Comentário de Gálatas

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Capítulo 1 1. Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos, 2. e todos os irmãos meus companheiros, às igrejas da Galácia, 3. graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do [nosso] Senhor Jesus Cristo, 4. o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, 5. a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

1. Paulo, apóstolo. Nas saudações de suas epístolas, Paulo costumava usar o título apóstolo. Seu propósito em fazer isso era (como o dissemos anteriormente - 1 Coríntios 1.1) empregar a autoridade de seu ofício. Essa autoridade não dependia do julgamento ou opinião dos homens, e sim, exclusivamente, da chamada divina. Por isso, Paulo exigia a atenção dos leitores com base no fato de que era um apóstolo. Lembremo-nos sempre de 21


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que, na igreja, devemos ouvir somente a Deus e a Jesus Cristo, a quem Ele designou para ser o nosso Mestre. Portanto, qualquer pessoa que presume ter o direito de nos instruir deve falar em nome de Deus ou de Cristo. Visto, porĂŠm, que a chamada de Paulo era questionada com veemĂŞncia entre os crentes da GalĂĄcia, ele, ao dirigir-se D HVVD LJUHMD DÂżUPD D VXD FKDPDGD FRP PDLRU YLJRU GR TXH R faz em outras epĂ­stolas. Paulo nĂŁo somente declara que fora FKDPDGR SRU 'HXV PDV WDPEpP DÂżUPD FRP PXLWD FODUH]D TXH a chamada ocorrera nĂŁo da parte de homens, nem por intermĂŠdio de homem algum. (VWD DÂżUPDoDR GHYHPRV REVHUYDU nĂŁo se aplica ao ofĂ­cio que ele tinha em comum com os outros pastores (GH FRPPXQL SDVWRUXP RIÂżFLR), e sim ao apostolado. Os autores das calĂşnias que Paulo tinha diante de si nĂŁo ousavam despojĂĄ-lo completamente da dignidade do ministĂŠrio cristĂŁo. Recusavam-se apenas a dar-lhe o tĂ­tulo de apĂłstolo e a colocĂĄ-lo nessa categoria. Estamos falando do apostolado em si mesmo, pois a palavra apĂłstolo ĂŠ usada de duas maneiras. Ă€s vezes, denota os pregadores do evangelho, sem importar-se com a classe a que pertenciam. Mas, nesta passagem, apĂłstolo tem uma referĂŞncia distinta Ă mais elevada ordem na igreja (primarium in Ecclesia ordinem). Por conseguinte, Paulo ĂŠ igual a Pedro e aos outros doze. A primeira clĂĄusula - que ele fora chamado nĂŁo da parte de homens - declara algo que Paulo tinha em comum com todos os verdadeiros ministros de Cristo. Assim como nenhum homem deve tomar “esta honra para si mesmoâ€? (cf. Hb 5.4), assim tambĂŠm nĂŁo estĂĄ no poder dos homens o concedĂŞ-la a quem quer que a queira. O governo da igreja pertence somente a Deus. Portanto, a chamada nĂŁo ĂŠ legĂ­tima, se nĂŁo procede dEle. No que concerne Ă igreja, um homem que chegou ao ministĂŠrio nĂŁo por uma boa consciĂŞncia, mas por motivos Ă­mpios, talvez foi vocacionado de 22


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modo regular. Mas, nesta passagem, Paulo fala de uma chamada comprovada de modo tão perfeito, que nada lhe faltava. Alguém pode alegar: “Os falsos apóstolos não faziam, com freqüência, essa mesma reivindicação?” Admito que sim. Aliás, eles faziam isso com um estilo exaltado e desdenhoso, um estilo que os servos do Senhor não ousavam empregar. Todavia, os falsos apóstolos não tinham aquela chamada proveniente do céu, que Paulo tinha o direito de reivindicar. A segunda cláusula, a de que fora chamado não por intermédio de homem algum, se aplicava de modo particular aos apóstolos. Isso não era o que ocorria no caso de um pastor comum. Paulo mesmo, quando viajou por várias cidades em companhia de Barnabé, promoveu “a eleição de presbíteros, em cada igreja” $W ( RUGHQRX D 7LWR H D 7LPyWHR TXH ¿]HVVHP D PHVPD coisa (1 Tm 5.17; Tt 1.5). Este é o método de escolher pastores. Pois não temos o direito de esperar que Deus revele do céu os nomes daqueles a quem ele escolheu. No entanto, se a instrumentalidade humana não era incorreta, e mesmo recomendável, por que Paulo a rejeitou em seu próprio caso? Já mencionei que algo mais era necessário para provar que Paulo não era apenas um pastor ou algum tipo de ministro do evangelho, visto que o assunto em questão era seu apostolado. Era indispensável que os apóstolos não fossem escolhidos da mesma maneira que os outros pastores, mas pela ação direta do próprio Senhor. Foi assim que Cristo chamou os Doze (Mt 10.1). E, quando um sucessor foi designado para preencher a vaga deixada por Judas, a igreja não se aventurou a escolher um sucessor por meio de votos, mas recorreu ao método de lançar sortes (At 1.26). Estamos certos de que esse método não foi utilizado na escolha dos pastores. Por que o método de lançar sortes foi usado na designação de Matias? Para deixar evidente a ação de Deus, pois o apostolado tinha de ser distinguido dos demais ministérios. Assim, para mostrar que não pertencia à or23


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dem comum de ministros (a vulgari ordine ministrorum), Paulo argumenta que sua chamada procedia diretamente de Deus. (QWmR SRU TXH R DSyVWROR DÂżUPD TXH QmR IRUD FKDPDGR SRU intermĂŠdio de homens, enquanto Lucas registra que ele, Paulo, e BarnabĂŠ foram chamados pela igreja de Antioquia? Alguns respondem que Paulo havia desincumbido anteriormente os deveres de um apĂłstolo e que, por consequĂŞncia, seu apostolado nĂŁo se baseava em sua designação por parte dessa igreja. Mas WDPEpP SRGH VHU REMHWDGR TXH HVWD IRL D VXD SULPHLUD LGHQWLÂżFDção como apĂłstolo dos gentios (entre os quais encontravam-se os gĂĄlatas). A resposta mais correta e Ăłbvia ĂŠ que, nesta passagem, Paulo nĂŁo pretendia excluir totalmente a chamada por parte da igreja de Antioquia. Pretendia apenas mostrar que seu apostolado se fundamentava em um direito mais elevado. Isto ĂŠ verdade, pois aqueles que impuseram as mĂŁos sobre Paulo, em Antioquia, Âż]HUDP LVVR QmR SRU YRQWDGH SUySULD PDV HP REHGLrQFLD D XPD revelação divina. “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o EspĂ­rito Santo: Separai-me, agora, BarnabĂŠ e Saulo para a obra a que os tenho chamado. EntĂŁo, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mĂŁos, os despediramâ€? (Atos 13.2, 3). Visto que Paulo fora chamado por revelação divina, indicado e designado pelo EspĂ­rito Santo, para ser apĂłstolo dos gentios, concluĂ­mos que ele nĂŁo foi apresentado por homens Ă igreja, embora a cerimĂ´nia de ordenação tenha sido acrescentada posteriormente. Talvez alguĂŠm pretenda sugerir que este versĂ­culo tencionava expressar um contraste entre Paulo e os falsos apĂłstolos. NĂŁo tenho qualquer objeção a esta opiniĂŁo. Pois os falsos apĂłstolos tinham o hĂĄbito de gloriarem-se no nome de homens. Se esse era o caso, Paulo estaria dizendo: “NĂŁo importa os nomes nos quais outros se gloriam de haverem sido enviados, serei superior a eles, pois a minha comissĂŁo veio da parte de Deus e de Cristoâ€?. 24


