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50 72 6 EDITORIAL 8 COLUNA DA JOYCE 12 TREM DAS CORES À frente da Dovac, fabricante das tintas Lukscolor, Maria Cristina e Angelica Potomati têm grandes multinacionais como concorrentes 22 ENGAJADO.COM O bilionário das criptomoedas Samuel Bankman-Fried não está nem aí para o que sua fortuna pode comprar 26 RESGATE VERDE-AMARELO A especialista em branding Ana Couto fala sobre alguns resultados do mais completo levantamento sobre brasilidade 29 OPINIÃO O oncologista Paulo Hoff e os impactos da tecnologia na medicina 33 A VOZ DA INCLUSÃO Para a consultora Annalisa Blando a educação financeira empodera as mulheres SUMÁRIO 54
/Poder.JoycePascowitch NA REDE: @revistapoder /revista-poder-joyce-pascowitch @_PoderOnline MARIA CRISTINA E ANGELICA POTOMATI POR ADRIAN IKEMATSU AGENDA PODER ADIDAS + adidas.com CAMARGO + camargoalfaiataria.com.br CNS + cnsonline.com.br DIOR + dior.com FLAVIA MADEIRA + flaviamadeira.com INTIMISSIMI + intimissimi.com.br JULIO OKUBO + juliookubo.com.br OFICINA + oficinareserva.com SEASE + cjfashion.com FOTOS PAULO FREITAS; MAURICIO NAHAS; GABRIELA FIGUEIREDO; OSSIP VAN DUIVENBODE; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO 36 JOGOS VORAZES As novas caras do Congresso Nacional e os rumos da política nacional 44 A CRISE DA TENRA IDADE A socióloga francesa Patricia Loncle-Moriceau conta por que os jovens de hoje demoram tanto para assumir a vida adulta 48 OPINIÃO O consultor Renato Mendes afirma que as startups vão ver dias muito melhores 50 POESIA CONCRETA Conheça algumas das bibliotecas mais espetaculares do planeta 54 COM OS PÉS NO CHÃO O ator Humberto Carrão diz a que veio na TV e no cinema 60 RESPIRO 62 LIVROS NO CENTRO Fernanda Diamant, da Fósforo, que edita por aqui Annie Ernaux, Nobel de Literatura 64 SOB MEDIDA 66 CÉU PARTICULAR Helicópteros incríveis para quem não tem tempo a perder 70 PODER VIAJA 72 AS BELEZAS ESCONDIDAS DA SICÍLIA As imperdíveis ilhas Levanzo, Marettimo e Favignana 76 CULTURA 79 CÍRCULO VIRTUOSO À frente do Mozarteum, Sabine Lovatelli trabalha para desmistificar a música clássica 80 ÚLTIMA PÁGINA 26 44 62
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OUTUBRO 2022
Há frases muito conhecidas sobre o Brasil como ambiente de negócios: que aqui não é para amadores, que vivemos em um eterno caos tributário e por aí afora. O tempo passa e o país não muda muito sua posição nos rankings que medem isso. No último relatório Doing Business do Banco Mundial, por exemplo, estávamos na 124ª posição. E, mesmo quando os números não jogam a favor, alguns empresários não se deixam intimidar e tocam o barco. Esse é o caso das irmãs Maria Cristina e Angelica Potomati, que comandam a Dovac, fabricante das tintas Lukscolor, e enfrentam aqui algumas das maiores companhias multinacionais do mundo. As duas não apenas conseguem fazer sua empresa sobreviver, como injetam criatividade, tecnologia e inovação no mercado, como quando lançaram uma linha de tintas sem cheiro. Ponto para elas. Aliás, por falar em cheiro, o que vem de Brasília pode não mudar, mas o barulho certamente será maior no Congresso Nacional quando os deputados e senadores eleitos em outubro assumirem seus cargos. O avanço da direita, especialmente aquela simpática ao bolsonarismo, com parlamentares de enorme engajamento nas redes sociais, pode mudar a correlação de forças entre os poderes e até mesmo fazer o Legislativo sobrepor-se ao Executivo. Mas que fique claro: esta edição foi fechada antes da definição do segundo turno. E para responder à pergunta “O que é o Brasil?”, a especialista em branding Ana Couto encabeçou um dos mais completos estudos sobre a relação dos brasileiros com o país e chegou a conclusões muito interessantes apuradas em 600 mil tuítes e 2.500 entrevistas. Acompanhe o resultado nas próximas páginas. E se é verdade que as novas gerações têm dificuldade para encarar a vida adulta, elas também podem se relacionar de uma forma bem mais interessante com o dinheiro. Quem nos contou isso foi Patricia Loncle-Moriceau, professora de sociologia e ciências políticas da Escola Francesa de Saúde Pública. Um bom exemplo de como jovens adultos de hoje lidam com o próprio dinheiro é o do bilionário das criptomoedas Samuel BankmanFried. Aos 30 anos e com US$ 21 bilhões de patrimônio, ele é adepto do que chama de “ganhar para dar”: além de filantropo convicto, costuma socorrer empresas em apuros. E quando a questão é ganhar tempo – que vale muito, a gente sabe –, ir de helicóptero pode salvar a situação. Escolha o seu na seleção incrível que fizemos na seção Motor. Esta edição traz, ainda, outros personagens que transformaram suas convicções em força e singularidade, como o empresário Facundo Guerra, que revolucionou o lazer em São Paulo, e o ator Humberto Carrão, que está marcando presença forte no cinema e na TV. Muitos são os temas, mas meu espaço aqui é pouco. Então, mãos à obra, porque a PODER está tinindo.
PODER EDITORIAL REVISTAPODER.COM.BR
CABO DE GUERRA
e o atual presidente da Fiesp respectivamente, não é das melhores. Os dois pouco se falam e agora a rusga ganhou mais um reforço: as reuniões que Skaf tem feito em sua casa com a turma da Fiesp. O assunto é dar início a uma forte oposição ao atual comandante da entidade, que termina seu mandato só em 2025.
ABISMO
A maior petroleira privada do país, que tem sede no Rio de Janeiro e mudou de nome recentemente, está em uma tremenda enrascada judicial e tenta fechar acordo não litigioso com três funcionárias. O motivo? Assédio moral e sexual. Uma delas, inclusive, tem um vídeo do ocorrido.
RAIZ
Por que o OWAMNI, o restaurante do momento nos Estados Unidos, tem sido tão falado? Simples: ele está em total sintonia com o politicamente correto. Um dos fundadores, o chef Sean Sherman, que é neto de índios sioux, não usa ingredientes introduzidos no continente americano pelos europeus. Assim, farinha de trigo, laticínios e derivados de cana-de-açúcar não fazem parte do cardápio, nem carne bovina, suína ou de frango. No lugar entram, por exemplo, carne de bisão e de pato selvagem e vegetais como favas de bordo. O Owamni fica em Minneapolis (Minnesota) e Sherman é conhecido por divulgar a culinária indígena americana.
CASULO
Ainda de luto pela morte do filho, João Paulo, em julho, ABILIO DINIZ tem saído de casa apenas para eventos pontuais. No fim de setembro, esteve em um encontro de empresários em torno de Lula e, no início deste mês, postou uma foto em Córdoba, na Argentina, para onde viajou com os filhos menores, Rafaela e Miguel, e os netos Abilinho e Eduardo, filhos de João Paulo. O grupo foi assistir ao jogo do São Paulo contra o Independiente del Valle na final da Copa Sul-Americana.
A relação entre PAULO SKAF JOSUÉ GOMES DA SILVA
DIVULGAÇÃO
BREQUE DE MÃO
Ferramentas importantes no combate à criminalidade e na resolução de conflitos empresariais, as delações, o compliance e a arbitragem já não desfrutam da mesma unanimidade de antes – isso por conta do excesso de poder de seus protagonistas. No caso da arbitragem, por exemplo, o Tribunal de Justiça de São Paulo criou varas na primeira instância e câmaras na segunda só para julgar conflitos arbitrais.
CORREDOR
A poucos dias do segundo turno, a boataria segue forte em Brasília. Muitas suposições são improváveis, mas uma que leva jeito de virar realidade é que, caso Lula seja eleito, o ministro RICARDO LEWANDOWSKI antecipe sua aposentadoria, prevista para maio do ano que vem. O motivo? Assumir o Ministério da Justiça. A disputa promete – só o Prerrogativas, grupo formado majoritariamente por advogados brasileiros, tem vários candidatos potenciais a cargos no Judiciário.
CAMINHO SUAVE
Tornar o útil bem mais do que agradável. Esse foi o mote do designer industrial Eiji Mitooka ao criar o IKEBUS, ônibus elétrico que circula por Ikebukuro, distrito comercial e de entretenimento de Tóquio, no Japão. O design, que mais parece o de um carrinho de brinquedo, foi pensado para tornar a experiência de andar de ônibus mais divertida. “Esse também é um jeito leve de fazer as crianças interagirem com a cidade”, diz Mitooka, que assina o projeto de outros meios de transporte coletivo japoneses, o do novo trem-bala incluído. E, assim como o lado de fora, o interior do Ikebus também é “lúdico”: teto colorido, assentos com forração diferente e piso que lembra tacos de madeira. Sem falar na simpática coruja no topo dos carros, a mascote do Ikebus.
HALTERES
Na reta final da campanha, LULA tem seguido uma rotina espartana de exercícios físicos que começa de madrugada. Depois de duas horas de ginástica, ele encara mais uma hora com o fonoaudiólogo para melhorar a resistência de suas cordas vocais, que têm sido muito solicitadas ultimamente.
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FOTOS AYRTON VIGNOLA/FIESP; EDSON LOPES JR/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA;
3 PERGUNTAS PARA...
O reformismo, que está presente nas Conferências das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COPs) não está à altura do problema atual. Evitar pegar avião para curtas distâncias, por exemplo, não resolve os efeitos do aquecimento global, a poluição marítima e a perda da biodiversidade. Isso é apenas um milésimo da questão. Assim como a evolução dos carros elétricos também não. A extração de terras raras, usadas na produção desses veículos, é uma das atividades mais poluentes. Além disso, não sabemos reciclar baterias e íons de lítio, que são poluentes. Estamos nos
deixando levar por soluções falsas.
O ecomodernismo, defendido nos Estados Unidos, tem algumas ideias geniais, como a dissociação entre cidade e natureza. Na prática, somos 4 bilhões de pessoas vivendo em 3% do território do planeta. Se nos contentarmos com 10%, poderemos usar os 90% restantes para fazer uma reserva de natureza selvagem que pode absorver os gases de efeito estufa e recriar biodiversidade e biomassa.
COMO IMPULSIONAR ESSE MOVIMENTO?
O principal papel é o dos governantes, que devem criar políticas públicas. Mas não que impõem o decrescimento, a exemplo de ações defendidas por teóricos da área, como “precisamos dividir o salário das pessoas por três”. Isso só geraria revolta. Se eu fosse presidente, criaria uma dezena de reservas naturais na França, por exemplo. É algo fácil de fazer e que agradaria à população. Outro ponto é incentivar (e
conscientizar) os empresários sobre a reciclagem, já que as companhias são as que mais poluem.
E QUAL O PAPEL DAS PESSOAS NO ECOMODERNISMO?
De um lado, é importante educar os empresários sobre economia circular. De outro, lembrar as pessoas que a reciclagem também é responsabilidade delas e uma atividade individual. Na Alemanha e na Suíça, quem não recicla o lixo é considerado criminoso. Isso é urgente. A poluição marítima está em vias de se tornar irreversível, e precisamos dos oceanos para viver. Se continuarmos poluindo haverá uma catástrofe global.
CESAR CARVALHO (esq.) e TIAGO DALVI, fundadores de dois unicórnios (Gympass e Olist, respectivamente), são os novos conselheiros da Endeavor, organização sem fins lucrativos de fomento ao empreendedorismo. Com a chegada da dupla, 40% da composição do Conselho da entidade, que tem dez membros, passa a ser formada por criadores de startups que valem US$ 1 bilhão cada. Carvalho e Dalvi vão se juntar a outros dois conselheiros da Endeavor: Sergio Furio, da Creditas, e Robson Privado, da MadeiraMadeira.
DREAM TEAM
10 PODER X”
O filósofo francês LUC FERRY é colunista do jornal Le Figaro e autor de mais de 70 livros, como o best-seller Aprender a Viver, 7 Maneiras de Ser Feliz e Les Sept Écologies, sua obra mais recente que ainda não foi publicada no Brasil. VOCÊ DEFENDE O ECOMODERNISMO, UMA DAS CORRENTES FILOSÓFICAS DA ECOLOGIA NA ATUALIDADE QUE SE BASEIA EM DOIS PILARES – A REGENERAÇÃO E A ECONOMIA CIRCULAR – PARA SALVAR O PLANETA. POR QUE ESSE MOVIMENTO É TÃO IMPORTANTE?
YUVAL NOAH HARARI, HISTORIADOR E ESCRITOR
O verdadeiro enigma da vida não é o que acontece depois que você morre, mas o que acontece antes de você morrer
ORÁCULO
Criado pelas empresárias paulistanas SOPHIE CARELLI WAJNGARTEN (esq.) e sua cunhada BIANCA WAJNGARTEN, o Which é um aplicativo interativo de enquetes que entrega respostas a todo tipo de dúvida, seguindo a tendência de compartilhamento no caso, o de opiniões. “O usuário posta para descobrir o que outras pessoas do mesmo grupo temático pensam sobre o assunto”, explica Bianca. Por enquanto, as enquetes são binárias, ou seja, só permitem a escolha de uma dentre as duas opções propostas. A primeira versão foi lançada em agosto e a segunda sai até o final de novembro. “A novidade é o Ranking Which com as cinco alternativas mais clicadas pelos usuários em vários temas”, conta Sophie, revelando que o aporte financeiro de investidores interessados e a internacionalização estão nos planos da dupla.
ESTE MÊS A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...
ASSINAR o canal de conteúdo MasterClass para ter “professores” como Madeleine Albright e Condoleezza Rice falando sobre diplomacia; ou saber mais sobre filmes independentes com Spike Lee
COMPARAR os dois lados de uma das mais famosas universidades da Ivy League lendo estes dois livros: What They Teach You at Harvard Business School, de Philip Delvis Broughton; e What They Don’t Teach You at Harvard Business School, de Marc H. McCormack
REUNIR a família para decidir onde passar juntos os mais aguardados dez dias de 2022: os das férias de fim de ano. Que tal Madagascar, Atacama ou mesmo Salvador?
LER Uma Breve História da Igualdade, de Thomas Piketty, que mostra os grandes movimentos
que moldaram o mundo moderno –para melhor e pior
SINTONIZAR na Apple TV para maratonar Gutsy, série documental que acompanha Hillary Clinton e sua filha Chelsea em conversas com personalidades como Jane Goodall, Goldie Hawn e até Kim Kardashian
ENTRAR no clima da Copa vendo o documentário Brasil 2002: Os Bastidores do Penta, da Netflix
OUVIR o podcast Hard Fork do jornal americano The New York Times que estreou este mês e conta o que está por trás das inovações tecnológicas que vêm transformando o planeta
ACESSAR o tour virtual da exposição Portinari para Todos, do MIS Experience, que fica até 23 de dezembro no site do museu
TESTAR a receita de pelo menos um prato novo que deve ser a estrela do jantar de Natal – se for na linha vegetariana vai ser mais sucesso ainda
CRIAR uma playlist própria, muito autoral e que conte uma história para compartilhar com os amigos mais próximos
COMPRAR uma prancha de surfe vintage – nem que seja apenas para pendurar na parede. Sonho não tem idade
PROGRAMAR uma viagem para Chicago, nos Estados Unidos, para visitar o Art Institute of Chicago, museu que abriga mais de 260 mil obras de 5 mil anos de história, que vão de impressões japonesas iniciais até a arte americana contemporânea
COM REPORTAGEM DE CAROLINE MARINO, MÁRCIA ROCHA E PAULO VIEIRA
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FOTOS DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; JONATHAN ALONSO DELGADO/DIVULGAÇÃO; JULIA YAZBEK/ENDEAVOR BRAZIL; FÁBIO VIEIRA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO NETFLIX
TREM DAS
CORES
Em um meio dominado por homens e com grandes multinacionais como concorrentes, as irmãs Maria Cristina e Angelica Potomati comandam a Dovac, fabricante das tintas Lukscolor, mantendo a marca relevante, competitiva e com capital 100% brasileiro
por paulo vieira fotos adrian ikematsu
Num setor dominado por empresas transnacionais gigantescas como a alemã Basf, dona da Suvinil; a holandesa Akzo, da Coral; as americanas PPG, das Tintas Renner; e a Sherwin-Williams, fazer e co mercializar tintas com sucesso no Brasil pode ser questão de fé, teimosia ou as duas coisas juntas. Só a Sherwin-Williams fatura globalmente US$ 20 bi. Fé e teimosia, sim, mas dá para dizer que legado também entra na equação. Maria Cristina Potomati, da Dovac, fabricante das tintas Lukscolor, indústria criada por seu pai, Domingos, em 1949, está à frente do negócio desde 1979, quando o fundador morreu, aos 53 anos. No começo dos anos 2000, sua irmã Angelica, advogada formada pela USP, juntou-se a ela, assumindo a direção de marketing.
