Posso Perder minha Salvação?
QUES T ÕES
CRUCIAIS N o.
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Posso Perder minha Salvação?
R .C. Sproul
Posso perder minha salvação? Traduzido do original em inglês Can I lose my salvation?, por R. C. Sproul Copyright © 2015 by R. C. Sproul
Publicado por Reformation Trust Publishing a division of Ligonier Ministries 400 Technology Park, Lake Mary, FL 32746 Copyright©2015 Editora FIEL. 1ª Edição em Português 2016
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Diretor: James Richard Denham III. Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Sandra Salum Marra Revisão: Elaine Regina Oliveira dos Santos Diagramação: Rubner Durais Capa: Gearbox Studios ISBN: 978-85-8132-357-2
Sumário Um – A coluna memorial ....................................................... 7 Dois – Os que se desviam...................................................... 15 Três – O pecado imperdoável............................................... 25 Quatro – Impossível ser restaurado.................................... 35 Cinco – O dom da perseverança........................................... 47 Seis – O cristão carnal........................................................ 55 Sete – Nosso grande sumo sacerdote................................... 63
Capítulo Um
A coluna memorial
L
ogo depois que me converti na faculdade, um amigo me levou para visitar uma senhora idosa que vivia em um pequeno trailer. Aquela mulher era uma das cristãs mais radiantes que encontrei na vida. Era uma verdadeira guerreira de oração; orava oito horas por dia, por todos os tipos de problemas. Meu amigo lhe explicou que eu tinha me convertido há pouco tempo. Encantada, ela olhou para mim e disse: – Jovem, você precisa fincar um marco espiritual no chão agora mesmo.
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Eu não tinha ideia do que se tratava, mas ela me explicou que eu devia assegurar-me de que a minha conversão era para sempre. Era para eu me lembrar desse momento em minha vida, a ocasião da minha conversão, para que, quando no futuro viessem as lutas, eu me recordasse dele. Aquele conselho me trouxe à memória um evento narrado no livro de Josué, que relata a entrada dos israelitas na Terra Prometida. Eles tinham experimentado o êxodo, a passagem do Mar Vermelho e os quarenta anos no deserto. Agora, preparavam-se para entrar em Canaã, mas essa parte final de sua jornada também não seria fácil. Entre eles e a Terra Prometida havia o rio Jordão. Era a época da cheia; ele tinha transbordado e alcançava quase dois quilômetros de largura. E, é claro, do outro lado estavam os cananeus, que tinham ouvido falar da aproximação dos israelitas e se preparavam para enfrentá-los. Quando o povo de Israel se aproximou do rio, Deus comunicou a Josué o que deveriam fazer em seguida: os sacerdotes deviam caminhar para a água, carregando a Arca da Aliança. Quando pisaram na água, o rio retrocedeu uns trinta e seis quilômetros e as margens ficaram secas. E todo o povo cruzou o Jordão, entrando na Terra Prometida. Então, Josué lhes deu uma tarefa. 8
A coluna memorial
Quando a nação inteira acabou de atravessar o Jordão, o Senhor disse a Josué: Tomai do povo doze homens, um de cada tribo, e ordenai-lhes, dizendo: Daqui do meio do Jordão, do lugar onde, parados, pousaram os sacerdotes os pés, tomai doze pedras; e levai-as convosco e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite. Chamou, pois, Josué os doze homens que escolhera dos filhos de Israel, um de cada tribo, e disse-lhes: Passai adiante da arca do Senhor, vosso Deus, ao meio do Jordão; e cada um levante sobre o ombro uma pedra, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vós; e, quando vossos filhos, no futuro, perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras?, então, lhes direis que as águas do Jordão foram cortadas diante da Arca da Aliança do Senhor; em passando ela, foram as águas do Jordão cortadas. Estas pedras serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel (Js 4.2-7).
O povo deveria levantar uma coluna de doze pedras, na margem do rio, como um memorial daquele evento. Representantes de cada tribo de Israel deveriam retirar, 9
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cada um, uma pedra do leito do rio e erguer um memorial em Gilgal, onde acampariam naquela noite. Há exemplos do estabelecimento de memoriais ao longo do Antigo Testamento. Noé edificou um altar, quando foi salvo da devastação do dilúvio (Gn 8.20-22). Jacó ergueu um memorial, após sua visão da escada que alcançava o céu (Gn 28.10-22). Davi construiu um altar no local onde cessaram as pragas sobre Israel (1Sm 24). Para futuras gerações, esses monumentos marcaram momentos decisivos na história, de modo que, quando temia e carecia de consolo, o povo de Israel podia olhar e ver esses marcos que evocavam a presença do Senhor com eles. Ele os tinha trazido até ali e prometera conduzi-los no restante do caminho. Em outras palavras, esses memoriais deveriam ser, para o povo, recursos mnemônicos visíveis em meio à sua luta, diante de suas dúvidas, seus temores, para que se voltassem para Deus que, antes de tudo, os havia libertado. Como meu amigo arguiu comigo, precisamos desses memoriais em um mundo de incertezas. Em meio à batalha da vida cristã, lutamos, às vezes, com a questão da nossa segurança em Cristo. Desejamos estar seguros, sentir-nos seguros, precisamos ter certeza de que nossa segurança vai perdurar. A pergunta chave, aqui, é: 10
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– Uma pessoa que é genuinamente convertida pode perder a salvação? Ou, de forma mais pessoal, – Eu posso perder minha salvação? Isso conduz à doutrina da segurança eterna, também conhecida como perseverança dos santos. Por ser essa uma questão crucial para os crentes, provocou grande controvérsia, ao longo da história da igreja, e várias respostas foram sugeridas. Durante o século 16, a Igreja Católica Romana discordou dos Reformadores, que afirmaram que uma pessoa só pode ser justificada pela fé e que, uma vez justificada, pode ter certeza de sua salvação. Os Reformadores, porém, fizeram distinção entre certeza da salvação – convicção que alguém possui de estar salvo, sem se considerar se essa pessoa continuará salva ou não – e perseverança dos santos, a certeza de que a pessoa continuará salva no futuro. Roma nega a doutrina da segurança eterna e também a doutrina da certeza da salvação, exceto em relação a um especial grupo de santos, tal como a Virgem Maria ou São Francisco de Assis. Roma sempre ensinou que uma pessoa pode cometer um pecado mortal e, desse modo, perder a graça salvadora; por essa razão, opôs-se ao conceito Reformado de perseverança ou segurança eterna. 11
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Mesmo dentro do movimento da Reforma, houve uma disputa entre Luteranos e Reformados, porque muitos teólogos luteranos declararam que uma pessoa pode ter certeza da salvação, mas que a fé salvadora pode ser perdida e, com ela, a justificação. No desenvolvimento posterior das igrejas Reformadas, um debate feroz ocorreu nos Países Baixos. Um grupo denominado Remonstrantes alterou o calvinismo holandês e argumentou contra a perseverança dos santos, alegando que a salvação pode ser perdida. Muitas passagens na Bíblia sugerem fortemente que as pessoas podem, de fato, perder a salvação (p.ex. Hb 6.4-6; 2Pe 2.20-22). Mas, por outro lado, há também muitas passagens que parecem prometer que Deus preservará seu povo até o fim. Nesse último caso, por exemplo, há a afirmação de Paulo de que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). A mensagem da Escritura é uma só, mas, às vezes, é difícil harmonizar esses dois grupos de ensinamentos. E, em última análise, é por meio do exame da Escritura que o assunto deveria ser resolvido. Na igreja antiga, a frase latina empregada em relação a esse debate foi militia christianae, que se relaciona ao combate incessante da vida cristã. Penso que é aí que 12
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vivemos – não no ambiente abstrato de conceitos filosóficos ou teológicos, mas em meio a uma real consciência de luta em nossa vida diária, como cristãos. A ideia da militia christianae refere-se à luta da vida cristã, o combate do cristão chamado a perseverar na fé. Lembramos de Jesus ter dito que “Aquele (...) que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24.13). Pensamos também em quando ele disse que “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc 9.62). Jesus avisa que os que vieram de falsas crenças e abraçaram a fé não devem olhar para trás. Existem, obviamente, aqueles que parecem ter feito uma profissão de fé confiável, mas que posteriormente a repudiam. Penso que qualquer um que seja cristão por mais de um ano conhece pessoas assim; pessoas que aparentemente eram dedicadas ao cristianismo e, depois, deixaram a fé ou abandonaram a igreja. Então, temos de perguntar: como isso é possível, se vamos sustentar a ideia de que alguém que estava anteriormente na graça permanecerá na graça? Essa pergunta pode tornar-se também muito pessoal. Não é simplesmente teórica. À medida que enfrentamos os altos e baixos da vida, aquelas mudanças que são 13
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parte da transitoriedade em nossa experiência diária, somos tentados a fazer a pergunta crucial: se agora vivo na fé, se hoje abraço a Cristo, isso vai mudar? O status que desfruto na presença de Deus será alterado? Posso perder a minha salvação?
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