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Mas por Jesus Cristo e por Deus Pai. Paulo declara que Deus Pai e Jesus Cristo lhe outorgaram o apostolado. Cristo ĂŠ mencionado em primeiro lugar, porque a sua prerrogativa ĂŠ enviar e porque somos embaixadores dEle. Mas, para tornar a DÂżUPDomR PDLV FRPSOHWD R 3DL p WDPEpP PHQFLRQDGR FRPR VH Paulo estivesse dizendo: “Se existe alguĂŠm que nĂŁo considera R QRPH GH &ULVWR VXÂżFLHQWH SDUD LQVSLUDU OKH UHYHUrQFLD HQWmR saiba que tambĂŠm recebi meu ofĂ­cio da parte de Deus Pai.â€? Que o ressuscitou dentre os mortos. A ressureição de Jesus Cristo ĂŠ o começo de seu reino e estĂĄ intimamente ligada a este assunto. Os gĂĄlatas trazaiam contra Paulo a censura de que ele nĂŁo tivera comunicação pessoal com Cristo, enquanto Ele esteve na terra. Por outro lado, Paulo argumenta que, como Cristo foi JORULÂżFDGR SRU PHLR GH VXD UHVVXUUHLomR (OH H[HUFH VXD DXWRridade no governo da igreja. Portanto, a chamada de Paulo era mais nobre do que se tivesse ocorrido quando Cristo, ainda em existĂŞncia mortal, o comissionasse para o ofĂ­cio apostĂłlico. Este fato merece atenção. Paulo insinua que a tentativa de rejeitar sua autoridade envolvia uma oposição maligna ao maravilhoso poder de Deus, demonstrado na ressurreição de Cristo; visto que o prĂłprio Pai celestial, que ressuscitara a Cristo dentre os mortos, havia designado a Paulo para tornar conhecida essa manifestação do seu poder. 2. E todos os irmĂŁos meus companheiros. Tudo indica que Paulo costumava escrever em nome de muitos outros, julgando que, se os leitores dessem menos importância a um Ăşnico indivĂ­duo, poderiam ouvir um grupo de pessoas e, assim, nĂŁo desprezariam toda a igreja. O procedimento habitual de Paulo HUD LQVHULU DV VDXGDo}HV GRV LUPmRV QR ÂżQDO GD FDUWD HP YH] de mencionĂĄ-los no inĂ­cio como co-autores da epĂ­stola. Pelo menos, ele nunca menciona mais do que dois nomes - e nomes de pessoas bem conhecidas. Mas, nesta passagem, Paulo inclui todos os irmĂŁos. Assim, ele o adota o mĂŠtodo contrĂĄrio, ainda 25


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que com bons motivos. O consenso de tantos irmĂŁo piedosos GHYH WHU H[HUFLGR JUDQGH LQĂ€XrQFLD HP DEUDQGDU D PHQWH GRV gĂĄlatas e em tornĂĄ-los mais receptivos Ă instrução. Ă€s igrejas da GalĂĄcia. Esta era uma regiĂŁo extensa e, por isso, tinha muitas igrejas espalhadas em sua ĂĄrea. NĂŁo ĂŠ supreendente o fato de que o termo igreja, que implica unidade de fĂŠ, tenha sido atribuĂ­do aos crentes da GalĂĄcia, os quais quase apostataram totalmente de Cristo? Eu respondo: visto que professavam ser cristĂŁos, adoravam o Deus Ăşnico, observavam as ordenanças e desfrutavam de ministĂŠrio evangĂŠlico, eles tinham as marcas externas de uma igreja (Ecclesiae insignia). Nem sempre encontramos nas igrejas a medida de pureza desejada. AtĂŠ as igrejas mais puras tĂŞm suas mĂĄculas. E algumas sĂŁo caracterizadas nĂŁo por algumas poucas manchas, e sim por deformidade completa. Embora as doutrinas e prĂĄticas de uma comunidade talvez nĂŁo satisfaçam, em todos os aspectos, os QRVVRV GHVHMRV QmR GHYHPRV DÂżUPDU LPHGLDWDPHQWH TXH VHXV GHIHLWRV VmR PRWLYR VXÂżFLHQWH SDUD UHWLUDUPRV GHOD R QRPH GH igreja. Paulo manifesta uma ternura de disposição que estĂĄ longe dessa atitude. No entanto, o nosso reconhecimento de certas comunidades como igrejas de Cristo tem de ser acompanhado por uma condenação de tudo que ĂŠ imprĂłprio e defeituoso nelas. Mas nĂŁo devemos imaginar que, onde existe uma igreja, tudo nessa igreja tem de ser perfeito. Digo isso porque os papistas, apropriando-se da palavra igreja, acham que tudo quanto decidem impor-nos tem de ser FRQVLGHUDGR FRPR GHÂżQLWLYR 0DV D FRQGLomR H D IRUPD GD Igreja de Roma sĂŁo muito diferentes do que existia nas igrejas da GalĂĄcia. Se Paulo vivesse hoje, veria as miserĂĄveis e horrĂ­veis ruĂ­nas de uma igreja, e nĂŁo um edifĂ­cio. Em suma, o vocĂĄbulo igreja p DSOLFDGR D TXDOTXHU SRUomR GD LJUHMD FRPR XPD ÂżJXUD de linguagem na qual a parte ĂŠ tomada pelo todo, mesmo quando a porção referida nĂŁo corresponde extamente ao nome igreja. 26


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3. Graça a vĂłs outros e paz. Esta forma de saudação tambĂŠm ocorre em outras epĂ­stolas. Paulo desejava que os gĂĄlatas desfrutassem de amizade com Deus e, com esta amizade, de todas as coisas boas; pois o favor de Deus ĂŠ a fonte de todo tipo de prosperidade. Paulo apresenta as suas oraçþes tanto a Cristo quanto ao Pai, porque sem Cristo nĂŁo pode haver nem graça nem verdadeira prosperidade. 4. O qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados. Paulo começa esta carta enaltecendo a graça de Cristo, para DWUDLU D DWHQomR GRV JiODWDV H Âż[i OD HP &ULVWR 3RUTXH VH WLYHVsem apreciado corretamente o benefĂ­cio da redenção, jamais teriam caĂ­do em opiniĂľes contrĂĄrias ao cristinanismo. Aquele que conhece a Cristo de maneira apropriada, contempla-O com sinceridade e apega-se a Ele com afeiçþes intensas, esse ĂŠ absorvido na contemplação dEle e nĂŁo deseja qualquer outro objeto. 2 PHOKRU DQWtGRWR SDUD SXULÂżFDU QRVVD PHQWH GH TXDLVTXHU HUURV ou superstiçþes ĂŠ guardar na lembrança o nosso relacionamento com Cristo e os benefĂ­cios que Ele nos outorgou. As palavras “o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecadosâ€? tinham o propĂłsito de transmitir aos crentes da GalĂĄcia uma doutrina sobremodo importante: o sacrifĂ­cio de Si mesmo, que Cristo ofereceu ao Pai, nĂŁo pode ser comparado com nenhum outro tipo de satisfação dos pecados; por isso, em Cristo, e somente nEle, devem ser buscadas a expiação dos pecados e a justiça perfeita; e a meneira pela qual somos redimidos nEle deve estimular nossa mais elevada admiração. O que Paulo atribui a Cristo nesses versĂ­culos, ele o atribui, com igual propriedade, a Deus Pai em outras partes da Escritura. Por um lado, o Pai decretou esta expiação, de conformidade com o seu eterno prpĂłsito, e deu esta prova de seu amor para conosco: nĂŁo poupou o seu Filho unigĂŞnito, antes, por todos nĂłs O entregou (Rm 8.32). Cristo, por outro lado, ofereceu-se a Si mesmo em sacrifĂ­cio, para reconciliar-nos com Deus. Logo, concluĂ­mos que 27


