“É difícil imaginar um livro mais cheio de graça e discernimento quanto à vida incomum do pastor comum. Por isso, deixarei a tentativa de encontrar algum outro e lerei novamente O Pastor Imperfeito, de Zack Eswine. Ninguém hoje expressa mais discernimento quanto aos perigos e às alegrias do ministério diário na igreja local – uma meditação refrescantemente honesta, escrita com beleza.” Mark Galli, editor-chefe, Christianity Today
“Gostaria de ter lido esta obra vinte anos atrás, quando comecei a considerar o ministério pastoral. O assunto que Zack aborda é vital tanto para pastores novatos quanto para pastores experientes. Ele nos direciona a evitarmos as ambições perigosas, as expectativas absurdas e os padrões de trabalho prejudiciais. No entanto, ele faz isso com inteligência, autocrítica e profundo realismo. Eswine reacendeu em mim um amor pelo Pastor Perfeito, cuja graça extraordinária inclui pastores imperfeitos na obra de seu reino. Este livro deveria estar na lista de leituras indispensáveis de todo pastor!” Mark Meynell, diretor associado (Europa), Langham Preaching; Autor, A Wilderness of Mirrors
“Zack Eswine o fez novamente. Em O Pastor Imperfeito, ele estende a mão de irmandade a cada ministro do evangelho. Muitos soldados fatigados guardam as linhas de frente; Eswine lembra a todos nós que Cristo é nosso guarda e defensor, e que nele está o nosso lugar de maior força.” Lore Fergurson, escritor, designer gráfico, palestrante
“Este livro precisa ser lido por todo pastor, para nos resgatar e nos chamar de volta ao que realmente importa. As expectativas de ministério grande, rápido e famoso numa cultura pós-cristã podem ser um fardo destrutivo. A sabedoria de Zack é um bálsamo curador que traz a graça necessária para nos ajudar a ministrarmos com paciência e perseverança.” Peter Boyd, pastor, Shore Presbiterian Church, Auckland, New Zeland
“Aqui há sabedoria reminiscente dos pregadores dotados de outras épocas, mas expressa no tom e no som de nossos dias. Há teologia pastoral escrita, pregada e vivenciada na vida real e provada do próprio Zack. Há conselho humano e piedoso. Você deve ler este livro.” Leighton Ford, presidente, Leigthon Ford Ministries
“Zack Eswine projeta sua prosa numa área muito sensível que nós, pastores e líderes, odiamos discutir: nós extraímos nosso senso de identidade e estima do número de pessoas que vão às nossas igrejas, do volume das ofertas e de nossos seguidores em mídias sociais. Este é um livro cheio não de condenação e sim de encorajamento cativante. Pude sentir os braços de Zack ao meu redor quando Deus o usou para me mostrar o caminho adiante – em direção a uma vereda de cura e esperança.” Bryan Loritts, pastor de pregação e missões, Trinity Grace Church, New York City; fundador e presidente, The Kainos Movement; editor, Letters to a Birmingham Jail
“Este é simplesmente o melhor livro sobre ministério pastoral que já li. Num mundo de ministério caótico que idolatra tamanho e estrelato, Zack abre nossos olhos para a única coisa que realmente importa. Leia com oração e releia esta meditação bela e pungente, e você descobrirá alegria e verdadeira grandeza em meio à sua extraordinária vida comum diária.” Ken Shigematsu, pastor, Tenth Church Vancouver; Autor best-seller, God in My Everything
“O Pastor Imperfeito é um lembrete revigorante do que o ministério realmente é: andarmos com Jesus, reconhecermos nossos próprios desejos e limitações e refletirmos uma atitude ouvinte, uma paciência esperançosa e um propósito restaurador. As experiências pessoais de Zack relacionadas aos altos e baixos do ministério, bem como sua abordagem contemplativa à espiritualidade, desafiarão e encorajarão qualquer um que busca ministrar em nome de Jesus.” Wendy Der, diretor de mobilização no México, Avance Internacional
E82p
Eswine, Zack, 1969O pastor imperfeito : descobrindo a alegria em nossas limitações através do aprendizado diário com Jesus / Zack Eswine ; [tradução: Elizabeth Gomes]. – São José dos Campos, SP : Fiel, 2016. 324 p. Tradução de: The imperfect pastor: discovering joy in our limitations through a daily apprenticeship with Jesus. Inclui referências bibliográficas. ISBN 9788581323916 1. Teologia pastoral. I. Título. CDD: 253
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477 O Pastor Imperfeito: descobrindo a alegria em nossas limitações através do aprendizado diário com Jesus traduzido do original em inglês: The Imperfect Pastor: Discovering Joy in Our Limitations through a Daily Apprenticeship with Jesus Copyright © 2015 by Zachary W. Eswine
Publicado por Crossway Books,Um ministério de publicações de Good News Publishers 1300 Crescent Street Wheaton, Illinois 60187, USA. Copyright © 2016 Editora Fiel Primeira edição em português: 2016
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Elizabeth Gomes Revisão: Márcia Gomes e Gilson Carlos de Souza Santos Diagramação: Rubner Durais Capa: Larissa Nunes ISBN: 978-85-8132-391-6 Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
Para Mamaw, Papaw e Jessica. Aguardo ansioso o momento de poder apresentรก-los
SUMÁRIO Agradecimentos..........................................................................11 Apresentação à edição em português........................................13 Introdução...................................................................................19 Primeira Parte: A Chamada que seguimos 1. Desejo..........................................................................................25 2. Reconquistando nossa humanidade.........................................47 3. Saindo de casa.............................................................................61 4. Invisível........................................................................................75 Segunda Parte: As tentações que enfrentamos 5. Estar em todo lugar para todos.................................................93 6. Consertar tudo..........................................................................113 7. Saber tudo.................................................................................131 8. Imediatismo...............................................................................149 Terceira Parte: Reformulando nossa vida interior 9. Uma nova ambição...................................................................169 10. Contemplando Deus................................................................195 11. Encontrando o nosso ritmo.....................................................219 Quarta Parte: Reformulando o trabalho que fazemos 12. Cuidando dos enfermos...........................................................243 13. Cuidando dos pecadores.........................................................259 14. Conhecimento Local................................................................277 15. Liderança...................................................................................299 16. Realismo Romântico................................................................319
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a Dave Dewit, cujo coração em favor de líderes no ministério e dedicação a este livro me humilha e encoraja. Obrigado também a Lydia Brownback por seu trabalho de edição. Sou grato à Bruwer Vroon, Matt Blazer, e aos presbíteros da igreja de Riverside que leram os esboços iniciais e fizeram sugestões. Obrigado, Jessica, pelas muitas leituras que fez tarde da noite e aos sábados. Sua sensibilidade, sugestões e seu estímulo em nossa mútua parceria me abençoam. Sou grato à Igreja de Riverside, de cujo contexto de cotidiana vida mútua e de meios comuns eu escrevo este livro.
APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS Gilson Santos1
Lidando com o aconselhamento pastoral por alguns anos, tenho percebido que muitos dos grandes problemas que enfrentamos parecem resultar de uma equação simples e binária: Não queremos Deus e queremos ser Deus. No fim das contas, o verso e reverso de uma mesma moeda. A marca registrada da impiedade humana, a qual, desde as suas raízes, caracteriza-se ativamente por estultícia, soberba e idolatria. Em rigor, a impiedade que acometeu os seres humanos é isto, a saber, o desprezo a Deus, que se manifesta em virar as costas para ele e tentar assumir o controle de tudo. 1 Gilson Carlos de Souza Santos possui bacharelado em Teologia, formação em Psicologia, e licenciaturas em História e Geografia. Possui especialização em Avaliação Psicológica Clínica, e está em fase de conclusão de uma especialização em Psicopatologia na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com atuação prática no Centro de Atenção Integral à Saúde Mental (antigo “Hospital Psiquiátrico da Vila Mariana”). Exerce atividades pastorais desde 1987 e docentes desde 1988. Preside desde 1999 o corpo pastoral da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos, São Paulo. Integra o conselho administrativo do Seminário Martin Bucer no Brasil, no qual leciona especialmente disciplinas na área pastoral. www. gilsonsantos.com
PASTOR IMPERFEITO
A lógica falida de não querer Deus e querer ser Deus, logo percebi, pode também ser uma realidade muito fortemente ativa em mim, pastor e conselheiro. Se você, leitor, pastoreia um rebanho de Cristo, suponho que entende o que estou tentando dizer. Nós, pastores, estamos constantemente sujeitos à tentação tão antiga quanto a astuta serpente no jardim: “É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3. 4b-5). O único pastor perfeito, Jesus Cristo, sofreu um ataque semelhante. No quarto capítulo do Evangelho de Mateus, lemos que ele foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Vemos neste texto três áreas de tentações frequentes no ministério pastoral. “Manda que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). Jesus estava com fome. “Supra sua necessidade física”, foi o conselho do maligno. A tentação para ser imediatista, por atender as necessidades do momento, suprir o povo naquilo que este julga ser as suas mais sérias e importantes necessidades... Em suma, agir inteiramente referenciado por interesses pessoais. Isso atinge o centro de nossa identidade. Trata-se de uma tentação muito sutil, pois não é prontamente reconhecida como tal. Geralmente, trocando alhos por bugalhos, confundimos esta tentação como sendo um chamado de Deus. E nos indagamos: “Afinal de contas, o Senhor não quer que alimentemos o povo?” “Ele não quer que sejamos produtivos e eficientes em nosso trabalho?” Assim, pensar em um ministério que lance raízes, que trabalhe sistemática e perseverantemente a fim de ver vidas serem transformadas, que seja constante e diacrônico na pregação e no discipulado cotidiano, enfim, tudo que exija o concurso de 14
Apresentação à edição em português
tempo para o amadurecimento, pode ser inconcebível para alguns de nós. Há alguns, em nossa atual geração de pastores, que têm imensa dificuldade com processos lentos, que exigem dedicação e esforço e que não trazem resultados imediatos. “Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo. E lhe disse: Se és filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem...” (vv. 5-6). Assim, a tentação para se realizar algo espetacular não diminui desde os tempos de Jesus. Imagine o espetáculo que seria Jesus pulando do alto do templo e os anjos apressando-se em segurá-lo nos céus. Este cenário teria toda uma atmosfera Hollywoodiana. Em nossos ministérios, também podemos ser seduzidos pelo ideal de sucesso reluzente ao custo da fidelidade. Certamente, queremos ser bem sucedidos. Mas o que isto significa? A realidade é que podemos ter nesta área referenciais absolutamente mundanos, secularizados, e tomá-los como sinais indiscutíveis de bênção e evidente aprovação de Deus. Pare um pouco e pense na história do povo de Deus, e sobretudo na pessoa de Jesus Cristo, o melhor dos pastores. Pode ser difícil lembrarmos que a salvação vem do “remanescente de Israel”; do “renovo que brota de uma terra seca”. É difícil acreditar no nascimento despretensioso do Rei dos reis, que veio ao mundo como servo, entrou em Jerusalém montado num pequeno jumentinho, morreu em uma cruz ao lado de ladrões e como um criminoso amaldiçoado e proscrito. Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos, constatamos que o evangelho se espalhou e tomou força pela pregação de “homens comuns”, de “pescadores incultos”, e de um outrora fariseu, perseguidor da igreja, que foi o apóstolo Paulo. E o poder de Deus aperfeiçoou-se em meio àquelas fraquezas, a fim de que a glória fosse inteiramente do Senhor. 15
PASTOR IMPERFEITO
Um incansável missionário norte-americano no Brasil, certa ocasião, escreveu oferecendo um alerta: “É importante compreender que nossa ânsia pelo espetacular é mais uma manifestação de nossa busca por identidade. Queremos ser alguém, queremos ser celebrados, ter ministério reconhecido. Se o espetacular cumpre nossa necessidade íntima, faremos qualquer coisa para consegui-lo.” Porém, o que realmente importa? Quem realmente somos? O que nos motiva a provarmos o nosso valor por meio daquilo que fazemos? Nós pastores sabemos que o cenário do ministério pastoral evangélico, tristemente, pode ser caracterizado por competições, manipulações e comparações ministeriais. Aqui neste livro temos um chamado a “permitir” que o poder de Deus se evidencie através de nós, que somos frágeis vasos de barro, por meio de nossa fraqueza e pequenez. “Levou-o ainda o diabo a um monte alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e lhe disse: tudo isso te darei se prostrado, me adorares” (vv. 8-9). Penso que entendemos ser esta uma tentação contínua no ministério pastoral. Com alguma frequência, nos encontramos persuadidos de que a busca de poder e o desejo de servir têm o mesmo significado. Em um contexto assim, facilmente os fins podem justificar os meios, atendendo ao nosso desejo de sermos mais eficazes no trabalho de Deus. Indagamos intimamente: “Que valor há em não termos poder, em não causarmos impacto?”. Nos momentos em que nos virmos sujeitos a tal realidade, ajuda-nos lembrarmos que o ministério é servir ao Senhor dependendo do seu poder e não do nosso. No reconhecimento de nossa fraqueza e vulnerabilidade nos tornamos mais dependentes da graça de Deus, e mais agradecidos por ela, ao mesmo 16