Maria Cristina, economista graduada pela FMU, chegou à em presa jovem, aos 20, e talvez por isso tenha o pai como guru e maior professor – especialmente para valores e princípios, como disse a PODER na sede fabril e administrativa da companhia, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. As máximas que Domingos falava vão aparecendo sem esforço em seu discurso. “Quem tem de ser rica é a empresa, quando ela está forte, você
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As irmãs Maria Cristina (esq.) e Angelica Potomati, controladoras da Dovac
está forte”; “respeito não se herda, se conquista”; “patrimônio não se con funde com prestígio”; “há dois vícios que se pega na adolescência: trabalhar e fumar”. Domingos, filho de imigrantes italianos era, claro, fumante, e logo cedo aprendeu o ofício da pintura de carros – então, todos importados. Ele iniciou sua saga industrial no Ipiranga, em São Paulo, primeiro com uma loja, e depois com uma pequena fábrica de garagem, a Oxford. Segundo Ma ria Cristina, o pai tinha um talento especial para a mistura de cores, gênese da marca Luxforde, que se tornaria a principal do setor de repintura auto motiva (para carros usados) do Brasil. A marca seria vendida em 1968 para a multinacional alemã Hoechst, levando Domingos, agora bastante capitaliza do, a abrir frente em outro setor, o de thinners, com a Luksnova.
O mundo, o Brasil e a administração de empresas mudaram significati vamente nas últimas quatro décadas, e não seria muito provável que Maria Cristina conseguisse manter um negócio industrial forjado em sua casa vivo e relevante apenas dando curso a um storytelling nostálgico. Seu setor exige capital intensivo e constantes aportes em pesquisa e desenvolvimento, algo que, se é questão de vida e morte para as empresas brasileiras, não é exata mente “issue” para a concorrência transnacional. Mas, a julgar pelo tom se reno com que ela relata a história de seus últimos 40 e poucos anos à frente dos negócios da família, não houve lances épicos nem noites seguidas de so nhos intranquilos. E seguramente não foi moleza, já que, além do tamanho – e do assédio – da concorrência, coube a ela mudar completamente a rota da companhia, ao lançar a marca Lukscolor em 1989 e adentrar pelo sendero das chamadas tintas imobiliárias, aquelas destinadas ao público consumidor que reforma, renova ou apenas dá um tapa em seu imóvel. É essa vertente que responde por 83% do faturamento bilionário do segmento de tintas, muito à frente do produto automotivo, que contribui hoje com 6%.
A verdade é que, mesmo que não houvesse grandes desafios industriais a superar com a mudança de portfólio, as batalhas enfrentadas na jorna da comporiam uma narrativa muito mais digna de uma Ilíada, digamos, do que dos Marimbondos de Fogo. É difícil quantificar o que mais custou a Ma ria Cristina – e não só do ponto de vista financeiro: se o reposicionamento da grande estrela da companhia, agora a tinta imobiliária; se os esforços pela manutenção da rede de vendas – as lojas multimarcas de terceiros; se a gestão de pessoas; ou a necessidade de injeção de capital, entre muitas outras tantas lutas, tudo isso temperado por uma conjuntura inóspita, com sucessão de planos econômicos, mudanças de moeda, confisco, inflação de quatro dígitos e o famoso manicômio tributário, “default” do ambiente de negócios brasileiro, a vergar sobre as costas da empresária.
SENHORA DO DESTINO
Mesmo com tantos desafios, a companhia também tem marcada em sua história momentos de pioneirismo e sacadas de marketing em grande estilo. Em 2001, por exemplo, houve o lançamento da tinta com “suave perfume”, algo inédito no mundo segundo as irmãs Potomati, tinta que eliminaria um incômodo histórico da aplicação desse produto, o cheiro forte. “Gos to de pensar como o consumidor, e ele demorava sempre mais para pintar a casa por causa do cheiro”, explica Angelica, responsável pela inovação.
A novidade, que seria adotada pela concorrência, mudaria um padrão de comportamento do consumidor, abreviando o intervalo entre as pin turas de seus imóveis, segundo a ca
çula das Potomati. Três anos depois, a Lukscolor estrelou um dos mais cobiçados merchandisings do país, exibindo sua marca para literalmen te meio Brasil na loja de material de construção de Maria do Carmo, a protagonista interpretada por Su sana Vieira da novela global Senho ra do Destino, de Aguinaldo Silva. Mais recentemente, a organização empreendeu a troca de substâncias derivadas de petróleo em certa linha de produtos de preparação e acaba mento, em movimento que prece deu a onda ESG que chegou ao setor.
DIVERSIDADE
Caso pensasse em sucessão, seria natural esperar de um industrial, no fim dos anos 1970 no Brasil, que pri vilegiasse eventuais genros às pró prias filhas mulheres. Ou até mes mo que vendesse sua companhia. Não foi, como se viu, o caso aqui, num gesto, quem sabe, de inclusão avant la lettre de Domingos. Hoje,
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FOTOS
CARREGANDO NAS TINTAS
O setor das tintas foi um dos que mais lucraram durante a pan demia. Em 2021, as empresas estabelecidas no Brasil produziram 5,7% a mais em volume em relação a 2020, um ano também po sitivo. Para 2022, Luiz Cornacchioni, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), espera um cresci mento em volume de 2,5% – a entidade não divulga o faturamen to total do segmento. Há cerca de uma década o Brasil se tor nou o quinto maior produtor mundial, e consome praticamente tudo o que produz, uma vez que grande parte da composição da tinta é água, o que geraria peso e encargos excessivos em ca so de exportação. O produto também “viaja mal”, podendo ter sua qualidade comprometida com as vicissitudes do transporte. Comentando o setor em entrevista a PODER, o executivo dis se que as empresas 100% nacionais têm “mercado amplo para atuar” mesmo diante da competição feroz com as transnacio nais. Segundo ele, uma característica do segmento é sua boa dis tribuição nacional, o que acaba por gerar empregos em todas as regiões. Cornachioni acredita que o interesse maior do consumi dor brasileiro pela beleza do próprio imóvel, costume adquirido na pandemia, tende a se perpetuar. O setor prepara para novem bro a divulgação de um programa de sustentabilidade setorial que vem sendo feito com apoio do Instituto Akatu. Cornacchioni não soube adiantar a meta de redução da emissão de carbono aí contida, um dos parâmetros mais importantes hoje para as di versas cadeias industriais.
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Setores da fábrica da Dovac, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, que concentra também a área administrativa da companhia
Maria Cristina Potomati
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Numa empresa, quanto todos remam numa mesma direção, já não é fácil, imagina quando ainda há dentro dela pessoas não alinhadas”
o tema da diversidade parece estar bem resolvido para as irmãs. “Temos a preocupação de não ter preocupação com isso”, diz Angelica, para dei xar claro que as minorias estão bem estabelecidas em postos gerenciais e diretivos na Dovac - no caso, ela está falando das mulheres que traba lham na empresa. “Temos uma diretora à frente do supply chain, outras tantas em recursos humanos e gerentes em outros setores”, completa.
De qualquer forma, a transição desde a morte do pai não foi suave, exigin do atuação decisiva de Wilma, a mãe das executivas, que fez valer os 70% de participação da família na companhia ao colocar no comando a primogêni ta. Os sócios minoritários, contrariados, tiveram suas cotas compradas aos poucos e por fim deixaram a Dovac. Maria Cristina diz que não enfrentou hostilidade naquelas primeiras semanas, mas que foi necessário agir. “Numa empresa, quando todos remam na mesma direção já não é fácil, imagina quando ainda há dentro dela pessoas não alinhadas”, conta.
PASSAGEM DE BASTÃO
Dos três herdeiros das irmãs Potomati, dois homens trabalham na com panhia, e uma passagem de bastão é esperada para o futuro. Maria Cristina diz que profissionalizou bastante a gestão, que está a formar um conse lho e que pretende em algum momento trocar o dia a dia pela estratégia. Vender não está em causa, mas ela refuta usar o advérbio nunca. Caso a terceira geração venha mesmo a assumir o comando, é fundamental, na visão de dois analistas ouvidos pela PODER, que ela entenda os pontos fortes e fracos, as ameaças e oportunidades, numa análise SWOT a quente, vivenciando o dia a dia da empresa, se possível no – aqui literal – chão de fábrica. “A velha carteirada não funciona, é preciso mostrar que está lá por com petência e mérito”, diz Marcelo Apovian, consultor de processos de transição em empresas familiares que agora fundou a fintech CredSeller. O planejador patrimonial Rodrigo Bussab, que concorda inteiramente com essa ideia, vê no Brasil um movimento de afastamento das novas gerações das velhas empresas familiares, especialmente as do setor industrial. “As terceiras e quar
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Rodrigo Bussab , planejador patrimonial
tas gerações que chegam agora ao comando das fábricas que seus avós fundaram acham aquilo tudo antiquado. Mesmo quando lucrativas, preferem abrir uma fintech. Essas empresas estão morrendo por falta de gente com interesse em comandá-las.”
Venha quem vier no futuro assumir o timão da Dovac, talvez seja útil de vez em quando medir a temperatura do ambiente interno. Numa empresa que depende decisivamente dos pontos físicos de venda – as tais lojas terceirizadas multimarcas, caraterística do varejo de mate riais de construção –, o cuidado com a atuação das equipes de vendas é crítico. Alguns vendedores, de hoje e ontem, se manifestaram no site Glassdoor, que recebe avaliações anônimas do ambiente de trabalho de diversas empresas. Há ali elogios à política de remuneração da Do vac, mas críticas à certa centralização das decisões e à burocracia de processos. As irmãs Potomati têm claro que seu negócio se nutre e se apoia fortemente nas visitas de seus vendedores aos lojistas, algo que foi interrompido por motivos óbvios durante a pandemia, e que essas visitas devem e precisam ser intensificadas. Da pandemia, aliás, ficou a boa lição, de resto aprendida por tantos gestores, de que reuniões produtivas prescindem de encontros presenciais. Ficou também um saldo comercial muito positivo, tanto em 2020 como em 2021, com os consumidores comprando mais tintas para dar um trato em suas casas e apartamentos, subitamente transformados também em es critórios. O setor todo lucrou com isso, conforme dados da Associa ção Brasileira dos Fabricantes de Tintas (confira no boxe da pág. 15).
O sol nasceu pra todos, dizia o refrão pegajoso de um jingle de uma das campanhas políticas do ex-governador paulista Orestes Quércia, e a Dovac, com suas várias décadas de vida, tenta usufruir de seu quinhão de luz e calor em meio a uma concorrência que, como se diz no espor te, joga muitas vezes com força desproporcional. Não deixa de causar certo espanto – e admiração – que a fabricante das tintas Lukscolor e tantas outras companhias familiares iniciadas um tanto romanticamen te lá atrás, e mantidas até aqui com capital 100% nacional, não apenas sobrevivam, como sejam tão numerosas no Brasil. Caso essas últimas precisem dar um tapa no visual, renovar a pintura de suas paredes, mu ros e demais instalações para mostrar que estão pujantes e “alive and kicking”, já sabem agora com quem falar. n
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As terceiras e quartas gerações que chegam ao comando das fábricas que seus avós fundaram acham tudo antiquado. Essas empresas estão morrendo por falta de gente para comandá-las”
ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA CHARLES WILLY
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DE CLÁSSICOS Investir em peças atemporais é tiro e queda para quem procura estilo e elegância – o que vale para roupas, sapatos e qualquer tipo de acessório. Aqui, as escolhas de PODER que apostam nessa ideia. Todos os produtos estão à venda no Iguatemi 365 (iguatemi365.com), e-commerce do Iguatemi que foi eleito o melhor marketplace de shoppings do Brasil. Anel TIFFANY & CO, no 365 R$ 3.200 Pasta TOD’S, no 365 R$ 8.190 Pingente TIFFANY & CO, no 365 R$ 47.150 Livro QUEEN BOOKS, no 365 R$ 739 Jeans PALACE, no 365 R$ 1.000 Tênis ZEGNA, no 365 R$ 6.350 Camisa POLO RALPH LAUREN, no 365 R$ 670 Vinho MISTRAL, no 365 R$ 425
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ENGAJADO.COM
POR CAROLINE MARINO
“eu objetivo é causar impac to.” Quem cos tuma dizer isso é Samuel Bankman-Fried, americano de 30 anos considerado um dos principais empre sários de criptomoedas do mundo. À frente da FTX, exchange avaliada em US$ 32 bilhões que ameaça tirar a liderança da gigante Bi nance, ele acumula uma fortuna estimada em US$ 21 bilhões, segundo a Forbes. Mas faz questão de manter suas convicções e estilo de vida, destoando da excentricidade – e das po lêmicas – dos bilionários do mundo e parece não estar nem aí para o luxo e a fama que os bilhões trazem.
Vegano por razões humanitárias, conheci do pelo cabelo bagunçado e por usar roupas simples, o empresário passa seu tempo no escritório, virando noites. Diz que vai doar a maior parte de sua riqueza para a filan tropia com base em uma filosofia chamada “ganhar para dar”. Para se ter uma ideia, a fundação da FTX já doou mais de US$ 140 milhões para instituições que focam em frentes como direitos humanos, combate à malária e protecão ao meio ambiente. As sim como Mark Zuckerberg, Bill Gates e o megainvestidor Warren Buffett, Bankman -Fried também é signatário do Giving Pled ge, compromisso público assumido por pes soas muito ricas em todo o planeta para se desfazer da maior parte de suas fortunas em prol da filantropia, o que pode ser feito em vida ou determinado em testamento.
Filho de professores de Direito, o agora bilionário nasceu na Califórnia, nos Esta dos Unidos, e estudou física no Instituto de
MTecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Foi lá que ele conheceu o cha mado altruísmo efetivo, movimento fun dado por dois professores de Oxford. Na prática, é fazer o bem da forma mais eficaz possível com os recursos disponíveis. A físi ca acabou ficando de lado quando o jovem estudante foi atraído para o mercado finan ceiro logo no começo da carreira. Ainda na faculdade, fez estágio em uma empresa do ramo de negociação quantitativa e liquidez, e depois trabalhou com negociação de ETFs (fundos de investimentos). Já em seu pri meiro trabalho, doou parte do salário para a filantropia. Em 2017, ele vislumbrou boas oportunidades no comércio de criptomoe das e criou a Alameda Research, empresa de negociação quantitativa de criptomoedas. “Havia grande demanda, volatilidade, influ xos, valorização de preços, e muita atenção e interesse, mas a infraestrutura não estava lá”, disse em entrevista ao Yahoo america no. Em 2019, veio a FTX, uma das principais empresas do mundo para compra e venda de derivativos de criptomoedas. O negócio começou as atividades em Antígua e Bar buda, na América Central; depois montou escritórios em Hong Kong; e, recentemen te, mudou a sede para Bahamas. A decisão de ficar fora dos Estados Unidos é para es capar da regulação a fim de oferecer mais produtos financeiros, como ações tokeniza das (ativos digitais vinculados a ações reais mantidas por um custodiante que, no caso da FTX, é um banco alemão) e futuros. Mas ele sempre reforça que a FTX é móvel e po de fazar as malas a qualquer hora. Atualmente, a exchange tem um volume
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Dono de um patrimônio estimado em US$ 21 bilhões, o americano Samuel Bankman-Fried, que atua no mercado de criptomoedas, destina parte de sua fortuna à filantropia e a empresas em dificuldades
CRIPTOMOEDAS
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diário de negociação de US$ 19 bilhões e é considerada uma das maiores do mundo, segundo o CoinMarketCap. Além de atrair investidores em todos os lugares do pla neta, virou nome de estádio – agora, o time de basquete Miami Heat joga na FTX Arena –, e faz parcerias com celebridades. Na lista, estão nomes como o quarterback Tom Brady e a modelo Gisele Bündchen. E seguindo sua regra de “ganhar para dar”, 1% de todas as taxas líquidas são doadas para as instituições filantrópicas.
Até mesmo na política, Bankman-Fried vem deixando sua marca. No último ciclo eleitoral, contribuiu mais para a campanha do presidente Joe Biden do que qualquer um, exceto Michael Bloomberg: foram cer ca de US$ 5,2 milhões, segundo a Comissão Eleitoral Federal dos Estados Unidos.
ALTRUÍSMO EFETIVO
Parte da lógica altruísta também está em andamento para o mercado financeiro. Além de colaborações recorrentes que be neficiam os menos favorecidos, no último ano, Bankman -Fried iniciou linhas de crédito e resgates para aliviar os problemas de algumas das empresas de criptomoedas. Não surpreende, então, que ele tenha sido comparado ao que o banqueiro John Pierpoint Morgan fez durante a crise fi nandeira de 1907 ao minimizar o pânico daquele momento organizando a injeção de liquidez no mercado de capitais.
Os resgates de SBF começaram no fim do ano pas sado, quando a FTX forneceu uma linha de crédito de US$ 120 milhões à exchange japonesa Liquid depois que hackers retiraram US$ 80 milhões em ativos digitais da plataforma. Este ano, a FTX adquiriu a Liquid, embo ra não tenha divulgado por quanto. Além disso, à me dida que o mercado de criptomoedas enfrentava uma profunda crise de liquidez nos últimos meses, o jovem bilionário começou a distribuir linhas de crédito para, aparentemente, qualquer companhia que estivesse à beira do colapso, totalizando cerca de US$ 750 milhões entre FTX e Alameda Research, sua empresa de pesquisa quantitativa. Ele gosta mesmo de ser o Robin Hood das criptomoedas. “Sam é um visionário e está investindo pesado em negócios quebrados agora porque, além da sinergia com a FTX, ele entende que o mercado funcio na em ciclos”, diz Raymond Nasser, gestor da Mesa BTC, carteira proprietária e CEO da Arthur Mining, empresa de mineração de bitcoins.
