12 minute read

JOGOS VORAZES

Next Article
CÍRCULO VIRTUOSO

CÍRCULO VIRTUOSO

Direita se reforça no Congresso Nacional e endurece disputa pela governabilidade nos próximos quatro anos

POR PAULO VIEIRA

Advertisement

Apolítica brasileira pode não ser a proverbial caixinha de surpresas do futebol, mas previsões sobre seu futuro podem ser tão furadas quanto as da finada Mãe Dinah. Poucos imaginavam que uma torrente radical de direita, com marcas claramente bolsonaristas, iria irromper das urnas em 2 de outubro, notadamente para os cargos legislativos. E não deu outra: o PL, sigla do profissional da política Valdemar Costa Neto que acolheu em 2021 Jair Bolsonaro, fez 99 deputados federais, a maior bancada da Câmara Federal, e cresceu em muitas assembleias legislativas estaduais. O currículo do deputado federal mais votado do país, Nikolas Ferreira, do PL, é de cartilha: negacionista, tendo se vacinado apenas para viajar ao exterior (e, em Londres, participado de uma manifestação contra a obrigatoriedade da vacina), usa uma leitura enviesada da Bíblia para defender o armamentismo, cita frequentemente as ameaças comunista e de venezuelização do Brasil, traz a luta contra o aborto para o primeiro plano e acha que a política econômica do presidente só não colheu melhores frutos por conta do “fica em casa” promovido pelos governadores durante a pandemia. No Senado, que renovou 1/3 de suas vagas, não apenas o PL, mas o bolsonarismo stricto sensu, fez barba, cabelo e bigode, com a eleição de ex-ministros como o astronauta Marcos Pontes, Damares Alves, Jorge Seif, Sergio Moro, Rogério Marinho e Tereza Cristina, além do vice-presidente, Hamilton Mourão. O PL também se tornou o partido dominante na Casa Alta, com 13 senadores, um a mais que o UB e quatro a mais que o ex-aliado e hoje antagonista PT. Mas

se dá para dizer claramente que a direita hipertrofiou-se, é arriscado afirmar, segundo cientistas políticos ouvidos pela PODER, que a ala mais radical desse campo irá dar as cartas no Congresso. Marco Aurélio Nogueira, professor da Unesp, divide a direita em três seções, a radical-bolsonarista, a “pragmática” e a “fisiológica”. Essa última deve aderir, como acontece desde o início dos tempos, ao governo de plantão, seja ele Bolsonaro ou Lula (esta reportagem foi finalizada cerca de dez dias antes do segundo turno). Por isso, segundo o professor, é importante não “simplificar”. Não há uma direita unívoca, com a pauta de costumes como bandeira e verdadeiro cavalo de batalha.

Respondendo a uma provocação deste repórter, que vê uma dissonância entre essa pauta regressiva e as questões contemporâneas que terão de ser enfrentadas, até mesmo pelo Parlamento brasileiro, como o aquecimento global e a cooperação internacional, Nogueira crê, sim, numa dissonância, mas muito mais com as questões identitárias, tema que hoje, realça

o professor, também incomoda estratos da esquerda. O crescimento do Psol nos legislativos brasileiros, que teve em Guilherme Boulos sua grande performance, aproximando-se do PSB e do PDT como principal força do campo progressista atrás do PT, dá-se bastante na esteira da defesa das minorias. Algumas candidaturas coletivas, como a da “bancada feminista” para a Assembleia Legislativa paulista, tiveram grande sucesso nas urnas. Também estreiam na Câmara Federal em 2023 duas deputadas trans, Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), a última antagonista de Nikolas na Câmara de Belo Horizonte. Já no Senado, segundo o professor, a força do bolsonarismo pode arregimentar um “cerco muito grande aos demais poderes da República”. “Se os novos eleitos resolverem peitar o Judiciário, vamos ter crise”, diz. São os senadores, como se sabe, que sabatinam ministros do STF, entre outras figuras públicas, e têm a prerrogativa exclusiva

de tirar-lhes o mandato, pela via do impeachment.

