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DE CONVERSA EM CONVERSA

POR ANTONIO BIVAR

PENSAMENTOS POSITIVOS

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No mês do “cachorro louco”, nosso colunista reuniu frases que marcaram época e que seguem presentes no nosso dia a dia

Diz um antigo bordão popular que “agosto é mês de desgosto”. Mas nós decidimos que não tem de ser. Daí que, pra variar, para a coluna do mês resolvi colher um monte de frases filosóficas por autores, pastores e inventores geniais. Algumas transmitem a sabedoria da experiência, outras são paradoxais e dialéticas; se algumas são de cunho científico, místico e religioso, outras são divertidas e até cínicas; todas são pensamentos que nos instigam a com eles concordar ou discordar. It’s up to us. Somos livres até para isso. “Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós.”

Começo com um poeta, um autor de nossa língua portuguesa, o Fernando Pessoa, que viveu até os 47 anos. E Pessoa disse: “Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos”. E James Joyce (1882-1941), o escritor irlandês que, com Ulysses, desconstruiu o romance em quase mil páginas, foi categórico: “Eu não acredito em envelhecimento. Acredito em alterar para sempre o aspecto de alguém para a luz. Eis o meu otimismo”. Mas Joyce também disse: “Deus fez o alimento, o diabo acrescentou o tempero”. E ele também sabia que “os erros são os portais da descoberta”, e, como filho, não tinha dúvida de que “tudo é incerto neste mundo hediondo, mas nunca o amor de uma mãe”.

Outra autora modernista e contemporânea de James Joyce, a britânica Virginia Woolf foi clara e sucinta: “Não há barreira, fechadura ou ferrolho que possam impor à liberdade da minha mente”. E a nossa autora maior, Clarice Lispector, que tinha por prazer criativo tudo complicar, quando era preciso simplificar, ninguém ia mais direta e reta ao ponto que ela: “Toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração”.

De modo que todos são coerentes na feitura de suas frases imortais. “Independência ou morte”, bradou dom Pedro 1º em seu grito no bairro do Ipiranga. Algumas décadas antes, em seu exílio voluntário numa ilha grega, o poeta e lorde Byron teve o insight de que “na solidão é quando estamos menos sós”. Morreu jovem, aos 36 anos. Já William Shakespeare (1564-1616), que além de poeta era dramaturgo e até ator, do convívio profissional com o meio teatral chegou à conclusão que “há pessoas que entram por acaso em nossa vida, mas não é por acaso que elas têm o privilégio de permanecer.”

Um que adorava chocar pela lógica de seus paradoxos era o irlandês Oscar Wilde. Soltava bombas que eram verdadeiras pérolas: “Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando; o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de caráter”. E também:

FOTO ARQUIVO PESSOAL / REPRODUÇÃO “Nunca confie na mulher que diz a verdadeira idade, porque se ela diz isso ela é capaz de dizer qualquer coisa”. Tempos depois, a existencialista francesa Simone de Beauvoir, ícone-mor do eterno feminismo, foi categórica: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Mas Simone também foi áspera: “O que é um adulto? Uma criança inchada pela idade”.

Nas mudanças de estilo ocorridas na década de 1950, deixou sua marca o chamado teatro do absurdo. De Paris para o mundo, essa novidade lançou, entre outros, o irlandês Samuel Beckett e o romeno Ionesco. E o público, que ainda buscava mensagens nas peças, sentiu-se ao mesmo tempo confuso e encantado. Beckett, que nasceu em 1906, disse: “Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem”. E Ionesco, que morreu em 1994, aos 84 anos, falou: “Querer ser do seu tempo é estar, já, ultrapassado”. E lúcido: “Devemos escrever para nós mesmos; é assim que poderemos chegar aos outros”. E outro que flertou fundo com o teatro do absurdo foi o franco-argelino Albert Camus: “Eu revolto-me, logo existo”.

E assim frases e pensamentos em interessante revoada. As conclusões do padre Fábio de Melo, nascido em 3.4.1971, indubitavelmente renovam nossas esperanças: “Você é quem decide o que vai ser eterno em você, no seu coração. Deus nos dá o dom de eternizar em nós o que vale a pena, e esquecer definitivamente aquilo que não vale”. E mais: “O importante não é o que as pessoas acham de mim, e sim o que Deus sabe a meu respeito”.

E agora os cientistas. Albert Einstein: “Quando abro a porta de uma nova descoberta já encontro Deus lá dentro. Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que por qualquer outro talento”. Feliz, Albert Eistein viveu até os 76 anos. De outra época, Isaac Newton (1643-1727), além de inventor revolucionário nos deixou frases lapidares: “Construímos muros demais e pontes de menos”. E: “Vejo-me como um garoto que brinca na praia e se diverte em encontrar uma concha mais bonita que a outra enquanto o grande oceano da verdade se estende. O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”.

Americano de Missouri, Mark Twain (1835-1910) é um dos meus autores favoritos, por sua obra e vida. Vira e mexe releio Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn. Por sua ironia rascante, Mark Twain vai direto e reto ao ponto: “Daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte as amarras. Afaste-se do porto seguro. E nunca discuta com pessoas burras, elas vão te arrastar ao nível delas e ganhar você por ter mais experiência em ser ignorante”. E: “Mantenha-se afastado das pessoas que tentam depreciar sua ambição. Pessoas pequenas sempre fazem isso, mas as realmente grandes fazem você sentir que você, também, pode se tornar grande. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra. As pessoas que me dizem que vou para o inferno e elas para o céu de certa forma deixam-me feliz de não estarmos indo para o mesmo lugar”. E, para terminar, duas mulheres, duas brasileiras, uma nascida em Paris e a outra na Ucrânia. Eliane Lage, a primeira Sinhá Moça do cinema nacional, depois memorialista, e que costumava ela mesma fazer a feira, constatou: “O jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã”. E Clarice Lispector: “Deixo-te livre para sentir minha falta, se é que faço falta”.

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ANTONIO BIVAR, escritor e dramaturgo, acredita que devagar e sempre, nesse passo, vai até honolulu

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