8 ano historia sociedade cidadania

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8º. História Sociedade & Cidadania Componente curricular: História

ISBN 978-85-20-00189-9

9

788520 001899

Alfredo

Boulos Júnior

História Sociedade & Cidadania

. º 8

ano

Anos finais do Ensino Fundamental Componente curricular: História



Anos finais do Ensino Fundamental Componente curricular: História

História Sociedade & Cidadania

Alfredo

Boulos

. º 8

Júnior

Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo. Lecionou na rede pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares. É autor de coleções paradidáticas. Assessorou a Diretoria Técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

3.ª edição São Paulo, 2015

ano


Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2015 Diretor editorial Lauri Cericato Gerente editorial Silvana Rossi Júlio Editora Natalia Taccetti Editores assistentes Nubia Andrade e Silva, Gabriel Careta Assessoria Priscila Manfrinati, Carolina Leite de Souza, Leonardo Klein, Thais Videira, Bruna Bazzoli Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenadora de produção Marcia Berne Coordenadora de arte Daniela Máximo Projeto gráfico Juliana Carvalho Capa Alexandre Santana de Paula Foto de capa Cultura Exclusive/Getty Images Editor de arte Fabiano dos Santos Mariano Diagramação Felipe Borba, Luana Alencar, Aparecida Pimentel Tratamento de imagens Eziquiel Racheti, Ana Isabela Pithan Maraschin Ilustrações e cartografia Mozart Couto, Manzi, Getúlio Delphim, Mario Pita, Rmatias, Alexandre Bueno, Allmaps, Renato Bassani, Studio Caparroz Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Preparação Líder: Sônia R. Cervantes. Preparadora: Fatima Carvalho, Fernanda Rodrigues, Lucia V. Segóvia, Marta Lúcia Tasso, Pedro Baraldi Revisão Líder: Viviam Moreira. Revisores: Aline Araújo, Carolina Manley, Fernando Cardoso, Lilian Vismari, Rita Lopes Supervisora de iconografia Célia Rosa Iconografia Daniel Cymbalista, Graciela Naliati Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Boulos Júnior, Alfredo História sociedade & cidadania, 8o ano / Alfredo Boulos Júnior. — 3. ed. — São Paulo : FTD, 2015. ISBN 978-85-20-00189-9 (aluno) ISBN 978-85-20-00190-5 (professor) 1. História (Ensino fundamental) I. Título. 15-04051 CDD-372.89 Índices para catálogo sistemático: 1. História : Ensino fundamental 372.89

Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à

Editora ftd S.A. Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br E-mail: ensino.fundamental2@ftd.com.br

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD S.A. CNPJ 61.186.490/0016-33 Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375


Apresentação Caro aluno, Quero lhe dizer algo que para mim é importante e por isso gostaria que você soubesse: para que este livro chegasse às suas mãos, foi necessário o trabalho e a dedicação de muitas pessoas: os profissionais do mundo do livro. O autor é um deles. Sua tarefa é pesquisar e escrever o texto e as atividades, além de sugerir as imagens que ele gostaria que entrassem no livro. A essas páginas produzidas pelo autor damos o nome de originais. O editor e seus assistentes leem e avaliam os originais. Em seguida, solicitam ao autor que melhore ou corrija o que é preciso no texto. Por vezes, pedem que o autor refaça uma ou outra parte. Daí entram em cena outros trabalhadores do mundo do livro: os profissionais da Iconografia, da Arte, da Revisão e do Jurídico, entre outros. Os profissionais da Iconografia pesquisam, selecionam, tratam e negociam as imagens (fotografias, desenhos, gravuras, pinturas etc.) que serão aplicadas no livro. Algumas dessas imagens são os mapas, feitos por especialistas (os cartógrafos), e desenhos baseados em pesquisas históricas, feitos por profissionais denominados ilustradores. Os profissionais da Arte criam um projeto gráfico (planejamento visual da obra), preparam e tratam as imagens e diagramam o livro, isto é, distribuem textos e imagens pelas páginas para que a leitura se torne mais compreensível e agradável. Os profissionais da Preparação e Revisão corrigem palavras e frases, ajustam e padronizam o texto. A equipe do Jurídico solicita a autorização legal para o uso de textos de outros autores e das imagens que irão compor o livro. Todo esse trabalho é acompanhado pela Gerência Editorial. Em seguida, esse material todo, que é um arquivo digital, segue para a gráfica, onde é transformado em livro por técnicos especializados do setor Gráfico. Depois de pronto, o livro chega às mãos da equipe de Divulgação, que o apresenta aos professores, personagens que dão vida ao livro, objeto ao mesmo tempo material e cultural. Meu muito obrigado do fundo do coração a todos esses profissionais, sem os quais esta Coleção não existiria! E obrigado também a você, leitor. O autor


COMO ESTÁ ORGANIZADO SEU LIVRO? 2

1

Cada unidade é iniciada com uma abertura em página dupla. Nessas aberturas são apresentados, por meio de imagens e textos, os temas que serão trabalhados.

Carlos Julião. Séc. XVIII. Aquarela. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

ABERTURA DE UNIDADE

DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA Frans Post e G. Marcgraf. c. 1647. Coleção Particular

UNIDADE

1

Ricardo Teles/Pulsar

Carlos Julião. Rei e Rainha negros na festa de Reis, c. 1776.

3

Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, c. 1647. O trabalho de arte é do pintor e gravurista Frans Post (1612-1680). Coleção Pedro Franco Piva, São Paulo.

Grupo de Congada na Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Serro (MG), 2013.

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A SOCIEDADE MINERADORA

Mauricio Simonetti/Pulsar

3

Os primeiros tempos do território onde hoje é o Brasil foram tempos de dominação e de resistência. Tempos de dominação como se pode imaginar observando negros escravizados em um engenho, na arte do pintor holandês Frans Post (fig. 1). Mas aqueles tempos foram também tempos de resistência. E uma das formas de resistência dos escravizados que aqui viveram foi a Congada, bailado em que eles representavam, entre cantos, danças e o som ritmado de seus tambores, a coroação de um rei ou rainha do Congo, área situada no coração da África. Essas festas de matriz africana impressionaram artistas dos tempos coloniais, como Carlos Julião (fig. 2) e continuam presentes em congadas, como a da (fig. 3), e outras de várias partes do Brasil.

ABERTURA DE CAPÍTULO

Interior da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto (MG), 2006.

A imagem mostra o altar da igreja Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, cidade colonial mineira. Reparou quanto ouro? O ouro desta e de outras igrejas mineiras dá a impressão de que a sociedade mineradora foi rica e opulenta; mas, será que foi isto mesmo que aconteceu? O que se pode saber sobre arte e religião na capitania de Minas Gerais ao observar esse altar? Uma pequena parte do ouro extraído das Gerais no século XVIII está nas igrejas da região; e a maior parte do ouro mineiro, onde está? Quem o levou? Para onde?

As aberturas dos capítulos propõem a discussão dos temas que serão trabalhados nas páginas seguintes.

Para reprimir a revolução no Nordeste, D. Pedro I conseguiu, junto aos banqueiros britânicos, um empréstimo de 1 milhão de libras e organizou poderosas forças militares, comandadas pelo almirante britânico Thomas Cochrane (por mar) e pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva (por terra). Embora com poucas armas e sem navios, os nordestinos resistiram quase dois meses. As forças imperiais, principalmente os mercenários britânicos, cometeram muitas violências em Recife, matando populares e incendiando casas, mesmo depois de terem vencido a guerra. Vários líderes rebeldes foram condenados à morte.

PARA SABER MAIS

Para saber mais A execução de Frei Caneca O julgamento de Frei Caneca foi sumário; ele não teve direito à defesa e foi condenado à morte na forca. Havia, porém, um problema: na cidade de Recife ninguém queria ser o carrasco daquele homem tão querido e respeitado. Prometeram a liberdade a um escravizado se ele aceitasse ser o carrasco. Mas ele recusou a proposta. Usaram de violência. Ele resistiu. Os recifenses estavam inconformados; aglomerados, exigiam a libertação do frade. Temendo pelo desenrolar dos acontecimentos, as autoridades fiéis a D. Pedro I apressaram a execução. Frei Caneca foi fuzilado. Cícero Dias. Frei Caneca: Revolução de 1824. 1983. Painel. Casa de Cultura, Recife

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Um quadro que apresenta informações extras sobre os conteúdos dos capítulos trabalhados.