Outra característica do empresário é a tranquilidade. Ele não costuma se desesperar nem pensar em cenários muito ruins. Mesmo com o preço do bitcoin caindo abaixo de US$ 20 mil, observa que as coisas poderiam ter sido piores e não está “superpreocupado” com a implosão da indústria tão ce
do. Até porque, com uma rodada de investimento de US$ 420 milhões em outubro de 2021, sua empresa passou a va ler cerca de US$ 25 bilhões e as perspectivas é que esse valor aumente em breve, pois alguns relatórios indicam que a FTX está buscando levantar mais US$ 1,5 bilhão, o que levaria a empresa a uma avaliação de US$ 32 bilhões.
LONGE DOS EUA
Atualmente, o jovem bilionário está focado na regu lamentação. Passa horas e horas do dia cuidando das questões regulatórias pessoalmente. Isso levou, inclu sive, à mudança da sede, que era em Hong Kong, para as Bahamas, pois Bankman-Fried acredita que as ilhas “têm uma estrutura regulatória abrangente para cripto”. Segundo ele, o excesso de regulamentação é o maior ris co para o bitcoin, mas não acredita em nada muito duro. “A indústria de criptomoedas precisa provar que é res ponsável e não exige regulamentações super-rígidas”, disse em entrevista para o Business Insider, site ameri cano. “Eu só gostaria que a indústria estivesse, como um todo, fazendo um trabalho mais consciente de interface com os reguladores.” De acordo com ele, os jogadores no espaço cripto precisam ser responsáveis e mostrar que não necessitam ter regras paternalistas. Por outro lado, é importante que os reguladores e as empresas de criptos trabalhem juntos.
Ao que tudo indica, a caridade com as empresas de criptomoedas ainda vai demandar que ele gaste boa par te de sua fortuna – e de seu tempo – para ajudar o seg mento a voltar aos patamares dos períodos de glória e ganhar mais credibilidade. n
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“Gostaria que a indústria estivesse fazendo um trabalho mais consciente de interface com os reguladores”
Samuel Bankman-Fried , fundador e CEO FTX
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UM OLHAR SOBRE A BELEZA
Focada em inovação, a Rennova tem soluções diferenciadas para quem deseja ter o tempo a seu favor
Não adianta negar: a imagem pessoal é uma podero sa ferramenta de comunicação não verbal que está li gada à autoestima e é capaz de mudar a maneira como nos vemos e a percepção que os outros têm sobre nós.
Assim, também não há dúvida de que essa premissa repre senta uma grande oportunidade para empresas do segmento de beleza, abrindo espaço para que marcas disruptivas e ante nadas se antecipem, oferecendo produtos com tecnologia de última geração. Esse é exatamente o caso da RENNOVA. “Ino var está em nosso DNA: são anos de história apresentando soluções diferenciadas em procedimentos injetáveis. Atual mente, cada paciente pode fazer seu tratamento de maneira personalizada com a garantia de qualidade que a Rennova oferece”, explica Leonardo Rezende, CEO da empresa.
Rezende, aliás, é o grande responsável junto com toda a sua equipe pelo sucesso atual da Rennova. Com tecnologia de ponta, a Rennova entrega os melhores lançamentos para o mercado. Com decisões respaldadas pela ciência, a Renno va ganha destaque no mercado nacional, marcando presença nos principais consultórios e clínicas, fechando parcerias com os profissionais mais importantes da área no país. Tanto que, hoje, é líder nesse segmento.
A Rennova trouxe para o Brasil um bioestimulador de co lágeno com tecnologia exclusiva, o Rennova Elleva, produto que causou frisson no mercado ao apresentar especificações até então inéditas. Promovendo até 70% de estí mulo de colágeno, o ativo é responsável por repor o volume, reestruturar e suavizar os sinais de envelhecimen to, diminuindo a flacidez, assim, pro porcionando uma aparência natural e efeitos rejuvenescedores que po dem durar até dois anos.
E o portfólio Rennova ainda conta com a toxina botulínica Na bota; preenchedores à base de ácido hialurônico para corrigir a perda de volume da pele, entregar a volumiza ção ideal e auxiliar na redução de rugas e marcas de expressão; desoxicolato de sódio para a redução da gordura submentoniana, procedimento mais conhecido como lipo enzimática; e a linha de skincare Renno va Beauté, que além de contribuir para a saúde da pele, auxilia na preparação da pele pré-procedimento e pós-procedimento.
Leonardo Rezende CEO RENNOVA
Outro avanço está voltado à melhoria estética e funcional da região íntima da mulher, trazendo soluções que a ajude a viver e desfrutar aspectos da sexualidade sem desconfortos ou inseguranças. Trata-se da Rennova Íntima: técnicas mi nimamente invasivas, à base de preenchedores e bioestimu ladores que não exigem internação e apresentam resultados imediatos. Tais abordagens auxiliam no combate a condições decorrentes do avanço da idade pela perda do colágeno, ou seja, a flacidez, mas também podem ser utilizadas em mulhe res mais jovens insatisfeitas com o formato da vulva.
Rezende promete continuar revolucionando o segmento com uma atuação mais completa para quem busca po tencializar sua beleza, diminuir os sinais do tempo e manter uma aparência natural. Essa atuação já pôde ser vista em São Paulo durante o evento de lançamento de produtos que obtiveram grande aceitação junto aos dermatologistas presentes.
Rennova Deep Line: auxilia no aumento do tecido facial e tem durabilidade prolongada; Rennova Lips: exclusivo para tratamentos labiais como volumização, contorno e hidratação; Rennova Lift um estruturador de alta performance e maior durabilidade; Rennova Ultra Volume: garante volumização, pele mais firme Rennova Body Shape: um volumizador de glúteo que proporciona mais firmeza, contorno e maior efeito lifting; Rennova Elleva X: estimula a produção de colágeno em até 70%, proporcionando um efeito de sustentação e firmeza da pele do corpo.
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“A inovação está em nosso DNA. Nossos produtos permitem que cada paciente faça seu tratamento de maneira personalizada”
RESGATE VERDE-A M ARELO
26 PODER PATRIOTISMO Se o Brasil fosse uma marca, seus atributos de persona lidade fariam do país uma love brand. Ainda assim, a performance de fidelização e propósito seria muito bai xa junto ao público. Ana Couto, executiva que liderou uma das mais completas pesquisas sobre o valor que o país gera, avalia possíveis cenários para virar esse jogo POR DOLORES OROSCO
Ojovem brasileiro ama a bra silidade, mas, se pudesse, viveria em outro país. Se guido por Anitta e Ney mar, Pelé continua a ser lembrado como a perso nalidade que mais repre senta o Brasil. E, por falar em represen tatividade nacional, há um saudosismo generalizado pelas cores da bandeira –mas sem a sombra político-partidária que acinzentou o verde-amarelo nos últimos anos. Esses são alguns dos diagnósticos da pesquisa “Branding Brasil – O Valor que o País Gera”, um dos mais comple tos estudos já realizados sobre a relação dos brasileiros com sua pátria.
Liderado pela agência Ana Couto, referên cia em estratégia de marca e publicida de há 25 anos, o levantamento fez 2.500 en trevistas nas cinco regiões do país, além de reunir 600 mil tuítes e depoimentos de 150 partici pantes de comu nidades on-line sobre temas ligados aos marcos e símbolos nacionais. No mínimo de safiador, considerando o zeit geist polarizado em que o país se encontra.
“Este ano é emblemático para o Brasil, por isso mergulhamos nessa pesquisa. Ti vemos os 100 anos da Semana de Arte Mo derna, os 200 da Independência, Carnaval praticamente duas vezes depois de dois anos de pandemia, além das eleições e a Copa do Mundo vindo aí”, diz a CEO Ana Couto, que acumula na estante prêmios de publicidade como o do Wave Festival e o Profissional do Ano de Comunicação – Design, pela Associação Brasileira de Propaganda. “A principal conclusão desse estudo é de que é errada a ideia de que o país está dividido, de que está todo mundo
brigando. Na verdade, quem está brigan do são as pontas, os extremos. Quem está no meio disso, que é a maioria, sente sau dade da brasilidade, quer entender o que pode nos impulsionar e acredita que po demos fazer muito mais do que fazemos.”
Ana explica que o Brasil foi avaliado co mo se fosse um produto – e, sendo assim, qual a relação o público teria com ele. “Quando falamos em fidelização e propó sito de marca, o Brasil aparece muito en fraquecido. Cerca de 55% dos jovens mo rariam em outro país se pudessem. No que a gente compartilha e gera de positivo, a performance também é muito baixa”, diz Ana, que cita fatores históricos para isso. “Não temos uma história única, com algo que todos com pactuem. Nos Estados
Unidos, por exem plo, a Constituição é um documen to sagrado, que está muito bem guardado, en quanto a nos sa ninguém sabe direito onde fica. So mos o país do futuro, sem um plano de futuro.”
No entanto, o Bra sil não deixa de ser uma marca amada, diz Ana. Pa lavras como “alegre”, “aco lhedor”, “criativo” e “trabalhador” foram as mais citadas como atributos de perso nalidade do país por cerca de 60% dos ouvidos na pesquisa. “Essa dicotomia de ‘o Brasil é ruim, mas ser brasileiro é ótimo’ é como se fosse uma terceirização de responsabilidade. O Brasil é uma coisa, o brasileiro é outra”, avalia a execu tiva. “E o que essa terceirização traz? Somos um país isolado, que muda de rumo o tempo todo, que passa muito tempo rivalizando”, completa.
Furar a bolha da pobreza e conquistar o mundo, no inconsciente coletivo, é uma de monstração da força do que é ser brasileiro, co mo mostrou a pesquisa. Não à toa, Pelé, Anitta e Neymar foram as celebridades mais citadas como “a cara do Brasil”.
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‘‘Essa dicotomia de ‘o Brasil é ruim, mas ser brasileiro é ótimo’ é como se fosse uma terceirização de responsabilidade. O Brasil é uma coisa, o brasileiro é outra”
PROPÓSITO COMUM
Desde a divulgação da pes quisa, Ana vem sendo pro curada por diversas marcas cujo interesse é estar alinha da com o projeto de resgate de patriotismo e identida de civil brasileira – especial mente em ano de Copa do Mundo, quando esse senti mento fica à flor da pele. “O empresariado passou muito tempo em um lugar de des crença e pouco compromis sado com o país no sentido de construir valor. Hoje, eles estão sendo muito mais co brados nesse setor de ESG [environmental, social, and corporate governance, sigla em inglês que define qual o envolvimento de uma corpo ração com questões sociais e ambientais]”, afirma.
Para Ana, com a crise da Covid empresas e marcas adotaram um discurso de co letividade e de fazer a dife rença muito mais articulado. “O Blackrock, o maior fundo de investimento do planeta, já declarou que só vai apostar em organizações que tenham um propósito claro, que en gaje e crie impacto positivo. Com isso, puxou muito es se movimento da luta pelas questões climáticas e de di versidade. São compromissos que não têm mais volta e que geram valor”, informa Ana.
“Quem não está se posicio nando e respondendo a isso, vai ficar ultrapassado. Porque o mercado está cada vez mais competitivo, existe uma pres são social muito grande. Isso faz parte de um amadureci mento do século 21.” n
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‘‘É errada a ideia de que o país está dividido. Quem está brigando são as pontas, os extremos. Quem está no meio disso, que é a maioria, sente saudade da brasilidade, quer entender o que pode nos impulsionar e acredita que podemos fazer muito mais do que fazemos”
OPINIÃO
MEDICINA DO FUTURO
POR PAULO HOFF
Desde o início do século 20, a medicina tem sido uma das áreas do conhecimento humano mais impactadas pelos avanços tecnológicos. A expectativa de vida mundial saltou de meros 30 anos em 1900 para quase 75 anos no ano 2000, graças, em parte, a novos métodos de diagnóstico e a tratamentos inovadores. Nesse mesmo período, a velocidade do desenvolvimento científico ace lerou de maneira inimaginável. Processo predominantemente liderado nas últimas décadas pelo desenvolvimento dos computadores e o aparecimento da internet, que estão cada vez mais presentes em todos os aspectos da vida humana –incluindo, claro, a medicina.
O impacto do desenvolvimento di gital é amplo e abrange praticamente todos os aspectos da saúde. Pensan do do ponto de vista dos pacientes, smartphones e computadores co nectados à internet permitem fácil acesso a informações relacionadas à prevenção e ao diagnóstico precoce de doenças, assim como escolher e entrar em contato com instituições e profissionais de saúde. E, consideran do o lado desses últimos, os impactos da tecnologia têm sido ainda mais expressivos. Um bom exemplo é o dos prontuários médicos, que passa ram a ser eletrônicos, melhorando a documentação e permitindo a coleta e a análise de grandes volumes de in formação. Ao mesmo tempo, hoje a rede acumula um volume enorme de informações que estão disponíveis de maneira quase instantânea – ao con
trário do que acontecia no passado, quando era preciso tempo para fazer uma pesquisa aprofundada.
O advento da inteligência ar tificial, por sua vez, possibilitou o uso dessas informações para o desenvolvimento de algoritmos que prometem revolucionar a prática médica. Com isso, pode mos antever um futuro em que profissionais de saúde terão suas tarefas grandemente facilitadas, começando pela leitura mais rá pida e eficiente de exames radio lógicos, anatomopatológicos e laboratoriais, até chegar na inte gração desses resultados em diag nósticos mais rápidos e precisos, e recomendações de tratamentos individualizados.
A recente pandemia de Covid-19 acelerou essas e outras tendências. O uso da internet para viabilizar consul tas a distância, a chamada telemedi cina, era uma tecnologia que evoluía lentamente até se tornar essencial nos últimos anos. Dispositivos especiais e ferramentas de avaliação a distância
permitem que imaginemos um futuro em que o acesso a especialistas não seja mais limitado pela geografia. Co munidades pequenas terão a mesma chance de entrar em contato com pro fissionais que antes eram acessíveis apenas para moradores de grandes ci dades, democratizando cada vez mais o acesso à medicina de ponta.
A evolução da tecnologia está mu dando a medicina e precisaremos adaptar não somente o ensino, mas também o treinamento dos profis sionais de saúde para essa nova rea lidade. Mudanças são complexas e, naturalmente, causam ansiedade, mas a tecnologia promete facilitar a prática médica e trazer mais saúde e segurança para todos. n
Paulo Hoff presidente da Oncologia D’Or
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FOME DE CRESCER
No primeiro semestre deste ano, o mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) bateu re corde, segundo levantamento da PwC. Foram 807 transações lideradas pelo setor de tecnologia, número que ultra passou os 706 negócios fechados no mesmo período de 2021. A perspectiva da consultoria é que o segmento con tinue fortalecido nos próximos meses. Alguns fatores impulsionam essa ace leração. O primeiro é que, por conta da pandemia, as companhias tiveram que repensar seus negócios, serviços e produtos, e diversificar. Os processos de M&A foram uma estratégia de com petitividade e uma forma de acelerar o crescimento das empresas. “Elas sem pre buscam ganhar força e, para algu mas, a consolidação por meio de fusões representa uma vantagem competitiva, pois é possível absorver conhecimento e serviços que já estão em atividade”, explica Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners, banco especializado em as sessoria financeira e investimentos.
O segundo ponto é a disponibilida de de liquidez no mercado, tanto de fundos de investimento quanto de em presas com fluxo de caixa robusto, de acordo com a PwC, e a diversidade de players de sucesso no Brasil. Flávio Ba tel, sócio-fundador e CEO da Solstic, empresa especializada em operações de M&A, Valuation e Capital Advisory ressalta, ainda, que os cancelamen tos ou postergações de IPOs também abriram espaço para algumas compa nhias pensarem em fusão ou em venda de participação. Porém, apesar do alto
Ricardo Lacerda , CEO BR Partners
volume, ele ressalta que os processos de tomada de decisão estão um pou co mais lentos, pois há muita discussão sobre o valor das negociações.
APOIO NA CAPTAÇÃO DE RECURSOS
Por outro lado, o mercado aqueci do também traz oportunidades para quem atua diretamente nele. “Depois
de analisar a fusão ou a venda do negó cio, algumas empresas entendem que não é o melhor momento e começam a buscar auxílio para fazer a captação no mercado como alternativa para apoiar o financiamento do crescimento ou mesmo para uma reestruturação”, diz Batel. Segundo ele, isso tem sido um fator importante de crescimento na Solstic. Focada em negócios que fatu
Mercado de fusões e aquisições segue acelerado e abre espaço para uma série de oportunidades de negócios
“Para algumas empresas, a consolidação por meio de fusões representa uma vantagem competitiva, pois permite que elas absorvam conhecimento e serviços que já estão em atividade”
ram até R$ 500 milhões, atende todos os setores da economia, com expertise no mercado de logística e tecnologia, e, em quase quatro anos de atuação, já movimentou R$ 1,5 bilhão em transa ções. Além disso, a Solstic planeja voos mais altos e, por isso, deu início ao pro cesso de criação de uma asset. “É um caminho natural do crescimento.”
A BR Partners de Ricardo Lacerda seguiu esse caminho. A empresa ini ciou como butique de fusões e aquisi ções em 2009 e, no ano seguinte, com a entrada de um sócio e de uma equi pe de 20 pessoas, levantou R$ 100 mi lhões de capital junto a famílias de al ta renda no Brasil. Depois, entrou com um pedido no Banco Central e, em 2012, adquiriu a licença do antigo ban co Porto Seguro. Em 2013, a empresa passou a atuar como banco de inves timento, expandindo as atividades pa ra a área de mercado de capitais e te souraria. “Estamos em um segmento e em um momento muito positivo, o que possibilita crescimento e novas oportunidades. Em 2021, por exem plo, abrimos o capital na B3”, conta Lacerda, completando que, ao longo dos 12 anos de atuação, o crescimento da empresa tem sido de 30% por ano com rentabilidade acima de 25%.
