriamente uns com os outros e com seus ambientes em permanente mudança. Espécies não podem controlar seus destinos. Isso se aplica igualmente aos humanos. No entanto, é esquecido sempre que as pessoas falam sobre “o progresso da humanidade”. Elas depositaram sua fé numa abstração que ninguém pensaria em levar a sério se não fosse formada por restos de esperanças cristãs descartadas. Se a descoberta de Darwin tivesse sido feita numa cultura taoísta ou xintoísta, hinduísta ou animista, muito provavelmente teria se tornado apenas um fio a mais no entrelaçado de suas mitologias. Nessas crenças, os humanos e os outros animais são afins. Humanismo pode significar muitas coisas, mas para nós significa crença no progresso. Acreditar no progresso é acreditar que, usando os novos poderes que nos são propiciados pelo crescente conhecimento científico, os humanos podem se libertar dos limites que constrangem a vida de outros animais. Essa é a esperança de praticamente todo mundo hoje em dia, mas não tem fundamento. Pois, embora o conhecimento humano muito provavelmente continue a crescer e com ele o poder humano, o animal humano permanecerá o mesmo: uma espécie altamente inventiva que também é uma das mais predadoras e destrutivas. Darwin mostrou que os humanos são como os outros animais, e os humanistas afirmam que não. (Cachorros de palha, 2006. Adaptado.)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Segundo a posição defendida pelo autor do texto, a) a teoria de Darwin pressupõe que as diferentes espécies evoluem segundo leis particulares que as diferenciam. b) os animais predadores e destrutivos, como os humanos, têm menos chance que os demais de alcançar um progresso. c) o conhecimento que o ser humano obtém pela atividade científica deixará de crescer no futuro, comprometendo a ideia de progresso da humanidade. d) a crença em uma evolução especial da espécie humana, segundo a qual o homem dominaria seu próprio destino, contraria a teoria de Darwin. e) o progresso do ser humano, que é o que o distingue das outras espécies, é resultado mais de sua fé que da ciência.
Essa mesma história tem nos mostrado que décadas de cons-
Texto comum às questões 03 e 04
çada deste episódio. Há que se refletir seriamente: não serão
A polêmica e controversa operação no complexo da carne, que rendeu muita dor de cabeça às autoridades e aos envolvidos, além de muito falatório, de certa forma até desproporcional, revela um problema maior que ainda persiste nas ações de alguns gestores e entes públicos: o uso de estratagemas, amplamente questionáveis, para se alcançar os objetivos empresariais. Desde os primórdios da administração moderna de Henry Ford, no início do século XX na indústria automotiva americana, um arcabouço tecnológico, repleto de estratégias, práticas e técnicas de gestão está à disposição de administradores para melhorarem suas performances e, assim, galgarem posicionamentos competitivos para seus produtos e empresas. Das moderníssimas máquinas robotizadas à psicologia organizacional, o repertório é farto e facilmente acessível! Respeitando-se as proporções dadas ao episódio, que vem à tona com o aprofundamento da análise da operação como um todo, infelizmente, e, principalmente, ao confrontar o que é fato real, passível de punição ao rigor da Lei, ao que se pode caracterizar como especulação no imaginário popular, a pergunta que vale um milhão de dólares, ou bilhões, no caso em questão é: o que leva um gestor ou empresa a procurar o caminho mais curto e rápido? Encheria uma centena de páginas se tentasse decifrar os devaneios da mente humana ao buscar respostas para a pergunta acima. Mas tenho apenas a pretensão de chamar atenção a um aspecto: até que ponto, colocar a reputação e imagem de uma empresa e setor como um todo compensa? É realmente necessário usar estratagemas questionáveis para alcançar resultados superiores? Na história corporativa recente, os exemplos são mais que suficientes para tomarmos consciência, em definitivo, que perpetuar o negócio de maneira sustentável não é somente uma questão de sobrevivência, mas de inteligência do executivo.
uma lama, diante de práticas discutíveis, para ser leve com as palavras. É chegado o momento de as práticas corporativas sustentáveis ocuparem um lugar, na agenda dos gestores, de forma tão ou até mais essenciais que o lucro. Práticas sustentáveis, como o uso racional dos bens de produção, de energias limpas e renováveis, manejo respeitoso e pacífico à fauna e flora, relações institucionais pautadas pela transparência e apreço às leis, dentre tantas outras, hão que fazer parte de uma agenda maior, de Educação para a Sustentabilidade Empresarial. Mais que uma postura, é um anseio da sociedade, que fica evidente pela tamanha repercussão alcanessas práticas que, no futuro, proporcionarão os tão almejados lucros? Há que se inverter essa ordem! DALTO, Carlos Eduardo. Disponível em: https://www.noticiasagricolas.com.br/ artigos/artigos-geral/188928-quandoa- carne-e-fraca-por-carlos-eduardo-dalto. html#.WRnuxsrKM8>. Acesso em: 15 de mai. 2017. Adaptado.
03. (Acafe SC) Considerando o que consta no texto, infere- se que a) Carlos Eduardo Dalto considera que os meios utilizados pelos donos das empresas e seus executivos justificam os fins. b) de acordo com o autor, o que foi dito a respeito da operação policial “carne fraca” foi exagerado. c) a especulação feita pelo imaginário popular põe em dúvida a seriedade da agenda da Educação para a Sustentabilidade Empresarial. d) decorridos cerca de 100 anos desde a administração de Henry Ford, o uso das moderníssimas máquinas robotizadas é a única alternativa viável para se obter boa performance empresarial e posicionamentos competitivos. 04. (Acafe SC) Sobre o texto, é correto afirmar que a) na frase “Essa mesma história tem nos mostrado que décadas de construção de uma imagem e reputação vertem rio abaixo, como uma lama, diante de práticas discutíveis, para ser leve com as palavras”, o autor menciona explicitamente o rompimento de uma barragem em Mariana (MG), em 2015. b) administrar o negócio visando ao lucro acima de tudo é uma maneira sustentável de garantir a sobrevivência de gestores que adotam práticas discutíveis. c) o autor faz referência ao episódio “a carne é fraca” para tratar de estratégias, práticas e técnicas de gestão. d) práticas sustentáveis não se resumem apenas ao uso racional de energias limpas e renováveis, nem tampouco ao manejo respeitoso e pacífico da fauna e flora, mas se pauta numa agenda mais ampla de bens de consumo que causam baixo impacto na natureza.
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C01 Texto e contexto
Quando a carne é fraca!
trução de uma imagem e reputação vertem rio abaixo, como
Português
Exercícios Complementares 01. (UFU MG) A doação de sangue e o preconceito contra homossexuais Preconceito contra doação de sangue de gays e bissexuais aumenta o déficit de sangue nos hemocentros do País, diz Alexino Ferreira. O professor Ricardo Alexino Ferreira, em sua coluna semanal para a Rádio USP, aborda a questão do preconceito a gays e bissexuais por parte do Ministério da Saúde, no qual, mesmo com o déficit de sangue nos hemocentros do País, faz restrições quanto à doação de homens que tenham tido relações sexuais com outros homens. Segundo Alexino Ferreira, a portaria 2 712 do Ministério da Saúde, datada de novembro de 2013, parece insistir no grupo de risco (1), em detrimento ao comportamento de risco (1). Afinal, já se estabeleceu, desde há muito, que o vírus HIV, transmissor da aids, não faz distinção de orientação sexual e que, portanto (2), heterossexuais, bissexuais ou homossexuais podem ser igualmente contaminados em situações de risco, ou seja, quando não se faz uso de preservativos nas relações sexuais ou quando se tem contato direto com sangue contaminado. De fato, o colunista aponta uma contradição na própria portaria, a qual prevê que os serviços de hemoterapia não devem (3) manifestar preconceito ou discriminação com relação à orientação sexual ou com a identidade de gênero do doador. Alexino Ferreira diz ainda que as organizações de direitos LGBTs vêm denunciando (4) esse tipo de preconceito. De acordo com elas, existem casais homoafetivos estáveis, que não têm relações extraconjugais, ou mesmo homens homossexuais ou bissexuais que fazem sexo seguro com outros homens e não são usuários de drogas. Com esse tipo de restrição, o Brasil perde 18 milhões de litros de sangue ao ano. FERREIRA, Ricardo Alexino. Disponível em: <http://jornal.usp.br/atualidades/a-doacao-de-sangue-e-o-preconceito-contra-homossexuais>. Acesso em: 28 abr. 2017.
C01 Texto e contexto
Com base na leitura do texto e nos trechos numerados, assinale a alternativa INCORRETA. a) Em 1, as expressões ‘grupo de risco’ e ‘comportamento de risco’ indicam que um grupo de risco, obrigatoriamente, tem comportamento de risco. b) Em 2, podemos substituir ‘portanto’ por ‘consequentemente’, sem prejuízo para o sentido da oração. c) Em 3, o emprego do verbo ‘dever’ indica obrigação, o que não ocorreria se o autor tivesse empregado o verbo ‘poder’. d) Em 4, ‘vêm denunciando’ carrega a ideia de frequência, repetição de ação, o que não ocorreria se o autor tivesse optado por usar ‘denunciam’.
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Texto comum às questões 02 e 03 A porta aberta, ele percebe – saiu de casa e deixou uma fresta de pista. Com certeza pegou o elevador para descer os dezenove andares, o que ele sabe fazer. Não, o porteiro não viu [...]. O prédio, sinal dos tempos, ainda não tinha as grades altas com pontas agudas e as câmeras de segurança e os fios elétricos desencapados que pouco depois fechariam aquele pátio generoso e inteiro aberto, [...] Teria de achar a palavra certa para explicar, as pessoas não sabem – talvez dizer “você viu meu filho? Ele é um menino com problema”, ou “ele é meio bobo”; ou, ele é “deficiente mental”, e tudo aquilo não corresponde nem ao filho nem ao que ele quer dizer para definir seu filho; ele é uma criança carinhosa mas meio tontinho, talvez assim ficasse melhor: não pode dizer “mongoloide”, que dói, nem “síndrome de Down” – naquela década de 1980, ninguém sabe o que é isso. TEZZA, Cristovão. O filho eterno. Rio de Janeiro: Record, 2013. p.163-164.
02. (UFU MG) Na obra O filho eterno, de Cristovão Tezza há várias passagens que indicam uma relação especular entre Felipe e seu pai. O protagonista constata ser modelo para o filho quando ele, Felipe, começa a a) pronunciar palavrões. b) buzinar no banco do fusca. c) torcer pelo Clube Atlético Paranaense. d) demonstrar impulsos sexuais. 03. (UFU MG) O fragmento evidencia uma temática que perpassa o livro O filho eterno, que é a) a insuficiência da linguagem. b) a vergonha que sente do filho. c) a insensibilidade das pessoas. d) o desejo da morte do filho. 04. (UFU MG) Leia a charge a seguir.
Disponível em: <http://essaseoutras.xpg.uol.com.br/charges-engracadas-de-educacao- ensino-critica-alunos-e-professores>. Acesso em: 27 abr. 2017.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 04. Espera-se que o candidato aponte os dois elementos presentes na charge, “kit” de primeiros socorros e colete à prova de balas, e explique que eles são necessários para a proteção aos perigos presentes no ambiente escolar. Nesse sentido, a charge faz uma crítica à violência generalizada em nosso país, a qual atinge também as escolas.
Na charge, ao afirmar que a filha está pronta para ir à escola,
e não pelo fato de que o injusto não pode se queixar”. Do mes-
a mãe se refere a elementos hoje considerados necessários para adentrar o espaço escolar. Que elementos são esses e
mo modo, o tolerante, pelos princípios da tolerância. Se não se deve tolerar tudo, pois seria destinar a tolerância à sua perda,
por que se fazem necessários? Utilize apenas um parágrafo para sua explicação.
também não se poderia renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Uma democracia que proibisse todos os partidos não demo-
05. (Unievangélica GO)
cráticos seria muito pouco democrática, assim como uma democracia que os deixasse fazer tudo e qualquer coisa seria
Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal, em chamas derretido.
democrática demais, ou antes, mal democrática demais e, por isso, condenada – pois ela renunciaria a defender o direito pela força, quando necessário, e a liberdade pela coerção. O critério não é moral, aqui, mas político. O que deve determinar a tolerabilidade de determinado indivíduo, grupo ou comportamento não é a tolerância de que eles dão mostra (porque então todos os grupos extremistas de nossa juventude deveriam ter sido proibidos, o que só lhes daria razão), mas
Se és fogo, como passas brandamente, Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu parecesse a chama fria.
sua periculosidade efetiva: uma ação intolerante, um grupo intolerante, etc., devem ser proibidos se, e somente se, ameaçarem efetivamente a liberdade ou, em geral, as condições de possibilidade da tolerância. CONTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 177-178.
De acordo com a ideia desenvolvida no segundo parágrafo do texto, a tolerância é uma virtude e, como tal, deve ter valor em si mesma.
MATOS, Gregório de. Ardor em firme coração nascido. In: Poemas escolhidos.
Isso traz como consequência o fato de que tolerância deve ser
São Paulo: Cultrix, 1997. p. 218.
a) praticada com cautela para que não abra espaço para o abu-
c) que se parecem sejam aproximados. d) que se diferem sejam distanciados. 06. (Unievangélica GO) Ao contrário do amor ou da generosidade, que não têm limites intrínsecos nem outra finitude além da nossa, a tolerância é, pois, essencialmente limitada: uma tolerância infinita seria o fim da tolerância! Não dar liberdade aos inimigos da liberdade? Não é tão simples assim. Uma virtude não poderia se isolar na intersubjetividade virtuosa: aquele que só é justo com os justos, generoso com os generosos, misericordioso com os misericordiosos, etc., não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como acredito e como geralmente se aceita, ela vale por si mesma, inclusive para com os que não a praticam. A moral não é nem um mercado nem um espelho. É verdade, claro, que os intolerantes não teriam nenhum motivo para queixar-se de que se é intolerante para com eles. Mas onde já se viu uma virtude depender do ponto de vista dos que não a têm? O justo deve ser guiado “pelos princípios da justiça,
so dos intolerantes. b) ensinada desde a infância para que possamos construir uma sociedade mais justa. c) estendida a todas as pessoas, independentemente de elas serem ou não tolerantes. d) concebida como a mãe de todas as virtudes, já que ela é uma virtude auto-originada. 07. (Unievangélica GO) Leia a notícia a seguir. Paralimpíada alcança marca de 1,5 milhão de ingressos vendidos Às vésperas da cerimônia de abertura, Comitê Organizador acredita que todos os bilhetes serão comercializados. Ainda há cerca de 1 milhão de entradas disponíveis. Disponível em: <www.globoesporte.com>. Acesso em: 05 set. 2016.
De acordo com a informação dada no texto, existe, por parte do Comitê Organizador, a expectativa de que a) todos os ingressos serão comercializados. b) a ação dos voluntários será um grande sucesso. c) todos os atletas farão uma grande competição. d) a cerimônia de abertura será um espetáculo.
741
C01 Texto e contexto
De acordo com o poema, o amor faz com que elementos a) opostos sejam vistos como equivalentes. b) equivalentes sejam vistos como opostos.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C02
ASSUNTOS ABORDADOS n Intertextualidade n Alusão n Citação n Paráfrase n Paródia
INTERTEXTUALIDADE Conforme vimos na aula anterior, um texto não é constituído de um conjunto isolado de frases e tampouco está isolado de um contexto de produção. Nós aprendemos que só se consegue interpretar e produzir um texto se puder encaixá-lo em um contexto. Nesta aula, focaremos nosso estudo na relação e na influência que um texto pode ter sobre outro(s), isto é, a intertextualidade: a superposição de um texto a outro. Grosso modo, trata-se de um diálogo entre textos. Existem diversas maneiras de realizar uma intertextualidade, uma interconexão entre textos diferentes. São elas: n n n n
Alusão: referência a elementos presentes em outros textos; Citação: acréscimo de trechos de outras obras, de maneira a realizar um diálogo; Paráfrase: recriação de um texto, mantendo as ideias originais do autor, porém em outras palavras; Paródia: perversão de um texto, refletindo de forma crítica e irônica as ideias do autor.
Alusão Trata-se de um recurso discursivo que traz referências de obras, textos, frases do conhecimento geral para o novo texto. A alusão, vale ressaltar, não é um recurso exclusivo da prática textual, ela se estende também para as artes e propagandas publicitárias. Um dos mais clássicos exemplos de alusão são algumas expressões idiomáticas como esta: “Ganhei um presente de grego”. Essa frase faz referência ao contexto histórico da Grécia Antiga, em que os gregos “presentearam” seu rival bélico, Troia, com um cavalo, que, na verdade, escondia guerreiros gregos, que atacaram a cidade durante a noite. Essa expressão é bastante comum em contextos coloquiais. Há, no entanto, outras formas de alusão mais sofisticadas que remetem, inclusive, a textos literários. Veja a tirinha a seguir: Se o passarinho prático da tira tivesse talento para escrever um poema, ele escreveria o famoso poema de Carlos Drummond de Andrade “No meio do caminho”. No caso da tira, o pássaro, apesar de não se julgar um bom poeta, é totalmente capaz de utilizar de recursos discursivos como a alusão e mostra ainda um repertório de poesia drummondiana. Veja a seguir. No meio do caminho (Vida de passarinho. 2a ed. Porto Alegre: L&PM, 1995. p. 47.
No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra. 742
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Fonte: Wikimedia Commons
Fonte: Wikimedia Commons
Outras situações de produção em que podemos encontrar exemplos de alusão são propagandas publicitárias. Veja:
Figura 01 - Alusão à obra de arte Mona Lisa, do pintor renascentista Leonardo da Vinci.
Figura 02 - Alusão ao filme nacional Tropa de elite, do diretor José Padilha.
Citação Trata-se de um recurso discursivo que, como dissemos, traz trechos de outras obras no corpo do novo texto, de maneira a promover um diálogo entre autores, com o objetivo de reforçar, aprofundar, ou até mesmo comprovar uma ideia. A citação é um excelente recurso para ser usado em texto da tipologia argumentativa, uma vez que ao citar um texto de uma fonte de autoridade no assunto, você dá legitimidade ao argumento que está defendendo. Mas atenção! A citação deve sempre estar articulada com o desenvolvimento e a progressão semântica do texto. Ademais, cuidado também para não escrever citações em excesso. Existem dois tipos de citação: n
Citação direta: você transcreve no novo texto, entre aspas e com o nome do autor, as mesmas palavras do texto de onde o trecho a ser citado foi retirado. Exemplo: Como disse a filósofa francesa Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
n
Citação indireta: você transcreve com as suas palavras as ideias do autor, mencionando-o. Nesse caso, não é preciso utilizar aspas. Exemplo: O indivíduo do sexo feminino, segundo a filósofa francesa Simone de Beauvoir, não nasce dentro do papel social da mulher exigido pela sociedade patriarcal.
C02 Intertextualidade
Portanto, na sua dissertação do Enem, você pode citar frases renomadas de filósofos, trechos de música e até fragmentos de obras literárias. Com essas citações, você mostra que tem repertório sociocultural acerca do tema exigido pela banca. Mas, cuidado! Seus argumentos não devem entrar em contradição com a citação escolhida. Ao expor uma citação em seu texto, atente-se para os seguintes pontos: n n n
Escolha uma citação que ratifique o argumento que você quer defender; Evite usar citações no último parágrafo da redação. Usar citações na conclusão prejudica a coesão do texto; O momento mais indicado para colocar uma citação é no desenvolvimento do texto, deixando a citação alinhada aos seus argumentos, endossando suas ideias. 743
Português
Paráfrase A paráfrase é um recurso discursivo, que, como dito, baseia-se na reformulação de um texto, trocando as palavras e expressões originais, porém sem alterar a ideia central do autor. Em alguns casos, a paráfrase pode ser considerada um mecanismo facilitador da compreensão de um texto, visto que ajuda a explicá-lo com termos e expressões que sejam mais simples de entender, já que a ideia central do conteúdo sempre é mantida. Leia a seguir dois poemas. O primeiro é do poeta romântico Gonçalves Dias, o qual foi parafraseado pelo poeta modernista Carlos Drummond de Andrade. Note que o poema de Drummond não subverte o sentido original escrito pelo poeta romântico. Ainda há, nessa releitura, o sentimento de saudade pela terra, pelas palmeiras e pelos sabiás: Canção do exílio Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. Gonçalves Dias
Nova canção do exílio Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. [...] Ainda um grito de vida e voltar para onde é tudo belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe.
C02 Intertextualidade
Carlos Drummond de Andrade
744
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Paródia A paródia é um recurso discursivo que, como dissemos, é uma forma de contestar ou criticar outros textos. Há uma ruptura/subversão das ideias originais do autor, de modo a promover uma reflexão crítica sobre o que está sendo parodiado. A paródia, por vezes, possui tom de humor, devido à sua crítica, muitas vezes; irônica ao texto original. É muito comum ver no cotidiano brasileiro paródias de canções populares ou até de filmes. Nesses casos, o humor prevalece sobre a reflexão crítica. No entanto, há outras formas de paródias que preservam a seriedade e promovem uma inquietação no leitor, fazendo-o reler criticamente o texto original. É o caso da paródia escrita por Oswald de Andrade sobre o poema “Canção do exílio” de Gonçalves Dias: Canto de regresso à pátria Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar os passarinhos daqui não cantam como os de lá. Oswald de Andrade
C02 Intertextualidade
Nesse poema, o autor está regressando à sua pátria, ao Brasil, e afirma que os passarinhos daqui (note que ele não usa o termo “sabiás”) não cantam como os da outra terra em que ele estava. Ademais, o autor ainda traz a temática da escravidão ao trocar “palmeiras” por “palmares” em referência ao Quilombo dos Palmares.
745
Português
Exercícios de Fixação 01. (Unifor CE)
3.
Texto I Alguns conseguem se adaptar às novas tecnologias e ao novo ambiente econômico, mas se perdem no tocante ao sentido da vida. Sem sentido ou com um sentido de vida ainda confuso, se perdem em uma vida marcada pela corrida sem fim pelo sucesso que gera ansiedade, angústia, agressividade e outras formas de desumanização. O sucesso econômico aparece muitas vezes como sinônimo de qualidade de vida, de uma vida bem sucedida, e, com isso, a própria noção de qualidade é a noção de boa vida por uma vida de conforto excessivo. Texto II Realmente os seres vivos em geral precisam somente da conservação da autopoiese e da adaptação ao meio para se manter vivos. Mas, o Homo sapiens é uma espécie “rara”, que precisa de algo mais. Nós humanos não queremos estar somente vivos, necessitamos sentir que vale a pena viver. Necessitamos de um sentido de vida que faça as pequenas coisas que compõem o nosso dia a dia terem sentido e valor. (SUNG, Jung Mo. Educar para reencantar a vida. 2.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007)
Percebe-se, ao analisar a relação entre o texto I e o texto II: a) O texto II contradiz o texto I. b) O texto II reafirma o texto I c) O texto II traz uma crítica ao texto I. d) O texto II é um argumento para o texto I. e) O texto II explica o texto I. 02. (Unirg TO) O homem que degusta sons
C02 Intertextualidade
1. Ketchup, presunto, elástico e torta de amêndoa são apenas quatro dos vários sabores que James Wannerton degustou durante nossa entrevista. Ele concordou em conceder a palavra porque meu nome, Kate, tem gosto de chocolate e, segundo ele, suas papilas gustativas o distrairiam durante boa parte de nossa conversa. 2. Wannerton tem um tipo raro de sinestesia conhecida como sinestesia léxico-gustativa, o que significa que sua audição e seu paladar não funcionam separados um do outro. Para Wannerton, cada palavra falada tem um sabor distinto. Embora esses sons não tenham uma ligação clara com seus respectivos gostos, os sabores são sempre os mesmos; a palavra “falar”, por exemplo, tem gosto de bacon desde que Wannerton se entende por gente.
746
“Palavras e sons fazem ‘ping, ping, ping’ na minha
boca o tempo todo, como uma lâmpada piscando sem parar”, explicou. “Alguns sabores vão embora rápido, mas outros podem durar por horas e me fazem desejar aquela comida específica; fico meio distraído até satisfazer a vontade.” 4. Wannerton disse que a sinestesia lhe dá “poderes especiais” - como se guiar pelo metrô de Londres seguindo os sabores das estações. De acordo com Wannerton, a parada de Oxford Circus tem gosto de bolo. A Linha Bakerloo tem gosto de rocambole, a Linha Victoria de cera de vela. Mas claro que a bênção da sinestesia tem suas desvantagens [...] como Wannerton desassocia o gosto dos alimentos, ele raramente tem fome. “Não ligo para o gosto da comida – o que me interessa é a textura”, disse. “Gosto de comidas crocantes, como salgadinhos, e alimentos mornos. O sabor não importa.” 5. Wannerton também afirma que fica “insuportavelmente incomodado” quando uma palavra desperta um sabor que ele não consegue identificar. Wannerton passou anos encucado com o sabor da palavra “esperar”. “Eu não conseguia descobrir o que era esse gosto forte e amargo”, disse. Seu cérebro só fez a conexão quando finalmente comeu uma torrada com Marmite (um extrato de levedura que os britânicos curtem passar no pão). “Lembrei que quando eu estava no jardim-de-infância, havia uma barraquinha onde podíamos comprar torradas com Marmite - e é esse o gosto que ‘esperar’ tem para mim.” 6. Apesar dos pesares, Wannerton não gostaria de viver sem sua sinestesia. “Pode até ser bizarro pensar que o nome Jackie tem gosto de alcaçuz; Blackpool, de jujuba; e a palavra vodka, de grãos minúsculos de terra; mas a minha sinestesia é tão natural que sem ela eu perderia minha identidade”, declarou. SAMUELSON, Kate. Trad. Amanda Pieratti. 10 jul. 2015. O homem que degusta sons. Disponível.em:<http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/07/ 1653490-o-homem-quedegusta- sons.shtml>. Acesso: 11 out. 2016. [Adaptado]
As considerações de Wannerton, apresentadas no texto, permitem a seguinte inferência: a) a sinestesia léxico-gustativa é uma predisposição sensorial que impede a audição e o paladar de funcionarem separados um do outro, levando as palavras a apresentarem texturas distintas. b) a sinestesia léxico-gustativa tem a peculiaridade de saciar a fome de Wannerton durante percurso realizado em algumas das estações do metrô de Londres.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
03. (USF SP) Milhões de pessoas sadias estão sendo prejudicadas com diagnósticos psiquiátricos equivocados e tratamentos desnecessários enquanto os que têm doenças mentais verdadeiras não têm acesso às terapias de que precisam. O alerta vem do psiquiatra norte-americano Allen Frances, 73, professor emérito na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), autor do livro “Voltando ao normal” (Versal Editores), recém-traduzido para o português. Frances, que participa de palestras no Rio de Janeiro sobre a sua obra, diz que a tendência atual é de uma sociedade em que todos, em algum momento, sofrerão de algum transtorno. Sua crítica é centrada particularmente no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), de 2013, um guia tido como a “bíblia da psiquiatria”. Frances liderou a versão anterior, o DSM-4, cuja diretriz foi tentar conter a inflação de diagnósticos, que já se espalhava na psiquiatria e na medicina em geral. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/09/ 1811982-gastamos-muito-dinheiro-para-tratar-pessoasnormais- diz-psiquiatra. shtml>. Acesso em: 22/09/2016, às 16h (fins pedagógicos).
De acordo com as informações apresentadas pelo texto, o psiquiatra norte-americano Allen Frances a) é favorável ao diagnóstico precoce de patologias. b) alerta para o excesso de medicalização. c) conduziu a produção do DSM-5. d) sugere novos tratamentos para antigas doenças. e) critica a catalogação de doenças do DSM-4. Texto comum às questões 04 e 05 O futuro da medicina O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das profissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos, jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até aqui é o de médico. Até aqui. A crer no médico e geek 1 Eric Topol, autor de The Patient Will See You Now (“O paciente vai vê-lo agora”), está no forno uma revolução da qual os médicos não escaparão, mas que terá impactos positivos para os pacientes. Para Topol, o futuro está nos smartphones. O autor nos coloca a par de incríveis tecnologias, já disponíveis ou muito próximas disso, que terão grande impacto sobre a medicina. Já é possível, por exemplo, fotografar pintas suspeitas e enviar as imagens a um algoritmo que as analisa e diz com mais precisão do
que um dermatologista se a mancha é inofensiva ou se pode ser um câncer, o que exige medidas adicionais. Está para chegar ao mercado um apetrecho que transforma o celular num verdadeiro laboratório de análises clínicas, realizando mais de 50 exames a uma fração do custo atual. Também é possível, adquirindo lentes que custam centavos, transformar o smartphone num supermicroscópio que permite fazer diagnósticos ainda mais sofisticados. Tudo isso, aliado à democratização do conhecimento, diz Topol, fará com que as pessoas administrem mais sua própria saúde, recorrendo ao médico em menor número de ocasiões e de preferência por via eletrônica. Concordo com as linhas gerais do pensamento de Topol, mas, como todo entusiasta da tecnologia, ele provavelmente exagera. Acho improvável, por exemplo, que os hospitais caminhem para uma rápida extinção. Dando algum desconto para as previsões, The Patient... é uma excelente leitura para os interessados nas transformações da medicina. (Hélio Schwartsman, www.folha.uol.com.br, 17.01.2016. Adaptado.)
geek: gíria inglesa para se referir a pessoas que são muito fãs de tecnologia.
1
04. (Unifacef SP) O autor do texto a) duvida que os smartphones tenham algum impacto relevante na medicina, mostrando-se, ao contrário de Eric Topol, pessimista quanto à tecnologia. b) apresenta uma avaliação positiva do livro de Eric Topol, embora veja com reservas as previsões desse médico. c) entusiasma-se com a tecnologia e, por isso, concorda com a opinião de Eric Topol sobre o futuro da medicina. d) aprova as ideias revolucionárias de Eric Topol, especialmente no que se refere ao futuro das instituições que prestam atendimento médico. e) concorda cabalmente com Eric Topol, tendo em vista que as inovações tecnológicas serão acessíveis a um público restrito. 05. (Unifacef SP) Considere o trecho inicial do texto. O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das profissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos, jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até aqui é o de médico. Até aqui. O emprego dos termos “vítimas” e “poupado” a) ressalta o caráter poderoso e implacável do avanço da tecnologia. b) sugere que o ofício do médico é superior ao dos demais profissionais. c) permite inferir que o ofício do médico independe das transformações sociais. d) caracteriza o médico como um profissional com perfil arrojado. e) contribui para apresentar a tecnologia como produto de uma sociedade elitista. 747
C02 Intertextualidade
c) os sabores das palavras têm características semelhantes às dos fonemas, por apresentarem funções distintivas. Exemplo disso está no fato de cada palavra falada ser associada a um sabor específico. d) as relações de “Kate” = chocolate (1º §), “parada de Oxford Circus” = bolo (4º §) e de “Jackie” = alcaçuz (6º §) são semelhantes à relação “‘ping, ping, ping” = uma lâmpada piscando sem parar (3º §).
Português
Exercícios Complementares 03. (Unicamp SP)
01. (Unicamp SP)
Caligrafia (Arnaldo Antunes)
(Fernando Gonsales, Níquel Náusea. Disponível em http://www2. uol.com.br/niquel. Acessado em 15/07/2016.)
Na tira acima, o autor retoma um célebre lema retirado do Manifesto Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels: “Operários do mundo, uni-vos!”. Considerando os sentidos produzidos pela tirinha, é correto afirmar que nela se lê a) uma apologia ao Manifesto Comunista, atenuada pela onomatopeia que imita o som (“zzzzzz”) das abelhas. b) uma paródia do lema do Manifesto Comunista, baseada na semelhança fonética entre “uni-vos” e “zuni-vos”. c) uma parábola para explicar o Manifesto Comunista por meio da semelhança fonética entre “uni-vos” e “zuni-vos”. d) uma fábula que recria o lema do Manifesto Comunista, com base na linguagem onomatopaica das abelhas (“zzzzzz”). 02. (Unicamp SP)
Arte do desenho manual das letras e palavras. Território híbrido entre os códigos verbal e visual. A caligrafia está para a escrita como a voz está para a fala. A cor, o comprimento e espessura das linhas, a disposição espacial, a velocidade dos traços da escrita correspondem a timbre, ritmo, tom, cadência, melodia do discurso falado. Entonação gráfica. Assim como a voz apresenta a efetivação física do discurso (o ar nos pulmões, a vibração das cordas vocais, os movimentos da língua), a caligrafia também está intimamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior força ou delicadeza, rapidez ou lentidão, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura. (Adaptado de https://www.arnaldoantunes.com.br. Acessado em 12/07/2016.)
Em Caligrafia, o autor a) estabelece uma relação de causa e efeito entre caligrafia e voz. b) sugere uma relação de oposição entre caligrafia e voz. c) projeta uma relação de gradação entre caligrafia e voz. d) apreende uma relação de analogia entre caligrafia e voz. Texto comum às questões 04 e 05 Vidas públicas, vidas privadas Leonardo Padura, Folha de S.Paulo, 27/08/2016
(Disponível em Via @mtesperon. Acessado em 26/07/2016.)
C02 Intertextualidade
Assinale a alternativa correta. a) A pergunta lançada no último quadrinho (“Você sabe quem inventou o avião?ˮ) remete-nos a Santos Dumont, portanto confirma o que se diz no primeiro e segundo quadrinhos. b) A pergunta lançada no último quadrinho (“Você sabe quem inventou o avião?ˮ) retifica a afirmação do primeiro quadrinho (“Não há lei que o brasileiro não burle.ˮ). c) A afirmação do segundo quadrinho (“Há a lei da Gravidade.ˮ) refere-se a uma lei da física que nenhum brasileiro é capaz de burlar, como se admite no primeiro quadrinho. d) A pergunta lançada no último quadrinho (“Você sabe quem inventou o avião?ˮ) é retórica, já que não há uma resposta para ela nem no primeiro nem no segundo quadrinhos.
748
Um dos valores da sociedade moderna é – ou deveria ser – o respeito pelo âmbito privado do indivíduo. Os interesses pessoais de cada um, sua forma de entender diversos aspectos da realidade e da existência, seus gostos e fobias individuais eram vistos como pertences arcanos que o contrato social deveria proteger, desde que essas preferências pessoais não se mostrassem lesivas ao restante dos cidadãos. Em um país como Cuba, onde passei toda minha vida, os limites da vida privada muitas vezes foram permeados, por razões culturais – a tendência gregária do cubano – e até por decisões políticas que incluíram desde a votação pública com o braço erguido até a intromissão nas preferências sexuais, as crenças religiosas, as opiniões políticas pessoais do indivíduo e que, submetidas a julgamento, podiam decidir, por exemplo, o destino profissional ou estudantil de um cidadão. A chamada “verificação”, que poderia ser realizada a partir das opiniões de um vizinho, tinha o poder de expor assuntos estritamente privados de uma pessoa que eram levados a público e influíam sobre o destino dos indivíduos, quando não eram considerados “apropriados” ou “admissíveis” segundo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (Unicesumar SP) As origens e a vivência do jornalista e escritor cubano contribuem para que ele a) considere normal que as pessoas voluntária e festivamente divulguem peculiaridades de sua vida privada. b) não tenha receio, como pré-informático assumido, de que leiam seus e-mails. c) defenda decidida e declaradamente o resguardo pela privacidade dos indivíduos. d) fique a favor de que os indivíduos tenham suas vidas exibidas nas redes sociais, desde que o façam anonimamente. e) desenvolva um raciocínio deliberadamente contrário à expressão de ideias e opiniões em qualquer que seja o canal. 05. (Unicesumar SP) No quinto parágrafo, o autor declara: “a página de Facebook que aparece com meu nome na rede é apócrifa”. Isso quer dizer que a) o perfil no Facebook foi assinado com pseudônimo. b) no Facebook vale tudo para se ter mais visibilidade. c) essa página lhe foi falsamente atribuída. d) o anonimato é proibido nas redes sociais. e) postagens anônimas são incentivadas nas redes sociais. 06. (Unifor CE) Todo mundo é feliz nos anúncios de cigarro. Todo mundo é feliz nos anúncios de bebida. Todo mundo é feliz nos anúncios de carro. Todo mundo é feliz nos anúncios de tudo. A melhor garota propaganda da publicidade é a felicidade. (NUNES, Sebastião. Disponível em: < http:// luciolaredatora.blogspot.com.br/2010/05/ felicidadebate-sua-porta-sebastiao.html > Acesso em: 01/09/2016)
Sobre o poema do poeta e publicitário mineiro Sebastião Nunes NÃO é correto afirmar que a) Traz como tema a promessa de felicidade presente nos anúncios publicitários. b) Estão na construção do poema recursos poéticos tais como repetição e musicalidade. c) Tem como uma das funções a crítica aos aspectos negativos da publicidade. d) Apresenta onze versos e assinala a ausência de versos brancos. e) Há uma intenção de negar a promessa de felicidade anunciada no título do poema. 749
C02 Intertextualidade
determinados códigos, entre os quais não figurava, é claro, o Código Penal nem qualquer outro escrito e referendado. Essa experiência me tem levado a ser defensor decidido dos assuntos e espaços privados do cidadão. Apesar de meu ofício, que me obriga constantemente a me expor em público, a expressar ideias e opiniões, a ser entrevistado e criticado, tenho lutado para defender minha privacidade até onde tem sido possível. Notícias como a das escutas telefônicas realizadas por órgãos de inteligência contra políticos de outros países ou partidos ou contra simples cidadãos, o hacking de computadores, a espionagem de e-mails – que todos sabemos que podem ser revistos por outros – me parecem especialmente lesivos daquele que considero ser um direito inalienável do cidadão. Todos esses conceitos e realidades me deixam ainda mais empenhado em procurar preservar minha privacidade. Por isso, apesar de ser escritor e jornalista, nunca tive página na internet, a página de Facebook que aparece com meu nome na rede é apócrifa, e jamais mexi em uma conta no Twitter. Sou estritamente pré-informático nesses sentidos. Sou um bicho raro, um anacrônico. Assim, minha condição me faz reagir visceralmente quando fico sabendo como hoje as pessoas voluntária e festivamente divulgam coisas que alguém como eu considera privadas. Pouco tempo atrás, graças a uma amiga, pude ver a página no Facebook de um antigo colega da universidade com quem eu tinha perdido contato. Pude ver e ler, com assombro, como ele relatava cada acontecimento corrente de sua vida – encontros, visitas, experiências –, como narrava parte de sua história familiar e até revelava detalhes de sua vida sentimental e sexual! Na realidade, bi e homossexual (se a conjunção é possível). Que mecanismos podem levar um homem de 60 anos a participar dessa demolição do privado? Por que um encontro com uma pessoa determinada precisa adquirir o caráter de notícia? Sei perfeitamente que hoje as redes sociais são um espaço privilegiado para a transmissão de informação, para as relações interpessoais, para a busca por cumplicidades. Sei que muitos jovens e adolescentes cresceram e vivem dentro dessa rede de exibicionismo que os atrai como uma droga. Sei, também, como alguns utilizam esses meios para denegrir, espionar e atacar a outros, escondendo-se atrás de covardes anonimatos e pseudônimos. Já li como toda essa informação que alguns oferecem alegremente é utilizada para criar seus perfis que não são precisamente os do Facebook, mas, sim, alguns mais tenebrosos e dominantes. O que é normal, eu me pergunto: ter um perfil de Facebook ou uma conta no Twitter, ou a decisão de não tê-la? Quem é mais sociável e moderno, meu ex-companheiro de estudos ou eu? A verdade é que a estas alturas, não sei. O que creio que continuo a saber é que o direito à privacidade é um bem de grande valor, que os poderes e os indivíduos devem respeitar, a começar por eles próprios, com relação à sua própria vida. O resto, como reza o velho ditado, o resto é selva.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C03
ASSUNTOS ABORDADOS
COESÃO E COERÊNCIA I
n Coesão e coerência I
Antes de aprofundarmos sobre os conceitos de coesão e coerência, relembremos o que já estudamos sobre esse assunto no ano anterior:
n Mecanismos de coesão n Coesão lexical
n
n Fatores de coerência n
Coesão: é o que resulta da disposição de palavras que promovem a conexão entre frases, períodos e parágrafos de um texto. Ela colabora com sua organização e ocorre por meio de conectivos. Coerência: é a relação lógica das ideias de um texto, responsável pela continuidade dos sentidos dele, como resultado de uma complexa rede de fatores de ordem linguística, cognitiva e interacional.
Abaixo, há dois textos, o primeiro ausente de coesão, o segundo ausente de coerência. Veja: 1) Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada. 2) O dia está ensolarado, pois ontem encontrei seu irmão no cinema. Decidimos ir porque fazia muito frio e eu não gosto de ir ao cinema. Lá passam ótimos filmes. A partir dos dois exemplos acima, podemos concluir quais dos mecanismos linguísticos, a coesão ou a coerência, são essenciais para a produção de um texto inteligível. Note que o segundo texto, apesar de conter elementos coesivos como: “pois, porque, lá”, não possui sentido algum, e não é capaz de transmitir ao leitor uma mensagem completa. Ao contrário, o primeiro texto, embora não tenha elementos coesivos que liguem as frases, possui sentido. O leitor é capaz de interpretar a imagem e o sentimento descrito pelo narrador. A coesão não é essencial para produção de um texto inteligível, no entanto o uso de elementos coesivos dá ao texto maior legibilidade, explicitando os tipos de relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que os compõem. Assim, em muitos tipos de textos – científicos, didáticos, expositivos, opinativos, por exemplo – a coesão é altamente desejável, como mecanismo de manifestação superficial da coerência.
750
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Mecanismos de coesão A coesão de um texto pode ser feita por meio de palavras conectoras (conjunções e preposições que conectam termos dentro da oração e entre orações) ou por meio de palavras referenciais (pronomes e advérbios que substituem termos dentro de uma sentença). São elementos de referência os itens da língua que não podem ser interpretados semanticamente por si mesmos, mas remetem a outros itens do discurso necessários à sua interpretação. A referência, portanto, pode ser: n n
Exofórica: quando a referência é feita a algum elemento da situação comunicativa, ou seja, quando o referente está fora do texto. Endofórica: quando a referência é feita a algum elemento do próprio texto, ou seja, quando o referente está dentro do texto.
Quando se trata de referência endofórica, esta divide-se em duas: n n
Anáfora: quando o item coesivo vem depois da forma referencial; Catáfora: quando o item coesivo vem antes da forma referencial.
Em se tratando de referência, ela pode ser dos seguintes tipos: n n
Pessoal: feita por pronomes pessoais ou possessivos; Demonstrativa: feita por pronomes demonstrativos e advérbios de lugar;
Leia a seguir os exemplos:
n n
Arthur e Rosângela são excelentes médicos. Eles se formaram na Universidade Federal de Goiás. (referência pessoal anafórica) João Paulo realizou todos os seus sonhos, menos este: formar-se médico. (referência demonstrativa catafórica) Meus pais viajaram para Portugal, mês passado. Lá é um país muito encantador. (referência demonstrativa anafórica)
C03 Coesão e coerência I
n
751
Português
Nos exemplos anteriores, pudemos perceber como os elementos coesivos substituíram termos dentro da oração, como: “Eles”, no primeiro exemplo, corresponde a “Arthur e Rosângela”. No entanto, os elementos coesivos também podem substituir até uma oração inteira. Veja abaixo os exemplos: n n
Amanda comprou livros novos e Pedro Ivo também. A professora pensa que o material não está bom o suficiente, mas eu não penso assim.
Perceba que os elementos coesivos “também” e “assim” equivalem a estas orações, respectivamente: “comprou livros novos” e “o material não está bom o suficiente”. O recurso coesivo foi utilizado para se evitar uma repetição desnecessária.
Coesão lexical A coesão lexical é feita quando – sem lançar mão de palavras que possam substituir termos dentro da oração, como pronomes e advérbios – utilizam-se sinônimos, hiperônimos ou nomes genéricos. Veja: n n n
SAIBA MAIS CONHECIMENTO DE MUNDO
C03 Coesão e coerência I
Trata-se de conhecimentos gerais que qualquer leitor tem acerca da realidade sociocultural na qual está imerso.
752
Uma menininha assustada correu ao meu encontro. A garotinha estava morrendo de medo. O carro capotou no meio da pista. O automóvel estava com o motor desajustado. Todos ouviram um barulho estranho de um avião. Olharam para o alto e viram a coisa se aproximando.
Fatores de coerência São diversos os fatores que colaboram para a coerência de um texto, como conhecimento de mundo e a informatividade do leitor. Para se produzir um texto coerente, é necessário seguir os seguintes princípios: 1) Princípio da não contradição: não apresentar ideias contraditórias; 2) Princípio da tautologia: não apresentar ideias redundantes; 3) Princípio da relevância: apresentar ideia relevantes que se relacionem.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Vejamos, então, como o conhecimento de mundo é fundamental para se detectar a coerência ou a falta dela em um texto: n
Peru, panetone, frutas e nozes: tudo pronto para a Páscoa!
Nada contra quem queira comer panetone na Páscoa, mas por uma questão cultural esse texto é totalmente incoerente porque, como diz a tradição cultural brasileira, não se come panetone nem peru na Páscoa. n
Meu amigo é vegetariano, ele ama um bife mal passado!
Uma pessoa vegetariana é justamente aquela que deixou de comer alimentos de origem animal, logo seria incoerente dizer uma frase dessas.
Exercícios de Fixação
A CIDADE 1 Destinava-se a uma cidade maior, mas o trem permaneceu indefinidamente na antepenúltima 2 estação. 3 Cariba acreditou que a demora poderia ser atribuída a algum comboio1 de carga descarrilado na 4 linha, acidente comum naquele trecho da ferrovia. Como se fizesse excessivo o atraso e ninguém 5 o procurasse para lhe explicar o que estava ocorrendo, pensou numa provável desconsideração 6 à sua pessoa, em virtude de ser o único passageiro do trem. 7 Chamou o funcionário que examinara as passagens e quis saber se constituía motivo para tanta 8 negligência o fato de ir vazia a composição. 9 Não recebeu uma resposta direta do empregado da estrada, que se limitou a apontar o morro, 10 onde se dispunham, sem simetria, dezenas de casinhas brancas. 11 – Belas mulheres? – indagou o viajante. 12 – Casas vazias. 13 Percebeu logo que tinha pela frente um cretino. Apanhou as malas e se dispôs a subir as íngremes 14 ladeiras que o conduziriam ao povoado. (...) 15 Durante todo o percurso, desde as vias secundárias à avenida principal, os moradores do lugar 16 observaram Cariba com desconfiança. Talvez estranhassem as valises2 de couro de camelo que 17 carregava ou o seu paletó xadrez, as calças de veludo azul. Mesmo sendo o seu traje usual nas 18 constantes viagens que fazia, achou prudente desfazer qualquer mal-entendido provocado pela 19 sua presença entre eles: 20 – Que cidade é esta? – perguntou, esforçando-se para dar às palavras o máximo de cordialidade. 21 Nem chegou a indagar pelas mulheres, conforme pretendia. Pegaram-no com violência pelos 22 braços e o foram levando, aos trancos, para a delegacia de polícia: 23 – É o homem procurado – disseram ao delegado, um sargento espadaúdo3 e rude.
(...) 24 O sargento chegara a uma conclusão, entretanto divagava: 25 – O telegrama da Chefia de Polícia não esclarece nada sobre a nacionalidade do delinquente, sua 26 aparência, idade e quais os crimes que cometeu. Diz tratar-se de elemento altamente perigoso, 27 identificável pelo mau hábito de fazer perguntas e que estaria hoje neste lugar. (...) 28 Cinco meses após a sua detenção, ele não mais espera sair da cadeia. Das suas grades, observa 29 os homens que passam na rua. Mal o encaram, amedrontados, apressam o passo. 30 Pressente, às vezes, que irão perguntar qualquer coisa aos companheiros e fica à espreita, 31 ansioso que isso aconteça. Logo se desengana. Abrem a boca, arrependem-se, e se afastam 32 rapidamente. 33 Caminha, dentro da noite, de um lado para outro. E, ao avistar o guarda, cumprindo sua ronda 34 noturna, a examinar se as celas estão em ordem, corre para as grades internas, impelido por 35 uma débil esperança: 36 – Alguém fez hoje alguma pergunta? 37 – Não. Ainda é você a única pessoa que faz perguntas nesta cidade. MURILO RUBIÃO Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
comboio − trem valise − mala de mão 3 espadaúdo − de ombros largos 1 2
Leia os trechos abaixo, que apresentam, respectivamente, um fragmento do texto e sua reescritura: 1) Apanhou as malas e se dispôs a subir as íngremes ladeiras que o conduziriam ao povoado. (Refs. 13-14) 2) Apanhou as malas e se dispôs a subir as íngremes ladeiras que o conduziam ao povoado.
753
C03 Coesão e coerência I
01. (Uerj RJ)
Português Questão 01. Em (1), as ladeiras poderiam conduzi-lo, ou não, ao povoado. Em (2), as ladeiras o conduziam ao povoado necessariamente. Na construção que o conduziriam ao povoado, o emprego do futuro do pretérito exprime a incerteza explorada na narrativa quanto à chegada de Cariba ao povoado.
Explique a diferença de sentido entre as duas construções. Justifique, ainda, a opção do autor pela primeira formulação, tendo em vista o desenrolar da narrativa. 02. (Uerj RJ)
QUINO updateordie.com
O uso de palavras que se referem a termos já enunciados, sem que seja necessário repeti-los, faz parte dos processos de coesão da linguagem. Na pergunta feita no segundo quadrinho, uma palavra empregada com esse objetivo é a) nós b) aqui c) nossa d) porque 03. (Cefet PR) O MITO DO TEMPO REAL O descompasso entre a velocidade das máquinas e a capacidade de compreensão de seus usuários leva a um quadro de ansiedade social sem precedentes. Em blogs, redes sociais, podcasts e mensagens eletrônicas diversas todos pedem desculpas pela demora em responder às demandas de seus interlocutores, impacientes como nunca. E-mails que não sejam atendidos em algumas horas acabam encaminhados para outras redes, em um apelo público por uma resposta. No desespero por contato instantâneo, telefones chamam repetidamente em horas impróprias, mensagens de texto são trocadas madrugada adentro, conversas multiplicam- se por comunicadores instantâneos e toda ocasião – do trânsito ao banheiro, do elevador à cama, da hora do almoço ao fim de semana – parece uma lacuna propícia para se resolver uma pendência. [...] A resposta imediata a uma requisição é chamada tecnicamente de “tempo real”, mesmo que não haja nada verdadeiramente real nem humano nessa velocidade. O tempo imediato, sem pausas nem espera, em que tudo acontece num estalar de dedos é uma ficção. Desejá-lo não aumenta a eficiência. Pelo contrário, pode ser extremamente prejudicial. Muitos combatem a superficialidade nas relações digitais pelos motivos errados, questionando a validade dos “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter ao compará-los com seus equivalentes analógicos. O problema não está na tecnologia, mas na intensidade dispensada em cada interação. Seja qual
nº 03, 2-34).
C03 Coesão e coerência I
omic 0 Suduziu nos Cater a ência
754
for o meio em que ele se dê, o contato entre indivíduos demanda tempo, e nesse tempo não é só a informação pura e simples que se troca. Festas, conversas, leituras, relacionamentos, músicas e filmes de qualidade não podem ser acelerados ou resumidos a sinopses. Conversas, ao vivo ou mediadas por qualquer tecnologia, perdem boa parte de sua intensidade com a segmentação. O tempo empenhado em cada uma delas é muito valioso; não faz sentido economizá-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo. O tempo humano (que talvez seja irreal, se o “outro” for provado real) é bem mais lento. Nossas vidas são marcadas tanto pela velocidade quanto pela lentidão. [...] Essa quebra da sequência histórica faz com que muitos processos pareçam herméticos ou misteriosos demais. Quando não há uma compreensão das etapas componentes de um processo, não há como intervir nelas, propondo correções, adaptações ou melhorias. Tal impotência leva a uma apatia, em que as condições impostas são aceitas por falta de alternativa. Escondidos seus processos industriais, os produtos adquirem uma aura quase divina, transformando seus usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam em lojas à procura do último aparelho eletrônico que se proponha a preencher o vazio que sentem. Incapazes de propor alternativas ou sugerir mudanças, os consumidores são estimulados pela publicidade a um gigantesco hedonismo e pragmatismo. A facilidade de acesso à abundância leva a uma passividade e a um pensamento pragmático que defende a ideia de “vamos aproveitar agora, pois quando acontecer um problema alguém terá descoberto a solução”, visível na forma com que se abordam problemas de saúde, obesidade, consumo, lixo eletrônico, esgotamento de recursos e poluição ambiental. Em alta velocidade há pouco espaço para a reflexão. Reduzidos a impulsos e reflexos, corremos o risco de deixar para trás tudo aquilo que nos diferencia das outras espécies. (Luli Radfahrer. Disponível em: http:// www1.folha.uol.com.br/colunas/ luliradfahrer/ 1191007-o-mito-do-tempo-real.shtml.)