Apresentação à edição em português
tempo em que somos levados à empática posição de nos tornamos solidários ao próximo. Quando o Senhor Jesus Cristo foi tentado, respondeu: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” (v. 10b). Estas palavras nos lembram que vamos nos tornando parecidos com aquilo que adoramos, e constituem-se em alerta para que, em nosso ministério, tenhamos os olhos fixos em Cristo. Quando deixamos de olhar para Jesus, podemos ser facilmente conduzidos a usar pessoas, manipular circunstâncias, armar situações para alcançar os nossos objetivos, e entrar em vergonhosas e patéticas disputas de poder. Nunca ficaremos livres destas tentações em nosso ministério. Elas são constrangedoras e sedutoras por atingirem a nossa ambição e prometerem satisfazer a ilusão do ser humano egocêntrico. Eu e você podemos servir ao Senhor com o coração puro e autêntico. Eu e você podemos servir sem que dependamos, em todo tempo, de que o nosso valor seja referenciado pelo meio – e se há uma verdade acerca do meio é que ele é instável e caprichoso. E se o Senhor nos conceder aquela graça, então estaremos mais livres. E desfrutar do oxigênio dessa liberdade, provocará uma alegria profunda em servir ao nosso Deus com um coração inteiramente voltado para ele. O triste fato, porém, é que reconhecidamente chegamos até aqui com uma história de fracassos nessas áreas. Cristo, que foi vitorioso nestas tentações tão prementes, é o único pastor perfeito. Ele é o “supremo pastor e bispo” de nossas almas que, por natureza, são carentes e mesquinhas. Digno é o cordeiro! Sim. Nós, assim como Pedro e Paulo, somos todos pastores imperfeitos, com histórias de fracassos para contar. O Pastor Imperfeito é o segundo livro de Zack Eswine publicado em português. O primeiro foi A Depressão de Spurgeon 17
PASTOR IMPERFEITO
(Fiel, 2015). O Senhor me conferiu a oportunidade honrosa de revisar e prefaciar a ambos. O Dr. Zachary W. Eswine foi por seis anos professor assistente de Homilética e diretor do programa de Doutorado no Covenant Theological Seminary, em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos. Atualmente, ele conduz o ministério pastoral em uma igreja na mesma cidade. Eswine é também o autor de alguns outros livros, inclusive de um acerca do método de pregação de Spurgeon — Kindled Fire: How the methods of C.H. Spurgeon can help your preaching. Em O Pastor Imperfeito, Eswine faz pulsar, com uma sonoridade simples porém vibrante, o seu “coração de pastor”. Com acolhedora ternura, sensível compaixão e graciosa firmeza, ele situa o chamado que seguimos, reposicionando-nos em nossa humanidade. A seguir expõe a insensatez de engrossarmos as tipologias ministeriais que refletem o padrão de não querer Deus e querer ser como Deus. Na terceira parte do livro, faz uma chamada à reformulação de nosso mundo interior, por situarmos as nossas ambições em perspectivas divinas e realistas. A parte final do livro é dedicada a uma reformulação do trabalho pastoral cotidiano, de uma forma prática e balizada instrumentalmente por discernimento, critério e medida. O Pastor Imperfeito, penso eu, é oportuna contribuição à teologia pastoral, e particularmente à poimênica evangélico-reformada. Ele nos será muito útil, os quatro presbíteros de nossa igreja, pois pastores imperfeitos é o que somos, embora nem sempre estejamos lembrados ou crendo nisto. Como João Batista, eu precisarei relembrar a mim mesmo, aos meus colegas e à nossa preciosa congregação: “Eu não sou o Cristo”.
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INTRODUÇÃO
Tornei-me pastor. Mas eu não sabia como ser um deles. A Serpente viu isso. Aproveitou a oportunidade. “Você pode ser como Deus”, disse ela. E eu, tolo, acreditei. Olhando atrás, para esses vinte anos de trabalho pastoral, vêm à minha mente as palavras de um poeta. Elas preparam o palco para a conversa que quero ter com você. É muito provável, arrazoa o pregador, Que você esteja mais disposto a escutar Agora que sua cidade desmoronou de onde estivera.2
Estou escutando mais. Convido você, em sua cidade derribada, a juntar-se a mim. Quando comecei não sabia que a vocação pastoral em Jesus traria limites, faria com que eu andasse mais devagar, e desmancharia, dolorosamente, a mal direcionada orientação de minha vida. Agora sei que meu sucesso e minha alegria como pastor dependem disso. O seu também. 2 Carl Dennis, “Smaller”, em Unknown Friends [Amigos desconhecidos], (New York: Penguin Poets, 2007), 16.
PRIMEIRA PARTE
A CHAMADA QUE SEGUIMOS
Vocação O lugar que ele nos dá para habitar. O pouco que ele nos dá para fazer naquele lugar. As pessoas a quem convida para que conheçamos ali. Esses nossos dias, em que continuamos por aí. Basta então, essa velha obra de mãos Dele e nossa para aqui amar, para aprender aqui a sua canção, como grilos que arranham e cantam, dos recantos invisíveis, continuando a fazer aquilo para o que foram criados, a arte noturna de faces não notadas, com nossas asas não observadas, até que, mais uma vez, ele caminhe no frescor do dia, para reclamar nossos nomes. E nós então, com nossas bandeiras brancas costuradas, estaremos por trás de suas sempre verdejantes, finalmente deixando o lugar escondido e com ele mais uma vez caminhando juntos.