As cenas acima integram a obra intitulada Revolução de 1824, do mundialmente famoso pintor e desenhista pernambucano Cícero Dias (1907-2003), 1983. Os títulos dessas cenas, da direita para a esquerda, são: Não há quem queira enforcá-lo. Frei Carlos pede silêncio. Execução de Frei Caneca. Cícero Dias trabalhou temas regionais, populares e históricos com grande sensibilidade, representando de forma criativa cenários e personagens do universo pernambucano.

Para refletir

Alex Maloney/Corbis/Latinstock

203

Bettmann/Corbis/Latinstock

O que é revolução? A palavra revolução é muito usada no nosso dia a dia: “Os celulares revolucionaram as comunicações”; “A vacina Sabin revolucionou a medicina”; “Os computadores revolucionaram o trabalho nas empresas”. O que todas essas frases possuem em comum é a ideia de uma grande mudança. Assim, toda vez que você ouvir a palavra revolução, pense sempre em mudanças que afetam a vida de milhares ou mesmo milhões de pessoas. Os computadores e os celulares, por exemplo, afetaram a vida pessoal e profissional de milhões de pessoas ao redor do mundo. As revoluções, no entanto, não ocorrem de uma hora para outra; resultam, geralmente, de processos lentos, que envolvem muitos fatores. Esse também foi o caso da Revolução Industrial.

PARA REFLETIR

Na foto acima, tirada em 18 de julho de 1967, no Brasil, o Dr. Albert Sabin pede ao menino Luiz Inácio Gama, de cinco anos, para que abra bem a boca a fim de ministrar-lhe a vacina oral contra a poliomielite, descoberta por ele.

Uma seção que traz textos estimulantes sobre os conteúdos estudados e propõe a discussão sobre esses temas.

Dialogando... Após uma revolução, muitas coisas mudam ou deixam de existir, mas outras se conservam. A Revolução Gloriosa, por exemplo, acabou conservando a monarquia. E no caso da Revolução Industrial, o que será que permaneceu como antes?

DIALOGANDO... Desafios propostos ao longo do texto para discutir imagens, gráficos, tabelas e textos.

Jovem atuando numa central telefônica, em 2010. Exemplo de como as novas tecnologias revolucionaram o trabalho nas empresas.

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ATIVIDADES I. Retomando

ATIVIDADES

1.

Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.

II. Leitura e escrita em História

[...] A maioria dos filósofos do Iluminismo tinha uma crença inabalável na razão humana. Isto era algo tão evidente que muitos chamam o período do Iluminismo francês simplesmente de ‘racionalismo’. [...] Entre o povo, porém, imperavam a incerteza e a superstição. Por isso, dedicou-se especial atenção à educação. [...] Os filósofos iluministas diziam que [...] a humanidade faria grandes progressos. Era apenas uma questão de tempo para que desaparecessem a irracionalidade e a ignorância e surgisse uma humanidade iluminada, esclarecida. [...].

Retomando Questões variadas sobre os conteúdos dos capítulos para serem realizadas individualmente ou em grupo. Uma forma de rever aquilo que foi estudado.

a. Leitura de imagem A pintura que você vê é de John Gast (1842-1896) e se chama Progresso Americano.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 338 e 340.

Seção que permite o estudo de imagens relacionadas aos temas dos capítulos.

• O texto nos permite conhecer duas características do Iluminismo. Quais são elas?

A imagem é um grafite de um autor desconhecido produzida em janeiro de 2015. Emma Durnford/Demotix/Corbis/Latinstock

2.

Leitura de imagem

Grafite em um muro de Londres, Inglaterra, 2015.

Observe-a com atenção. a) Com base em seus conhecimentos de inglês e/ou na consulta ao dicionário responda: a que princípio iluminista podemos associar a imagem? b) Debatam e opinem: o que se pode fazer para resguardar a prática desse princípio no Brasil de hoje? 3.

No caderno: a qual pensador iluminista pode ser associada cada uma das afirmações a seguir?

John Gast. c. 1873. Coleção particular. Foto: The GrangerCollection/Otherimages

John Gast, Progresso Americano, 1873.

a) “As pessoas não são obrigadas a aceitar um governo injusto e têm o direito de revoltar-se contra ele”.

a) O que esta mulher loira tem nas mãos? O que ela está fazendo?

b) “Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.

b) Quem ou o que essa mulher representa? c) Quem são os homens mostrados em primeiro plano?

110

d) O título condiz com a imagem? e) Que relação se pode estabelecer entre a imagem e a teoria do Destino Manifesto? Justifique.

310

b. Leitura e escrita de textos

Leitura e escrita de textos

VOZES DO PASSADO } Fonte 1 Trecho da famosa Carta da Jamaica, de 1815, na qual Bolívar faz o seguinte comentário sobre a Venezuela. Caracas Cidade que, na época, pertencia ao Vice-Reinado de Granada, unidade administrativa do Império Espanhol na América.

Seção que trabalha a leitura e a interpretação de diferentes gêneros textuais. Para completar o estudo dos temas, são propostas atividades de pesquisa ou escrita de um texto.

PRADO, Maria Lígia; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 45.

Travel Pictures/Alamy/Latinstock

} Fonte 2 Pronunciamento de Bolívar diante do Congresso Constituinte da Bolívia, em 1825: O presidente da república nomeia o vice-presidente, para que administre o Estado e o suceda no poder. Por esta providência, evitam-se as eleições, que produzem a grande calamidade das repúblicas, a anarquia, que é o luxo da tirania e o perigo mais imediato e mais terrível dos governos populares. PRADO, Maria Lígia; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 46.

Estátua de Simón Bolívar na Praça de São Francisco, em Cusco, Peru. Fotografia de 2003.

a) Responda com base na fonte 1. Qual era a posição de Bolívar frente à “democracia representativa (assembleias, eleições, partidos)”? Justifique. b) Lendo com atenção a fonte 1, escrita em 1815, e a fonte 2, datada de 1825, é possível perceber que a opinião de Bolívar sobre o regime democrático se alterou? Justifique. c) Em grupo: Bolívar se posicionou contra a existência de eleições livres. Reflitam, debatam e opinem: que importância essas eleições têm para um país como o nosso na atualidade?

b. Cruzando fontes } Fonte 1 O trecho a seguir está no início da Constituição dos Estados Unidos. Nós, o Povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade doméstica, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral e assegurar as bênçãos da liberdade a nós mesmos e à nossa posteridade, ordenamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América. SYRETT, Harold C. (Org.). Documentos históricos dos Estados Unidos. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 8.

} Fonte 2 Howard Chandler Christy. 1926. Coleção particular. Foto: Swim Ink 2, LLC/Corbis/Latinstock

Em Caracas, o espírito de partido teve sua origem nas [...] assembleias e eleições populares, e estes partidos nos levaram à escravidão. Assim como a Venezuela tem sido a república americana que mais tem aperfeiçoado suas instituições políticas, também tem sido o mais claro exemplo da ineficácia da forma democrática e federal para nossos nascentes Estados. [...]

167

Cartaz de 1926 alusivo à independência das Treze Colônias da América do Norte e à feitura da Constituição dos Estados Unidos.

114

III. Integrando com... Matemática Observe a tabela: 1o Estado

2o Estado

3o Estado

Número de pessoas por Estado

280 mil

840 mil

26 milhões e 880 mil

Número de votos de cada Estado na Assembleia dos Estados Gerais

1 voto

1 voto

1 voto

a) Transforme os dados de “número de pessoas por Estado” em porcentagem. b) Usando as porcentagens obtidas na questão anterior, monte um gráfico em forma de pizza que represente a composição da sociedade francesa às vésperas da Revolução Francesa.

Integrando com...

