O Que é a Ceia do Senhor? - R. C. Sproul

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Ceia do Senhor? O Que ĂŠ a



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Ceia do Senhor? O Que é a

R .C. Sproul


O Que é a Ceia do Senhor? Traduzido do original em inglês What is the Lord Supper?, por R. C. Sproul Copyright © 2013 by R. C. Sproul

Publicado por Reformation Trust Publishing a division of Ligonier Ministries 400 Technology Park, Lake Mary, FL 32746 Copyright©2013 Editora FIEL. 1ª Edição em Português 2014

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

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Diretor: James Richard Denham III. Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Francisco Wellington Ferreira Revisão: Elaine Regina Oliveira dos Santos Diagramação: Rubner Durais Capa: Gearbox Studios ISBN: 978-85-8132-194-3


Sumário Um – O significado da Páscoa................................................ 7 Dois – A instituição da Ceia do Senhor............................... 17 Três – A consumação do reino............................................. 25 Quatro – Corpo e sangue real?............................................ 35 Cinco – As naturezas de Cristo............................................ 43 Seis – A presença de Cristo................................................... 49 Sete – Bênção e julgamento................................................. 57



Capítulo Um

O Significado da Páscoa

N

o âmago da vida e da adoração da comunidade cristã primitiva, estava a celebração da Ceia do Senhor. Nos primeiros dias da igreja, a celebração da Santa Comunhão era conhecida por nomes diferentes. Por um lado, a igreja primitiva costumava se reunir e celebrar o que chamavam “festa de ágape” ou “festa de amor”, na qual celebravam o amor de Deus e o amor mútuo que desfrutavam como cristãos, nesta refeição santa. A ordenança era chamada a Ceia do Senhor, porque fazia referência à última ceia que o Senhor teve com seus discípulos no


O Que é a Ceia do Senhor?

cenáculo, na última noite antes de sua morte. Na igreja primitiva, e posteriormente, a Ceia do Senhor foi chamada “Eucaristia”, tomando sua definição do verbo grego eucharisto, que significa “agradecer”. Portanto, um aspecto da Ceia do Senhor tem sido o do ajuntamento do povo de Deus, para expressar sua gratidão pelo que Cristo realizou em favor deles em sua morte. A Ceia do Senhor é um drama que tem suas raízes não somente na experiência ocorrida no cenáculo, mas essas raízes retrocedem à celebração da Páscoa no Antigo Testamento. Na verdade, recordamos que, antes de Jesus instituir a Ceia do Senhor no cenáculo, havia dado ordens aos seus discípulos, no sentido de que arranjassem uma sala com o propósito de se reunirem por ocasião da Páscoa, porque ele estava entrando em sua paixão. Jesus sabia que seu julgamento, morte, ressurreição e retorno ao Pai eram iminentes. Por isso, ele disse aos seus discípulos: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento”. O contexto imediato em que Jesus instituiu a Ceia do Senhor foi a celebração da festa de Páscoa com seus discípulos. A ligação com a Páscoa é vista não somente nas palavras de Jesus dirigidas a seus discípulos, mas também na linguagem semelhante usada pelo apóstolo Paulo, quan8


O significado da Páscoa

do escreveu à igreja em Corinto. Paulo escreveu: “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1 Co 5.7). É claro que a comunidade apostólica percebia a ligação entre a morte de Cristo e a celebração da Páscoa no Antigo Testamento. Para compreendermos isso, temos de olhar as páginas do Antigo Testamento que nos dão o contexto histórico da instituição da Páscoa. Devemos lembrar a escravidão do povo de Israel no Egito, sob o domínio de um faraó cruel. Lembramos que o povo sofreu muito, gemeu e lamentou em seu sofrimento; e o seu lamento foi ouvido. Entendemos que Deus apareceu no deserto de Midiã ao idoso Moisés, que naquele tempo vivia em exílio, como um fugitivo das forças de Faraó. Quando apareceu a Moisés e lhe falou da sarça ardente, Deus lhe disse: “Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Êx 3.5). Nesse encontro, Deus direcionou Moisés a que fosse, tanto a Faraó quanto ao povo judeu, para comunicar-lhes a Palavra de Deus. Lembramos que Moisés se sentiu inadequado para a tarefa e questionou como seria capaz de comunicar a Palavra de Deus com autoridade a Faraó ou ao povo de Israel. Em essência, Moisés disse: “Por que me seguiriam? Por que creriam em mim?”. E, em paráfrase, Deus respondeu: “Olhe, você vai. Diga-lhes que ouvi o 9


