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Maria Eny R. Paiva (Texto) Ellen Pestili (Ilustração)
Capivari-SP
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2005
Menino Iluminante X Dragão Fumegante Maria Eny R. Paiva 1ª edição - fevereiro/2005 2.000 exemplares
Ilustração: Ellen Pestili Diagramação: André Stenico Revisão: Hilda Fontoura Nami Capa: Ilustração: Ellen Pestili Arte-Final: André Stenico
Ficha Catalográfica
Paiva, Maria Eny R. Menino Iluminante X Dragão Fumegante, 1ª edição fevereiro/2005, Editora EME, Capivari-SP. ISBN 85-7353-295-5 32 p. 1 - Infanto-Juvenil — Espiritismo 2 - Conto Espírita — Literatura Infanto-Juvenil
CDD 133.9
Para crianรงas a partir dos 2 anos com especial carinho
Nesse livro você pode ler dois textos. Um com as letras
coloridas, destina-se a crianças bem pequenas de 2 a 4 anos; e outro, com letras pretas, e que se destina às crianças de 5 a 9 anos. Vale dizer que se você ler apenas os textos com letras coloridas , terá uma história quase igual a do livro todo, pois aí o texto está mais adequado aos bem pequenos, menos complexo, sem tantos detalhes, mas trabalhando quase as mesmas coisas.
Era uma vez um lindo menino que vivia em uma cidade, bem longe, em um bairro muito pobre.
Ele
gostava de andar na chuva, de rolar na terra, de correr com o vento. No entanto, naquela terra, existia um dragĂŁo terrĂvel que soltava fogo pelas ventas e destruĂa tudo. 7
Se o menino plantava uma plantinha verde e cuidava dela com carinho e atenção,
o malvado soprava um vento quente e um fogo ardido que a matava. Se ele cuidava com atenção de seu cachorrinho, o dragão vinha, dava um pontapé no bichinho, jogava fora os remedinhos para sarna, piolhos e carrapatos. Até queimar com seu fogo, a comida do coitadinho, ele queimava. O bichinho ficava magrinho, magrinho. A irmãzinha do menino, o dragão tratava com muito carinho. Mas era um carinho mentiroso. Logo, ele ensinava a menininha a chupar ou cheirar um canudinho onde ele punha fogo de dragão, e aquela linda menina ia ficando cada vez mais feia, magra, preguiçosa e acabava ficando com os dentes pretos, com a boca fedida, o hálito ruim. O foguinho do dragão matava aos poucos a menininha. O pior é que ele fazia isso com muitos outros meninos que moravam ali. Todos tinham muito medo do dragão.
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Menino Iluminante X Dragão Fumegante
Apesar de viver perto desse dragão mentiroso que maltratava a natureza e enganava crianças, matando-as aos poucos, dentro desse menino havia muita luz.
Com
essa luz, brilhando em sua cabeça, ele percebia que um dia venceria o dragão malvado que destruía suas plantas, seus animais, sua família e a dos outros. A luz que ele tinha dentro ia crescendo com o tempo. Ele aprendeu a ler, a escrever e leu muito, muito. A luz ficou mais forte e brilhava em toda sua volta. Maria Eny R. Paiva
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Depois, começou
a nascer outra luzinha, desta vez bem no coração do menino. Essa luz foi acesa por uma colega, uma professora, um tio, pelo vizinho. Sua família não gostava de que seu coração ficasse assim iluminado. Eles viviam sugando e cheirando o fogo do dragão e ficavam tão nervosos que até batiam no menininho. Um pequeno dragão começou a crescer dentro do menininho. Ele tinha muita raiva de quem batia nele, de seus parentes que usavam o fogo do dragão e até pensou em jogar uma bomba em casa e fugir. Como o dragãozinho ia se alimentando com o que o menino sentia, estava cada vez mais bravo e fazia o menino também ficar mais raivoso, irritado e agressivo.
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O menino vivia cheio de medo e ódio, porque o dragão
continuava a dominar seus pais, estava matando sua irmãzinha e destruindo alguns amigos seus.
