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RIO DE VERÕES Na estação em que todos os olhos se voltam para a cidade, cariocas relembram momentos históricos, das dunas de Ipanema nos anos 1970 ao hino “Rio 40 Graus” de Fernanda Abreu

POR AUDREY FURL ANETO

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Caetano Veloso, Gal Costa, Waly Salomão e Torquato Neto se esticavam em Ipanema no início dos anos 1970, no verão das “dunas do barato”. Já a década seguinte foi marco de outro verão histórico no Rio de Janeiro: em 1987, um navio desovou no litoral carioca incontáveis latas de maconha, fato conhecido até hoje como o “verão da lata”. Depois, em 1992, veio o sombrio “verão dos arrastões”, com os assaltos em massa nas praias da zona sul. E seguiram-se tantos outros verões, nem sempre com rótulos certeiros, mas fiadores de histórias icônicas da cidade.

“O verão é uma estação muito simbólica para o Rio e para o Brasil todo”, crava Fernanda Abreu, ela mesma um símbolo carioca. “O Brasil se volta para o Rio, de olho nas modas, no comportamento, nas gírias e nas novidades”, completa ela, que é uma das autoras do eterno hino da estação, “Rio 40 Graus”.

A música, aliás, foi feita a partir do primeiro arrastão nas praias, naquele que viria a ser conhecido como o “verão dos arrastões”. Era outubro de 1992, e o jornal O Globo já trazia reportagem com o título: “Arrastões aterrorizam as praias da zona sul do Rio”. Fernanda, Fausto Fawcett e Laufer escreveram a letra de “Rio 40 Graus” sob os efeitos dos assaltos nas praias e da consequente criminalização dos moradores das favelas e do funk que impregnava as comunidades. “Nossa letra mostrava que, ao mesmo tempo em que

Fernanda Abreu é um símbolo do verão carioca; abaixo, as latas cheias de maconha, em 1987

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O Rio e seus contrastes: os famosos arrastões, destaque nos jornais, e o pôr do sol mais lindo do Brasil

GETTY IMAGES as favelas estavam se armando, que as facções conseguiram armamento pesado, estava surgindo ali uma cena muito potente e vigorosa do funk carioca, que é a música eletrônica brasileira”, explica Fernanda a J.P.

“Rio 40 Graus” se tornou um hino de verão e, também, um marco na trajetória da cantora, que chega aos 30 anos de carreira solo em 2020. “Fiquei muito marcada por essa música. A cada verão a letra ressurge. Já tem 28 anos e está aí novinha em folha, superatual. No primeiro calor de mais de 40 graus na cidade, já começa todo mundo na rua a dizer: ‘Fernanda, você tem que atualizar para Rio 50 Graus!’.”

Outro verão que inspirou a cantora foi o “da lata”. Ela tinha 27 anos quando, em 1987, veio a notícia de que o navio Solana Star desovara no mar 22 toneladas de maconha em latas, como as de leite em pó. A embarcação vinha da Austrália e repassaria a carga a outros dois barcos com destino a Miami. Quando a tripulação soube que o navio estava rastreado, simplesmente lançou as latas de maconha ao mar.

Numa caça ao tesouro, surfistas e banhistas corriam para garantir o seu quinhão da valiosa carga. “Minha memória desse verão é a de todo carioca: a gente levou um susto. No bom sentido”, conta, rindo, Fernanda. Afinal, “tinha um certo humor essa história”. “Foi um rebuliço. Parece que o fumo que tinha dentro da lata era muito bom. E todo mundo começou a usar uma expressão para se referir a algo legal, que era dizer: ‘Isso é da lata’.” A gíria pegou por muito tempo – e ajudou a batizar, em 1995, o terceiro disco de Fernanda Abreu, Da Lata. “Com esse título, queria dizer que os ingredientes daquele som eram bons tanto quanto o fumo da lata daquele verão”, revela.

Para além dos verões que lhe renderam música, Fernanda conta que a estação também atravessa sua vida de outras formas. “Quando era adolescente, não saía da praia. Todos os meus amigos, os garotos que eu namorei… A praia era a social, era o lugar de conversar, falar sobre política, moda, música, romance, tudo. Alguns verões foram bem simbólicos para mim. O de 1982, que foi o do Circo Voador no Arpoador. Foi quando a Blitz despontou para o mercado, naquele janeiro de 1982.”