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DESEJO Ele pensa somente naquilo que deseja e não se pergunta se deveria desejar isso. Bernardo de Claraval
Eu me lembro de estar sentado no estacionamento, em uma mesa de piquenique na casa de meus avós em Henryville, Indiana. Estava no terceiro ano de meu primeiro pastorado. Tirara uma breve licença de estudo para escrever meu primeiro artigo para uma publicação ministerial. Mamaw, feliz com a minha visita mais longa, fez o bolo de especiarias que sempre fazia quando eu vinha à sua cidade. Pegando minha caneta e olhando rua abaixo, senti o que qualquer pessoa com certeza sentiria quando começa a realizar aquilo que sabe que foi feita para fazer — o nobre prazer de sentir que, de alguma forma, basta a nós esse dia, que o dia não pode nos conter porque brilharemos mais que ele. No meu caso, sentia um crescente desejo de escrever algo significativo para os pastores. Queria que fosse algo excepcional. Naquela semana sabática, devorei o assunto que mais me empolgava na época — os primórdios do Seminário Princeton e a pregação. Isso provavelmente soa irritante ou incrivelmente maçante para algumas pessoas. Mas, para mim, o assunto
PASTOR IMPERFEITO
era como o bolo de especiarias da Mamaw. O primeiro reitor de Princeton, Archibald Alexander, bem como o seu filho, pareciam ter tanto para dizer, e isso alimentou minha alma com respeito à pregação. Ofereciam alimento deleitoso para o pastor ferido em que eu estava me tornando. Fazendo uma retrospectiva, penso que mesmo sendo novo no ministério, eu já estava profundamente cansado. De alguma forma, no entanto, aquele sentimento de estarmos realizando algo significativo pode fazer com que nos enganemos, ao ponto de acharmos que as coisas na verdade não são tão ruins quanto parecem. Uma boa lembrança pode se juntar a esse sentimento e, juntos, eles alimentam um refúgio de esperança. Dr. Calhoun compartilhou com regularidade sua sala de estar e uma xícara de chá. Com o passar dos meses, ele transmitira o amor que sentia pelo velho Princeton para mim (e para outros). Tendo tal memória jungida à oportunidade de escrever, e o bolo de especiarias da Mamaw à minha frente, eu me sentia animado. Sempre quis transformar o mundo. Desejava muito fazer isso. Olhando para trás, eu achava que esse tipo de desejo era para um grande momento épico. (As pessoas excepcionais não são presas a uma vida de momentos nada excepcionais, não é mesmo?) Esses momentos épicos, quando realizados, não deixariam nada ser o mesmo. O próprio céu teria nos tocado. Essa ideia de uma grande arremetida flertava com os meus desejos. A aspiração épica começou a andar de mãos dadas com as minhas tentativas de pregar. Não estava só nisso. Os meus colegas que se formaram comigo no seminário partilhavam desses mesmos anseios e sonhos. E em minha mente isso não era irracional. Afinal, os 26
Desejo
meus professores e colegas de estudo reconheciam publicamente a minha pregação e afirmavam meus dons. Eu também tinha lido sobre como Deus atendera a pregadores com o seu Espírito no passado, e desejava que ele fizesse o mesmo conosco no presente. Mas depois de dois anos em minha primeira igreja, toda a minha pregação parecia apenas dar às pessoas um motivo para visitar e escolher outras igrejas. Passei, portanto, a desejar o encontro de um momento épico fora do púlpito. Tentaria pastorear pessoas com este grandioso fim. Porém, o nível de conflito existente entre meus presbíteros me deixava atônito. Eu estava chegando àquele pedaço da estrada no deserto que a maioria dos pastores novos têm de passar nos primeiros dois a quatro anos de um novo chamado — o deserto em que a maioria de nós desiste. Mas naquela época eu não percebia. Nem percebia o grande quebrantamento que uma pequena igreja consegue suportar. Naquele tempo, eu não compreendia o que agora estou compelido a dizer. Os pastores não são diferentes de outras pessoas. Nós também nos “perdemos em nossos anseios”.3
Desejo A Serpente sabe disso. As árvores do jardim eram desejáveis, boas e agradáveis aos olhos (Gn 2.9). Entretanto, quando Eva viu aquela árvore única, desejou-a de modo torto. Ela e Adão procuraram consumi-la à parte de Deus, apesar do propósito declarado para aquela árvore (Gn 3.6). Queriam algo desejável, mas do modo errado. É possível que façamos o mesmo no ministério. 3 Kathleen Graber, “Book Nine”, Poetry Foundation website, acessado em 3 de dezembro de 2014, http:// www .poetryfoundation .org /poem /241278. 27
PASTOR IMPERFEITO
Não se engane. O desejo é um fogo de artifício. Manuseado com sabedoria, enche o céu da noite com luz, cor, beleza e deleite. O desejo mal manuseado pode queimar e incendiar toda a sua vizinhança (Tg 4.1–2). Conheço em primeira mão a beleza e o incêndio criminoso dos desejos ministeriais. Sei o que é ficar perdido nesses desejos e precisar ser reencontrado em Jesus. Eu era um desses caras a quem as pessoas diziam: “Você é um dos melhores pregadores que já ouvi, e é tão jovem — mal posso esperar ouvi-lo daqui a dez anos”. Bem, há muito se passaram dez anos e eu não me tornei aquilo que foi projetado antes. Não falo isso com morbidez. Espero que você logo perceba que escrevo como quem sente profundamente ter sido resgatado de si mesmo pela abundante graça de Jesus. As águas insalubres da celebridade, consumismo e gratificação imediata haviam infiltrado a água que eu bebia. Meus desejos pastorais tinham se maculado sem que eu percebesse. Muitos de nós não percebemos. Nós e nossas congregações sofremos por isso. Portanto, estabeleçamos o fato de que a vocação pastoral começa com o desejo. O apóstolo Paulo diz o seguinte: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja (1Tm 3.1). Pedro concorda: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.2). Reflita comigo por um momento. Quando foi que você tornou conhecido o seu desejo pelo ministério pela primeira vez? Era mais velho ou mais jovem? A quem você contou? No meu caso, eu estava na segunda série do ensino fundamental 28
Desejo
da escola Saint Anthony. A Sra. Canter escrevera no quadro de giz: “O que você quer ser quando crescer?” Eu respondi, e Sra. Canter ajuntou as duas palavras para todos verem: “Zack — Sacerdote”. Eu ainda não associara o desejo pastoral ao amor por dinheiro (Lc 16.4), contatos para angariar posição (Mt 23.6–7), cobiça por poder (At 8.18–21) ou ao avanço de meu próprio nome. Ainda não sabia que servir a Deus poderia ser usado, até mesmo por mim, como modo de tentar, alinhado com o velho sussurro da Serpente, tornar-me como Deus (Gn 3.5). Só sabia, como menino de oito anos, que eu desejava servir a Deus com minha vida em ministério vocacional. Eu não estava inquieto naquela época, nem um pouco. Era maravilhoso. Desde então, porém, aprendi algo, não como sacerdote, mas como pastor. Existem muitos tipos de desejos atuando neste mundo, e nem todos eles são bons.