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a morte de Cristo ĂŠ a satisfação pelos pecados. Para nos desarraigar. De modo semelhante, o apĂłstolo declara o propĂłsito de nossa redenção, ou seja: que Cristo, por meio de sua morte, nos comprasse para sermos sua propriedade peculiar. Isto acontece quando somos separados do mundo. Pois, enquanto somos do mundo, nĂŁo pertencemos a Cristo. A palavra mundo ĂŠ usada como substituto da corrupção que existe no mundo, da mesma maneria como ĂŠ empregada em 1 JoĂŁo (bem como em muitos outros lugares), que diz: “O mundo inteiro jaz no malignoâ€? (1 Jo 5.19). JoĂŁo tambĂŠm a usa de modo idĂŞntico em seu evangelho, quando recorda estas palavras do Salvador “NĂŁo peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do malâ€? -R 1HVWH YHUVtFXOR D SDODYUD PXQGR VLJQLÂżFD D YLGD presente. 2 TXH VLJQLÂżFD mundo QHVWD SDVVDJHP" 6LJQLÂżFD RV KRPHQV separados do reino de Deus e da graça de Cristo. Pois, enquanto o homem vive para si mesmo, estĂĄ completamente condenado. O mundo ĂŠ, portanto, contrastado com a regeneração, assim como a natureza humana ĂŠ contrastada com a graça, e a carne, com o EspĂ­rito. Os que nascem do mundo nada possuem, exceto pecado e perversidade, nĂŁo por criação, e sim por corrupção. &ULVWR PRUUHX SHORV QRVVRV SHFDGRV D ÂżP GH UHPLU QRV RX separar-nos do mundo. Deste mundo perverso. Ao acrescentar o adjetivo perverso, o apĂłstolo tencionava mostrar que falava da corrupção ou depravação que procede do pecado, e nĂŁo das criaturas de Deus ou da vida fĂ­sica. No entanto, pelo uso desta mesma palavra, Paulo destrĂłi todo orgulho humano. Ele declara que, sem a renovação da natureza humana que ĂŠ relizada pela graça de Cristo, em nĂłs hĂĄ somente perversidade. Pertencemos ao mundo; e enquanto Cristo nĂŁo nos redime do mundo, este nos domina e vivemos para ele. Entretanto, embora os homens se deleitem em sua suposta excelĂŞncia, eles sĂŁo indignos e depravados, nĂŁo segundo 28


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a sua prĂłpria opiniĂŁo, mas conforme o julgamento do Senhor, declarado nesta passagem pelas palavras do apĂłstolo. Segundo a vontade. Paulo indica a fonte original da graça: o propĂłsito de Deus. “Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigĂŞnitoâ€? (Jo 3.16). Mas devemos observar que Paulo costumava expor o propĂłsito de Deus como algo que excluĂ­a toda compensação ou mĂŠrito humanos. Assim, neste versĂ­culo, “vontadeâ€? denota aquilo que ĂŠ chamado de beneplĂĄcito. 2 VLJQLÂżFDGR p TXH &ULVWR VRIUHX SRU QyV QmR SRUTXH pUDPRV GLJQRV RX SRUTXH Âż]HPRV DOJR TXH H[LJH D UHDomR G(OH &ULVWR sofreu porque esse era o propĂłsito de Deus. De nosso Deus e Pai equivale a “de Deus, que ĂŠ nosso Paiâ€?. 5. A quem seja a glĂłria. Com esta repentina ação de graças, o apĂłstolo tencionava despertar, poderosamente, os seus leitores a considerarem aquele dom inestimĂĄvel que haviam recebido de Deus e, desta maneira, prepararem sua mente para receber instrução. Mas tambĂŠm pode ser considerada uma exortação geral. Toda ocasiĂŁo que nos traz Ă mente a misericĂłrdia de Deus deve ser aceita como uma oportunidade para darmos glĂłria ao Senhor.

6. Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, 7. o qual não Ê outro, senão que hå alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. 8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo vindo do cÊu vos pregue evangelho que vå alÊm do que vos temos pregado, seja anåtema. 9. Assim, como jå dissemos, e agora repito, se alguÊm vos prega 29 evangelho que vå alÊm daquele que recebestes, seja anåtema.


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6. Admira-me. O apĂłstolo começa com uma repreensĂŁo, embora um tanto mais branda do que os leitores mereciam. Ele prefere dirigir sua ira contra os falsos apĂłstolos, como veremos. Paulo acusa os gĂĄlatas de apostasia, nĂŁo somente em relação ao ensino do apĂłstolo, mas em relação ao prĂłprio Cristo. Pois lhes seria impossĂ­vel preservar seu compromisso com Cristo sem o reconhecimento de que Ele os havia resgatado, graciosamente, da escravidĂŁo da lei. Mas essa crença nĂŁo pode ser harmonizada com as idĂŠias concernetes Ă obrigação de guardar as cerimĂ´nias, idĂŠias que os falsos apĂłstolos haviam incutido neles. Por isso, os crentes gĂĄlatas estavam afastados de Cristo, nĂŁo porque rejeitassem totalmente o cristianismo, e sim porque a corrupção das doutrina do cristianismo ocorrera em tal proporção, que sĂł lhes restava um Cristo imaginĂĄrio. De modo semelhante, em nossos dias, os papistas decidiram ter um Cristo dividido e mutilado - e nada mais. EstĂŁo, portanto, separados de Cristo. EstĂŁo saturados de superstiçþes que sĂŁo diretamente contrĂĄrias Ă natureza de Cristo. Devemos observar atentamente que estamos separados de Cristo quando aceitamos opiniĂľes incoerentes com seu ofĂ­cio de Mediador; porque a luz nĂŁo tem comunhĂŁo com as trevas. Com base neste mesmo princĂ­pio, o apĂłstolo chama isso de outro evangelho, ou seja, um evangelho diferente do verdadeiro. Os falsos apĂłstolos alegavam pregar o evangelho de Cristo. Todavia, ao mesclĂĄ-lo com suas prĂłprias invençþes, que destruĂ­am a força do evangelho, eles tinham um evangelho falso, corrompido e espĂşrio. Ao usar o verbo no tempo presente (“estais passandoâ€?), o apĂłstolo parecia dizer que os crentes estavam apenas no processo GH TXHGD (UD FRPR VH HOH HVWLYHVVH DÂżUPDQGR Âł2UD QmR digo que jĂĄ estais completamente separados de Cristo. Se esse fosse o caso, seria muito difĂ­cil retornardes ao caminho. Agora, porĂŠm, neste momento crĂ­tico, nĂŁo deis nenhum passo adiante; 30


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retrocedei imediatamenteâ€?. Daquele que vos chamou na graça de Cristo. Outras versĂľes dizem: “De Cristo, que vos chamou pela graçaâ€?. Essa tradução, com a qual concordamos, ĂŠ mais simples. Ao dizer que foram chamados por Cristo por meio da graça, o apĂłstolo tencionava ressaltar a malignidade da ingratidĂŁo dos leitores. Separar-se do Filho de Deus, sob quaisquer circunstâncias, ĂŠ indigno e desonroso. Mas separar-se de Cristo, depois de haver sido gratuitamente convidado a participar da salvação ĂŠ uma atitude ainda mais indigna. A bondade de Cristo para conosco torna extremamente abominĂĄvel a nossa ingratidĂŁo para com Ele. TĂŁo depressa. Considerando quĂŁo depressa os crentes da *DOiFLD GHVFREULUDP D VXD FDUrQFLD GH ÂżUPH]D SHUFHEHPRV TXH a sua culpa ĂŠ muito mais enfatizada. NĂŁo existe uma situação FRQYHQLHQWH TXH MXVWLÂżTXH R VHSDUDUPR QRV GH &ULVWR 0DV R fato de que os gĂĄlatas se afastaram da verdade, logo que Paulo os deixou, inferia uma culpa mais profunda. Assim como a ingratidĂŁo foi ressaltada mediante a sua comparação com a graça do chamamento, assim tambĂŠm a circunstância de tempo ĂŠ referida SDUD PDJQLÂżFDU D OHYLDQGDGH GRV JiODWDV 7. O qual nĂŁo ĂŠ outro $OJXQV H[SOLFDP DVVLP HVWD DÂżUPDção: “Embora nĂŁo exista outro evangelhoâ€?; como se estivessem FRUULJLQGR D OLQJXDJHP GR DSyVWROR D ÂżP GH SUHYHQLU FRQWUD a suposição de que havia mais do que um evangelho. No que concerne Ă explicação destas palavras, tenho um ponto de vista simples a respeito delas; pois o apĂłstolo falava desdenhosamente sobre o ensino dos falsos apĂłstolos, considerando-o nada mais do que um conjunto de confusĂŁo e destruição. Era como se Paulo estivesse dizendo: “O que eles alegam? Com que bases atacam a doutrina que tenho anunciado? Apenas vos perturbam e destroem o evangelho. Isto ĂŠ tudo que eles fazemâ€?. Mas isso tem o mesmo VLJQLÂżFDGR SRLV DGPLWR TXH D H[SUHVVmR FRUULJH R TXH 3DXOR dissera sobre o outro evangelho. Paulo declarou que esse outro 31


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ensino nĂŁo era o evangelho, e sim uma distorção. Tudo o que eu TXHULD GL]HU HUD TXH HP PLQKD RSLQLmR ÂłRXWUR´ VLJQLÂżFD ÂłRXWUD coisaâ€?. Parece muito com a expressĂŁo de uso comum: “Isto nĂŁo VLJQLÂżFD nada, senĂŁo que vocĂŞ deseja enganarâ€?. E querem perverter. Paulo os culpa de outro erro: praticar injĂşria contra Cristo, ao se empenharem por perverter o evangelho. Este ĂŠ um erro sobremodo grave. A perversĂŁo ĂŠ pior do que a corrupção. O apĂłstolo acusa aqueles crentes com boas UD]}HV 4XDQGR D JOyULD GD MXVWLÂżFDomR p DWULEXtGD D RXWUHP uma armadilha para a consicĂŞncia das pessoas ĂŠ preparada e o Salvador nĂŁo tem mais o seu lugar ali; e a doutrina do evangelho ĂŠ arruinada. O evangelho de Cristo. Conhecer as principais doutrinas do evangelho ĂŠ uma questĂŁo de importância permanente. Quando estas sĂŁo atacadas, o evangelho ĂŠ destruĂ­do. O acrĂŠscimo das palavras de Cristo pode ser explicado de duas maneiras: ou que o evangelho veio de Cristo, como seu Autor, ou que simplesmente revela a Cristo. Sem dĂşvida, a razĂŁo por que o apĂłstolo empregou estas palavras era descrever o verdadeiro e genuĂ­no evangelho, o Ăşnico que ĂŠ digno desse nome. 8. Mas, ainda que nĂłs. Ă€ medida que apĂłstolo prossegue SDUD GHIHQGHU D DXWRULGDGH GH VHX HQVLQR D VXD FRQÂżDQoD WUDQSDUHFH (P SULPHLUR OXJDU 3DXOR DÂżUPD TXH D GRXWULQD SUHJDGD por ele era o Ăşnico evangelho e que tentar subvertĂŞ-lo ĂŠ uma atitude Ă­mpia. Mas Paulo estava ciente de que os falsos apĂłstolos poderiam argumentar: “NĂŁo nos sujeitaremos a vocĂŞ em nosso desejo de manter o evangelho ou naqueles sentimentos de respeito que costumamos nutrir pelo evangelhoâ€?. De modo semelhante, em nossos dias, os papistas descrevem, com palavras fortes, a sacralidade que atribuem ao evangelho e atĂŠ beijam a Palavra com profunda reverĂŞncia; mas, quando trazidos Ă prova, eles se revelam como pessoas que perseguem ferozmente a doutrina pura e simples do evangelho. Por essa razĂŁo, Paulo 32


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QmR VH VDWLVIH] FRP HVWD GHFODUDomR JHUDO PDV GHÂżQLX R TXH p R HYDQJHOKR H R TXH HOH FRQWpP DÂżUPDQGR TXH VHX HQVLQR p R evangelho autĂŞntico, capaz de resistir a qualquer investigação posterior. Que proveito havia em professar respeito pelo evangelho H QmR VDEHU R TXH HOH VLJQLÂżFD" 3DUD RV SDSLVWDV TXH HVWmR obrigados a confessar a fĂŠ implĂ­cita, WDO FRLVD SRGHULD VHU VXÂżFLente. Mas, para os verdadeiros cristĂŁos, nĂŁo hĂĄ fĂŠ onde nĂŁo hĂĄ FRQKHFLPHQWR $ ÂżP GH TXH RV JiODWDV RV TXDLV DR FRQWUiULR dos papistas, estavam dispostos a obedecer ao evangelho, nĂŁo vagueassem para lĂĄ e para cĂĄ, sem achar um fundamento em TXH SRGLDP VH ÂżUPDU 3DXOR RUGHQRX TXH SHUPDQHFHVVHP ÂżUPHV HP VXD GRXWULQD (OH H[LJLX XPD FRQÂżDQoD WmR LQDEDOiYHO HP sua pregação, que pronunciou uma maldição sobre aqueles que ousassem contradizĂŞ-la. Neste ponto, devemos observar que Paulo começa falando sobre si mesmo, pois antecipa a calĂşnia que seus opositores lançariam sobre ele: “VocĂŞ deseja que tudo que fala seja recebido de modo inquestionĂĄvel, tĂŁo somente porque vocĂŞ mesmo o disseâ€?. Para mostrar que nĂŁo havia fundamento para essa calĂşnia, o apĂłstolo renuncia imediatamente o direito de promover qualquer coisa contrĂĄria ao seu prĂłprio ensino. Ele nĂŁo reivindica superioridade sobre os outros homens; apenas exige de todos, que sĂŁo iguais a ele mesmo, sujeição Ă Palavra de Deus. Ou mesmo um anjo vindo do cĂŠu. Para destruir mais completamente as pretensĂľes dos falsos apĂłstolos, Paulo evoca os prĂłprios anjos. Ele disse que os anjos nĂŁo deviam ser ouvidos, caso anunciassem algo diferente, e que deviam ser considerados anĂĄtemas. AlguĂŠm pode imaginar que era absurdo envolver os anjos numa controvĂŠrsia acerca da doutrina de Paulo. Um ponto de vista correto a respeito do assunto nos capacitarĂĄ a perceber que este procedimento do apĂłstolo era conveniente e necessĂĄrio. Com toda certeza, ĂŠ impossĂ­vel os anjos do cĂŠu 33