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clamor de meu povo e diga a Faraó que eu ordeno: ‘Deixa meu povo sair, para que venham e me adorem na montanha que lhes mostrarei’. E diga ao povo que arrumem suas coisas e deixem o Egito e Faraó”. Por isso, Deus capacitou a Moisés com a habilidade de realizar milagres, a fim de autenticar a origem desta mensagem incrível. A partir daí, o que aconteceu foi um conflito de vontades entre Deus, por meio de Moisés, e os mágicos da corte de Faraó. Em pouco tempo, os truques dos mágicos se exauriram, e o poder de Deus foi manifesto por meio de Moisés, de maneiras dramáticas. Houve dez pragas no total, mas, é nas primeiras nove, que vemos uma intensificação do drama e do conflito entre Moisés e Faraó. Uma praga caía sobre os egípcios. Faraó cedia e dizia: “Muito bem, saia. Pegue seu povo e vá embora”. Mas, logo que as palavras deixavam os lábios de Faraó, Deus agia e endurecia o coração de Faraó. Isso acontecia para deixar bem claro para o povo de Israel que sua redenção vinha de Deus, e não da bondade de Faraó. Então, mais um conflito se realizava. Outra praga caía sobre os egípcios. Faraó cedia, Deus endurecia o coração de Faraó, e este continuava mantendo o povo em cativeiro. Em seguida, vinha outro conflito; depois, outro; depois, outro, até que, por fim, Faraó não suportou mais ouvir Moisés e disse: “Retira-te de 10


O significado da Páscoa

mim e guarda-te que não mais vejas o meu rosto; porque, no dia em que vires o meu rosto, morrerás” (Êx 10.28). Foi nesta altura do drama que Deus anunciou a Moisés a décima praga, que traria sobre os egípcios. A praga seria a pior de todas as pragas, porque envolveria a morte dos filhos primogênitos de todos os egípcios, incluindo o primogênito de Faraó. Deus falou a Moisés: Ainda mais uma praga trarei sobre Faraó e sobre o Egito. Então, vos deixará ir daqui; quando vos deixar, é certo que vos expulsará totalmente. Fala, agora, aos ouvidos do povo que todo homem peça ao seu vizinho, e toda mulher, à sua vizinha objetos de prata e de ouro. E o Senhor fez que o seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios; também o homem Moisés era mui famoso na terra do Egito, aos olhos dos oficiais de Faraó e aos olhos do povo. Moisés disse: Assim diz o Senhor: Cerca da meia-noite passarei pelo meio do Egito. E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta no seu trono, até ao primogênito da serva que está junto à mó, e todo primogênito dos animais. Haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve, nem haverá jamais; porém, contra nenhum dos filhos de Israel, desde os homens até aos animais, nem ainda um cão rosnará, para 11


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que saibais que o Senhor fez distinção entre os egípcios e os israelitas. Então, todos estes teus oficiais descerão a mim e se inclinarão perante mim, dizendo: Sai tu e todo o povo que te segue. E, depois disto, sairei. E, ardendo em ira, se retirou da presença de Faraó. Então, disse o Senhor a Moisés: Faraó não vos ouvirá, para que as minhas maravilhas se multipliquem na terra do Egito (Êx 11.1-9).

Depois, no começo de Êxodo 12, Deus chamou a Moisés e instituiu a celebração da Páscoa. Precisamos considerar a seguinte narrativa do livro de Êxodo, porque ela teve um impacto tremendo na vida futura da nação de Israel. Esta foi a instituição que Jesus celebrou com seus discípulos no cenáculo: Disse o Senhor a Moisés e a Arão na terra do Egito: Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano. Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro. O cordeiro será sem 12


O significado da Páscoa defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito; e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde. Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem; naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão. Não comereis do animal nada cru, nem cozido em água, porém assado ao fogo: a cabeça, as pernas e a fressura. Nada deixareis dele até pela manhã; o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis. Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor. Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito (Êx 12.1-13).