IV. Você cidadão! Leia o texto a seguir com atenção. Na primeira vez que a Marselhesa foi entoada na Copa do Brasil, Karim Benzema ficou calado. O artilheiro e principal jogador da seleção francesa escolheu não cantar o hino nacional de seu país em um protesto silencioso contra a xenofobia presente na letra e na sociedade multicultural da França. Copa do Brasil Nesse contexto significa a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

O jogador Karim Benzema, camisa 10 da seleção francesa de futebol, no Maracanã (RJ), durante a Copa do Mundo de 2014. Jogo entre França e Equador.

132

Chris Brunskill/Corbis/Latinstock

c) A partir da tabela é possível concluir que a sociedade francesa às vésperas da Revolução era desigual? Justifique sua resposta.

Nesta seção, a História e outras áreas do conhecimento se encontram, o que permite ampliar ou complementar o que foi visto no capítulo. Você cidadão! Seção que permite a reflexão sobre temas como meio ambiente, ética e solidariedade. As atividades visam estimular e preparar o aluno para o exercício da cidadania.

Cruzando fontes Uma seção que permitirá a você se aproximar do trabalho de um historiador, por meio da análise e da comparação de diferentes fontes.


OBRIGADO! Pelos momentos de reflexão e debates que tivemos sobre historiografia e ensino de História, quero agradecer os seguintes colegas: Fábio Duarte Joly [Professor Doutor]

Murilo Mello [Professor]

Cláudio Hiro [Professor Doutor]

Osmar Augusto Fick Júnior [Professor]

Márcio Delgado [Professor Doutor]

Rodolfo Augusto Bravo de Conto [Professor]

Sebastião Leal Ferreira Vargas Neto [Professor Doutor]

Udo Ingo Kunert [Professor]

Vanderlei Machado [Professor Doutor]

Valdeir da Costa [Professor]

Regina Braz da Silva Santos Rocha [Professora Doutora]

Dóris Margarete Assunção [Professora]

Ana de Sena Tavares Bezerra [Professora Mestra]

Maria Cristina Costa [Professora]

Marco Túlio Vilela [Professor Mestre]

Marlúcia Naves Lemos [Professora]

Maria Barjute Bacha [Professora Mestra]

Suzana C. Vargas [Professora]

Vanderlice de Souza Morangueira [Professora Mestra]

José Clodomir Freire [Professor]

Eduardo Góes de Castro [Professor Mestre]

José Cleber Uchoa Gomes [Professor]

Luciana P. Magalhães de Castro [Professora Mestra]

Francisco Waston Silva Souza [Professor]

Cândido Domingues Grangeiro [Professor Mestre]

Francisca Marcia Muniz Chaves [Professora]

Gláucia Borges Nunes [Professora Mestra]

Jorge Tales [Professor]

Alexandre Coelho [Professor]

Marcos Luiz Treigher [Professor]

Augusto Cesar Nery de Lima [Professor]

André Vinícius Bezerra Magalhães [Professor]

Antônio Carlos Felix [Professor]

Marcio de Sousa Gurgel [Professor]

Antônio Carlos do Prado [Professor]

Michelle Arantes Pascoal [Professora]

Augusto Bragança S. P. Rischitelil [Professor]

Silvia Helena Ferreira [Professora]

Cesar Mustafá Tanajura [Professor]

Marília Serra Holanda Pinto [Professora]

Clécio Rodrigues de Lima [Professor]

Carlos José Ferreira de Souza [Professor]

Daniel da Silva Assum [Professor]

Mardonio Cunha [Professor]

Gecionny Souza [Professora]

Joamir Souza [Professor]

Jorge Galdino [Professor]

Gabrielle Werenicz Alves [Professora]

José Augusto Carvalho Santos [Professor]

Hudson de Oliveira e Silva [Professor]

José Carvalho Rios [Professor]

Renato Dias Prado [Professor]

Matheus Targino [Professor]

Juliana Aparecida Costa Silvestre [Professora]

Agradeço também com especial carinho aos meus editores e a três mulheres, cujo apoio foi decisivo para o nascimento desta coleção: Suely Regina, Isaura Feliciano de Paula e Margarete do Rosário Lúcio.

O autor


blog da turma Ao longo da coleção propusemos várias atividades, entre as quais a confecção de um blog, uma alternativa para o desafio de mobilizar os alunos a produzirem e apresentarem uma pesquisa de maneira mais atraente. Sabemos que as novas gerações têm familiaridade com as tecnologias e as redes sociais; mas, se queremos utilizá-las para que os alunos aprendam mais e melhor, é importante combinar com eles algumas regras, a saber: 1. O blog deverá conter o nome da turma, da escola e do professor responsável; pertencerá, portanto, a um grupo definido e limitado de pessoas. 2. É necessário que o blog tenha uma proposta editorial, explicitada por um nome significativo e uma curta descrição de seus objetivos. 3. É importante revisar aquilo que é postado no blog, a fim de garantir a compreensão e a correção da mensagem (pode-se trabalhar em parceria com o professor de Língua Portuguesa). 4. Proceder a uma avaliação prévia das fotos, tabelas, gráficos, mapas e textos dos mais variados gêneros destinados ao blog. 5. Os alunos devem se organizar em grupos. Cada grupo será responsável por uma área de atuação; assim teremos: a) Equipe de pesquisa, responsável por alimentar o blog com novos materiais, que serão transformados em produto com a ajuda dos demais grupos. b) Equipe de design, responsável pelos aspectos visuais, incluindo-se aí a diagramação, escolha das fontes de letra e cores, tipos e tamanho das imagens. c) Equipe de redação, responsável por receber e organizar os materiais a serem postados, padronizando-os e melhorando-os. d) Equipe de iconografia, responsável pela pesquisa e seleção de imagens (fotografias e ilustrações) e vídeos a serem postados. e) Equipe de produção, responsável pela integração entre as equipes e também pelas questões técnicas de manutenção do blog. f) Equipe de jornalismo, responsável por entrevistas e cobertura dos assuntos abordados pelo blog, dentro e fora da escola.

O blog poderá ser também uma ferramenta de comunicação permanente, por meio da qual serão informadas as datas de avaliações, atividades de estudo do meio; visitas a museus, passeios, festivais, entre outros.

Editoria de arte

É importante que o professor também faça o papel de editor, gerenciando, aprovando ou removendo os comentários feitos em cada postagem. Poderá haver um rodízio entre os grupos, de modo que todos os alunos possam vivenciar as várias funções.


SUMÁRIO Unidade 1 | DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA ..................... 10 12 13 13 21 26 26 28 30 31

Capítulo 2 | A marcha da colonização na América portuguesa .................. Os soldados ................................................. Os bandeirantes ........................................... Os jesuítas ................................................... A Revolta de Beckman .................................. A criação de gado ......................................... As novas fronteiras do Brasil colonial .............. Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Ciências .................... IV. Você cidadão! .....................................

32 33 36 40 41 42 45 47 47 50 51 53

Capítulo 3 | A sociedade mineradora ................. A corrida do ouro ......................................... Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Matemática ............... IV. Você cidadão! ......................................

54 55 65 65 66 68 69

Carlos Julião. Séc. XVIII. Aquarela. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

Capítulo 1 | Africanos no Brasil: dominação e resistência ................. Havia escravidão na África antes dos europeus? ... Guerra, escravidão e tráfico Atlântico .............. Resistência .................................................. Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Língua Portuguesa ...... IV. Você cidadão! ......................................

Unidade 2 | A LUTA PELA CIDADANIA .... 70 Capítulo 4 | Revoluções na Inglaterra ................ Política e sociedade na Inglaterra do século XVI Do artesanato à maquinofatura ....................... Inventos aplicados à indústria ........................ Indústria e mudanças socioeconômicas ............ Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Ciências (Saúde) ........ IV. Você cidadão! .....................................