Damares Alves, Guilherme Boulos e Nikolas Ferreira, três “new kids” do Congresso, que pode ter no deputado Arthur Lira (dir.) o mandachuva de 2023

CISÃO

O professor de ciência política da FGV-SP Marco Antônio Teixeira, também ouvido por PODER, lembra a cisão que sofreu o PSL, partido que Bolsonaro conseguiu levar para o primeiro time da política em 2019, entre suas alas mais e menos radicais. Ele acha que parlamentares mais vetera-

nos que já integravam o PL podem vir de alguma forma a neutralizar os bolsonaristas novatos, ainda que esses tenham conquistado grande cacife eleitoral. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por exemplo, elegeu-se para seu primeiro mandato de deputado federal com 640 mil votos, a quarta melhor votação entre os candidatos paulistas. Teixeira também crê na força do Executivo para pautar as discussões na Câmara Federal, e no caso de um governo Bolsonaro, temas como escola sem partido e

até uma possível rediscussão da criminalização do aborto nos casos hoje legalmente aceitos (estupro, risco de morte para a mãe, anencefalia) podem aparecer. Num governo Lula essa agenda deve ser refreada. Em análise feita para a newsletter Meio, o cientista político Christian Lynch viu na figura do atual presidente da Câmara, Arthur Lira, o, digamos, deus ex-machina de 2023. Para Lynch, o tão falado semipresidencialismo finalmente vingará, mesmo com Lula eleito, e a Câmara, vitaminada com o orçamento secreto e as emendas impositivas – que prescindem de negociação com o Executivo –, deve mitigar, como nunca antes, o poder presidencial. “Em um momento histórico cuja hegemonia segue pertencendo à direita, ou à centro-direita, o semipresidencialismo oficial ou oficioso há de ser a fórmula que garantirá na prática a continuidade de uma política conservadora, ainda que os reacionários estejam fora do poder”, vaticina. O cientista político Miguel Lago não endossa o cenário, pois vê a insurgência de um presidente necessariamente forte, seja ele Lula ou Bolsonaro, depois de uma corrida eleitoral dominada de cabo a rabo por essas duas figuras, par que fez da “terceira via” uma peça de ficção. Para Lago, contudo, o custo da governabilidade com o novo Parlamento será maior. “Ficou mais caro. A Câmara Federal terá muito poder para tirar dinheiro do governo, ainda que seja insustentável governar um país com orçamento secreto. Acho que tanto Lula quanto Bolsonaro vão querer recuperar algum poder sobre o orçamento, senão nada conseguirão fazer.” Por acreditar que o fisiologismo segue a força predominante no Congresso, mesmo no agora tão bolsonarista PL, Lago não vê riscos imediatos para a governabilidade, até de um governo Lula. E quanto ao descompasso entre os parlamentares eleitos e os tais temas da agenda contemporânea, ele põe em dúvida se é mesmo essa agenda que a sociedade brasileira deseja. Afinal, ele exemplifica, 205 mil eleitores fluminenses deram votação arrebatadora para o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, com todo o seu desleixo no comando da campanha nacional de imunização contra a Covid-19. E na pandemia o povo brasileiro novamente deu mostras que acredita nas vacinas. Com tudo isso, Pazuello teve o dobro dos votos do ex-secretário municipal de Saúde do Rio Daniel Soranz, que também se elegeu deputado federal. “Soranz foi reconhecido por dar grande agilidade ao programa de imunização de uma das capitais que mais se destacaram nisso, o Rio”, completa. n

DIREITA, VOLVER

Os deputados federais eleitos pelos maiores partidos em 2022 e na eleição de 2018

