Alexandre Guimarães
Ilustrações Simone Matias
Copyright © Alexandre Guimarães, 2011
Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP
CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970
Internet: www.ftd.com.br
E-mail : projetos@ftd.com.br
Diretora editorial Silmara Sapiense Vespasiano
Editora Ceciliany Alves
Editor assistente Luís Camargo
A ssistentes de produção Ana Paula Iazzetto
Lilia Pires
A ssistentes editoriais Ândria Cristina de Oliveira
Tássia Regiane Silvestre de Oliveira
Preparadora Débora Andrade
R evisora Bruna Perrella Brito
Coordenador de produção editorial Caio Leandro Rios
Editora de arte Andréia Crema
Projeto gráfico Sheila Moraes Ribeiro
Diagramação Sheila Moraes Ribeiro
Sônia Alencar
Scaner e tratamento de imagens Vânia Aparecida Maia de Oliveira Gerente de produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Alexandre Guimarães é escritor, compositor e produtor musical. Participou de coletâneas de contos e publicou o livro de poesia Irmãos de armas. Fez trilhas sonoras para exposições, vídeos e telenovelas. Um gole, uma palavra foi publicado no livro Descobri!, integrante do projeto Livro de Graça na Praça, em 2009, distribuído gratuitamente. Este é seu primeiro livro infantil.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Guimarães, Alexandre
Um gole, uma palavra / Alexandre Guimarães ; ilustrações de Simone Matias. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2011.
ISBN 978-85-322-7998-9
1. Contos – Literatura infantojuvenil I. Matias, Simone. II. Título
11-08320
Índices para catálogo sistemático :
CDD-028.5
1. Contos : Literatura infantil 028.5
2. Contos : Literatura infantojuvenil 028.5
A m e u p a i , m e u f i l h o e a o d o n o d o c o p o .
P a r a o d o u t o r R o n a l d o .
biblioteca era grande. Grande para caber todas as histórias do mundo. Ficava na casa do avô, seu Flor. Tinha sido formada em anos de leitura e cuidados. Os volumes, dispostos em estantes enormes que iam até o teto, seguiam uma ordem que só o seu Flor conhecia. Havia livros antigos de capa de couro, livros novos, livros sobre quase todos os assuntos, em várias línguas, “vivas ou mortas”, como ele gostava de falar.
Vô Flor achava que era um ótimo lugar para gatos e meninos quietos. Só que os meninos, diferente dos gatos, precisavam ter muito cuidado ali. Era um lugar de mistérios. “Na biblioteca tudo está mergulhado em palavras. E palavras podem ser perigosas!”, avisava sempre seu Flor aos meninos.
Os meninos eram João Miguel e José Expedito. Visitavam os avós todas as sextas-feiras, quando as aulas acabavam mais cedo. João Miguel era um menino quieto, um caçador de histórias, como dizia o avô. Usava óculos desde quando aprendera a ler. O Ditinho, o José Expedito, brincava que o irmão usava os óculos por causa dos livros e que só enxergava bem as coisas inventadas. Era um pouco menor que o Miguel, mais agitado e chegado a aventuras. Gostava de escapar da vigilância do avô e de explorar a biblioteca atrás de coisas guardadas e do gato velho que vivia escondido entre os livros. Em suas explorações já havia encontrado uma lente de aumento, um antigo relógio de bolso e um radinho de pilha.
Uma vez, quando seu Flor não estava, Ditinho encontrou, na gaveta da escrivaninha, um antigo binóculo. Ficaram, ele e o irmão, deitados no chão da biblioteca, lendo os nomes dos livros das prateleiras mais altas. Alguns tinham nomes esquisitos. As letras douradas apareciam enormes no binóculo. Outras, mais antigas, eram vistas apenas pelas marcas nas lombadas de couro. Ditinho lia as palavras lentamente, em voz alta. Muitas ele não conhecia, mas João Miguel garantia que estavam em português. Ele também tentava adivinhar como se falavam as palavras estrangeiras, enquanto o irmão ia inventando na hora uma história de caça ao tesouro. Um tesouro guardado por letras de ouro.
No meio da brincadeira, Ditinho viu o gato velho sair detrás de uma estante e deu um grito, chamando o bichano:
– Velhinho, Velhinho!
O gato não era muito de fazer festa para os meninos e tratou logo de pular para trás dos livros que ficavam no alto. Na pressa, ele, que nunca fazia barulho, esbarrou em algo que fez um som de metal. Ditinho, no encalço do gato, correu para pegar a escadinha da biblioteca e já ia alcançando a última prateleira de livros quando, de repente, parou e falou para o irmão:
– Miguelito, achei um tesouro!
O tesouro era uma maleta marrom. Parecia uma maleta de escola, daquelas antigas, feitas de couro duro. Miguel ajudou o irmão a descer da escadinha trazendo o tesouro. Os olhos do Expedito brilhavam enquanto Miguel, ajeitando a maleta entre os braços, fixava o olhar na pequena fivela que servia de fecho. Ele puxou com todo o cuidado a correia que estava presa à fivela e o tesouro se abriu gentilmente. – Ditinho, o tesouro é um copo!
Num pulo, Ditinho enfiou a cabeça na maleta para olhar o tesouro. Era um copo de alumínio. Parecia bem velho e um pouco amassado. Os meninos pegaram o copo e viram que dentro dele havia um par de óculos e um cartão:
A assinatura do cartão era impossível de ler. As letras escritas à tinta estavam borradas, como também estavam borrados os seis cadernos que completavam o tesouro. Eram velhos cadernos de escola, escritos à mão, com letra diferente da que estava no cartão.