zeca baleiro vienno ilustrações casos curiosos de bichos falantes
casos curiosos de bichos falantes
zeca baleiro vienno ilustrações ₁ª edição São Paulo – 2022
casos curiosos de bichos falantes
Copyright © Zeca Baleiro, 2022 Copyright © Vienno, 2022 Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD Rua Rui Barbosa, 156 — Bela Vista — São Paulo — SP CEP 01326-010 — Tel. 0800 772 2300 www.ftd.com.br | central.relacionamento@ftd.com.br diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira diretor de conteúdo e negócios Cayube Galas gerente editorial Isabel Lopes Coelho editor Estevão Azevedo editora assistente Camila Saraiva assistente de relações internacionais Tassia Regiane Silvestre de Oliveira coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno preparadora Marina Nogueira revisoras Lívia Perran e Helô Beraldo editores de arte Daniel Justi e Camila Catto projeto gráfico Daniel Justi diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Baleiro, Zeca Casos curiosos de bichos falantes/Zeca Baleiro; ilustrações Vienno. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2022. ISBN 978-85-96-03368-8 1. Fábulas — Literatura infantojuvenil I. Vienno. II. Título. 22-107876 CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Fábulas: Literatura infantil 028.5 2. Fábulas: Literatura infantojuvenil 028.5 Cibele Maria Dias — Bibliotecária — CRB-8/9427
1 A LEOA E A GAZELA • 7 2 O LOBO MAU TRISTE • 11 3 NINHO DE MAFAGAFOS • 16 4 A RAPOSA BANGUELA • 18 5 O PERU FUGITIVO • 20 6 O ELEFANTE SEM MEMÓRIA • 24 7 O PATINHO LINDO • 26 SOBRE O AUTOR • 30 SOBRE O ILUSTRADOR • 31
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A E A GAZELA
LEOA
Zinha era uma leoa filhote que vivia na savana africana. Seu pai, Zão, ficava guardando os filhos enquanto sua mãe, Zona, saía para a caçada.
A mãe sempre voltava com carnes de gazela, antílope e veado para que a família — Zinha, seus três irmãos e seu pai — pudesse se alimentar e continuar a ter a vida feliz e saudável que sempre teve.
Não sei se você sabe, mas, entre os leões, são as fêmeas que vão à caça.Zinha, como era filhote e ainda não tinha desenvolvido o instinto caçador da mãe, ficava brincando com os irmãos até a hora do almo ço. Às vezes, afastava-se um pouco deles para observar a família de gazelas que costumava passear ali por perto.
Um dia, Zinha aproximou-se de Ella, a gazelinha da família vizinha, e as duas logo se tornaram amigas. Mas o começo da amizade foi difícil. Ella confessou a Zinha que tinha medo de leões, que gazelas e leões não podiam ser amigos, já que leões costumavam caçar gazelas,
O tempo passou, e Zinha e Ella perderam-se de vista. Zinha tornou -se uma leoa forte e uma boa caçadora, e Ella, uma ágil e veloz gazela. Uma tarde, numa caçada, Zinha estava entre um grupo de leoas que procurava comida para o bando quando seus olhos cruzaram com os olhos assustados de Ella no bando de gazelas que as leoas perseguiam.
Zinha correu mais que todas, aproximou-se de Ella e disse:
A leoazinha sempre escapava do bando de leões para brincar no fim da tarde com a gentil gazela. As duas ficavam olhando o sol se pôr na vasta savana, depois brincavam de esconde-esconde ou conversavam sobre a vida selvagem.
— Corra como nunca correu, para bem longe daqui!
bem como antílopes, veados e zebras. Mesmo assim, contrariando a própria natureza, Ella e Zinha tornaram-se grandes e leais amigas.
Ella lançou-lhe um olhar agradecido e danou-se a correr, o mais rápido que pôde, mais rápido que o Usain Bolt. Desde então, as duas 8
Ella fica comovida ao contar essa história a seus filhotes, que lhe perguntam, curiosos:
— Porque a sua natureza de leão os faz caçar gazelas, filhos.
— E por que os leões caçam gazelas?
MORAL DA HISTÓRIA: Se você é uma gazela, é melhor ficar longe dos leões.
— Não, filhos, são só leões.
— Mãe, por que as gazelas temem os leões?
— Leões são maus então, mãe?
nunca mais se viram. Mas Ella guarda com carinho na memória aquele dia em que Zinha, com sua coragem felina, salvou-a de virar comida de leões.Hoje,
— Porque nossa natureza de gazela nos faz temer os leões, filhos.
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— Talvez você ainda não tenha achado a história certa. Tente mais um—pouco.Játentei! Você esqueceu?! Na história dos três porquinhos, caí de bumbum na chaminé, me queimei todinho. — Sim, claro que lembro.
O LOBO MAU TRISTE
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— Depois, na história dos sete cabritinhos, lembra o que aconteceu?
— Sim, você apanhou do cabrito mais velho, o fortão, não foi?
O Lobo Mau estava cansado de sofrer. Reclamava por se dar mal em toda história em que entrava. Dizia à sua esposa, a Loba Má: — Não aguento mais, sempre levo a pior.
E dona Loba, muito calmamente, dizia a ele: — Acalme-se, querido, a vida é assim: um dia é da caça, o outro é do caçador.—Nemme fale desse maldito caçador, por favor. Na história da Chapeuzinho Vermelho, ele acabou comigo, lembra?
— Hum, pode ser. Tem aquela casa de doces… Eu adoro doces! salivou o Lobo Mau. Mas, dez segundos depois, repensou:
— Amor, por que você não tenta a história da Branca de Neve?
— Então… Estou sempre me dando mal, sempre me dando mal.
— Tô aqui pensando… Na história da Bela Adormecida, não tem caçador. Por que você não tenta?
— Mas eu não teria nada para fazer lá, não há porquinhos, nem cabritinhos, nem uma garotinha com guloseimas.
— Não dá. Lá tem um caçador, lembra? Tenho trauma de caçador.
— Tenho medo de altura, lembra? Tem aquela torre altíssima.
— Hum!… E na de João e Maria?
Estava mesmo chateado o pobre Lobo Mau. Resmungava aos quatro ventos por seu destino de Lobo Mau que sempre se dá mal.
— Ah, é verdade, tinha esquecido. Silêncio geral. Ouvia-se apenas o barulho do relógio na parede, com seu tique-taque inquieto. Então a Loba Má falou:
Vendo o marido naquela tristeza sem fim, a Loba Má sugeriu:
— Hum!… E na da Rapunzel?
Então ele andou até a cozinha, olhou com carinho para a esposa, abraçou-a e disse: — Sabe, acho que não quero mais ser o Lobo Mau, cansei. Estou pensando em me aposentar. — Ô, querido! — ela balbuciou.
E eles se beijaram como os casais se beijam nas novelas e nos filmes. Desde então, vivem felizes para sempre, numa casinha bem longe dos contos de fadas.
— Não! Aquela bruxa é muito má, mais má que eu.
A Loba Má foi até a cozinha e de lá gritou: — Amor, quer chá? — Quero — respondeu o Lobo Mau.
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Ela vai me lançar um feitiço, posso virar um chihuahua.
O relógio continuava a tiquetaquear na parede.
MORAL DA HISTÓRIA: É muito difícil (e chato) ser mau do começo ao fim da história. Dizem que a maldade cansa.