PARTIDO eleição 2018 eleição 2022 PL 33 99

PT União Brasil

PP 56 67 - 59 37 47

PSD

34 42 MDB 34 42 Republicanos 30 41 PDT 28 17 PSB 32 14

PSDB 29 13 Podemos 11 12

PSOL 10 12

O BRASIL DESCOBRIU O BRASIL

Apandemia fez o país repensar o turismo nacional. E os hotéis de luxo que aproveitaram essa janela de oportunidade estão apostando na oferta de produtos e serviços de alto padrão. Se de um lado o turismo nacional foi muito afetado, por outro houve muitas melhorias. Tão logo viajar se tornou possível novamente, pessoas acostumadas a roteiros de luxo fora do país começaram a olhar os destinos nacionais com outros olhos. “O caso é que esses turistas são muito mais exigentes que os estrangeiros quando se trata de viagens regionais. Isso fez o Brasil despertar para as vantagens do turismo de luxo e oferecer produtos e serviços cada vez mais qualificados”, diz Simone Scorsato, CEO da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), organização sem fins lucrativos que reúne os melhores hotéis e operadores de turismo do país.

E, nesse sentido, embora o mercado global ainda não reconheça o Brasil como destino de luxo, o turismo nacional está cada vez mais focado no conceito de autenticidade para entregar experiências com a cara dos inúmeros destinos que existem dentro de nossas fronteiras. E não é só autenticidade, já que sustentabilidade e diversidade fazem parte do paco-

te. E vem dando certo. Segundo levantamento da BLTA feito em parceria com o Senac São Paulo, em 2021 o faturamento bruto estimado dos hotéis pesquisados aumentou 50% em relação a 2019. Ou seja, houve crescimento em comparação com o período pré-pandemia.

CAMA CINCO ESTRELAS

Entusiasta do Brasil como destino turístico, o francês Edouard Grosmangin mora na capital paulista desde o fim de 2019. Com vasta experiência na hotelaria de luxo, ele veio para assumir a gerência-geral do aguardado Rosewood São Paulo, que foi inaugurado em janeiro deste ano no complexo Cidade Matarazzo.

Claro que manter o padrão internacional é uma das muitas metas que Grosmangin tem a sua frente, mas a autenticidade ou o chamado sense of place, que é a filosofia dos hotéis da rede americana Rosewood, também está sempre em seu radar. “A grande maioria dos itens utilizados aqui é fabricada no Brasil”, conta. No caso do Rosewood, todos os lençóis, toalhas e amenities têm a

“Além de produtos de altíssima qualidade, a Trousseau garantiu que tudo o que usamos no Rosewood tenha uma aparência sofisticada e única”

Edouard Grosmangin, gerente-geral Rosewood São Paulo

Rosewood: bordado exclusivo nos lençóis

SONHO DE CONSUMO

Fundada em 1991 por Adriana e Romeu Trussardi Neto, a Trousseau se tornou referência no universo de lifestyle com produtos premium de cama, mesa, banho e fragrâncias. Hoje, além do e-commerce, a empresa tem 27 lojas próprias e está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba, e opera em Milão e em Miami. A divisão de hotelaria, por sua vez, conta com lençóis, toalhas, travesseiros, mantas, amenities e uma linha de produtos para spa que estão em mais de 300 hotéis butique e cinco estrelas no Brasil, de alguns países da América do Sul e, em breve, dos Estados Unidos. De certa forma, a parceria com o mercado hoteleiro permite que a Trousseau atenda seus clientes do varejo até mesmo quando eles estão fora de casa. “É jeito de reencontrá-los, só que em outra situação”, comenta Romeu Trussardi. assinatura Trousseau. “Além de produtos de altíssima qualidade, a Trousseau ainda nos garantiu um detalhe exclusivo”, contou Grosmangin, referindo-se ao bordado com o ponto ajour de venice, que dá ao enxoval do Rosewood uma aparência sofisticada e única. Ele revelou também que os pijamas e as máscaras de dormir oferecidos a hóspedes VIP também foram desenvolvidos pela empresa paulistana que é referência em lifestyle de alto padrão.