A produtora Maria Juçá foi um tanto responsável pelo verão daquele ano, quando a lona azul e branco do Circo Voador aportou no canto da praia de Ipanema, primeiro endereço da casa de shows mais jovem do Rio. Maria, que se tornou diretora do circo nos anos 1990, lembra que a ideia do “verão do circo no Arpoador” surgiu com a turma de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone. “Ainda estávamos sob a ditadura, e os teatros eram ocupados por medalhões. Discutia-se muito como ter um palco democrático, e nada mais democrático que um circo. O prefeito da época não autorizou a instalação na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, e o grupo saiu num cortejo rumo ao Arpoador. Lá, o Circo Voador ficou”, conta Maria. O prazo inicial era um

mês, mas o verão carioca pediu mais, e lá a lona ficou por três meses, até março de 1982. Em outubro daquele ano, migrou, enfim, para a Lapa.

Mesmo fora da orla, o Circo Voador ainda celebra o verão. Todo ano, lança, na estação, um tema. “Já teve o ‘verão do beijo na boca’, o verão do ‘dane-se’ e assim vamos pensando de acordo com a atmosfera da época. Agora é o verão do avesso do avesso. Se o país está do avesso, nós estamos no avesso do avesso”, explica. No ano passado, o circo instalou um item básico no verão carioca: o chuveirão. “E segue neste ano, claro. Deu calor? Vai pra baixo do chuveirão”, completa.

Para Maria, “o verão é a estação na qual o Rio exubera”. Mesmo com a crise econômica que a cidade amarga há alguns anos, a produtora ainda defende que, no verão, tudo melhora. “É quando o Rio se encontra com o mar, com o sol, com a música. É quando o Rio é mais profano. E outra: o Rio recebe o mundo no verão.”

Foi no verão de 1969 que os irmãos Jorge e Waly Salomão (1943-2003) desembarcaram na cidade, vindos da Bahia. Com Caetano, Gal, Torquato Neto e os tropicalistas, Jorge viveu o verão das “dunas do barato”, também conhecido como o verão das “dunas da Gal”. Isso porque, para a construção de um emissário submarino (que leva o esgoto para o oceano), os engenheiros retiraram areia do fundo do mar e a depositaram na praia de Ipanema – formando as tão faladas dunas. Era o início dos anos 1970, e Gal fazia o show A Todo Vapor no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana.

“As dunas viraram uma metáfora da liberdade. Vinha chegando gente do interior de São Paulo, de todo o Brasil, hippies, pessoas que buscavam um espaço catártico. Era gente muito bonita, muito gostosa, os corpos lindos, bronzeados, espalhando prazer no meio da ditadura. Dali, saía todo mundo para o show da Gal”, recorda Jorge. Nas dunas viviam um dolce far niente cultural – ou, como ele define, “uma celebração grega do prazer”. “Uns tocavam violão, outros levavam comida, fumava-se muito, tomávamos ácido, namorávamos sem medo. As dunas do barato eram um espaço libertário, de apologia ao prazer.”

Hoje, aos 73 anos, Jorge deixa o tempo das praias apenas na memória. “Acho as praias do Rio insuportáveis”, lamenta. “Um dia olhei o céu, estava lindo, peguei minha canga, botei na mochila e falei: Vou à praia. Sentei-me no Arpoador. Estou ali e, naqueles buracos enormes de esgoto, eu vejo o rato do tamanho de um cachorro. Eu tomei um susto. Peguei minhas coisas e saí andando.”

Há quem não veja a decadência nas praias cariocas que Jorge Salomão afirma enxergar. A paulistana Mariana Ximenes, por exem

O Circo Voador fazendo barulho em plena ditadura e o CD de Gal Costa que fazia sucesso no início dos anos 1970 entre os cariocas

plo, desfia elogios ao verão e suas possibilidades no Rio. “Sou frequentadora das praias cariocas, sim. Acho a Prainha e o Grumari lugares paradisíacos! Ipanema e Leblon são pontos de encontros, total. Também acho o Leme um charme”, diz, para completar: “Adoro ir à praia de noite. Muitas vezes vou depois do trabalho, tipo 22h, 23h. O Arpoador fica iluminado e gosto de fazer stand-up paddle ao pôr do sol e ficar por lá. O Rio é uma metrópole, contemporânea, com lindas paisagens. E tem o estilo carioca que é único. Sou uma paulistana encantada com o Rio”. n

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