72 73 80 82 84 91 91 93 94 94

Capítulo 5 | O Iluminismo e a formação dos Estados Unidos ........................ 96 Progresso, otimismo e Deus ........................... 98 A enciclopédia dos iluministas ...................... 101 O Iluminismo na economia ........................... 103 Os déspotas esclarecidos .............................. 104 A Inglaterra aperta o laço ............................. 105 O processo de independência ........................ 106 A Constituição dos Estados Unidos ................. 108 Atividades .................................................. 110 I. Retomando ........................................ 110 II. Leitura e escrita em História ................ 113 III. Você cidadão! .................................... 115 Capítulo 6 | A Revolução Francesa .................... 116 O Antigo Regime ......................................... 117 O processo revolucionário ............................. 121 Atividades .................................................. 128 I. Retomando ........................................ 128 II. Leitura e escrita em História ................ 130 III. Integrando com... Matemática .............. 132 IV. Você cidadão! .................................... 132 Capítulo 7 | A Era Napoleônica ........................ 134 O Consulado ............................................... 136 O Congresso de Viena ................................... 144 Atividades .................................................. 146 I. Retomando ........................................ 146 II. Leitura e escrita em História ................ 146 III. Integrando com... Ciências ................... 147 IV. Você cidadão! .................................... 149


.........

150

Capítulo 8 | Independências: Haiti e América espanhola ............ 152 A Revolta de Túpac Amaru ............................ 153 Independência de São Domingos (atual Haiti) .. 154 O Império Espanhol em crise ......................... 156 A independência do México ........................... 161 Atividades .................................................. 164 I. Retomando ........................................ 164 II. Leitura e escrita em História ................ 166 III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 170 IV. Você cidadão! .................................... 171 Capítulo 9 | A emancipação política do Brasil ... 172 A Conjuração Mineira ................................... 173 A Conjuração Baiana .................................... 176 A família real no Brasil e a abertura dos portos 178 Atividades .................................................. 188 I. Retomando ........................................ 188 II. Leitura e escrita em História ................ 192 III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 194 IV. Você cidadão! .................................... 195 Capítulo 10 | O reinado de D. Pedro I: uma cidadania limitada ............... 196 As lutas pela independência .......................... 197 O reconhecimento e o preço da independência . 198 Uma Constituição para o Brasil ...................... 199 A Confederação do Equador ........................... 201 D. Pedro I, cada vez mais impopular ............... 204 Atividades .................................................. 206 I. Retomando ........................................ 206 II. Leitura e escrita em História ................ 207 III. Integrando com... Arte ........................ 209 IV. Você cidadão! .................................... 210 Capítulo 11 | Regências: a unidade ameaçada ... 211 História política .......................................... 212 As rebeliões regenciais ................................. 216 Atividades .................................................. 227 I. Retomando ........................................ 227 II. Leitura e escrita em História ................ 230 III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 231 IV. Você cidadão! .................................... 232

Capítulo 12 | O reinado de D. Pedro II: modernização e imigração ... O golpe da maioridade .... Partidos políticos do Segundo Reinado ........... Economia do Segundo Reinado ........... Imigrantes no Brasil ....... A Guerra do Paraguai ...... Atividades ..................... I. Retomando ........... II. Leitura e escrita em História .......... III. Você cidadão! .......

233 234 234 238 245 249 253 253

ro. anei ni i de J Rio lo Fiald , l a i er mu Imp oto: Ro u e F Mus

Unidade 3 | TERRA E LIBERDADE

256 258

Capítulo 13 | Abolição e República .................. 259 A Abolição ................................................. 260 O processo que conduziu à República ............. 268 A consolidação da República ......................... 270 Atividades .................................................. 276 I.

Retomando ........................................ 276

II. Leitura e escrita em História ................ 279 III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 280 IV. Você cidadão! .................................... 281 Capítulo 14 | Estados Unidos e Europa no século XIX ............................. 282 A conquista do Oeste ................................... 283 A guerra civil norte-americana ....................... 286 Prosperidade e intervencionismo .................... 290 A Europa no século XIX ................................ 294 Revoluções na Europa do século XIX ............... 297 Atividades .................................................. 306 I.

Retomando ........................................ 306

II. Leitura e escrita em História ................ 310 III. Integrando com... Matemática .............. 311 IV. Você cidadão! .................................... 312

Bibliografia

...........................................

Mapas de apoio

.....................................

313 316


1

Frans Post e G. Marcgraf. c. 1647. Coleção Particular

UNIDADE

1

DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, c. 1647. O trabalho de arte é do pintor e gravurista Frans Post (1612-1680). Coleção Pedro Franco Piva, São Paulo.

Os primeiros tempos do território onde hoje é o Brasil foram tempos de dominação e de resistência. Tempos de dominação como se pode imaginar observando negros escravizados em um engenho, na arte do pintor holandês Frans Post (fig. 1). Mas aqueles tempos foram também tempos de resistência. E uma das formas de resistência dos escravizados que aqui viveram foi a Congada, bailado em que eles representavam, entre cantos, danças e o som ritmado de seus tambores, a coroação de um rei ou rainha do Congo, área situada no coração da África. Essas festas de matriz africana impressionaram artistas dos tempos coloniais, como Carlos Julião (fig. 2) e continuam presentes em congadas, como a da (fig. 3), e outras de várias partes do Brasil.

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Carlos Julião. Séc. XVIII. Aquarela. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

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Ricardo Teles/Pulsar

Carlos Julião. Rei e Rainha negros na festa de Reis, c. 1776.

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Grupo de Congada na Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Serro (MG), 2013.

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Luiz Carlos Santos /Agência O Globo

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Ben Stansall/AFP/Otherimages

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Mauricio Santana/LatinContent/Getty Images

Fundação Pedro Calmon. Secretaria da Cultura da Bahia/Governo do Estado da Bahia. Foto: Nerivaldo G

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AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

Observe as fotos dessas personalidades. O que elas têm em comum? Quais delas você conhece? Você tem acompanhado a contribuição delas à vida social brasileira? Teste seus conhecimentos; escreva no seu caderno o nome e o trabalho desenvolvido por elas.

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Havia escravidão na África antes dos europeus?

a) a fome: quando um indivíduo não tinha meios para se alimentar, ele oferecia a si mesmo e a sua família como escravos; b) a punição judicial: quando uma pessoa cometia um crime e, por isso, era condenada à escravidão; c) a penhora humana: quando o indivíduo oferecia a si mesmo como garantia de um empréstimo e, se não pudesse pagar, era escravizado. A escravidão africana, no entanto, tinha algumas características próprias. Em algumas sociedades os escravos faziam trabalhos exaustivos (agricultor, carregador, remador); já em outras, chegavam a ocupar postos importantes no exército e no governo. Havia também casos em que os escravos trabalhavam para o seu dono por um determinado tempo (de 2 a 4 anos); depois disso, integravam-se como pessoas livres ao grupo para o qual tinham trabalhado.

Selo Negro Edições

Segundo historiadores especializados existiu, sim, escravidão na África antes da chegada dos europeus (século XV). Segundo a professora Leila Hernandez, nas sociedades tradicionais africanas o principal motivo que levava um indivíduo a ser escravizado era a guerra entre diferentes povos. Os vencedores faziam prisioneiros e os escravizavam ou, então, vendiam. Na África daqueles tempos, as pessoas também podiam ser escravizadas por outros motivos, entre os quais cabe citar:

Fac-símile de capa do livro A África na sala de aula, da professora Leila Leite Hernandez.

Guerra, escravidão e tráfico Atlântico No século XV, com a chegada dos portugueses ao litoral africano, a escravidão na África aumentou muito. E um novo tipo de guerra passou a fazer parte do dia a dia dos africanos: a guerra com o objetivo de conseguir pessoas para serem vendidas a traficantes especializados. Esta talvez tenha sido a consequência mais trágica da chegada dos europeus ao continente africano.

Guerra Cerca de 75% dos africanos vendidos para a América foram produto de guerras feitas para obter novos escravos.

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Georg Braun e Franz Hogenberg. 1572. Coleção particular

No século XVI, com o aumento da procura por escravos no Nordeste brasileiro, devido à produção de açúcar, os mercadores portugueses, aliados a alguns chefes e reis africanos, montaram um negócio que logo mostrou ser altamente lucrativo: conseguir pessoas na África e vendê-las na América.

Fundada pelos portugueses em 1482, onde hoje é a República de Gana, na África Ocidental, a fortaleza de São Jorge da Mina foi durante muito tempo um dos principais entrepostos de venda de escravos. Ilustração de 1572.