DENTRO DA LEI E COM PREÇOS JUSTOS
Embora estejam em ótima fase, os processos de fusão e aquisição en volvem aspectos legais que não po dem ser desprezados. Quem faz essa ponderação é o advogado Marcelo Salomão, sócio-presidente do escri tório Brasil Salomão e Matthes, que atua em São Paulo e em outros esta dos brasileiros, e também tem ope ração em Portugal. Aqui, o advogado elenca algumas questões legais que devem ser consideradas:
- due dilligence – Trata-se de um procedimento que investiga e anali sa os riscos de uma empresa. O ob
jetivo, segundo Salomão, é o exame minucioso de possíveis riscos finan ceiros, fiscais e jurídicos. Nesses úl timos estão abrangidos, inclusive, questões trabalhistas, ambientais e até tecnológicas. “É um olhar aten to e profundo para todos os fatores que compõem a operação de aquisi ção de uma empresa. Quanto mais profunda e detalhista for essa aná lise, melhor”, explica o advogado, que completa o raciocínio citando alguns exemplos: “Na área tribu tária não basta dizer que existem ações discutindo a incidência de ICMS, PIS e Cofins, para citar três
tributos que geram discussões enor mes no Judiciário. É fundamental saber sobre a fase do processo, os argumentos utilizados e como es tá a jurisprudência do tema. Não é porque há uma ação do Fisco exi gindo tributo que devemos consi derar esse imposto devido. Assim como não se pode ignorar a exis tência de ações em que a empresa esteja na condição de autora, plei teando o não pagamento ou a resti tuição/compensação de um tributo.
No Brasil, tanto quanto a lei, é fun damental fazer a due dilligence, le vando em conta a posição do STJ e
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“Depois de analisar a fusão ou a venda do negócio, algumas empresas entendem que não é o melhor momento e começam a buscar auxílio para fazer a captação no mercado como alternativa para apoiar o financiamento do crescimento ou mesmo para uma reestruturação”
Flávio Batel , f undador e CEO Solstic
O QUE MOVIMENTA O SETOR
Abaixo, as principais motivações das operações de fusão e aqui sição e as tendências e perspec tivas da área
POR QUE ACONTECEM
Do lado do vendedor - aceleração do crescimento - captação de recursos - viabilização de projetos de expansão - realização de investimentos dos sócios - dificuldades financeiras - disputas societárias
Do lado do investidor - aceleração do crescimento - aumento do portfólio de produ tos e serviços - alternativa de investimento - eliminação de concorrente - necessidade de novas tecnologias - entrada em novos mercados
OS OBSTÁCULOS
Os desafios para esse mercado envolvem, principalmente, o au mento da inflação globalmente e a redução de margens operacio nais, o aumento das taxas de juros dos países, o que eleva o custo de capital e o crescimento de dificul dades de supply chain, como os gerados pela guerra na Ucrânia e as tensões geopolíticas entre os Estados Unidos e a China
O QUE ESTÁ EM ALTA Negócios com ações voltadas à preservação ambiental, ao desen volvimento social e à governança corporativa, o chamado ESG, têm recebido muita atenção de em presas e investidores dos setores de EU&R nos últimos anos
PERSPECTIVAS ATÉ O FINAL DE 2022
Segundo um levantamento feito pela Bain & Company, o merca do de fusões e aquisições pode movimentar US$ 4,7 trilhões até o mês de dezembro. Se isso realmente acontecer, será o se gundo melhor ano para nego ciações já registrado
do STF”. De acordo com Salomão, o pi lar tributário é essencial para a seguran ça e a transparência do negócio, facili tando a correta definição do preço.
análise para minimizar o ganho de capital – Ainda no âmbito tributário, mas em conjunto com o societário, Salomão destaca que um trabalho di ário de seu time de M&A é buscar a melhor solução para a entrada de ca pital para os sócios. A preocupação é com o custo tributário incidente so bre o resultado positivo entre o va lor de venda da participação socie tária em relação ao valor de quando o sócio entrou na empresa. Para me lhor elucidar, o advogado cita a se guinte situação: “Imagine que uma empresa valia R$ 5 milhões quando a pessoa entrou em seu quadro so cietário e que, quando de sua saída, tenha sido avaliada em R$ 150 mi lhões. Nessa situação, há inequívoco ganho de capital”. Por isso, Salomão ressalta a importância do planeja mento para esse tipo de operação.
“É completamente diferente quando somos contratados com antecedên cia, podendo trabalhar preventiva
Marcelo Salomão , sócio-presidente Brasil Salomão e Matthes Advocacia
mente e lado a lado com as demais assessorias envolvidas na compra ou na venda de uma empresa. Para es se caso que mencionei, existem algu mas soluções absolutamente legais. Uma delas, por exemplo, é a criação de uma holding, em que a participa ção societária da pessoa física seria aportada e a venda futura envolveria o patrimônio da holding ou ela pró pria”, finaliza o advogado.
- recuperação de créditos – O escri tório de Salomão criou uma área especí fica para atender operações de M&A que tem gerado grande diferencial para seus clientes, qual seja a área de recuperação e leventamento de créditos tributários. “A complexidade do nosso sistema tributá rio, somada a este momento de crise fi nanceira e política, acaba impedindo que os contribuintes tenham conhecimento de créditos tributários não aproveitados, bem como de tributos cobrados incons titucionalmente.” Salomão recomenda como fundamental esse levantamento feito com lupa, pois “não é raro que a empresa se descubra credora de alguns milhões, o que influenciará diretamente no preço da operação”.
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“Embora estejam em ótima fase, os processos de fusão e aquisição envolvem aspectos legais que não podem ser desprezados. Dentre eles, due dilligence, análise para minimizar o ganho de capital e recuperação de créditos tributários”
IGUALDADE FINANCEIRA
POR DENISE MEIRA DO AMARAL
Se tem algo que Annalisa Blando Dal Zotto, planejado ra financeira pessoal, sabe é que tudo tem o tempo certo para acontecer. Depois de quase 20 anos atuando em outros negócios e administrando as finanças da casa, ela descobriu, em 2011, aos 39 anos, que sua verdadeira vocação era empoderar financeiramente outras pessoas. Assim, fundou a ParMais, primeira wealth management tech do Brasil. A ex-modelo nascida na Sicília, filha de pai italiano e mãe brasileira, percebeu a lacuna na área de educação financeira, principalmente entre as mulheres, e resolveu trabalhar para democratizar o assunto e ajudá -las a ter mais controle sobre os gastos.
Hoje conselheira da 2TM, controladora que adquiriu a ParMais no ano passado, e à frente do Grupo Mulheres do Brasil em Florianópolis, presidido por Luiza Helena Trajano que busca igualdade de gêneros e raça, Annalisa é uma defensora da autonomia financeira feminina. Se gundo ela, apesar de as mulheres estarem ocupando espa ços cada vez maiores no mercado de trabalho, 80% ainda delegam todas as finanças para os companheiros. “Isso é muito grave. Muitas são pegas de surpresa ao se encon trarem imersas em dívidas e com as contas desorganiza das”, diz. Além disso, a executiva ressalta que quando a mulher não tem renda é muito mais difícil se desvenci lhar de um relacionamento no qual exista violência do méstica. “A educação financeira empodera”, diz.
COMO TUDO COMEÇOU
Annalisa conheceu seu então marido, Renan Dal Zotto, aos 16 anos, depois de passar em Direito na PUC do Rio e quando estava começando a despontar como modelo. Mas com três meses de namoro, Re nan, estrela do vôlei brasileiro nos anos 1980 e hoje técnico da Seleção Brasileira de Voleibol, foi convi dado para jogar na Itália. “Larguei tudo no Brasil e me casei para continuar essa história. E lá se vão 33 anos juntos”, relembra. Até voltarem a Florianópolis,
eles já moraram em São Paulo, Chapecó e Indaiatuba, além de Parma, Ravenna e Treviso, na Itália.
Já casada e perseguindo sua independência financei ra, Annalisa voltou a modelar na Itália, aos 18. Cansada de sofrer preconceito nos bastidores da moda, Renan sugeriu que ela ficasse responsável pela administração das finanças da casa. “Abrimos uma conta conjunta e passei a cuidar de tudo, inclusive dos investimentos, pois ele iria se aposentar e precisávamos de um pé de meia. Vôlei não é futebol”, brinca, comparando os sa lários entre as duas modalidades. Foi aí que a área de finanças entrou em sua vida e que ela começou a em preender e não parou mais. De lá para cá, se formou em administração, abriu uma loja de cosméticos, comprou imóveis para reforma e revenda, montou uma pequena construtora, fez MBA em gestão financeira e se tornou mãe de Gianluca, 29, e Enzo, 23. n
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Com sua consultoria, Annalisa Blando Dal Zotto ajuda mulheres na gestão de suas contas como caminho para a conquista de mais autonomia
FINANÇAS
FOTO ENDRIGO RIGHETO/DIVULGAÇÃO
COLÁGENO: PROTEÍNA DA VIDA
Não resta dúvida de que ado tar uma dieta balanceada é um dos pilares para garantir um corpo saudável e em forma. Mas também não é possível ignorar que a correria da vida moderna nem sempre permite que a gente se ali mente como deveria, o que preju dica a absorção de nutrientes im portantes para manter a saúde em dia. É justamente para quem vive essa situação – ou seja, a grande maioria das pessoas – que a suple mentação alimentar é indicada.
E, em se tratando de suplemen tos alimentares, uma boa alterna tiva é prestar atenção em uma ca tegoria especial desses produtos: a dos nutracêuticos. Autoexplica tivo, o nome vem da junção das
palavras nutriente e farmacêutico. Assim, nutracêuticos são nutrien tes que vêm em apresentação “far macêutica”, no formato de cápsu las, comprimidos, pós, sachês ou mesmo chás. “Podem ser vitami nas, minerais, ômegas e peptíde os bioativos, como os de colágeno, por exemplo”, esclarece a farma cêutica e doutora em biologia ce lular e tecidual Vivian Zague.
Os peptídeos de colágeno, aliás, são particularmente indicados para estimular a produção natural de co lágeno, a proteína mais abundante em nosso corpo e que tem um pa pel fundamental para a manuten ção da saúde óssea e articular, além de contribuir para melhorar a pele e os cabelos e fortalecer as unhas.
Extraídos da molécula de colá geno, os peptídeos são altamente aproveitados pelo corpo. “Muitos estudos científicos comprovam que eles conseguem atravessar a mucosa intestinal e ser absorvi dos pela corrente sanguínea. E, uma vez no sangue, vão para dife rentes locais do corpo e são capa zes de influenciar a atividade das células de diversas formas, inclu sive no aumento da produção de colágeno”, explica Vivian.
E por que ingerir peptídeos de colágeno é uma estratégia inteli gente para cuidar da saúde e pre venir os sinais e amenizar sinto mas do envelhecimento? Porque não é só uma dieta pobre em nu trientes que afeta a produção de
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Maior empresa de alimentos do mundo, a JBS ingressa no mercado de saúde e de nutracêuticos. O lançamento da marca Genu-in, que é especializada na produção de peptídeos de colágeno e gelatina, é o primeiro passo da nova empreitada
FOTOS ISTOCK; PAULO VITALE/DIVULGAÇÃO
Claudia Yamana, diretora Genu-in
colágeno endógeno, ou seja, o que é naturalmente produzido pelo corpo: o passar dos anos tem exa tamente o mesmo efeito. Mas, que fique bem claro, a ingestão de pep tídeos de colágeno não dispensa os cuidados com a alimentação. “A utilização de nutracêuticos de ve sempre ser aliada a um estilo de vida saudável, que inclui alimentos funcionais, ricos em antioxidan tes, vitaminas, fibras e gorduras poli-insaturadas. Alimentos indus trializados, com alto teor de açú car e alto índice glicêmico, interfe rem diretamente no metabolismo do colágeno e, portanto, devem ser evitados”, alerta Vivian.
INICIATIVA SUSTENTÁVEL
Maior empresa de alimentos do mundo, a JBS iniciou a produção de peptídeos de colágeno e gela tina, marcando seu ingresso no segmento de saúde e de nutracêu ticos. A operação assinala o lan çamento da Genu-in, empresa da JBS Novos Negócios, reforçando a frente de economia circular na atuação global da companhia. Foi
feito um investimento de R$ 400 milhões para a construção de uma fábrica com a produção automati zada em Presidente Epitácio, no interior paulista, a mais moderna do setor no Brasil.
A Genu-in utiliza como insumo a pele de bovinos proveniente da cadeia de produção da JBS e es se é um dos diferenciais da nova empresa global: adquirir 100% da matéria-prima de uma única fon te, o que garante o controle da ca
DE UMA EMPRESA
PARA OUTRA
A Genu-in atua apenas no merca do B2B. Isso quer dizer que tanto Genu-in Life quanto Genu-in Gel serão usados em formulações de marcas terceiras que chegarão ao consumidor final pelo varejo.
A operação global da JBS também utiliza subprodutos do processa mento das cadeias bovina, suína e de aves para produzir outros pro dutos de alto valor agregado, co mo couro, biodiesel, fertilizantes, rações, materiais de higiene e lim peza. A produção é vendida não só no mercado brasileiro, mas tam bém em dezenas de países.
deia de fornecimento, a qualidade e a uniformidade do produto fi nal. Anualmente, a fábrica de Ge nu-in terá capacidade de produzir 6 mil toneladas de peptídeos de colágeno e a mesma quantidade de gelatina.
O primeiro lançamento da mar ca é o peptídeo de colágeno Ge nu-in Life. “Essa substância é a proteína da vida, pois ativa de for ma natural a produção de colá geno endógeno. Na Genu-in, sua produção está integrada à cadeia de valor da JBS, o que garante se gurança, sustentabilidade e con fiabilidade do começo ao fim do processo”, diz Claudia Yamana, diretora da empresa. A gelatina Genu-in Gel é outro produto que a empresa vai colocar no merca do e que se destina à indústria alimentícia (fabricação de sobre mesas, sorvetes e confeitos) e ao segmento farmacêutico (produ ção de comprimidos e cápsulas de medicamentos). Com esses dois novos produtos, a JBS dá mais um passo importante em sua trajetó ria de sucesso.
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“Na Genu-in, a produção de peptídeos de colágeno está integrada à cadeia de valor da JBS, o que garante segurança, sustentabilidade e confiabilidade do começo ao fim do processo”
POLÍTICA
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Direita se reforça no Congresso Nacional e endurece disputa pela governabilidade nos próximos quatro anos
POR PAULO VIEIRA
Apolítica brasileira pode não ser a pro verbial caixinha de surpresas do futebol, mas previsões sobre seu futuro podem ser tão furadas quanto as da finada Mãe Dinah. Poucos imaginavam que uma tor rente radical de direita, com mar cas claramente bolsonaristas, iria irromper das urnas em 2 de outu bro, notadamente para os cargos legislativos. E não deu outra: o PL, sigla do profissional da política Valdemar Costa Neto que acolheu em 2021 Jair Bolsonaro, fez 99 de putados federais, a maior bancada da Câmara Federal, e cresceu em muitas assembleias legislativas es taduais. O currículo do deputado federal mais votado do país, Niko las Ferreira, do PL, é de cartilha: negacionista, tendo se vacinado apenas para viajar ao exterior (e, em Londres, participado de uma manifestação contra a obrigatorie dade da vacina), usa uma leitura enviesada da Bíblia para defender o armamentismo, cita frequente mente as ameaças comunista e de venezuelização do Brasil, traz a lu ta contra o aborto para o primeiro plano e acha que a política econô mica do presidente só não colheu melhores frutos por conta do “fica em casa” promovido pelos gover nadores durante a pandemia.
No Senado, que renovou 1/3 de suas vagas, não apenas o PL, mas o bolsonarismo stricto sensu, fez barba, cabelo e bigode, com a elei ção de ex-ministros como o astro nauta Marcos Pontes, Damares Alves, Jorge Seif, Sergio Moro, Ro gério Marinho e Tereza Cristina, além do vice-presidente, Hamil ton Mourão. O PL também se tor nou o partido dominante na Casa Alta, com 13 senadores, um a mais que o UB e quatro a mais que o ex -aliado e hoje antagonista PT. Mas
PODER 37 FOTO MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO
se dá para dizer claramente que a direita hipertrofiou-se , é arrisca do afirmar, segundo cientistas po líticos ouvidos pela PODER, que a ala mais radical desse campo irá dar as cartas no Congresso. Mar co Aurélio Nogueira, professor da Unesp, divide a direita em três seções, a radical-bolsonarista, a “pragmática” e a “fisiológica”. Es sa última deve aderir, como acon tece desde o início dos tempos, ao governo de plantão, seja ele Bol sonaro ou Lula (esta reportagem foi finalizada cerca de dez dias antes do segundo turno). Por is
so, segundo o professor, é impor tante não “simplificar”. Não há uma direita unívoca, com a pauta de costumes como bandeira e ver dadeiro cavalo de batalha.
