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ESTANTE
ESTANTE Aos 7 anos, quando o historiador BORIS FAUSTO se alfabetizava, seu avô materno, Samuel Salem, ficou completamente cego. Com a impossibilidade de ler as principais manchetes do dia, o avô incumbiu o neto de recitar o jornal para ele. “Eu me lembro que a primeira página do Estadão era composta principalmente por noticiário de política internacional. Era época da Guerra Civil Espanhola. Eu gostava de conviver com meu avô e acabei pegando gosto pela leitura e também por história”, conta. Aos 88 anos, o autor de 13 livros, pesquisas e artigos sobre a história do Brasil talvez seja um dos brasileiros que melhor conhece o passado de seu povo. E, se o país fosse um livro, qual seria o capítulo mais triste? A ditadura militar, responde sem pestanejar. Com a vitória da direita conservadora nas últimas eleições, há um crescimento expressivo do discurso próditadura, o que, segundo o professor, está relacionado a uma crise da democracia. “O sistema democrático entrou em crise, ele não se firmou inteiramente porque não veio de ganhos sociais expressivos. Ainda temos muitas desigualdades sociais, raciais, diferenças de todo tipo, e isso tudo é associado à democracia. Muita gente pensa que um regime autoritário poderia mudar isso, mas a verdade é que a ditadura não conseguiu reverter esse quadro”, explica. “E também há descolamento entre o mundo político e a cidadania.” Fausto continua na ativa: recentemente publicou O Crime da Galeria de Cristal (Companhia das Letras), em que debate os julgamentos morais a partir de três crimes rumorosos ocorridos em São Paulo no início do século 20.
POR ALINE VESSONI
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A FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA INGLESA - E. P. THOMPSON
Estudo brilhante que enfatiza aspectos culturais do surgimento de uma classe social.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS - JOÃO GUIMARÃES ROSA
Tentei ler o livro por duas vezes e estranhei em ambas. O encantamento só veio depois da terceira tentativa.
UMA CERTA JUSTIÇA - P.D. JAMES (BARONESA JAMES DE HOLLAND PARK)
Este é um romance policial de estilo agudo que ajuda a compreender o sistema de investigação da polícia e do judiciário da Inglaterra.
A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS – VALTER HUGO MÃE
Um texto surpreendente sobre a trivialidade da vida e as angústias da velhice, escrito por um relativamente jovem autor angolano.
A TRAGÉDIA DE UM POVO – ORLANDO FIGES
Uma história da Revolução Russa de 1917, que ilumina os antecedentes e os primeiros anos do episódio revolucionário.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - MACHADO DE ASSIS
É um dos grandes livros da obra de Machado de Assis. Precisa dizer mais?
COMANDA NA MÃO
E OLHO NO BOI
FOTO DIVULGAÇÃO
Trabalho em família: Victor, Belarmino Filho, Ana Lucia e Diego
Na entrada d’A Figueira Rubaiyat uma placa passa quase despercebida dos clientes. Expressa o agradecimento dos funcionários pela retomada pelos Iglesias do controle total de suas oito churrascarias de luxo – cinco delas no Brasil, três em Madri, Santiago e Cidade do México. Em 2012, a família vendeu 70% da rede ao fundo Mercapital e cinco anos depois tomou a decisão de recomprar o negócio criado por seu patriarca em 1957. “Uma decisão de vida”, explica Belarmino Iglesias Filho, herdeiro responsável pela transação e que hoje divide a gestão com a mulher, Ana Lucia e os filhos Diego e Victor.
Por isso, reunir os quatro à mesa é raro. “A empresa possui uma localização geográfica muito grande, estamos sempre viajando”, conta Victor. Como o olho do dono é que engorda o boi, uma vez por mês um dos quatro está com comanda na mão verificando o serviço das casas. Os pais, mais em Madri, os filhos, por todos os cantos. Uma forma de manter o padrão e seguir os ensinamentos de Seu Belarmino, o fundador. “No fim da vida meu avô levava prato e tirava pedido. Foi um grande exemplo”, lembra Diego.
O DNA rojo espanhol, porém, permanece intacto. O Rubaiyat continua a servir cortes tradicionais, mas não perdeu a boiada dos angus, wagyus e outras raças até pouco tempo desconhecidas. Mudanças no hábito de consumo, mas também na troca de bastão. De olho no mercado, os irmãos passaram a propor novidades no cardápio. Primeiro criaram o Rubaburger, que no delivery só perde para o menu executivo, e para acompanhar a cerveja Rubabeer. “Uma marca com mais de 60 anos permite se modernizar. Nosso foco não é crescer, mas melhorar sempre”, finaliza Diego. Além dos funcionários, os clientes agradecem.
por dado abreu