O comércio de pessoas da África para onde hoje é o Brasil durou cerca de 350 anos e foi feito por europeus, africanos e mercadores do Rio de Janeiro e de Salvador. Por vezes, esses mercadores saíam da costa brasileira em embarcações próprias e, depois de cruzar o Atlântico, conseguiam escravos no litoral africano, em troca de produtos como tecidos, pólvora, armas de fogo, e os revendiam no Brasil. Muitos deles acumularam grandes fortunas com o comércio de gente pelo Atlântico.

Quantos eram e de onde foram trazidos os africanos? Nas estimativas do historiador David Eltis, um especialista no tema, cerca de 12,5 milhões de escravos deixaram a costa da África entre 1500 e 1867. Destes, 4,9 milhões desembarcaram em portos brasileiros. Boa parte do que hoje é a América foi construída com o trabalho desses africanos e seus descendentes.

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Os povos africanos entrados no Brasil eram de diferentes lugares da África. A maioria deles saiu da região localizada ao sul do Equador, pelos portos de Benguela, Luanda e Cabinda. Outra parte considerável saiu da Costa da Mina, pelos portos de Lagos, Ajudá e São Jorge da Mina. E um número menor saiu pelo porto de Moçambique. Allmaps

Principais portos de embarque de africanos

Trópico de Câncer

CABO VERDE

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Bissau

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OCEANO ATLÂNTICO

Lagos

Ajudá São Jorge da Mina

São Tomé nas mazo Rio A Belém

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Rio

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Equador

São Luís

OCEANO ÍNDICO

Cabinda

Recife

Luanda

Salvador

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OCEANO PACÍFICO

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Rio de Janeiro

Trópico de Capricórnio

Meridiano de Greenwich

MOÇAMBIQUE mbeze Za

0 60° O

1010

No Brasil os africanos não eram chamados pelo nome de sua etnia, mas sim pelo do porto ou da região onde tinham sido embarcados. Um africano de etnia bacongo, por exemplo, era chamado aqui de cabinda, se esse fosse o nome do porto africano por onde ele tinha embarcado. Outro exemplo: os diferentes povos embarcados na Costa da Mina (África Ocidental) eram chamados simplesmente de minas. À esquerda, vemos um benguela, em representação de 1835; esse era o nome do porto de embarque e não da etnia. À direita, uma africana mina, ou seja, originária da Costa da Mina. Xilogravura de 1869.

Autoria desconhecida. 1869. Xilogravura. Coleção particular

J. M. Rugendas - Benguela. c. 1835

Fonte: MELLO E SOUZA, Marina de. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. p. 82.

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A travessia

Robert Walsh e T. Kelly. 1830. Litogravura. Coleção particular

Nas fortalezas do litoral africano, homens, mulheres e crianças eram forçados a embarcar em navios conhecidos como navios negreiros. A viagem das praias da África Ocidental para o Brasil durava de 30 a 45 dias, conforme o lugar de partida e o de chegada. As condições de viagem eram péssimas, a comida era pouca e de má qualidade. As pipas de água também eram poucas para não ocupar lugar no navio. Assim, cada escravo recebia apenas um copo a cada dois dias. Alguns bebiam água do mar e adoeciam.

Os negreiros iam superlotados: onde cabiam cem iam trezentos, e muitos morriam durante a viagem. Mesmo assim o lucro dos traficantes era grande: o preço de venda de um lote era, em média, três vezes maior que o de compra. Desenho de 1830.

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Os africanos chegavam ao litoral brasileiro confusos e cansados, e sem saber onde estavam. Nos mercados do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís eram examinados, avaliados e comprados. Um homem adulto valia o dobro de uma mulher e, geralmente, três vezes mais que uma criança ou um idoso. Como propriedade de outra pessoa, os escravizados podiam ser vendidos, alugados ou leiloados para pagar dívidas de seu dono. Não tinham nem mesmo o direito ao próprio nome.


Para refletir A perda do nome Na hora do embarque para o Brasil, o africano era “batizado”; ou seja, perdia seu nome original e passava a ter um nome português. Para certos povos africanos isso era mais doloroso, pois, em alguns lugares da África, o nome dado a uma pessoa tem um significado especial. O nome português, dado no batismo, devia ajudar a apagar da memória do africano todo o seu passado: sua família, seus amigos, sua língua e seu lugar de origem. • O que você sentiria se trocassem o seu nome, e o(a) levassem para um lugar distante e diferente do seu? Como você reagiria?

O trabalho

Cenas de trabalho. À esquerda, detalhe da página 15 do Caderno de Desenho, de autoria de J. B. Debret, c. 1820. À direita, prancha intitulada Costumes do Brasil, c. 1820. Detalhe da página 39 do Caderno de Desenho, de autoria de J. B. Debret.

Jean-Baptiste Debret. Séc. XIX. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris

Debret. Séc. XIX. Aquarela. Coleção particular

Os africanos não vieram para a América por vontade própria; foram trazidos para cá para trabalhar. Os escravizados trabalhavam de doze a quinze horas por dia: começavam entre 4 e 5 horas da manhã e iam até o anoitecer. Por vezes, as manhãs dos feriados e domingos eram usadas no conserto de cercas, estradas e em outros serviços. O homem trabalhava como agricultor, carpinteiro, ferreiro, pescador, carregador e em várias outras funções. A mulher cultivava a terra, cuidava dos doentes, colhia e moía a cana, lavava, passava, fazia partos, vendia doces e salgados etc.

Entre os trabalhadores afrodescendentes havia também libertos, nome que se dava àqueles que tinham conseguido a carta de alforria, documento de libertação obtido geralmente após longos anos de trabalho. Os africanos aqui desembarcados trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho, mas também suas culturas. E, o que é importante dizer, essas culturas africanas marcaram profundamente nossos modos de viver, pensar e sentir.

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Para refletir O texto a seguir é do africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com atenção.

Africanista Estudioso dos assuntos africanos.

Enfadonha Cansativa.

De que a presença africana em nossa cultura é profunda, talvez o melhor testemunho esteja no português que falamos [...]. As línguas africanas, especialmente o quimbundo (ou idioma dos ambundos), o quicongo (ou língua dos congos), o umbundo (ou idioma dos ovimbundos) e o iorubá, marcaram profundamente não só o vocabulário do português do Brasil, mas também [...] a construção das frases, e [...] a maneira como pronunciamos as palavras. Poucos se dão conta de que os verbos cochichar, cochilar [...] e zangar, os substantivos bagunça [...], caçula, cafuné [...], fuxico [...], lengalenga [...], quitanda [...], os adjetivos [...], dengoso, encabulado e zonzo e numerosíssimos outros termos que usamos no dia a dia são de origem africana. E o que fazem os portugueses, quando têm de zangar com o caçula dengoso que estava cochilando durante uma lengalenga como esta? Eles [...] se aborrecem com o benjamim manhoso que dormitava durante esta conversa enfadonha. SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 156-157.

a) Segundo o texto, quais línguas africanas influenciaram profundamente o português falado no Brasil? b) Quais são os termos que os portugueses usam para dizer caçula; dengonso; e cochilar? c) Qual a importância dos conhecimentos transmitidos nesse texto para nós brasileiros?

A alimentação Nas grandes fazendas a maioria dos escravizados recebia uma cuia de feijão e uma porção de farinha de mandioca ou de milho. Vez por outra recebia também rapadura e charque (que conforme a região tinha o nome de carne-seca, carne-do-sul, carne-de-ceará etc.). De modo geral, a alimentação dos escravizados era insuficiente e pobre em proteínas, o que acarretava sérios problemas de saúde e envelhecimento precoce. Muitos eram descritos como tendo 60 anos, quando tinham de fato entre 35 e 40.

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A violência

Museu Paulista da USP, SP. Foto: Alexandre Dotta

Museu Paulista da USP, SP. Foto: Alexandre Dotta

Os escravizados eram vigiados de perto por feitores, que, quase sempre, os castigavam por qualquer pequena falta, como fazer uma pausa para descanso ou se distrair no trabalho. Os castigos eram muitos: a palmatória, a gargalheira e a máscara de flandres eram alguns deles. Veja alguns instrumentos usados para punir os escravizados:

A palmatória era usada para golpear as mãos do escravizado e causar-lhe inchaço e dor.

A gargalheira era colocada em volta do pescoço do escravizado a fim de dificultar seus movimentos.

Jacques Etienne Arago. 1839. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

Já a máscara de flandres feita de zinco ou folha de flandres era um instrumento que permitia à vítima enxergar e respirar, mas a impedia de se alimentar.

Para saber mais

A máscara no rosto da personagem é a que teria sido usada por Anastácia. Gravura de 1839. Xando Pereira/Folhapress

A negra Anastácia: mito e religiosidade Contam que, no século XVIII, teria vivido no interior mineiro uma escrava por nome Anastácia, uma negra de olhos azuis, altiva e muito bonita. Por sua rara beleza, Anastácia teria despertado ciúmes na mulher de seu senhor que, por isso, obrigou-a a usar a máscara de flandres. Vítima de perseguição e maus-tratos, Anastácia teria morrido relativamente jovem. Muito tempo depois, em 1968, durante a comemoração dos 80 anos da abolição da escravatura, na igreja do Rosário, no Rio de Janeiro, Anastácia foi homenageada e descrita como santa pelos milagres que teria realizado. Na verdade, Anastácia é um mito da nossa História; não há provas materiais da sua existência; mas as histórias que se contam sobre ela fazem parte da memória sobre a escravidão e continuam inspirando atitudes de devoção e respeito entre as gentes de Minas Gerais. Integrantes da banda feminina Didá durante apresentação no Pelourinho, Salvador. No primeiro plano da imagem, mulher usa réplica da máscara de flandres.

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Para refletir O texto a seguir conta uma história ocorrida no Maranhão; leia-a com atenção.

Terra da vergonha Antônio morava no Maranhão e precisava de trabalho. Até que ficou sabendo que uma proprietária estava recrutando peões. Ele se interessou e foi com mais 41 trabalhadores para o local do serviço. Chegando lá, foi vendido por R$ 80,00 ao fazendeiro Miguel de Souza Rezende. Ele passou a trabalhar na derrubada da mata e na limpeza do pasto. Dormindo em barraco, passando fome, sem dinheiro para enviar à família e ainda devendo ao armazém da fazenda, decidiu fugir. Mas o cantineiro avisou: “Não faça isso, que eles te matam”, referindo-se aos muitos jagunços armados que rondavam a fazenda. Uma colega de Antônio fugiu e o grupo chegou a ouvir tiros à noite. As condições a que Antônio e seus companheiros foram submetidos – pressão física ou psicológica [...] comprometendo a liberdade de ir e vir – representam o que defensores dos direitos humanos [...] chamam de trabalho escravo. LIMA, Vivi Fernandes de. Trabalho indecente. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/trabalho-indecente>. Acesso em: 24 mar. 2015.

O uso de mão de obra escrava ou semiescrava tem sido observado em várias partes do Brasil. Nesta foto de 2012, um trabalhador carrega um caminhão com cestos de carvão produzido com mão de obra escrava e madeira retirada ilegalmente da floresta Amazônica. Rondon do Pará (PA), 2012.

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Mario Tama/Getty Images

a) Você sabia que a escravidão continua sendo praticada no Brasil? b) Que elementos na história de Antônio indicam que se tratava de trabalho escravo? c) O que poderia ser feito para pôr fim a essa prática?


Resistência

Jogo de capoeira em frente ao monumento Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, durante a comemoração ao 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, data da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares. Rio de Janeiro (RJ), 2013.

Capoeira Dança e luta ao mesmo tempo, a capoeira foi uma forma de diversão e defesa desenvolvida no Brasil pelos africanos e seus descendentes.

Congado Tipo de dança dramática que representa a coroação de um rei (e às vezes de uma rainha) do Congo, constituída de um cortejo com passos e cantos, onde a música acompanha a expressão dramática dos textos, e que se caracteriza pela embaixada, e por lutas simbólicas de espada.

Reisado Festa popular que se realiza na véspera e no dia de Reis. Tipo de auto natalino surgido no final do século XIX, difundindo-se no Norte e Nordeste, constituído de um figurante acompanhado por um coro cantando peças em sequência.

Fabio Motta/Estadão Conteúdo

A escravidão é uma instituição muito antiga e existiu em várias partes do mundo. Mas onde houve escravidão houve resistência. No Brasil, não foi diferente. O excesso de trabalho, a disciplina rigorosa, os castigos, o fato de o senhor não cumprir com a palavra quando um escravizado conseguia juntar dinheiro para comprar sua carta de alforria, tudo isso provocou diferentes formas de resistência entre os escravizados. Eles resistiam praticando religiões de origem africana, jogando capoeira; promovendo festejos, como o congado, o reisado, o jongo e fundando irmandades. As irmandades eram associações organizadas por leigos e que tinham sede em igrejas católicas. Para que uma irmandade funcionasse era necessário que tivesse seus estatutos aprovados por uma autoridade da Igreja Católica. As irmandades promoviam: o culto aos seus santos padroeiros; a cooperação entre seus membros para construir, reformar ou ornamentar uma igreja; a assistência mútua entre seus integrantes. A assistência era de ordem material (protegendo suas famílias da pobreza) e espiritual, garantindo aos integrantes apoio na hora da morte (missa de corpo presente, sepultamento digno e orações em sua intenção).

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Havia irmandades de brancos, outras de mestiços, e outras ainda de negros. Havia também irmandades de ricos e outras de pobres. Vivendo em uma época em que não podiam frequentar as irmandades nem as “igrejas dos brancos”, os negros fundaram suas próprias irmandades, sendo as mais requeridas as de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Uma delas foi a Irmandade dos Homens Pretos de Salvador, um espaço associativo de ajuda mútua e de manutenção de uma identidade negra.

Dorival Moreira/Pulsar

Outras formas de resistência

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Pelourinho, Salvador (BA), 2007. A Irmandade dos Homens Pretos de Salvador foi fundada, em 1685, por mulheres e homens originários da região onde hoje é Angola; além da assistência dada a seus associados na doença, na velhice e na morte, a irmandade se empenhava também em conseguir dinheiro para a compra de cartas de alforria. A igreja-sede da irmandade começou a ser construída por escravos e libertos em 1704 e foi reformada recentemente; situada no Largo do Pelourinho, a irmandade e sua igreja foram e continuam sendo um dos centros de apoio à população negra de Salvador.

Quilombos Agrupamentos de pessoas fugidas da escravidão.

Quimbundo Língua da matriz banto falada em Angola.

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Os africanos e seus descendentes resistiam também desobedecendo, fazendo corpo mole no trabalho, quebrando ferramentas, incendiando plantações, suicidando-se, agredindo feitores e senhores, negociando melhores condições de vida e trabalho, fugindo sozinhos ou com companheiros e formando quilombos.

Os quilombos Uma das principais formas de luta contra a escravidão foi a formação de quilombos por toda a América escravista.

}} O Quilombo dos Palmares O maior e o mais duradouro de todos os quilombos brasileiros foi o dos Palmares. Teve início numa noite de 1597, quando cerca de quarenta escravizados fugiram de um engenho do litoral nordestino e se refugiaram na Serra da Barriga, uma região montanhosa situada no atual estado de Alagoas. Como o lugar possuía grande quantidade de palmeiras, chamou-se Palmares. Nos primeiros tempos, a população palmarina não era tão grande. Mas, com as invasões holandesas no Nordeste (1624-1654), desorganizou-se a vida nos engenhos, a vigilância diminuiu e os escravizados aproveitaram para fugir. Segundo João José Reis, nesse período o quilombo chegou a ter cerca de quinze mil habitantes. Os africanos e seus descendentes eram maioria, mas em Palmares havia também brancos pobres e indígenas expulsos de suas terras pelos colonos. Os palmarinos viviam em liberdade e a seu modo num conjunto de povoações chamadas mocambos (de mukambo, “esconderijo” em quimbundo).


Allmaps

Quilombos mais conhecidos (séculos XVII a XIX)

Equador

do Trombetas (1866-88) Maracanã e Macajubá (século XIX)

Turiaçu (século XVIII) do Preto Cosme (1838)

Cumbe (1831) Palmares (1630-95)

Oitizeiro (1807) Buraco do Tatu (1744-65) Nossa Senhora dos Males e Cabula (1807) Urubu (1826)

Pindaituba, Moluca e Joaquim Teles (1795) da Carlota ou do Piolho (1770-95) do Kalunga (1790-1888)

Campo Grande, Isidoro, do rio das Mortes e do rio das Velhas, Ambrósio e imediações de Sabará e Ouro Preto (século XVIII)

OCEANO PACÍFICO Trópico d

e Capricó

Manuel Congo (1838) Luanda (1880) Iguaçu ou Bomba, Estrela, Gabriel (século XIX)

Jabaquara (1883-88)

r n io

de Jacuípe e Jaguaribe (1705-06) Magarojipe e Muritiba (1713) Campos da Cachoeira (1714) Orobó, Tupim e Andaraí (1796-97) do Camisão (1726) Taperoá, Canavieiras (1733) Nazaré e Santo Amaro (1734) Jacobina e Rio das Contas (1735-36) Jacobina e Xique-Xique (1801)

Alagoa e Enseada do Brito (sem data)

Muitos dos quilombos que aparecem no mapa ainda não foram estudados. Existiram quilombos por todo o território nacional, desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia. Uns pequenos (vinte ou trinta habitantes), outros grandes (com milhares de habitantes). O mais famoso deles foi o Quilombo dos Palmares.

OCEANO Negro Lucas, do arroio Quilombo e do Rio Pardo (sem data)

ATLÂNTICO 0

390

60º O

Fonte: SCHWARCZ, Lilia Moritz; REIS, Letícia Vidon de Souza (Orgs.). Negras imagens: ensaios sobre a cultura e escravidão no Brasil. São Paulo: Edusp, 1996. p. 26.

Para sobreviver, plantavam milho, feijão, mandioca, batata-doce; criavam porcos e galinhas; caçavam cotias, raposas, tatus; confeccionavam objetos de cerâmica, palha trançada e madeira e faziam vasos, enxadas, pás e pilões. Geralmente, a produção de cada mocambo era distribuída entre os seus membros. As sobras eram guardadas para as épocas de guerra, colheita ou festa, ou para serem trocadas nas vilas mais próximas, como Porto Calvo, Sirinhaém e Alagoas.

} A guerra Palmares sempre tirou o sono dos senhores de engenho luso-brasileiros e das autoridades portuguesas. Por abrigar fugitivos e afrontar a ordem escravista, Palmares era um mau exemplo para os que continuavam cativos. Por isso, desde cedo, os poderosos enviaram expedições contra o quilombo. As primeiras expedições oficiais contra Palmares foram derrotadas pelos quilombolas. Durante a guerra, um jovem guerreiro nascido em Palmares começou a se destacar por sua liderança e firmeza. Seu nome, Zumbi.

Zumbi Provavelmente está associado a Nzumbi, título que os povos bantos davam a um chefe militar e religioso.

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Mercenário

Daniel Cymbalista/Pulsar

Que trabalha sem outro interesse que não o dinheiro.

A guerra se prolongou por dezenas de anos. Decididos a vencer a forte resistência palmarina, no início da década de 1 690, as autoridades contrataram o mercenário Domingos Jorge Velho, para comandar a destruição de Palmares. Jorge Velho aceitou, mas em troca exigiu um quinto do valor dos quilombolas aprisionados, quinhentos mil réis em panos e roupas, cem mil em dinheiro vivo e o perdão pelos crimes que havia cometido. Houve inúmeros ataques fracassados, mas a superioridade militar, a abertura de novos caminhos até Palmares e um maior conhecimento da Serra da Barriga desequilibraram a luta em favor dos mercenários. Jorge Velho e seus 6 500 homens derrubaram com balas de canhão a enorme muralha de madeira que os palmarinos haviam erguido em volta de sua “capital”, e o combate se transformou num massacre. Em 6 de fevereiro de 1694, a “capital” de Palmares foi incendiada. Depois, os demais mocambos também foram destruídos. Zumbi, ferido em combate, conseguiu escapar e resistiu por vários meses. Mas, depois, traído por um homem de sua confiança, foi morto em 20 de novembro de 1695. Em 1978, a comunidade negra brasileira transformou o dia 20 de novembro – aniversário da morte de Zumbi – em Dia Nacional da Consciência Negra. Ou seja, um dia para refletir com profundidade sobre o racismo no Brasil e buscar formas para superá-lo.

O racismo é um problema a ser enfrentado por todos os brasileiros, independentemente da cor ou da origem. Manifestações como esta, ocorrida em Brasília, em 1995, em comemoração dos trezentos anos da morte de Zumbi, fazem parte da luta contra o racismo.

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Remanescentes de quilombos No Brasil de hoje ainda existem povoações habitadas pelos descendentes dos antigos quilombolas. Espalhadas por todo o território nacional, essas comunidades são chamadas de remanescentes de quilombos. São mais de oitenta mil pessoas vivendo de um jeito parecido com o de seus antepassados. Em algumas dessas comunidades, a língua falada conserva termos africanos. A Constituição brasileira de 1988 reconheceu a propriedade definitiva das terras ocupadas por comunidades quilombolas. O artigo 68 diz: Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo os estados emitir-lhes os títulos respectivos. PALÁCIO do Planalto. Art.68. Título X. Ato das disposições constitucionais transitórias. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 mar. 2015.

Comunidade quilombola Mimbo, em Amarante (PI), 2014. Candido Neto/Olhar Imagem

Até agora foram concedidos poucos títulos de propriedade, pois há grande dificuldade em documentar a posse da área de forma juridicamente aceita. Além disso, muitas dessas terras são cobiçadas por fazendeiros e, por vezes, estão localizadas em áreas de mananciais e de reservas de extração vegetal e mineral. Muitos habitantes das atuais comunidades quilombolas vêm travando uma luta árdua para reunir provas de que são descendentes de escravizados e de que as terras em que vivem lhes pertencem.

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ATIVIDADES I. Retomando 1. Escolha entre os termos em destaque aqueles que completam e dão sentidos às afirmações a seguir: ETNIA

TABACO

LUCRATIVO

ESCRAVOS

TRAFICANTES

CULTURAS

BANZO

a) Os africanos não vieram para a América de livre e espontânea vontade, foram trazidos para cá para trabalharem como . b) No Brasil os africanos não eram chamados por sua porto ou região onde haviam sido embarcados.

, mas sim pelo nome do

c) Conseguir pessoas na África para vendê-las na América foi um negócio altamente que durou mais de trezentos anos. , aguardente, pólvora e, sobretudo, armas de fogo d) Os traficantes forneciam aos chefes africanos; em troca, exigiam prisioneiros de guerra. e) Esses africanos trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho, mas também , que hoje fazem parte de nossos modos de viver, pensar e sentir. suas 2. Coloque-se no lugar do escravizado e elabore um pequeno texto na primeira pessoa do singular sobre a travessia da África para a América usando ao menos metade das palavras a seguir. SEDE

CANSAÇO

ÁFRICA

MEDO

REVOLTA

POVO

SAUDADE

TEMPO

AMIGOS

FOME

PARENTES

JUSTIÇA

3. Identifique a alternativa ERRADA e corrija-a. Sobre o comércio de africanos pelo Atlântico: a) Contribuiu para aumentar as guerras entre os africanos. b) Era uma atividade da qual participavam europeus, africanos e brasileiros. c) Envolvia vários produtos, sobretudo armas de fogo e pólvora. d) Era uma atividade pouco lucrativa que durou cerca de 100 anos. e) Contribuiu para uma estreita ligação entre a história da África e a história do Brasil.

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4. Trabalhando com o mapa. Reveja o mapa da página 15 com atenção: a) Escreva no caderno os nomes das cidades brasileiras, de norte a sul, por onde os africanos entraram no Brasil. b) Cite dois importantes portos africanos localizados ao sul do Equador. c) Cite dois importantes portos africanos localizados na Costa da Mina. d) Qual era a duração da viagem das praias da África Ocidental para o Brasil? e) Como eram as condições de viagem dos africanos embarcados para o Brasil? 5. Monte um quadro sobre a vida dos escravizados com base nos itens: A vida dos escravizados Trabalho

MODELO

Alimentação Instrumentos usados para castigá-los

6. Leia o texto e as imagens a seguir:

}} Fonte 1 Uma história da liberdade [...] Além de movimentarem engenhos, fazendas, minas, cidades, plantações, fábricas, cozinhas e salões, os escravos da África e seus descendentes imprimiram marcas próprias sobre vários outros aspetos da cultura material e espiritual deste país, sua agricultura, culinária, religião, língua, música, artes, arquitetura [...]. REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 9.