Txai: pé na areia e luxo despojado no sul da Bahia

“O Txai proporciona experiências inesquecíveis aos hóspedes. E o conforto e a sofisticação, claro, fazem parte do pacote e, nesse sentido, a parceria que temos com a Trousseau é fundamental”

Bruna Dib, diretora de vendas e de marketing Txai Resorts

A negociação entre Rosewood e Trousseau começou bem antes da inauguração. Grosmangin conta que foram três anos de trabalho no processo de seleção dos tecidos, do modelo e do tamanho dos lençóis, além dos testes para verificar a resistência das peças à lavagem industrial. “Conseguimos reunir duas coisas importantes em nossa parceria: profissionalismo e um relacionamento que vai além da parte comercial. A Trousseau tem o melhor lado de algumas empresas familiares, que fazem o cliente se sentir acolhido e especial.”

Assim como o Rosewood, o Txai, resort cinco estrelas que fica em Itacaré, no sul da Bahia, também valoriza a autenticidade. “Esse é um de nossos pilares, já que queremos proporcionar uma experiência diferente da que nossos hóspedes teriam se fossem para outros lugares do mundo”, diz Bruna Dib, diretora de vendas e de marketing do empreendimento. A questão da sustentabilidade também é levada em conta no Txai. Um exemplo? Os 40 bangalôs foram construídos com madeira de reflorestamento. E o luxo, obviamente, faz parte do cenário. “A gente oferece experiências que trazem as melhores coisas do local em que estamos instalados, sem esquecer de entregar também uma hospedagem de alto padrão”, afirma Bruna, citando a importância de, entre outras coisas, proporcionar aos hóspedes uma cama cinco estrelas. É exatamente por isso que o Txai tem uma parceria com a Trousseau. “Eles fabricam produtos de excelente qualidade que garantem o conforto e a sofisticação que fazem parte do DNA do Txai”, finaliza.

Já a JFL Living, braço da incorporadora e gestora de ativos imobiliários JFL Realty, é fundamentada no conceito long stay, que alia apartamentos de alto padrão aos serviços oferecidos em hotéis de primeira categoria. Assim, todos os imóveis da JFL Living são mobiliados e decorados com peças de designers renomados, além de serem equipados com eletrodomésticos e roupas de cama, mesa e banho – esses úl-

ALTO PADRÃO COM TECNOLOGIA

Há pelo menos duas décadas, a Trousseau monta um showroom anual para apresentar os lançamentos de sua divisão de hotelaria. Este ano, o evento aconteceu entre os dias 14 e 15 de setembro no Rosewood São Paulo. Na ocasião, além de novos produtos, tecidos e acabamentos, a empresa anunciou uma supernovidade,: a tecnologia RFID (Radio Frequency Identification). Uma espécie de etiqueta afixada nos produtos garante ao hotel o controle em tempo real de seu estoque de roupas de cama, mesa e banho, além de otimizar a higienização. “Essa tecnologia permite verificar o rodízio na utilização e na lavagem das peças, evitando que algumas se desgastem mais do que outras”, explica Romeu Trussardi Neto, sócio-fundador da Trousseau.

JFL Living: camas de primeira categoria em todos apartamentos

timos da Trousseau. “Queremos que nossos clientes se sintam em casa, mas que experimentem também o conforto de um quarto de hotel e a Trousseau tem tudo a ver com esse conceito”, diz Carolina Burg, sócia-fundadora da JFL Realty, sobre a parceria que vem desde 2018. Atualmente, está em desenvolvimento uma linha exclusiva de roupas de cama que será fabricada pela Trousseau e, que atendendo a pedidos, poderão ser compradas pelos moradores. O design, que faz referência ao verão e ao inverno, foi desenvolvido por Rodrigo Trussardi, consultor de branding e desenvolvimento de produtos.

“Queremos que nossos hóspedes se sintam em casa e que experimentem também o conforto de um hotel de primeira categoria. E a Trousseau tem tudo a ver com esse conceito”

Carolina Burg, sócia-fundadora JFL Realty

This article is from: