Revista J.P | Edição 160

Page 18

MEMÓRIA

RIO DE VERÕES

Na estação em que todos os olhos se voltam para a cidade, cariocas relembram momentos históricos, das dunas de Ipanema nos anos 1970 ao hino “Rio 40 Graus” de Fernanda Abreu POR AUDREY FURL ANETO

C

16 J.P JANEIRO 2020

Fernanda Abreu é um símbolo do verão carioca; abaixo, as latas cheias de maconha, em 1987

FOTOS REPRODUÇÃO

aetano Veloso, Gal Costa, Waly Salomão e Torquato Neto se esticavam em Ipanema no início dos anos 1970, no verão das “dunas do barato”. Já a década seguinte foi marco de outro verão histórico no Rio de Janeiro: em 1987, um navio desovou no litoral carioca incontáveis latas de maconha, fato conhecido até hoje como o “verão da lata”. Depois, em 1992, veio o sombrio “verão dos arrastões”, com os assaltos em massa nas praias da zona sul. E seguiram-se tantos outros verões, nem sempre com rótulos certeiros, mas fiadores de histórias icônicas da cidade. “O verão é uma estação muito simbólica para o Rio e para o Brasil todo”, crava Fernanda Abreu, ela mesma um símbolo carioca. “O Brasil se volta para o Rio, de olho nas modas, no comportamento, nas gírias e nas novidades”, completa ela, que é uma das autoras do eterno hino da estação, “Rio 40 Graus”. A música, aliás, foi feita a partir do primeiro arrastão nas praias, naquele que viria a ser conhecido como o “verão dos arrastões”. Era outubro de 1992, e o jornal O Globo já trazia reportagem com o título: “Arrastões aterrorizam as praias da zona sul do Rio”. Fernanda, Fausto Fawcett e Laufer escreveram a letra de “Rio 40 Graus” sob os efeitos dos assaltos nas praias e da consequente criminalização dos moradores das favelas e do funk que impregnava as comunidades. “Nossa letra mostrava que, ao mesmo tempo em que


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.