Por
causa desse medo e desse ódio, a outra luz que começara a nascer em seu coração ameaçava se apagar devido ao pequeno dragão que nasceu, no lugar da luz e que crescia dentro dele.
Foi
então, que uma lagartixa diferente e estranha, com quatro cores, surgiu, abriu bem a boca e falou alto:
— Olhe, Joãozinho (assim ele se chamava), se você quiser, eu o ensino a vencer o dragão.
—
Claro que quero – disse Joãozinho.
— Em primeiro lugar – a lagartixa ensinou – você precisa controlar esse medo e esse ódio. O dragãozinho dentro do seu peito alimentase do que seu coração sente. Seu dragãozinho está sendo alimentado com medo, ódio e desejo de vingança. Mas é preciso aprender a controlar a raiva e o medo que sentimos das pessoas que se deixam dominar pelo dragão.
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— Eu mato esse meu dragão – Joãozinho gritou com raiva. — Não – a lagartixa sorriu calmamente ao explicar – se você matar, ele nasce mais forte. Todos nós temos um dragão dentro de nós. Devemos domesticar o dragãozinho. — Como vou domar esse dragãozinho? – perguntou Joãozinho. — Você tem que aprender a domar seu corpo, prestar atenção às coisas, falar firme e claro, ficar calmo embora com muita raiva, controlar o medo e só fugir quando não tiver outro jeito. — Bem – falou Joãozinho – controlar meu corpo, eu consigo. Aprendo capoeira, luta, esporte. Aprenderei, com a ajuda dos amigos, a pensar forte, prestar muita atenção e me concentrar nas coisas. Dona Néia pode me ensinar a relaxar e ficar calmo. — Ótimo – aprovou a lagartixa – mas é preciso, ainda, saber falar para todos e entender o que está nos livros. — Eu peço para o tio Orlando me ensinar a falar na frente de todos. Ler, eu já leio bastante. — É preciso, também, controlar o medo. Esse é um inimigo pior que o dragão. – A lagartixa fez uma careta feia e continuou. – Se você tiver muito medo, vai ficar nervoso. Aí o dragão vai ter muito poder sobre você. — Bem – falou Joãozinho – controlar o medo, aí eu não sei não. — O medo, a gente controla, sabendo lutar com a ajuda de todos, falar calmo e na hora certa, usando carinho e emoção. O mais importante, porém, é perceber quando a gente vai perder e correr, para voltar mais tarde mais forte e mais calmo até vencer o dragão. – A lagartixa correu e voltou para mostrar como era. 12
Menino Iluminante X Dragão Fumegante
Maria Eny R. Paiva
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A
lagartixa explicou muitas coisas ao menino e, por fim, disse:
—
Lembre-se bem, trate de domar esse dragãozinho que cresce em seu peito e faça com que ele trabalhe para você.
Para
poder domar o dragãozinho, o menino aprendeu a mandar e dominar seu corpo; aprendeu a falar direitinho e na frente de muitas pessoas, ficar calmo, lutar com a ajuda de todos e correr na hora certa, bem do jeito que a lagartixa ensinou. 14
Menino Iluminante X Dragão Fumegante
Logo, além da luz em sua cabeça, o dragãozinho domado acendia tanto fogo em seu coração, que seu coraçãozinho brilhava como uma grande fogueira.
Com
a cabeça iluminada e o coração resplandecente, o menininho começou a falar ao povo, organizar as pessoas em batalhões de luz, ensinando cada criança e os pais e mães que queriam, a ter cabeça iluminada e fogo de dragão domado em seu coração. Maria Eny R. Paiva
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Em
pouco tempo, a maioria do povo do bairro tinha tanta luz, que todos juntos formavam uma força com um poder maior que o fogo.
Aí
sim, O POVO UNIDO, ILUMINADO, foi com Joãozinho vencer o dragão.
Foi
só o dragão ver aquela luz que cegava, para diminuir de tamanho até ficar como um jacaré. Assim mesmo, soprou fogo contra o batalhão de luz. Eles recuaram e depois falaram para todos o que o dragão era. Não passava de um jacaré com bafo de fogo.
Novamente
o batalhão de luz voltou e começou calmamente a cercar o dragão. 16
Menino Iluminante X Dragão Fumegante
O
povo ensinado passou a marchar unido em vários batalhões iluminados e, aos poucos, cercou o dragão. Envolvido em um círculo de luz, cercado por crianças, mães, pais, velhinhos, animais, o dragão viu-se diante de tanta força e coragem, que ficou com medo. Então, diminuiu..., diminuiu..., diminuiu, até ficar menor que um jacaré. Ficou quase do tamanho de um calango, mas, mesmo assim, soltava fogo. Maria Eny R. Paiva
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Foi então que alguns dos que estavam no batalhão de luz, tiveram uma idéia. Apagaram o
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fogo do dragão, jogando terra e abafando com cobertores. Sem ar, o dragão ficou quieto. O povo gritava de alegria. Tinham vencido o dragão. No entanto Joãozinho estava preocupado e diante de todos expôs o que temia: — Nós precisamos manter o dragão controlado. Se o deixamos solto, ele vai se alimentar do medo e ódio e, aos poucos, vai nos dominar de novo. Os guerreiros iluminados, vencedores do dragão, discutiram, discutiram, discutiram muitos e muitos dias. Depois começaram a construir uma represa cheia de água, com uma ilha no meio, onde colocaram o dragão. Ele ficava nadando o dia todo, e a água não deixava seu fogo incendiar tudo. Além disso, todos ajudaram a fazer uma cerca em volta da represa, de modo a tornar difícil a fuga do dragão. Cada um dos guerreiros que tinham domado o dragão em seu coração passou a vigiar a cerca, para que o dragão na ilha não fugisse ou crescesse de novo. O mais interessante é que os guerreiros de luz domesticaram esse dragão e o ensinaram a dançar, desenhar no ar com o fogo e andar na corda bamba. Até hoje, quem viaja para a terra de Joãozinho pode ir visitar o dragão no parque da cidade. Lá, todos gostam dele e acham que ele enfeita o parque e torna a cidade interessante. Do meio da represa, o dragão pequenino solta fogo e oferece, aos visitantes, canudinhos que matam. Mas ninguém aceita, porque todos recebem, dos guardas iluminados, explicações sobre as mentiras do dragão e sua capacidade de queimar tudo, se não estiver controlado.
Foi assim, que Joãozinho, junto com os guerreiros de luz, prendeu o dragão. Logo depois, todos construiram uma represa, com uma ilha ao meio, onde ele ficou sendo um enfeite, uma curiosidade que todos queriam ver.
Os guerreiros iluminados passaram a vigiar o dragão dia e noite, para impedir que ele fugisse. Ensinavam truques ao dragão como andar em corda bamba, desenhar no ar com o fogo e dançar.
Tudo isso foi possível, porque o menino aprendeu a usar sua luz, domando o dragão para sempre. Com a luz de sua inteligência e o fogo iluminante do dragãozinho domesticado que morava em seu coração, o menino venceu. Só que não venceu sozinho. Venceu com a ajuda de todos que também queriam ser felizes. Maria Eny R. Paiva
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SÉRIE CONTOS PARA A EMOÇÃO Depois que Daniel Goleman publicou sua obra “Inteligência Emocional”, ficou
mais fácil entender que sermões, conselhos, explicações e conversas não têm valor ou têm um valor muito pequeno, quando se pretende trabalhar o nível emocional. Se pretendemos, pois, como pais, educadores, terapeutas, técnicos em relações humanas, trabalhar orientando emoções como amor, ciúme, inveja, destrutividade, medo, exaltação, paixão ou atitudes emocionais como auto-piedade, timidez, orgulho, pretensão, mentira, temos que entender bem isso. Conversas apelando para a lógica ou explicações, ainda que simples, sobre a conseqüência de comportamentos imaturos e destrutivos gerados por determinados sentimentos, em geral caem no vazio. A própria conseqüência social dos sentimentos como ridículo, rejeição, fracasso em manter o que se deseja, dificilmente consegue alterar atitudes de pessoas que sentem ciúmes, inveja, ou que têm atitudes agressivas, pretensiosas, ingênuas, covardes ou hipócritas. Sabem muito bem os psicólogos que, confrontados com as reações às suas emoções e atitudes inadequadas, os seres humanos justificam, negam, disfarçam tais emoções ou as atribuem aos outros. 20
Menino Iluminante X Dragão Fumegante
A MENTE EMOCIONAL atende aos apelos de SÍMBOLOS, MITOS, CONTOS,
PROVÉRBIOS, FÁBULAS, PROPAGANDA, VIVÊNCIAS PRAZEROSAS, CONDICIONAMENTOS FAMILIARES E, EM ESPECIAL, À LINGUAGEM DA ARTE. São estes os instrumentos de trabalho de que dispomos para transformar emoções e orientá-las para manifestações positivas. Apenas utilizando essas formas de falar à emoção seremos capazes de conseguir que o ser humano aprenda a usar: o medo sem se anular, a cólera sem se consumir e o amor sem se exaltar1. A série CONTOS PARA A EMOÇÃO pretende, através dos mitos vivos em nossa cultura, organizados em pequenas fábulas ou histórias e historietas, trabalhar, em crianças, problemas relacionados a ciúme, cólera, egoísmo, agressividade, medo, abandono, rejeição, amor, idealismo, mudança. Foram histórias feitas para crianças, dedicadas a algumas delas, em especial. Eram, essas crianças, alunos da Escola “Piá Oendiara” (Criança Iluminante), da qual fui uma das proprietárias, e onde experimentamos vários projetos pedagógicos. Os educadores, pais, professores,
1 Emílio de Myra y Lopes. “Quatro gigantes da alma”. Rio de Janeiro, José Olympio, 1998. Maria Eny R. Paiva
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conselheiros e todos os que trabalham com crianças, tentando auxiliá-las a controlar e dirigir seus impulsos, poderão aproveitar essas histórias, que tiveram muito sucesso entre os pequenos. Após cada história, há uma orientação psicopedagógica, para esclarecer educadores, pais e interessados sobre que tipos de emoção trabalhamos e o significado pretendido pelas metáforas que usamos para representar atitudes, sentimentos e emoções. Falamos, ainda que rapidamente, da proposta que pretendemos com cada personagem ou fato e de como levar isso à criança de forma positiva. Quem sabe nós mesmos, ao ler ou contar tais histórias, não estaremos, também, trabalhando nossas mágoas e feridas emocionais?
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Menino Iluminante X Dragão Fumegante
ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA UTILIZAÇÃO DA HISTÓRIA MENINO ILUMINANTE X DRAGÃO FUMEGANTE
MENINO
ILUMINANTE X DRAGÃO FUMEGANTE foi uma história inicialmente criada para crianças com 2 anos. Como é natural nessa idade confundir imagens com realidade, elas costumam temer os dragões de fitas de vídeo e filmes da televisão. A história visava a auxiliá-los a vencer seus receios dos dragões fumegantes e destruidores e, ao mesmo tempo, trabalhava a idéia de que crianças iluminadas pela bondade podem ter uma força superior à da maldade. Elas costumam amar a história e, ora se identificavam com o dragão, ora com o menino, ainda confusos quanto à própria possibilidade de vencer o monstro que a televisão apresenta, apenas com a luz de seu coração. Dramatizar movimentos e falas da história, a luz do coração derrubando o dragão é um brinquedo que as fascina e diverte muito. Fazer o papel de dragão diminuindo até o tamanho de uma lagartixa é algo que as encanta, especialmente quando elas é que produzem tal Maria Eny R. Paiva
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transformação, fazendo o papel do menino. Adaptamos, posteriormente, a história para crianças de até oito ou nove anos, procurando trabalhar outros assuntos, especialmente relacionados ao uso de drogas e ao domínio das emoções. Assim, nesse livro você pode ler dois textos. Um com as letras coloridas, destinase a crianças bem pequenas de 2 a 4 anos; e outro, com letras pretas, e que se destina às crianças de 5 a 9 anos. Vale dizer que se você ler apenas os textos com letras coloridas, terá uma história quase igual a do livro todo, pois aí o texto está mais adequado aos bem pequenos, menos complexo, sem tantos detalhes, mas trabalhando quase as mesmas coisas.
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SE QUISER OBTER MELHORES RESULTADOS, PROCURE OBSERVAR ESSAS ORIENTAÇÕES AO CONTAR A HISTÓRIA
Se pretendemos atingir a mente emocional, podemos ler ou contar a história
que ressalte a emoção pretendida pelo autor; mas, jamais devemos utilizá-la como uma parábola ou fábula da qual tiramos uma conclusão ou moral. Dessa forma, conta-se apenas a história. Após ler ou contar, não devemos utilizála para pregar moralidade, muito menos para indiretamente censurar quem ouve. Não cabem perguntas como: Você percebeu o que aconteceu com a irmãzinha e os pais do menino que aceitavam os vícios oferecidos pelo dragão? Quem é em nossa família que está sob a ação do dragão? Comentários errôneos seriam ainda: Será que você pode ser tão esperto e corajoso como Joãozinho? Aposto que seu primo Pedro aceitaria logo o fogo do dragão. Por outro lado, pode-se perguntar à criança: Qual era o motivo pelo qual os pais do menino não gostavam de ver seu coração iluminado? Por que será que a irmã do menino aceitava os agrados mentirosos do dragão? Quem auxiliou o menino? Maria Eny R. Paiva
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O que o menino teve que fazer com o dragão que crescia dentro dele? Você acha que todas as pessoas domam os seus dragões? Você gostaria de lutar como um guerreiro iluminado? Como é um guerreiro iluminado? Como eles vencem o medo? Onde será a cidade em que a gente pode ver o dragão pequenino soltar fogo? Lembre-se sempre de que as respostas mostrarão a você como a criança sentiu a história. Não há certo ou errado. Apenas existe a compreensão possível, por parte da criança, dos elementos emocionais que compõem o texto. Muitas crianças poderão alterar a história ou compreenderão mal algumas passagens por diversos motivos. Não diga que não é assim. Comente apenas: Interessante a história como você compreendeu. Veja o que o livro diz. Leia novamente e pergunte. Você acha que há uma diferença entre a história que você conta e a do livro? Ouça e não insista se ela persistir em modificar a história. Mesmo que você não entenda a causa dessa compreensão teimosamente equivocada, não repreenda a criança. Procure, em outro momento, ler novamente, ouça outra vez a interpretação dela. Para algumas crianças, pode ser muito difícil aceitar que os pais são viciados, não gostam de seus impulsos bondosos e as agridem. Então elas podem pular esse pedaço, mudar esse enfoque. Esteja certo, porém, de que seu emocional entendeu 26
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claramente a mensagem. Não mude a história, apenas observe como a criança se sente com relação a isso. Algumas crianças podem apenas pedir que você repita, lendo muitas e muitas vezes a mesma história Esse é um indício de que ela está elaborando inconscientemente as emoções que a mensagem trabalha. Por este motivo, quando solicitar isso, repita, pois como ela ouve e elabora suas emoções, necessita ouvir muitas vezes essa mensagem que fala ao seu inconsciente com a linguagem dos símbolos. Quando ela não precisar mais, não pedirá que a conte de novo. Ao lidar com grupos, quando já tiver trabalhado suficientemente a mensagem e notar que uma ou outra criança ainda pede que repita a história, conte-a apenas para ela. Ou peça para alguém ler ou contar, se não puder dar-lhe essa atenção individual. Se você consegue perceber onde ela se emociona mais ao ouvir a história, conte com mais ênfase essa parte; solicite a ela que a ajude a lembrar-se de algumas coisas e falas, demore um pouco mais nesses fatos. É essa a maneira mais adequada para convencê-la de que pode e porque deve modificar seu comportamento. Cada vez que a história for repetida para grupos ou para uma ou duas crianças, dê ênfase a alguma parte e peça que dramatizem com você alguns movimentos, falas, gestos, lutas, de modo a usar o instrumento do teatro para fixar os conceitos Maria Eny R. Paiva
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e as atitudes que deseja. Por envolver luta e ação, essa história se presta bastante à dramatização. Trabalhar com fantoches ou com cortes de tecidos arrumados como roupas, para “vestir figuras” ou as próprias crianças, desenvolve sua imaginação, possibilita maior identificação com os personagens.