Respondendo a uma provocação deste repórter, que vê uma disso nância entre essa pauta regressi va e as questões contemporâneas que terão de ser enfrentadas, até mesmo pelo Parlamento brasilei ro, como o aquecimento global e a cooperação internacional, No gueira crê, sim, numa dissonância, mas muito mais com as questões identitárias, tema que hoje, realça
o professor, também incomoda es tratos da esquerda. O crescimento do Psol nos legislativos brasileiros, que teve em Guilherme Boulos sua grande performance, aproximan do-se do PSB e do PDT como prin cipal força do campo progressista atrás do PT, dá-se bastante na es teira da defesa das minorias. Al gumas candidaturas coletivas, co mo a da “bancada feminista” para a Assembleia Legislativa paulista, tiveram grande sucesso nas ur
nas. Também estreiam na Câma ra Federal em 2023 duas deputa das trans, Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), a últi ma antagonista de Nikolas na Câ mara de Belo Horizonte. Já no Se nado, segundo o professor, a força do bolsonarismo pode arregimen tar um “cerco muito grande aos demais poderes da República”. “Se os novos eleitos resolverem peitar o Judiciário, vamos ter cri se”, diz. São os senadores, como se sabe, que sabatinam ministros do STF, entre outras figuras públi cas, e têm a prerrogativa exclusiva de tirar-lhes o mandato, pela via do impeachment.
CISÃO
O professor de ciência política da FGV-SP Marco Antônio Teixei ra, também ouvido por PODER, lembra a cisão que sofreu o PSL, partido que Bolsonaro conseguiu levar para o primeiro time da política em 2019, entre suas alas mais e menos radicais. Ele acha que parlamentares mais vetera
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FOTOS MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL; MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; DIVULGAÇÃO
Damares Alves, Guilherme Boulos e Nikolas Ferreira, três “new kids” do Congresso, que pode ter no deputado Arthur Lira (dir.) o mandachuva de 2023
nos que já integravam o PL po dem vir de alguma forma a neu tralizar os bolsonaristas novatos, ainda que esses tenham conquis tado grande cacife eleitoral. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por exemplo, ele geu-se para seu primeiro manda to de deputado federal com 640 mil votos, a quarta melhor vota ção entre os candidatos paulistas. Teixeira também crê na força do Executivo para pautar as discus sões na Câmara Federal, e no caso de um governo Bolsonaro, temas como escola sem partido e
até uma possível rediscussão da criminalização do aborto nos ca sos hoje legalmente aceitos (es tupro, risco de morte para a mãe, anencefalia) podem aparecer. Num governo Lula essa agenda deve ser refreada.
Em análise feita para a news letter Meio , o cientista político Christian Lynch viu na figura do atual presidente da Câmara, Ar thur Lira, o, digamos, deus ex-ma china de 2023. Para Lynch, o tão
falado semipresidencialismo final mente vingará, mesmo com Lula eleito, e a Câmara, vitaminada com o orçamento secreto e as emen das impositivas – que prescindem de negociação com o Executivo –, deve mitigar, como nunca antes, o poder presidencial. “Em um mo mento histórico cuja hegemonia segue pertencendo à direita, ou à centro-direita, o semipresidencia lismo oficial ou oficioso há de ser a fórmula que garantirá na práti ca a continuidade de uma política conservadora, ainda que os reacio nários estejam fora do poder”, va ticina. O cientista político Miguel Lago não endossa o cenário, pois vê a insurgência de um presiden te necessariamente forte, seja ele Lula ou Bolsonaro, depois de uma corrida eleitoral dominada de cabo a rabo por essas duas figuras, par que fez da “terceira via” uma pe ça de ficção. Para Lago, contudo, o custo da governabilidade com o novo Parlamento será maior. “Fi cou mais caro. A Câmara Federal terá muito poder para tirar dinhei ro do governo, ainda que seja in sustentável governar um país com orçamento secreto. Acho que tan to Lula quanto Bolsonaro vão que rer recuperar algum poder sobre o orçamento, senão nada conse guirão fazer.” Por acreditar que o fisiologismo segue a força pre dominante no Congresso, mesmo no agora tão bolsonarista PL, La go não vê riscos imediatos para a governabilidade, até de um gover no Lula. E quanto ao descompasso entre os parlamentares eleitos e os tais temas da agenda contemporâ nea, ele põe em dúvida se é mesmo essa agenda que a sociedade brasi leira deseja. Afinal, ele exemplifi ca, 205 mil eleitores fluminenses deram votação arrebatadora pa
DIREITA, VOLVER
ra o ex-ministro da Saúde Eduar do Pazuello, com todo o seu des leixo no comando da campanha nacional de imunização contra a Covid-19. E na pandemia o povo brasileiro novamente deu mostras que acredita nas vacinas. Com tu do isso, Pazuello teve o dobro dos votos do ex-secretário municipal de Saúde do Rio Daniel Soranz, que também se elegeu deputado federal. “Soranz foi reconhecido por dar grande agilidade ao pro grama de imunização de uma das capitais que mais se destacaram nisso, o Rio”, completa. n
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Os deputados federais eleitos pelos maiores partidos em 2022 e na eleição de 2018 PL PT União Brasil PP PSD MDB Republicanos PDT PSB PSDB Podemos PSOL PARTIDO eleição 2018 eleição 2022
37 47 56 67 - 59 33 99 34 42 30 41 34 42 28 17 32 14 29 13 11 12 10 12
O BRASIL DESCOBRIU O BRASIL
Apandemia fez o país repensar o turismo na cional. E os hotéis de luxo que aproveitaram essa janela de oportunidade estão apostan do na oferta de produtos e serviços de alto padrão. Se de um lado o turismo nacional foi muito afetado, por outro houve muitas melhorias. Tão logo viajar se tornou possível novamente, pessoas acostumadas a roteiros de luxo fora do país começaram a olhar os destinos nacionais com outros olhos. “O caso é que esses turistas são muito mais exigentes que os es trangeiros quando se trata de viagens regionais. Isso fez o Brasil despertar para as vantagens do turismo
de luxo e oferecer produtos e serviços cada vez mais qualificados”, diz Simone Scorsato, CEO da Brazi lian Luxury Travel Association (BLTA), organização sem fins lucrativos que reúne os melhores hotéis e operadores de turismo do país.
E, nesse sentido, embora o mercado global ainda não reconheça o Brasil como destino de luxo, o tu rismo nacional está cada vez mais focado no concei to de autenticidade para entregar experiências com a cara dos inúmeros destinos que existem dentro de nossas fronteiras. E não é só autenticidade, já que sustentabilidade e diversidade fazem parte do paco
FOTOS GETTY IMAGES; EMERSON SOUZA; DIVULGAÇÃO
te. E vem dando certo. Segun do levantamento da BLTA feito em parceria com o Senac São Paulo, em 2021 o faturamen to bruto estimado dos hotéis pesquisados aumentou 50% em relação a 2019. Ou seja, houve crescimento em comparação com o período pré-pandemia.
CAMA CINCO ESTRELAS
Entusiasta do Brasil como destino turístico, o francês Edouard Grosmangin mora na capital paulista desde o fim de 2019. Com vasta experiência na hotelaria de luxo, ele veio para assumir a gerência-geral do aguardado Rosewood São Paulo, que foi inaugurado em janeiro deste ano no complexo Cidade Matarazzo.
Claro que manter o padrão in ternacional é uma das muitas metas que Grosmangin tem a sua frente, mas a autenticidade ou o chamado sense of place, que é a filosofia dos hotéis da rede ame ricana Rosewood, também está sempre em seu radar. “A grande maioria dos itens utilizados aqui é fabricada no Brasil”, conta. No caso do Rosewood, todos os len çóis, toalhas e amenities têm a
SONHO DE CONSUMO
Fundada em 1991 por Adriana e Romeu Trussardi Neto, a Trousseau se tor nou referência no universo de lifestyle com produtos premium de cama, mesa, banho e fragrâncias. Hoje, além do e-commerce, a empresa tem 27 lojas próprias e está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizon te, Brasília e Curitiba, e opera em Milão e em Miami. A divisão de hotelaria, por sua vez, conta com lençóis, toalhas, travesseiros, mantas, amenities e uma linha de produtos para spa que estão em mais de 300 hotéis butique e cinco estrelas no Brasil, de alguns países da América do Sul e, em breve, dos Estados Unidos. De certa forma, a parceria com o mercado hoteleiro permite que a Trousseau atenda seus clientes do varejo até mesmo quando eles estão fora de casa. “É jeito de reencontrá-los, só que em outra situa ção”, comenta Romeu Trussardi.
assinatura Trousseau. “Além de produ tos de altíssima qualidade, a Trousseau ainda nos garantiu um detalhe exclusi vo”, contou Grosmangin, referindo-se ao bordado com o ponto ajour de ve nice, que dá ao enxoval do Rosewood uma aparência sofisticada e única. Ele revelou também que os pijamas e as máscaras de dormir oferecidos a hós pedes VIP também foram desenvolvi dos pela empresa paulistana que é refe rência em lifestyle de alto padrão.
“Além de produtos de altíssima qualidade, a Trousseau garantiu que tudo o que usamos no Rosewood tenha uma aparência sofisticada e única”
Edouard Grosmangin , gerente-geral Rosewood São Paulo
Rosewood: bordado exclusivo nos lençóis
Bruna Dib , diretora de vendas e de marketing Txai Resorts
A negociação entre Rosewood e Trousseau come çou bem antes da inauguração. Grosmangin conta que foram três anos de trabalho no processo de seleção dos tecidos, do modelo e do tamanho dos lençóis, além dos testes para verificar a resistência das peças à lavagem industrial. “Conseguimos reu nir duas coisas importantes em nossa parceria: pro fissionalismo e um relacionamento que vai além da parte comercial. A Trousseau tem o melhor lado de algumas empresas familiares, que fazem o cliente se sentir acolhido e especial.”
Assim como o Rosewood, o Txai, resort cinco estre las que fica em Itacaré, no sul da Bahia, também valori za a autenticidade. “Esse é um de nossos pilares, já que queremos proporcionar uma experiência diferente da que nossos hóspedes teriam se fossem para outros lu gares do mundo”, diz Bruna Dib, diretora de vendas e de marketing do empreendimento. A questão da sustentabilidade também é levada em conta no Txai. Um exemplo? Os 40 bangalôs foram construídos com madeira de reflorestamento. E o luxo, obviamente, faz parte do cenário. “A gente oferece experiências que trazem as melhores coisas do local em que estamos instalados, sem esquecer de entregar também uma hospedagem de alto padrão”, afirma Bruna, citando a importância de, entre outras coisas, proporcionar aos hóspedes uma cama cinco estrelas. É exatamente por isso que o Txai tem uma parceria com a Trousseau. “Eles fabricam produtos de excelente qualidade que garantem o conforto e a sofisticação que fazem parte do DNA do Txai”, finaliza.
Já a JFL Living, braço da incorporadora e gestora de ativos imobiliários JFL Realty, é fundamentada no conceito long stay, que alia apartamentos de alto padrão aos serviços oferecidos em hotéis de primei ra categoria. Assim, todos os imóveis da JFL Living são mobiliados e decorados com peças de designers renomados, além de serem equipados com eletrodo mésticos e roupas de cama, mesa e banho – esses úl
ALTO PADRÃO COM TECNOLOGIA
Há pelo menos duas décadas, a Trousseau monta um showroom anual para apresentar os lançamentos de sua divisão de hotelaria. Este ano, o evento aconteceu entre os dias 14 e 15 de setembro no Rosewood São Paulo. Na ocasião, além de novos produtos, te cidos e acabamentos, a empresa anunciou uma supernovidade,: a tecnologia RFID (Radio Frequency Identification). Uma espécie de etiqueta afixada nos produtos garante ao hotel o controle em tempo real de seu estoque de roupas de cama, mesa e banho, além de otimizar a higienização. “Essa tecnologia permite verificar o rodízio na utilização e na lavagem das peças, evitando que algu mas se desgastem mais do que outras”, explica Romeu Trussardi Neto, sócio-fundador da Trousseau.
“O Txai proporciona experiências inesquecíveis aos hóspedes. E o conforto e a sofisticação, claro, fazem parte do pacote e, nesse sentido, a parceria que temos com a Trousseau é fundamental”
Txai: pé na areia e luxo despojado no sul da Bahia
FOTOS GETTY IMAGES; FERNANDO TORRES; DIVULGAÇÃO
JFL Living: camas de primeira categoria em todos apartamentos timos da Trousseau. “Queremos que nossos clientes se sintam em casa, mas que experimentem também o conforto de um quarto de hotel e a Trousseau tem tudo a ver com esse conceito”, diz Carolina Burg, sócia-fundadora da JFL Realty, sobre a parceria que vem desde 2018. Atualmente, está em desenvolvi
mento uma linha exclusiva de roupas de cama que será fabricada pela Trousseau e, que atendendo a pedidos, poderão ser compradas pelos moradores. O design, que faz referência ao verão e ao inverno, foi desenvolvido por Rodrigo Trussardi, consultor de branding e desenvolvimento de produtos.
“Queremos que nossos hóspedes se sintam em casa e que experimentem também o conforto de um hotel de primeira categoria. E a Trousseau tem tudo a ver com esse conceito”
Carolina Burg , sócia-fundadora JFL Realty
PANE A CRISE DA TENRA IDADE 44 PODER
POR CAROLINA MELO
quecimento global, pandemia, crises in ternacionais e eco nômicas. O cenário contemporâneo é um prato cheio para que os jovens se sintam angustiados e sem perspectivas para o futuro. En quanto a ‘’crise dos 40 anos’’, des crita pela primeira vez na década de 1960, já é bem conhecida, os estu diosos se debruçam agora sobre as dificuldades enfrentadas pelo gru po de pessoas com idade entre 18 e 30 anos, a chamada de Geração Z. ‘’Percebemos que há um gran de aumento no número de jovens com sintomas de depressão’’, afir ma Patricia Loncle-Moriceau, so cióloga da Escola de Altos Estudos em Saúde Pública (EHESP), Ph.D. em ciência política e especialista em estudos sobre a juventude com diversas publicações sobre o tema.
Para entornar o caldo, além da an siedade causada pelos problemas modernos, os jovens também vi vem um fenômeno comportamen tal cada vez mais presente: a che gada tardia ao estilo de vida adulto. Eles moram mais tempo na casa dos pais, não têm pressa para es colher uma carreira e não pensam em ter filhos tão cedo. A falta des
ses sinais – que estão associados ao amadurecimento – pode ser um adicional de estresse para eles, que se sentem pressionados e infanti lizados. Acompanhe aqui a entre vista exclusiva que Patricia deu a PODER de seu escritório em Paris.
PODER: COMO SE SENTEM OS JOVENS QUE ESTÃO EM CRISE?
PATRICIA LONCLE-MORICEAU:
Notamos que existe uma grande frustração porque eles não encontram um propósito na vida, seu lugar no mundo. Há angústia e medo do futuro, muitas vezes gerando grandes momentos de introspecção e questionamentos sobre o caminho que desejam trilhar. Muitos, inclusive, me confessam que não querem ter filhos porque acreditam que não faz sentido aumentar a população de um mundo que eles consideram imprevisível e instável. Esse temor do que está por vir dificulta que eles façam planos a longo prazo.
PODER: QUAIS SÃO OS GATILHOS POR TRÁS DISSO??
PLM: Não se trata de uma crise gerada pelos jovens, mas por fatores externos que eles testemunham desde a infância. Podemos dizer que eles enfrentam um cenário complexo, com crises sociais, econômicas, ambientais e sanitárias – e que essa é uma geração muito bem-informada, ciente dos problemas que existem. Além disso, estudos sociológicos atuais mostram que essa geração sente muita dificuldade em confiar em líderes e em instituições políticas, o que contribui para a sensação de desamparo.
PODER: QUAL O IMPACTO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS?
PLM: Existe uma influência grande. A chamada ecoansiedade é muito presente entre eles. Trata-se do
medo do que pode acontecer a partir dos eventos climáticos extremos que se multiplicam todos os anos como inundações, secas e incêndios. Os jovens acompanham esses acontecimentos e se veem em um cenário de fim de mundo. No meu trabalho, quando realizo estudos com essa faixa etária, ouço com certa frequência que eles sentem medo de morrer prematuramente por conta disso.
PODER: E COMO A PANDEMIA AFETOU ESSA GERAÇÃO?
PLM: Além de gerar solidão, medo e incertezas sobre o futuro, muitos desses jovens foram obrigados a fazer uma pausa na transição para a vida adulta. Projetos de viagens e de cursos no exterior foram cancelados, assim como as opções de emprego se tornaram reduzidas. Muitos tinham planos de sair da casa dos pais, mas adiaram a decisão. Foi uma espécie de freio em tudo aquilo que os empurrava
ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES
“Muito comum entre os jovens, a ecoansiedade tem a ver com o medo dos estragos que eventos climáticos extremos vão causar no planeta”
Especializada em estudos sobre a juventude e com vários livros sobre o tema, a socióloga francesa Patricia Loncle-Moriceau fala sobre a dificuldade dos jovens de hoje para ingressar na vida adulta
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em direção à autonomia. E essa é uma geração que naturalmente está conquistando um estilo de vida adulto mais tarde do que as anteriores.
PODER: O QUE EXPLICA ESSE ATRASO PARA CHEGAR À VIDA ADULTA?