E se você for uma montanha sem nome? Meus desejos começaram a correr atrás de toda espécie errada de mentoria. Fui auxiliar de pastor da juventude em uma igreja pequena, lugar onde iniciei o meu ministério pastoral. O meu pastor gastou horas e mais horas me ensinando por três anos. Mas notei algo. Ao entrar em reuniões regionais regulares de pastores e líderes de igreja, ele e eu entramos calmamente, enquanto outros pastores geralmente entravam na sala com certo estardalhaço. Eram os pastores de grandes igrejas. Alguns tinham escrito livros, moderado congressos e pregado a milhares de pessoas. Embora anos mais tarde eu viesse a conhecer um pouco dessa espécie de fanfarra, o fiel pastor que foi meu mentor jamais teria essa experiência. 29
PASTOR IMPERFEITO
Ao longo do caminho, descobri algumas das razões para isso. Eu fazia parte de uma equipe que oferecia uma conferência anual para pastores. No ano em que tentamos resistir a um pensamento centrado em celebridade, mal conseguimos financiar a conferência. Nossos pregadores eram líderes veteranos, de muito tempo de ministério, mas desconhecidos. Tristemente, as inscrições para essa conferência foram poucas. No ano seguinte voltamos a obter grandes nomes para que as pessoas viessem. Com certeza, a conferência ficou lotada de gente. Na nossa terra, a experiência e sabedoria do pastor têm pouco valor financeiro, a não ser que ele seja bem conhecido. De onde veio essa ideia? Não sei, mas preste atenção. Essa mensagem gritava alto e claro para mim quando eu era jovem pastor em treinamento. O que estou tentando dizer a você é que naquela época eu estava com vinte e seis anos, terminando o seminário, e a pureza do meu desejo de servir a Deus por aquilo que ele é, enquanto ainda cursava a segunda série do ensino fundamental, estava se apagando. Estava se tornando bem claro que, se quisesse obter sucesso no ministério, eu precisaria fazer algo grandioso. Eu teria de definir o que seria grande em termos de tamanho, fama e a rapidez com que conseguiria realizar. Voltando àquelas introduções iniciais, à cultura pastoral, vem à mente uma historieta contada sobre o famoso Richard Foster e seu filho, Nathan. Nathan estava ansioso por conquistar rapidamente as famosas montanhas do Colorado. Enquanto descansava na encosta rochosa de uma dessas montanhas célebres, Richard apontou para o filho a beleza de uma montanha adjacente: “Nate, está vendo aquela montanha? Tem uma cumeeira impressionante. É um pico perfeito. Se 30
Desejo
tivesse uns poucos metros a mais de altura, você conheceria o nome e desejaria subi-la. Como esta é uma montanha sem nome, ninguém liga para ela”.4
Desejando fazer grandes coisas para Deus Até o tempo em que estava no terceiro ano do primeiro pastorado, comendo o bolo de especiarias da Mamaw em sua varanda, eu vivia cada dia mais inquieto. Como muitos de meus colegas, ansiava por fazer diferença para Deus na minha vocação — o mais rápido possível. Contraste os sinônimos de comum aos sinônimos para épico, e quem pode culpar-nos? Aspiro servir como pastor de modo comum, corriqueiro, humano, normal, rotineiro, médio, usual e sem novidades, a pessoas comuns e em nada excepcionais. Ser banal e medíocre como pastor.
Ou, Aspiro servir como pastor olímpico, incomum, surpreendente. Ser pastor extraordinário e especial em uma congregação maravilhosa, notável, singular, excessivamente grande. Ser estelar e inesquecível como pregador.
Eu me sentia qualquer coisa menos estelar. Quem sabe este artigo seja apenas o começo, pensei. Não sou pastor ou pregador épico. Mas talvez pudesse escrever algo que transformasse o mundo para Deus. 4 Nathan Foster, Wisdom Chasers: Finding My Father at 14,000 Feet (Seguidores de sabedoria: encontrando meu pai aos 4.000 metros), (Down¬ers Grove, IL: InterVarsity, 2010), 41. 31
PASTOR IMPERFEITO
Isso foi há vinte anos. Publiquei o artigo, mas o mundo não mudou e ainda tive de escovar os dentes normalmente no dia seguinte. Nos anos desde então, tenho visto gente vindo à fé salvadora em Jesus, casamentos curados e vícios vencidos. Tenho viajado, pregado e obtive um doutorado. Tenho ensinado, aconselhado, e escrito livros. Jesus tem se revelado tão bondoso, verdadeiro, presente e poderoso a mim. Mas, conforme já mencionei, existe beleza e destruição no desejo. Entre aqueles que participaram de minha ordenação ao ministério tempos atrás, um pastor mentor tirou sua própria vida, e outro já não está no ministério devido à má conduta moral. Um presbítero e um diácono foram dolorosamente disciplinados, um por raivosos maus tratos e o outro por um caso amoroso devastador. Outras amizades acabaram se dissipando entre a feia politicagem dentro do ministério. E doze anos depois de meu juramento público de ministrar no evangelho, meu casamento acabou. A única coisa grande, famosa e veloz a meu respeito e a respeito de muitos de minha turma ministerial era nosso quebrantamento. Quando falei sobre o desejo pelo ministério na turma de segundo ano da Sra. Canter, jamais imaginei que meu futuro requereria que eu aprendesse a viver como pai solteiro, com a guarda principal dos três filhos, no meio de uma comunidade de “escândalo” e fofocas. Eu tive de olhar longa e profundamente no espelho dos meus próprios desejos contaminados. Estou pedindo-lhe para fazer o mesmo, na esperança de poupar-lhe o custo que paguei. Ser declarado “parte inocente” não removeu os sussurros ou as calúnias, quer em minha comunidade ou em minha própria cabeça. Nem isso removeu o que significa para cada um de meus três filhos, e para mim, aprender diariamente, juntos, a novamente ver o sol e sorrir. Mas, note bem, caso você pense que não é como eu. Tive também de examinar aqueles que pro32
Desejo
jetavam como eu “deveria” me tornar a seus olhos dentro de dez anos. Você terá de lutar com isso também. Temos de analisar friamente o desejo por “coisas grandes, famosas e rápidas” que membros da congregação e lideranças pastorais parecem almejar constantemente. A ausência de nossa atenção a esses desejos mal projetados está nos tornando em um bando maltrapilho. Agora estou aqui sentado, todos esses anos mais tarde, digitando essas palavras como pastor de uma pequena igreja no Missouri. E uma ironia sussurra aos meus pensamentos. Espero que o que escrevo para você prove ser significativo. Balanço a cabeça e quase dou risada —aquela exalação curta de risada pelo nariz. Engraçado como, antigamente, eu pensava que a significância estaria em algum lugar além de Henryville e da presença de Mamaw — local próximo e amor comum — como se um artigo numa publicação ou um sermão de púlpito pudesse fazer mais para glorificar a Deus em minha geração do que atender com fidelidade a qualquer outro desses dons criativos que Deus deu.