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ALGUNS SÍMBOLOS E METÁFORAS UTILIZADOS NA HISTÓRIA MENINO ILUMINANTE X DRAGÃO FUMEGANTE
Não se esqueça de que os símbolos e metáforas utilizados são explicitados apenas para que o contador da história perceba mais claramente quais os objetivos do autor. Não devemos pretender que a criança entenda o significado dos símbolos. Isso tiraria o encanto mágico da história, dificulta ndo atingir a emoção com a linguagem adequada. Algumas metáforas da história são evidentes por si mesmas. O dragão que destrói tudo representa as forças da sociedade que não se importam com a natureza, com os animais, nem com as crianças, utilizando tudo sem se importar com as gerações futuras, poluindo, depredando, explorando para usufruir e dominar. Assim, ele vicia, mata aos poucos, oferecendo o fogo do dragão, que simboliza, em especial, os vícios, o tóxico; mas pode ser entendido, também, como o uso da força, da astúcia e do falso amor, para utilizar o outro em benefício próprio.
Maria Eny R. Paiva
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O dragão que cresce em nós e que precisa ser domado para soltar fogo e iluminar
o nosso coração sinaliza que devemos aprender a trabalhar nossas emoções, sentimentos e paixões, cujo domínio é necessário. Sem esse domínio, elas servirão aos interesses do dragão exterior, cuja destrutividade é insaciável. Observe que, conforme os ensinos psicológicos, ninguém deve pretender destruir suas paixões ou emoções. Podemos sim, colocá-las a serviço do nosso bem e do bem de todos. O dragão, encarado por todos na luta final, diminui de tamanho até ficar bem pequeno. Quando os bons deixarem de lado o medo, a timidez, a covardia e agirem controlando a raiva e o medo com sabedoria, certamente farão encolher o tamanho e a ação da maldade, reduzindo-a muito. A idéia de que para controlar nossas emoções é preciso controlar nosso corpo, utilizar adequadamente a linguagem, utilizar a atenção, a concentração, o relaxamento e a ação delineada com calma e sabedoria, reflete nossa forma integrada de ver o mundo e o ser humano. Trabalhar o corpo é fundamental para controlar emoções e facilitar a aprendizagem. Todo trabalho de auto-educação, porém, só tem sentido se transformar nossa convivência com os outros. Ser solidário, auxiliar, pedir ajuda e conseguir que os outros sejam nossos mestres é fundamental. 30
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Usando a palavra iluminada pela compreensão (pois o menino lia muito), e
impulsionado pela emoção, a paixão e o sentimento bem orientados, Joãozinho consegue, por fim, envolver a todos. Todos juntos venceram o dragão, que passa assim a ser um atrativo, um enfeite da cidade, que o mantém controlado. Não será assim, também, com nossos impulsos menos dignos? Se soubermos mantê-los sob controle, estes serão pequeninos dragões enfeitando nossa existência.
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Da Mesma Autora
A BRUXA QUE ERA BELA Texto: Maria Eny R. Paiva Ilustração: DR Perillo Infanto-Juvenil – 44 p. – 15x21cm
É uma exaltação à esperança, um convite a manter viva nossa fé na construção de um mundo melhor. Enfatiza a solidariedade e nos mostra como o amor pelo outro nos protege das armadilhas do mal e nos permite encontrar a felicidade possível.