PLM: Esse é um fenômeno que tem ocorrido progressivamente há duas décadas, quando os primeiros estudos sobre o assunto começaram a surgir, mas que estamos enxergando com mais clareza com a geração atual de jovens. Existiam marcadores clássicos que indicavam que alguém virou adulto: serviço militar, saída da casa dos pais, casamento, ingresso no mercado de trabalho, financiamento de um imóvel e chegada dos filhos – que é o principal deles. Esses marcadores estão ligados à independência e à responsabilidade, mas sabemos que eles ocorrem cada vez mais tarde – se é que isso acontece. Muitos jovens se sentem confortáveis em não reproduzir o padrão clássico de amadurecimento, mas isso não impede que sofram com a cobrança para que sejam mais responsáveis e ouçam críticas de como não sabem o que querem da vida. Mas eu não acredito que eles não amadurecem, acho apenas que o amadurecimento ocorre de uma forma diferente do que esperamos – talvez, com menos independência; porém, com um nível maior de conscientização.
PODER: O QUE É SER ADULTO, AFINAL?
PLM: Esse é o tema mais atual dos estudos na sociologia, justamente porque houve uma evolução nesses marcadores clássicos dO amadurecimento. Antes, passávamos direto da adolescência para a vida adulta e isso foi mudando até que surgisse essa fase intermediária, jovens adultos. Essa é uma geração que pode levar mais tempo para decidir qual caminho seguir, até porque há um fenômeno de massificação nos cursos de nível superior. Ou seja, eles passam mais tempo da vida sendo estudantes. Como resultado, vemos que muitos jovens ainda moram com os pais, o que pode gerar certa infantilização. Antes, tudo era mais linear, com etapas préestabelecidas que nos definiam como adultos.
PODER: COMO É A RELAÇÃO DESSA GERAÇÃO COM O TRABALHO?
PLM: Há uma grande necessidade de ter um propósito na carreira e isso fica muito evidente porque vemos que esses jovens estão dispostos a ganhar menos só para trabalhar com algo que faça sentido, com qualidade de vida e um clima agradável no local de trabalho. Muitos se recusam a ter carteira assinada, algo que sempre foi considerado como valioso no percurso profissional de uma pessoa. Eles desejam ter
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liberdade para testar caminhos diferentes, mesmo que isso inclua aceitar um cargo que requer habilidades inferiores às que desenvolveram.
PODER: PODEMOS CONCLUIR, ENTÃO, QUE ELES TÊM MENOS AMBIÇÕES PROFISSIONAIS?
PLM: Não se trata de ter menos ambição, mas de buscar o que lhes desperta mais interesse. Muitos desses jovens não encontram esse caminho e seguem uma carreira voltada para a criação de associações ligadas a uma causa que apoiam. Isso também não deixa de ser um tipo de ambição, até porque estamos falando de uma geração extremamente criativa.
PODER: A GERAÇÃO DOS PAIS DESSES JOVENS VIVEU ALGO PARECIDO COM ISSO?
PLM: Há semelhança no cenário de desemprego que já existia na geração dos pais deles, uma situação que só foi piorando com o tempo. Porém, o que vemos hoje é que os jovens são mais qualificados do que seus pais e têm diferentes formações acadêmicas e cursos de especialização. Além disso, as carreiras evoluíram e mudaram bastante nos últimos anos. Antigamente, conhecíamos apenas profissões mais clássicas, como médico, advogado ou engenheiro, que tínhamos dentro de nossa própria família. Acontece que atualmente existe um leque enorme de opções e muitos desses jovens precisam de tempo para conhecer todas as alternativas até que consigam se identificar com uma delas e, finalmente, escolher o caminho que desejam seguir.
PODER: A CRISE DOS 40 ANOS, DESCRITA PELO MÉDICO CANADENSE ELLIOTT JAQUES, JÁ É BEM CONHECIDA NA SOCIEDADE. QUAIS AS SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS COM A CRISE DOS 20 ANOS?
PLM: As duas crises se encontram em algum ponto do percurso. Já falamos que os jovens contemporâneos levam mais tempo para assumir as responsabilidades que consideramos típicas de um adulto e temos uma tendência de criticá-los por isso, considerandoos irresponsáveis e preguiçosos. Paradoxalmente, vivemos um fenômeno de juvenilização da sociedade, com uma indústria que nos empurra para não envelhecermos. É justamente nessa tendência de venerar a juventude que encontramos as pessoas com mais de 40 anos, questionando a própria idade e buscando soluções para se sentirem jovens novamente. Isso pode gerar gatilhos para que eles tenham comportamentos parecidos com aqueles que criticamos na faixa dos 20 anos, com menos responsabilidades. Porém, eu considero a crise dos jovens como algo coletivo, enquanto a crise dos 40 é um processo mais individual.
PODER: NÃO EXISTIRIA UMA CRISE PARA CADA FAIXA ETÁRIA? OS 30 ANOS, POR EXEMPLO, COSTUMAM SER UMA IDADE DIFÍCIL PARA MUITA GENTE.
PLM: Sim! ( risos ). De fato, trata-se de uma fase complexa, em que muitos tentam consolidar a carreira ao mesmo tempo em que educam filhos ainda pequenos. A verdade é que nenhuma geração está livre de crises. n
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“Antes, passávamos direto da adolescência para a idade adulta. Isso foi mudando até que surgisse essa fase intermediária, de jovens adultos”
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OPINIÃO
A RESSACA DAS STARTUPS VAI PASSAR
POR RENATO MENDES
Quem nunca bebeu demais numa festa e amargou uma res saca braba no dia seguinte que atire a primeira pedra. Essa imagem ajuda a entender o momento que o ecos sistema de startups está atravessan do. Depois do exagero em valuations turbinados pelo excesso de liquidez global, vivemos agora o day after com uma dor de cabeça daquelas. Demissões em massa, quedas no fa turamento, revisão de valuations para baixo e cancelamento de IPOs pare cem o fim do mundo, mas são apenas consequências da virada de cenário dentro da lógica cíclica que rege a economia global. Ou seja, como uma boa ressaca depois de uma bebedeira,
essa crise era esperada, e é positiva no sentido de fazer algumas correções e, obviamente, não é o fim do mundo.
Os problemas começaram antes, quando, na ânsia do FOMO (Fear of Missing Out), investidores botaram fogo no mundo, injetando dinheiro com valuations para lá de questioná veis. Deram carta branca para os gar çons e a molecada passou do ponto.
Todo mundo sabia que uma hora essa farra – janela de oportunidade – iria acabar. Ninguém sabia quando nem podia imaginar sua intensidade e muito menos crer na infeliz coincidên cia da Covid e da guerra da Ucrânia, que aceleraram a inflação, obrigaram bancos centrais a subir juros, geraram recessão e colocaram o mundo em es tado de alerta. Quem receia o futuro não gosta de risco. Daí que a fonte de grana das startups, negócios de risco por definição, começou a secar.
Sem dinheiro, muitos desses negó cios sofrem. A maioria não dá lucro e queima caixa porque opera numa lógi ca diferente, de cres cimento acelerado sempre que os unit economics fazem sentido. Daí a crise ser boa para ajudar a turma a colocar a ca beça no lugar. Quan do as startups justi ficam as demissões dizendo que estão se reorganizando, é a mais pura ver dade. O norte mu dou de crescimento para rentabilidade. Mas dizer “nunca mais vou crescer a qualquer custo, in jetando dinheiro em mídia paga para ala vancar a aquisição de novos clientes e contratando gente a
rodo” é como o “nunca mais vou be ber” do camarada de ressaca.
Algumas startups foram e serão su focadas pela falta de capital de giro. O que já estamos vendo é o aumento de fusões num momento em que ativos de qualidade ficam baratos. Se você vai fechar, eu te compro pagando me nos do que você vale. Na crise, quem tem caixa é duas vezes mais rico.
Que fique claro que isso não tem nada a ver com o ciclo político brasi leiro. As eleições impactam pouco ou nada o futuro desse setor que já é bri lhante e gera emprego, renda e produ tividade. Ninguém liga se vai dar Lula ou Bolsonaro. As startups continuarão a crescer porque são resolvedoras de problemas de gente real. E não exis te local mais propício para isso que a América Latina, mesmo com todas as dificuldades para se ter um negócio. Além do aumento de aquisições, a cri se pode trazer um olhar para o exte rior. A desvalorização do real fomenta a ampliação para mercados de moeda forte. E isso também é fabuloso já que obriga nossos empreendedores a se rem ainda mais competitivos.
De novo, a crise era esperada, tem efeitos positivos e, nem de longe, re presenta o fim. Como tudo, vai passar e quem sobreviver sairá fortalecido. O Brasil só ganha com isso. Logo, logo começa um novo ciclo com a reversão da inflação e juros em queda. Quando ficar mais difícil ganhar aquele dinhei ro fácil dos juros, o apetite por risco vai voltar. Vai ter mais grana para as startups e todos voltaremos a sorrir. Até a próxima bebedeira. n
Renato Mendes é sócio da F5 Business Growth, professor do Insper e mentor da Endeavor Brasil
48 PODER
FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
TOQUE DE MIDAS
Empreendedora serial, a publicitária Alessandra Nahus é expert em garantir o sucesso e a rentabilidade das empresas que estão sob a gestão de sua holding
No último dia 21, Alessandra Nahus este ve em Paris para receber o prêmio de Hon ra e Reconhecimento à Mulher de Valor da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture. A premiação francesa é um re conhecimento das mais de duas décadas de serviços relevantes prestados à arte, letras e cultura, algo que ela realizou por meio de suas empresas. “É uma alegria receber esse reconhecimento internacional. Repre sentar o Brasil, mostrando pioneirismo e inovação em vários mercados é um marco”, comentou na ocasião.
O ponto de partida da trajetória empre endedora de Alessandra começou em 1998. Dona de um profundo conhecimento do mercado de beleza, ela percebeu um nicho inexplorado até então: o dos salões de bele za de alto padrão com serviços expressos e funcionamento ininterrupto. Essa é a ideia por trás do ESPAÇO A+ SALON LUXE EXPRESS, o primeiro salão de luxo que não se apoia no sucesso de um cabeleireiro famoso. Em breve, a casa que funciona em uma das ruas mais concorridas do Itaim Bibi, em São Paulo, deve ganhar outra unidade na capital paulista – essa, uma sede própria, na aveni da Cidade Jardim.
Sob a gestão de Alessandra desde o iní cio, o Espaço A+ é um case de rentabilidade: com investimento inicial de R$ 30 mil, hoje a empresa está avaliada em R$ 45 milhões.
SEMPRE CABE MAIS UM
O sucesso do primeiro negócio levou Alessandra, uma empreendedora nata, a criar outro: AN Holding. Hoje, a soma dos valuations dos negócios da holding gira em torno de R$ 70 milhões e, além do Espaço A+, estas três empresas também fazem parte do portfólio:
• Alessandra Nahus Consultoria – fundada em 2018 para auxiliar mulheres que comandam peque nos empreendimentos de beleza. O foco é empode rá-las e garantir sua independência financeira;
• Dona Filó – Casa de Costura – o atelier existe desde 1974, mas Alessandra só entrou no negócio em
2019. Ela era cliente de Filomena, costureira espe cializada em roupas delicadas e de luxo, e resolveu arregaçar as mangas para fazer a empresa prosperar. Deu certo: o faturamento anual é de R$ 1,6 milhão e a meta é ter 100 unidades franqueadas em 2023.
• O³NT – marca de cosméticos naturais ozonizados que usa o efeito germicida, bactericida e cicatrizante do ozônio em produtos com ação regeneradora e hidratante.
PODER INDICA FOTO RACHEL GUEDES/DIVULGAÇÃO
CONCRETA POESIA
De uns anos para cá, arquitetos famosos têm sido convocados para colocar o talento a serviço do universo da leitura. Para além do conceito tradicional de armazenar livros, ainda bastante
várias bibliotecas
ressignificadas e se tornaram pontos turísticos tão atraentes
museus mundo afora
TIANJIN BINHAI (China)
Um auditório em formato de esfera foi o ponto de partida do escritório holandês MVRDV para o projeto da biblioteca de Tianjin Binhai, inaugurada em 2017. Seguindo o desenho de um olho, no qual o auditório seria a pupila (apelidada de The Eye), o edifício de linhas orgânicas e totalmente branco tem estruturas circulares e fluidas em toda a sua extensão, que, além de estantes para os mais de 1 milhão de livros, servem como bancos e corredores. + bhwhzx.cn
50 PODER ARQUITETURA
reverenciado,
foram
quanto
POR CARLA JULIEN STAGNI
Biblioteca Vasconcelos (México)
Projetada pelo arquiteto mexicano Alberto Kalach, foi inaugurada em 2006, na zona norte da caótica Cidade do México. Considerada uma das bibliotecas mais modernas do mundo e um dos locais mais visitados da América Latina, segue o estilo industrial, com estruturas de ferro, concreto e vidro. Amplitude, luminosidade e mais de 600 mil obras (livros, CDs e DVDs, revistas e jornais) ordenadas em estantes, entre tetos e paredes de cristal. Tudo em meio a um jardim botânico de 26 mil m² com 168 espécies originárias do país.
bibliotecavasconcelos.gob.mx
SEDE DE BEITOU DA BIBLIOTECA PÚBLICA
DE TAIPÉ (Taiwan)
Rodeada por um parque e com jardins no telhado, a sede de Beitou da Biblioteca Pública de Taipé é um oásis em meio aos arranha-céus da capital taiwanesa. Construída em madeira, foi inaugurada em 2006 e ganhou vários prêmios internacionais por sua vocação ambiental. Dentre outras coisas, tem sistema de recuperação de águas, iluminação com painéis solares e ventilação natural.
Biblioteca Central de Vancouver (Canadá)
Criação do arquiteto Moshe Safdie, a Biblioteca Central de Vancouver, que já foi considerada a melhor do mundo, tem clara inspiração no Coliseu: um edifício retangular rodeado por uma planta circular com fachada de arcos, arrematado por um telhado verde assinado pela paisagista Cornelia Oberlander. Desde sua inauguração, em 1995, o espaço, que tem muita luz natural graças a janelas e telhados envidraçados, se tornou ponto de encontro de moradores e visitantes da cidade. Em seu acervo, mais de 1,3 milhão de livros.
PODER 51 FOTOS GETTY IMAGES; OSSIP VAN DUIVENBODE; ALBERTO KALACH/TALLER DE ARQUITECTURA X
+ vpl.ca
+tpml.gov.taipei
+
Biblioteca Pública de Stuttgart (Alemanha)
O impressionante edifício assinado pelo arquiteto coreano Eun Young Yi tem 11 andares (dois subterrâneos), fachada de concreto, painéis que à noite se iluminam com diferentes cores e se assemelha a um enorme cubo de Kubrik. Por dentro, em um cenário todo branco, diversas escadarias dispostas em lugares diferentes em torno do centro fazem com que o visitante circule por todo o espaço.
BIBLIOTHECA
ALEXANDRINA (Egito)
A versão século 21 da lendária Biblioteca de Alexandria foi oficialmente inaugurada em 2002 e é formada por um bloco de 11 níveis (quatro deles subterrâneos), com uma coberta circular em homenagem a Rá, deus do Sol; vidro, cimento e alumínio misturados para refletir a luz mediterrânea, uma referência ao farol de Alexandria. Em sua fachada, 6.400 painéis de granito exibem caracteres de todos os alfabetos conhecidos do planeta. Atualmente, guarda 4 milhões de livros em árabe, francês e inglês, entre eles, raridades como manuscritos milenares. + bibalex.org
BIBLIOTECA REAL
DINAMARQUESA (Dinamarca)
Inaugurada em 1999 como ampliação do com plexo original da Biblioteca Real Dinamarquesa (de 1906) no canal de Christianshavn, junto ao porto de Copenhague, tem o apelido de “diaman te negro”. Sua estrutura de aço, vidro e granito negro hospeda sala de concertos, café, espaços para exposições, tudo com vista para o mar. Três pontes ligam o novo prédio à antiga biblioteca.
kb.dk
52 PODER
+
MUSEU
FACULDADE DE ARTES
DE MUSASHINO (Japão)
Todas as paredes são estantes e até os degraus da biblioteca da Faculdade de Arte de Musashino, em Tóquio, funcionam para o mesmo fim. O arquiteto japonês Sou Fujimoto comparou sua obra a “um bos que de livros”. Construída em 2010, soma 6.500 m² e abriga cerca de 280 mil livros, em sua maioria sobre arte e desenho, sendo que a metade desse número está visível revestindo o espaço interior.
musabi.ac.jp
BIBLIOTECA CENTRAL
DE SEATTLE (Estados Unidos)
O projeto do arquiteto holandês Rem Koolhaas (estúdio OMA) despertou tanta expectativa e interesse que, um ano após sua inauguração, em 2004, já havia recebido 2 milhões de visitantes em seus 38.300 m². Suas cinco plataformas sobrepostas e deslocadas, e fachada de vidro e aço, formam um conjunto que redefine a biblioteca como uma instituição não exclusivamente dedicada aos livros, mas um local de armazenamento de informações, onde todas as formas potentes de mídia, nova e antiga, são apresentadas de forma igual e legível.
spl.org
Biblioteca Nacional de Sejong (Coreia do Sul)
A primeira sucursal dessa biblioteca foi construída em Sejong, em 2013, e projetada por Samoo Architects & Engineers. Também é conhecida como “e-brary”, acrôni mo das palavras emotion e library, e foi pensada para oferecer um espaço emocionante onde as informações analógicas e digitais se complementassem e fossem fa cilmente acessadas pelo público. Linhas curvas e paredes envidraçadas dão o tom e iluminam todo o espaço.
sejong.nl.go.kr
PODER 53
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E BIBLIOTECA DA
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FOTOS GETTY IMAGES; SNØHETTA; YOUNG CHAE PARK
COM OS PÉS NO CHÃO
Humberto Carrão tinha 14 anos em 2005 e acabara de conhecer a popu laridade de estar em um programa de sucesso na televisão. Após a estreia em Bambuluá, série infantil estrelada por Angélica, havia emendado a 11ª temporada de Malhação, a mesma que alçou Marjorie Estiano como líder da Vaga banda e cuja audiência batia a principal novela da Globo de então, Senhora do Destino. Durante um passeio, um fotógrafo se aproximou do ator, mas foi repelido pela repórter: “Não, não, não! A temporada dele já acabou”.