Conversas com um jovem pastor À luz disso, escute por um momento. Anos depois, do outro lado das ruínas, encontrei-me escutando os desejos de um jovem pastor. Eu me via e escutava nele. Talvez você também se identifique. “Não importa o que vier, quero me entregar totalmente ao ministério”, disse ele. A sua paixão me inspirava, mas o contexto me preocupava. Tínhamos acabado de falar sobre a dificuldade dele, como marido e pai, junto a uma dobra recorrente dentro da estrada de sua alma. Respirei fundo e parei, olhando para a tigela de pad thai à minha frente. 33
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“Se o ministério for tudo que almejamos alcançar”, comecei dizendo, “então como definimos ‘o ministério’ parece importante, sabe?” Levei um pouco de comida à boca e mastiguei. “Só quero pregar a Palavra”, ele declarou. “Não importa o que aconteça, enquanto eu continuar falando o que Deus diz, ele vai me abençoar. Sei que Deus me deu um propósito”. Havia urgência em sua voz e pressa em seus olhos. Ambos eram como espelho para mim. Enrolei o amendoim e o macarrão em volta de meu garfo (os palitos chineses já haviam começado o trabalho de me humilhar). Eu procurava as palavras. “Sim, Deus abençoa a sua Palavra”, comecei. “Você tem um propósito”, afirmei. Demorei mais um pouco com a tigela, tentando achar o que eu deveria deixar de dizer. “Certa vez falei em uma conferência. Preguei cinco vezes. Foi um daqueles momentos quando sentia a presença de Deus de maneira tangível. De fato, depois daquela conferência específica, o resto do meu ano estava planejado, repleto de pregações por todo o país. Realmente, Deus abençoou a sua Palavra. Eu vejo isso de primeira mão.” “Mas”, disse eu, e parei. Em minha cabeça, eu estava numa encruzilhada, perguntando-me como dizer o que seguiria. “No caminho para casa depois daquele último sermão, entre as divinas bênçãos daquela noite, a minha esposa de quinze anos de casamento disse que estava me deixando”. Houve um silêncio entre meu jovem amigo e eu. Tomei meu refrigerante. Temia ter falado demais e cedo demais. Ele conhecia as circunstâncias da minha vida. Mas será que estava pronto para aprender um pouco sobre o que tais circunstâncias podem nos ensinar? Além do mais, será que eu estava pronto a tentar e dar uma voz a isso? 34
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“Estou tentando sugerir que o ministério envolve mais do que a questão de nossos sermões serem poderosos e de como influenciamos multidões de pessoas. Entregar tudo a Deus significa muito mais do que entregar-se aos sermões e às multidões.” Mais tarde, naquela mesma noite, estávamos de pé sob as estrelas. “Quando chegar em casa”, disse ele, “finalmente começarei a ser pastor. Quem sabe, logo estarei no seminário e serei equipado, e então serei professor em algum lugar. Mal posso esperar para chegar lá. Dois anos de pastorado e então...” Eu me encontrava fitando o cascalho da entrada de carro como se fosse uma tigela de pad thai. Novamente eu procurei palavras para dizer o que ainda não fora dito. Eu ouvia a minha voz na voz dele. Ele estava inquieto por fazer algo grande para Deus. Seu trabalho pastoral era uma plataforma para ajudá-lo a chegar a outro lugar onde não estava. No entanto, ele não sabia como incluir trocar as fraldas do filho ou ficar de mãos dadas com a esposa na sua definição de grandeza. “E se você já estiver onde Deus quer?”, tentei timidamente. “Em Jesus você já é uma bênção para as pessoas. E se seu lugar no ministério for onde você está com a família, no lugar em que Deus quer você junto dele?” Seu rosto demonstrava sofrimento. “Por favor, me perdoe se estou falando demais”, eu disse. Então fiz uma pausa. “É que você está falando com um homem que ganhou tudo que sempre sonhou e perdeu muito do que realmente importava, tudo em nome de se entregar totalmente ao ministério para servir a Deus. Apenas estou tentando dizer que parece realmente importante saber o que queremos 35
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dizer por ‘ministério’ se vamos nos entregar totalmente a isso. Meu desejo é que aquilo a que você está se entregando totalmente seja realmente aquilo que Deus deseja, com a definição que Deus dá a isso.” Ele olhou novamente para o céu. “Não sei onde começar com isso tudo”, protestou.
Sem-teto em nossas salas de estar Na semana seguinte, sentei-me para almoçar com um pastor que está subindo e se tornando famoso. A igreja na qual ele servia existia apenas há quatro anos, mas já tinha frequência de várias centenas de pessoas. Ele surgia em nossa comunidade como o próximo grande acontecimento. Contudo, havia algo que o perturbava. “Durante os primeiros dois anos de nosso crescimento explosivo”, ele admitiu, “relacionei-me mal como marido e pai”. Ele fitou sua água gelada e fez careta. “Eu me escondia no meu sucesso como pastor”, continuou. “Acho que usei isso para evitar ver minhas falhas em casa e em meu coração”. Este homem era o exemplo máximo do que meu amigo mais jovem se esforçava para ser. Contudo, os dois homens revelavam a mesma luta — o reconhecimento de que alguém pode receber grandes elogios por pregar Jesus, e ao mesmo tempo conhecer pouco sobre como seguir Jesus nas coisas pequenas e simples do dia a dia. Conseguem comunicar amor à multidão do púlpito ou num escritório ou numa sala de aula, mas quando são chamados para entregar a si mesmos (não os seus dons), são propensos a ficar desajeitados. Vejo isso em mim. Meu jovem amigo escreveu-me na primeira semana de seu novo pastorado: 36
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Estou cheio de ansiedade, principalmente sobre o que fazer com todo esse tempo. Fico me perguntando se fiz número X de dólares de trabalho para a igreja hoje? Não estou acostumado com tanto tempo livre em um só dia, e isso me deixa ansioso. Consigo realizar melhor as coisas quando meu horário está abarrotado e vou a mil por hora. Tenho vivido sob pressão por anos, e agora que Deus está alargando o meu espaço, de alguma forma quero sabotá-lo. Como posso sair dessa e encontrar minha vida?
Meu amigo não sabia como fazer um dia de trabalho pastoral se as variáveis da eficiência, quantidade, rapidez e medidas econômicas fossem removidas. Ele não fora ensinado sobre os outros tipos de tesouros que eram dele em Jesus, os quais ele podia desejar usar no seu dia. Eu também não tinha aprendido. O tempo que ele esteve comigo no passar dos anos não o havia ajudado.
Desejo, pressa, e “as coisas que importam” Espero, contudo, que mesmo em meio a a dores você e eu possamos ajudá-lo agora. Poderíamos dizer algo como isto, não poderíamos? Ao entrar no ministério, você será tentado a orientar os seus desejos para fazer grandes coisas, de maneira notória, com a maior rapidez e eficiência possível. Mas, preste atenção. Uma encruzilhada espera por você. Jesus é essa encruzilhada. Como quase tudo na vida que realmente tem importância, ele exigirá que sejam feitas coisas pequenas, não notadas em sua maioria, durante um longo período de tempo com ele. A vocação pastoral, porque visa ajudar as pessoas a cultivar aquilo que é realmente importante, não é exceção. 37
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Por quê? O que são essas coisas que importam para nossos desejos? Bem, primeiro, amor a Deus. Este nobre desejo leva tempo. Perdão, reconciliação, chegar à sensatez, crescimento espiritual em fé, esperança e amor; conhecimento e entrega aos ensinos da Escritura em Jesus, crescimento na obediência, mansidão, paz, paciência, bondade e domínio próprio, junto com enfrentar os vícios, as idolatrias e os pecados com o evangelho; aprender o contentamento em Jesus, quer em abundância quer em escassez; aguardar a vinda do Senhor e seu reino bem como o cumprimento de todas as promessas de Deus para sua glória e nosso bem. A linha de chegada na satisfação desses desejos não poderá ser atravessada com uma corrida de quarenta metros, não importa quão furiosamente tentemos. Segundo, amor ao próximo em seus prazeres também é importante, e isso também leva tempo. Aprender a andar e falar e contar, crescer, fazer matemática, aprender a dirigir ou viver de forma independente, junto com começar ou participar de uma igreja ou ministério. A pressa não consegue realizar essas coisas, quanto menos continuar solteiro, encontrar verdadeiras amizades, desfrutar de um bom casamento, fazer amor que satisfaz, ser pai ou mãe, avós ou criar integridade e boa reputação no seu trabalho. Aprender a tocar um instrumento, subir ao ápice em um esporte ou tornar-se especialista em uma arte ou ofício, não acontece da noite para o dia. Porém, muitas pessoas a quem você serve acreditam que essa espécie de amor a Deus e ao próximo acontece instantaneamente. Tome, por exemplo, um marido frustrado. Ele me disse: “Simplesmente não suporto mais; é demais! Ou ela trata a questão ou é óbvio que não se importa com nosso casamento! Não vou mais suportar isso não!” 38
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Quando disse essas palavras para mim, ele estava casado há apenas três meses. A questão a que se referia era de seis dias atrás. Ele citava a Bíblia e falava em termos épicos sobre o que Deus deseja para um casamento e para uma vida. No entanto, se ele tivesse de esperar seis dias para consertar a questão, em um contexto conjugal de, ao todo, oitenta e nove dias, estava claro para ele que Deus não estava no casamento ou que sua esposa não o amava, e que ele tinha de preparar-se para seguir em frente. Este homem consegue citar a Bíblia, mas não tem garra para esperar em Deus em meio a algo de que não gosta. Com toda a conversa grandiosa sobre coisas maravilhosas que Deus quer, não ocorre a ele como é grandioso o que Deus diz sobre aprender a perseverar e esperar nele. Muitos de nós pastores expressamos o mesmo tipo de inabilidade emocional de esperar em Deus em e por nossas congregações. Nosso problema é que a maioria das alegrias dadas por Deus que almejamos são deterioradas quando palavras como instantaneamente, pressa e impaciência são lançadas contra nós. Muitos estão confusos sobre o que significa verdadeira alegria se tiverem de assumir uma gratificação adiada entre as velocidades menores requeridas pelas coisas que importam mais para Jesus. Ora, imagine amar a Deus e ao próximo em meio aos desalentos ou desolações da vida. A desolação não consegue suportar facilmente um ritmo pastoral acelerado. Isso explica por que muitos de nós não têm paciência no cuidado pastoral. Ossos e mentes quebrados não estão propensos à pressa. Pele queimada ou almas vitimizadas têm de chegar a uma coceira miserável a fim de se curar, e nós que esperamos ao lado do leito temos de esperar mais ainda. Morte, luto, perda, re39
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cuperação dos vícios, como também traumas emocionais ou físicos, ser pais e mães de crianças portadoras de necessidade especiais, aprender a se ajustar a doenças crônicas, depressão, incapacidades ou doenças — todas essas desolações são tratadas pobremente quando se requer delas “eficiência” e “medidas quantitativas”. Para o pastor importante, que faz coisas grandes e notórias rapidamente, o fato das pessoas estarem quebradas, na verdade, parece uma intrusão que o impede de fazer sua importante obra para Deus. Estou escrevendo essa última frase, e isso me faz desmoronar. Releia. Em seguida, caia comigo, está bem? Caia de joelhos comigo perante o Salvador. Ele é quem ergue nossa cabeça. Precisamos desse soerguimento gracioso, pois ainda não falamos sobre palavras como instantâneo e impaciente não nos oferecerem recursos para tratar das coisas que realmente importam – de amar nossos inimigos no ministério. E não se engane: eventualmente você também terá de aprender o mais difícil dos amores ao próximo. Em geral (e isso muitas vezes nos surpreende), a pressa não é amiga do desejo. O sábio entendeu isto quando disse que “não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Pv 19.2). Seu ponto está bastante claro. A pressa tem o hábito de não completar as coisas que realmente importam. Numa crise pode até ajudar. Mas quando chegamos ao entendimento, dedicação e cumprimento dos desejos de uma alma humana, a precipitação constantemente e legitimamente é processada por negligência. A rapidez oferece promessas imediatas para nossos desejos conjugais, ou ministeriais, ou para o trabalho, ou para os nossos filhos, mas, na verdade, a pressa nunca entrega o que promete naquilo que é mais precioso para nós. 40
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O ponto que quero destacar é o seguinte. Nosso desejo por grandeza no ministério não é o problema. O problema surge quando a pressa de fazer grandes coisas de maneira notória e com a maior rapidez possível reformula nossa definição do que seja uma grande coisa. Deseje grandeza, querido pastor! Mas, submeta a sua definição de grandeza àquilo que Jesus nos dá. No mínimo teremos de começar a tomar posição quanto a este importante fato: a obscuridade e a grandeza não são opostas.
O que você quer que Jesus faça por você? Jesus colocava a questão do desejo de modo muito claro quando treinava os seus ministros. “O que queres que eu faça?”, ele pergunta (Mc 10.36). Pare aqui por um instante. Vá mais devagar se puder. Você tem uma lista do que quer para o ministério, e todas as demais realizações ministeriais que deseja conseguir em nome de Cristo antes de morrer? Você não iria estar sozinho se esse fosse o caso. Basta ler os anúncios. Uma miríade de desejos daqueles que compõem a sua congregação e comunidade serão revelados. Tiago e João tinham suas listas. “Queremos que nos concedas o que te vamos pedir”, disseram. “Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda” (Mc 10.35–37). Tiago e João sutilmente começaram a almejar que seu ministério com Jesus lhes providenciasse uma plataforma de grandeza. Seus anseios começavam a estragar sua comunidade (Mc 10.41). Jesus não impediu que essa fricção ou destruição potencial acontecesse. Ainda hoje ele não impede. Você 41
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marcou bem isso? Tiago e João eram muito amados, dotados, chamados, frutíferos, e centrais no ministério terrestre de Jesus. Ele graciosamente escutou os seus desejos. Mas sua proximidade com Jesus, e sua fecundidade no ministério, não significavam que tudo que faziam era bom, certo e útil para os que os conheciam. Em vez de dar-lhes tal imunidade, Jesus confrontou-os, e o que ele disse nos deixa mais sóbrios. É possível que líderes ministeriais desejem grandeza de formas nada diferentes daqueles que se encontram ao nosso redor, ou em qualquer lugar em nossa cultura. Ligar o nome de Jesus a esses desejos não muda o fato de serem idênticos aos anseios do mundo. Faça uma pausa aqui. Repita a leitura dessa última sentença se for necessário. Em oração, vá mais devagar. Os líderes humanos em toda parte desejam grandeza e domínio sobre outros. “Não é assim convosco”, Jesus declarou. Se grandeza é o que você deseja, de agora em diante você tem de entregar sua vida a uma outra espécie de grandeza. “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Mc 10.43). Servos entregam os seus dias a tarefas pequenas, muitas vezes não notadas por longos períodos de tempo, e sem receber nenhum elogio. Jesus, então, toma Tiago, João e seus outros alunos de discipulado para um vivo e real estudo de caso. Ele mostra-lhes um monte sem nome, pertencente a um homem. Este era pobre e cego. Jesus lhe oferece a mesma pergunta poderosa que fez aos “maiorais” que viajavam com ele: “O que queres que eu faça?” (Mc 10.51). Ali mesmo, a graça de Jesus nos humilha, contrastando os desejos que são revelados. Tiago e João estavam no centro do ministério, junto com Jesus, e estavam entre os melhores pu42
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pilos de Jesus. Mas isto não bastava para eles. Queriam lugares melhores. Enquanto isso, o pobre pede a Jesus apenas duas coisas, sendo a primeira misericórdia. A segunda era que pudesse ver. Penso na classe da Sra. Canter no passado, nos meus estágios de seminarista, no meu primeiro pastorado, na varanda da casa de Mamaw, e nos restos destroçados da minha turma ministerial. Quando, em minhas ambições por ministério, deixei de sentir minha necessidade de desejar misericórdia quando estava com Jesus? Quando comecei a supor ter o privilégio de ver corretamente com meus olhos e a definir grandeza do ponto de vista desse meu privilégio, em vez de vê-la do ponto de vista da graça de Jesus? Existe um jeito de desejar entregar-se totalmente ao ministério que o dividirá em dois, causando dor para aqueles a quem você serve, revelando o quanto você se desviou e o quanto está longe da definição de Jesus do que seja a grandeza. Conheço isso em primeira mão. Mas estou aprendendo mais uma coisa. Existe mais graça e esperança aqui do que você talvez saiba — nas mãos de Deus, uma chamada para o trabalho pastoral entre a preciosidade de pessoas e lugares vagarosos e sobrecarregados de trabalho, pode se tornar em dons, verdadeira alegria, contentamento que perdura e uma boa vida. Por quê? Porque esse é o caminho de Jesus. Onde Jesus é nossa porção e nosso desejo, não nos faltará nenhum verdadeiro tesouro. “O reino do céu é como um tesouro escondido no campo, que um homem encontra e enterra. Em sua alegria ele vai, vende tudo que tem, e compra esse campo” (Mt 13.44). Será que vender tudo que temos com alegria inclui abrir mão de nossas desorientadas listas para o ministério? E se as 43
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alegrias que desejamos em Jesus forem como tesouros escondidos em um campo, que muitas pessoas, mesmo as que estão no ministério, desprezam e raramente compram? Você se lembra como eram as coisas antes que desejasse um ministério vocacional? Você não possuía treino. Era desconhecido no mundo. Jesus era belo para você. Ele o havia salvo. Havia comunicado o seu amor a você. Era um imenso tesouro, verdade que satisfaz, e sobremodo belo. Ele era a sua porção. Era o seu desejo. No princípio, tal deslumbrante provisão de Jesus despertou os seus afetos para servi-lo com a sua vida em um ministério vocacional. Não era de admirar que, quando Pedro declarou que excederia e seria maior que todos os seus colegas ministeriais, o canto do galo não demorasse a chegar. Para restaurar Pedro ao ministério, Jesus o levou de volta às primeiras coisas, ao primeiro amor. “Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo 21.15–17). Aqui começa a nossa vocação. O chamado pastoral para alimentar o próximo é secundário e decorrente do desejo anterior pela beleza do próprio Jesus. Vem-me à mente o antigo hino: “Propenso a vaguear, Senhor, eu sinto-me, propenso a deixar o Deus de amor”. Mas Pedro aprendeu o que todos deveríamos fazer com as cinzas deixada pelos cantos de galo ministeriais. Jesus vem ao nosso encontro. Ele não nos abandona. Sua benignidade dura para sempre.
Conclusão Fechemos esta conversa introdutória sobre o desejo pastoral com uma parábola da vida real. Dois homens saíram de casa para plantar uma igreja numa cidade necessitada. O primeiro que chegou sonhou com uma 44
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cidade alcançada por Jesus com o evangelho. Por meio desse primeiro pastor, pessoas conheceram a Jesus, os crentes se reuniram e nasceu uma comunidade de seguidores de Cristo. Foi um trabalho vagaroso, mas estava acontecendo. As suas orações estavam sendo respondidas. Com o tempo, ele começou a se reunir com o segundo plantador de igrejas. Fez isso com o intuito de encorajar o segundo pastor em seu trabalho incipiente. O mais experiente e o novato oravam para que Jesus alcançasse a cidade. Através do iniciante, as pessoas passaram a conhecer a Jesus, os crentes se reuniram e nasceu uma comunidade de seguidores de Jesus. Dez anos mais tarde, aquele que veio primeiro serve como pastor de uma igreja “simples”. Seus mais de duzentos membros demonstram o amor de Jesus de formas inexistentes ali dez anos atrás. O novato que veio em segundo lugar é pastor de uma igreja “épica”. Seus milhares de membros e múltiplas congregações pela cidade demonstram o amor de Jesus de maneiras que não existiam dez anos atrás. As orações de ambos foram respondidas. Por que então, um deles está triste? Por que então, somente um deles recebe nossos convites para falar nas conferências e para nos oferecer os seus conselhos?
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