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Por Roberta Sendacz

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ENTRE LENÇÓIS

ENTRE LENÇÓIS

POR ANTONIO BIVAR

[ALGUNS] PROSPECTOS Reflexões para o ano que começa – só agora – e dicas culturais por um PARA 2020 andarilho da pauliceia

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Éaquela coisa, Jorge Ben Jor, ainda como Jorge Ben, deixou bem claro: a gente mora num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. E que beleza. Em fevereiro tem Carnaval, sim, mas Tom Jobim foi além, ao nos lembrar das águas de março fechando o verão. (Assim mesmo, no gerúndio.) E a gente, precavida, se prepara. Sabemos que aquele aguaceiro dificulta, inclusive, o trânsito. Ainda assim damos um jeito de transitar. Pois é, falaram tanto, que a morena foi embora. Ataulfo Alves não deixou por menos. Tudo acaba em samba, esse ritmo tão nosso, tão setentrional, não é mesmo? Mas nem todo verão é Verão de 42, aquele filme da sumida Jennifer O’Neill, tão linda!

Ano passado, resiliência foi uma palavra que caiu até na política, segundo o Houaiss. O substantivo é feminino, que na física indica a propriedade que alguns corpos têm de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação. Se serve de consolo, aí já no Aurélio, resiliência é a capacidade de se recobrar ou de se adaptar à má sorte, às mudanças. E se nem todos atravessam a existência com um corpitcho à Costanza Pascolato, não é por falta de escola. A cenoura está aí, é só ralar e engolir. Com limão, de preferência, porque o danado do cítrico corta qualquer ressaca. E se não conseguimos aquele corpinho, pra que chorar, pra que sofrer, depois de uma noite de angústia vem logo um lindo amanhecer e tem até quem prefira barriguinha de tomate.

O bom do Brasil é que brasileiro sabe que aqui tem gosto pra tudo, embora uma facção seja escrava da moda. E a moda, quando não se ajusta bem ao corpo, morde. Seja qual for o barato, ninguém fica sem seu quinhão. Seja rico, seja pobre ou remediado, miserável, e até sem teto, o todo, no que tange ao cenário, faz a festa. Se a vida está muito barulhenta, tem quem se refugie no silêncio. Como naquele sucesso da década de 1960, “Silence is Golden”, o silêncio é dourado. Do grupo mainstream inglês, The Tremeloes, e este trecho da letra, que dispensa tradução: “Talking is cheap / people follow like sheep / Even though there is nowhere to go”. Mas a gente vai, porque em 2020 não tem como não ir.

O bom é que temos, no presente, acesso total ao passado, sem

De cima para baixo, Jorge Ben Jor, Jennifer O’Neill e Costanza Pascolato

pre inspirador. Seja via Google, YouTube, Wikipédia e o escambau. A prosódia é uma boa, mexe com a pronúncia correta das palavras, quanto à acentuação e a entonação. Quem quiser

FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK; ALI KARAKAS; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO posto de âncora na tevê, tem que articular muito bem, se não, telespectador não entende. De modo que, em vez de ficar no lenga-lenga, quem sabe, sabe, a saída é prosperar.

Todo ano tem alguma coisa da qual a gente não escapa, e este ano tem eleição para prefeito e vereador. São tantos os candidatos, com promessas que nos fisgam, que a gente nem sabe em quem votar. Ou melhor, tem gente que sabe, eu é que ainda não sei.

E todos os dias uma perda irreparável. Enquanto escrevo a coluna, a triste notícia da morte de Luiz Vieira, dia 16 de janeiro, aos 91 anos. Compositor e cantor de músicas inesquecíveis, as mais lembradas e cantadas, as que falam de meninos, a do menino-passarinho com vontade de voar e a que mais gosto, a do “Menino de Braçanã”, “é tarde, eu já vou indo, preciso ir embora, até amanhã...”

Antigamente era difícil artista de fora conseguir palco pra se apresentar em São Paulo; hoje tem tanto palco e tanto

artista se apresentando que a gente nem dá conta. A velha guarda voltou a todo vapor e com força total, cantando melhor que nunca. As três damas do balacobaco, digo, do telecoteco, Claudette Soares, Dóris Monteiro e Eliana Pittman, não param de dar show, onde quer que haja Sesc. O trio de maravilhosas históricas arrasa, para um público tanto velho quanto novo. Para não perder os shows, a gente tem que anotar data, horário e lugar, na agenda. Num só dia, 29 de janeiro, teve, à tarde, no Teatro Décio de Almeida Prado, o historiador da nossa MPB, o carioca Rodrigo Faour, entrevistando o grande Odair José, que lançou o mais explícito CD de sua carreira; e, à noite, o Theatro Municipal, pela primeira vez em sua existência, cedeu seu majestoso palco para as Divinas Divas, as transexuais mais famosas do Brasil, as apresentadíssimas Jane di Castro, Eloína dos Leopardos (também hostess do restaurante point, o Dona Onça, no Copan), a Divina Núbia (que, além de ser ela mesma, uma transoriginal, ainda interpretou a saudosa Rogéria, tida como “a travesti da família brasileira”), e a mais viajada de todas, a internacionalíssima Divina Valéria, que até fez mudar o antigo bordão criado por Stanislaw Ponte Preta, para a atriz e cantora Vanja Orico, que passava a maior parte do tempo fora do Brasil, mas vivia vindo pra cá, bordão que dizia “Vanja vai, Vanja vem”, e que servia pra tudo que ia e voltava; agora pode-se dizer “Valéria vai, Valéria vem”, pois a divina não para de ir e vir. Nessa noite histórica das trans no Municipal também fez sucesso (merecidíssimo) a não menos histórica, e nunca apresentada em São Paulo, a Camille K.; só por essa raríssima apresentação o show das divinas no não menos divino Municipal já valeu a pena. E o melhor de tudo, tanto o show do Odair José no Itaim Bibi quanto o das Divinas Divas no Municipal, foi entrada grátis – entrada franca, como é mais chic dizer. E se aqui abuso dos superlativos para falar das divinas, é porque com elas tudo é superlativo.

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Da esq. para a dir., Luiz Vieira; Eliana Pittman, Claudette Soares e Dóris Monteiro; e flashes do Carnaval

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