O episódio, que poderia ter traumatizado o adolescente estreante, funcionou como um marco orientador de carreira do ator. “Aquilo para mim foi importante para entender que as coisas vão e vêm”, diz Carrão. “Tem a ver com a educação que meus pais me deram, mas também com minha maneira de olhar o mundo. É importante também conhecer o lugar do fracasso, experimentar, errar, entender a possibilidade de não ser aplaudido. Acho que muito cedo percebi isso.”
Os altos e baixos se repetiriam nas mais de duas dé cadas de profissão do ator de 31 anos, com a balança pendendo, majoritariamente, para o lado dos êxitos. Em 2016, ao desembarcar em Cannes com a equipe do filme Aquarius, se deu conta, ao ser questionado pelo diretor Kleber Mendonça Filho, de que não havia se visto ainda projetado em uma tela de cinema. “Uau! Você vai se ver pela primeira vez em um dos cinemas mais importantes
do mundo”, observou o diretor, que, pouco depois, junto com o elenco, faria um protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff, uma imagem que rodou o mundo. Carrão reconhece que o filme, que concorreu à Palma de Ouro, “mudou sua vida”, mas pontua que não lembra com deslumbramento o fato de ter estreado contracenando com Sonia Braga. Nem precisava. Conversar com o ator é ouvir um discurso pouco ensaiado ou salpicado de frases feitas –como é comum entre colegas seus – que se empolga ao falar dos muitos projetos que ainda quer realizar. Dentre os quais, está o de dirigir o primeiro longa. Antes da pandemia, to mou coragem e convidou a escritora Ana Maria Gonçalves, autora do romance histórico Um Defeito de Cor, do qual é fã, para escrever um roteiro. Acabaram desenvolvendo duas histórias, que foram paralisadas pela impossibilidade de no vos encontros presenciais e a volta às gravações do ator.
A relação com a sétima arte é antiga. Formado em cine ma pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carrão já havia dirigido dois curtas, com os quais percor reu festivais, e apresentado um programa no Canal Brasil sobre o tema antes de chegar ao set de Aquarius. Desde então, acumulou outros papéis marcantes na tela grande, como o guerrilheiro Humberto, militante fictício da Ação Libertadora Nacional morto na luta armada contra a di tadura em Marighella, de Wagner Moura.
Estar em dois longas com forte crítica social em papéis que fogem ao estereótipo de galã não é obra do acaso. “Sou
Humberto Carrão construiu uma carreira sólida no cinema e na televisão sem ceder aos apelos da fama fácil e se prepara para o próximo passo: dirigir o primeiro longa por amauri arrais fotos maurício nahas styling david pollak beleza marcos padilha ENSAIO
Paletó Camargo, camisa Oficina, calça Adidas, mocassim Pacco Littos, meia acervo, anel Flavia Madeira e Julio Okubo
um cidadão político”, diz o ator, que confirma já ter dado muitos “nãos” a propostas que não o mobilizam. “Me sinto privilegiado de poder estar em projetos que me or gulham, principalmente nos últimos anos, em que o país resolveu tratar a cultura como inimiga. Conheço muita gente incrível que está sofrendo com pouco trabalho ou tendo que abandonar a profissão.”
Em seu mergulho para dar vida aos personagens, se assemelha a Caco Barcellos – ou pelo menos a versão fic tícia que encarna do jornalista em Rota 66: A Polícia que Mata, série que estreou em setembro no Globoplay. Ob sessivo como um bom repórter, Carrão não se conten tou em ler o livro reportagem em que a obra se baseou. Também pediu dicas de títulos que fizeram parte da for mação de Barcellos e esteve a seu lado no Complexo do Salgueiro, no Rio, durante uma reportagem sobre violên cia policial para o Profissão Repórter. “Acho que fiquei um pouco contaminado pelo personagem”, assume.
LOW PROFILE
Longe dos estúdios de gravação, Humberto Carrão leva uma vida que pouco tem a oferecer à mídia que se alimenta da rotina badalada de artistas. Recentemente, se separou da também atriz Chandelly Braz, uma relação que durou dez anos. Os dois engataram o namoro nos bastidores da no vela Cheias de Charme, em 2012, e seguem amigos. O ator também faz questão de frequentar os mesmos bares e ro das de samba desde a época de faculdade, o que fez um site estampar a chamada: “três lugares para esbarrar no solteiro Humberto Carrão”. “Ali teve algo não muito correto porque me perguntaram que lugares eu indicaria no Rio.”
Nas redes sociais, costuma compartilhar os últimos tra balhos, protestos e apoios políticos, um pouco de sua pai xão pela música e só. “As pessoas estão viciadas em com partilhar sua privacidade, em ter que manter um público fiel como se fosse um patrimônio. Não tenho essa relação de posse. As pessoas estão ali porque estão interessadas. Se amanhã não estiverem, tudo certo.” O ator também diz não dar muita bola para haters – chegou a receber ameaças na época dos lançamentos de Aquarius e Marighella – e admite que o posicionamento político deve torná-lo alguém “me nos interessante para as marcas”. Mas essa, afirma, é tam bém uma condição que não está disposto a negociar.
Os olhos voltam a brilhar ao falar do novo trabalho. Em Todas as Flores, novela de João Emanuel Carneiro que será a primeira feita para o streaming, Carrão será um empresário que vive um triângulo amoroso com as atrizes Letícia Colin e Sophie Charlotte. Bem distante de sua realidade, como o ator gosta. “Embora eu esteja doido para dirigir, quero continuar com meus trabalhos de ator, pois é uma das pro fissões mais lindas do mundo. Ainda bem que não preciso fazer essa escolha de Sofia.” n
Tricô Sease, cueca Intimissimi, sapato CNS, meia acervo. Na pág. anterior: terno Dior, camisa Oficina, sapato CNS, colar e anel Julio Okubo Edição de estilo e produção executiva: Ana Elisa Meyer Direção de arte: David Nefussi Produção de moda: Kato Pollak e Leo Napolitano Assistentes de fotografia: Vanessa Gomes e Vitor Cohen Tratamento de imagem: Fujocka “As pessoas estão viciadas em compartilhar sua privacidade, em ter que manter um público fiel como se fosse um patrimônio. Não tenho essa relação de posse”
FOTO GETTYIMAGES
A HORA DA ESTRELA
“Em seu rosto, acontecem mais coisas durante dez segundos do que acontece no rosto da maioria das mulheres ao longo de dez anos.” Foi assim que o cineasta Arthur Penn descreveu a nova-iorquina Anna Maria Louisa Italiano, conhecida como ANNE BANCROFT. Ele a dirigiu em O Milagre de Anne Sullivan, filme que rendeu o Oscar de melhor atriz a Anne. Filha de pais italianos que viviam no Bronx, em Nova York, ela se interessou pela arte bem cedo. “Por que brincar de boneca se você pode cantar na esquina de casa?”, disse anos mais tarde. Ainda criança começou a aprender canto e dança e, por volta dos 20 anos, estreou na televisão. Logo depois assinou contrato com os estúdios de cinema da Fox – foi nessa época que mudou seu nome. Anne estudou na Actors Studio, mesma escola de James Dean e Marlon Brando, além de frequentar a Academia Americana de Artes Dramáticas. Mas ela nunca gostou muito de teorias; gostava mesmo de atuar e era conhecida pela entrega nos papéis. A atriz morreu em 2005, aos 73 anos, vítima de um câncer no útero.
RESPIRO
PODER
LIVROS NO CENTRO
Com janelões para a avenida Ipi ranga e praça da República, tacos de madeira dos anos 1950 e pastilhas co loridas, o edifício David Cury ganhou ainda mais charme após a chegada da editora Fósforo, que ocupa dois anda res do imóvel desde 2021. A Fósforo tem como uma das sócias a editora Fernanda Diamant, entusiasta do cen tro paulistano. Além de ter morado no Copan, ela inaugurou no térreo do prédio projetado por Oscar Niemeyer a livraria Megafauna, que atrai legião de leitores pela curadoria acurada.
Formada em filosofia pela USP e com passagens pela Publifolha e Editora 34, além de ter criado a revista literária Quatro cinco um, Fernanda se associou na Fósforo ao advogado Luís Francisco Carvalho Filho e a Rita Mattar. A edi tora, que tem no portfólio a escritora francesa Annie Ernaux, prêmio Nobel de Literatura de 2022, é uma espécie de sucessora da Três Estrelas, que Ota vio Frias Filho, companheiro de vida de Fernanda e pai de suas duas filhas, tinha fundado no Grupo Folha, em 2012.
Cria da pandemia, a Fósforo ainda conta com espaços vazios. Com ar minimalista, em uma espécie de tra dução estética do período de confi
No apartamento (sentido horário): sala com poltronas de Sergio Rodrigues; piano e pôster de Lula da artista Rafa Mon; mesa de trabalho e os bichos de pelúcia, uma homenagem à livraria Megafauna; pôster comemorativo de um ano da editora com as caixinhas de fósforo, que são ímãs de geladeira e foram distribuídas para os leitores
62 PODER CANTO DE
POR DENISE MEIRA DO AMARAL FOTOS PAULO FREITAS
namento, destacam-se peças de Sergio Rodrigues, como um gaveteiro e uma mesa de centro, arrematados em um leilão da editora Bloch.
Fernanda se divide entre o trabalho presencial e o remoto. Quando não está na Fósforo, em reuniões externas ou via jando, trabalha de seu apartamento, em Higienópolis. Na sala, o piano divide a atenção com um pôster de Lula, da artis ta Rafa Mon. Já em sua mesa de trabalho, animais de pelúcia, em homenagem à Megafauna, estão entre pilhas e mais pi lhas de livros. n
PODER 63
Na Fósforo (sentido horário): gaveteiros arrematados no leilão da Bloch; Fernanda; divã de Alex Fleming e mesa de centro arrematados no mesmo leilão
SOB
POR CARLA JULIEN STAGNI
FACUNDO GUERRA
Pode-se dizer que Facundo Guerra é um expert do mercado de entretenimento. Aos 48 anos, mezzo argentino, mezzo brasileiro, engenheiro de alimentos, pós-graduado em jornalismo internacional, mestre e doutor em ciências políticas, se tornou uma das mentes criativas mais atuantes da noite paulistana. Filho de comunista que fugiu da ditadura militar no fim da década de 1960, nasceu em Córdoba e voltou com a família ao Brasil nos anos 1980. Antes de se revelar um talento no ramo do entretenimento, trabalhou por anos como executivo em multinacionais e, ao ser demitido, decidiu dar uma guinada na vida. “De cara, levei um golpe financeiro de uns caras que tinham uma boate em São Paulo. Me deixaram na mão e eu não entendia nada da noite. O que fiz foi abrir uma boate como quem monta um laboratório, com cabeça de engenheiro, suprindo as deficiências que via nas outras casas da época.” Essa tentativa inicial não vingou, mas logo veio um de seus maiores ‘cases’ de sucesso: o Vegas, fincado no então decadente Baixo Augusta. Daí para frente, vieram mais bares e casas noturnas bem-sucedidas, sempre na região central da capital paulista. “Sou um ‘pazzo’ na administração financeira, mas prometi para mim mesmo que agora vou ficar rico. Não posso estar com quase 50 anos e não ter construído nenhum patrimônio. Também nunca tive sócio investidor, sempre reinvesti o que ganhei em meus projetos. Tenho um apartamento de 90 metros quadrados na [rua] Bela Cintra, que deve valer uns R$ 800 mil e umas motos velhas. Esse é meu patrimônio. Trabalhei muito para ainda ficar passando perrengue”, diz ele, que tem em seu portfólio o Lions, o Cine Joia, o Riviera, o Bar dos Arcos, no subterrâneo do Theatro Municipal de São Paulo, o Blue Note e o Altar – incursão no universo imobiliário de construções minimalistas. Sua mais recente aposta gira em torno do entretenimento sexual: o Love Cabaret, instalado na antológica boate Love Story, com investimento de R$ 4 milhões e inauguração prevista para janeiro de 2023: “Estamos deslocando esse eixo conceitual do prazer, que era marca registrada da casa, para o eixo do desejo. O desejo mobiliza o mundo. Você deseja e quando articula esse desejo em ações transforma tudo. Desejo, fetiche, diversidade, corpos, sexualidade, gênero… isso é muito do tempo de hoje”.
PRIMEIRA COISA QUE FAZ AO CHEGAR AO TRABALHO: Não chego ao trabalho, eu trabalho o tempo todo. Começo respondendo as mensagens de WhatsApp que caíram durante a madrugada.
MOMENTO DE INSPIRAÇÃO: Todos. Minha vida me inspira, um ângulo da arquitetura, um pixo, uma pessoa… tudo.
MOMENTO DE MAU-HUMOR: Quase nunca fico mal-humorado. Mas falta de educação, arrogância e covardia me tiram do sério.
UM ÍDOLO: Não tenho.
UMA QUALIDADE E UM DEFEITO: Sou um trabalhador incansável e muitas vezes briguento. Quero ter razão e nem sempre tenho.
NOITADA BOA PRA VOCÊ É… uma noitada gay onde eu possa dan çar e não ter que ver homem hetero incomodando as mulheres.
A LOVE STORY ERA… um buraco negro.
E A LOVE CABARET SERÁ… uma supernova.
COM O QUE SE PREOCUPA ATUALMENTE? Com o futuro da mi nha filha – mudanças climáticas, de ordem social, fascismo...”
SER BEM-SUCEDIDO É… poder falar a verdade e não me preo cupar com as consequências.
NO PODCAST SÓ ESCUTA… empreendedoras que são mulheres, negras, periféricas, trans, e mesmo assim subverteram a narrati va cafona do empreendedorismo farialimer.
UM MEDO: Envelhecer pobre porque esse país é inclemente com os idosos, ainda mais com os que são pobres.
DESEJO PARA O FUTURO: Que ele seja menos cruel que o passado.
UMA FRASE: O mais profundo é a pele.
UM CONSELHO QUE RECEBEU E GOSTARIA DE REPASSAR: Perca tudo, mas não perca sua dignidade.
64 PODER
MEDIDA
ESPORTE: Tô tentando correr de vez em quando. Também ando de bicicleta e de skate.
O QUE FAZ PARA DESESTRESSAR? Massagem. PROGRAMA FAVORITO EM SP: Andar de moto ou de bicicleta com minha filha pelo centro da cidade. MUSEU PREFERIDO: Pinacoteca. UMA MÚSICA: “Bolero”, de Ravel. PECADO GASTRONÔMICO: Sorvete. VIAGEMDOS SONHOS UMA PRECIOSIDADE ESCONDIDA DE SP: São duas, espelho d’água do Sesc 24 de Maio e o cine Marabá. SÉRIE QUE MARATONOU: House of the Dragon. SE NÃO FOSSE EMPRESÁRIO O QUE GOSTARIA DE SER? Diretor de cinema. O MELHOR DE SP É… as pessoas, amo as pessoas dessa cidade. UMA PISTA DE DANÇA: A da Lions. FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK; DIVULGAÇÃO; ERICO HILER/DIVULGAÇÃO; RODRIGO ZORZI/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO HBO MAX; PEXELS; ESTEVAM/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL
66 PODER
FOTOS DIVULGAÇÃO
PARTICULAR
POR ROBERTO SARAIVA
ACH160
Provavelmente, este é o helicóptero mais cobiçado do mundo no momento. O ACH 160 é a nova aposta da francesa Airbus para o segmento de luxo. Capaz de levar até dez pessoas, esconde sob o visual moderno 68 novas patentes para tornar a experiência de voo mais suave e silenciosa. Seu interior, uma parceria com o renomado designer de superiates Harrison Eidsgaard, tem três diferentes estilos de customização de bancos, tecidos e costuras; as maiores janelas da categoria e carpetes feitos à mão. O primeiro modelo a ser entregue causou estardalhaço ao chegar totalmente montado dentro de uma aeronave Airbus Beluga. O cliente? Um empresário de São Paulo. Preço: R$ 72 milhões +airbus.com
PODER 67
Quer luxo maior que usar um helicóptero para escapar do trânsito, reduzir o tempo de qualquer viagem de média duração e fazer tudo isso em grande estilo? Então, está na hora de embarcar, pois você não vai querer outra vida
MOTOR CÉU
HX50
Com design e funcionamento inspirados nos carros esportivos, o Hx50 da Hill está na fase final de certificação e é focado em donos que também são pilotos — ou gostariam de ser — e não em empresas de transporte ou governos. Seu painel de controle digital é intuitivo e compatível com iPad, cercado por uma grande e clara estrutura de vidro com teto solar. A proposta da Hill é oferecer algo exclusivo: a possibilidade de montar 51% da máquina em duas semanas na fábrica inglesa da marca. O Hx50 leva cinco passageiros, incluindo o piloto, e tem impressionantes 1.296 km de autonomia. Se tudo isso ainda não for o suficiente para a imaginação voar alto, no site da Hill é possível customizar o helicóptero dos seus sonhos. Preço: a partir de R$ 3 milhões +hillhelicopters.com
FOTOS DIVULGAÇÃO;
LEONARDO SPA/DIVULGAÇÃO
Um dos diferenciais deste modelo da italiana Agusta é o controle que os passageiros têm sobre a experiência de voar. O ar-condicionado dual zone permite temperaturas diferentes no cockpit e na cabine, e uma bateria auxiliar garante o funcionamento de todos os sistemas, mesmo com as pás paradas. Assim, o espaço interno pode ser climatizado antes mesmo de os viajantes embarcarem. Capacidade para oito passageiros e 748 km de autonomia de voo.