Considerando os aspectos de coesão do texto, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas: ( ) No terceiro parágrafo, o pronome –lo é empregado para retomar tempo imediato e evitar a repetição do termo. ( ) No quinto parágrafo, o substantivo tal é empregado para retomar a dificuldade apresentada anteriormente. ( ) No quinto parágrafo, o pronome relativo que retoma seu antecedente - consumidores vorazes. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a) F – V – F. b) F – F – V. c) F – V – V. d) V – V – V. e) V – F – V.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 01. O excerto em destaque expressa uma condenação às inúmeras fotografias que se popularizam na forma de selfies. Assim, a pontuação adequada a essa postura crítica seria: “Todas as outras? Que ideia!”
Questão 02. O trecho reescrito ficaria em 1) “é menor pecado elogiar um mau livro sem que o tenha lido”, e em 2) “é menor pecado elogiar um mau livro mesmo não o tendo lido”. Trata-se, portanto, de uma questão sobre sintaxe de colocação e emprego de verbos em tempos compostos. Em 1, a próclise ocorre em função da locução subordinativa “sem que”, e em 2, a próclise ocorre devido ao advérbio de negação “não”.
Exercícios Complementares
A praga dos selfies De uma coisa tenho certeza. A foto pelo celular vale apenas pelo momento. Não será feito um álbum de fotografias, como no passado, onde víamos as imagens, lembrávamos da família, de férias, de alegrias. As imagens ficarão esquecidas em um imenso arquivo. Talvez uma ou outra, mais especial, seja revivida. Todas as outras, que ideia. Só valem pelo prazer de fazer o selfie. Mostrar a alguns amigos. Mas o significado original da foto de família ou com amigos, que seria preservar o momento, está perdido. Vale pelo instante, como até grandes amores são hoje em dia. É o sorriso, o clique, e obrigado. A conquista: uma foto com alguém conhecido. W. Carrasco, “A praga dos selfies”. Época, 26.09.2016.
Reescreva a frase “Todas as outras, que ideia.”, substituindo os dois sinais de pontuação nela empregados por outros, de tal maneira que fique mais evidente a entonação que ela tem no contexto. 02. (Fuvest SP) Examine a seguinte citação: É menor pecado elogiar um mau livro, sem lê-lo, do que depois de o haver lido. Por isso, agradeço imediatamente depois de receber o volume. Carlos Drummond de Andrade, Passeios na ilha.
Levando em conta o contexto, reescreva duas vezes o trecho “sem lê-lo”, substituindo “sem” por “sem que”, na primeira vez, e por “mesmo não”, na segunda. 03. (IF SC)
http://tirasdemafalda.tumblr.com/image/47567991197 Acesso em 07/09/2016
Considerando o texto, assinale (V) para o que for verdadeiro e (F) para o que for falso. ( ) A fala da personagem no segundo quadrinho pode ser reescrita da seguinte maneira: “É isso mesmo. Ficarei aqui sentado enquanto espero a vida me dar algo”, sem que seu sentido seja modificado. ( ) Em “Será que o mundo está assim porque está cheio de Miguelitos?”, a palavra em destaque foi empregada em sentido figurado. ( ) Em “Não estou entendendo, Miguelito.” O termo em destaque é o sujeito. ( ) No terceiro quadrinho, em “Será que o mundo está assim porque está cheio de Miguelitos?”, há um erro de grafia na palavra em destaque, pois ela está sendo utilizada em uma frase interrogativa e deveria ser grafada como “por que”. Marque a alternativa que contém a sequência CORRETA das respostas, de cima para baixo. a) V, V, F, F b) V, F, V ,F c) V, F, F, V d) F, V , F, V e) F, V, V, V Texto comum às questões 04 e 05 Privacidade na internet: chega de andarmos todos nus (Marina Cardoso) 1 A Prefeitura de São Paulo implementou o bilhete 2 único mensal. Para usá-lo, o cidadão deve fazer um 3 cadastro com seus dados pessoais e foto no site da 4 empresa de transporte e então receber um cartão pessoal 5 e intransferível. Ao mesmo tempo, e silenciosamente, 6 são instaladas câmeras nas catracas dos ônibus da 7 cidade, de forma a garantir a identificação e controle dos 8 passageiros. À primeira vista, este é um projeto de 9 transporte público, mas suas implicações adentram outro 10 campo: o do direito à privacidade. 11 Por ser um cartão pessoal, usado em trens, metrô e 12 ônibus, o bilhete único pode mapear os hábitos dos 13 cidadãos – o que pode ser um excelente instrumento 14 para o planejamento do transporte público, desde que 15 estruturados os sistemas adequados. Mas, ao mesmo 16 tempo, pode se tornar o instrumento perfeito para a 17 vigilância massiva. Com ele, é possível, por exemplo, 18 desenhar quem encontra quem na cidade, onde e em 19 quais horas do dia. E, no entanto, apesar desse potencial 20 todo, após o cadastro para utilização do bilhete único 21 mensal, não há no site da SPTrans qualquer menção à 22 política de privacidade ou explicação e pedido de 23 concordância do cidadão para uso de seus dados.
755
C03 Coesão e coerência I
01. (Fuvest SP)
Português
Não cabe aqui o debate sobre modelo de 25 transporte. Mas este é um excelente exemplo de como, e 26 rapidamente, as informações sobre os(as) cidadãos/ãs e 27 consumidores/as estarão estruturadas, em bancos de 28 dados, de forma a permitir seu cruzamento por sistemas 29 chamados de “big data” ou “business inteligence” (BI) 30 com finalidades das mais diversas, sem que estejamos no 31 controle desse processo. 32 No entanto, precisamos ter em conta que as 33 tecnologias não são necessariamente boas ou ruins 34 quanto aos seus fins. O seu uso será definido pelos 35 interesses predominantes na sociedade. Foi isso que 36 aconteceu com qualquer tecnologia já desenvolvida pelo 37 ser humano – seja o avião, que serve para transporte ou 38 bombardeio, ou a explosão atômica, que gera energia ou 39 destrói cidades. 40 Assim, neste momento, grandes companhias de 41 tecnologia da informação (TI) contratam e pagam, muito 42 bem, “evangelizadores” do “big data” para apregoar os 43 benefícios de implantação dessa tecnologia. Cabe 44 apontar que há, de fato, grande potencial para o uso de 45 informações estruturadas para o bem, seja para 46 identificar padrões de adoecimento, seja para o 47 planejamento de políticas de transporte ou para a oferta 48 de melhores serviços. 49 Por outro lado, entidades da sociedade civil 50 começam a questionar se tal capacidade técnica servirá 51 para reforçar a segregação e exclusão econômica e 52 social nas quais é calcada nossa sociedade. Perderão os 53 pobres e as minorias oprimidas? 54 Considerando a tendência de dados de saúde 55 digitalizados e em rede (há diversos projetos públicos e 56 privados nesse sentido), o que acontece se um 57 empregador consegue ter acesso à ficha médica dos 58 candidatos? Aqueles que têm doença crônica serão 59 tratados de forma igual em um processo de seleção? 60 Malkia Cyrill, do Center for Media Justice, 61 importante figura no debate de comunicação e parte do 62 movimento negro dos Estados Unidos – 63 tradicionalmente alvo de vigilância e controle por parte 64 das forças de Estado –, é categórica ao afirmar: 65 “qualquer sistema deve ser avaliado não pela intenção 66 do proponente, mas pelos resultados reais que 67 proporciona”. Assim, não importa que a vigilância 68 massiva, via acesso a dados pessoais, seja perpetrada em 69 nome da segurança nacional. O fato é que ela viola o 70 direito à privacidade de toda uma comunidade, e os 71 resultados do ponto de vista da segurança são pífios. 72 Todas essas problematizações devem ser feitas 73 neste momento pelos brasileiros. Aqui, no país do 74 homem cordial, como definiu Sergio Buarque de 75 Hollanda, nunca se aprovou uma lei de proteção de 76 dados pessoais. Estamos vulneráveis tal como deve se 77 sentir uma pessoa nua, a caminhar pelas ruas de uma 78 grande cidade. 79 Ainda não temos proteção suficiente, por exemplo, 80 se uma empresa ou a Receita Federal compartilhar 81 nossos dados ou se o governo deixar vazar o perfil 82 socioeconômico dos beneficiários do Bolsa Família. Os 83 dados, de alguma forma bizarra,
C03 Coesão e coerência I
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poderão parar em CDs, 84 vendidos em cantos escondidos da Santa Efigênia, em 85 São Paulo. 86 O aumento da digitalização dos negócios a partir 87 de dados pessoais e das nuvens web, combinado com a 88 ausência de proteção, formam o cenário do terror. Sem 89 qualquer regulação, as chances de uso tenebroso das 90 novas tecnologias aumentam vertiginosamente. A 91 balança pesa para o lado errado. 92 (...) (Texto adaptado do original e disponível em http://www.cartacapital.com.br/blogs/ intervozes/privacidade-na-internet-chegadeandarmos-todos-nus-5930.html. Publicado em 25.02.2015. Acesso em 6 de setembro de 2016)
04. (UEM PR) Assinale o que for correto quanto ao emprego dos elementos linguísticos no texto. 01. O pronome “Aqueles” (Ref. 58) remete a um grupo social específico que pode sofrer segregação, no caso de haver um vazamento de dados pessoais na internet. 02. Em “... via acesso a dados pessoais” (Ref. 68), a expressão em negrito completa o sentido da forma verbal “via”, funcionando, sintaticamente, como seu objeto indireto. 04. No trecho “os resultados do ponto de vista da segurança são pífios” (Refs. 70 e 71), a expressão em negrito denota efeitos positivos, funcionando como complemento nominal de “resultados” (Ref. 71). 08. A expressão “categórica” (Ref. 64) caracteriza a maneira de Malkia Cyrill fazer uma afirmação a respeito do tema em questão, podendo ser substituída, sem prejuízo de sentido, por “contundente”. 16. Em “... devem ser feitas neste momento pelos brasileiros” (Refs. 72 e 73), a expressão em negrito estabelece relação semântica de causa. 05. (UEM PR) Assinale o que for correto quanto ao emprego dos elementos linguísticos no texto. 01. No trecho “... o do direito à privacidade” (Ref. 10), a autora omite a palavra “projeto” (linha 8), compreendida pelo leitor com o uso da preposição “do”. 02 Na referência 79, o advérbio “Ainda” indica um valor temporal equivalente a “até o presente momento”, cujo valor semântico é reforçado pela forma verbal no presente do indicativo “temos” (Ref. 79). 04. Para realizar a manutenção e a progressão temáticas do texto, entre outros mecanismos de coesão utilizados, o referente “o bilhete único mensal” (Refs. 1 e 2) é retomado em “cartão pessoal” (Ref. 11), “o bilhete único” (Ref. 12) e em “ele” (Ref. 17). 08. Em “Todas essas problematizações” (Ref. 72), a autora, ao fazer uso da expressão em negrito, remete o leitor às discussões apresentadas anteriormente ao longo do texto sobre os perigos de não se ter uma política de privacidade na internet. 16. Na pergunta “Perderão os pobres e as minorias oprimidas?” (Refs. 52 e 53), a inversão da ordem de posicionamento do sujeito em relação ao predicado produz uma quebra sintática que reforça o valor semântico do verbo “perder”.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C04
COESÃO E COERÊNCIA II
ASSUNTOS ABORDADOS
Relembrados os principais tópicos relacionados ao estudo da coesão e seus mecanismos e da coerência e seus fatores, agora daremos continuidade ao estudo aprofundado da coesão textual, analisando os dois seguintes tipos: coesão referencial e coesão sequencial. Segundo a professora Ingedore Villaça Koch, esses tipos de coesão podem ser definidos como:
n Coesão e coerência II n Coesão referencial n Coesão sequencial n Coesão referencial e sequencial nos textos
Coesão referencial: é aquela em que um componente linguístico da superfície do texto faz remissão a outros elementos do universo textual. Coesão sequencial: é aquela em que um procedimento linguístico da superfície do texto provoca a progressão das ideias, das relações semânticas e/ou pragmáticas do texto.
n n
Ingedore Villaça Koch, nascida na Alemanha, e naturalizada brasileira, é atualmente professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Formada em Direito e Letras pela USP, Koch é reconhecida na área de estudos relacionados à Língua e Literatura Portuguesas, Língua e Literatura Inglesas, com enfoque na Linguística Textual.
Fonte: Wikimedia commons
SAIBA MAIS
Coesão referencial A coesão referencial é o nome dado para um recurso coesivo da língua que permite ao leitor associar termos no texto, como pronomes e advérbios de lugar, aos seus respectivos referentes. Leia as frases a seguir em que os elementos coesivos referenciais foram destacados: O cachorro latiu. Ele fica irritado quando há pessoas na rua, mas é um animal bastante amável. Ana Carolina berrou durante a tarde toda. Ela fica apavorada quando fica sozinha, apesar de ser uma menina calma e inteligente. Amanhã viajarei para Pirenópolis. Lá é uma cidadezinha muito encantadora, onde tem cachoeiras maravilhosas!
n n n
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ATENÇÃO!
Lembre-se dos conceitos de anáfora e catáfora: n Referente anafórico: aquele em que o recurso coesivo vem depois da forma referencial.
Passar as férias na praia, isso é que é vida! n Referente catafórico: aquele em que o recurso coesivo vem antes da forma referencial.
Aproveitar a vida é isto: passar as férias na praia.
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Português
Leia atentamente o parágrafo abaixo no qual se destacaram os elementos coesivos referenciais. Dona de uma luminosidade fantástica em seus 240 quilômetros quadrados, a ilha de Itaparica elegeu a liberdade como padrão e fez da aventura uma experiência que não tem hora para começar. Ali tudo flui espontaneamente, desde que o sol nasce, anunciando mais um dia, até a noite chegar, com o luar refletindo no mar e as luzes de Salvador como pano de fundo. De resto, a ilha funciona como um quebra-mar que protege todo o interior da Baía de Todos os Santos. É a maior de todas as 54 da região – a ilha-mãe, para melhor definir a geografia local. (In: KOCH, Ingedore Villaça. Coesão Textual. Editora Contexto. 1994. 7ª edição. São Paulo.)
Note que, nesse parágrafo, há uma forma referencial: “ilha de Itaparica”, que de forma recorrente é referida ao longo do texto por outras formas nominais. São estas: n n
Dona de uma luminosidade fantástica: elemento coesivo referencial catafórico, uma vez que ele vem antes da forma referencial. Ali / a ilha / todas as 54: elementos coesivos referenciais anafóricos, uma vez que eles vêm depois da forma referencial.
Pronomes demonstrativos Os pronomes demonstrativos funcionam como recurso coesivo referencial fundamental no processo de produção de um texto. Nesse sentido, é muito importante que você saiba usá-los adequadamente. No texto, os pronomes demonstrativos podem ser um recurso anafórico (referir-se a algo que já foi mencionado) ou catafórico (referir-se a algo que será mencionado). Veja: n
Função catafórica: este(a)(s) e isto O presidente, em seu pronunciamento, disse isto: “Eu não renunciarei.”
n
Função anafórica: esse(a)(s) e isso “Eu não renunciarei”, o presidente disse, mas ninguém deu a mínima para isso.
Uma referência anafórica dentro de um texto, de modo geral, é feita pelo pronome “esse” e derivados. No entanto, para desfazer ambiguidades ou especificar essa referência a algo já mencionado, pode-se usar os pronomes “este” e “aquele” e derivados. Observe o seu uso: n n
Meus livros preferidos são: A hora da estrela e Dom Casmurro. Este foi escrito por Machado de Assis, aquele foi escrito por Clarice Lispector. Eu detesto comer salada, principalmente, rúcula e tomate. Este é vermelho e pegajoso, aquela é seca e amarga.
C04 Coesão e coerência II
Note que o pronome “este” refere-se ao termo mais próximo, nos exemplos acima: “Dom Casmurro” e “tomate”. Já o pronome “aquele” refere-se ao termo mais distante, nos exemplos acima: “A hora da estrela” e “rúcula”.
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Coesão sequencial A coesão sequencial é o nome dado a um recurso coesivo da língua, responsável por criar as condições para a progressão textual. De maneira geral, as flexões de tempo e de modo dos verbos, os advérbios de modo e as conjunções são os mecanismos responsáveis pela coesão sequencial nos textos. Isso significa que esses mecanismos são utilizados para garantir a articulação entre as partes do texto e para estabelecer relações entre as informações.
Fonte: Wikimedia commons
Leia a tirinha de Mafalda abaixo:
No primeiro quadrinho, Mafalda faz o uso de um conectivo para explicar por que não pode comer a sopa que sua mãe preparou. A conjunção utilizada é “porque”, cujo valor dentro do enunciado é uma explicação, a qual dá sentido e progressão temática na tirinha. O estudo da coesão sequencial requer uma atenção cuidadosa com o valor das conjunções da língua portuguesa e o significado das desinências modo-temporais nos verbos.
Valor
Conjunções
Exemplo
Adição
Além disso; também; e; de modo geral; por iguais razões; inclusive; até; é certo que; é inegável que; além desse fator...
Eu amo escrever poesias, inclusive, estou trabalhando em um projeto de divulgação de novos poetas.
Oposição
Embora; não obstante; entretanto; mas; no entanto; porém; ao contrário; diferentemente; por outro lado; contudo; todavia...
Maria Antônia não gosta de camarão, ao contrário, ela é alérgica a frutos do mar.
Afirmação
Felizmente; infelizmente; obviamente; na verdade; realmente; de igual forma; do mesmo modo que; semelhantemente...
Por mais diferentes que sejam estas duas espécies, os pinguins, do mesmo modo que os avestruzes, são aves.
Exclusão
Somente; só; sequer; senão; exceto; excluindo; tão somente; apenas...
Minha irmã não quer ir para a escola, ela só quer ficar deitada o dia inteiro.
Explicação
Como se nota; com efeito; como vimos; pois; é evidente que; isto é; ou seja; a saber; de fato; aliás; visto que; já que; porque...
Em relação às férias, evidente que os professores passarão listas de exercícios para entregar no retorno às aulas.
Conclusão
Em suma; por conseguinte; por fim; concluindo; finalmente; por tudo isso; em síntese, posto isso; assim; consequentemente...
O Brasil é um país agroexportador, com industrialização tardia, em suma, um país de terceiro mundo.
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C04 Coesão e coerência II
Leia abaixo o quadro, que contém alguns dos recursos coesivos sequenciais:
Português
Coesão referencial e sequencial nos textos Leia a seguir o conto de Machado de Assis “A cartomante”. A cartomante Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras. — Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa...” Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade... — Errou! Interrompeu Camilo, rindo. — Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria... Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois... — Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa. — Onde é a casa? — Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca. Camilo riu outra vez: — Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe. Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita. Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
C04 Coesão e coerência II
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante. Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arran760
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— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor. Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição. Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas. Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato. Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo. Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível. — Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a... Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles,
C04 Coesão e coerência II
jou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
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Português
tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas. No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: “Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora.” Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera. — Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel. Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir à casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto. Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. “Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora.” Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
C04 Coesão e coerência II
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim... Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as 762
outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino. Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça: — Anda! agora! empurra! vá! vá! Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: “Vem já, já...” E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: “Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia...” Que perdia ele, se...? Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio. A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe: — Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto... Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo. — E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não... — A mim e a ela, explicou vivamente ele.
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— As cartas dizem-me... Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta. — A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante. Esta levantou-se, rindo. — Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato... E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço. — Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar? — Pergunte ao seu coração, respondeu ela. Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis. — Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranquilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu... A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo. Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo. — Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro. E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de apro-
veitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz. A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável. Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela. — Desculpa, não pude vir mais cedo; que há? Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão. Coesão referencial Lido o conto, atente-se para os recursos coesivos referenciais destacados deste parágrafo: “Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.” 763
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A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
Português
Coesão sequencial Lido o conto, atente-se para os recursos coesivos sequenciais destacados deste parágrafo: “Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.” Exercícios de Fixação 01. (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública BA) A análise
eixaédio airro smo dico putaestismo proéca-
da relação entre os elementos verbais e não verbais dessa campanha institucional permite afirmar que
O que temos de mais humano são as emoções, os valores, os sentimentos. A evolução tecnológica e os diagnósticos mais precisos são ferramentas importantes para os médicos, mas o fundamental é algo imaterial, capaz de fazer tudo ficar melhor. O médico é, antes de tudo, um especialista em pessoas, por isso a compreensão, o toque e o olhar entre ele e o paciente são essenciais para uma relação mais humanitária e uma medicina mais eficiente Disponível em: <http://www.cremesp.org.br>. Acesso em: fev. 2017. Adaptado.
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a) o pronome indefinido “Nada”, em “Nada substitui o olhar”, faz referência ao contato físico explicitado no raio-X, insinuando que nem mesmo as gentilezas devem suplantar a importância dos diagnósticos no processo de cura do enfermo. b) os instrumentos de trabalho do profissional de saúde, somados à frase “Nada substitui o olhar, o toque, a conversa.”, possibilitam inferir que, embora o cuidado com o paciente seja importante, a prioridade de uma consulta médica ainda precisa ser atribuída aos fundamentos tecnológicos.
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c) a imagem da radiografia, revelando o contato da mão do médico com a do paciente, reforçada pela ideia de inclusão expressa por “também”, sugere que a atenção para com as pessoas, somada ao apoio dado pelas técnicas diagnósticas, é inigualável para a recuperação de uma moléstia. d) o adjetivo “humano”, em “calor humano”, ratifica-se, no contexto em que está inserido, na representação radiográfica, comprovando que o zelo e a humanização da medicina prescindem da evolução tecnológica e do suporte que ela dá ao fazer médico. e) a forma verbal “cura”, em “O calor humano também cura.”, transmite a satisfação causada por um efeito buscado, o que se reitera através do sorriso explícito das personagens presentes na foto, evidenciando uma crítica a profissionais que só valorizam a tecnologia. 02. (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública BA) A análise dos aspectos coesivos que dão progressão e sentido às ideias desenvolvidas no texto está correta em a) O elemento de coesão textual “O”, em “O que temos de mais humano”, é um pronome que faz uma referência anafórica, especificando os substantivos “valores” e “sentimentos”. b) O vocábulo “mais”, no texto da campanha, em todas as ocorrências, é um advérbio que intensifica a ideia expressa por termos qualificadores. c) A preposição “para”, em “para os médicos”, denota uma finalidade em relação à prática de humanização da medicina. d) A conjunção “mas”, em “mas o fundamental é algo imaterial”, adiciona nova informação às enunciadas anteriormente. e) A expressão “por isso” apresenta a consequência resultante de uma afirmação apresentada na oração anterior.
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03. (FCM PB)
As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar certo queixume sem razões muito claras. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: “Eu espero acontecimentos, só que, quando anoitece, é festa no outro apartamento.” Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho. As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
apartamento. (MEDEIROS, Martha. A grama do vizinho. Disponível em http://www.asomadetodosafetos.com/2016/03/grama-do-vizinho-martha-medeiros.html.)
Considere o fragmento: “Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.” Considerando as relações de sentido estabelecidas pelos elementos em destaque, assinale com V as alternativas verdadeiras e com F, as falsas. ( ) O pronome “esta” faz referência ao anunciado posteriormente. ( ) O “como” introduz uma justificativa. ( ) O “para” introduz uma ideia de finalidade. ( ) O “e” estabelece uma sequenciação de ideias. ( ) O “que” retoma a expressão “uma hora”. A sequência correta é a) V F F V V b) V V V F F c) F F F V V d) F V FV F e) F F F V V 04. (IF PE) TRABALHO ESCRAVO É AINDA UMA REALIDADE NO BRASIL Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador e o mantém submisso a uma situação de exploração. (1) O trabalho escravo ainda é uma violação de direitos humanos que persiste no Brasil. A sua existência foi assumida pelo governo federal perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que fez com que se tornasse uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contemporânea em seu território. Daquele ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão em atividades econômicas nas zonas rural e urbana. (2) Mas o que é trabalho escravo contemporâneo? O trabalho escravo não é somente uma violação trabalhista, tampouco se trata daquela escravidão dos períodos colonial e imperial do Brasil. Essa violação de direitos humanos não prende mais o indivíduo a correntes, mas compreende outros mecanismos, que acometem a dignidade e a liberdade do trabalhador e o mantêm submisso a uma situação extrema de exploração. 765
C04 Coesão e coerência II
A GRAMA DO VIZINHO
Português
(3) Qualquer um dos quatro elementos abaixo é suficiente para configurar uma situação de trabalho escravo: TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem possibilidade de deixar o local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica. JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar. SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que permanece sempre devendo ao empregador. CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condi-
Em relação à coesão, é correto afirmar que, em I. “A sua existência foi assumida pelo governo federal perante o país e a Organização Internacional do Trabalho
de suas cidades atraídos por falsas promessas de aliciadores ou migram forçadamente por uma série de motivos, que podem incluir a falta de opção econômica, guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os trabalhadores provêm
II.
as podem se destinar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de oportunidades de trabalho. (5) Tradicionalmente, o trabalho escravo é empregado em atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, a produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Nos últimos anos, essa situação também é verificada em centros urbanos, principalmente na construção civil e na confecção têxtil. (6) No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens. Em geral, as atividades para as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores buscam principalmente homens e jovens. Os dados oficiais do Programa Seguro-Desemprego de 2003 a 2014 indicam que, entre os trabalhadores libertados, 72,1% são analfabetos ou não concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental. (7) Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho escravo consegue fugir da situação de exploração, colocando a sua vida em risco. Quando tem sucesso em sua empreitada, recorre a órgãos governamentais ou organizações da sociedade civil para
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Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo é ainda uma realidade no Brasil. Disponível em: <http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/ fundamental-2/trabalho-escravo-e-ainda-uma-realidade-no-brasil/>. Acesso: 19 mar. 2017.
ções de vida sob a qual o trabalhador é submetido, atentando contra a sua dignidade. (4) Quem são os trabalhadores escravos? Em geral, são migrantes que deixaram suas casas em busca de melhores condições de vida e de sustento para as suas famílias. Saem
de diversos estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem ser migrantes internacionais de países latino-americanos – como a Bolívia, Paraguai e Peru –, africanos, além do Haiti e do Oriente Médio. Essas pesso-
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denunciar a violação que sofreu. Diante disso, o governo brasileiro tem centrado seus esforços para o combate desse crime, especialmente na fiscalização de propriedades e na repressão por meio da punição administrativa e econômica de empregadores flagrados utilizando mão de obra escrava. (8) Enquanto isso, o trabalhador libertado tende a retornar à sua cidade de origem, onde as condições que o levaram a migrar permanecem as mesmas. Diante dessa situação, o indivíduo pode novamente ser aliciado para outro trabalho em que será explorado, perpetuando uma dinâmica que chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”. (9) Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são necessárias ações que incidam na vida do trabalhador para além do âmbito da repressão do crime. Por isso, a erradicação do problema passa também pela adoção de políticas públicas de assistência à vítima e prevenção para reverter a situação de pobreza e de vulnerabilidade de comunidades.
III.
IV.
V.
(OIT) em 1995 […].” (1º parágrafo), o termo sublinhado retoma “violação de direitos”. “Daquele ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão em atividades econômicas nas zonas rural e urbana.” (1º parágrafo), após o termo sublinhado, houve supressão (eliminação) do termo “situação”. “Essas pessoas podem se destinar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de oportunidades de trabalho.” (4º parágrafo), os termos grifados referem-se a “migrantes”. “No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem ser migrantes internacionais de países latino-americanos […].” (4º parágrafo), os termos grifados acrescentam uma informação. “Diante disso, o governo brasileiro tem centrado seus esforços para o combate desse crime […].” (7º parágrafo), o termo sublinhado refere-se à fuga de trabalhadores escravizados.
Estão CORRETAS apenas as proposições a) IV e V. b) I, II, III e IV. c) I, II e V. d) II, III e IV. e) I, III e V.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
Por Paula Freire Santoro (Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, coordena o blog https://observasp.wordpress.com)
O livro mira nas conhecidas teorias sobre a metrópole paulistana, mas, em vez de destruí-las, regula o foco, transformando homogeneidade em heterogeneidade, ou ainda duas cores em um espectro amplo de tons. Assim, desenha permanências e transformações, desvenda processos considerados dissociados e antagônicos que se dão sobre o mesmo território, e disserta sobre os modelos clássicos, mostrando que estes ocultam dimensões importantes. Por isso, propõe um desafio aos acostumados às confortáveis teses gerais, o que torna o livro mais interessante. Inclusive porque as revisita nas linhas e entrelinhas e incita o debate. Vale uma leitura cuidadosa. Para dar luz à heterogeneidade, propõe diferentes abordagens metodológicas, utilizando uma vastidão de dados censitários e pesquisas, apoiados em mapeamentos de informações georreferenciadas atualizadas. Essa preocupação metodológica está presente nas três partes do livro: uma primeira sobre as dinâmicas econômicas, com olhar sobre o mercado de trabalho, uma segunda sobre dinâmicas demográficas e segregação residencial, e uma terceira sobre a produção dos espaços na metrópole, que foca o tema da habitação e da mobilidade. Um exemplo: procura regular o foco sobre o dualismo da metrópole dividida em centro e periferia, ideia que estruturou as teses sobre segregação socioterritorial, sobre desigualdade social. Ao olhar sobre a introdução do programa federal Minha Casa Minha Vida, cujas teses mostram que os empreendimentos habitacionais produzidos foram instalados em áreas mais periféricas e segregadas, reforçando o padrão centro-periferia, procura problematizar as dimensões relativas à segregação para além dessa dualidade. Assim, verifica a proximidade dos empreendimentos de centralidades secundárias, de estações de metrô ou trem, de equipamentos educacionais, e procura mostrar que a segregação residencial diz respeito mais à homogeneidade de conteúdos sociais das áreas da cidade onde estão inseridos. Ainda que aponte a existência de segregação desses empreendimentos na escala da metrópole, qualifica e problematiza as diferentes dimensões da segregação. Nesse processo, revela que o que chamávamos de periferia se qualificou, ou que há periferias na periferia, colocando em xeque o próprio conceito de periferia. Le Monde Diplomatique Brasil, Ano 9, n. 103, fev. 2016.
No enunciado “Inclusive porque as revisita nas linhas e entrelinhas e incita o debate” o pronome oblíquo “as” faz retomada do seguinte elemento: a) “duas cores” b) “confortáveis teses gerais” c) “permanências e transformações” d) “dimensões importantes” Texto comum às questões 02 e 03 O ignorante não sabe que o é Contardo Calligaris
Lena Dunham é a autora e a protagonista de “Girls”, o seriado da HBO 2 que estreia sua última temporada nesta semana. “Girls” é “Sex in the City”, 3 mas para gente grande – o que é irônico, porque o pessoal de “Girls” é mais 4 jovem do que o pessoal de “Sex in the City”. Enfim, Lena Dunham, pela boca 5 de sua personagem Hannah, reconheceu: “Tenho forte opinião sobre tudo. 6 Mesmo em tópicos sobre os quais sei pouco a respeito”. Talvez você não 7 goste de Lena Dunham e pule de alegria porque ela finalmente admitiu o que 8 você sempre pensou dela (ou seja, que ela é “metida” mesmo). Pois bem, não 9 pule. O que Dunham disse é apenas uma regra universal e incontestável: ao 10 tomar posição sobre qualquer tópico, quanto menos soubermos, tanto mais 11 mostraremos e sentiremos uma certeza absoluta. E quanto maior nossa 12 incompetência, tanto maior será nossa convicção na hora de agir. 13 Em 1995, o sr. McArthur Wheeler assaltou dois bancos depois de 14 molhar o rosto com suco de limão, absolutamente convencido de que 15 o suco funcionaria como tinta invisível e não deixaria seu rosto aparecer 16 nas gravações das câmeras de segurança. Todos podemos ter ideias 17 erradas, mas só os grandes incompetentes se avaliam como extremamente 18 competentes. 19 O fenômeno foi comprovado em 1999 por David Dunning e Justin Kruger, 20 psicólogos da Universidade Cornell, em uma série de experiências com a 21 prática médica, o jogo de xadrez, a capacidade de dirigir um carro, etc. Em 22 cada caso, as pessoas incompetentes não reconheciam o tamanho de sua 23 incompetência – só começavam a reconhecer sua incompetência efetiva se 24 e quando elas treinassem e se instruíssem para se tornarem competentes. 25 Ou seja, quanto mais a gente é ignorante e incompetente, mais a gente 26 tem certezas radicais e passionais. Inversamente, quem se afasta de sua 27 incompetência (informando-se ou formando-se) torna-se mais humilde 28 e mais disposto a duvidar de si. Em suma, ignorância e incompetência 29 produzem uma ilusão interna de saber e competência. Inversamente, saber 30 e competência produzem uma certa _________ do sujeito, que passa a 31 duvidar de si. 1
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01. (Unievangélica GO) MARQUES, Eduardo (Org.). A metrópole de São Paulo no século XXI: espaços, heterogeneidades e desigualdades. São Paulo: Unesp/ Centro de Estudos da Metrópole, 2016.
Português
É possível pensar que a certeza passional seja uma maneira de compensar 33 (e esconder) nossa própria ignorância ou incompetência. Mas, de qualquer 34 forma, a explicação é intuitiva: quanto menos eu souber (do que for: de 35 motor de carro, de política econômica, de teatro, de amor, etc.), tanto menos 36 saberei medir o que não sei. Inversamente, quem sabe mede facilmente que 37 só sabe uma pequena parte do que gostaria de saber. Sócrates dizia que ele 38 só sabia que nada sabia. Por isso mesmo, o resultado da pesquisa pareceu 39 tão esperado que Dunning e Kruger, em 2000, ganharam o prêmio Ig Nobel 40 de irrelevância. Mas Dunning continuou e, em 2005, publicou um livro, “Self- 41 Insight”, cujas implicações são úteis. 42 Em época de grandes paixões e conflitos – ou, como se diz, de 43 polarizações – mundo afora, vale _________ pena lembrar que a certeza 44 (ainda mais quando for passional) é proporcional à ignorância e à 45 incompetência. Aplique isso ao campo da moral, da política e da religião: a 46 ignorância é a grande mãe de quase qualquer extremismo. O psicanalista 47 Jacques Lacan disse um dia que só os teólogos conseguiam ser verdadeiros 48 ateus: o saber e a competência nos afastam da certeza. 49 Enfim, alguém poderia se preocupar especificamente com uma 50 consequência disso tudo: se a ignorância e a incompetência nos 51 oferecem certezas (falsas, mas tanto faz), será que isso não significa que 52 os ignorantes e os incompetentes são os mais aptos a agir? Será que o 53 excesso de competência e de saber nos levariam a dúvidas sofridas e, 54 portanto, _________ incapacidade de agir? Por exemplo, deve ser fácil 55 decidir a política dos EUA a partir do noticiário da televisão, mas se você 56 lesse e estudasse todos os relatórios preparados pelas diferentes fontes que 57 informam o presidente, então a tomada de decisão se tornaria complicada, 58 _________. Obviamente, essa não é uma razão para se render às facilidades 59 da incompetência. Tampouco é uma razão para não agir. Para agir, é preciso 60 aceitar que a qualidade de um ato apareça nas dúvidas e não na certeza 61 de quem age, porque, como já dizia Touchstone, o bobo de “As You Like it” 62 (mais de 400 anos antes de Dunning e Kruger), “o idiota pensa que é sábio, 63 enquanto o sábio é aquele que sabe de ser idiota”. 32
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Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/ 2017/02/1858984-o-que-o-e.shtml>. Acesso em: 2 mar. 17. (Adaptado.)
02. (UCS RS) Assinale a alternativa que completa correta e, respectivamente, as lacunas nas referências 30, 43, 54 e 58. a) auto-desvalorização, a, à, exitante. b) auto desvalorização, à, a, hesitante. c) autodesvalorização, a, à, hesitante. d) auto-desvalorização, à, a, exitante. e) autodesvalorização, à, à, esitante. 03. (UCS RS) Se, na frase que inicia na referência 25 e termina na referência 26, as duas ocorrências de a gente fossem substituídas por nós, quantas OUTRAS mudanças seriam necessárias no período para garantir sua correção? 768
a) Uma. b) Duas. c) Três. d) Quatro. e) Cinco. Texto comum às questões 04 e 05 Ciência é uma das formas de busca de conhecimento desenvolvida 2 pelo homem moderno. Sob seu escopo inserem-se as mais diferentes 3 realidades físicas, sociais e psíquicas, entre outras. A linguagem, 4 manifestação presente em todos os momentos de nossas vidas e em 5 todas as nossas atividades, podendo até ser tomada como definidora 6 da própria natureza humana, passou a ser tratada sob a perspectiva 7 dessa forma de conhecimento, ou seja, passou a ser objeto de 8 investigação científica, a partir do início do século XX. 9 Por ter um papel central na vida dos seres humanos, a linguagem 10 tem como sua característica primordial ser multifacetada. Tal 11 característica exige que, ao submeter-se ao tratamento científico, 12 essa realidade multifacetada sofra cortes e abstrações, tendo como 13 consequência o fato de que ela só pode ser entendida a partir de 14 diferentes perspectivas, gerando uma pluralidade de teorias que 15 buscam compreendê-la e explicá-la. Esmeralda Vailati Negrão, “A cartografia sintática”, em Novos caminhos da linguística 1
04. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa correta. a) A preposição sob (Ref. 06) pode ser corretamente substituída por “sobre”, sem que com isso se alterem sentidos do texto. b) É indiferente o uso da forma plural no verbo “inserir” tal como empregado na referência 02. c) O pronome dessa (Ref. 07) estabelece relação anafórica com a expressão natureza humana. d) A palavra escopo, tal como empregada na referência 02, refere-se ao domínio de investigação compreendido pela ciência como busca de conhecimento. e) De acordo com a norma culta da língua, é opcional o emprego de vírgulas no uso da expressão ou seja (Ref. 07). 05. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa correta. a) A palavra multifacetada (Ref. 10) refere-se à característica da linguagem humana de possuir diferentes particularidades. b) Em o fato de que ela (Ref. 13), é opcional o emprego da preposição de antes de que, de acordo com a norma culta. c) É facultativo o emprego do acento indicador de crase na expressão a partir de (Ref. 13). d) O pronome ela (Ref. 13) estabelece relação de coesão textual catafórica com a expressão pluralidade de teorias. e) Pelas atuais regras ortográficas de acentuação, a palavra compreendê-la (Ref. 15) pode ser escrita sem ou com acento circunflexo.
FRENTE
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PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento Texto comum às questões 01 e 02 Afinal, o que é o fascismo? Além de movimento, o fascismo tornou-se poder na Itália e na Alemanha no período entre guerras, sendo assim uma forma específica de regime político do Estado capitalista. Não qualquer regime, não qualquer ditadura, mas uma ditadura contrarrevolucionária com características bastante específicas, diferente, por exemplo, tanto de ditaduras oligárquicas, quanto da de Porfírio Diaz no México anterior à Revolução, quanto das ditaduras militares encontradas na América do Sul nos anos 1960-1980. Deste modo, chamar qualquer regime político ditatorial de “fascista” pode ser legítimo no plano da retórica política de seus opositores, mas do ponto de vista analítico denota desconhecimento. Surgido das contradições oriundas da eclosão da Primeira Grande Guerra e do desafio da Revolução Russa de 1917, o fascismo constitui-se como um movimento contrarrevolucionário, formado por uma base social na pequena burguesia, especialmente pela massa de ex-combatentes, que em países da Europa central foram recrutados pelas classes proprietárias que os financiaram para formarem grupos de batepaus contra o movimento operário e a esquerda em geral. Enquanto movimento, o fascismo representou historicamente um oponente violento das organizações da esquerda, da classe operária e dos subalternos sociais, bancado pelas classes dominantes para eliminar, inclusive fisicamente, qualquer coisa que pudesse ser associada à ameaça de “contagio vermelho”. E por isso o sucesso dos movimentos fascistas associava-se também à capacidade desses movimentos convencerem amplos setores sociais de que o conjunto das esquerdas poderia ser enquadrado como “comunista” e, por conseguinte, “antipatriótico”. Assim, dos revolucionários anarquistas até os socialdemocratas mais reformistas, passando naturalmente pelos próprios comunistas, as esquerdas em geral foram alvo desses movimentos contrarrevolucionários. Em suma, não é de hoje esse uso generalizado do termo “fascista” para se referir aos opositores políticos da esquerda, e nesse caso deveria ser um truísmo afirmar que, se chamamos tudo de “fascista”, esse termo perde sua força explicativa. Se é para de fato levarmos o fascismo a sério, esse caminho generalizante não ajuda. Desde as Jornadas de Junho de 2013, no âmbito da esquerda [brasileira] mais uma vez o uso do termo fascista é abusivamente adotado para se referir, por exemplo, aos governos estaduais, à instituição Polícia Militar e mesmo ao governo federal. E como não lembrar do infeliz comentário da filósofa Marilena Chauí, diante de uma plateia da Academia da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, em fins de agosto de 2013, quando caracterizou os “black blocs” como “inspirados no fascismo”? MELO, Demian. Sobre o fascismo e o fascismo no Brasil de hoje. Disponível em: http://blogjunho.com.br. Acesso em: 10 de mai. de 2017. Fragmento adaptado.
01. (Acafe SC) Considere o texto e assinale a alternativa correta. a) Usar o termo “fascista” para qualquer regime ditatorial, seja ele de esquerda, seja ele de direita, é incorreto. b) O fascismo é um regime de governo de base marxista, semelhante ao regime adotado na Rússia após a Revolução de 1917. c) As Jornadas de Junho de 2013, lideradas pelos “black blocs”, tinham como principal objetivo combater as instituições fascistas no Brasil. d) O governo do presidente mexicano Porfírio Diaz caracterizou-se, em um certo período, como uma ditadura fascista semelhante ao fascismo italiano. 02. (Acafe SC) Assinale a definição de “fascismo” que está coerente com a definição dada pelo texto. a) O fascismo é uma ditadura terrorista aberta, composta pelos elementos mais reacionários, mais chauvinistas, mais imperialistas do capital financeiro. b) Movimento contrarrevolucionário constituído por pequenos burgueses para se opor à classe operária e aos movimentos sociais mais radicais, entre os quais o comunismo. c) Após a Segunda Guerra Mundial, o fascismo foi paulatinamente passando a ser reduzido a uma ditadura do capital monopolista contra o resto da sociedade. d) O fascismo é definitivamente e absolutamente oposto às doutrinas do liberalismo, tanto na esfera econômica quanto na política. 03. (Unifacef SP) Leia o poema de Ferreira Gullar. Dois e dois: quatro Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena Como teus olhos são claros e tua pele, morena como é azul o oceano e a lagoa, serena como um tempo de alegria por trás do terror me acena e a noite carrega o dia no seu colo de açucena — sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena. (Toda poesia (1950-1980), 1980.)
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FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
Publicado em Dentro da noite veloz, livro que reúne poemas escritos entre 1962 e 1975, o poema remete a a) uma conjuntura de caos político, econômico e cultural provocada pelo choque entre partidos comunistas e socialistas. b) um momento de esperança, que caracteriza a estabilidade política que sucedeu o término da Segunda Guerra Mundial. c) uma situação de opressão, que pode ser associada às ditaduras latino-americanas que nasceram no contexto da Guerra Fria. d) um cenário de prosperidade econômica, conquistado pelos movimentos sociais que lutaram contra os regimes ditatoriais. e) um tempo de calmaria no cenário político mundial, que dava aos cidadãos a ilusão de que a justiça social havia sido conquistada. 04. (UFPR) A épica narrativa de nosso caminho até aqui Quando viajamos para o exterior, muitas vezes passamos pela experiência de aprender mais sobre o nosso país. Ao nos depararmos com uma realidade diferente daquela em que estamos imersos cotidianamente, o estranhamento serve de alerta: deve haver uma razão, um motivo, para que as coisas funcionem em cada lugar de um jeito. Presentes diferentes só podem resultar de passados diferentes. Essa constatação pode ser um poderoso impulso para conhecer melhor a nossa história. Algo assim vem ocorrendo no campo de estudos sobre o Sistema Solar. O florescimento da busca de planetas extrassolares – aqueles que orbitam em torno de outras estrelas – equivaleu a dar uma espiadinha no país vizinho, para ver como vivem “seus habitantes”. Os resultados são surpreendentes. Em certos sistemas, os planetas estão tão perto de suas estrelas que completam uma órbita em poucos dias. Muitos são gigantes feitos de gás, e alguns chegam a possuir mais de seis vezes a massa e quase sete vezes o raio de Júpiter, o grandalhão do nosso sistema. Já os nossos planetas rochosos, classe em que se enquadram Terra, Mercúrio, Vênus e Marte, parecem ser mais bem raros do que imaginávamos a princípio. A constatação de que somos quase um ponto fora da curva (pelo menos no que tange ao nosso atual estágio de conhecimento de sistemas planetários) provocou os astrônomos a formular novas teorias para explicar como o Sistema Solar adquiriu sua atual configuração. Isso implica responder perguntas tais como quando se formaram os planetas gasosos, por que estão nas órbitas em que estão hoje, de que forma os planetas rochosos surgiram etc. Nosso artigo de capa traz algumas das respostas que foram formuladas nos últimos 15 a 20 anos. Embora não sejam consensuais, teorias como o Grand Tack, o Grande Ataque e o Modelo de Nice têm desfrutado de grande prestígio na comunidade astronômica e oferecem uma fascinante narrativa da cadeia de eventos que pode ter permitido o surgimento da Terra e, em última instância, da vida por aqui. [...] (Paulo Nogueira, editorial de Scientific American – Brasil – no 168, junho 2016.)
O autor inicia o texto falando de nosso estranhamento quando conhecemos outros países, com seus usos e costumes. Ao fazer isso, sua intenção é a) contrapor as características inusitadas de nosso sistema solar com os costumes diferentes de outros países. 770
b) chamar a atenção para o fato de que as coisas funcionam em cada lugar de um jeito. c) alertar para que os turistas percebam que os usos e costumes de nosso país são muito diferentes dos de outros países. d) fazer uma analogia com o comportamento científico que devemos ter para compreendermos o surgimento da Terra. e) mostrar que o sistema solar tem planetas diferentes: alguns de formação rochosa e outros de formação gasosa. 05. (UFU MG) Leia os trechos do diário abaixo. A seguir, numere-os de 1 a 5, de modo a organizar o texto com coesão e coerência. Em seguida, assinale a alternativa correta. ( ) Tomara que amanhã isso não aconteça. Sobre isso, estive pensando qual profissão gostaria de ter no futuro e não cheguei numa conclusão concreta. Uma coisa eu sei: quero ajudar as pessoas e fazer diferença no mundo. Tenho fé nisso!!! Termino esse dia com a frase de um autor que gosto muito, do Drummond: “Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos. Boa noite! Helena ( ) No recreio, não tive coragem de falar com elas e fiquei no meu canto, lendo a matéria de história e aproveitando para responder as questões que o prof. passou na aula passada. Quando cheguei em casa, almocei e fiquei enfiada no quarto o dia inteiro pensando que não quero mais voltar pra escola. Nem fome eu tive! ( ) Na sala de aula, a Ana e a Célia ficaram dando risadinhas e olhando pra mim. Depois veio o Hugo e me disse que eu tinha um chiclete no cabelo. A minha questão foi: Quem colocou ele ali? E porque ao invés de me falarem ficaram rindo da minha cara? Fiquei muito chateada com a atitude delas e de outras pessoas que passavam bilhetinho enquanto aproveitavam para olhar pra minha cabeça. Ainda bem que bateu o sinal para o intervalo. ( ) Depois de tanto pensar, resolvi enfrentar o problema e escrevi uma carta pra Ana e pra Célia. Acho que ficou bem legal, ainda que no texto eu não reprovei a atitude delas. Pelo contrário, convidei elas para serem minhas amigas. Gosto delas, mas não gosto de injustiças, de caçoar dos outros. Acho muito feio rir de um defeito ou da desgraça alheia. Eu sei: tenho um coração mole!!!. ( )Londrina, 05 de julho de 2013. Querido Diário, hoje já acordei com uma sensação estranha. Talvez por ser o “dia das bruxas”. Como habitual, fui à escola e logo pude entender que algo inusitado iria acontecer. Tivemos duas aulas vagas, pois o professor de geografia ficou doente. Ficamos de boa na sala. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/genero-textual-diario>. Acesso em: 03 mai. 2017. (Adaptado).
A sequência correta, de cima para baixo, é: a) 5, 4, 2, 3,1 b) 5, 2, 3, 4,1 c) 5, 4, 3, 2,1 d) 5, 3, 2, 4,1
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
CONTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 177-178.
No enunciado “O critério não é moral, aqui, mas político”, considerando-se o contexto de ocorrência, o termo “aqui” a) refere-se a uma unidade político-geográfica, isto é, ao país onde o texto foi enunciado pela primeira vez. b) faz uma contraposição velada entre o lugar de fala do autor e o lugar de interpretação do leitor. c) constitui um elemento de coesão sequencial por meio do qual se faz a conexão entre duas orações. d) marca o espaço de fronteira do argumento, referindo-se a uma localidade interna ao próprio texto. 07. (IF PE) REFLETINDO SOBRE APROPRIAÇÃO CULTURAL Os efeitos desta supervalorização da cultura europeia é a existência de uma hierarquia cultural (1) Já há algum tempo, acompanho esse debate sobre apropriação cultural e, lendo os artigos produzidos (a favor ou con-
tra), percebi que a maioria não consegue articular este debate com questões mais amplas: racismo e capitalismo. (2) É preciso aceitar que há apropriação cultural. E que esta apropriação não é resultado de uma troca cultural. E por quê? A cultura predominante em nosso país é a ocidental que nos obriga a digerir a cultura europeia. Isso é bem problemático numa sociedade marcada pela diversidade étnico-cultural. Os efeitos desta supervalorização da cultura europeia é a existência de uma hierarquia cultural. E é aqui que racismo e capitalismo se articulam na apropriação da cultura do outro. (3) Ninguém no Brasil é proibido de usar um turbante, uma guia ou de pertencer a alguma religião de matriz africana. Porém, há um olhar diferenciado quando negros ou negras usam um turbante, uma guia que os identificam com o candomblé em espaço público. Diferente de brancos. Os primeiros são logo tachados de macumbeiros e os segundos, na moda, estilo e tendência étnica. (4) O cerne da questão se dá quando a cultura africana e afro-brasileira é apropriada por empresas e os protagonistas são excluídos do processo. Outro problema da assimilação cultural é seu retorno. Esta retorna na forma de mercadoria esvaziada de sentido. A filósofa e feminista negra Djamila Ribeiro faz a provocação: “A etnia Maasai não quer ser reparada pelo mundo da moda por apropriação, porque lucraram com sua cultura sem que eles recebessem por isso.” A relação entre capitalismo e racismo se manifesta desta forma. (5) O debate sobre apropriação cultural propõe refletir sobre o uso da cultura africana e afro-brasileira por empresas sem a presença e um retorno aos protagonistas. Para os que fazem este debate de forma ampla, há uma compreensão de que não é justo atingir pessoas. Estas não possuem um conhecimento sobre tal problemática. É preciso atacar as empresas que usam e abusam da cultura desses povos e a transformam em simples mercadoria. (6) Chamo atenção (finalizando) para o fato de alguns artigos que, sem entender ou por pura desonestidade intelectual, procuram, ao combater os argumentos daqueles que escrevem sobre a apropriação cultural, desqualificar toda uma produção de conhecimento forjada a partir de uma longa experiência no combate ao racismo. Penso que todo debate é válido, porém, sejamos éticos. FERREIRA, H. Refletindo sobre apropriação cultural. Disponível em: < http://www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/02/hilario-ferreira-refletindo-sobre-apropriacao-cultural.html>. Acesso em: 09 maio 2017 (adaptado).
Acerca das estratégias e dos elementos coesivos do texto, assinale a única alternativa CORRETA. a) No primeiro parágrafo, a expressão “questões mais amplas” tem como referentes: o racismo e o capitalismo. b) No trecho “Isso é bem problemático”, segundo parágrafo, o pronome demonstrativo grifado retoma o substantivo “apropriação cultural”. c) No terceiro parágrafo, o pronome “os”, em “os identificam”, antecede o referente “brancos”, por isso está no masculino plural, estabelecendo a concordância. d) Ainda no terceiro parágrafo, os numerais “primeiros” e “segundos” se relacionam a brancos e negros, respectivamente. e) No quinto parágrafo, a expressão “tal problemática” refere-se à realização de um debate de forma ampla. 771
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
06. (Unievangélica GO) Ao contrário do amor ou da generosidade, que não têm limites intrínsecos nem outra finitude além da nossa, a tolerância é, pois, essencialmente limitada: uma tolerância infinita seria o fim da tolerância! Não dar liberdade aos inimigos da liberdade? Não é tão simples assim. Uma virtude não poderia se isolar na intersubjetividade virtuosa: aquele que só é justo com os justos, generoso com os generosos, misericordioso com os misericordiosos, etc., não é nem justo nem generoso nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como acredito e como geralmente se aceita, ela vale por si mesma, inclusive para com os que não a praticam. A moral não é nem um mercado nem um espelho. É verdade, claro, que os intolerantes não teriam nenhum motivo para queixar-se de que se é intolerante para com eles. Mas onde já se viu uma virtude depender do ponto de vista dos que não a têm? O justo deve ser guiado “pelos princípios da justiça, e não pelo fato de que o injusto não pode se queixar”. Do mesmo modo, o tolerante, pelos princípios da tolerância. Se não se deve tolerar tudo, pois seria destinar a tolerância à sua perda, também não se poderia renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Uma democracia que proibisse todos os partidos não democráticos seria muito pouco democrática, assim como uma democracia que os deixasse fazer tudo e qualquer coisa seria democrática demais, ou antes, mal democrática demais e, por isso, condenada – pois ela renunciaria a defender o direito pela força, quando necessário, e a liberdade pela coerção. O critério não é moral, aqui, mas político. O que deve determinar a tolerabilidade de determinado indivíduo, grupo ou comportamento não é a tolerância de que eles dão mostra (porque então todos os grupos extremistas de nossa juventude deveriam ter sido proibidos, o que só lhes daria razão), mas sua periculosidade efetiva: uma ação intolerante, um grupo intolerante, etc., devem ser proibidos se, e somente se, ameaçarem efetivamente a liberdade ou, em geral, as condições de possibilidade da tolerância.