[v. 9]

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ensinarem qualquer coisa alĂŠm da pura verdade de Deus. Mas, quando havia controvĂŠrsia a respeito da fĂŠ na doutrina que Deus revelara sobre a salvação dos homens, Paulo nĂŁo achava VXÂżFLHQWH UHIXWDU D RSLQLmR GRV KRPHQV VHP UHIXWDU DR PHVPR tempo, a autoridade dos anjos. $VVLP QmR p VXSpUĂ€XR TXH R DSyVWROR SURQXQFLH XPD PDOdição sobre os anjos, caso ensinassem outra doutrina, embora seu argumento tenha por base uma impossibilidade. Essa lingugem H[DJHUDGD GHYH WHU FRQWULEXtGR SDUD IRUWDOHFHU D FRQÂżDQoD QD pregação de Paulo. Seus oponentes, mediante o uso de nomes famosos, tentavam atacar seu ensino e carĂĄter. Ele os responde DÂżUPDQGR FRP RXVDGLD TXH QHP PHVPR RV DQMRV VmR FDSD]HV GH abalar sua autoridade. Isto nĂŁo ĂŠ, de modo algum, uma ofensa aos anjos. Eles foram criados para promover, mediante todos os meios possĂ­veis, a glĂłria de Deus. Aquele que se esforça, de maneira piedosa, para cumprir esse mesmo objetivo, embora por meio de uma citação aparentemente desrespeitosa dos anjos, nĂŁo prejudica a dignidade deles. Esta linguagem nĂŁo sĂł expressa, de maneira impressionante, a majestade da Palavra de Deus, mas WDPEpP WUDQVPLWH j QRVVD Ip XPD H[WUDRUGLQiULD FRQÂżUPDomR HQTXDQWR FRQÂżDQGR QD 3DODYUD GH 'HXV QRV VHQWLPRV j YRQWDGH para tratar os anjos com desdĂŠm e menosprezo. As palavras “seja anĂĄtemaâ€? WrP GH VLJQLÂżFDU ÂłFRQVLGHUHP QR DQiWHPD´ 4XDQGR Âż]HPRV D H[SRVLomR GH &RUtQWLRV falamos sobre a palavra (¢nÂŁqema). Nesta passagem, ela denota amaldiçoar e corresponde ao termo hebraico MKh (KKÄŒUÄŒP) 9. Como jĂĄ dissemos. Deixando de lado, agora, a menção GH VL PHVPR H GRV DQMRV 3DXOR UHSHWH D DÂżUPDomR DQWHULRU TXH nĂŁo era lĂ­cito a qualquer crente transmitir alguma coisa contrĂĄria ao que havia aprendido. Observe a expressĂŁo “daquele que recebestesâ€?. O apĂłstolo insiste uniformemente que os crentes da GĂĄlacia nĂŁo deviam considerar o evangelho como algo desconhecido, que existia apenas na imaginação deles. Paulo os 34


GĂĄlatas 1

[v. 10]

exorta a nutir a convicção inabalĂĄvel e sĂŠria de que a doutrina que haviam recebido e aceitado era o verdadeiro evangelho de Cristo. Nada pode ser mais incoerente com a natureza da fĂŠ do que um aceitação dĂŠbil e vacilante. Qual serĂĄ a conseqßência, se o desconhecimento da natureza e carĂĄter do evangelho levar Ă hesitação? Por isso, o apĂłstolo lhes ordena que considerem como demĂ´nios aqueles que ousam apresentar evangelho diferente do seu - isto ĂŠ expresso no termo outro evangelho - um evangelho ao qual sĂŁo acrescentadas invençþes dos homens. Pois a doutrina dos falsos apĂłstolos nĂŁo era totalmente contrĂĄria ou mesmo diferente da doutrina de Paulo; era corrompida por falsos acrĂŠscimos. QuĂŁo pobres os subterfĂşgios aos quais recorrem os papistas, a ÂżP GH HVTXLYDUHP VH GHVVD DÂżUPDomR GH 3DXOR 3ULPHLUDPHQWH eles nos dizem que nĂŁo temos mais, em nosso poder, todo o ensino de Paulo e que nĂŁo podemos saber o que esse ensino continha, exceto se esses crentes, que o ouviram, ressuscitassem dos mortos e aparecessem como testemunhas. Em segundo lugar, RV SDSLVWDV DÂżUPDP TXH QHP WRGR DFUpVFLPR p SURLELGR H TXH somente os outros evangelhos sĂŁo condenados. Se nos interessa conhecer a doutrina de Paulo, ela pode ser aprendida com muitas clareza em seus escritos. Ă€ luz desse evangelho, torna-se evidente que todo o papado ĂŠ uma perversĂŁo terrĂ­vel. E, observamos em conclusĂŁo, a natureza do caso demonstra que toda doutrina espĂşria estĂĄ em desarmonia com a pregação de Paulo. Portanto, HVVHV VRÂżVPDV QmR DMXGDUmR HP QDGD RV SDSLVWDV 10. Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, nĂŁo seria servo de Cristo. 11. Faço-vos, porĂŠm, saber, irmĂŁos, que o evangelho por mim anunciado nĂŁo ĂŠ segundo o homem, 12. porque nĂŁo o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação da parte de Jesus Cristo.

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[v. 10]

GĂĄlatas 1

13. Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. 14. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradiçþes de meus pais.

'HSRLV GH HQDOWHFHU FRP SURIXQGD FRQÂżDQoD D VXD SUHJDção, o apĂłstolo mostra, agora, que isso nĂŁo era uma exaltação LQFRQYHQLHQWH H I~WLO 3DXOR XVD GRLV DUJXPHQWRV D ÂżP GH SURYDU isso. O primeiro ĂŠ que ele nĂŁo era motivado por ambição, ou por bajulação, ou pela paixĂŁo de acomodar-se Ă opiniĂŁo dos homens. O segundo argumento, bem mais forte, ĂŠ que ele mesmo, Paulo, QmR HUD R DXWRU GR HYDQJHOKR H TXH SUHJDYD FRP ÂżGHOLGDGH R que recebera de Deus. 10. Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? A ambigĂźidade da construção grega, nesta passagem, causou diversas explicaçþes. Alguns a traduzem assim: “Estou, agora, buscando o favor dos homens ou o de Deus?â€? Outros consideram “Deusâ€? e “homensâ€? como que signifcando interesses divinos e humanos. Este sentido concordaria bem com o contexto, se nĂŁo fosse um grande afastamento do sentido das SDODYUDV 3UHÂżUR R SRQWR GH YLVWD TXH p PDLV natural, pois era comum ao idioma grego deixar subtendida a preposição kata, de acordo com. Paulo falava nĂŁo sobre o assunto de sua pregação, mas sobre o propĂłsito de sua mente, que poderia se referir mais convenientemente a Deus, e nĂŁo aos homens. A disposição do pregador SRGH H[HUFHU DOJXPD LQĂ€XrQFLD HP VXD GRXWULQD $VVLP FRPR a corrupção da doutrina resulta de ambição, de avareza ou de outro desejo pecaminoso, assim tambĂŠm a verdade ĂŠ mantida em sua pureza pela instrumentalide de uma consciĂŞncia limpa. 3RU LVVR R DSyVWROR FRQWHQGH DÂżUPDQGR TXH VXD GRXWULQD p SXUD 36


GĂĄlatas 1

[vv. 10-12]

SRUTXH QmR p PRGLÂżFDGD SDUD VDWLVID]HU RV KRPHQV Ou procuro agradar a homens? Esta segunda clĂĄusula ĂŠ um pouco diferente da primeira, pois o desejo de obter favor ĂŠ uma das razĂľes para alguĂŠm “agradar a homensâ€?. Quando essa ambição reina em nosso coração, de modo que desejamos regular nossa linguagem, para obter o favor dos homens, nosso ensino nĂŁo ĂŠ sincero. Paulo declara que estava limpo desse erro. E, para repelir com mais ousadia a insinuação caluniosa, ele emprega a forma interrogariva de discurso. Pois as interrogativas tĂŞm maior importância, quando damos aos nossos oponentes uma chance de resposta, se tiverem algo a dizer. Isto expressa a grande ousadia que Paulo extraĂ­a do testemunho de uma boa consciĂŞncia; ele sabia que cumprira seu dever de tal modo que nĂŁo estava sujeito a reprovaçþes daquele tipo (At 23.1, 2; 2 Co 1.12). Se agradasse ainda a homens 4XH DÂżUPDomR H[WUDRUGLQiULD Homens ambiciosos (ou seja, aqueles que buscam o aplauso dos homens) nĂŁo podem servir a Cristo. Paulo disse a respeito de si mesmo que renunciara espontaneamente a estima dos homens, a ÂżP GH FRQVDJUDU VH SRU FRPSOHWR DR VHUYLoR GH &ULVWR ( QHVWH aspecto, ele contrasta sua posicĂŁo presente com a que ocupara em uma ĂŠpoca anterior de sua vida. Paulo fora considerado com a mais elevada estima, recebera elogios em todos os lugares; e, por isso, se houvesse resolvido agradar a homens, nĂŁo teria achado necessĂĄrio mudar de condição. A palavra homens ĂŠ empregada aqui em um sentido restrito; porque os ministros de Cristo nĂŁo devem labutar com o propĂłsito de desagradar os homens. Mas hĂĄ diferentes classes de homens. Aqueles para os quais Cristo â€œĂŠ a preciosidadeâ€? (1 Pe 2.7) sĂŁo os homens a quem devemos nos esforçar para agradar em Cristo (1 Pe 2.7). Aqueles que resolvem colocar suas prĂłprias paixĂľes no lugar da verdadeira doutrina, a esses nĂŁo devemos agradar de modo algum. E os pastores piedosos e Ă­ntegros sempre acharĂŁo 37


[vv. 12, 13]

GĂĄlatas 1

necessĂĄrio lutar contra as ofensas daqueles que resolvem satisfazer, em todos os aspectos, as suas paixĂľes. Pois a igreja sempre terĂĄ hipĂłcritas e Ă­mpios, que preferem suas prĂłprias cobiças Ă Palavra de Deus. E mesmo as pessoas boas sĂŁo tentadas pelo diabo, quer por meio de ignorância, quer por meio de alguma IUDTXH]D D VHQWLUHP VH LQVDWLVIHLWDV FRP DV DGYHUWrQFLDV ÂżpLV GH VHX SDVWRU 1RVVR GHYHU SRUWDQWR p QmR ÂżFDUPRV DODUPDGRV diante de qualquer tipo de ofensa, contanto que, ao mesmo tempo, nĂŁo estimulemos, em mentes frĂĄgeis, preconceito contra o prĂłprio Cristo. Muitos interpretam esta passagem de maneira diferente, como VH HOD VLJQLÂżFDVVH Âł6H HX DJUDGDVVH DRV KRPHQV nĂŁo seria servo de Cristo. Admito isso, mas quem me acusarĂĄ disso? Quem nĂŁo SHUFHEH TXH QmR HVWRX SOHLWHDQGR R IDYRU GRV KRPHQV"´ 3UHÂżUR o primeiro sentido, ou seja, que Paulo estava mostrando quanta estima humana ele renunciara, para dedicar-se a Cristo. 11. Faço-vos, porĂŠm, saber. Este ĂŠ o argumento mais poderoso, o eixo principal, por assim dizer, em torno do qual gira toda a questĂŁo, a saber, que ele nĂŁo recebeu o seu evangelho da parte de homens, mas lhe foi revelado por Deus mesmo. E uma vez que isto podia ser negado, Paulo oferece uma prova fundamentada em um relato dos acontecimentos. Para transmitir maior DXWRULGDGH j VXD DÂżUPDomR HOH GHFODUD TXH QmR HVWi IDODQGR VREUH um assunto duvidoso, mas sobre um assunto que estĂĄ disposto a comprovar. Assim, Paulo se apresenta de maneira bem adequada D HVVD TXHVWmR EDVWDQWH VpULD (OH DÂżUPD TXH VHX HYDQJHOKR ÂłQmR ĂŠ segundo o homemâ€?, nĂŁo tem qualquer sabor humano ou nĂŁo provĂŠm de iniciativa humana. E para comprovar isso, acrescenta que nĂŁo fora instruĂ­do por qualquer mestre humano. 12. Porque eu nĂŁo o recebi, nem o aprendi de homem algum. O quĂŞ? A autoridade da mensagem diminui, quando alguĂŠm que ĂŠ instruĂ­do pela instrumentaliade de homens se torna um mestre? Temos de levar em conta as armas com que os 38


Gálatas 1

[vv. 13-15]

falsos apóstolos atacavam a Paulo, alegando que seu evangelho HUD GH¿FLHQWH H HVS~ULR TXH R REWLYHUD GH XP PHVWUH LQIHULRU ou incompetente e que sua instrução imperfeita o levava a fazer asseverações imprudentes. Orgulhavam-se, por outro lado, de que haviam sido instruídos pelos mais preeminentes apóstolos, cujos pontos de vistas eles, os falsos apóstolos, conheciam muito bem. Era, portanto, necessário que Paulo expusesse sua doutrina em oposição a todo o mundo e a alicerçasse no fato de que não o aprendera nas escolas de qualquer homem, e sim mediante revelação da parte de Deus. De nenhuma outra maneira ele poderia ter repelido as calúnias dos falsos apóstolos. A objeção de que Ananias (At 9.10) fora mestre de Paulo pode ser facilmente respondida. A instrução divina que Paulo recebera, por inspiração direta, não tornava impróprio que outro homem fosse empragado para instrui-lo, se isso trouxesse importância ao seu ministério público. Como já dissemos, Paulo teve uma chamada direta da parte de Deus, por meio de revelação, e foi ordenado pelos votos e aprovação solene de homens. Estas D¿UPDo}HV QmR VH FRQWUDGL]HP 13. Porque ouvistes qual foi o meu proceder. Toda esta narrativa foi introduzida como parte do argumento de Paulo. Ele relata que, durtante toda a sua vida, nutrira tão profunda rejeição pelo evangelho, que se tornara um inimigo mortal e um destruidor do cristianismo. Isso nos leva a inferir que a conversão de Paulo foi divina. E, de fato, ele convoca os gálatas a serem testemunhas de um assunto indubitável, para remover toda controvérsia concernente ao que ele diria. Paulo se igualou aos que eram de sua idade, pois comparar-se aos de idade superior teria sido inadequado. Quando ele falou sobre as tradições de meus pais, referiu-se não aos acréscimos que haviam corrompido a lei de Deus, e sim à própria lei de Deus, na qual fora educado desde sua infância e que recebera pelas mãos de seus pais e ancestrais. Paulo vivera apegado 39


[v. 15]

GĂĄlatas 1

¿UPHPHQWH DRV FRVWXPHV GH VHXV SDLV H QmR WHULD VLGR IiFLO separå-lo desses costumes, se o Senhor não o tivesse atraído por meio de um milagre. 15. Quando, porÊm, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve 16. revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, 17. nem subi a JerusalÊm para os que jå eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiþes da Aråbia e voltei, outra vez, para Damasco. 18. Decorridos três anos, então, subi a JerusalÊm para avisitarme com Cefas e permaneci com ele quinze dias; 19. e não vi outro dos apóstolos, senão Tiago, o irmão do Senhor. 2UD DFHUFD GR TXH YRV HVFUHYR HLV TXH GLDQWH GH 'HXV WHVWL¿FR que não minto. 21. Depois, fui para as regiþes da Síria e da Cilícia. 22. E não era conhecido de vista das igrejas da JudÊia, que estavam em Cristo. 23. Ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fÊ que, outrora, procurava destruir. ( JORUL¿FDYDP D 'HXV D PHX UHVSHLWR

15. Quando... ao que me separou... aprouve... Esta ĂŠ a segunda parte da narrativa da miraculosa conversĂŁo de Paulo. Ele diz, primeiramente, que havia sido chamado pela graça de Deus para pregar a Cristo entre os gentios. Em seguida, Paulo diz que, tĂŁo logo fora chamado, prosseguiu, sem hesitação e sem consultar os apĂłstolos, Ă realização de sua obra, sentindo-se convicto de que a obra lhe havia sido designada por Deus. Na construção das palavras, Esrasmo difere da Vulgata. Ele as une assim: “Quando aprouve a Deus que eu pregasse a Cristo entre os gentios, o Deus 40


GĂĄlatas 1

[v. 15]

que me chamou com o propĂłsito de revelar a Cristo por meu intermĂŠdioâ€?. 0DV SUHÂżUR D WUDGXomR DQWLJD SRUTXH &ULVWR KDYLD se revelado a Paulo, antes que este recebesse a ordem de pregar. Admitindo que a tradução de Erasmo ĂŠ correta, traduzindo (™n ™moˆ ) com o sentido de “por meu intermĂŠdioâ€?, terĂ­amos de dizer que a claĂşsula para que eu o pregasse ĂŠ introduzida para descrever o modo da revelação. Ă€ primeira vista, a argumentação de Paulo nĂŁo parece muito convincente. Logo que se converteu ao cristianismo, ele assumiu o ofĂ­cio da pregação do evangelho, sem consultar os apĂłstolos; PDV LVVR QmR VLJQLÂżFD TXH KDYLD VLGR GHVLJQDGR SDUD HVVH RItFLR mediante revelação de Jesus Cristo. No entanto, Paulo usa vĂĄrios argumentos, que, considerados juntos, sĂŁo reconhecidos como VXÂżFLHQWHPHQWH IRUWHV SDUD HVWDEHOHFHU D VXD FRQFOXVmR 3DXOR argumenta, em primeiro lugar, que fora chamado pela graça de Deus; em seguida, que seu apostolado fora reconhecido pelos demais apĂłstolos; e os demais argumentos sĂŁo apresentados no restante da epĂ­stola. O leitor deve, portanto, lembrar-se de apreciar a narrativa como um todo e de extrair a inferĂŞncia nĂŁo de partes isoladas, mas de toda a epĂ­stola. Que me separou. Esta separação era o propĂłsito de Deus pelo qual Paulo foi designado ao ofĂ­cio apostĂłlico, antes mesmo de nascer. A chamada ocorreu depois, no tempo certo, quando o Senhor tornou conhecida a sua vontade a respeito do apĂłstolo e lhe ordenou que realizasse a obra. Sem dĂşvida alguma, Deus havia decretado, antes da fundação do mundo, o que faria a respeito de cada um de nĂłs e destinado a cada um, mediante seu conselho secreto, o devido lugar na vida. Mas os escritores sagrados referem-se com freqßência a estes trĂŞs passos: a predestinação divina e eterna; a destinação desde o ventre; e a chamada, que ĂŠ o efeito e o cumprimento de ambas. A palavra do Senhor vinda a Jeremias, embora tenha sido 41


[vv. 15-17]

Gálatas 1

expressa de modo um pouco diferente do que Paulo disse nesta passagem, tem o mesmo sentido: “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constitui profeta às nações” (Jr 1.5). Antes mesmo de existirem, Jeremias e Paulo foram separados: aquele, para o ofício de profeta; este, para o ofício de apóstolo. Mas Deus é revelado como quem nos separa desde o ventre materno, visto que o propósito de sermos enviados ao mundo é que Ele realize em nós o que já decretou. A chamada é adiada até ao tempo próprio, quando Deus nos tiver preparado para a tarefa que nos manda realizar. Então, as palavras de Paulo podem ser entendidas assim: “Quando aprouve a Deus revelar, por meu intermédio, o seu Filho, Ele me chamou, porque já me havia separado”. Paulo quis mostrar que sua chamada dependia da eleição secreta de Deus e que fora ordenado apóstolo, não porque, por esforço próprio, se preparara para desempenhar esse nobre ofício ou porque Deus o considerara digno de perfazê-lo, e sim porque, antes mesmo de nascer, ele já havia sido separado pelo desígnio secreto de Deus. Em sua maneira habitual, Paulo costumava dizer que a causa de sua chamada era o beneplácito de Deus. Isso merece a nossa atenção, pois nos mostra que devemos nossa chamada à graça de Deus; que fomos eleitos e adotados para a vida eterna e que Ele tem o desígnio de usar nossos serviços. Mostra-nos que, de outro modo, seríamos completamente inúteis e que Ele determina para nós uma chamada legítima, na qual podemos ser usados. O que Paulo possuía antes de nascer, para ter direito a tão elevada honra? De modo semelhante, devemos crer que é inteiramente pelo dom de Deus, e não pelo fruto de nossos próprios esforços, que temos sido chamados para administrar a sua igreja. As distinções sutis nas quais têm entrado alguns comentadores, ao explicar a palavra ‘separou’ são completamente estranhas 42


GĂĄlatas 1

[vv. 17, 18]

ao assunto. Eles dizem que Deus nos separou nĂŁo porque nos infundiu qualquer disposição mental peculiar que nos distingue das outras pessoas, e sim porque Ele nos designou por intermĂŠdio de seu propĂłsito. Paulo atribuiu, com muita clareza, sua chamada Ă livre graça de Deus, quando declarou que a separação espontânea desde o ventre materno foi a origem da chamada; PDV DSHVDU GLVVR UHSHWLX D DÂżUPDomR GLUHWD GH TXH DR H[DOWDU a graça de Deus, podia excluir todos os motivos de vanglĂłria e WHVWLÂżFDU VXD SUySULD JUDWLGmR D 'HXV 6REUH HVWH DVVXQWR 3DXOR costumava falar livremente, mesmo quando nĂŁo tinha qualquer controvĂŠrsia com os falsos apĂłstolos. 16. Revelar seu Filho em mim. Se lermos: “Revelar... por meu intermĂŠdioâ€?, teremos o propĂłsito do apostolado, ou seja: tornar Cristo conhecido. Como isso devia ser realizado? Por pregĂĄ-lo entre os gentios, o que os falsos apĂłstolos consideravam uma ofensa. Mas creio que ™n ™moˆ corresponde a uma H[SUHVVmR LGLRPiWLFD KHEUDLFD TXH VLJQLÂżFD ÂłD PLP´ SRLV D partĂ­cula hebraica “bâ€? (beth) ĂŠ, Ă s vezes, redundante, como R VDEHP WRGRV RV TXH FRQKHFHP HVVD OtQJXD 3RUWDQWR R VLJQLÂżcado ĂŠ que Cristo foi revelado a Paulo, nĂŁo com o propĂłsito de que desfrutasse sozinho do conhecimento de Cristo e retivesse esse conhecimento silencionsamente em seu coração, mas para que pregasse entre os gentios o Salvador que ele mesmo conhecera. Sem detença, nĂŁo consultei. Consultar carne e sangue VLJQLÂżFD WRPDU FRQVHOKR GH FDUQH H VDQJXH 1R TXH FRQFHUQH DR VLJQLÂżFDGR GDV SDODYUDV D LQWHQomR GH 3DXOR HUD H[FOXLU todos os conselhos humanos. Esta expressĂŁo geral, conforme transparecerĂĄ do contexto, envolve todos os homens, com toda a prudĂŞncia e a sabedoria que possuem. Paulo menciona os apĂłsWRORV D ÂżP GH H[LELU FRP EDVWDQWH rQIDVH D FKDPDGD GLUHWD GD SDUWH GH 'HXV &RQÂżDQGR VRPHQWH QD DXWRULGDGH GH 'HXV H QmR recorrendo a nada mais, o apĂłstolo prosseguiu ao cumprimento do dever de pregar o evangelho. 43


[vv. 19-22]

Gálatas 1

17. Nem subi a Jerusalém (OH H[SOLFD H DPSOLD VXD D¿Umação anterior, como se estivesse dizendo: “Não busquei a autoridade de homem algum”, nem mesmo dos apóstolos. É um erro supor que, por serem agora mencionados separadamente, os apóstolos não estavam incluídos nas palavras carne e sangue. Paulo não acrescenta nada novo ou diferente aqui; apenas explica com mais clareza o que já havia dito. Esta expressão também não implicava num insulto aos apóstolos. O propósito era mostrar que ele não devia sua comissão a qualquer homem. A vanglóira de homens inescrupolosos colocaram-no sob a necessidade de contrastar a autoridade dos apóstolos com a autoridade de Deus. Quando uma criatura é contrastada com Deus, não importando quão humilhante e desprezível seja a linguagem empregada no constraste, a criatura não tem motivos para queixar-se. Mas parti para as regiões da Arábia. Em Atos dos Apóstolos, Lucas omitiu esses três anos. Há outros acontecimentos que ele também não menciona. Por isso, era ridícula a calúnia daqueles que tentavam elaborar uma acusação de incoerência nessas palavras de Paulo. Os leitores piedosos devem considerar a provação severa que Paulo teve de enfrentar no início de sua jornada. Aquele que, por amor à honra de Cristo, fora enviado, poucos dias antes, a Damasco, acompanhado por uma escolta formidável, agora é obrigado a vaguear como um exilado em terra estranha. Mas ele não perdeu o ânimo. 18. Decorridos três anos. Paulo subiu a Jerusalém três anos depois de começar a cumprir seu ofício apostólico. Portanto, no início de seu apostolado, ele não recebeu uma chamada da parte de homens. Mas, para que não imaginassem que ele tinha interesses diferentes dos interesses dos outros apóstolos e que desejava afastar-se deles, Paulo nos diz que subiu a Jerusalém a ¿P GH DYLVWDU VH com Cefas. Embora Paulo não tenha esperado pela aprovação dos apóstolos, para começar seu ofício, nãoi foi contra a vontade deles, e sim com o pleno consentimento e aprovação deles, que entrou na classe de apóstolo. Paulo 44


GĂĄlatas 1

[vv. 22-24]

desejava mostrar que nunca estivera em desarmonia com os apĂłstolos e que, nesta altura, estava em plena harmonia com todas as opiniĂľes deles. Ao mencionar o tempo que permanecera na ArĂĄbia, Paulo demonstra que viera nĂŁo para aprender, mas apenas para ter comunhĂŁo mĂştua. 19. E nĂŁo vi a outro dos apĂłstolos. Isto foi acrescentado para evidenciar que Paulo nĂŁo tinha outro propĂłsito em sua viagem; e nĂŁo atendeu a qualquer outra coisa. SenĂŁo Tiago. É oportuno perguntarmos quem era esse Tiago. Quase todos os antigos pais concordam que ele era um dos discĂ­pulos, cujo sobrenome era Oblias e “o Justoâ€?, que preVLGLD D LJUHMD GH -HUXVDOpP 2XWURV SHQVDP TXH HOH HUD ÂżOKR GH JosĂŠ, com outra esposa. E outros acham que Tiago era primo de Cristo, por parte de mĂŁe. (Esta ĂŠ a idĂŠia mais provĂĄvel.) Mas, como ele ĂŠ mencionado entre os apĂłstolos, nĂŁo concordo com essa opiniĂŁo. TambĂŠm nĂŁo existe sustentação para o argumento GH -HU{QLPR DÂżUPDQGR TXH R WtWXOR apĂłstolo ĂŠ aplicado a outros alĂŠm dos Doze. Nestes versĂ­culos, o assunto em consideração ĂŠ a mais elevada classe de apĂłstolos; e veremos que Tiago era considerado uma das principais colunas da igreja (Gl 2.9). Parece PDLV SURYiYHO TXH 3DXOR IDODYD VREUH R ÂżOKR GH $OIHX É mais provĂĄvel que os demais dos apĂłstolos estivessem espalhados pelos vĂĄrios paĂ­ses; visto que nĂŁo permaneciam em um Ăşnico lugar. Lucas relata que BarnabĂŠ trouxera Paulo aos apĂłstolos (At 9.27). Isto nĂŁo deve ser entendido como uma referĂŞncia aos Doze, e sim aos dois que estavam sozinhos em JerusalĂŠm. 20. Ora, acerca do que vos escrevo (VWD DÂżUPDomR VH estende a toda a epĂ­stola. A profunda seriedade de Paulo neste assunto ĂŠ mostrada pelo fato de que ele recorreu a um juramento, algo que sĂł deve ser usado em ocasiĂľes sĂŠrias e importantes. NĂŁo devemos estranhar que Paulo tenha insistido tĂŁo energicamente neste ponto, pois jĂĄ vimos como os impostores faziam tudo para 45


Gálatas 1

calúnias não teriam outro efeito além do ocultar a glória de Deus, a qual, conforme os apóstolos admitiam e reconheciam publicamente, brilhou intensamente no apostolado de Paulo. Isso nos lembra do nosso dever de considerar com elevado apreço os santos do Senhor. Quando vemos homens dotados com os dons de Deus, nos revelamos tão depravados, ou ingratos, ou inclinados à superstição, que começamos a adorar tais homens, como se fossem deuses, esquecendo Aquele que lhes outorgou os dons. Estas palavras nos recordam o contrário: devemos levantar nossos olhos ao Grande Autor e atribuir-Lhe aquilo que Lhe pertence. Estas palavras também nos informam que Deus nos proveu uma ocasião de oferecer-Lhe louvor, quando realizou uma mudança na vida de Paulo, o qual de inimigo veio a ser um

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