Preço: R$ 44,7 milhões +agusta.com
BELL 429
Conforto é a palavra de ordem nesta aeronave fabricada pela americana Bell. Isso vale para os assentos e painéis revestidos em couro, acabamentos da cabine e na redução de vibração e de ruído nos pousos e decolagens. O bagageiro é um dos maiores da categoria e os bancos têm espaço para itens pessoais e para a instalação de bandejas. Dependendo da configuração, leva até sete passageiros e tem autonomia de voo de 761 km.
Preço: R$ 39,4 milhões +bellflight.com
PODER 69
AW169
REFÚGIO
WELNESS
Dica imperdível para os viajantes de olho na África do Sul, mais precisamen te em Franschhoek, a deliciosa região vinícola próxima da Cidade do Cabo. A Sterrekopje é uma fazenda do sécu lo 17 transformada em uma espécie de refúgio wellness por um casal holandês que sonhava com tran quilidade. O ritmo é slow travel, com inúmeras experiências pensa das para nutrir corpo e alma: ioga, passeios pelas plantações, meditação, oficina de pão artesanal, caminhadas... São apenas 11 suítes. +STERREKOPJE.COM
PONTO DE ENCONTRO
Não é à toa que o The Audley, em Mayfair, entrou para a lista dos pubs imperdíveis de Londres depois que foi repaginado. Quem está por trás da nova cara do endereço é a Artfarm, empresa de hospitalidade dos proprie tários da galeria suíça Hauser & Wirth. Imagine, portanto, o cenário: obras de arte contemporânea se mistu ram com peças históricas dos séculos 18 e 19. Para completar, o cardápio ganhou o toque talentoso de Jamie Shears, chef que trabalhou com Gordon Ramsay e Jason Atherton. Em breve, um restaurante deve ser inaugu rado no andar superior do local. +theaudleypublichouse.com
70 PODER PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
TODOS A BORDO
Os fãs do Four Seasons não veem a hora de embarcar na grande novidade do grupo: sua estreia no mundo dos iates. Previsto para navegar em 2025, o primeiro barco da rede está sendo construído na Itália pelo grupo Fincantieri. Com 95 suítes, terá spa, piscina, cinema e muitos outros mimos. As vendas começam no ano que vem! +FOURSEASONS.COM
BATE O SINO
Se você é daqueles viajantes que não resistem ao visual natalino das cidades europeias, prepare-se. Pela primeira vez, os trens da Belmond Orient Express terão suas operações estendidas durante o mês de dezembro justamente para que passageiros possam entrar no clima festivo e cheio de charme dessa época do ano. São dez rotas de uma noite, com trechos como Paris-Florença. Entre os desta ques da experiência está o jantar preparado pelo chef Jean Imbert em homenagem à época de ouro das viagens.
CASA DE CAMPO
Que tal mesclar uma temporada em Manhattan com alguns dias de tranquilidade total na bucólica região do Hudson Valley? O Wildflower Farms, novo ho tel do grupo Auberge, é um convite para esquecer o relógio e aproveitar os prazeres da vida na fazenda. Tem trilhas a perder de vista, aulas de cozinha botâ nica – com flores colhidas no jardim –, experiências wellness, drinques ao redor da fogueira e outros pro gramas imperdíveis.
PODER 71 FOTOS DIVULGAÇÃO
+BELMOND.COM
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VIAGEM Gabriela Figueiredo e João Carrascosa fizeram uma viagem inusitada por essa região do extremo sul da Itália. Aqui, o olhar sensível dos dois (ela é diretora e produtora de cinema; ele, jornalista e arquiteto) em um roteiro por alguns dos destinos menos explorados da Sicília. Com vocês, Levanzo, Marettimo e Favignana – as ilhas Egadi FOTOS GABRIELA FIGUEIREDO TEXTO JOÃO CARRASCOSA AS BELEZAS ESCONDIDAS DA SICÍLIA
Nesta página: fora de temporada, a ilha de Levanzo, com menos de 200 habitantes, conserva o cotidiano simples de uma vila de pescadores. Na outra página: o subsolo da ilha de Favignana é um labirinto de galerias artificiais, resultado de séculos de exploração de rocha calcária. Tentar percorrê-lo é uma aventura perigosa. Mas a luz no fim do túnel é o azul profundo do Mediterrâneo
Nesta página: acima, a Cala Rossa, em Favignana, já foi palco de batalhas homéricas e, hoje, é a praia preferida dos turistas que chegam de barco ou a pé pelas encostas de pedra;. Durante séculos, as ilhas Egadi viveram da pesca do atum e ainda são encontrados velhos pescadores que chegaram a participar da “mattanza”, técnica ancestral de captura desse peixe, que envolvia cantos rituais e muita força física. Hoje, os remos aposentados no museu da Tonnara di Favignana (abaixo) atestam o fim de uma era: o arquipélago foi transformado em reserva natural marinha em 1991. Na outra página: detalhes do cotidiano simples da ilha de Levanzo
POR LUÍS COSTA
NÓS NÓS
Em romance de estreia, Geovani Martins articula as narrativas de cinco jovens da Rocinha para recontar a história da ocupação militar das favelas do Rio
PODER É
BRASIL DAS MATAS
Um dos organizadores do sistema ambiental brasileiro, Zé Pedro de Oliveira Costa fez um inventário da ocupação do território do Brasil a partir da derrubada de sua vegetação original. O resultado está em Uma História das Florestas Brasileiras (Au têntica), que acompanha o processo de desmatamento desde as primeiras incursões coloniais nas matas litorâneas. Pesquisador da USP, Zé Pedro é um dos grandes res ponsáveis pela criação de parques e outras áreas protegidas, muitas delas integrantes da lista do Patrimônio Mundial Natural da Unesco. Com capa de Sebastião Salgado, o livro tem depoimentos de Drauzio Varella e Fernando Gabeira, entre outros.
76 PODER CULTURA INC.
Oouvido de Geovani Martins é atento ao vai e vem das ruas. Um diálogo, uma gíria, um dito, um palavrão. O escritor carioca de 31 anos – que movimentou a literatura brasileira em 2018, com a coletânea de contos O Sol na Cabeça, publicada em mais de dez países – volta às prateleiras com Via Ápia (Companhia das Letras), romance de estreia, com a mesma habilidade de povoar as páginas com os ges tos e os falares das favelas cariocas.
Via Ápia é o movimentado centro comercial da Rocinha, maior favela do Rio de Janeiro. A história, narrada pelo ponto de vista de cinco moradores, se passa entre 2011 e 2013, no momento de implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade. Geovani diz que seus personagens são um contraponto ao discurso hegemônico que aplaudiu a ocupação das favelas carioca.
Ele morou na favela naquele período e dali extraiu, entre realidade e ficção, os personagens e as cenas do livro. Para Geovani, não existe uma realidade inata no mundo – afinal, quando duas pessoas contam uma história, já são duas realidades contadas. O livro vai da tensão da chegada da UPP à potência dos bailes funks que agitam a favela. Autor confirmado na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, Geovani deu os primeiros passos como escritor profissional em uma oficina da
O escritor Geovani Martins e dois de seus livros, ambos editados pela Companhia das Letras
Flup, a Festa Literária das Periferias. De lá para cá, o ambiente da literatura brasileira experimentou a ampliação da presença de escritores negros nas prateleiras e nos festivais. “É um avanço porque saímos de uma condição inaceitável”, avalia Geovani. Ele aponta a contradição entre um momento de maior visibilidade de escritores e artistas negros e o recrudescimento da violência policial contra populações marginalizadas. “A sensação é de estarmos vivendo o melhor e o pior, pois ainda enfrentamos a brutalidade policial, o conservadorismo, o desejo pelo controle desses corpos”, diz. “Não daremos nenhum passo atrás. O preço que a gente tem pagado é com vidas.” Leitor formado pelos clássicos da literatura brasileira, recentemente Geovani mergulhou em autores como James Baldwin, mas conta que tem se dedicado quase exclusivamente a autores africanos. “Descobri coisas que me foram negadas na minha formação”, conta. Dentre as leituras recentes, cita o nigeriano Chinua Achebe, de O Mundo se Despedaça, e o senegalês Abasse Ndione, de A Vida em Espiral , uma das influências para a escrita de Via Ápia. Geovani revela seu fascínio pela figura do contador de histórias e pelas narrativas que encontra na música. “Vou beber no rap, no samba, no reggae. É um exercício diário”, finaliza.
CINEMA EM SP
Um dos mais importantes festivais de cinema do país, a Mostra Interna cional de Cinema de São Paulo chega à 46ª edição. Entre as atrações do festival, que acontece de 20 de outubro a 2 de novembro, está a projeção de No Bears (2022), do diretor iraniano Jafar Panahi, preso em julho deste ano por “propaganda contra o sistema”, em um contexto de crescente re pressão naquele país. O festival também anunciou que exibirá em primeira mão na América Latina a cópia restaurada de A Mãe e a Puta (1973), de Jean Eustache, que foi exibida no Festival de Cannes deste ano.
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FOTOS ANA ALEXANDRINO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
EXPOSIÇÃO
A ARTE DO AFETO
Panmela Castro une política e educação em obras que criticam a desigualdade de gênero e aprofundam a relação com o espectador
A artista visual carioca Panmela Castro conta que, após a pandemia, organizou uma “agenda infinita de compromis sos”. São Paulo receberá uma de suas obras públicas pela primeira vez. A ex posição Retratos Relatos, que denuncia a violência contra a mulher, segue para Goiânia e então deve rodar o Brasil. Até novembro, espelhos de Panmela tam bém estarão na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. Ela ainda marca presença em Inhotim, em Minas Gerais, e em ex posições no MAM e no Museu Bispo do Rosário, no Rio. Em Fortaleza, na nova pinacoteca, integra a exposição Negros na Piscina, com cura doria de Moacir dos Anjos. “Além dis so, produzo traba lho inédito de per formance com Igor Simões e Lorraine Mendes”, diz ela, que, em 2023 vai par ticipar da residência artística Black Rock Senegal, que convida artistas a explorar sua relação com a África. Detalhe: foram 16 selecionados entre mil inscritos.
Vítima de violência doméstica, Pan mela desenvolve há quase duas décadas projetos de arte, arte-educação e murais públicos para chamar a atenção sobre a violência de gênero. Ela é fundadora da Rede NAMI, que usa a arte para a pro moção dos direitos das mulheres e de populações marginalizadas. Na trajetó ria de Panmela, arte, crítica social, forma e conteúdo político estão intrincados. Ela conta que absorveu um conceito que ouviu da curadora Keyna Eleison
sobre a versatilidade da arte contempo rânea. “Acredito que é o próprio artista quem determina o que é o trabalho de arte, independentemente de um viés ativista, político, formalista.”
Panmela explica que seu trabalho de pende da participação do público. Pro duzida durante a pandemia, a série ex perimental fotográfica Penumbra, por exemplo, que propõe pensar o racismo e a solidão da mulher, é atualizada pelo espectador, que pode se identificar com
PODER É
ESTREIA NA MPB Indicada como artista revelação ao Prêmio Mul tishow deste ano, a canto ra e compo sitora baiana Rachel Reis lança seu primeiro e álbum solo. Meu Esque ma tem MPB, samba, reggae, bolero, arrocha, ijexá e outros ritmos brasi leiros. Autora do sucesso “Maresia”, single de 2021, Rachel é reconhecida pela brasilidade de suas composi ções, que misturam gêneros popu lares do país com acento pop.
100 ANOS DE JORGE ANDRADE
as experiências de solidão a partir de su as experiências pessoais. Artista de rua, grafiteira, formada na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Panmela conta que seu trabalho é uma “busca incessante pelo afeto”. “O clássico – paisagens, retratos e naturezas-mortas – aparecem na mi nha produção como forma de alcançar isso”, explica. O clássico é o padrão, o que todos almejam. “Como uma moça suburbana, posso mimetizar a branqui tude e seus valores, mas minhas experi ências pessoais na rua e no undergrou nd, além de minha própria aparência e forma de ser, sempre serão antagônicas à ideia do clássico, e esse é o barato”, diz.
A Cia Triptal se debru ça em uma dramaturgia que escanca ra as feridas – mais algumas – da história do Bra sil. Livremente inspirada na obra Pe dreira das Almas, de Jorge Andrade, o coletivo estreia Travessia Brasil – Um Caminho para Pedreira, com direção de André Garolli. Escrita em 1957, a peça tem lugar no Brasil de 1842, em meio à Revolta Liberal contra o imperador, em uma cidade destruída pela mineração. A montagem cele bra o centenário de Jorge Andrade, dramaturgo que se tornaria nome consagrado no teatro e na televisão. Em cartaz entre 14 de outubro e 17 de novembro, a encenação passa pelos palcos da Oficina Cultural Oswald de Andrade, do Teatro Al fredo Mesquita e do Centro Cultural Vila Itororó na capital paulista. A entrada é gratuita.
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MC Carol retratada na exposição Vigília
FOTOS DIVULGAÇÃO
CÍRCULO VIRTUOSO
Com quatro décadas de existência, o Mozarteum de Sabine Lovatelli segue firme na missão de democratizar a música clássica e de investir na formação de jovens talentos
POR MÁRCIA ROCHA
Depois de mais de dois anos de atividades virtuais por conta da pandemia, o Mozarteum voltou ao mundo real em grande es tilo. No fim de agosto, o Ópera Gala lotou a Sala São Paulo, no centro da capital paulista. No programa, estrelas do Teatro Bolshoi e a Orquestra Aca dêmica Mozarteum Brasileiro.
Fundado em 1981 por Sabine Lo vatelli, o Mozarteum foi criado pa ra democratizar a música clássica e mostrar que ela não é “um bicho com plicado”, como costuma dizer Sabine, uma alemã que mora há mais de cinco décadas no Brasil. Grandes concertos
são o cartão de visitas da instituição (nessas quatro décadas foram mais de 1.500 e cerca de 2 milhões de especta dores), mas é o braço socioeducativo que tem feito os olhos azuis de Sabine brilharem ainda mais. Segundo ela, é necessário formar uma nova geração de músicos brasileiros, oferecendo a eles a oportunidade de aprender com profissionais renomados.
Desde 2000, Sabine vem construin do uma rede poderosa de parceiros europeus para receber jovens talentos do país e reforçar sua formação, aju dando a abrir as portas do mercado internacional para eles. “Nos últimos 20 anos, oferecemos cerca de 400 bolsas de estudo”, conta. O Collegium Musicum Schloss Pommersfelden e o Schleswig-Holstein Musik Festival são dois parceiros do Mozarteum, que também recebe o apoio de patrocina dores empresariais Instituto Cultural Vale, EMS, Banco Votorantim, Brades co, Deloitte e Kinea.
Os programas também se desti nam a cantores líricos. A Canto Mo zarteum, por exemplo, é uma acade
mia de canto que existe desde 2015 e tem parceria com a Internationale Chorakademie Lübeck, uma das mais importantes organizações corais do mundo. O objetivo é oferecer forma ção, aprimoramento e oportunidades para jovens cantores brasileiros. To do ano, 40 bolsistas de várias partes do país vêm a São Paulo para cursos intensivos de uma semana com ex perts. Os que mais se destacam ga nham uma bolsa adicional para estu dar na Europa. O paulista Bruno de Sá, por exemplo, passou pelo progra ma e, atualmente, é um sopranista de sucesso por lá.
Sabine acredita que, para mudar a realidade do país, cenário que pio rou muito com a pandemia, é pre ciso investir na música e na forma ção de jovens talentos. No início de dezembro vai ser possível ouvir al guns deles. O espetáculo Noite das Estrelas traz 12 solistas brasileiros (de instrumentos e de canto) que ti veram suas carreiras impulsionadas pelo Mozarteum acompanhados pe la “orquestra da casa”. n
PODER 79 FOTO RUBENS CHIRI/PERSPECTIVA
ESPELHO
EDER JOFRE, considerado o maior boxeador peso galo brasileiro da história, até tentou seguir outro caminho profissional, mas não teve jeito. Na infância, pensou em ser desenhista; depois comentou que queria jogar futebol. “Cheguei a ser artilheiro do time do Parque Peruche, mas ninguém apoiava”, disse. Era de se esperar. Filho de Kid Jofre, campeão e treinador de boxe, nasceu praticamente na academia do pai e a pressão para dar continuidade ao esporte preferido da família era grande. Aos 14 anos, começou a treinar e pegou gosto. Foi tricampeão mundial dos pesos galo e pena entre 1960 e 1965, ano em que perdeu o cinturão para o japonês Masahiko Harada. Em 1992, passou a integrar o Hall da Fama do Boxe, que fica em Canastota, nos Estados Unidos, e, em 2021, entrou para o Hall da Fama da Costa Oeste, em Los Angeles – ele é o único brasileiro nos dois espaços. Conhecido como Galo de Ouro, deixou os ringues em 1976 e, em 1982, ingressou na política, carreira que seguiu até 2000. Estava internado desde março por conta de uma pneumonia e faleceu no início do mês aos 86 anos.
NOCAUTE
FOTO FUNDO CORREIO DA MANHÃ/DIVULGAÇÃO
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