FRENTE
D
PORTUGUÊS Por falar nisso Qual o melhor caminho para escrever uma boa redação, para garantir uma nota satisfatória e para passar no exame vestibular? Com certeza, a melhor resposta é: organização. Escrever um texto requer atenção e muito planejamento. Não se deve começar a escrever sem antes separar, selecionar e organizar sua opinião e seus argumentos. Antes de iniciar qualquer texto, principalmente quando se fala em dissertações argumentativas, é preciso que você desenvolva um projeto textual. Nele, devem conter os principais tópicos estruturais para o desenvolvimento da sua produção. Ademais, faça sempre uma leitura cuidadosa da proposta de redação e procure se posicionar quanto ao tema exigido. Seguindo essa orientação e com uma releitura constante de tudo o que você escreve, com o tempo, você verá uma nítida progressão na articulação e no desenvolvimento das suas ideias em uma boa redação. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
D01 D02 D03 D04
Tipologia textual e gêneros textuais............................................. 774 Dissertação argumentativa I ......................................................... 783 Dissertação argumentativa II ........................................................ 790 Dissertação argumentativa: Enem................................................ 797
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D01
ASSUNTOS ABORDADOS n Tipologia textual e gêneros tex-
tuais
n Tipos textuais n Gêneros textuais
TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS TEXTUAIS Você já se perguntou qual é a diferença entre um tipo textual e um gênero textual? Esses conceitos possuem nítida distinção entre si, mas acabam por trazer confusão a muitos estudantes, uma vez que essas definições têm uma característica em comum: elas agrupam e classificam variedades textuais. No entanto, o critério de classificação da tipologia textual e dos gêneros textuais é, como dissemos, distinta. n n
Tipos textuais: trata-se de uma reunião de textos com propriedades linguísticas em comum, como vocabulário, tempos verbais, construções frasais, entre outras. Gêneros textuais: trata-se de uma reunião de textos com função comunicativa comum, inseridos em um contexto sociocultural.
Tipos textuais Existem seis tipos textuais: narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo, injuntivo e dialogal. A seguir, estão dispostas cada uma dessas variedades com definição e exemplos. Tipologia narrativa Definição Essa modalidade se desenvolve por meio da narração de um fato, fictício ou não, que ocorreu em um determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. É marcado pelo desenrolar de acontecimentos, personagens e ambiente, caracterizado por uma organização temporal dos fatos. Essas ideias são organizadas por um autor, que pode apenas observar a história (narrador-observador) ou participar dela (narrador-personagem). Essa tipologia está presente nos seguintes gêneros textuais: fábula, conto, notícia, piada, lenda, romance, texto teatral, tirinhas de jornal, crônica, romance etc. Exemplo Aconteceu que no jardim a linda criança que é Raul Ferreira, de 11 anos, neto do comendador, que se achava de visita aos avós, conversava com o chefe dos “Capitães da Areia”, que é reconhecível devido a um talho que tem no rosto. Na sua inocência, Raul ria para o malvado, que sem dúvida pensava em furtá-lo. O jardineiro se atirou então em cima do ladrão. Não esperava, porém, pela reação do moleque, que se revelou um mestre nestas brigas. E o resultado é que, quando pensava ter seguro o chefe da malta, o jardineiro recebeu uma punhalada no ombro e logo em seguida outra no braço, sendo obrigado a largar o criminoso, que fugiu. Capitães da Areia, Jorge Amado
774
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Definição É um texto que traz elementos que descrevem características de um espaço, tempo e pessoas. Desenvolve-se por meio da descrição, da caracterização de algo por elementos que demonstrem e comprovem que ele foi apreendido pelos sentidos. Faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Essa tipologia está presente nos seguintes gêneros textuais: fotografia, autorretrato, anúncio classificado, cardápio, lista de compras, folheto turístico etc. Exemplo Luxuoso apartamento em Goiânia, setor Marista Apartamento no quinto andar, de frente para o shopping Bougainville, e pega o sol da manhã. Possui três quartos − com duas suítes − dois banheiros de uso social, duas salas (estar e jantar), uma cozinha ampla integrada à sala de jantar e uma área de serviço. Além de oferecer uma ótima área de lazer que inclui área verde, parquinho infantil, duas piscinas, sauna e salão de festas, os moradores contam com três vagas na garagem. Interessados em alugar o imóvel, favor contatar Maria dos Santos, pelo e-mail: mariadossantos@alugueldeimoveis.com.br ou pelo telefone de contato (62) 1 2345-6789. Tipologia argumentativa Definição O texto argumentativo busca defender uma ideia ou um ponto de vista do autor. Logo, é embasado na argumentação e no desenvolvimento de um tema. Para tanto, sua estrutura é dividida em três partes fundamentais: introdução (na qual deve ser apresentada a tese), desenvolvimento (no qual conterão os principais argumentos) e conclusão (retomada da tese introdutória, síntese dos argumentos apresentados). Essa tipologia está presente nos seguintes gêneros textuais: texto de opinião, carta de leitor, redações dissertativas, carta de solicitação, editorial, ensaio, resenhas e outros.
Exemplo Crise econômica provoca protestos no Brasil. Desde 2016, as manifestações pela insatisfação com o cenário político fizeram-se mais frequentes em diversas capitais e demais cidades do País. Somado a isso, esses protestos mostram a indignação e o repúdio da sociedade em relação às questões de ordem econômica e problemas sociais em geral. O que mais ouvimos, em todos os lugares a que vamos, são frases de revolta sobre o preço do combustível, o descaso com a saúde pública e o caos gerado na educação. Com isso, uma baixa parcela da população parte em busca de uma vida digna fora do País. Mas, infelizmente, essa não é a solução. O que acontece é que muitas dessas pessoas têm conhecimentos superficiais a respeito da política, economia e educação, e não procuram seus próprios direitos ou até mesmo uma forma de driblar tais problemas. Para solucionar o caso, há uma única alternativa: desenvolver e implementar políticas públicas que visem a melhorias na educação (abordando disciplinas que tratem da diversidade, pluralidade e gênero, por exemplo), na saúde, na economia e na política. Tipologia expositiva Definição O texto expositivo apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Ele se desenvolve por meio da defesa de um ponto de vista, da sustentação de uma opinião, da intenção de persuadir um receptor, fundamentando ideias com argumentos convincentes e coerentes com o tema em questão. O embasamento se dá por meio de recursos como a conceituação, a definição, a descrição, a comparação, a informação e a enumeração. Além disso, reflete e expõe uma situação ou um acontecimento - que se pretende desenvolver ou apresentar - explicando e avaliando ideias de modo objetivo. Essa tipologia está presente nos seguintes gêneros textuais: debate orientado, editorial de jornal ou revista, crítica, ensaio, sermão, artigo de opinião, manifesto, seminário, palestra, conferência, relatório científico e outros. D01 Tipologia textual e gêneros textuais
Tipologia descritiva
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Português
Exemplo A história da telefonia móvel As primeiras aparições do telefone celular remontam às telas de cinema, com a austríaca Hedwing Kiesler (conhecida como Hedy Lamaar). A atriz de Hollywood que estrelou o clássico Sansão e Dalila, em 1949, era famosa não apenas por sua profissão, mas também por sua inteligência tecnológica. Casada com um austríaco nazista, fabricante de armas, soube aproveitar de um dos pontos positivos que restou da relação desgastante que tinham: o interesse pela tecnologia. No período da Segunda Guerra Mundial, ela soube que alguns torpedos teleguiados da Marinha tinham sido interceptados por inimigos. Desde então, revoltou-se e teve a seguinte ideia: criar um sistema por meio do qual as pessoas podiam se comunicar mudando o canal, para que a conversa não fosse interrompida. Com isso, desenvolveu-se a base dos celulares, que foi patenteada em 1940. Tipologia injuntiva Definição Os textos injuntivos ou instrucionais são aqueles que indicam como realizar uma ação. Eles têm o objetivo de orientar, predizer acontecimentos e comportamentos, pedir ou prescrever como se deve realizar algo. Basicamente, possuem a função de persuadir e encadear orientações. Essa tipologia está presente nos seguintes gêneros textuais: receitas culinárias, artigos constitucionais, manuais, gramáticas e outros. Exemplo Massa de panqueca simples Ingredientes: 1 ovo
D01 Tipologia textual e gêneros textuais
1 xícara de farinha de trigo
Tipologia dialogal Definição Texto constituído por diálogos entre duas ou mais personagens, reais ou imaginárias, humanas ou não humanas. Trata-se de uma tipologia que facilmente se agrega a outros tipos de texto, como nos tipos narrativos e expositivos. Essa modalidade está presente nos seguintes gêneros textuais: entrevista, conto, novela, romance, piada, fábula e outros. Exemplo O Lixo Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam. - Bom dia... - Bom dia. - A senhora é do 610. - E o senhor do 612. - É. - Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente... - Pois é... - Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo... - O meu quê? - O seu lixo. - Ah... - Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena... - Na verdade sou só eu. - Mmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata. - É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
1 xícara de leite
- Entendo.
1 pitada de sal
- A senhora também...
1 colher de sopa de óleo
- Me chame de você.
Modo de Preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador. A seguir, aqueça uma frigideira untada com um fio de óleo em fogo baixo. Coloque um pouco da massa na frigideira não muito quente e esparrame de modo a cobrir todo o fundo e ficar só uma camada fina de massa. Deixe igualar os dois lados, até que fiquem levemente douradas. Retire com a espátula e sirva com o recheio de sua preferência. Sugestão de recheio: carne moída, queijo e geleia.
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- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim... - É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra... - A senhora... Você não tem família? - Tenho, mas não aqui. - No Espírito Santo. - Como é que você sabe?
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- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- Você já está analisando o meu lixo!
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Ela é professora? - Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- Não! Você viu meus poemas?
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Vi e gostei muito.
- Pois é...
- Mas são muito ruins!
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado. - É. - Más notícias? - Meu pai. Morreu. - Sinto muito. - Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos. - Foi por isso que você recomeçou a fumar? - Como é que você sabe? - De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados. - Se eu soubesse que você ia ler... - Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela? - Acho que não. Lixo é domínio público. - Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso? - Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que... - Ontem, no seu lixo...
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- O quê?
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo... - Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou. - Você brigou com o namorado, certo? - Isso você também descobriu no lixo? - Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei. - Eu adoro camarão. - Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode... - Jantar juntos? - É. - Não quero dar trabalho.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Trabalho nenhum.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- Vai sujar a sua cozinha?
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- Ah.
- No seu lixo ou no meu?
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
Luis Fernando Verissimo D01 Tipologia textual e gêneros textuais
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é. - Namorada? - Não. - Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha. - Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga. - Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte. 777
Português
Gêneros textuais Leia com atenção o quadro a seguir que mostra os principais gêneros textuais de cada domínio temático principal:
D01 Tipologia textual e gêneros textuais
Domínio Principal
Gêneros textuais
Científico
Artigo científico Verbete de enciclopédia Nota de aula Nota de rodapé Tese Dissertação Trabalho de conclusão Biografia Patente Tabela Mapa Gráfico Resumo Resenha
Jornalístico
Editorial Notícia Reportagem Artigo de opinião Entrevista Anúncio Carta ao leitor Resumo de novela Capa de revista Expediente Errata Programação semanal Debate
Religioso
Oração Reza Lamentação Catecismo Homilia Cântico religioso Sermão
Comercial
Nota de venda Nota de compra Fatura Anúncio Comprovante de pagamento Nota promissória Nota fiscal Boleto Código de barras Rótulo Logomarca Comprovante de renda Curriculum vitae
Instrucional
Receita culinária Manual de instrução Manual de montagem Regra de jogo Roteiro de viagem Contrato Horóscopo Formulário Edital Placa Catálogo Glossário Receita médica Bula de remédio
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Domínio Principal
Gêneros textuais
Jurídico
Contrato Lei Regimento Regulamento Estatuto Norma Certidão Atestado Declaração Alvará Parecer Certificado Diploma Edital Documento pessoal Boletim de ocorrência
Publicitário
Propaganda Anúncio Cartaz Folheto Logomarca Endereço postal
Humorístico
Piada Adivinha Charge
Interpessoal
Carta pessoal Carta comercial Carta aberta Carta do leitor Carta oficial Carta convite Bilhete Ata Telegrama Agradecimento Convite Advertência Bate-papo Aviso Informe Memorando Mensagem Relato Requerimento Petição Ordem E-mail Ameaça Fofoca Entrevista médica
Ficcional
Poema Conto Mito Peça de teatro Lenda Fábula Romance Drama Crônica História em quadrinhos RPG
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Exercícios de Fixação 01. (Unirg TO) Em Quase todos: segredos de uma vida, de Marildes Gomes, na crônica Lixo de enxurrada, a narradora rememora uma enchente do Rio Grande, em Barreiras, carregando vários objetos. Eis o fragmento: “[...] a observar a enchente, em cuja corredeira desciam toras de pau, gravetos, cobra, porco, até vaca. A correnteza levava tudo. Mas o lixo mesmo é que era engraçado. Eu ali a admirar e analisar a cheia e fazendo comparações de minha vida com o lixo.” (2012, p. 71). O fragmento dado e as considerações advindas da rememoração mostram a) a preocupação ecológica com a preservação dos mananciais de água. b) o uso de uma figura de linguagem que metaforiza a condição da narradora. c) a convicção de que a narradora encontrou seu paradeiro final. d) a tentativa de divulgação de um possível polo turístico regional.
03. (Puc RS) _________, no conto Venha ver o pôr do sol, narra uma história de _________ a partir do encontro de um casal de antigos amantes, em que, ao fim, a personagem feminina é _________. a) Clarice Lispector – miséria e solidão – atropelada b) Lya Luft – luto familiar – abandonada pelo marido c) Lygia Fagundes Telles – vingança – trancafiada para morrer d) Lygia Fagundes Telles – traição – convencida a se deixar sequestrar e) Clarice Lispector – separação – rejeitada pelos filhos 04. (Fuvest SP)
02. (ESPM SP) Observe os fragmentos dos poemas que seguem e analise as afirmações: Texto 1 Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém: fundo sem fundo. (Ferreira Gullar, Traduzir-se)
Texto 2 Onde nasci, morri. Onde morri, existo. E das peles que visto muitas há que não vi. (Carlos Drummond de Andrade, Sonetilho do falso Fernando Pessoa)
I. II.
III. IV.
Ambos os autores abordam aspectos paradoxais ou contradições do eu lírico. Nas reflexões existenciais, em ambos os textos existe a anulação do eu, que desiste de encontrar sua verdadeira identidade. O texto 1 afirma que o eu abrange todos e ninguém. O texto 2 traz um eu que se desconhece nas muitas identidades.
Está correto o que se afirma em a) I, II, III e IV. b) I, II e III. c) I, III e IV. d) II, III e IV. e) III e IV.
O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para o solo do Mayombe, misturando-se às folhas em decomposição. [...] Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse. Os lábios já mal se moviam. A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida. [...] Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no seu elemento verde. Pepetela, Mayombe.
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D01 Tipologia textual e gêneros textuais
Amoreira africana
Português
Consideradas no âmbito dos valores que são postos em jogo em Mayombe, as relações entre a árvore e a floresta, tal como concebidas e expressas no excerto, ensejam a valorização de uma conduta que corresponde à da personagem a) João Romão, de O cortiço, observadas as relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados. b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris. c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e vizinhos. d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em especial ao completar sua trajetória de politização. e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, na sua fase inicial, quando era o valentão do lugar. 05. (Unesp SP) Leia o soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” do poeta português Luís Vaz de Camões (15241580).
4. “Toda e qualquer coisa tem seu vaivém e se transforma no contrário ao capricho tirânico da fortuna.” – Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) 5. “Uma vez que a vida é um tormento, a morte acaba sendo para o homem o refúgio mais desejável.” – Heródoto (484 a.C.-430 a.C.) Quais das citações aproximam-se tematicamente do soneto camoniano? Justifique sua resposta. 06. (USF SP) É notório que José de Alencar, Machado de Assis e João Guimarães Rosa são alguns dos expoentes da literatura brasileira. A respeito da obra, do estilo e das características dos autores, é correto afirmar que a) embora os espaços trabalhados por Assis e Rosa divirjam, o viés analítico-psicológico é uma constante na obra de ambos, que, inspirados pelas teorias de Sigmund Freud, desnudam o interior dos personagens, explicitando o binômio aparência X essência. Observa-se, majoritariamente, esse
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.
aspecto nas personagens femininas das obras lidas. b) Alencar reestrutura a prosa romântica local com base na abordagem linguística. Consciente de seu papel como elemento desencadeador de uma consciência nacional, o autor refuta as tentativas de um “abrasileiramento lin-
Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança1; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem – se algum houve –, as saudades.
guístico”, defendendo a pureza da língua lusitana, segundo o autor, a língua representativa do país que deve, por isso, ser respeitada e mantida. c) Rosa, em meados do século XX, e Alencar, cerca de cem anos
O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e enfim converte em choro o doce canto.
antes, provocam uma reflexão com base no estilo de escrita de cada um: Alencar, por defender a ideia de a nacionalidade apoiar-se primeiramente sobre a língua, que só pode ser modificada pelo povo; Rosa, por inovar a linguagem, com
E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor2 espanto: que não se muda já como soía3.
base na apropriação da oralidade, de hibridismos, de estrangeirismos e de regionalismos. (Sonetos, 2001.)
esperança: esperado. 2 mor: maior. 3 soer: costumar (soía: costumava). D01 Tipologia textual e gêneros textuais
1
Considere as seguintes citações: 1. “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio: suas águas não são nunca as mesmas e nós não somos nunca os mesmos.” – Heráclito (550 a.C.-480 a.C.) 2. “A breve duração da vida não nos permite alimentar longas esperanças.” – Horácio (65 a.C.-8 a.C.) 3. “O melhor para o homem é viver com o máximo de alegria e o mínimo de tristeza, o que acontece quando não se procura o prazer em coisas perecíveis.” – Demócrito (460 a.C.-370 a.C.) 780
d) embora se situem em estéticas literárias distintas, Alencar e Assis apresentam características comuns, podendo-se considerar Alencar um precursor do Realismo no Brasil. São elementos comuns nas obras desses autores a destruição da linearidade narrativa, a análise psicológica, a ausência de maniqueísmo, o pessimismo, o humor ácido e a síntese entre os aspectos particular, local e universal. e) a relevância da obra alencariana se dá pelo diálogo temático que estabelece com Rosa e Assis. No regionalismo, a descrição dos espaços físicos – em especial o tratamento dado ao sertão mineiro – é retomada por Guimarães Rosa em seus contos. Na abordagem urbana, alguns aspectos de sua obra – como o casamento por interesse e a fragilidades das relações humanas – serão ponto de partida para as obras machadianas.
Questão 05. As citações que se aproximam do tema do soneto camoniano são a 1 e a 4. No texto de Heráclito (1), há referência à mutabilidade do meio e do próprio homem. Essa instabilidade aparece no tema do soneto já na primeira estrofe. A frase de Sêneca (4) também converge para o sentido do poema. O vaivém das coisas e seres em geral acaba, pelo capricho da sorte, transformando uma situação no seu oposto, como se constata, por exemplo, nos versos “Continuamente vemos novidades / diferentes em tudo da esperança” (...) / “o tempo cobre o chão de verde manto” / “que já coberto foi de neve fria” / “e enfim converte em choro o doce canto”.
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Exercícios Complementares 01. (Puc SP) Dos enunciados abaixo, indique aquele cujo conte-
outros, o romance indígena Iracema. Nessa obra,
údo não corresponde ao conto referido. a) Era o homem mais afamado dos dois sertões do rio: céle-
a beleza e as qualidades da personagem-título são
bre do Jequitinhonha à Serra das Araras, (...), maior do que Antonio Dó ou Indalécio; o arranca-toco, o treme-treme, o
com relação a eles, em um exercício de idealização
parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e-arrasa: Seu Joãozinho Bem-Bem. – A hora e a vez de Augusto Matraga.
típico dessa escola literária. III.
A obra inicial desse movimento, Memórias póstumas de Brás Cubas, traz, entre outras características, a
b) Folgado, Sete-de-Ouros endireitou para a coberta. Farejou o cocho. Achou milho. Comeu. Então, rebolcou-se,
conversa com o leitor, a metalinguagem, as referências intertextuais, a análise psicológica, a quebra de
com as espojadelas obrigatórias, dançando de patas no ar e esfregando as costas no chão. Comeu mais. Depois procurou um lugar qualquer, e se acomodou para dormir,
linearidade narrativa e o ceticismo. IV.
O Naturalismo destaca-se pelo desvendamento das misérias humanas no aspecto coletivo, em especial
entre a vaca mocha e a vaca malhada, que ruminavam, quase sem bulha, na escuridão. – Conversa de bois. c) E eu abusava, todos os domingos, porque, para ir domin-
nos espaços em que vivem os menos favorecidos. Influenciadas pelo cientificismo, obras como O cortiço, de Aluísio Azevedo, Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha,
gar no mato das Três Águas, o melhor atalho renteava o terreirinho de frente da cafua do Mangalô, de quem eu zombava já por prática. Com isso eu me crescia, mais mandando, e o preto até que se ria, acho que achando mesmo graça em mim. – São Marcos.
O Realismo no Brasil é sinônimo de Machado de Assis.
e O Ateneu, de Raul Pompeia, trazem elementos como o determinismo, o evolucionismo e o criacionismo. V.
As obras em prosa do Pré-Modernismo estabelecem a problematização do país ao abordar questões per-
d) O sol cresce, amadurece. Mas eles estão esperando é a febre, mais o tremor. Primo Ribeiro parece um defunto - sarro de amarelo na cara chupada, olhos sujos, desbrilhados, e as mãos pendulando, compondo o equilíbrio, sempre a escorar dos lados a bambeza do corpo. (...) e
tinentes a regiões do Brasil que permaneciam des-
trouxe para cá fora o caixinha de remédio, a cornicha de pó e mais o cobertor. – Sarapalha.
especial do Nordeste brasileiro, como Cacau, Fogo
01. (USF SP) A produção literária de cada época é classificada de acordo com o conjunto de características comuns, dando origem às escolas ou estéticas literárias. A seguir, você encontrará uma série de afirmações a respeito das escolas, dos autores e das obras que compõem o rico acervo da Literatura brasileira. Analise-as. I.
O Barroco é composto pela produção de Gregório de
conhecidas pela grande maioria dos brasileiros até então. Igualmente engajada, a produção literária da Geração de 30 ecoa os princípios pré-modernistas e traz obras em que denunciam as mazelas locais, em morto, Vidas secas e Capitães da areia. É correto o que se afirma em a) I, II, III, IV e V. b) I, III e V, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) II, III e V, apenas. e) I, II e III, apenas. Textos comuns às questões 03 e 04 Mar (fragmento)
Matos, que escreve poesia religiosa, satírica, amorosa, filosófica e erótica. O outro nome de destaque nesse momento – Padre Antônio Vieira, que escreve sermões religiosos e de caráter crítico-analítico – não pode ser considerado parte da Literatura nacional deO Romantismo tem uma produção extensa: três
menino que já o tinha visto. Ele 04 nos contava que havia três espécies de mar: o mar mesmo, a maré, 05 que é menor que o mar, e a marola, que é menor que a maré. Logo 06 a gente
gerações na poesia e romances de temas diversos
fazia ideia de um lago enorme e duas lagoas. Mas o menino
na prosa. Um dos principais nomes do Romantismo
explicava que não. O mar entrava pela maré e a maré entrava pela 08 marola. A marola vinha e voltava. A maré enchia
vido à sua origem europeia. II.
A primeira vez que vi o mar eu não estava sozinho. Estava no meio 02 de um bando enorme de meninos. Nós tínhamos viajado para ver o 03 mar. No meio de nós havia apenas um
01
nacional é José de Alencar, que escreveu, dentre
07
781
D01 Tipologia textual e gêneros textuais
come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-treta, o tira-prosa, o
comparadas a elementos da natureza e se destacam
Português
e vazava. O mar 09 às vezes tinha espuma e às vezes não tinha. Isso perturbava ainda
III.
[...] é, em sua essência, uma informação valorativa e in-
mais a imagem. Três lagoas mexendo, esvaziando e enchendo, com 11 uns rios no meio, às vezes uma
terpretativa de fatos noticiosos, atuais ou atualizados,
porção de espumas, tudo isso muito 12 salgado, azul, com ventos.
está sendo narrado. (Martin Vivaldi)
10
Rubem Braga
Mar Português
onde se narra algo ao mesmo tempo em que julga o que
Assinale a alternativa correta. a) Estão corretas as afirmações I e II.
01 02
Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!
b) Estão corretas as afirmações I e III.
03
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
d) Todas as afirmações estão corretas.
04 05
Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar
e) Nenhuma das afirmações está correta.
06
Para que fosses nosso, ó mar!
07
Valeu a pena? Tudo vale a pena
alternativa:
08 09
Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador
a) Dona fea, nunca vos eu loei/en meu trobar, pero muito tro-
10 11 12
Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.
c) Estão corretas as afirmações II e III.
03. (Mackenzie SP) Pode-se afirmar que pertence ao mesmo tipo de poema trovadoresco de “Ondas do mar de Vigo” APENAS a
bei;/mais ora já un bon cantar farei,/en que vos loarei toda via;/e direi-vos como vos loarei:/ dona fea, velha e sandia! (Joan Garcia de Guilhade) b) Quer’eu en maneira provençal/fazer agora un cantar Fernando Pessoa
Ondas do mar de Vigo
d’amor/e querrei muit’i loar mia senhor, a que prez nem fremusura non fal,/nem bondade, e mais vos direi en: tanto fez Deus comprida de ben/que mais que todas las do
01
Ondas do mar de Vigo,
02 03
se vistes meu amigo? e ai Deus, se verrá cedo?
04 05
Ondas do mar levado, se vistes meu amado?
06
e ai Deus, se verrá cedo?
07
Se vistes meu amigo,
hei,/ querriam morrer, eu o sei,/e haveriam en sabor;/mais,
08 09
o por que eu sospiro? e ai Deus, se verrá cedo?
atender e atender. (João Garcia de Guilhade)
10 11 12
Se vistes meu amado, o por que hei gram coidado? e ai Deus, se verrá cedo?
mundo val. (D. Dinis) c) A melhor dona que eu nunca vi,/per bõa fé, nem que oí dizer,/ e a que Deus fez melhor parecer,/mia senhor est, e senhor das que vi,/ de mui bom preço e de mui bom sem,/per bõa fé, e de tod’outro bem, de quant’eu nunca doutra dona oí. (Fernão Garcia Esgaravunha) d) Quantos ham gram coita d’amor/eno mundo, qual hoj’eu mentr’eu vos vir, mia senhor,/ sempre m’eu querria viver/ e e) Que coita tamanha ei a sofrer,/por amar amigu’e non o ver!/E pousarei sô lo avelanal. (Nuno Fernandes Torneol) 04. (Unirg TO) Um dos elementos temáticos marcantes da coletâ-
D01 Tipologia textual e gêneros textuais
Obs.: verrá: virá - Martim Codax
02. (Mackenzie SP) O texto de Rubem Braga pertence ao gênero da crônica. A partir dessa informação, considere as seguintes afirmações: I. [...] trata-se de uma tipologia literária ligada à vida quotidiana, publicada nos veículos de comunicação, que revela ao mesmo tempo uma natureza interpretativa, podendo ter ou não valor noticioso. (Ana Maria de Sousa) II. [...] apresenta um texto inscrito de natureza conativa, ou seja, corresponde a uma mensagem enviada de um emissor a um receptor, com uma linguagem composta de símbolos comuns aos asseclas. (Roger Ribeiro da Silva) 782
nea de crônicas de Quase todos: segredos de uma vida, de Marildes Gomes, é a mobilidade psicológica e geográfica da narradora. De região para região, de cidade para cidade, de casa para casa, percebe-se sua geografia humana sendo expressa e ressaltada nos relatos. Essa mobilidade pessoal a) é particularizada sistematicamente pelas relações familiares da autora. b) vincula-se aos movimentos migratórios de regiões penalizadas pela natureza. c) prende-se ao regionalismo particularizado de movimentos diaspóricos. d) alegoriza a capacidade humana de adaptações a condições variadas.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D02
DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA I As principais características que o texto dissertativo-argumentativo apresenta são: a apresentação do ponto de vista, o desenvolvimento de um raciocínio, a defesa de uma ideia, o questionamento de uma determinada realidade, isto é, questionar uma problemática (discussão dos argumentos) e a análise crítica do texto. O autor pode se valer de argumentos, de fatos e de dados estatísticos, que servem para auxiliar na justificativa das ideias que são desenvolvidas por ele.
ASSUNTOS ABORDADOS n Dissertação argumentativa I n Estrutura da dissertação argumentativa n Título n Introdução
Estrutura da dissertação argumentativa A dissertação argumentativa, de modo geral, conta com a seguinte estrutura básica: n n n n
Título; Introdução; Desenvolvimento; Conclusão.
Nesta aula, nós estudaremos, detalhadamente, o processo de escritura do título e da introdução e, na próxima aula, trataremos do desenvolvimento e da conclusão.
Título Como primeiro contato do leitor com o texto, o título é a propaganda desse texto. Ele pode fazer com que o leitor se entusiasme para ler o restante, ou também com que ele perca o interesse e procure outra obra para ler. Em geral, os títulos são escolhidos depois do material pronto e de terem sido feitas algumas releituras, pois ele resume e condensa o tema e a opinião do autor. Muitos estudantes dizem ter dificuldade em escolher um bom título para sua dissertação. Seguem, portanto, algumas dicas que podem norteá-lo na escolha de um título preciso. n n n n n
Não coloque ponto final no seu título. Somente a primeira palavra do título deve ser maiúscula, a não ser, é claro, que haja nomes próprios no decorrer dele. Não copie trechos do tema no seu título. Evite inversões sintáticas, seja claro e direto. Evite títulos que contrastem ideias, como: “Saúde X Obesidade” ou “Educação pública X Educação privada”. Esse tipo de título é, em geral, antiquado e bastante óbvio e não revela, de maneira clara, a opinião do autor.
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Português
Exemplos Título: Tolerância na prática Proposta: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil Título: Parte desfavorecida Proposta: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira Título: Consumidores do futuro Proposta: Publicidade infantil em questão no Brasil
Introdução A introdução de uma dissertação argumentativa deve conter os seguintes itens: n
n n
Repertório sociocultural: trazer dados, exemplos, fontes de outras áreas do conhecimento, como história, geografia, literatura, artes, entre outras, para demonstrar domínio sobre o tema e conhecimento de mundo. Contextualização do tema: o leitor já deve identificar, na introdução, o tema que será tratado no texto. Exposição da tese: também deve conter, nessa parte inicial, a opinião (tese) do autor sobre a problemática dada pelo tema.
Assim como o título, a introdução garante que o leitor leia e se interesse pelo seu texto até o final. Portanto, fazer perguntas é um bom recurso para deixá-lo intrigado, curioso e interessado. Você pode usar esta técnica para, inclusive, propor questionamentos que serão respondidos no desenvolvimento de sua dissertação. Mas tenha cuidado para não exagerar na dose. Mais do que duas perguntas já deixa o texto cansativo e desfocado. A introdução de um texto não deve passar de um parágrafo, já que ela não deve ser muito longa para não desmotivar o leitor. Se a redação tiver trinta linhas, aconselha-se a que o escritor use de seis ou sete linhas para a parte introdutória. Além disso, o tópico frasal da sua introdução, isto é, a frase mais importante, que resume basicamente todo o conteúdo desse parágrafo inicial, já deve apresentar o tema da sua dissertação que será desenvolvido nas próximas linhas. É a partir dele que o raciocínio do texto é elaborado. Deve-se evitar em uma introdução: n n n n n
D02 Dissertação argumentativa I
n
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Iniciar uma ideia geral que não transpasse por todo o texto (o uso de informações ou pensamentos totalmente diferentes); Usar chavões e clichês; Iniciar com as mesmas palavras do título; Desviar do assunto principal; Escrever períodos muito longos; Escrever de forma pessoal, ou seja, usar a 1ª pessoa.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Tipos de introdução 1) Exemplificação Esse recurso pode ser desenvolvido por meio de dados estatísticos e/ou relatos de acontecimentos de conhecimento geral (fatos divulgados pelas mídias). No caso da exemplificação, devemos nos atentar com os seguintes aspectos: apresentar a fonte das informações e não omitir fatores que possam distorcer o fato. É necessário que se comprometa em repassar a verdade, mesmo que ela seja questionada por você ao longo do texto. A escolha lexical, neste caso, será um grande aliado, uma vez que você pode descrever a situação em questão e, ao mesmo tempo, marcar sua opinião com palavras como: infelizmente, supostamente, entre outras. 2) Alusão histórica Introduzir um texto por alusão histórica é recortar um fato, um período histórico, um hábito antigo, a fim de compará-lo com o presente. Essa comparação evidenciará uma permanência, ou não, de determinada situação e isso será base para a problematização do que o tema apresenta para discussão. Esse tipo de introdução permite que o autor demonstre domínio de uma área de conhecimento de relevância, a história, o que contribui para o objetivo final de um texto dissertativo-argumentativo: defesa de um ponto de vista. 3) Definição Iniciar um texto dissertativo-argumentativo conceituando um termo é apresentar autoridade e domínio sobre o tema, o que, se realizado de forma adequada, é extremamente positivo para apresentação e defesa do ponto de vista. Podemos definir algo de diversas formas: dicionário, definição histórica, definição teórica e definição própria (que consiste em definir algo a partir de sua visão de mundo, suas experiências). A forma mais adequada é você quem definirá, uma vez que essa escolha dependerá da ideia que será defendida ao longo do texto. 4) Citação Esse recurso consiste em fazer referência a ideias de outros autores a fim de que o seu ponto de vista seja fortalecido. Há duas possibilidades de citação: a direta e a indireta. No primeiro caso, a ideia citada é apresentada com as próprias palavras do autor. Já no segundo, faz-se uma paráfrase do texto original, isto é, com as suas palavras você expõe a opinião do autor. Detalhe: nos dois tipos de citação, deve-se mencioná-lo. Veja os exemplos a seguir: D02 Dissertação argumentativa I
Citação direta: Segundo Marx, “A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”. Citação indireta: Sakamoto evidencia a necessidade de uma formação educacional em que o senso crítico e o bom senso sejam instigados nas crianças.
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Português
Exercícios de Fixação 01. (ESPM SP) Numa época em que os produtos estão cada vez mais em igualdade técnica, é preciso encontrar um meio de se destacar, de atrair o olhar pelo “algo mais” que permite diferenciá-los. O sucesso da Apple se deve em grande parte a essa distinção assegurada pelo design, no qual sempre apostou prioritariamente… A companhia soube conceber o mundo Apple em que o computador, por suas linhas, seu sistema de navegação, seu grafismo, define um estilo de vida e induz o pertencimento a um grupo que compartilha seus valores. A Estetização do Mundo – Gilles Lipovetsky & Jean Serroy
PROPOSTA Com base nas informações do texto e em outras de seu conhecimento sobre o assunto, elabore um texto dissertativo que apresente considerações acerca do papel que o consumo vem assumindo atualmente na formação da identidade/valores dos indivíduos. 02. (ESPM SP) Os emojis são a linguagem universal? Os Dicionários Oxford anunciaram a palavra do ano, a escolha de 2015 recaiu num emoji, mais concretamente na “carinha com lágrimas de alegria.” Sete anos depois de darem as caras (literalmente) no teclado dos smartphones ocidentais, eles são considerados uma espécie de idioma universal pela Geração Z (jovens nascidos a partir da década de 1990). Especialistas da linguagem dizem que os emojis produzem sentido nas práticas discursivas no meio digital e são capazes de tornar a interação virtual mais afetiva e dinâmica, proporcionando rapidez nas trocas de informações. O professor de linguística da Universidade da Califórnia, Neil Cohn, especialista em comunicação visual, acredita que o triunfo da língua franca dos emojis é fruto de seu poder de síntese que acaba aproximando as pessoas por conseguirem captar experiências e expressões de uma conversa pessoal. Adaptado da Revista Galileu e Veja.com
D02 Dissertação argumentativa I
PROPOSTA Com base nas informações do texto e em outras de seu conhecimento sobre o assunto, elabore um texto dissertativo que apresente considerações sobre a seguinte questão: Tendo em vista que a palavra do ano foi um emoji, que é um recurso visual, podemos afirmar que esta dinâmica, por meio dos dispositivos móveis, relaciona-se a um modismo estilístico ou é uma alteração que amplia o recurso da linguagem?
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03. (Faculdade Guanambi BA) I. A sociedade contemporânea, em grande parte, revela muita insegurança e incerteza quanto a valores: não há pontos de referência estáveis. Isso gera crise e confusão, tornando muito difícil para o homem atual identificar, em última instância, “o que vale a pena” e dedicar-se a isso; o afastamento das questões mais essenciais, como o porquê da existência, um sentido ou uma causa à qual entregar a vida gera esquecimento ou inexistência de critérios para orientar e sustentar decisões ou ações. A dificuldade do homem contemporâneo de tomar consciência de si mesmo, de posicionar-se diante da realidade e a experiência frequente de indecisão são consequências de uma mentalidade que, negligenciando a necessidade desse fundamento, não favorece a descoberta de valores nem um autêntico desenvolvimento humano. Não havendo uma clara hierarquia de princípios morais, a postura assumida diante de situações que exigem soluções imediatas é a de relatividade, sem aprofundamento das razões das escolhas ou atitudes a serem assumidas. (BRANDÃO, Sílvia Regina Rocha. A vocação humana: uma abordagem antropológica e filosófica. Disponível em: <http:// hottopos.com/ vidlib7/ sb.htm>. Acesso em: 22 nov. 2015.)
II.
(LAVADO, Joaquín Salvador (QUINO). Toda Mafalda. Disponível em:< http:// exercicios.brasilescola.com/exercicios-redacao/exercicios-sobreinterpretacao- texto-nas-tirinhas-mafalda.htm>. Aceso em: 22 nov. 2015.)
Após uma reflexão sobre o conteúdo veiculado no fragmento em destaque (I) e na tira (II), escreva, na norma-padrão da língua portuguesa, apoiando seu ponto de vista sobre o assunto enfocado em argumentos convincentes, um texto argumentativo sobre o tema: A crise de valores éticos e morais na sociedade pós-moderna. 04. (Faculdade Baiana de Direito BA) I. O sistema presidencialista não favorece a relação de cooperação de poderes de que o Estado contemporâneo necessita, servindo apenas como mais uma das formas
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
KREBS, Thiago Pacheco Costa. Aspectos do Presidencialismo na Constituição do Brasil: o Veto Presidencial como Instrumento de Balança de Poder. Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/ graduacao/tcc/tcc2/ trabalhos2008_2/thiago_pacheco.pdf>. Acesso em: 7 set. 2015.
II. Desde que foi incluída na Constituição de 1988 como um princípio fundamental da República Federativa do Brasil, a participação social vem impulsionando transformações importantes na condução dos negócios públicos. Inicialmente, e não sem algum encantamento, os estudos exploraram e destacaram o caráter inovador das práticas participativas e sua contribuição para diminuir o fosso entre Estado e sociedade civil que, embora tivesse longínquas raízes na história brasileira, havia sido agravado pelo autoritarismo e a tecnocracia dos “anos de chumbo”. A seguir, com a disseminação e a definitiva institucionalização de práticas participativas, notadamente na forma de Conselhos e Conferências, estudos empíricos passaram a indicar alguns limites e descompassos da participação em relação à promessa de democratização do Estado que, anteriormente, ela tão incisivamente representou. O excessivo poder de agenda dos governos em relação à sociedade civil, a linguagem excessivamente técnica (e por isso mesmo excludente) nas reuniões, e a colonização dos ambientes deliberativos por “participantes de ofício” foram alguns dos temas que mais permearam as análises e que ensejaram atitude mais crítica e cautelosa sobre a participação. O momento atual, construído a partir do estoque de reflexão até então acumulado, destina-se exatamente a entender em que condições a participação pode ser mais efetiva, ou seja, em que condições as práticas participativas transformam a realidade, seja quando ajudam a gerar políticas melhores, seja quando empoderam e qualificam atores, processos e interesses sociais de outra forma excluídos ou marginalizados. Embora tenham avançado muito em todo o País, as práticas e instituições participativas ainda têm estado muito restritas ao Poder Executivo. Sendo, reitere-se, fundamental a toda a República, e não apenas do Executivo, a participação social permanece como um princípio pouco explorado na organização dos demais poderes. A gestão dos Tribunais segue sendo feita sem nenhum procedimento de consulta ou legitimação popular – como Confe-
rências ou Audiências Públicas, hoje ao alcance de qualquer prefeitura –; e o Conselho Nacional de Justiça, órgão que tem como uma de suas principais atribuições a indução de políticas judiciárias de caráter nacional, se constituiu, afinal (e na contramão de tudo o que se observava no Executivo), como um conselho “de cúpula”, sendo formado por Presidentes de Tribunais Superiores e representantes da elite das carreiras jurídicas (Ministério Público e advocacia). A representação “dos cidadãos”, se é que se pode chamar assim, é feita de maneira indireta, com a indicação de representantes da Câmara e do Senado, sobre a qual, por sua vez, inexiste qualquer forma de controle social. Como, porém, ocorreu com a própria participação em sentido mais amplo, esse avanço não se dará sem pressões do maior interessado na democratização desse Poder: o povo. SILVA, Fabio de Sá. Participação social e reforma da Justiça. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Participacao-social-ereforma-da-justica/4/31838>. Acesso em: 7 set. 2015. Adaptado.
Considerando-se a leitura dos textos motivadores e suas reflexões sobre o tema, escreva uma dissertação argumentativa, em norma-padrão da língua portuguesa, posicionando-se contra ou a favor de projetos de participação do povo, através de Conselhos, Plebiscitos, Mesas de Diálogo, Conferências ou Audiências Públicas, nos três poderes do sistema de governo brasileiro, avaliando se o presidencialismo favorece ou não a participação popular. 05. (ESPM SP) Paradoxo da escolha – ter mais opções para escolher é realmente bom? Temos sempre a sensação incômoda de que aquele produto que escolhemos, dentre centenas de opções, deveria ser o produto perfeito. Mas sempre nos damos conta de que não era. E isso gera um certo grau de insatisfação, causado pelo excesso de itens, modelos, opcionais etc, no mercado. (...) Quanto mais soterrados estivermos de opções para escolher, mais emocionais se tornarão nossas decisões, com bases em marcas, recomendações, slogans marcantes, lembranças afetivas etc. Em meio a uma tomada de decisão mais complicada, dada a enorme variedade de itens à escolha, nosso lado racional acaba ficando em segundo plano. (...) Quantos smartphones você conhece que têm 90% das funções similares? Escolher está cada vez mais difícil. Barry Schwartz. O paradoxo da escolha.
PROPOSTA Com base nas informações do texto e em outras de seu conhecimento sobre o assunto, elabore um texto dissertativo que apresente considerações sobre a seguinte questão: Você concorda que ter muitas escolhas é pior para o consumidor ou acredita que ter muitas opções para escolher faz parte da evolução do mercado e da sistemática de tomada de decisão em sociedade?
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D02 Dissertação argumentativa I
de corromper o poder político. Assim, inserido no Estado liberal, favorece a opressão social e mantém o povo mais distante das soluções dos seus problemas. Favorece o acúmulo de poder e as barganhas por governabilidade. Assim, o poder de veto apresenta-se como forma de pressão aos parlamentares para servir de base governamental. Há de se repensar a forma de organização de governo, de modo a propiciar maior gerência estatal às necessidades fundamentais do ser humano que, através do sistema atual, está cada vez mais oprimido frente à desigualdade social e econômica.
Português
Exercícios Complementares 01. (FCM PB) Com a utilização das novas tecnologias que estão sendo disponibilizadas para a saúde, a medicina, futuramente, nem de longe lembrará a atual, e cada vez mais a ênfase da medicina se deslocará do seu foco tradicional da cura de doenças para o da prevenção. Logo, é necessário que o homem compreenda que o melhor caminho para a prevenção é a educação, através da qual cada um deve buscar o conhecimento, aprender um pouco mais de como cultivar hábitos de vida saudável, visitar seu médico regularmente, pois um aspecto fundamental é a avaliação médica periódica e principalmente seguir as recomendações dadas pelo profissional. E como bem diz um ditado popular: “prevenir é muito melhor que remediar.” (José Umbelino de Morais em http://drjoseumbelino.lib.med.br/p/10090/medicina+preventiva.htm)
A partir das informações apresentadas acima, produza um texto argumentativo sobre a importância da prevenção para a qualidade de vida das pessoas. 02. (FCM PB) Leia:
TEXTO I
GLASBERGEN. Disponível em: <http://www.glasbergen. com/education-cartoons/>. Acesso em: 07 ago. 2015.
TEXTO II Hoje temos no mundo digital um novo suporte, a tela do computador, e uma nova prática de leitura, muito mais rápida e fragmentada. Ela abre um mundo de possibilidades, mas também muitos desafios para quem gosta de ler e sobretudo para os professores, que precisam desenvolver em seus alunos o prazer da leitura. CHARTIER, Roger. Entrevista a Cristina Zahar. Revista Nova Escola, ed. 204, ago. 2007. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/roger-chartier-livros-resistirao-tecnologias-digitais610077.shtml>. Acesso em: 07 ago. 2015.
TEXTO III Necessitamos considerar a diferença entre informação e conhecimento. [...] Uma leitura crítica é a que desperta diferentes visões de mundo e da realidade e possibilita criar novos conhecimentos. A informação pasteurizada leva a uma sociedade homogênea, onde o pensar não cria, mas reproduz e copia. FALLA, Zoara. Leituras dos “retratos”: o comportamento leitor do brasileiro. In: AMORIM, Galeno (Org.). Retratos da leitura no Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial; Instituto Pró-livro, 2008. (https://www.google.com.br/)
D02 Dissertação argumentativa I
A partir da leitura da charge, construa um texto argumentativo sobre o seguinte questionamento: As novas tecnologias estão afetando as relações familiares? 03. (Puc MG) A partir da leitura dos textos da proposta, redija um artigo de opinião para o jornal da universidade sobre o seguinte recorte temático: “Os desafios da leitura digital: entre o excesso de informação e a produção de conhecimentos” Em sua produção escrita, você deverá assumir a posição de um estudante universitário para contemplar aspectos positivos e negativos da leitura em ambientes digitais, apresentando argumentos que sustentem e deixem claro seu ponto de vista sobre o tema.
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Texto comum às questões 04 e 05 Obesidade infantil: crianças acima do peso vão viver menos que seus pais Má alimentação cria expectativa de vida mais baixa que a das gerações anteriores, diz médica Marcella Franco
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
— Eles fingem oferecer produtos mais saudáveis ao mudar um único elemento na receita, de modo que não se trata de uma mudança significativa. Acontece que as empresas dependem do abuso de sal, açúcar e gordura para tornar seus produtos mais convenientes, irresistíveis e baratos, então não vão desistir desta fórmula.
FRANCA, Marcella. Disponível em <http://noticias.r7.com/saude/obesidade-infantil-criancas-acimadopeso-vao-viver-menos-que-seus-pais-15082015> Acesso em 10.set.2015. Adaptado.
Seu trabalho será avaliado de acordo com os seguintes critérios: espírito crítico, adequação do texto ao desenvolvimento do tema, estrutura textual compatível com o tipo de texto proposto e emprego da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Importante: redija seu texto a tinta, no espaço a ele destinado. O rascunho não será considerado. Será desclassificado o candidato que tirar zero na redação. 04. (Unicesumar SP) Após a leitura da matéria aqui apresentada e com base em seus conhecimentos, você deverá escrever um texto dissertativo-argumentativo, concordando ou não com as ideias do jornalista Michael Moss sobre o que ele chama de “Lavagem Saudável” e suas implicações no futuro das crianças. 05. (Unicesumar SP) Com base na leitura da matéria apresentada, escreva um texto para o jornal da sua escola, conscientizando alunos e seus responsáveis em relação ao problema da obesidade infantil. 06. (ESPM SP) Uma das consequências involuntárias da revolução informática foi a fragilização das fronteiras entre o público e o privado, confundindo-se ambos num happening em que todos somos ao mesmo tempo espectadores e atores, em que nos exibimos reciprocamente, ostentando nossa vida privada e nos divertindo observando a alheia, num strip tease generalizado no qual nada ficou a salvo da mórbida curiosidade. Mario Vargas Llosa
PROPOSTA Com base nas informações do texto e em outras de seu conhecimento sobre o assunto, elabore um texto dissertativo que apresente considerações acerca da relação público/privado nas redes sociais. 789
D02 Dissertação argumentativa I
No café da manhã, suco de caixinha. No almoço, lasanha congelada. De lanche, um salgadinho e, para o jantar, macarrão instantâneo. O que era para ser apenas uma alternativa conveniente e esporádica acabou se tornando rotina nas mesas de famílias pelo mundo todo — e a praticidade agora cobra seu preço. Enquanto a expectativa de vida aumentou entre as últimas gerações, as crianças de hoje em dia provavelmente viverão menos do que seus pais. E muito da culpa será, justamente, das comidas industrializadas e fast-foods. O alerta é da coordenadora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, doutora Zuleika Halpern, que classifica como epidemia os atuais números da obesidade no Brasil. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em parceria com o Ministério da Saúde, uma em cada três crianças de cinco a nove anos está acima do peso recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A pesquisa é de 2009 e, em comparação com os números de 1974, o registro do excesso de peso na infância triplicou, passando de 9,7% para 33,5%. A projeção para 2025 é de que a quantidade de crianças obesas chegue a 75 milhões, caso nenhuma providência seja tomada. (...) A criança consome o que os adultos oferecem, ela se senta à mesa e vai comer o que tem. Vivemos em uma época em que as pessoas trabalham mais, e ninguém tem tempo de cozinhar. A pessoa entra no mercado, compra vários pacotes, põe a criança na frente da TV, dá um pacote e vai fazer outra coisa. A crise da obesidade tem vários componentes, mas, sem dúvida nenhuma, se houvesse uma oferta de alimentos prontos mais saudáveis, seria uma boa ajuda para os pais. (...) Para mostrar de que maneira chegamos à epidemia da obesidade e a hábitos alimentares tão prejudiciais à saúde, o jornalista vencedor do prêmio Pulitzer, Michael Moss, escreveu o livro Sal, Açúcar, Gordura, lançado no Brasil em 2014 pela editora Intrínseca. A publicação se baseia em uma extensa pesquisa envolvendo as grandes companhias de alimentos multinacionais, laboratórios e cientistas, e aponta que, na guerra pela conquista dos consumidores, vale tudo, até mesmo apelar para o abuso dos três ingredientes que dão título ao livro, e para estratégias comerciais tão agressivas quanto eram as da indústria do tabaco, antes deste tipo de propaganda ter sua veiculação proibida. “Lavagem saudável” Ao perceber que, com a divulgação da epidemia de obesidade que se alastra pelo mundo, uma parcela dos consumidores se tornou mais consciente e passou a buscar alimentos processados com reduzidos teores de sal, açúcar e gordura, os fabricantes deram, então, início à produção de itens dentro desta nova necessidade. Moss, no entanto, acredita que a iniciativa não passa de uma tentativa de dar uma nova roupagem a produtos praticamente iguais aos que já existiam, em um processo que ele chama de “lavagem saudável”.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D03
ASSUNTOS ABORDADOS
DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA II
n Dissertação argumentativa II
Conforme aprendemos na aula passada, a estrutura da dissertação argumentativa é a seguinte:
n Desenvolvimento n Conclusão
n
n Estrutura do texto dissertativo-argumentativo
n n n
Título; Introdução; Desenvolvimento; Conclusão.
Nós já estudamos como elaborar um bom título e escrever a introdução de seu texto. Na aula de hoje, focaremos nosso estudo no desenvolvimento e na conclusão.
Desenvolvimento Nosso estudo agora se direciona para a parte mais exigente da dissertação: o desenvolvimento. Sem dúvidas, ele é o centro das atenções, a parte que mais atenção recebe nos critérios de avaliação. Por isso, é fundamental que você saiba como fazer um bom desenvolvimento para garantir uma excelente nota. O desenvolvimento, apesar de ser interdependente do parágrafo introdutório de seu texto, não é uma continuidade da introdução, pois trata-se do momento em que a tese, exposta no primeiro parágrafo, será fundamentada por meio de argumentos sólidos, que convençam o leitor. Nesse sentido, evite começar o primeiro parágrafo do desenvolvimento com as seguintes expressões: n
Por causa disso; baseado nisso; pensando isso; dessa maneira; entre outras.
Essas expressões denotam continuidade do parágrafo anterior. No entanto, o foco da parte inicial do texto e do desenvolvimento são diferentes. Trata-se de parágrafos interdependentes com objetivos distintos. Veja: n n
Introdução: o objetivo é expor a tese. Desenvolvimento: o objetivo é fundamentar a tese já exposta no parágrafo anterior.
O número de parágrafos que compõem o desenvolvimento varia entre dois e três, de acordo com o tamanho de sua introdução. O desenvolvimento de qualquer texto deve, sobretudo, explicar cada frase da introdução. Isso garante que seus textos tenham progressão semântica e que as ideias não se percam ao longo de seu raciocínio. O parágrafo de desenvolvimento segue esta estrutura: n n n
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Tópico frasal: uma frase que condensa a ideia de todo o parágrafo; Argumentos: fundamentação da opinião do autor. Desfecho: uma frase para concluir a fundamentação anterior.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
O parágrafo de conclusão tem como função principal a retomada da tese, o que significa que você terá que parafrasear, dizer com outras palavras, qual o seu ponto de vista a respeito da problemática exposta. Diferentemente da introdução, agora a tese retomada está validada pelos argumentos desenvolvidos nos parágrafos anteriores. Em geral, essa parte do texto é iniciada por elementos coesivos conclusivos, como as conjunções e locuções conjuntivas: logo, portanto, desse modo, nesse sentido, entre outras. Além da retomada da tese, a conclusão do texto dissertativo deve apresentar uma perspectiva futura, uma visão do autor acerca da extensão da problemática abordada, mostrando quais efeitos sentirá a sociedade se os problemas persistirem ou desaparecerem. É importante revelar esse lado, uma vez que demonstra que seus argumentos estão inseridos na realidade social. Outro fator interessante presente em muitas dissertações é a proposta de intervenção. Essa modalidade conclusiva é exigida pela banca do Enem. No entanto, não são todos os exames vestibulares que solicitam essa proposta. Por isso, fique atento aos editais de cada prova. Nós dedicaremos, na próxima aula, uma atenção especial às propostas de intervenção modelo Enem.
Estrutura do texto dissertativoargumentativo Veja abaixo o exemplo que aborda o seguinte tema: O uso de smartphones e o convívio social no Brasil
Parágrafo de introdução Tome como exemplo este parágrafo de introdução que guiará o processo de elaboração do desenvolvimento da dissertação: Os smartphones são dispositivos de acesso à internet utilizados por quase toda a população brasileira. Contudo, seu uso não se restringe somente ao lazer e ao entretenimento, pois também são usados como ferramenta de trabalho. O principal aspecto positivo desses aparelhos é a facilidade de acesso ao conhecimento e à informação, além da rapidez na comunicação. No entanto, o mau uso desses telefones pode prejudicar os usuários de inúmeras formas. Nesse sentido, o que o caracteriza como benéfico ou maléfico para o convívio em sociedade não é o aparelho em si, e sim o usuário e o modo como ele o utiliza. Desse parágrafo introdutório, tiram-se estas afirmações: n
Tese: “Nesse sentido, o que o caracteriza como benéfico ou maléfico para o convívio em sociedade não é o aparelho em si, e sim o usuário e o modo como ele o utiliza.”
n
Ideia adjunta à tese para ser fundamentada I: “O principal aspecto positivo desses aparelhos é a facilidade de acesso ao conhecimento e à informação, além da rapidez na comunicação.”
n
Ideia adjunta à tese para ser fundamentada II: “No entanto, o mau uso desses telefones pode prejudicar os usuários de inúmeras formas.”
D03 Dissertação argumentativa II
Conclusão
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Português
Parágrafos de desenvolvimento O desenvolvimento da dissertação decorrente dessa introdução deve ser composto de, no mínimo, dois parágrafos que correspondam às ideias adjuntas à tese que precisam de fundamentação, isto é, que necessitam de argumentos para serem comprovadas. Ideia I: Aspectos positivos dos smartphones Dentre tantos aspectos positivos, o que mais se destaca entre os benefícios do uso de smartphones é o caráter de sua acessibilidade. É simples publicar e acessar conteúdos dos mais variados campos do conhecimento, o que representa um poder de acesso à informação nunca antes testemunhado na história tecnológica do mundo. Por meio desses aparelhos, o usuário pode encontrar grandes acervos de livros digitalizados, visitar páginas de conteúdos especializados e também acompanhar informações atualizadas por meio de grandes portais de notícia. Sendo assim, pode-se afirmar que o smartphone inaugurou uma nova geração e uma nova cultura, que é caracterizada pela globalização e pela acessibilidade universal da informação nunca vista antes. Desse parágrafo de desenvolvimento, tiram-se estas afirmações: n
n
n
Tópico frasal: “Dentre tantos aspectos positivos, o que mais se destaca entre os benefícios do uso de smartphones é o caráter de sua acessibilidade.” Argumentos: “É simples publicar e acessar conteúdos dos mais variados campos do conhecimento, o que representa um poder de acesso à informação nunca antes testemunhado na história tecnológica do mundo. Por meio desses aparelhos, o usuário pode encontrar grandes acervos de livros digitalizados, visitar páginas de conteúdos especializados e também acompanhar informações atualizadas por meio de grandes portais de notícia.” Desfecho: “Sendo assim, pode-se afirmar que o smartphone inaugurou uma nova geração e uma nova cultura, que é caracterizada pela globalização e pela acessibilidade universal da informação nunca vista antes.”
D03 Dissertação argumentativa II
Ideia II: Aspectos negativos dos smartphones A grande problemática dos smartphones, porém, é o fato de eles terem falhas que comprometem a segurança de seus usuários. Por estarem conectados à rede global e a diversas pessoas do mundo todo, alguns, com diferentes propósitos e objetivos, podem comprometer a segurança e a privacidade de quem usa. Esse fato é agravado ainda pela questão do ano-
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nimato, que facilita crimes como racismo, pedofilia, roubos de informações pessoais, falsas identidades e plágio. Além disso, a rede é vulnerável às ações de hackers, que são capazes de invadirem contas de empresas, de pessoas físicas e até mesmo do próprio governo. Tudo isso demonstra que os smartphones com acesso à internet, apesar de facilitarem o acesso à informação, exigem cautela por parte de seus usuários. Desse parágrafo de desenvolvimento, tiram-se estas afirmações: n
n
n
Tópico frasal: “A grande problemática dos smartphones, porém, é o fato de eles terem falhas que comprometem a segurança de seus usuários.” Argumentos: “Por estarem conectados à rede global e a diversas pessoas do mundo todo, alguns, com diferentes propósitos e objetivos, podem comprometer a segurança e a privacidade de quem usa. Esse fato é agravado ainda pela questão do anonimato, que facilita crimes como racismo, pedofilia, roubos de informações pessoais, falsas identidades e plágio. Além disso, a rede é vulnerável às ações de hackers, que são capazes de invadirem contas de empresas, de pessoas físicas e até mesmo do próprio governo.” Desfecho: “Tudo isso demonstra que os smartphones com acesso à internet, apesar de facilitarem o acesso à informação, exigem cautela por parte de seus usuários.”
Parágrafo de conclusão O parágrafo de conclusão deve apresentar duas ideias principais: a retomada da tese e uma síntese do texto como um todo. Veja o exemplo: Portanto, assim como todos os avanços tecnológicos, a internet pode trazer benefícios ou malefícios à sociedade e isso dependerá dos propósitos de quem a usa. Independente desse fato, é inegável dizer que a internet continuará presente no cotidiano das pessoas, influenciando a sociedade e moldando as características de nossa cultura. Desse parágrafo de desenvolvimento, tiram-se estas afirmações: n
n
Síntese do texto: “Portanto, assim como todos os avanços tecnológicos, a internet pode trazer benefícios ou malefícios à sociedade e isso dependerá dos propósitos de quem a usa. ” Retomada da tese: “Independente desse fato, é inegável dizer que a internet continuará presente no cotidiano das pessoas, influenciando a sociedade e moldando as características de nossa cultura.”
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (UFRGS) Observe a charge abaixo.
Marco Aurelio. Zero Hora. 7 nov. 2015.
A charge faz referência à Feira do Livro de Porto Alegre. Na imagem, vê-se um grande número de pessoas, provavelmente visitantes, que não tiram os olhos de seus tablets e smartphones, o que sugere certa redução do protagonismo do livro, mesmo em uma feira de livros. O autor da charge apresenta seu ponto de vista sobre essa situação de uma perspectiva, sem dúvida, crítica, que pode ser inferida da expressão facial do livreiro. Essa questão adquire contornos mais complexos, se avaliada a partir da passagem abaixo, também recentemente publicada. [...] fiquei sabendo que a Amazon Books – a livraria on-line mais famosa do mundo – havia inaugurado sua primeira loja
“Das duas, uma: ou o livro permanecerá o suporte da leitura, ou existirá alguma coisa similar ao que o livro nunca deixou de ser, mesmo antes da invenção da tipografia. As variações em torno do objeto livro não modificaram sua função, nem sua sintaxe, em mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor que uma colher [...]. O livro venceu seus desafios e não vemos como, para o mesmo uso, poderíamos fazer algo melhor que o próprio livro. Talvez ele evolua em seus componentes, talvez as páginas não sejam mais de papel. Mas ele permanecerá o que é.” ECO, Umberto; CARRIÈRE, Jean-Claude. Não contem com o fim do livro. Trad. André Telles. Rio de Janeiro-São Paulo: Record, 2010. p. 14.
A partir da leitura dos textos e considerando que, atualmente, discute-se, de diferentes pontos de vista, o futuro do livro no mundo contemporâneo, escreva um texto dissertativo sobre o tema abaixo. O livro na era da digitalização do escrito e da adoção de novas ferramentas de leitura 02. (Unifor CE) A partir da análise dos textos, redija um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, de, no mínimo, 20 linhas e, no máximo, 30, na modalidade escrita formal da língua portuguesa, expondo o que você pensa sobre o assunto abordado e as questões que ele envolve. Apresente argumentos que deem sustentação ao ponto de vista que você adotou. Texto 1
física nos Estados Unidos. Depois de duas décadas de vendas pela internet, ameaçando a existência das livrarias tradicionais, a gigante do comércio eletrônico se instalou numa loja de shopping com os 6 mil títulos mais vendidos e mais bem avaliados no seu site. Ou seja: em vez do texto virtual, para os leitores digitais, ou da encomenda on-line, as pessoas poderão pegar o livro na mão, apertar como se fosse um tomate, folhear e cheirar à vontade, exatamente como o mais importante: poderão levar o produto com elas, abrir e consumir em qualquer lugar, sem necessidade de bateria, wi-fi ou 3G. Adaptado de: SOUZA, Nilson. Livros e tomates. Zero Hora. Segundo Caderno. 7 nov. 2015. p. 7.
Finalmente, e a título de informação suplementar, cabe lembrar a opinião de Umberto Eco e Jean- Claude Carrière, em um livro cujo título é sugestivo, Não contem com o fim do livro.
A fé que existe em mim respeita a fé que existe em você. www.facebook.com/ebomserdobem/photos
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D03 Dissertação argumentativa II
fazem os frequentadores da nossa feira porto-alegrense. E
Português
Texto 2 A intolerância religiosa no Brasil é um dos fatores que abrange uma grande discussão e um alto índice de preconceito, não apenas no País, mas em outros lugares também. Apesar de ser um direito constitucional que todos têm o livre arbítrio de escolher qual religião seguir ou em que acreditar, ainda existem casos horrendos envolvendo intolerância às religiões, o que se percebe nesses atos é que a maioria deles tem sido contra as religiões de origem africana como o candomblé, de religiões islâmicas e muçulmanas. Fonte: Chocolate. Disponível em www.projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/a-intolerancia-religiosa-no-brasil/ cada-um-na-sua/33612
03. (Unifor CE) Texto 1 Você conhece as regras de trânsito da ciclovia? Saiba mais e evite acidentes A maioria dos problemas que acontecem resultam da falta de senso comum de quem está se exercitando. Caminhantes, corredores e ciclistas devem saber se comportar. As ciclovias vêm aumentando de tamanho, principalmente nas maiores cidades do País. É claro que ainda precisamos melhorar muito e cobrar dos que nos representam. Mas, muitas vezes, os problemas e os acidentes que ali acontecem resultam da falta de senso comum de quem está se exercitando, não da qualidade da ciclovia. Se você pratica caminhada, vá para o canto direito da faixa da ciclovia, deixe o lado esquerdo livre para corredores e ciclistas. Se o espaço físico permitir, caminhe do lado de fora da ciclovia, no calçadão da praia, por exemplo. Talvez não seja uma boa ideia levar crianças em triciclos ou patinetes nos horários de pico. Às vezes, elas mudam de direção repentinamente e isso pode acabar machucando alguém. VOCÊ CONHECE OS DIREITOS E DEVERES DO CICLISTA? Se você é corredor, a regra da direita vale também. Corra o tempo todo no canto direito da faixa e, quando for ultrapassar alguém, olhe para trás para ver se não vem ninguém, passe pela esquerda e volte para o lado direito, permaneD03 Dissertação argumentativa II
cendo ali até a próxima ultrapassagem. Deixe sempre o lado
conta de todo mundo. O maior toma conta do menor. Se em um determinado momento não der para ultrapassar alguém a pé, você que deve reduzir e esperar para ultrapassar. Nada de ficar berrando “esquerda” ou tirar fino, você não tem a prioridade! E mais, se o seu negócio é treinamento de ciclismo e desempenho, você nem deveria estar ali, a ciclovia é um lugar para ciclistas comuns e não de competição. Tem que usar: luva, capacete e óculos. Importante lembrar: a maior parte dos acidentes mais sérios envolve bike. (LUZ, Gustavo. Você conhece as regras de trânsito da ciclovia? Saiba mais e evite acidentes. Globo.com, Eu Atleta, Rio de Janeiro, 28 mar. 2016. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/treinos/noticia/2016/03/voce-conheceregras- de-transito-da-ciclovia-saiba-mais-e-evite-acidentes.html>. Acesso em: 5 abr. 2016.)
Texto 2 Ciclovias representam apenas 1% da malha viária das capitais no Brasil Em meio à crescente frota de automóveis nas grandes cidades do País, as bicicletas lutam para conquistar espaço. Levantamento feito pelo G1 junto às prefeituras das 26 capitais do Brasil mostra que, juntas, elas possuem 1 118 km de ciclovias – o que representa apenas 1% do total da malha viária das cidades (97.979 km de ruas). O Brasil tem hoje cerca de 70 milhões de bicicletas, mas quase não há lugares exclusivos e seguros para se trafegar, especialmente nas metrópoles. Para o especialista em mobilidade Alexandre Delijaicov, da Universidade de São Paulo (USP), o problema é que não é dada prioridade a quem realmente precisa. “Mais de um terço das viagens no País é feita a pé, a maior parte por uma população que não tem dinheiro para se locomover. Não construir calçadas mais largas e ciclovias é um absurdo”, diz. O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) diz que há um estímulo ao uso do carro por todos os lados. “Trata-se de um urbanismo mercantilista, que só colabora para piorar a construção coletiva da coisa pública.” [...] (REIS, Thiago. Ciclovias representam apenas 1% da malha viária das capitais no país. Globo.com, São Paulo, 24 mar. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/ brasil/noticia/2014/03/ciclovias-representam-apenas-1-da-malhaviaria- das-capitais-no-pais.html>. Acesso em: 5 abr. 2016.)
esquerdo livre para quem vem mais rápido. Correr com os
Redija um texto dissertativo-argumentativo, na modalida-
amigos é uma ótima opção de diversão, mas tenha o cuida-
de escrita formal da língua portuguesa, de, no mínimo, 20
do de nunca fechar a pista. Se vai fazer treino intervalado e
linhas e, no máximo, 30, sobre o tema CICLOVIAS E MOBILI-
prefere descansar parado, faça-o fora da ciclovia, se possí-
DADE URBANA NO BRASIL. Selecione, organize e relacione,
vel. E não vale ficar estressado porque alguém atrapalhou
de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defe-
o seu ritmo de 3’30”/km, ali é um espaço comum, há horas
sa de seu ponto de vista.
em que não dá para correr muito rápido. Você que deve escolher um horário mais vazio. 794
Se sua preferência é pela bicicleta, você que tem que tomar
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares 01. (FPS PE) Nas últimas semanas, o Brasil foi palco de uma discussão em torno da liberação de um novo medicamento de combate ao câncer, o que suscitou divergências entre algumas instituições públicas. Isso nos leva a ponderar sobre as pesquisas e a liberação de medicamento para o consumo, como se pode constatar na notícia abaixo: “As liminares de 742 pacientes que lutavam pelo tratamento foram suspensas desde o fim do mês passado quando o TJ-SP entendeu que, por não ter sido testada oficialmente em humanos, a substância não tinha efeito comprovado no combate ao câncer. Na quinta-feira (8), o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a liberação do composto para uma paciente do Rio de Janeiro e, no dia seguinte, TJ-SP reconsiderou a primeira decisão e as liminares voltaram a valer.”
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU número 12 diz: “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”. As metas incluem reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial; alcançar o manejo ambientalmente saudável dos produtos químicos e todos os resíduos; e reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso; entre outros. https://nacoesunidas.org/tema/ods12/
http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/10/comfilas-usp-distribui-senhas-para-fornecer-substancia-contra-ocancer. html. Acessado em 17/11/2015
02. (Ibmec SP) Considere os excertos a seguir para desenvolver uma dissertação em prosa. O universo midiático, muitas vezes, interfere nos hábitos das pessoas que nele veem o sinônimo de felicidade. Com isso sempre estão buscando ter e comprar tudo aquilo que veem na mídia. O consumista compulsivo sempre está infeliz. Quanto mais compra, mais quer comprar. Muitas vezes, não tem recursos para tal consumo, o que o deixa irritado e depressivo. http://goo.gl/7jvavS
Consumo e produção responsáveis
http://goo.gl/sN3WDg
Conforme indicado nas folhas de rascunho e de redação, utilize o próprio tema como título de sua dissertação. Tema: Consumo na sociedade moderna: entre a necessidade e a vaidade 03. (Ibmec SP) Considere os excertos a seguir para desenvolver uma dissertação em prosa.
O Estado de S. Paulo, 23/11/2014
Imagine o seu próprio funeral. Como ele será? Quem estará lá? O que as pessoas dirão? Você deve imaginá-lo de sua perspectiva, como se ainda estivesse lá observando os acontecimentos, a partir de um lugar específico, talvez de cima, ou numa cadeira perto de quem sofre sua perda. Ora, algumas pessoas acreditam na forte possibilidade de que, depois da morte, sobrevivemos ao corpo físico como uma espécie de espírito que talvez seja capaz de ver o que acontece neste mundo. Porém, para aqueles de nós que acreditam que a morte é o final, há um verdadeiro problema nisso. Toda vez que tentamos imaginar que não estamos mais neste mundo, nós o fazemos imaginando que estamos lá, observando o que acontece enquanto lá não estamos.
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D03 Dissertação argumentativa II
Inspirado nos fatos expostos no texto acima, elabore um comentário no qual você desenvolva o tema sugerido a seguir. Apresente argumentos que sustentem o ponto de vista que você defende. Dê um título a seu texto. Existem limites para pesquisas na área da saúde? Ou, há uma ética que governa os experimentos científicos empreendidos nessa área?
Português
Quer você consiga ou não imaginar sua própria morte, parece bastante natural sentir ao menos um pouco de medo da não existência. Quem não temeria a própria morte? Se há de existir algo que nos deixe aflitos, certamente é a morte. Parece perfeitamente razoável nos preocuparmos em não existir, mesmo que isso venha a acontecer daqui a muitos anos. É algo instintivo. A grande maioria das pessoas já pensou seriamente sobre isso.
O desinteresse pelo chamado bem do povo, conceito amplo demais que cada um pode usar a seu favor, fundamenta o mais longo dos capítulos do livrinho [referência ao livro “Paisagem
WARBURTON, N. Uma Breve História da Filosofia. Tradução de Rogério Bertoni. 2ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2012, Cap. 4, ps. 22-27.
balho poderia ser realizado? Aliás, a troca de ministros nestes dias é um assombro: poucos têm preparo específico para sua
Conforme indicado nas folhas de rascunho e de redação, utilize o próprio tema como título de sua dissertação. Tema: Perspectivas de vida: viver o agora ou se preparar para o futuro?
pasta, mas correspondem a interesses do governo. A um deles,
04. (IF CE) Início de 2016 já tem recorde de imigração à Europa Mais de 45 mil imigrantes chegaram à Europa durante 2016, cifra 31 vezes superior à registrada em todo o mês de janeiro de 2015, advertiu a Organização Internacional para as Migrações (OIM). A nota, que aponta uma agudização da crise de refugiados, divulgou que nove em cada 10 imigrantes procedem da Síria, Iraque ou Afeganistão, nações castigadas por conflitos armados. A OIM informou que mais de 150 pessoas morreram enquanto tentavam atingir a costa do continente, o dobro das mortes notificadas em janeiro do ano passado. Assim se confirma a continuidade da problemática migratória que marcou 2015, com a chegada de mais de um milhão de refugiados à Europa. Enquanto a União Europeia (UE) continua sem poder coordenar uma resposta conjunta e eficaz ao fenômeno, mais de 60 organizações humanitárias reclamaram fundos à comunidade internacional para empregar no gerenciamento da crise [...] Por outro lado, o chamado grupo de Visegrado, integrado por Hungria, Polônia, República Checa e Eslováquia, se reunirá em 15 de fevereiro para abordar a questão dos imigrantes, dias antes do Conselho Europeu, quando também se tratará o tema. O quarteto se destaca por sua postura reacionária sobre receber imigrantes e a demanda de reforçar as fronteiras exteriores da UE com o fim de reduzir a entrada dos refugiados ao espaço comunitário.
D03 Dissertação argumentativa II
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/275498-9
Após fazer a leitura do texto acima e levando em consideração toda a cobertura da mídia a respeito da crise migratória que vem se intensificando no continente europeu desde o ano passado, redija um texto dissertativo-argumentativo na norma culta da língua portuguesa sobre o tema: Os desafios da Europa para lidar com o fluxo atual de imigrantes. Organize fatos e argumentos que defendam a sua opinião, abordando o modo como os europeus, tendo em vista o respeito aos direitos humanos, devem trabalhar a fim de minimizar a crise dos refugiados. 05. (Uniube MG) Leia o texto abaixo, extraído da crônica Dor e amor pelo Brasil, escrito pela colunista Lya Luft e publicado na revista VEJA: 796
Brasileira”, da autora, publicado recentemente]: a educação. Que, no Brasil deste momento, está relegada a um plano muito remoto e desimportante. Só nos últimos nove meses, mudou-se três vezes o ministro dessa pasta importantíssima: que tra-
indagado como faria se seu ministério não era de sua especialidade, teria sido dado o comando: “Vai tocando, vai tocando”. (...) Há momentos em que minha esperança se reacende e se afirma, porque vejo que ainda somos uma democracia (...). Mas multiplicam-se (...) tratativas e comércio de troca de favores, cada dia mais assustadores – e então minha esperança mais uma vez treme. Revista Veja. 14 out. 2015, p.22.
Redija uma dissertação argumentativa abordando a importância do preparo intelectual, cultural e técnico de pessoas que ocupam e exercem cargos e funções governamentais, a fim de que esse exercício não aconteça de improviso, mas com segurança e competência, para assegurar o progresso e o respeito de uma nação. 06. (Uniube MG) Leia o texto abaixo, escrito pelo sacerdote e filósofo uberabense Juvenal Arduini: Medicina é diálogo. Os homens manifestam intensa necessidade de diálogo. As grandes confidências, porém, não se fazem em praças públicas ou em solenes assembleias. Os diálogos vitais desenrolam-se no recesso dos consultórios. É ali que os seres humanos abrem a consciência, banhada de lágrimas, e entregam às mãos do médico o segredo terrível que foi carregado durante muito tempo, como verme roedor, não por prazer mas porque não podia ser atirado à beira da estrada, porque o problema pessoal acaba sendo um pedaço da própria existência humana. A partir desse momento, o médico adquire impressionante densidade, torna-se um ser misterioso, porque carrega dentro de si, o destino de seus irmãos. Aqueles que lhe confidenciaram segredos, acreditam nele. Torna-se objeto de fé. Muitos se sentem mais seguros pelo que confiaram ao médico do que pelo que guardavam dentro de si mesmos. Aí está um aspecto transcendental da vocação médica. ARDUINI, Juvenal. Homem-libertação. São Paulo: Paulinas, 1972, p. 112.
Redija uma dissertação argumentativa abordando o sentido social e humano do exercício da medicina, fundado na importância da interação pessoal entre o médico e seus pacientes como um dos fatores de cura.
FRENTE
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PORTUGUÊS
MÓDULO D04
DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA: ENEM Entre todas as dificuldades dos estudantes que prestam o Enem, o tempo é sempre o maior obstáculo. Muitos candidatos se atrapalham na hora de escrever a redação, uma vez que acabam perdendo muito tempo para conseguir estruturar o texto, organizar as ideias, escrever, reler e, enfim, passá-lo a limpo. Nesse momento, é preciso que você, estudante, tenha uma estratégia para economizar tempo e fazer toda a prova com tranquilidade. Para isso, aqui vai uma dica de estratégia fundamental: faça um projeto de texto. No ano passado, nós aprendemos que para escrever uma dissertação argumentativa modelo Enem é preciso que você organize seu projeto textual nos seguintes passos:
ASSUNTOS ABORDADOS n Dissertação argumentativa: Enem n Estrutura da dissertação exigida pelo Enem n Introdução n Desenvolvimento n Conclusão
Introdução 1. Tese: aqui, após ler a proposta de redação, você deve escrever sua opinião. É a parte mais importante, pois, a partir da tese, se seguirão os argumentos que comporão o seu texto. 2. Repertório sociocultural: trata-se de uma habilidade exigida pelo Enem, a qual se constitui em trazer informações de outras áreas do conhecimento. Essas informações devem se articular com o tema.
Desenvolvimento 1. Argumento I: é o primeiro parágrafo de argumentação. Aqui você, estudante, deve organizar os seus argumentos e listá-los de maneira que, no texto, você os desenvolva. Tais argumentos devem reforçar o que foi escrito na tese. 2. Argumento II ou contra-argumento: é o segundo parágrafo de argumentação, o qual, junto ao parágrafo anterior, compõe o seu desenvolvimento. Nele, podem-se conter mais argumentos que reafirmem a sua tese, ou também, a desconstrução de argumentos contrários à sua ideia, isto é, a contra argumentação.
Conclusão 1. Síntese: agora você já está finalizando o seu texto, e no início do parágrafo de conclusão você deve, sucintamente, retomar a sua tese. Nessa parte do texto, você deve ser bem sintético. 2. Proposta de intervenção: no restante do parágrafo de conclusão, você deve organizar a proposta de intervenção para solucionar a problemática levantada no início de sua redação. É a parte mais delicada do texto.
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Português
Estrutura da dissertação exigida pelo Enem
Introdução Nas primeiras linhas do seu parágrafo de introdução, é preciso que o leitor já possa identificar o tema sobre o qual o texto trata. Fique atento a essa informação, pois fuga ao tema é motivo para zerar a redação. Feito isso, é necessário que você problematize o tema e o contextualize à realidade da sociedade brasileira. Nesse ponto, é exigido do candidato capacidade de relacionar o tema a conhecimento de mundo e de outras áreas, o que constitui um repertório sociocultural. Por fim, é o momento de você dar a sua opinião acerca desse tema e da problemática proposta: elaborar uma tese. Veja a seguir o parágrafo introdutório da redação “Parte desfavorecida” que recebeu nota 1 000:
SAIBA MAIS
D04 Dissertação argumentativa: Enem
ÉMILE DURKHEIM David Émile Durkheim (1858- 1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês. Formalmente, criou a disciplina acadêmica da sociologia e, com Karl Marx e Max Weber, é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e pai da sociologia.
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De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um “corpo biológico” por ser, assim como esse, composta por partes que interagem entre si. Desse modo, para que esse organismo seja igualitário e coeso, é necessário que todos os direitos dos cidadãos sejam garantidos. Contudo, no Brasil, isso não ocorre, pois em pleno século XXI as mulheres ainda são alvos de violência. Esse quadro de persistência de maus tratos com esse setor é fruto, principalmente, de uma cultura de valorização do sexo masculino e de punições lentas e pouco eficientes por parte do Governo. (Anna Beatriz Alvares Simões Wreden) n n
n
Identificação do tema: “Contudo, no Brasil, isso não ocorre, pois em pleno século XXI as mulheres ainda são alvos de violência.” Repertório sociocultural: “De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um “corpo biológico” por ser, assim como esse, composta por partes que interagem entre si.” Tese (opinião): “Esse quadro de persistência de maus tratos com esse setor é fruto, principalmente, de uma cultura de valorização do sexo masculino e de punições lentas e pouco eficientes por parte do Governo.”
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Desenvolvimento
Conclusão
Nos parágrafos de desenvolvimento de sua dissertação, é preciso que você valide e sustente sua tese apresentada na introdução por meio de argumentos consistentes. Trata-se do momento de justificar, demonstrar, provar as declarações feitas no parágrafo anterior. O desenvolvimento deve ser marcado pela progressão, uma vez que o texto deve ser construído de forma que vá apresentando novas informações, claras e pertinentes.
Na conclusão da dissertação modelo Enem é exigida uma proposta de intervenção. Para receber nota máxima na competência 5, que avalia esse tipo de habilidade, é preciso:
Ademais, além de expor os fatos que ratifiquem sua tese, é importante que você também apresente argumentos contrários e aponte por que, de acordo com sua ideia, eles não são verdadeiros. Afinal, dissertação não é um artigo de opinião, o que significa que as opiniões contrárias também devem ser consideradas. Veja a seguir os parágrafos de desenvolvimento: Ao longo da formação do território brasileiro, o patriarcalismo sempre esteve presente, como por exemplo na posição do “Senhor do Engenho”, e consequentemente foi criada uma noção de inferioridade da mulher em relação ao homem. Dessa forma, muitas pessoas julgam ser correto tratar o sexo feminino de maneira diferenciada e até desrespeitosa. Logo, há muitos casos de violência contra esse grupo, em que a agressão física é a mais relatada, correspondendo a 51,68% dos casos. Nesse sentido, percebe-se que as mulheres têm suas imagens difamadas e seus direitos negligenciados por causa de uma cultura geral preconceituosa. Sendo assim, esse pensamento é passado de geração em geração, o que favorece o continuismo dos abusos.
1) Retomar a tese, apresentando uma síntese dos argumentos desenvolvidos ao longo do texto. 2) Apresentar a proposta de intervenção. 3) Apresentar o(s) responsável(is) pela realização da proposta (Governo, ONU, ONGs, sociedade etc.) 4) Apresentar quando, onde e em quais circunstâncias a proposta deve ser cumprida. 5) Apresentar o porquê de ela ser propositiva para a solução da problemática. 6) Apontar as consequências da implementação dessa ideia. A seguir, há o parágrafo de conclusão da redação nota 1 000 que estamos analisando. Leia-a com atenção:
(Anna Beatriz Alvares Simões Wreden)
(Anna Beatriz Alvares Simões Wreden) D04 Dissertação argumentativa: Enem
Além dessa visão segregacionista, a lentidão e a burocracia do sistema punitivo colaboram com a permanência das inúmeras formas de agressão. No país, os processos são demorados e as medidas coercitivas acabam não sendo tomadas no devido momento. Isso ocorre também com a Lei Maria da Penha, que entre 2006 e 2011 teve apenas 33,4% dos casos julgados. Nessa perspectiva, muitos indivíduos ao verem essa ineficiência continuam violentando as mulheres e não são punidos. Assim, essas são alvos de torturas psicológicas e abusos sexuais em diversos locais, como em casa e no trabalho.
A violência contra esse setor, portanto, ainda é uma realidade brasileira, pois há uma diminuição do valor das mulheres, além do Estado agir de forma lenta. Para que o Brasil seja mais articulado como um “corpo biológico” cabe ao Governo fazer parceria com as ONGs, para que elas possam encaminhar, mais rapidamente, os casos de agressões às Delegacias da Mulher e o Estado fiscalizar severamente o andamento dos processos. Passa a ser a função também das instituições de educação promoverem aulas de Sociologia, História e Biologia, que enfatizem a igualdade de gênero, por meio de palestras, materiais históricos e produções culturais, com o intuito de amenizar e, futuramente, acabar com o patriarcalismo. Outras medidas devem ser tomadas, mas, como disse Oscar Wilde: “O primeiro passo é o mais importante na evolução de um homem ou nação”.
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC)
um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
Jornal Zero Hora, 2 mar. 2006.
Na criação do texto, o chargista Iotti usa criativamente um intertexto: os traços reconstroem uma cena de Guernica, painel de Pablo Picasso que retrata os horrores e a destruição provocados pelo bombardeio a uma pequena cidade da Espanha. Na charge, publicada no período de carnaval, recebe destaque a figura do carro, elemento introduzido por lotti no intertexto. Além dessa figura a linguagem verbal contribui para estabelecer um diálogo entre a obra de Picasso e a charge, ao explorar a) uma referência ao contexto, “trânsito no feriadão”, esclarecendo-se o referente tanto do texto de Iotti quanto da
D04 Dissertação argumentativa: Enem
obra de Picasso. b) uma referência ao tempo presente, com o emprego da forma verbal “é”, evidenciando-se a atualidade do tema abordado tanto pelo pintor espanhol quanto pelo chargista brasileiro. c) um termo pejorativo, “trânsito”, reforçando-se a imagem negativa de mundo caótico presente tanto em Guernica quanto na charge. d) uma referência temporal, “sempre”, referindo-se à permanência de tragédias retratadas tanto em Guernica quanto na charge. e) uma expressão polissêmica, “quadro dramático”, remetendo-se tanto à obra pictórica quanto ao contexto do trânsito brasileiro. 02. (Enem MEC) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”,
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No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a a) construção de frases curtas, a fim de conferir dinamicidade ao texto. b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos. c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos. d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor. 03. (Enem MEC) Era um dos meus primeiros dias na sala de música. A fim de descobrirmos o que deveríamos estar fazendo ali, propus à classe um problema. Inocentemente perguntei: — O que é música? Passamos dois dias inteiros tateando em busca de uma definição. Descobrimos que tínhamos de rejeitar todas as definições costumeiras porque elas não eram suficientemente abrangentes. O simples fato é que, à medida que a crescente margem a que chamamos de vanguarda continua sua exploração pelas fronteiras do som, qualquer definição se torna difícil. Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições, ele ventila a arte da música com conceitos novos e aparentemente sem forma. SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991 (adaptado).
A frase “Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições”, na proposta de Schafer de formular uma nova conceituação de música, representa a a) acessibilidade à sala de concerto como metáfora, num momento em que a arte deixou de ser elitizada. b) abertura da sala de concerto, que permitiu que a música fosse ouvida do lado de fora do teatro. c) postura inversa à música moderna, que desejava se enquadrar em uma concepção conformista. d) intenção do compositor de que os sons extramusicais sejam parte integrante da música. e) necessidade do artista contemporâneo de atrair maior público para o teatro.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (Enem MEC) Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao cala-
da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
bouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o
Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica. 06. (Enem MEC) Óia eu aqui de novo xaxando Óia eu aqui de novo para xaxar
benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna. b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos. c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara. d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades. e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo. 05. (Enem MEC) O exercício da crônica Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através
Vou mostrar pr’esses cabras Que eu ainda dou no couro Isso é um desaforo Que eu não posso levar Que eu aqui de novo cantando Que eu aqui de novo xaxando Óia eu aqui de novo mostrando Como se deve xaxar Vem cá morena linda Vestida de chita Você é a mais bonita Desse meu lugar Vai, chama Maria, chama Luzia Vai, chama Zabé, chama Raque Diz que eu tou aqui com alegria BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www.luizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 maio 2013 (fragmento).
A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma característica do falar popular regional é: a) “Isso é um desaforo”. b) “Diz que eu tou aqui com alegria”. c) “Vou mostrar pr’esses cabras”. d) “Vai, chama Maria, chama Luzia”. e) “Vem cá morena linda, vestida de chita”.
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D04 Dissertação argumentativa: Enem
mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
Português
Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
No romance Grande sertão: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a) a) diário, por trazer lembranças pessoais. b) fábula, por apresentar uma lição de moral. c) notícia, por informar sobre um acontecimento. d) aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras. e) crônica, por tratar de fatos do cotidiano. 02. (Enem MEC) Quando Deus redimiu da tirania Da mão do Faraó endurecido O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Páscoa ficou da redenção o dia. Páscoa de flores, dia de alegria Àquele povo foi tão afligido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. Pois mandado pela alta Majestade Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade. Quem pode ser senão um verdadeiro Deus, que veio estirpar desta cidade O Faraó do povo brasileiro.
D04 Dissertação argumentativa: Enem
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por a) visão cética sobre as relações sociais. b) preocupação com a identidade brasileira. c) crítica velada à forma de governo vigente. d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. 03. (Enem MEC) Camelôs Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: O que vende balõezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro
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O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma. Alegria das calçadas Uns falam pelos cotovelos: – “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu acender o charuto. Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...” Outros, coitados, têm a língua atada. Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades. E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice... E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira. b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos. c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira. d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova. e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil. 04. (Enem MEC) Por onde houve colonização portuguesa, a música popular se desenvolveu basicamente com o mesmo instrumental. Podemos ver cavaquinho e violão atuarem juntos aqui, em Cabo Verde, em Jacarta, na Indonésia, ou em Goa. O caráter nostálgico, sentimental, é outro ponto comum da música das colônias portuguesas em todo o mundo. O kron-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
jong, a música típica de Jacarta, é uma espécie de lundu mais lento, tocado comumente com flauta, cavaquinho e violão. Em Goa não é muito diferente.
Texto II A PUBLICIDADE PARA CRIANÇAS NO MUNDO
De acordo com o texto de Henrique Cazes, grande parte da música popular desenvolvida nos países colonizados por Portugal compartilham um instrumental, destacando-se o cavaquinho e o violão. No Brasil, são exemplos de música popular que empregam esses mesmos instrumentos: a) Maracatu e ciranda. b) Carimbó e baião. c) Choro e samba. d) Chula e siriri. e) Xote e frevo. 05. (Enem MEC) A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 24 jun. 2014 (adaptado).
formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma
Texto III Precisamos preparar a criança, desde pequena, para receber as informações do mundo exterior, para compreender o que está por trás da divulgação de produtos. Só assim ela se tornará o consumidor do futuro, aquele capaz de saber o que, como e por que comprar, ciente de suas reais necessidades e consciente de suas responsabilidades consigo mesma e com o mundo.
padrão da língua portuguesa sobre o tema Publicidade infantil em questão no Brasil, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Texto i A aprovação, em abril de 2014, de uma resolução que con-
SILVA, A. M. D.; VASCONCELOS, L. R. A criança e o marketing: informações essenciais para proteger as crianças dos apelos do marketing infantil. São Paulo: Summus, 2012 (adaptado).
sidera abusiva a publicidade infantil, emitida pelo Conselho deu início a um verdadeiro cabo de guerra envolvendo ONGs de defesa dos direitos das crianças e setores interessados na continuidade das propagandas dirigidas a esse público. Elogiada por pais, ativistas e entidades, a resolução estabelece como abusiva toda propaganda dirigida à criança que tem “a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço” e que utilize aspectos como desenhos animados, bonecos, linguagem infantil, trilhas sonoras com temas infantis, oferta de prêmios, brindes ou artigos colecionáveis que tenham apelo às crianças. Ainda há dúvidas, porém, sobre como será a aplicação prática da resolução. E associações de anunciantes, emissoras, revistas e de empresas de licenciamento e fabricantes de produtos infantis criticam a medida e dizem não reconhecer a legitimidade constitucional do Conanda para legislar sobre publicidade e para impor a resolução tanto às famílias quanto ao mercado publicitário. Além disso, defendem que a autorregulamentação pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) já seria uma forma de controlar e evitar abusos. IDOETA, P. A.; BARBA, M. D. A publicidade infantil deve ser proibida? Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 23 maio 2014 (adaptado).
06. (Enem MEC) No Brasil, a origem do funk e do hip-hop remonta aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados pela black music americana, milhares de jovens encontravam nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se disseminando um estilo que buscava a valorização da cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido como Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso nos bailes, difundia a moda pelo restante do País. DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se como uma forma de a) lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas nas periferias urbanas. b) entretenimento inventada pela indústria fonográfica nacional. c) subversão de sua proposta original já nos primeiros bailes. d) afirmação de identidade dos jovens que a praticam. e) reprodução da cultura musical norte-americana.
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D04 Dissertação argumentativa: Enem
Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda),
FRENTE
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PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Uncisal AL)
02. (IF SC)
[...] Os trabalhos de Bispo do Rosário diversificam-se entre justaposições de objetos e bordados. Nos primeiros, utiliza geralmente utensílios do cotidiano da Colônia, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados; e materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados, usa os tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e consegue os fios desfiando o uniforme azul de interno. Prepara, com seus trabalhos, uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final. Nesse dia, se apresentaria a Deus, com um manto especial, como representante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome das pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Bispo faz também estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda desenhos, nomes de pessoas e lugares, frases com respeito a notícias de jornal ou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação das peças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que dizia ouvir. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10811/arthur-bispo-do-rosario>. Acesso em: 1 nov. 2016 (adaptado).
Artur Bispo do Rosário (1909-1989), artista diagnosticado com esquizofrenia-paranoide, construiu uma obra extensa, utilizando materiais dos mais prosaicos e variados, dentro da instituição psiquiátrica em que viveu por décadas. A partir do texto de referência, é correto afirmar que o trabalho desse artista a) dificilmente pode ser elencado no rol de práticas artísticas válidas, uma vez que faz uso de materiais precários e prosaicos. b) impõe uma revisão dos preceitos com que geralmente pensamos e apreciamos a arte, fazendo mesmo questionar os limites de sua definição. c) demonstra que, para realizar obra inovadora na contemporaneidade, é preciso o artista provocar atividades e estados mentais delirantes. d) exemplifica de forma expressiva a continuidade entre a arte contemporânea e o consumismo, dado que se utiliza de objetos como garrafas usadas. e) não pode ser considerado artístico, embora apresente elementos tradicionais das práticas artísticas, porque é fruto de uma mente em sofrimento psíquico. 804
O resto é silêncio Miriam Leitão*
Ouvi o silêncio e o que ele me disse foi devastador. O silêncio é pior do que as 2 palavras duras, porque é possível instalar nele todos os medos. É o nada e nele os 3 temores desenham fantasias que podem nos aprisionar. 4 Prefiro palavras e que elas explicitem o rancor e os ressentimentos, e que 5 façam cobranças, e que sejam implacáveis. O silêncio será pior porque ele é o terreno 6 do desconhecido, do que se imagina, e do que se teme. 7 Tente ficar em silêncio por mais tempo que o descanso e veja que ele 8 crescerá sobre você. Imagine o que é ser posto diante do silêncio: você e ele e nada 9 mais. Os minutos passam como se fossem horas. As horas imitam os dias. O tempo 10 se alonga, aprisiona e oprime. 11 Ele pode ser o som da calma, da paz e do descanso. Mas pense no silêncio 12 da pergunta sem resposta, do carinho não correspondido, do apelo sem clemência, 13 da ofensa deliberada, da correspondência que não chega. Pense no silêncio como o 14 avesso do diálogo, como um grande e vasto espelho no qual você vê suas 15 impossibilidades e seus erros. E a espera sem data. 16 Há silêncios libertadores. Ao fim de uma grande tensão, quando, em ambiente 17 acolhedor, você entrega seus ouvidos à calma. Há silêncios que aprisionam quando, 18 em ambiente hostil, você tenta inutilmente buscar os sons que informem e situem. 19 Bom é o silêncio que acolhe, acaricia e pacifica, mas tantas vezes é preciso lidar com 20 o que nega, inquieta, rejeita. 21 A noite apagou todos os sons, fez dormir as criaturas, acalmou o mundo, mas 22 você inquieto acorda insone e tem como companhia para os ouvidos, o nada. Você 23 vasculha o espaço em busca de algo e não há o que o socorra. É do que falo e o que 24 temo: o nada áspero, o nada negativo, o nada nada. Fuja desse silêncio, porque ele 25 desengana os apaixonados, inquieta os inseguros, adoece os aflitos. 26 Há o bom silêncio, como na manhã de um dia encapsulado no tempo, em que 27 o sol já iluminou a paisagem verde, você abre a janela sobre o vale, confere os 28 telhados terrosos e descansa os olhos sobre a amplitude. Talvez algum pássaro 29 emita um som, mas isso só vai confirmar a paz que cerca, acaricia, acalma. O mesmo 30 nada e abstrato pode ferir ou enternecer. Pode ser o descanso ou o desassossego. 31 Eu escolheria para oferecer aos amigos que tenho o melhor dos silêncios, o da 32 esperança da proteção contra os ruídos de um tempo sem trégua. E assim, juntos, 33 ficaríamos em silêncio calmo à espera do recomeço. 1
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
*Miriam Leitão é jornalista e escritora. Escreve crônicas aos sábados como colaboradora do Blog. Sábado, 27/08/2016, às 09:52,
Quanto ao gênero do texto, assinale a alternativa CORRETA. a) Trata-se de uma fábula em que a narradora narra suas próprias vivências em relação ao silêncio. b) Trata-se de uma notícia sobre o silêncio e sobre como as pessoas lidam com ele. c) É um artigo de opinião, pois a autora é uma jornalista. d) É uma resenha crítica, escrita em primeira pessoa, na qual a autora apresenta a defesa do seu ponto de vista por meio de argumentos e dados. e) Trata-se de uma crônica cujo assunto se contrapõe ao meio ambiente ruidoso em que vivemos. 03. (Fac. Santo Agostinho BA) I.
Procurar a ajuda de um doutor, quando se está doente, é ouvir o último grito do seu corpo pedindo para você prestar atenção nele. Os dias passam corridos, o trabalho demanda, a família solicita, os amigos atraem e o corpo fica esquecido. Para atender às necessidades laborais, trabalhamos horas sentados em frente ao computador. Jamais nos preocupamos com a postura que adotamos e, quando a dor vem, tomamos um analgésico. Se o sintoma se prolonga, procuramos um fisioterapeuta e achamos que estamos nos cuidando. Quando estamos ansiosos, tomamos ansiolíticos para nos acalmar e, se essa ansiedade evoluir para uma gastrite, vamos ao médico, fazemos os exames solicitados e tomamos medicações para atenuar a dor. O que venho aqui propor é uma nova forma de enxergar o cuidado com a saúde. É claro que, quando estamos doentes, precisamos procurar ajuda. Mas não devemos esperar os sintomas aparecerem para procurar médicos que possam nos auxiliar. Existe uma enorme oferta e diversidade de especialistas que apontam tratamentos para a prevenção, para o cuidado antes da doença. São profissionais que acreditam que nosso corpo é tão importante, que merece cuidado, sempre. A doença é a última chamada para se cuidar. Sugiro nos anteciparmos. Cuidar da saúde não é apenas tratar de doenças, é sim nem chegar a elas. CARDOSO, Helena. Cuidar da saúde ou tratar da doença? Disponível em: http:// www.saladeideias.com.br/texto_da_semana/cuidar-da-saude-outratar- da-doenca. Acesso em: 13.out.2015. Adaptado.
Com base nos textos apresentados, escreva uma dissertação-argumentativa, utilizando a norma culta da língua portuguesa, sobre o comportamento do povo brasileiro de não cuidar da saúde, preferindo tratar a doença. Documente seu texto com argumentos adequados e convincentes. Disponível em: https://www.google.com.br/search?q= doen%C3%A7a:. Acesso em 13.out.2015.
04. (Fatec SP) Texto 1
II.
<http://tinyurl.com/z77lmms> Acesso em: 07.03.2016. Adaptado. LEAL, Maria das Graças Sobreira. Diferença entre o tratar e o cuidar Disponível em: http://www.portaldoenvelhecimento.com/cuidados/item/3297- diferen%C3%A7a-entre-o-tratar-e-o-cuidar. Acesso em 13. out. 2015.
III. Cuidar da saúde ou tratar da doença? Cuidar da saúde costuma ser entendido como ir a médicos e fazer exames, quando se fica doente. Pouca gente identifica a sutileza que diferencia este tipo de cuidado com a saúde do zelo que venho agora destacar.
Texto 2 O novo profissional, autônomo, colaborativo, versátil, empreendedor, conhecedor de suas próprias vontades e conectado, é o que o mercado começa a demandar. O modelo tradicional de trabalho, que foi sonho de consumo de todo jovem egresso da faculdade nas últimas duas décadas, está ficando para trás. É a maior transformação desde que a Revolução Industrial, no século XVIII, mandou milhares de pessoas para as linhas de produção. <http://tinyurl.com/hogbwdc> Acesso em: 07.03.2016. Adaptado.
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FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
Nos últimos anos, acompanhamos um considerável crescimento na fundação e proliferação dos cursos de graduação tecnológica. Esses cursos possuem rápida duração, prometem foco em aspectos técnicos e práticos, custos menores em relação aos tradicionais cursos de graduação (bacharelados e licenciaturas) e maior objetividade, sendo adequados para a atual situação e exigências do mercado.
Português
A partir dessa coletânea, elabore um texto narrativo ou um texto dissertativo-argumentativo explorando o seguinte tema: A atuação do tecnólogo no atual mercado de trabalho. 05. (Unifor CE) Texto I Art. 5º [...] IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...] IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença. (BRASIL. Constituição da República Federativa de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/ConstituicaoCompilado.htm > Acesso em: 08/04/2016)
Texto II
O governador Renan Filho (PMDB) chegou a rejeitar o projeto, mas a Assembleia Legislativa derrubou o veto. O governador tem até o dia 29 deste mês (abril) para promulgar a lei. Caso ele se recuse, a Assembleia Legislativa tem prerrogativas legais para fazer isso. CÓLEN, Lucas Leite e Roberta. Entenda o que o Projeto Escola Livre muda no ensino estadual em Alagoas- Com a nova lei, educadores não podem opinar sobre assuntos polêmicos. Secretaria da Educação afirma que vai recorrer da aprovação do projeto. Disponível http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2016/04/entenda-o-que-o-projeto-escola-livremuda- no-ensino-estadual-em-alagoas.html Acesso: 28/04/2016 13h59
Redija um texto dissertativo-argumentativo, na modalidade escrita formal da língua portuguesa, sobre o tema “Neutralidade” do professor em sala de aula. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. 07. (Enem MEC)
(BECKER, Alexandre. Tirinhas do Armandinho. Disponível em: < https://www.google.com.br/search?hl=pt- >. Acesso em: 09/04/2016)
Com base na leitura do Art. 5º, Incisos IV e IX e, ainda, na tirinha do Armandinho, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “As fronteiras da liberdade de expressão”. As ideias devem ser apresentadas de forma clara, coerente e em conformidade com a norma culta da língua. 06. (Unifor CE) Texto 1 Papel do Professor
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
A respeito da entrevista com Claudio Naranjo (ed. 218), que afirma que o professor deve se dedicar ao desenvolvimento humano – e não à mera incorporação de conteúdo-, é pelo que temos lutado e continuaremos lutando. Precisamos de uma mudança geral. Sabemos que existem professores excelentes que estão se perdendo na burocracia, na exigência de passar conteúdo, páginas que a juventude não assimila. Viviana Figueroa Canal do leitor, Revista Educação. Ano 19, nº220. Ago.2015. p.8.
Texto 2 O projeto de lei Escola Livre, que deve entrar em vigor em breve em Alagoas, prevê mudanças na postura dos professores da rede pública estadual. Eles serão impedidos de dar opinião, mantendo “neutralidade” política, ideológica e religiosa na sala de aula. Em seu site, o autor do projeto, deputado Ricardo Nezinho (PMDB), diz que ele é necessário para que o professor não expresse sua opinião dentro da sala de aula e, assim, seja imparcial. O texto pretende manter a pluralidade de ideias na escola. 806
Scientific American Brasil, ano 11, n. 134, jul. 2013 (adaptado).
Para atingir o objetivo de recrutar talentos, esse texto publicitário a) afirma, com a frase “Queremos seu talento exatamente como ele é”, que qualquer pessoa com talento pode fazer parte da equipe. b) apresenta como estratégia a formação de um perfil por meio de perguntas direcionadas, o que dinamiza a interação texto-leitor. c) utiliza a descrição da empresa como argumento principal, pois atinge diretamente os interessados em informática. d) usa estereótipo negativo de uma figura conhecida, o nerd, pessoa introspectiva e que gosta de informática. e) recorre a imagens tecnológicas ligadas em rede, para simbolizar como a tecnologia é interligada.