}} Fonte 3 John Clarke e Henry Chamberlain.1821. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo

Henry Chamberlain e John Clarke. 1821. Aquarela. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo

}} Fonte 2

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a) O que o texto (fonte 1) nos permite concluir? b) O que se vê na fonte 2? c) O que se vê na fonte 3? d) As fontes 2 e 3 confirmam ou negam a fonte 1? Justifique. 7. Com base na frase “Onde houve escravidão houve resistência”: a) Cite algumas formas de resistência à escravidão praticadas no Brasil colonial. b) Você já deve ter visto ou até mesmo participado de um jogo de capoeira. Com base nisto responda: você concorda com a autora do texto a seguir: A capoeira é uma luta popular em que a “manha” e a malícia se sobrepõem à força física, posto que o mais forte não é aquele fisicamente mais avantajado, porém o mais malicioso, o mais mandingueiro. [...] REIS, Letícia Vidor de Sousa. Negro em “terra de branco”: a reinvenção da identidade. In: SCHWARCZ, Lilia Moritiz; REIS, Letícia Vidor de Sousa (Orgs.). Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no Brasil. São Paulo, Edusp/Estação Ciência, 1996. p. 37.

II. Leitura e escrita em História a. Leitura de imagem

a) O que se vê na foto em primeiro plano? b) Você considera importante haver bonecas e bonecos de diferentes tons de pele em um país como o Brasil? Por quê? c) As mulheres mostradas na foto são irmãs e donas de uma empresa que faz e vende “bonecas étnicas”. Será que elas conseguiram ter sucesso na cidade de São Paulo?

www.pretapretinha.com.br. Foto: Daniel Cymbalista

A imagem é uma foto tirada recentemente na Vila Madalena, um bairro da cidade de São Paulo. Observe-a com atenção.

d) Em grupo: tragam bonecas/bonecos seus ou de suas irmãs/irmãos menores para a escola. Coloquem uma etiqueta com o nome do dono da boneca/boneco para não haver problemas de trocas. Depois montem uma exposição com o título “Bonecas e bonecos da minha infância”. Observem a exposição, reflitam e opinem: as bonecas/os bonecos expostas(os) se parecem com as crianças de diferentes partes do Brasil? Você notou a ausência de bonecas/bonecos parecidas(os) com algum grupo humano do Brasil? Qual?

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b. Leitura e escrita de textos VOZES DO PASSADO O documento a seguir são trechos de um Tratado de Paz proposto por trabalhadores do engenho Santana de Ilhéus, na Bahia, em 1789. Leia-o com atenção.

Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser nossa paz há de ser nessa conformidade [...]. Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo. Para podermos viver nos há de dar rede, tarrafa [instrumento de pesca] e canoas. [...] Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação. [...] Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás [madeira de lei] ou qualquer pau sem darmos parte para isso. [...] Poderemos brincar, folgar, e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos empeça e nem seja preciso licença.

Companhia das Letras

Proposta de Paz

REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 123-124.

a) Quem são os autores deste documento e a quem eles se dirigem? b) Reflita e opine. Qual das exigências dos trabalhadores você considerou mais importante? Por quê? c) Pode-se dizer que os rebelados desejavam acabar com a escravidão? Justifique. d) Esse Tratado de Paz pode ser considerado um ato de resistência escrava?

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III. Integrando com... Língua Portuguesa Camões com dendê Se as vozes dos quatro milhões de africanos trazidos para o Brasil ao longo de mais de três séculos não fossem abafadas na nossa História, hoje saberíamos que eles, apesar de escravizados, não ficaram mudos. Participaram da configuração do português brasileiro e são responsáveis pelas diferenças que afastaram o português do Brasil do de Portugal. Aquelas vozes são perceptíveis [...] e se revelam [...] nas centenas de palavras que enriquecem o patrimônio linguístico do português do Brasil. São palavras portadoras de elementos culturais compartilhados por toda a sociedade brasileira, no âmbito da recreação (samba, capoeira), dos instrumentos musicais (berimbau, cuíca, agogô), da culinária (mocotó, moqueca), [...] das doenças (caxumba), da flora (dendê, maxixe, jiló), da fauna (camundongo, minhoca) [...] dos ornamentos (miçanga, balangandã) [...] da família (caçula, babá) [...]das relações pessoais de carinho (xodó, dengo, cafuné) [...] do mando (bamba, capanga), do comércio (quitanda [...], maracutaia). [...] O desempenho da mulher negra, ama de leite e criadeira, foi tão marcante no seio da casa senhorial que até hoje chamamos o filho mais jovem pelo termo angolano caçula em lugar de “benjamim”, como se diz em Portugal. Foi ainda nesse momento que outros termos angolanos deixaram fora de uso no Brasil os seus equivalentes em português (moringa em lugar de bilha, corcunda por giba, capenga por coxo [...], cochilar por dormitar [...], xingar por insultar, [...], marimbondo por vespa, dengo por mimo [...]). CASTRO, Yeda Pessoa. Camões com dendê. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/ secao/dossie-imigracao-italiana/camoes-com-dende>. Acesso em: 24 mar. 2015.

1. Localize. O artigo apresenta elementos das línguas africanas que passaram a integrar o português brasileiro. a) Retire do texto exemplos de palavras incorporadas ao vocabulário da variante brasileira do português. b) Copie em seu caderno a frase que exemplifica um dos papéis sociais da mulher negra no período da escravidão. 2. Releia a frase retirada do primeiro parágrafo: “[...] eles [milhões de africanos], apesar de escravizados, não ficaram mudos”. Explique o significado de “não ficar mudo” nesse contexto. 3. Interprete o título “Camões com dendê” a partir das informações das questões anteriores. 4. Apresente sua conclusão: qual o objetivo desse texto?

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Leia o texto a seguir com atenção.

Fabio Colombini

IV. Você cidadão! As mulheres de tabuleiro de ontem e de hoje A comercialização do acarajé tem início ainda no período da escravidão com as chamadas escravas de ganho que trabalhavam nas ruas, para as suas senhoras [...] desempenhando diversas atividades, dentre elas, a venda de quitutes nos seus tabuleiros. Ainda na costa ocidental da África as mulheres já praticavam um comércio ambulante de produtos comestíveis, o que lhes conferia autonomia em relação aos homens e muitas vezes o papel de provedoras de suas famílias. O comércio de rua nas cidades brasileiras permitiu às mulheres escravas ir além da prestação de serviços aos seus senhores: elas garantiam, muitas vezes, o sustento de suas próprias famílias [...] A venda do acarajé permaneceu como uma atividade econômica relevante para muitas mulheres mesmo com o fim da escravidão. Hoje, atrás das baianas existem famílias inteiras dependendo dos seus tabuleiros: 70% das mulheres pertencentes à Associação das Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia são chefes de família. [...] “Às vezes nos sentimos órfãs porque trabalhamos sozinhas com nosso tabuleiro, de sol a sol, expostas ao frio, ao calor e mesmo à violência. Mas somos mulheres negras e perseverantes: se não vendemos hoje, venderemos amanhã. Somos um símbolo de resistência desde a escravidão”, lembra Maria Lêda Marques [...] ACARAJÉ é elemento central da cultura afro-brasileira. Portal Brasil. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/ cultura/2014/08/acaraje-e-elemento-central-da-cultura-afro-brasileira>. Acesso em: 24 mar. 2014.

a) Localize e copie o trecho que indica a prática do comércio de rua por mulheres na África. b) O comércio de rua (incluindo-se a venda do acarajé) foi importante na história das famílias negras? c) O modo de preparar o acarajé é elemento da cultura material ou imaterial? d) O ofício das baianas do acarajé pode ser considerado como uma ruptura ou uma continuidade?

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