Isto é crucial porque sabemos que as ordenanças do Novo Testamento são entendidas, na vida da igreja, tanto como selos, quanto como sinais de alguma coisa extrema13


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mente importante. Uma ordenança provê um sinal dramático que aponta para além de si mesma, para uma verdade de redenção que é essencial à vida do povo de Deus. Quando Deus instituiu a Páscoa no Antigo Testamento, estava dizendo a Moisés, em paráfrase: Pegue este cordeiro sem mancha e mate-o. Pegue este sangue e marque a entrada de suas casas. Coloque o sangue na verga da porta, nas ombreiras, como um sinal que os marca como o povo de Deus, para que, quando o anjo da morte vier para matar os primogênitos da terra e executar meu julgamento no Egito, a destruição desse julgamento recaia apenas sobre os egípcios. Eu farei distinção entre o povo que chamei do mundo para ser meu povo santo, povo da aliança, e aqueles que os escravizaram. Portanto, minha ira cairá sobre o Egito, mas não sobre meu povo. O anjo passará por sobre toda casa que estiver marcada com o sangue do cordeiro.

Este ritual tinha realmente um caráter de sinal de libertação. Era um sinal de redenção porque significava que essas pessoas escapariam da ira de Deus. A calamidade suprema é a exposição à ira de Deus. Cristo salva o seu povo da ira do Pai. Somos salvos não 14


O significado da Páscoa

somente por Deus, somos salvos também de Deus. Essa ideia é revelada dramaticamente na Páscoa, conforme registrada no livro de Êxodo. O sinal nas ombreiras, o sinal marcado pelo sangue do cordeiro significava que os israelitas seriam libertados da terrível exposição à ira de Deus. Portanto, naquela noite, o anjo da morte foi e matou os primogênitos do Egito, mas o povo de Deus foi poupado. Depois disso, Moisés os tirou da servidão, passando pelo mar Vermelho, e os guiou até a Terra Prometida, onde se tornaram o povo de Deus sob a aliança de Moisés, recebendo a lei no Sinai. Eles saíram do Egito e adoraram a Deus, em sua montanha sagrada. Mas, como lembrança perpétua dessa redenção, cada ano, dali para frente, o povo de Israel obedecia à instituição da Páscoa. Eles se reuniam em suas casas, comiam o alimento com ervas amargas e bebiam vinho, fazendo tudo isso para lembrar a salvação que Deus realizara na terra do Egito. Os israelitas participaram desta celebração original com seus cajados em mãos, como um povo que estava pronto partir a qualquer segundo, porque o Senhor dissera que deveriam ficar prontos para sair do Egito, sair da escravidão para a Terra Prometida, logo que Faraó e suas forças fossem destruídas. Quando Jesus celebrou sua última Páscoa com seus discípulos, se afastou da liturgia padrão no meio da cele15


O Que é a Ceia do Senhor?

bração. Acrescentou um novo significado à celebração da Páscoa quando tomou o pão asmo, atribuindo-lhe um novo significado, ao dizer: “Isto é o meu corpo partido por vós”. Em seguida, terminada a ceia, ele tomou o vinho e, em realidade, disse: “Estou atribuindo um novo significado a este elemento, quando vocês celebram a Páscoa, porque este vinho é o meu sangue. Não o sangue do cordeiro no Antigo Testamento, que serviu como marca nas ombreiras das portas, mas agora este cálice é meu sangue”. Em essência, Jesus estava dizendo: “Eu sou a Páscoa; sou o cordeiro pascal; sou aquele que será sacrificado em favor de vocês. É por meio de meu sangue, marcado sobre a porta de suas vidas, que vocês escaparão da ira de Deus”. Por isso, ele disse: “De agora em diante, este é o meu sangue, que é derramado por vocês para a remissão dos seus pecados. Este é o sangue de uma nova aliança”. Esta nova aliança, que ele instituiu naquela noite, cumpre a velha aliança, dando-lhe expressão mais plena e mais significativa.

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